Colheita Tardia: Uma vindima muito especial

Artigo publicado na edição nº 33, Janeiro 2020 O tempo normal das vindimas já lá vai há muito, mas eis os trabalhadores na vinha. E tesouras. E caixotes que se enchem de uvas. Os últimos meses do ano são a época dos Colheita Tardia, vinhos delicados e doces que nascem da anacrónica simbiose entre tempo […]

Artigo publicado na edição nº 33, Janeiro 2020


O tempo normal das vindimas já lá vai há muito, mas eis os trabalhadores na vinha. E tesouras. E caixotes que se enchem de uvas. Os últimos meses do ano são a época dos Colheita Tardia, vinhos delicados e doces que nascem da anacrónica simbiose entre tempo frio e húmido, fungos cinzentos e muita sabedoria. Chamam-lhe podridão nobre.

TEXTO Luís Francisco
FOTOS Ricardo Gomez

Se o saudoso Vasco Santana, actor incontornável das comédias portuguesas dos anos 1930 e 40, estivesse aqui, não deixaria de saudar esta visão com a adaptação livre de uma das suas mais famosas falas no filme “A Canção de Lisboa”: “Esta planta está muito doente!” E tem todo o ar disso, de facto. Se na longa-metragem de José Cottinelli Telmo o boémio e cábula candidato a médico interpretado por Vasco Santana via doença nas manchas da girafa, aqui mais razões teria para desconfiar da salubridade destas uvas: bolor, podridão, todo um leque de anomalias. E, no entanto…

Felizmente, há aqui gente sabedora, com muitos anos disto. De tesouras na mão – uma mais forte, para destacar os cachos, outra de pontas finas, para aparar os bagos que interessam –, decidem com rapidez e gestos precisos o que vai para o caixote e rumará à adega e o que fica no chão, enriquecendo o solo para colheitas futuras. É assim, afinal, em todas as vindimas. Um olhar mais atento permite, no entanto, descortinar uma diferença fundamental: as uvas que se aproveitam não são as de ar mais saudável, antes as que se encontram cobertas por uma suave teia de bolores cinzentos, as películas num tom arroxeado.

Afinal, o que se passa aqui?

O dia chegou com nuvens no céu, mas boas abertas, depois da chuva da véspera. O vento mal incomoda as folhas nas encostas suaves do vale de Santar, ajudando a suportar uma temperatura que ronda os 4 graus centígrados. Parece uma meteorologia pouco clemente para final de Verão, mas a verdade é que não estamos no Verão. O Outono já vai adiantado. Estamos em Novembro e é agora que se faz uma vindima muito especial: a das uvas destinadas aos vinhos Colheita Tardia.

Os Colheita Tardia são vinhos de sobremesa, delicados, aromáticos, quase incongruentes na sua alquimia de doçura e leveza. E são o produto da podridão das uvas. Não uma podridão qualquer, como facilmente se percebe observando o trabalho da dezena e meia de pessoas que se afadigam na vinha e escutando as explicações do viticólogo da GlobalWines, Aurélio Claro.

Há cachos que estão já castanhos, completamente podres e com um cheiro avinagrado. Estes não prestam, já passaram o ponto. Outros apresentam-se em tons verdes ou amarelados, típicos das uvas saudáveis de castas brancas. Nada feito, ainda não chegaram onde era preciso. As uvas que interessam estão colonizadas no exterior por um fungo cinzento, a botrytis cinerea, mas a polpa continua sumarenta e solta-se facilmente da película. É com elas que faz o Colheita Tardia.

Pequenas quantidades

As uvas que mãos e olhos sábios colhem esta manhã em Santar, nas vinhas da Casa de Santar, geridas pela GlobalWines, foram aqui deixadas propositadamente para este fim. São, ao todo, três longas fileiras (uns 300 metros cada uma) de Encruzado e outras duas de Furmint, casta que na Hungria está na base dos afamados Tokaj, um dos mais valorizados néctares do mundo dos vinhos. Dito assim, parece pouco, mas um cálculo por alto do enólogo Osvaldo Amaro aponta para uns 8 a 10 mil quilos nesta vinha (a que junta outro tanto numa vinha adjacente). Deste total, apenas entre 10 a 20 por cento são uvas com a qualidade necessária para fazer Colheita Tardia. Todas as outras acabam no chão.

Só que o crivo da qualidade não se esgota aqui. Depois de levadas para adega – são feitas apenas três prensagens pneumáticas; a primeira sem qualquer aperto (dá origem ao chamado mosto-flor), as outras com apertos suaves – destas uvas extraem-se mostos que vão, separados, para depósitos em inox, onde se procede à clarificação estática durante três a cinco dias. Daí passam para barricas de 225 litros de segundo uso com mais de dez anos, onde se dá a fermentação alcoólica. Este processo decorre, mais ou menos, durante 30 dias e é interrompido com frio, permitindo que o vinho mantenha a doçura que o caracteriza e um grau alcoólico controlado. Segue-se a alquimia do tempo. A estabilização microbiológica e a maturação podem durar entre 12 e 48 meses. Só então estes vinhos especiais ficam prontos para chegarem ao copo.

Aurélio Claro e Osvaldo Amado.

É muito trabalho. E pouco vinho, uma vez estas uvas não têm tanto sumo como as colhidas na época normal das vindimas. Não espanta, por isso, que os Colheita Tardia sejam uma pequena preciosidade, vendidas em garrafas de menores dimensões e a preços mais elevados. A marca Casa de Santar é comercializada em meias garrafas (375ml) que custam qualquer coisa a rondar os 20 euros.
Até porque, apesar dos cuidados na vindima e do acerto dos procedimentos na adega, estamos a falar de um processo natural de apodrecimento que nem sempre produz os resultados desejados. “Todos os anos é feita a vindima do Colheita Tardia. Mas o histórico diz-nos que só se engarrafa o vinho aí umas três vezes por década”, explica Osvaldo Amaro. O crivo é apertado: “Este é um Colheita Tardia onde procuramos a nobreza da podridão tardia”, sublinha. Há outras maneiras de fazer vinhos de sobremesa, mas o enólogo da GlobalWines é taxativo: “Deviam ter outro nome.”

O saber de muitos anos

Voltemos à Vinha do Judeu, onde se apanham as uvas para o Colheita Tardia. Os vindimadores avançam devagar, mas persistentemente, ao longo das linhas, ouve-se o “tique-tique” das tesouras, aqui e ali o arrastar de um caixote, de vez em quando uma instrução ou pedido dirigidos a alguém. Fala-se pouco, toda a atenção é necessária para selecionar as uvas na vinha. É aqui que está o segredo.

Conceição Neves tem 55 anos e “já uns aninhos” disto. Apesar da insistência dos repórteres, não se estica em comentários nem se faz à fotografia: está concentrada na escolha das uvas que vão para o caixote. Garante, no entanto, que “esta vindima é mais trabalhosa, exige outra atenção”. Só se consegue abrir uma brecha nesta compostura com uma pequena provocação. Depois de tanto trabalho, deve ser um gosto beber um copinho de Colheita Tardia… “Gosto muito”, atira, finalmente com um sorriso. “É maravilhoso!”

Por volta das 9h30, já com umas boas duas horas e meia de trabalho no corpo, o pessoal interrompe a vindima para comer uma bucha. Por esta altura, a temperatura subiu uns graus e até há quem ande manga curta. Um exagero, assuma-se, que isto ainda é uma manhã bem fresquinha de Inverno. No entanto, este frio é bom para as uvas, porque protege a sua frescura enquanto aguardam que o tractor as recolha para as levar para a adega; e também para as pessoas. Trabalha-se melhor ao fresco, sim, mas o argumento mais forte tem a ver com a reduzida actividade das vespas, nomeadamente as asiáticas, que hão-de aparecer daí a algum tempo, com o sol mais alto no horizonte, atraídas pelos aromas estonteantes das uvas podres que se vão amontoando nos caixotes – algumas, as escolhidas para o Colheita Tardia – ou no solo. E estas são a maior parte.

Por agora, gozemos a pausa na vindima. Passamos pelo gigantesco sobreiro que vigia a vinha do alto da encosta – e sob o qual crescem cogumelos de dimensões jurássicas – e vamos sentar-nos junto à estrada. Daqui contemplamos um imenso anfiteatro de vinhas, entremeadas com manchas de arvoredo, a paisagem típica do Dão vinhateiro. O mosaico de cores é fantástico, desde o verde berrante da erva fresca aos tons quase vermelhos da folhagem de algumas castas, passando por toda uma paleta de amarelos, ocres, castanhos e cinzentos. A paisagem fala por si. E justifica para lá de qualquer explicação o nome do vinho que daqui sai. Este é o Outono de Santar.

Quinta da Aveleda cria serviço de entregas ao domicílio

A Quinta da Aveleda acaba de criar um serviço de home delivery para entrega de vinhos, queijos e todos os produtos habitualmente disponíveis na loja da quinta. O serviço está disponível, de forma gratuita, na zona envolvente da quinta, para residentes em Penafiel, Paredes e Lousada, e mediante um custo para as restantes zonas geográficas. […]

A Quinta da Aveleda acaba de criar um serviço de home delivery para entrega de vinhos, queijos e todos os produtos habitualmente disponíveis na loja da quinta. O serviço está disponível, de forma gratuita, na zona envolvente da quinta, para residentes em Penafiel, Paredes e Lousada, e mediante um custo para as restantes zonas geográficas.

Paula Sousa, Directora de Enoturismo da Quinta da Aveleda, refere que “para continuar a dar resposta à procura dos nossos produtos por parte dos consumidores, muito particularmente nesta época de Páscoa, passamos a disponibilizar o serviço de home delivery na zona envolvente à quinta, mas esperamos poder alargar o serviço a outras zonas geográficas. Estamos certos de poder satisfazer muitos clientes”.

Horários das entregas: Terças e Quintas à tarde
Encomenda mínima de €20 e pagamento via multibanco

Reservas através do número 255 718 266 e brevemente também online

Lés a Lés: A volta a Portugal em vinhos

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Rui Lopes e Jorge Rosa Santos (na foto) constituem a dupla por detrás de um dos mais dinâmicos projetos vitivinícolas no nosso país. Um projeto itinerante centrado nos vinhos brancos (mas não só) de forte carácter.

TEXTO Nuno de Oliveira Garcia
FOTOS Ricardo Gomez

A ideia de Jorge Rosa Santos, enólogo jovem, mas com várias vindimas em Portugal e no estrangeiro, começou por ser uma ‘carolice’, como o próprio descreve. Começou com a colheita de 2016, mas o primeiro vinho seria apenas lançado em novembro de 2018 quando, verdadeiramente, se iniciou a vertente comercial. Jorge percorria, e ainda percorre, grande parte do país enquanto enólogo e sempre pensou em fazer um vinho seu sem compromisso, um vinho de intervenção minimalista e que, se fosse possível, espelhasse um lugar menos evidente para o consumidor geral. Dito isto, em vez de um vinho, Jorge produziu 5 brancos e um tinto, espalhados pelo território nacional. A escolha para os rótulos teve por base o desenho de um bilhete de autocarro, precisamente uma homenagem às suas deslocações constantes. A seu lado, conta com Rui Lopes, também ele enólogo, que assume um papel estratégico de pêndulo equilibrador entre a vontade de Jorge produzir mais vinhos e o necessário sucesso comercial.

O estilo dos vinhos é predominantemente austero, sendo que para tal contribui também a escolha das regiões – falamos de Bucelas e de Encostas de Aire em Lisboa, e da Beira Interior – e das castas – Arinto e Síria, essencialmente (e também Sauvignon Blanc numa incrível versão pouco exuberante, proveniente de uma vinha de uma aldeia ao lado da Merceana). O maior desafio, todavia, foi a reprodução do vinho clássico da DOC de Encostas de Aire – o Medieval de Ourém. Vinho natural, que terá chegado a Portugal por via da Ordem de Cister, é produzido a partir de uma fórmula depositada no Mosteiro de Alcobaça, funciona como um palhete na mistura de casta branca – Fernão Pires – e tinta – Trincadeira. Um vinho a não perder; obviamente telúrico e pedagógico, mas de grande prazer, sobretudo na edição de 2016, mais fresca que a de 2017. Em suma, Lés a Lés oferece-nos uma pequena coleção de vinhos minimalistas feitos com todo o cuidado e em regiões menos baladas. É, pois, um projeto a não perder de vista, se o conseguir…

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Edição nº 33, Janeiro 2020

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AdegaMãe tem novo site e loja online

O lançamento do novo website da AdegaMãe significou, tendo em conta a situação actual e as limitações do novo coronavírus, criar as vendas online. Com entregas directas aos consumidores, a empresa pretende assim contornar os conhecidos constrangimentos causados pela Covid-19. Nesta venda online, gama Dory tem uma campanha de 10% de desconto. Estes vinhos, segundo […]

O lançamento do novo website da AdegaMãe significou, tendo em conta a situação actual e as limitações do novo coronavírus, criar as vendas online. Com entregas directas aos consumidores, a empresa pretende assim contornar os conhecidos constrangimentos causados pela Covid-19.

Nesta venda online, gama Dory tem uma campanha de 10% de desconto. Estes vinhos, segundo a AdegaMãe, “evocam a força, coragem e resiliência dos antigos pescadores; agora evocam-se precisamente esses valores, demonstrados pelos portugueses neste momento tão desafiante”.

Os vinhos estão disponíveis aqui.

Uncorked: o novo filme da Netflix que vai querer ver

Estreou dia 27 de Março e já está em nono lugar do filmes mais vistos hoje, em Portugal. Chama-se Uncorked (“desarrolhado”, em português), e é sobre um jovem apaixonado por vinho, Elijah (Mamoudou Athie), dividido entre o sonho de ser Master Sommelier, e as expectativas do seu pai em que ele venha a assumir o […]

Estreou dia 27 de Março e já está em nono lugar do filmes mais vistos hoje, em Portugal. Chama-se Uncorked (“desarrolhado”, em português), e é sobre um jovem apaixonado por vinho, Elijah (Mamoudou Athie), dividido entre o sonho de ser Master Sommelier, e as expectativas do seu pai em que ele venha a assumir o negócio da família, uma churrasqueira. Elijah, que trabalha numa empresa de vinho e, em simultâneo, com a mãe e o pai na churrasqueira, acaba por correr atrás da sua vontade e o resto, bem, só vendo. Não queremos ser spoilers! (Mas tem algo que ver com Paris…).

O trailer:

António Maçanita e Fita Preta: Casa com passado, vinhos de futuro

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[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]

Quando começou o seu percurso de enólogo e produtor, António Maçanita nunca pensou vir a restaurar um paço do século XIV. Indomável, construiu-se quando ninguém estava a ver, e agora é um dos players que mais agitam as águas.

TEXTO Mariana Lopes
NOTAS DE PROVA Luís Lopes e Mariana Lopes
FOTOS Mário Cerdeira

De uma das estradas que vai de Évora para Nossa Senhora da Graça do Divor (uma freguesia que, entre menires cromeleques e antas, tem cerca de 500 habitantes), vê-se um edifício que não deixa ninguém indiferente. Pelo seu traçado, percebe-se que é coisa de outro tempo e quase parece, também, de outro lugar. António Maçanita, que na mochila trazia a Fita Preta, empresa que que fundou em 2004 com David Booth e que hoje partilha com a enóloga Sandra Sárria (sócia minoritária), passava naquela estrada inúmeras vezes e a pergunta era sempre a mesma: “O que é aquilo?”. Até que, em Maio 2015, no dia a seguir a um casamento e apesar do cansaço, as palavras “Não passa de hoje” ressoaram na sua cabeça. Foi aqui que deu início ao processo que fez com que a Fita Preta ganhasse casa própria (até aqui estava em adega alugada e não possuía vinha), adquirindo 87% da propriedade em 2016, com usufruto exclusivo e responsabilidade de recuperação. E que bela casa ganhou: um paço medieval fundado em 1306 em regime de morgadio por D. Martim Pires de Oliveira, arcebispo de Braga entre 1295 e 1313 e dono, entre outras, da vila da Vidigueira, um homem muito influente. Este entregou logo a gestão da coisa ao irmão Mem Pires, para garantir a transferência da mesma em linha direita sucessória, e porque a lei da altura era restritiva em relação à posse de bens por parte do clero.

No entanto, à data em que António Maçanita finalizou a compra, o proprietário do Paço do Morgado de Oliveira era D. João Saldanha, e há 700 anos que já estava na sua família. Por ali passaram reis, como D. João II, por exemplo, em Setembro de 1490, acompanhado do seu filho, o Príncipe D. Afonso. Por Garcia de Resende, em “Crónica de D. João II”, sabe-se que o monarca ali justou, no pátio do Paço da Oliveira. Um sítio místico, portanto, onde a Fita Preta colocou cinco historiadores a investigar e que se descobriu ter sido alvo de alterações ao longo do tempo, principalmente no século XIX, altura em que a família Saldanha tomou conta do edifício. Sem ambições museológicas e apenas pela preservação histórica e para fins funcionais, António Maçanita começou a recuperá-lo e, “escavando” as camadas de massa até à pedra, descobriu cinco portas de arco em ogiva, uma fresta e três pares de janelas em ogiva no primeiro piso (que não comunica com o térreo), resgatando o esqueleto original medieval do edifício. “Há aqui salas ‘abonitadas’ no século XVI”, esclareceu Maçanita. Também um lagar de azeite soterrado viu agora luz, que se confirmou sê-lo por um escrito de 1776 onde se lê “armazém de azeite com sua loiça”, e por outro de 1865 que refere a necessidade de obras no lagar.

Toda esta empreitada, sem qualquer financiamento externo, foi iniciada em 2017, bem como a do edifício novo, todo revestido a cortiça e perfeitamente integrado no ambiente e com a parte antiga. Assim, estes dois edifícios formam uma adega de duas naves, a de brancos no antigo e a de tintos no novo, com comunicação por tubos subterrâneos. Para a primeira, as cubas verticais de inox foram feitas com uma medida especial, para que coubessem entre as colunas de pedra originais. Estas coabitam com as barricas de madeira e com cubas horizontais, modelo de fermentação que António trouxe dos Açores, onde por ligação familiar (o pai é açoriano) também produz vinho, sob a umbrela Azores Wine Company. “O meu objectivo, nos brancos, é fazer o máximo de fermentações possíveis, trabalhando com leveduras que não geram novos perfis aromáticos, utilizando zero sulfitos até ao final da fermentação e apenas fazendo bâtonnage como ferramenta de protecção”, explicou o enólogo, apontando para as barricas, cada uma com um tipo de levedura diferente. A capela interior, datada de 1567, é também guardiã de barricas de estágio, cuidadosamente dispostas ao longo das suas paredes e a formar um corredor que leva ao altar original. No edifício novo, além da adega de tintos, espaçosa e muito prática, com as cubas, a prensa e a mesa de escolha, encontra-se a sala de provas, o laboratório, escritórios, loja e espaço para eventos.

A expansão do território

Apesar de, à sua chegada, António Maçanita ter tido um feeling de que ali se fazia vinho, à partida nada o mostrava, o terreno não continha vinha. Em 2017, começou por plantar quatro hectares, em 2019 foram mais dezasseis e em 2020 serão mais treze. Naquele solo, maioritariamente saibro e granito (a 60 metros de profundidade), a relação entre a superfície e o lençol freático é muito próxima. “Quase toda a zona de vinha é tocada pela água”, disse Maçanita. Na verdade, ali encontra-se o ribeiro do Louredo, de onde nasce o rio Xarrama (ou Enxarrama). Na parte com mais água, junto ao Paço, foi plantado Arinto, por exemplo. O historiador Francisco Bilou, autor do estudo “A Quintã da Oliveira, no termo de Évora: território, património e identidade histórica” refere precisamente a abundância de água como justificação para a configuração visual pouco comum da propriedade: “(…) a estrutura residencial não se localiza na parte mais alta da propriedade onde o domínio visual sobre o território envolvente é maior, sobretudo para o quadrante norte, mas antes a meia encosta, sendo apenas visível de sul e nascente. O que reforça a ideia de uma localização de acordo com as particularidades fisiográficas do «lugar», como são a abundância de água e a qualidade dos solos (…)”. Aliás, presume-se que da visita de D. João II, supramencionada, “tenha resultado a decisão de restaurar o velho aqueduto romano fazendo com que a água das fontes da Prata e Oliveira corresse na praça principal da cidade”, como escreveu Francisco Bilou.

Neste momento, o mapa vitícola da Fita Preta conta, além da área própria do Paço do Morgado de Oliveira e de vinte hectares recentemente adquiridos em Aldeia da Serra (no Redondo), com a exploração integral de seis hectares (bio, solos argilo-calcários) em Nora; seis em Craveira, no Redondo (granito); nove de vinha velha em Azaruja (granito); e dezasseis em Bencatel, em solos de xisto. António Maçanita descortinou: “Eu sou um fã de xisto, tínhamos de ter” e explicou que “do ponto de vista mineral é um solo mais complexo, dá textura e potência de boca aos vinhos. Além disso, o xisto faz um melhor doseamento de água para a planta ao longo do tempo. Granito dá elegância, mas é mais simples”. Em todos os locais, a preferência é por vindima manual e nocturna.

A vinha velha de Aldeia da Serra é impressionante. Tem 49 anos, solos graníticos, e está num local antes apelidado de Chão dos Eremitas, e por isso também nome de uma colecção de vinhos da Fita Preta que inclui três monocasta: Tinta Carvalha, Alicante Branco (antigo Boal de Alicante) e Trincadeira-das-Pratas (conhecida no Alentejo por Tamarez). As linhas montanhosas da Serra d’Ossa pintam-se em plano de fundo e dois riachos cortam as parcelas, onde nascem castas como, além das citadas, Fernão Pires, Roupeiro, Castelão, Trincadeira, Alfrocheiro, Moreto ou Grand Noir. É um cenário bastante aberto e solarengo, em planície, que com as imponentes videiras velhas e a presença dos riachos e de oliveiras circundantes, forma uma espécie de oásis, onde o nível freático está apenas entre os três e os cinco metros de profundidade. Aqui, os Pauperes Eremiitas (latim para Pobres Eremitas) de São Paulo faziam as suas vinhas, habitando onde é hoje o Convento de São Paulo. A importância deste local era tal, que a Bula Papal de 1397 isenta os Pauperes Eremiitas de tributos nestas vinhas, como contou Maçanita.

Um portefólio de peso

O portefólio Fita Preta é uma loucura, e não estamos a contar com vinhos de outras regiões que não o Alentejo. Tendo começado em 2004 com o tinto Preta e com o primeiro Sexy Tinto, tem crescido exponencialmente desde então. Vários outros Sexy foram adicionados, os Fita Preta, Branco de Talha, Baga ao Sol, Palpite, A Touriga Vai Nua, entre muitos outros, agora com novidades como os Chão dos Ermitas e o Laranja Mecânica, um vinho feito com dez castas e maceração de uma semana depois da primeira prensagem, fermentação espontânea em inox após segunda prensagem,

e doze meses de estágio sobre borras primárias. Tudo isto surge de uma hiperactividade mental de António Maçanita, que não se cansa de concretizar ideias, por mais mirabolantes que pareçam. Felizmente, tem os enólogos Sandra Sárria e Andrés Herrera ao seu lado que, com o mesmo espírito, alinham em todas as aventuras.
A produção actual da Fita Preta no Alentejo é de 280.000 garrafas anuais e “a vontade é de estabilizar este número”, afirmou António, admitindo que “o foco agora é aumentar o preço médio e lançar os vinhos mais tarde para o mercado”. Daquele número, 60% vai para fora do país, sobretudo para Suíça, Estados Unidos, Canadá, Bélgica, Alemanha, Holanda, França, Finlândia e Noruega. O envio de pequenas quantidades é já hábito da marca, pois “quem quer vender os nossos produtos não trabalha com grandes quantidades, nem começa com o portefólio todo, mas antes por entender o vinho. Assim, conseguimos construir um mercado exigente e de continuidade”, revela. Cheio de energia, António Maçanita não dá a entender que vá parar por aqui. Mas depois da recuperação de um Paço Medieval, só esperando para ver.

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Edição nº 33, Janeiro 2020

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Os frescos vinhos da Quinta da Lapa

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[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]

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TEXTO António Falcão
FOTOS Ricardo Gomez

Manique do Intendente é uma povoação que tem de ser visitada pelo menos uma vez na vida. O seu ex-libris é a sumptuosa frontaria do palácio inacabado de Pina Manique, Intendente Geral da Polícia durante o reinado de D. Maria I e durante a vigência do Marquês de Pombal. Homem de confiança da realeza, Pina Manique acumulou cargos, terras e riquezas, mas, aparentemente, não o suficiente para terminar o seu palácio, em terras doadas por D. Maria I. Será que os fundos de que dispôs foram, entretanto, para a fundação da Casa Pia? Não o sabemos. Sabemos, isso sim, que esta zona produz vinhos brancos e tintos desde, pelo menos, 1744, certamente para abastecer algum mercado local e a cidade de Lisboa, com vinhos a granel enviados de carroça para a capital. Provavelmente por isso, Manique nunca foi muito conhecida pelo seu vinho. Isto, claro, até à entrada na região de um dos protagonistas da nossa história, José Guilherme da Costa, que adquire em 1989, a Quinta de Nossa Senhora da Conceição da Lapa, mais conhecida como Quinta da Lapa. Na altura tinha cerca de 90 hectares, mas reza a história que já tinha sido bem maior, quando estava nas mãos de uma cooperativa. Esta entrou em dificuldades e acabou por dividir o acervo em quatro, para venda. A parte da Quinta da Lapa, onde estavam as edificações, foi a última a ser vendida.

José Guilherme põe imediatamente mãos à obra. O homem forte da Tecnovia, uma grande empresa nacional do ramo da construção civil e obras públicas, cedo apontou a quinta para a agricultura, uma área de negócio que a sua família conhecia bem, desde há gerações.

A propriedade já tinha videiras, mas, verdade seja dita, foram todas arrancadas, dando lugar a novas castas, mais apropriadas para fazer vinhos ao gosto do consumidor moderno. A adega foi preparada a seguir e os vinhos foram aparecendo, mais para consumo e distribuição local que para o mercado global. No entanto, a qualidade ia criando consumidores fiéis e suscitando bastantes elogios. De tal maneira que o empresário começou a cismar em levantar a fasquia do investimento para uma ainda maior qualidade. Em 2007 entra assim Jaime Quendera para a enologia da casa, como enólogo consultor. Coincidência ou não, José Guilherme decide enviar vinhos para o Concurso Nacional de Vinhos Engarrafados. Entre as medalhas conseguidas, o Quinta da Lapa Reserva tinto 2008 obteve o prémio “Melhor Vinho” e medalha “Prestígio”. Este terá sido o factor decisivo que levou José Guilherme a investir mais tempo e dinheiro no vinho e numa gestão mais profissional na Quinta da Lapa.

Vem aí ajuda

O outro grande protagonista da história é Sílvia Canas da Costa, filha de José Guilherme, que entra em 2011 para a Quinta da Lapa, mas para supervisionar a reconversão dos edifícios rústicos. Arquitecta de profissão, Sílvia não teve aqui falta de trabalho: havia muita coisa para recuperar e diversos edifícios para reconstruir e/ou criar de raiz. Descobriram-se coisas curiosos, como as pinturas de dois altares, escondidas por tinta castanha. A figura de Santa Teresa d’Ávila emergiu como porta-estandarte da casa, por causa do seu poema de fé, inscrito em pedra sobre a porta de entrada. Santa Teresa acabou por dar lugar a vinhos especiais em sua homenagem, na altura dos 500 anos do seu nascimento.
O resultado de tantas modificações foi magnífico e no meio surgiu, para além dos imóveis agrícolas e adega, um espectacular enoturismo com onze quartos. No geral, o acervo imobiliário da quinta é substancial, muito maior do que uma quinta com 100 hectares poderia fazer prever. Este ano, a implantação arquitectónica do conjunto cresceu ainda mais com a construção da nova adega, imprescindível pelo aumento que foi acontecendo na área de vinha.

Sílvia entra para a gestão do projecto num momento em que o pai decide profissionalizar mais a exploração. “Estava um pouco cansada da arquitectura e decidi mudar para o vinho”, diz-nos a gestora enquanto caminha connosco pela estrada de terra que separa duas parcelas de vinha da quinta. Sílvia gosta de ir até ao topo do moinho próximo da casa e admirar as redondezas. Deste local alto, avista-se a quinta toda, ou quase. O facto de estar quase completamente murada facilita a identificação dos limites. No total serão alguns quilómetros de muros e redes, um número que impressiona, mas que, verdade seja dita, empalidece se o compararmos com o da vizinha Torre Bela, uma das maiores propriedades muradas da Europa, com 18 quilómetros de muros! Ali ao pé, a aldeia de Arrifana, com os seus típicos casarios brancos. A quinta encosta à aldeia pelo cemitério e, curiosamente, é dali que vêm consistentemente das melhores uvas da Quinta da Lapa. Mais ao fundo, a uma dezena de quilómetros, a imponente serra de Montejunto.

Jaime Quendera e Sílvia Canas da Costa.

A vista é magnifica e permite ver bem o terreno suavemente colinoso da quinta. Predominam os solos argilo-calcáreos, mas, como é típico na região do Tejo, existem muitas manchas. Falamos de solos fortes, com boa fertilidade, embora a produção média raramente ultrapasse as 7 toneladas por hectare. Jaime Quendera diz-nos que se procura “sobretudo o equilíbrio da produção e por isso somos cuidadosos com adubos e água”. O resto é o clima que faz.

Um clima especial

A nível climático, a Serra de Montejunto faz alguma barreira aos ventos marítimos, condicionando o clima desta região. Jaime continua espantado, ano após ano, com as amplitudes térmicas, que contribuem para a criação de vinhos com belos teores de acidez. “Chegamos a ter aqui dias com 40 graus, mas à noite corre quase sempre um vento fresco”, diz Jaime. Sílvia confirma e conta-nos uma história que elucida bem esta característica climatérica: “Numa festa que fiz aqui em Março, começamos com 25 graus na hora de almoço e terminamos, já noite dentro, com zero graus! Mesmo em Agosto, é raro haver condições para as pessoas estarem cá fora à noite”.

A frescura adicional é benéfica para os brancos, espumantes, rosés e, claro, para os tintos. Contudo, estes ficam um pouco duros no início e é por esta razão que Sílvia e Jaime não têm pressa em os lançar para o mercado. Mesmo os colheita costumam ter dois ou três anos de garrafa. Este ano, Sílvia está a (re)lançar o Reserva 2011, de uma pequena quantidade que guardou. É uma nova experiência que acabou por demonstrar que, apesar dos seus oito anos, o vinho exibe ainda muita juventude, com bastante fruta, e se mostra muito distante da decadência.

“Parecem quase vinhos de montanha, como os do Douro ou do Dão”, declara Jaime. A altitude nem sequer é elevada: estamos aqui a cerca de 100 metros acima do nível do mar, que, em linha recta, dista apenas 40 quilómetros.

A região de Lisboa é vizinha e muito perto, mas, diz-nos Jaime, “os vinhos não têm nada a ver com estes”. Jaime não faz juízos de valor, apenas constata a diferença, provocada sobretudo pelo calor, que proporciona maturações mais rápidas e dá “vinhos maduros, mas com acidez”.

A vinha a crescer

A primeira plantação de vinha começou logo em 1990 e o total terá ficado pelos 30 hectares. Ao longo dos anos, foram ocorrendo várias mudanças: castas que não provaram bem deram lugar a outras que já tinham pergaminhos confirmados. E a área de vinha foi crescendo, até chegar hoje aos 72 hectares, uma área considerável que gera cerca umas centenas de milhar de litros de vinho. “Já não temos mais espaço para plantar vinha; agora para crescer temos que ir comprando terra aos nossos vizinhos”, diz-nos Sílvia. E assim tem acontecendo: nos últimos anos a família adquiriu 10 hectares. A vinha (e adega) está cargo de Jorge Ventura, jovem viticultor e enólogo residente. Aqui está-se em regime de Produção Integrada, e existe (e sempre existirá) arrelvamento na entrelinha: “não pode ser de outra maneira, porque sem o coberto vegetal, poderia haver erosão em altura de chuvas fortes”, explica Jaime. Aqui usa-se muito o estrume como fertilizante, que vem de outra quinta da família, onde se cria gado de leite. Não resisto e pergunto a Sílvia: “o negócio do vinho é capaz de ser melhor…” Sou respondido com uma sonora gargalhada.

Uma adega bem folgada

Passamos à cozinha do enoturismo e fazemos uma degustação de alguns vinhos. Jaime e Sílvia conduzem a prova, que, se ocorresse dentro de dois meses, seria realizada na nova sala de provas da nova adega. Esta já funcionou em 2019, mas alguns pormenores estão a ser ultimados, como a espectacular sala de provas, no piso mais alto dos 3 existentes. De resto, a adega tem tudo o que é necessário para fazer vinhos de topo, incluindo muito espaço. O piso inferior, para estágio de vinho e barricas, está subterrâneo.

Voltamos aos vinhos e um dos que mais impressiona é o Homenagem Reserva 2015. Diz Jaime: “este tinto passou 24 meses em barrica nova, 12 + 12”. “12+12”? pergunto. “Sim, ao fim de um ano saiu de barricas novas para entrar em outras barricas novas”. O vinho está excessivamente amadeirado? Nada disso. Teve estrutura para aguentar dois anos em dupla madeira nova sem ficar demasiado marcado. O tempo, é verdade, ajudou a suavizar tudo. Saber estas coisas da enologia é uma das facetas de Jaime, que faz muitos milhões de litros de vinho todos os anos, em vários produtores. E tanto faz vinho abaixo dos 2 euros a garrafa como assina néctares com preços muito elevados. Mas talvez a sua maior mais valia seja a compreensão do gosto dos consumidores, que ele avalia nos múltiplos eventos a que vai pelo mundo inteiro.

Aqui dá a sua opinião, claro, mas tem a ajuda preciosa de Sílvia, que também viaja com frequência por todo o mundo e ausculta as opiniões dos enófilos. A casa já tem clientes por esse mundo fora, embora a quota da exportação ainda não tenha chegado a metade do total. China, Alemanha e Bélgica são os maiores mercados. Curiosamente, no mercado nacional e por regiões, é a Madeira que leva a dianteira. E logo a seguir vem os Açores e depois o Algarve. Nenhuma garrafa vai para a moderna distribuição. O resto do país é feito com distribuição própria, mas Sílvia acha que este modelo terá de sofrer ajustamentos para acomodar os crescimentos previstos com as novas vinhas em produção. Ou seja, as quantidades envolvidas não só crescem todos os anos como também o portefólio, que hoje comporta mais de 20 referências, incluindo quatro espumantes e sete monocastas. Para breve serão lançados projectos especiais, como um branco especial ‘Fernão Pirão’ (com curtimenta), um clarete (mistura de tinto e branco), e um varietal de Castelão, feito à antiga. Projectos não faltam, e Sílvia nem nos revelou alguns que não chegaram a ver comercialmente a luz do dia. “Só engarrafamos o que vale a pena”, revela a gestora. O resto fica no segredo dos deuses.

A visita aproxima-se do fim e disparamos a última pergunta a Sílvia: valeu a pena largar a arquitectura para vir para o mundo do vinho? Sílvia nem hesita: “foi muito difícil ao início, especialmente na área comercial, até porque vinha de outra área. Mas é um mundo muito giro e não me arrependo de aqui ter entrado”.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]

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Edição nº 33, Janeiro 2020

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Grupo SEAME cria garrafeira na Uber Eats e disponibiliza Soão na plataforma

O grupo criador de marcas como Sea Me – Peixaria Moderna, Meat Me ou Prego da Peixaria, cria agora uma adega virtual, com o nome Dionísio, disponível através da Uber Eats a partir de amanhã (28 de Março). Esta garrafeira na Uber Eats disponibilizará vinhos de produtores portugueses que o público se habituou a encontrar […]

O grupo criador de marcas como Sea Me – Peixaria Moderna, Meat Me ou Prego da Peixaria, cria agora uma adega virtual, com o nome Dionísio, disponível através da Uber Eats a partir de amanhã (28 de Março).

Esta garrafeira na Uber Eats disponibilizará vinhos de produtores portugueses que o público se habituou a encontrar em restaurantes, mas que não costumam ocupar as prateleiras de venda a retalho. Com preços a variar entre os €7 e os €23 aquando do arranque, a Dionísio terá sempre cerca de 20 referências que irão variando, sendo as vendas feitas à unidade. Nos Vinhos Verdes encontramos o Azevedo Loureiro Alvarinho (€7), do Douro chega, por exemplo, o Grainha Reserva (€17), do Dão o Quinta dos Carvalhais Encruzado (€23); da Bairrada o FP, by Filipa Pato (11,5€), de Lisboa o Quinta Pinto Sauvignon Blanc (€15) e de Setúbal o Bacalhôa Verdelho (€12,5); nos vinhos da região do Alentejo podemos pedir o Esporão Reserva (€16,5) entre outros. Os pedidos são entregues numa média de 25 minutos depois de feitos na aplicação, no centro de Lisboa e na zona de Algés – Linda-a-Velha.

Já no que toca ao restaurante asiático Soão, da Avenida de Roma, este está agora disponível na Uber Eats com sete pratos. Nas entradas, há as Keema Samosa, as chamuças de cabra, caril e molho de iogurte e menta (€8) e, nas sopas, a Tom Yum Gai, com erva príncipe, lima kaffir, chili, cogumelos e frango (€13,5). Nos pratos principais, estão disponíveis o Pad Thai de camarão, (€19,5) e de frango (€18,5), o Caril Verme-lho Verde (ambos a €16,5), ambos de frango. Além destes, há ainda o Gua Bao, de porco desfiado, molho de feijão preto, coentros, pepino e amendoim (€8,5) e o imprescindível Arroz de Jasmim (€3) para acompanhar. Nas bebidas há chá frio (€3), mas também várias cervejas do oriente, como a Kirin Ichiban (€4,5), a Singha (€4) ou a Sapporo (€5), entre outras.

O projecto que marcou a diferença desde a sua abertura, em 2018, na zona em que se insere, continua bairrista: as entregas serão feitas apenas num raio de 4 km do restaurante, na zona de Alvalade.

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Caro leitor, O grave surto desta pandemia que nos caiu em cima virou de repente o nosso mundo de pernas para o ar. Como tantas outras empresas, também na revista Grandes Escolhas fomos forçados a fazer alterações drásticas nas nossas rotinas e ficámos muito limitados no nosso trabalho. Deixamos de poder ir a apresentações e […]

Caro leitor,

O grave surto desta pandemia que nos caiu em cima virou de repente o nosso mundo de pernas para o ar.

Como tantas outras empresas, também na revista Grandes Escolhas fomos forçados a fazer alterações drásticas nas nossas rotinas e ficámos muito limitados no nosso trabalho. Deixamos de poder ir a apresentações e lançamentos que foram cancelados, não podemos visitar produtores ou enoturismos, não faz sentido referenciar restaurantes, bares e garrafeiras que estão fechados por medida de protecção.

Mas apesar destes constrangimentos, não parámos e continuamos a trabalhar com afinco… mas à distancia. Continuamos a receber amostras de vinhos, a provar, a comunicar, a divulgar. Continuamos a falar todos os dias com os produtores por telefone ou videochamada e com milhares de consumidores através do site grandesescolhas.com. E continuamos a publicar a revista impressa. Num tempo em que os próprios produtores estão limitados na sua actividade comercial ou ensaiam novas formas de tentar chegar ao público e manter o contacto possível com os seus clientes, nós somos também a sua voz que se mantém activa e disponível.

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António Maçanita cria loja online e reverte metade dos lucros para Cruz Vermelha

Já está online o site onde é possível comprar mais de 50 vinhos assinados pelo enólogo e produtor António Maçanita (entrega gratuita acima de quaisquer 6 garrafas) e, ainda, ajudar a Cruz Vermelha na batalha contra a COVID-19. Metade dos lucros vai para a campanha #euajudoquemajuda. “Perante esta situação difícil que vivemos, os meus esforços […]

Já está online o site onde é possível comprar mais de 50 vinhos assinados pelo enólogo e produtor António Maçanita (entrega gratuita acima de quaisquer 6 garrafas) e, ainda, ajudar a Cruz Vermelha na batalha contra a COVID-19. Metade dos lucros vai para a campanha #euajudoquemajuda.

“Perante esta situação difícil que vivemos, os meus esforços vão para, não só manter a minha empresa em funcionamento e a minha equipa saudável e protegida, como fazê-lo ajudando onde é mais preciso durante esta crise de saúde pública. Assim, criámos um site de venda dos nossos vinhos, com referências que até agora o cliente final só podia aceder através da restauração ou do pequeno retalho. No entanto, não faz sentido para mim, nem para a minha equipa, sermos ajudados sem ajudar os outros. Como tal, queremos participar nesta rede em cadeia doando metade dos lucros que faremos online à campanha #euajudoquemajuda, da Cruz Vermelha.” declarações do enólogo António Maçanita sobre as motivações que levaram a esta iniciativa.

Entre os vários vinhos disponíveis, estão novidades lançadas este mês de Março, como a gama Chão dos Eremitas, da Fita Preta, ou o Fita Preta Branco Ancestral. Além das novidades, também raridades e edições especiais, até agora pouco acessíveis, estarão disponíveis para venda ao público. É o caso do Fina Flor, um vinho que faz lembrar um xerez seco; Da Pedra se fez Espumante, um espumante dos Açores; ou Laranja Mecânica, o primeiro vinho laranja do enólogo.

As entregas demoram entre 24 e 48 horas para território nacional e entre 48 e 72 horas para o resto da Europa, mas para quem tem pressa de provar estes vinhos, pode fazê-lo na Grande Lisboa através da aplicação No Menu que tem, a partir de hoje, 31 vinhos das várias regiões onde o enólogo produz, disponíveis para entrega imediata. Esta parceria com a No Menu – que terá exclusivamente em armazém estes vinhos para venda – procura facilitar quem quer comprar menos quantidade de vinhos, mais rapidamente.