Quinta da Atela: O início de uma nova era

Quem circula pela estrada N118 entre Almeirim e Alpiarça, aproximadamente a meio-caminho passa por umas portadas e um muro branco com símbolo da Quinta da Atela e vinhas dos dois lados da estrada. Por trás destas portadas encontra-se uma unidade de produção de vinhos com uma gama bastante completa, uma bem interessante oferta de enoturismo […]
Quem circula pela estrada N118 entre Almeirim e Alpiarça, aproximadamente a meio-caminho passa por umas portadas e um muro branco com símbolo da Quinta da Atela e vinhas dos dois lados da estrada. Por trás destas portadas encontra-se uma unidade de produção de vinhos com uma gama bastante completa, uma bem interessante oferta de enoturismo e várias salas para eventos de 70 a 500 pessoas, e ainda uma casa com quatro suites. Os 600 ha da quinta, dos quais 150 são de vinha, permitem uma exploração diversificada.
Tudo começou há 700 anos
A história da propriedade remonta ao século XIV, tendo os Condes de Ourém como os primeiros proprietários. Os tempos passavam, mudavam-se os donos, nem todos traziam benefício à propriedade. No final do século XX a quinta foi comprada por Isidoro Maria de Oliveira, empresário na área das carnes e fundador da icónica marca Salsichas Izidoro. A revolução de 25 de Abril em 1974 trouxe uma expropriação e ocupação da propriedade que durou uma década, até que foi devolvida ao legítimo proprietário num estado muito degradado. Nos anos 90 do século passado, um membro da família Oliveira, Joaquim Manuel de Oliveira, tomou conta da quinta, investindo na vinha e renovando as instalações. Após a sua morte, em 2012, a propriedade atravessou novamente um período de estagnação.
A mais interessante e promissora história da Quinta da Atela começou em 2017, quando a propriedade foi adquirida pelo casal de empresários Anabela Tereso e Fernando Vicente, administradores da Valgrupo, holding de peso do sector da agropecuária. Ao longo de quase 40 anos construiram praticamente um império verticalmente integrado, incluindo criação, abate e transformação animal, constituído por um total de 32 empresas. A produção de vinho é uma nova página nesta história empresarial.
Há, na propriedade, 20 hectares de uma vinha velha de Castelão com mais de 70 anos, a “Carvalhita”.
Uma referência do Tejo
Anabela Tereso ficou à frente do novo negócio. Não se deixou intimidar nem pela dimensão da quinta, nem pela quantidade de melhorias que precisavam de ser introduzidas, nem pelo facto de não ter nenhuma formação em vinhos. Arregaçou as mangas e agarrou o desafio. O objectivo era bem definido: fazer da Quinta da Atela uma referência na região do Tejo (e no país) em termos de enoturismo e produção de vinhos. E não se desviou dele. Quem se casou e começou a trabalhar aos 18 anos, está habituado a conjugar a vida familiar e profissional, tem força de vontade e resiliência suficiente para fazer tudo o que seja necessário para avançar. E a região do Tejo precisa de projectos destes.
Para assegurar a enologia contrataram novamente o reputado e experiente enólogo António Ventura. Novamente, porque o percurso do enólogo já passou pela Quinta da Atela ainda nos tempos do anterior proprietário, de 1997 até 2012, e ainda como consultor até 2016. Em 2020, António Ventura foi convidado por Anabela para assegurar o destino dos vinhos da propriedade, função que continua a assumir com a discrição, a elegância e a eficácia que lhe são conhecidos. Um autêntico “alfaiate” que faz vinhos por medida e ajudou repensar e redefinir a gama e o perfil dos vinhos, de acordo com as espectativas dos proprietários.
A função de enólogo residente e responsável de viticultura é assumida por Filipe Catarino.
O objectivo estava bem definido: fazer da Quinta da Atela uma referência na região do Tejo. Quando Anabela Tereso ficou à frente do novo negócio, não se deixou intimidar. Arregaçou as mangas e agarrou o desafio
Muitas castas e um Castelão especial
Um (longo) passeio pelas vinhas num atrelado de trator é uma experiência bem “autêntica”. O pó dos caminhos não alcatroados e o calor habitual para a zona da Charneca na região do Tejo lembra-nos que o trabalho de viticultura numa área com esta dimensão não é fácil. Para além das vinhas deu para apreciar os montados, ver criação de bovinos (que ficaram contentes ao ouvir o som do trator e a pensar que lhes trouxemos comida).
Mais de 20 castas estão plantadas na quinta, entre as típicas da região como a Castelão e Fernão Pires e as internacionais que incluem Chardonnay, Gewurztraminer, Sauvignon Blanc, Pinot Noir, Syrah, Cabernet Sauvignon, Petit Verdot, Marselan e Merlot. Há, também, 20 hectares de uma vinha velha de Castelão com mais de 70 anos (plantada em 1953), a “Carvalhita”. A vinha é antiga, mas nada tem de decrépita e mostra ainda um vigor admirável. É precisamente desta vinha que agora foi lançado o fantástico monovarietal que tivemos a oportunidade de provar durante a visita.
A quinta trabalha exclusivamente com uva própria. O portfólio de vinhos abrange várias gamas, desde Colheita até Grande Reserva, e todas as categorias, desde espumantes até licorosos e uma aguardente vínica velhíssima e mais de 10 vinhos monovarietais, brancos e tintos. No total a Quinta da Atela produz 1,2 milhões de litros, sendo 50% vendido a granel. Vendem praticamente tudo no mercado nacional, começando agora a explorar os mercados de exportação.
Dos lançamentos mais recentes provámos o monovarietal de Sauvignon Blanc, bem conseguido, fresco e crocante, um belíssimo Castelão das vinhas velhas e uma surpresa que a enologia fez à proprietária pela sua determinação e dedicação ao projecto; um vinho que se chama Anabela, com designação de Grande Reserva.
Um tinto de homenagem
António Ventura explicou que “numa prova rotineira das barricas com vinhos em estágio, destacaram-se algumas delas pela excelência dos vinhos que continham, e foi então que nós, equipa de enologia, decidimos que existia ali potencial para um Grande Reserva tinto.” O passo seguinte foi mais difícil: escolher o nome para este novo topo de gama da casa. “Eventualmente, concordámos que o vinho, pelas suas características de excelência, ao nível da qualidade, frescura, intensidade e persistência, tinha tudo para ser uma singela homenagem da equipa à mentora do projeto da Quinta da Atela. Desenvolvemos, assim, o lote em completo segredo, tendo sido apresentado a Anabela Tereso apenas na fase final, e para sua enorme surpresa, com a sugestão de usar o seu nome próprio no rótulo deste belíssimo tinto”. Este vinho obteve a designação de Grande Reserva na câmara dos provadores da CVR do Tejo.
O Sauvignon Blanc é produzido com uvas de duas vinhas – uma plantada em 1999 e a outra em 2018 – instaladas em solos arenosos, pobres e bem drenados. Fermentou e estagiou em inox para preservar os aromas primários típicos da casta, com bâtonnage semanal para conferir mais textura. O Castelão fermentou em pequenos lagares de inox após pré-maceração a frio, por 24h, com estágio de 12 meses em barricas de carvalho francês “Allier”, 50% novas e 50% de segunda utilização. O Anabela é um lote de Petit Verdot, Merlot e Syrah em partes iguais, com estágio de 16 meses em barricas de carvalho francês “Vosges” e “Allier”, 70% novas e 30% usadas.
(Artigo publicado na edição de Agosto de 2024)
Editorial Setembro: Sentido de origem

Editorial da edição nrº 89 (Setembro 2024) Gosto de vinhos com forte identidade regional, com aquela particular combinação de aromas e sabores que toca as nossas memórias sensoriais e nos remete de imediato para um local, um território, uma origem. Esses denominadores comuns que sentimos no copo são, sobretudo, construídos com base em clima, solo […]
Editorial da edição nrº 89 (Setembro 2024)
Gosto de vinhos com forte identidade regional, com aquela particular combinação de aromas e sabores que toca as nossas memórias sensoriais e nos remete de imediato para um local, um território, uma origem.
Esses denominadores comuns que sentimos no copo são, sobretudo, construídos com base em clima, solo e casta (ou castas). O peso da variedade de uva nesta conjugação é muito importante e o único factor de construção identitária – além do trabalho na vinha e na adega, claro – que depende mais do Homem do que da Natureza. Tão importante é a casta na definição de uma Denominação de Origem que, na tradição vitivinícola europeia, nunca é deixada ao livre-arbítrio do produtor. Ou seja, na prática, quem quiser ser amparado pela protecção e estatuto DOC de Bordeaux, Barolo, Rioja, Bourgogne, Chianti, Champagne, Rueda, etc., tem de se cingir a um conjunto de variedades “tradicionais” previstas na lei, em alguns casos com percentagens mínimas obrigatórias para as mais relevantes. Mas quem quiser usar as castas em que mais confia, não deixa de poder fazer grandes vinhos: terá sempre ao dispor as muito menos restritivas IG (Vinho Regional). No meio de tudo isto, claro, há regiões mais “fechadas” e regiões mais “abertas” quanto à introdução (sempre progressiva e muito escalonada no tempo), de castas externas, sendo que as DOC mais antigas tendem a estar no campo das primeiras e as mais recentes nas segundas.
Sendo a mais antiga do mundo, o Douro é um bom exemplo. Na prova de rosés que publicamos nesta edição, dos 15 vinhos provados, 14 combinam as variedades Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz e Tinto Cão (esta última cada vez mais usada para rosés ambiciosos), em conjunto ou em separado. O único (por sinal, belíssimo) que sai fora do “alinhamento” utiliza Pinot Noir e não pode por isso ser Douro, sendo certificado como IG/Regional Duriense. No Douro, o Pinot Noir é apenas admissível para espumante.
Regra geral, nas regiões clássicas, apesar de haver muitas “castas históricas” disponíveis, os produtores utilizam um número reduzido, reforçando assim, mais ainda, a identidade regional. É o caso da Bourgogne onde, com mais de dúzia e meia de uvas brancas e tintas legalmente admissíveis, 90% do encepamento se divide entre Chardonnay e Pinot Noir. Já nos tintos de topo do Douro temos vindo a assistir a um processo de concentração semelhante, com uma nuance, focada em dois modelos distintos: um, maioritário, assenta no blend Touriga Franca/Touriga Nacional, com ou sem tempero residual de outras castas; outro, minoritário, recorre ao field blend de vinhas velhas, onde a localização é, quase sempre, mais importante do que o encepamento.
A Bairrada seguiu um caminho totalmente oposto ao do Douro. Em 2003 abraçou um vastíssimo catálogo de variedades nacionais e estrangeiras – praticamente todas as de que se lembraram – ao invés de as relegar para o IG (convenhamos, o nome – Beira Atlântico – não ajuda nada), tornando-se assim a DOC mais “aberta” de Portugal. Um passo, a meu ver, disparatado e contra o qual me insurgi por diversas vezes. Sem questionar a qualidade das “novas”, temia que a vontade declarada de substituir as uvas clássicas por Cabernet, Viognier, Sauvignon, Merlot, Syrah, Petit Verdot, diluísse completamente a identidade regional. Hoje, a minha indignação de há duas décadas dá-me vontade de rir. Devia ter tido mais fé na região, na resiliência dos poucos produtores que não embarcaram no canto da sereia e no seu exemplo mobilizador. Vinte anos volvidos, a Grande Prova deste mês espelha a Bairrada de hoje: entre 26 tintos, apenas 3 incluem castas provenientes do descontrolo varietal de 2003…. Podia ter poupado o meu latim. LL
Nobre Gosto tem início este fim-de-semana com convidados internacionais

A Grandes Escolhas e o Município de Oeiras organizam a 3ª edição do único evento exclusivamente dedicado a vinhos fortificados e doces. Depois do sucesso das edições anteriores, a iniciativa, organizada pela Grandes Escolhas com o apoio do Município de Oeiras e do Turismo de Portugal, apostou na internacionalização do evento com a presença especial […]
A Grandes Escolhas e o Município de Oeiras organizam a 3ª edição do único evento exclusivamente dedicado a vinhos fortificados e doces.
Depois do sucesso das edições anteriores, a iniciativa, organizada pela Grandes Escolhas com o apoio do Município de Oeiras e do Turismo de Portugal, apostou na internacionalização do evento com a presença especial dos vinhos de Jerez, Espanha, e Tokaj, Hungria, que se juntam aos generosos portugueses em três dias de festa e atividades que pretendem evidenciar a qualidade, distinção e notoriedade dos vinhos fortificados a nível nacional e internacional.
O vinho de Carcavelos, um dos mais antigos vinhos fortificados portugueses, volta a ser o anfitrião de um evento que apresenta um programa diversificado, com provas comentadas, visitas à Adega Villa Oeiras, demonstrações culinárias e masterclasses, além de uma zona de exposição com doces regionais, pastelaria, chocolates e outras iguarias. A entrada é livre e estas atividades realizam-se nos dois dias de evento abertos ao público, sábado e domingo. O primeiro dia, sexta-feira, é dedicado exclusivamente aos profissionais da restauração e hotelaria.
As novas formas de consumir vinhos fortificados, como os cocktails, merecem uma atenção especial. Por isso, o Nobre Gosto terá em permanência um bar que os servirá com base nos licorosos portugueses. Para além disso, haverá uma masterclasse orientada pelo bartender do ano, Wilson Pires, dirigida para profissionais do ramo de frequência livre sujeita a inscrição.
Provas comentadas
Um dos pontos altos do evento são as Masterclasses que permitem, aos interessados, conhecer um pouco mais sobre os vinhos generosos. Realizam-se na Capela do Palácio e têm lugares limitados, sendo necessário adquirir bilhete através da Ticketline. São as seguintes:
– Vinho do Porto: “O maravilhoso mundo dos Porto brancos da Kopke”;
– Vinho Madeira: “Um legado de gerações”;
– Vinho de Carcavelos: “Os surpreendentes Colheita Villa Oeiras”;
– Vinho Moscatel de Setúbal: “O estilo singular dos grandes Moscatel da Bacalhôa”;
– Vinho de Jerez: “Vos e VORS, os Vinhos mais nobres de Jerez”;
– Vinho Tokaj: “Os Vinhos da coleção Confraria Tokaj”.
Este ano o Nobre Gosto apresenta ainda, como convidados especiais, os vinhos de Jerez, Montilla-Moriles, Condado de Huelva, Málaga, Rueda e Tokaj (Hungria).
* A entrada e circulação no recinto do evento é livre, mas o acesso às provas livres será feito exclusivamente mediante compra de copo no valor de 10€.
* As Masterclasses/ Provas Especiais, são momento únicos e exclusivos, cujo acesso ser feito através de compra de bilhete AQUI
* A compra de lugar na masterclass dá direito ao copo para entrada na zona de provas livres do Evento.
HORÁRIOS:
20/09 (exclusivo para profissionais): Abertura às 17h
21/09 Sábado : 15:00 às 21:00
22/09 Domingo : 15:00 às 19:00
Quinta da Atela aposta ainda mais no enoturismo

A Quinta da Atela, produtor de vinho da região vitivinícola do Tejo, acaba de lançar um novo programa de enoturismo que promete conquistar os amantes de vinho e os entusiastas do turismo rural, que procuramum refúgio no coração do país. Com uma história que remonta ao século XIV, apropriedade de Alpiarça abre agora as suas […]
A Quinta da Atela, produtor de vinho da região vitivinícola do Tejo, acaba de lançar um novo programa de enoturismo que promete conquistar os amantes de vinho e os entusiastas do turismo rural, que procuramum refúgio no coração do país.
Com uma história que remonta ao século XIV, apropriedade de Alpiarça abre agora as suas portas para oferecer uma experiência imersiva, onde os visitantes podem explorar as vinhas e a Reserva Natural do Paul da Gouxa em buggy todo-o-terreno ou no reboque do trator, participar em qualquer uma das três provas de vinhos disponíveis e conhecer de perto o processo de produção. Nesta aventura por paisagens a perder de vista, a Quinta da Atela convida adescobrir pontos de interesse natural e arqueológico como o maior Salgueiro Negral da Península Ibérica ou o Cabeço da Bruxa. São 600 hectares de natureza no seu estado mais puro.
E para quem vem de longe, ou apenas quer passar a noite na calmaria do campo, a restaurada casa centenária, ainda com a “traça” original, oferece quatro suítes e piscina exterior. Para juntar estadia e experiências de enoturismo, a Quinta da Atela sugere um dos dois pacotes que incluem uma noite, tour pela propriedade, prova ou piquenique e um momento cultural ou de visita à adega.
Quinta da Atela
Estrada Nacional 118, km78 – 2090-219 Alpiarça
O Tempo dos vinhos por Luís Antunes

O vinho é um produto agrícola de ciclo muito longo. Na sua produção, o tempo do vinho, o ciclo da vinha, é um ano. Podemos fazer um zoom-out para percebermos que quando se planta uma vinha — e uma vinha pode produzir vinho durante muitas décadas—, essa decisão afectará muitos destes ciclos anuais. A decisão […]
O vinho é um produto agrícola de ciclo muito longo. Na sua produção, o tempo do vinho, o ciclo da vinha, é um ano. Podemos fazer um zoom-out para percebermos que quando se planta uma vinha — e uma vinha pode produzir vinho durante muitas décadas—, essa decisão afectará muitos destes ciclos anuais. A decisão de arrancar ou reconverter uma vinha velha é, então, obviamente, uma decisão de peso, que tem impacto durante muitas décadas no estilo do vinho a produzir. Uma vinha velha não se define apenas pela sua idade. Também se define pelas castas que inclui em cada parcela, pela condução das vinhas que, trazendo mais ou menos energia do Sol para cada cacho, pode representar mais maturação ou mais frescura no vinho que ali se produz.
O ciclo vegetativo anual é também uma consequência dessas decisões de fundo. Uma casta de ciclo longo vai amadurecer mais devagar, preservando melhor os preciosos ácidos enquanto reúne os açúcares no amadurecimento, garantindo assim um equilíbrio que o consumidor depois agradece. Uma casta de ciclo mais curto ajuda a que o amadurecimento chegue antes que os orvalhos do Outono apodreçam as uvas. Cada sítio quer assim as suas escolhas, provando que o terroir inclui sempre o homem, não apenas os solos, climas, exposições solares e castas. Decisões antigas com fé reafirmada em cada vindima.
Na vindima é o tempo que acelera. As semanas são cheias de dias, as uvas não esperam, as fermentações têm tempos críticos. Os dias são cheios de acção, é a colheita, a fermentação, a limpeza, muita limpeza, as trasfegas, os lagares, as mantas regadas, mil-e-uma tarefas para cuidar dos vinhos que se fazem, libertar espaço para os vinhos que se vão fazer, cuidar dos vinhos já feitos. Ainda por cima, nestes tempos de turistas e visitantes, há sempre gente a entrar e a sair, jornalistas, curiosos, apaixonados do vinho, parceiros comerciais, tempo ocupado, ainda tempo para cuidar disto tudo, refeições para serem cozinhadas, e apreciadas com os vinhos de anos passados, sonhando com os anos futuros.
Quando a coisa abranda, as decisões podem ser mais espaçadas, mas não são menos importantes. Estágios, lotes, marcas, rótulos, engarrafamentos, rolhas, vendas. Um vinho que se estagia na adega é um vinho que tarda mais em vender. Fica o empate de capital, fica o espaço e vasilhame para o guardar, e às colheitas seguintes que se queiram fazer. Um estágio que se faça em barrica obriga a investir em barricas, o que, para além do custo delas próprias, inclui o custo da mão de obra para as cuidar. As vasilhas não podem ficar a meio e, por isso, quanto menores, mais mão de obra exigem. A sofreguidão destes trabalhos acelera quando se fazem as fermentações malolácticas, mas depois abranda até ao Verão seguinte. Aí vêm os engarrafamentos e o planeamento da próxima vindima. Vendas, transportes.
E neste ciclo de produção entra em jogo o consumidor. Que vai comprando vinho ao longo do seu ano, com os seus tempos, se calhar mais rosés e brancos no tempo quente, mais tintos e fortificados no tempo frio. E comprando, vai abrindo e bebendo. Quando? Ora, diz-se como lenda que o tempo médio que decorre entre a compra de uma garrafa e a sua abertura e consumo é cerca de duas horas. Tempo curto, nem sei como arrefecem os brancos. Se calhar compram já fresco. Por mim, aprecio um vinho bebido no seu tempo próprio. No auge da sua evolução.
Ao longo dos anos têm melhorado muito os vinhos brancos portugueses e os melhores já são agora postos à venda com alguns anos de estágio, uma cortesia do produtor que os aproxima desse tempo ideal. Mas mesmo quando são postos à venda ainda no ano da sua vindima, muitas vezes sou eu que faço questão de os estagiar devidamente. O meu melhor exemplo talvez seja o Alvarinho de Monção e Melgaço. Tão bom de beber logo que sai, tão melhor de o degustar com alguns anos. Muitas vezes escondo uma caixa de garrafas na garagem, esperando esquecer-me dela para a ir buscar anos mais tarde. Se, das seis garrafas, duas evoluírem demasiado, vale a pena, que as outras quatro mais do que compensam. E um truque para as outras duas é bebê-las com um queijo de ovelha curado, a combinação tradicional que quase caía em esquecimento.
Os tintos sempre aguentaram melhor a espera e também esses os faço esperar. Prefiro comprar menos variedade e mais garrafas de cada vinho. De Bordeaux costumava comprar sempre uma caixa de 12, e nunca as abria antes de 8 ou 10 anos. Aí uma garrafa por ano, para avaliar a evolução do vinho. Se estava de urgência, acelero o ritmo, se não, abrando. Um vinho antigo, nunca o decanto. O vinho que esperou muito tempo com pouco contacto com o ar fica guloso de oxigénio quando se tira a rolha. Tira-se então a rolha com cuidado, saca-rolhas de lâminas, e deixa-se respirar aquele nadinha de vinho do gargalo. Depois serve-se com poucos safanões a garrafa toda, para cada comensal apreciar no copo o seu bouquet. Decantar é só para vinhos novos, para lhes amaciar os taninos espigados. Mas é sempre melhor esperar que o tempo lhes arredonde as arestas.
Mas para nenhum vinho é verdade que “quanto mais velho melhor”. Mesmo os fortificados mais poderosos, grandes Portos ou Madeiras, devem ser bebidos no seu tempo certo. Esperar demasiado pode prejudicar o vinho, deixemos essas longas esperas para quem conhece melhor essas artes, os enólogos que nas caves os envelhecem e loteiam, que os provam continuamente para colocar na garrafa no tempo certo. Um grande Porto vintage envelhece longamente na garrafa e podemos fazê-lo nós em casa, mas não convém esperar demais. Também aqui é preciso ir provando, pois vale sempre a pena conhecer o que temos na garrafeira, convidar uns amigos e abrir as garrafas. Um Porto tawny e especialmente um Madeira podem envelhecer para sempre, mas não necessariamente melhorar em garrafa na nossa cave. Por isso é dar-lhe, não esperar mais do que o devido.
De princípio a fim falei sempre de tempo, do tempo dos vinhos. Espirais de tempo, grandes e pequenas, que envolvem terras, cepas, uvas, mostos, lagares, cubas, barricas, garrafas, vinhos, copos. Que nos envolvem a nós e à nossa vida. Agora, é tempo de ir beber um vinho. LA
(Artigo publicado na edição de Julho de 2024)
Curso Profissional dos Escanções de Portugal 2024

O Curso Profissional AEP realiza-se já há 5 anos, desde 2019, com o objectivo de proporcionar aos profissionais e futuros profissionais um aliado formativo completo e minucioso nos seus percursos académicos e profissionais. Composto por 3 níveis, a frequência na sua totalidade garante o diploma profissional de Escanção certificado pela Associação de Escanções de Portugal […]
O Curso Profissional AEP realiza-se já há 5 anos, desde 2019, com o objectivo de proporcionar aos profissionais e futuros profissionais um aliado formativo completo e minucioso nos seus percursos académicos e profissionais. Composto por 3 níveis, a frequência na sua totalidade garante o diploma profissional de Escanção certificado pela Associação de Escanções de Portugal entidade formadora certificada pela DGIRT e com reconhecimento nacional e internacionalmente.
Num “curso feito por Escanções para Futuros Escanções”, como destaca Manuel Moreira, formador dos Níveis II e III, todas as aulas são orientadas e ministradas por profissionais da área, sobretudo escanções, mas também enólogos, viticultores, chefs e formadores da equipa da AEP. Desde o início do curso até agora, para além dos residentes Tiago Paula, presidente da Associação, e o escanção Manuel Moreira, nomes como Vasco d’Avillez, José Gaspar, Eduardo Cardeal, Pedro Tereso, Frederico Rosa, Vera Moreira, Sara Peñas Lledó, Fabio Nico, Nuno Ferreira e Nelson Guerreiro já se juntaram à equipa de formadores, transmitindo conhecimentos e experiências de forma única e enriquecendo ainda mais os conteúdos do programa de estudo.
Manuel Moreira adianta ainda que “este é um curso que abarca praticamente todas os temas ligados ao mundo dos vinhos. Prepara e abre horizontes, a todos os que o frequentam ou frequentaram, tendo para alguns um impacto muito positivo na sua vida profissional e na perspectiva de carreira. A visão e experiência profissional da equipa de formadores agregam elementos da vida prática – soluções, acções já concretizadas e seus efeitos, estudos aplicados, etc. – que são muito bem acolhidos pelos estudantes e que os ajudam no contexto das suas preocupações ou questões a esclarecer.
Esta edição em particular será a 10ª do Nível I e tem término previsto para Dezembro de 2024, neste que é um primeiro passo para obter o diploma profissional de Escanção.
Barca Velha 2015: Um Douro (muito) Especial

Para além de ser um vinho histórico, é um vinho cheio de histórias, mais pequenas e pessoais. As histórias de como, quando, onde e em que circunstância se tomou o primeiro contacto com este mítico vinho. Variam as pessoas, os anos e as emoções criadas pelo momento, mas há um denominador comum – o primeiro […]
Para além de ser um vinho histórico, é um vinho cheio de histórias, mais pequenas e pessoais. As histórias de como, quando, onde e em que circunstância se tomou o primeiro contacto com este mítico vinho. Variam as pessoas, os anos e as emoções criadas pelo momento, mas há um denominador comum – o primeiro Barca Velha na vida não se esqueçe. Certamente muitos colegas meus têm uma história para contar. Eu tenho a minha.
Foi em 2010 quando um casal de amigos veio de Moscovo para passar cá as férias. O marido da minha amiga era um homem de negócios, considerava-se apreciador e só bebia vinhos caros italianos e franceses. Naturalmente, perguntou-me qual era o melhor vinho de Portugal, quando entrámos numa garrafeira. Contei-lhe a história do Barca Velha e expliquei que nunca o tinha provado e não posso acrescentar a experiência própria à minha recomendação. O meu amigo comprou, sem pestanejar, duas garrafas do Barca Velha 2000, uma das quais ofereceu-me e disse: “Tens que provar, é para ti.” E provei. Era bem diferente do que estava à espera: não era uma bomba de sabor cheia de potência, mas um vinho extremamente elegante e estruturado, repleto de frescura e com um final tão longo que me impressionou.
Porque é um vinho mítico?
O Barca Velha foi criado em 1952 pelo enólogo/provador da Casa Ferreirinha, Fernando Nicolau de Almeida, perseguindo um sonho de produzir um vinho tinto de alta qualidade no Douro, região onde quase exclusivamente se produzia vinho do Porto na altura. Em condições conseguiu arranjar apenas as uvas. Todo o processo de vinificação foi um enorme desafio, só ultrapassado graças ao engenho e à enorme força de vontade do criador do Barca Velha. Para uma versão completa, recomendo vivamente a leitura do livro “Barca Velha – Histórias de Um Vinho”, de Ana Sofia Fonseca.
O Barca Velha não é declarado todos os anos, pois por muita perícia e cuidados na viticultura e enologia, milagres não existem, e o ano nem sempre entrega a qualidade intrínseca pretendida para um vinho deste nível de exigência.
O estilo muda?
Sim, com certeza. Passaram mais de 70 anos desde a colheita de estreia e muita coisa mudou desde então: as vinhas e as castas que dão origem ao vinho, as práticas de viticultura, as adegas, a tecnologia e o tipo das barricas utilizadas.
Seria ingénuo pensar que o Barca Velha 1952, feito de uvas não desengaçadas (não havia desengaçadores na altura) numas tinas com gelo transportado à noite de Matosinhos para o Douro Superior e estagiado em barricas de carvalho português, bem mais poroso do que o francês, fosse igual ao Barca Velha 2015, produzido com todos os cuidados e atenção nos detalhes, desde a uva até ao mais ínfimo pormenor, em barricas escolhidas propositadamente para este vinho. A composição varietal também é ajustada para garantir a estrutura, complexidade, frescura e potencial de guarda. A Touriga Franca (43%) garante a estrutura juntamente com Touriga Nacional (40%), responsável pelo aroma e complexidade. Ambas são a espinha dorsal do Barca Velha 2015. Pela primeira vez, o Sousão entrou no lote com 10% a conferir tanino e acidez, ultrapassando o Tinto Cão (5%) e a Tinta Roriz (2%) em proporção. As uvas provêm das vinhas de altitudes e locais diferentes da Quinta da Leda e também das propriedades da Casa Ferreirinha nas zonas altas de Meda.
O que se mantém inalterável é a filosofia do vinho, a vontade e a capacidade de alcançar uma perfeição, mesmo que não seja absoluta, conceptual e contextual.
Como se decide um Barca Velha?
Em 1960 foi criado o Reserva Especial, um vinho que é declarado também em anos de excelência, quando a sua expectativa de longevidade é ligeiramente inferior ao Barca Velha.
Os primeiros indícios de um vinho excepcional surgem na vindima. Se assim for, no final do estágio em barrica (cerca de 18 meses) o lote é engarrafado em garrafas borgonhesas (ao contrário dos outros vinhos da Casa Ferreirinha, que vão para as garrafas bordalesas) e, apelidado de “Douro Especial”, inicia o seu estágio de vários anos em cave para sair de lá com o rótulo de Barca Velha ou de Reserva Especial. Ao longo deste tempo, o enólogo responsável por perpetuar o legado, Luís Sottomayor, com a sua equipa, vai provando o vinho e acompanhando a sua evolução. A decisão acaba por não ser espontânea, é antes uma convicção que se cria na sequência de muitas provas. “Às tantas, a decisão que se coloca não é ser, ou não, Barca Velha, mas qual o momento certo para o lançar” – explica o enólogo. Procura-se o momento, quando o vinho começa a ficar pronto. Cada Barca Velha à nascença tem cerca de oito anos de estágio; o 2015 teve nove.
O preço é justo?
Não existe uma resposta binária, tal como não existe uma justiça linear na relação preço/qualidade de um vinho deste gabarito e notoriedade. Neste caso, o preço não é uma transposição directa de qualidade. Há outros mecanismos que o determinam. Um deles é o próprio mercado. Espera-se que no retalho rondará, nesta primeira fase, entre os €800 e €900.
Claro que, para muitos, provar um Barca Velha continuará a ser um sonho, mas sempre há quem veja este preço como irrisório e gaste muito mais em coisas bem mais fúteis.
O Barca Velha transporta, consigo, toda a história dos vinhos tranquilos do Douro, o legado de conhecimento e aprendizagem e todo o potencial, se quiserem. Não me escandaliza o preço do Barca Velha, mesmo não sendo acessível para mim, como para a maioria dos portugueses. Escandaliza-me quando pedem um preço exorbitante para um vinho sem história e sem outro propósito para além de ganhar artificial notoriedade.
Como é o Barca Velha 2015?
São inevitáveis as comparações com os Barca Velha dos anos anteriores. No Barca Velha 2015 Luís Sottomayor reconhece a estrutura, o volume, os taninos e a maturação de 2011 (um ano quente), bem casados com elegância, harmonia, austeridade e acidez de 2008 (um ano mais fresco).
O Barca Velha 2015, como os anteriores que tinha provado, não é sobre o equilíbrio. Este subentende-se. É sobre harmonia. Estaria enganada se dissesse que é um vinho para impressionar a qualquer um. Não é. Exige alguma experiência de prova, alguma bagagem sensorial para o entender e tirar o maior prazer da prova. E, mesmo assim, é preciso tempo de contacto e foco para permitir que o vinho evolua no copo, para o deixar falar.
Com nove anos de idade está ainda no início da sua vida. A evolução que apresenta é imperceptível como idade, sente-se como afinação. Num vinho perfeito não procuramos a perfeição, mas sim uma diferença, algo pessoal. A elegância é um termo de prova vasto, muitas vezes usado e abusado, mas é um termo bem assertivo neste caso. O Barca Velha 2015 está elegante e certamente ganhará ainda mais requinte com a continuação do estágio em garrafa. Ao mesmo tempo há algo irreverente nele, na forma como não se exibe de imediato, como o tanino ainda agarra, na acidez afiada, no corpo enxuto. Não é um vinho para mastigar. É para engolir e, de preferência, com comida. E no final, assumidamente infinito, deixa a sua presença na boca e na memória. E deixo aqui uma última observação: o Barca Velha não é excelente por ser famoso, é famoso por ser excelente. Foram produzidas 16.567 garrafas.
(Artigo publicado na edição de Julho de 2024)
Domingos Soares Franco: O Homem sonha, a obra nasce…

Nascido no seio de uma das famílias mais antigas no sector dos vinhos em Portugal, proprietária da José Maria da Fonseca, que produz Moscatel de Setúbal e o famoso vinho Periquita, Domingos Soares Franco viu a sua admissão rejeitada no Instituto Superior de Agronomia na altura conturbada do Verão Quente de 1975, devido ao seu […]
Nascido no seio de uma das famílias mais antigas no sector dos vinhos em Portugal, proprietária da José Maria da Fonseca, que produz Moscatel de Setúbal e o famoso vinho Periquita, Domingos Soares Franco viu a sua admissão rejeitada no Instituto Superior de Agronomia na altura conturbada do Verão Quente de 1975, devido ao seu apelido de família.
Foi para a Califórnia estudar Enologia e Viticultura entre 1976 e 1981, tendo terminado o curso na Universidade de Davis, não muito distante da cidade de São Francisco. Viver nos EUA foi uma verdadeira “life changing experience” tendo-lhe mudado “chip” de maneira irreversível, e, de certo modo, radical até. Todavia, quando regressou a Portugal, o seu curso não foi aceite pela Associação Portuguesa de Enologia e a respectiva equivalência não lhe foi atribuída, por motivos que não interessam agora aqui esmiuçar.
E o que fez Domingos Soares Franco?
Seguiu em frente, traçou o seu caminho, um pouco ao estilo “the American way!” E assim se passaram quatro décadas, quarenta anos (!), a liderar a enologia da empresa José Maria da Fonseca, sempre ladeado pelo seu irmão António, que ficou responsável pela vertente financeira, e assegurando um mais que merecido lugar de destaque na História e Património Vínico Português.Pelo meio fez, tentou fazer, apenas aquilo que um autor espanhol de finais do século XIX, princípios do século XX, explicava, com humor, num dos seus textos…
“–¿Y en el medio?
–¿En el medio? ¡Ese es el cuento!
– Hay que poner talento.”
Pelo meio aplicou, pois, os conhecimentos adquiridos no Novo Mundo a fazer vinho, comprou máquinas, terra, herdades e adegas, teve também alguns sobressaltos, viajou bastante, sempre na busca do seu caminho, e sempre com o objectivo de nunca perder de vista para onde se direccionava o gosto do consumidor. Continuou e ampliou a colecção ampelográfica de castas que o seu tio António Porto Soares Franco havia iniciado nos inícios de 1920, e que seu pai, Fernando Soares Franco, também havia dado continuidade e consistência, sendo este um trabalho de que se orgulha especialmente.
Não há muito que não tenha sido dito e escrito ainda sobre Domingos Soares Franco, tendo sido não há muito tempo distinguido e “Enólogo Vinhos Generosos do Ano” aqui pela nossa Grandes Escolhas, prémio de carácter mais pessoal que o sensibilizou e encheu de orgulho.
Vinhos pessoais, empresa familiar
A José Maria da Fonseca foi fundada em 1834, tendo iniciado em Janeiro de 2024 a celebração do seu 190º Aniversário.
No ano em que comemora 190 anos, decidiu renovar a imagem corporativa com um logótipo e uma nova assinatura, alusiva à data. A José Maria da Fonseca é um dos líderes nas áreas da produção e comercialização de vinhos de mesa e generosos em Portugal, estando as respectivas marcas presentes em mais de 70 países. Ao longo dos anos a demonstrar uma crescente preocupação face aos factores ambientais, a José Maria da Fonseca orgulha-se de utilizar as melhores práticas no tratamento da vinha, na gestão dos recursos naturais, na sua preservação e conservação, tendo sido a primeira empresa certificada no sector vitícola com as normas ambientais ISO 14001. No final de 2021 concluiu, com sucesso, a sua certificação em sustentabilidade segundo o referencial FAIR’N GREEN, sendo o primeiro produtor de vinho português a obtê-la. O seu portefólio engloba mais de sessenta marcas, representativas das principais regiões vitivinícolas nacionais: Península de Setúbal, Alentejo, Douro, Dão e Vinhos Verdes.
Desde a sua génese, esta é uma empresa 100% familiar, sendo a passagem de testemunho já uma realidade, sentindo-se, entretanto, Domingos Soares Franco, muito tranquilo em relação à sétima geração que já vai assumindo as rédeas da empresa.
E foi neste contexto que recentemente fomos recebidos na emblemática Quinta de Camarate, em Azeitão, para a apresentação de um quarteto de novidades da Colecção Privada Domingos Soares Franco – duas estreias com as novas referências DSF Castelão 2015 e DSF Syrah 2021; e duas novas colheitas dos vinhos DSF Moscatel Roxo Rosé 2023 e DSF Verdelho 2023. Esta gama de vinhos reflecte o caráter experimentalista do enólogo Domingos Soares Franco e traduz, na perfeição, a paixão, o espírito criativo e a dedicação que Domingos impõe nas suas criações, para uma experiência autêntica.
Situada em Azeitão, perto de Setúbal, a Quinta de Camarate foi adquirida por António Soares Franco em 1914 e é hoje propriedade de Domingos Soares Franco, tem uma área de 120 ha, 39 dos quais estão plantados com vinhas. A restante parte é utilizada para pasto das ovelhas que dão origem ao famoso queijo de Azeitão. As vinhas são plantadas em solos argilo-calcários a arenosos junto à Serra da Arrábida.
E foi à mesa, sob um emaranhado lindíssimo de plantas, trepadeiras e bagas silvestres que caíam a espaços ao sabor da intensidade das brisas da tarde, que Domingos Soares Franco fez justiça à frase atribuída ao famoso berbere Ibn Battuta, nascido na cidade de Tânger no ano de 1304, que durante os cerca de 30 anos em que viajou, percorreu mais de 120.000 Km pelos lugares mais longínquos e diversos, incluídos num território que hoje abarca 44 países, numa época em que a Terra era um mistério, as distâncias eram longas e viajar era uma aventura: “Viajar – de princípio deixa-te sem fala, depois transforma-te num contador de histórias”…
(Artigo publicado na edição de Julho de 2024)