Bruno Seabra – 25 Anos de Carreira
A celebração dos 25 anos de carreira do enólogo bairradino, Bruno Seabra, decorreu em Oliveira do Bairro, numa sala repleta de amigos, colegas, parceiros e entusiastas pelo trabalho que desenvolveu. A apresentação fez-se “em casa”, no Quartel das Artes do concelho de onde é natural, transformado em sala de espetáculos dedicada, naquele dia, à arte […]
A celebração dos 25 anos de carreira do enólogo bairradino, Bruno Seabra, decorreu em Oliveira do Bairro, numa sala repleta de amigos, colegas, parceiros e entusiastas pelo trabalho que desenvolveu. A apresentação fez-se “em casa”, no Quartel das Artes do concelho de onde é natural, transformado em sala de espetáculos dedicada, naquele dia, à arte onde é, actualmente, um dos maiores entre nós, a criação de espumantes elaborados pelo método clássico.
Há 25 anos, recém-licenciado, Bruno Seabra iniciou-se na criação de espumantes na Beira Interior, em Figueira de Castelo Rodrigo, onde começou por tomar o pulso às castas locais em viagem de curta duração. Volvidos seis meses, regressou à região das suas raízes, para trabalhar nas Caves Borlido. Em pouco tempo, desenvolveu e aumentou exponencialmente a produção da empresa que, das 20 mil garrafas, rapidamente subiu para 500 mil. O seu dinamismo chamou a atenção de Alberto Henriques, administrador das Caves da Montanha, cujo maior desejo era reerguer a empresa da sua avó. Encontrou, em Bruno Seabra, o talento e dinamismo para o ajudar nesse intento e foi isso que aconteceu. Vinte anos depois de o enólogo ter começado a trabalhar na empresa, as Caves da Montanha tornaram-se no líder incontestado da produção de espumante na Bairrada.
E, por falar em espumante, a efeméride só podia ficar marcada com o lançamento de uma referência distinta e cheia de personalidade, o Montanha Real 2010. Com mais de 150 meses de estágio sobre borras finas, é um late release apresentado para comemorar o 25º Aniversário da carreira do enólogo, oito meses após o seu dégorgement. Bruno Seabra salienta que quis, com esta referência, apresentar um espumante que o personificasse, sobretudo a sua irreverência criativa. É um vinho comemorativo elaborado com Chardonnay, que lhe confere a estrutura e elegância, e Baga que lhe acrescenta a vibração e frescura naturais da região.
Caves da Montanha: A arte de bem empreender
As Caves da Montanha são, hoje, o maior produtor da Bairrada e um dos maiores nacionais de espumante, com cerca de 10 milhões de euros de facturação anual. Para Alberto Henriques, o seu proprietário e administrador, só falta agora à sua empresa se tornar numa casa de referência de espumantes na mente dos portugueses. “Seguramente […]
As Caves da Montanha são, hoje, o maior produtor da Bairrada e um dos maiores nacionais de espumante, com cerca de 10 milhões de euros de facturação anual. Para Alberto Henriques, o seu proprietário e administrador, só falta agora à sua empresa se tornar numa casa de referência de espumantes na mente dos portugueses. “Seguramente que só precisamos desse reconhecimento”, afirma, salientando que apenas outra empresa nacional consegue oferecer, ao mercado, uma variedade tão grande de espumantes, com um leque tão abrangente de anos de estágio, algo que levou mais de 20 anos a construir. “E nós fazemos lotes de dezenas de milhar de garrafas com as mesmas características e qualidade, o que é muito mais difícil”, salienta.
É preciso ser bom
As Caves da Montanha foram fundadas em 1943 por Adriano Henriques, empresário de sucesso no sector industrial da cerâmica, que quis ter uma cave de vinho “porque os outros também tinham”, conta Alberto Henriques, 47 anos, proprietário e administrador das Caves da Montanha, sobre o seu bisavô, acrescentando que ele se apercebeu cedo que não era um grande negócio. Revela, também, que quando este faleceu, o seu avô, Adriano Henriques Júnior, era ainda muito novo e “ficou com aquilo que os outros herdeiros não queriam, como parte do capital das Caves da Montanha e uns pinhais para o lado de Lisboa”. Fez a vida e fortuna como investidor no sector imobiliário, mas manteve sempre as Caves da Montanha, à base de suprimentos. Ou seja, todos os anos metia dinheiro na empresa.
Segundo Alberto Henriques, o seu avô dizia, a propósito, que o que era preciso é que o espumante fosse bom e que, se não se vendesse, bebia-se. “Hoje ainda seguimos essa filosofia”, revela, salientando que após o avô ter morrido, em 1993, a sua avó, Teresa Henriques, continuou a injectar dinheiro na empresa todos os anos. No entanto, não deixou de tentar mudar o seu rumo, fosse através da contratação de uma nova equipa de enologia, que passou a ser chefiada por António Selas (que ainda hoje se mantém como consultor) ou mudando os seus administradores.
Pouco após o ano 2000, na altura em que entrou um novo gestor na empresa, Alberto Henriques começou a trabalhar numa consultora norte-americana, após se ter licenciado em Economia pela Universidade Nova de Lisboa. Mas como sentiu que “não estava a aprender nada”, decidiu começar a trabalhar com o pai na Portax, empresa do sector de componentes de móveis com sede em Oliveira de Frades. “Gostei de trabalhar com ele, porque era fácil e a empresa funcionava bem”, conta, revelando que, a certa altura, começou a trabalhar também nas Caves da Montanha, até que um desentendimento com o gestor da empresa o levou a assumir a sua gestão. Decorria o ano de 2003. “Eu fui criado pela minha avó, e vivia em casa dela, e senti a obrigação de assumir as rédeas das Caves da Montanha”, revela, salientando que foram muitos os problemas que teve de resolver desde o primeiro dia.
“Na primeira semana queriam fechar as caves porque não havia electricidade”, conta como exemplo, referindo também que, “na segunda semana, a responsável da produção foi em peregrinação a Fátima a pé e morreu atropelada” e que parte da equipa da altura “tinha entrado na empresa por cunhas”, ou seja, por diversas influências que não o mérito profissional.
O trabalho de toda a equipa das Caves da Montanha tem sido essencial ao sucesso da empresa
Trabalho em equipa
Entretanto foi contratando uma nova equipa para a gestão do dia a dia da empresa, incluindo o actual director de Enologia e de Qualidade, Bruno Seabra, e João Moreira, o gestor de Operações e de Exportação, entre outros, “equipa que se manteve até aos dias de hoje”. E apesar das vicissitudes iniciais, Alberto Henriques foi recuperando a pouco e pouco a sua empresa, que dois anos depois já estava a dar lucros. Mas salienta que nunca esteve só nesse caminho, porque o apoio da avó Teresa foi essencial nos primeiros anos, e o de toda a equipa, “que abdicou, muitas vezes da sua vida pessoal em prol da empresa”, desde o primeiro dia até hoje. “São pessoas que passam cá ao fim de semana para consertar isto e aquilo, a fazer facturas para as encomendas saírem mais cedo ou remuages”, explica.
Algumas pessoas foram-se reformando, depois de trabalharem na empresa a vida toda, que foi fazendo o seu caminho tentando “vender bons produtos a preços competitivos”, e mantendo um controlo de custos “muito apertado”, que contribuiu para a sua saúde financeira actual. “Nós trabalhamos por paixão, e não por dinheiro”, salienta Alberto Henriques, acrescentando que os acionistas não retiram dividendos da empresa. Pessoalmente, andou, no início do seu caminho nas Caves da Montanha, a vender vinhos nos restaurantes de Faro a Monção e apostou também na distribuição.
Ainda se lembra que telefonou 35 vezes para o comprador do Feira Nova, cadeia do Grupo Jerónimo Martins, na altura, até ele o ter atendido, e que teve de esperar bastante tempo que o responsável da Sonae dessa área descesse do quarto de hotel, antes de uma feira do sector, para lhe vender os primeiros vinhos. Foi preciso muito empenho e perseverança, numa “luta dura” com muitas dificuldades. Mas “hoje as coisas são mais fáceis”, revela Alberto Henriques, explicando que a empresa já é conhecida “e oferece produtos que poucos ou nenhum dos concorrentes tem e as portas abrem-se mais facilmente”.
Hoje, para além das suas, as Caves da Montanha fazem as marcas de espumante do Pingo Doce, Lidl, Sonae, Auchan, E-Leclerc, Makro e Minipreço. Desde o início que começaram a sentir o mercado, as tendências dos consumidores, e adaptar os produtos ao tipo de procura. “Essa foi a nossa estratégia, muito apoiada nos nossos clientes”, revela o gestor.
As Caves da Montanha produzem lotes de dezenas de milhar de garrafas com as mesmas características e qualidade
10 milhões de euros
Hoje as Caves da Montanha facturam mais de 10 milhões de euros. Já passaram mais de 20 anos desde que Alberto Henriques assumiu a sua gestão. Das cerca de 150 mil garrafas de espumantes comercializadas na altura em que chegou, passou para as actuais 2,5 milhões, numa empresa que também vende vinhos tranquilos de várias regiões nacionais, para além de licores e destilados, que comercializa em Portugal e na exportação, para países como o Brasil ou Canadá, Japão ou do norte da Europa.
Mas vender espumantes para os mercados externos não tem sido trabalho fácil, segundo o gestor, “porque não temos preços para combater os espumosos e porque também não existe um nome que distinga os nossos de todos os outros, como acontece com as cavas, os prossecos ou o champanhe”. O gestor defende que o espumante produzido em Portugal, pelo método clássico, ou champanhês, deveria ter um nome que o diferenciasse. “É um país pequeno, com quatro produtores com volume e deveria ter um nome diferente para ajudar a promover as exportações”, explica, contando que já houve tentativas nesse sentido, e que até havia concordância entre as casas maiores, mas “os trâmites burocráticos” dificultaram o processo.
Recentemente, as Caves da Montanha lançaram um espumante para comemorar os 80 anos de uma empresa que é, hoje, gerida pela quarta geração da família Henriques, e um vinho de celebração da filha de Alberto Henriques, ainda bebé. O primeiro “é um vinho que também pretende demonstrar que, na empresa, nós somos uma equipa que está bem, entende-se bem e rema toda para o mesmo lado, uma família”. O segundo “é a celebração da chegada da quinta geração da família ligada às Caves da Montanha, que ajudará à sua ligação com o futuro da empresa” diz ainda Alberto Henriques.
À procura do espumante perfeito
Nas Caves da Montanha tudo nasce nas vinhas. “Para fazer espumante é preciso direcioná-las para a sua produção, que é completamente diferente da de vinhos tranquilos”, explica Bruno Seabra, director de Enologia e Qualidade das Caves da Montanha. Na adega, as uvas têm, assim, de chegar com as características certas para serem prensadas de forma a separar o mosto de lágrima, que se destina às gamas mais altas, do de prensa, que vai para o resto das gamas.
Durante a fermentação, Bruno Seabra gosta de provar de dois em dois dias, para verificar como o processo está a decorrer, “porque só conseguimos fazer grandes vinhos se soubermos actuar nos seus processos chave”. Depois são escolhidas as bases para cada tipo de produto: Montanha Real, Cá da Bairrada, etc., seguindo-se a sua colagem, processo feito com o adjuvante do Instituto Enológico de Champanhe, selecionado após um estudo comparativo realizado pelo enólogo, “pela limpidez que origina e rapidez do processo”.
Conforme as suas características, as bases são depois analisadas e o seu processamento é orientado tendo em conta o tempo de estágio previsto para os espumantes que originam. “A acidez é essencial na sua produção, mas os lotes têm de ter também em conta objectivos como a longevidade, volume e complexidade”, explica Bruno Seabra. Os vinhos com mais fruta e frescura dão melhor resultados para a produção de espumantes mais novos, onde isso é importante. Nestes é preciso que a bolha não rebente tão facilmente, “que não seja agressiva e bruta”. Por isso são espumantes onde o licor de expedição leva menos açúcar, que têm uma bolha mais fina também por causa das fermentações serem mais lentas nas caves, onde decorrem a uma temperatura de 16/17ºC.
Durante o estágio, os espumantes vão sendo provados para se perceber qual aa sua evolução. “Começo a fazer isso a partir dos seis meses, para perceber qual o caminho a traçar e decidir o licor de expedição, que é importantíssimo na finalização do espumante, sobretudo para definir a sua identidade, pois temos várias marcas e uma gama alargada, que têm de ter, cada uma, as suas características”, explica Bruno Seabra. “Não basta pôr vinho base, um pouco de sulfuroso e goma”, salienta, acrescentando que “é necessário criar outro tipo de sensações, que só podem ser acrescentadas através do licor de expedição”. Depois, é preciso algum tempo de estágio em garrafa, essencial para que o efeito do licor de expedição se se sinta no espumante, “que só actua realmente dois a quatro meses depois”. Para os mais evoluídos, “quanto mais tempo melhor”, defende o enólogo, garantindo ainda que “as características da fermentação, do estágio sobre borras e do licor de expedição são beneficiados no estágio após o dégorgement”.
(Artigo publicado na edição de Novembro de 2024)
Concurso de Vinhos e Espumantes Bairrada elege espumante Cá da Bairrada branco 2010 como grande vencedor
A Comissão Vitivinícola da Bairrada (CVB) organizou o Concurso de Vinhos e Espumantes Bairrada depois de um ano de interregno, em 2020, e de em 2021 ter dedicado esta competição apenas a espumantes. A edição de 2022 realizou-se na segunda-feira, dia 5 de Dezembro, com revelação e entrega de prémios dois dias depois, no Aliança […]
A Comissão Vitivinícola da Bairrada (CVB) organizou o Concurso de Vinhos e Espumantes Bairrada depois de um ano de interregno, em 2020, e de em 2021 ter dedicado esta competição apenas a espumantes. A edição de 2022 realizou-se na segunda-feira, dia 5 de Dezembro, com revelação e entrega de prémios dois dias depois, no Aliança Underground Museum, em Anadia.
O espumante Cá da Bairrada Bruto branco 2010, das Caves da Montanha, foi o grande vencedor deste concurso, tendo sido o mais bem pontuado entre as 90 amostras provadas por uma dúzia de jurados, sobretudo sommeliers e enólogos. A CVB distinguiu, ainda, os melhores vinhos em cinco categorias: espumante, espumante Baga Bairrada, vinho branco, vinho tinto e vinho da sub-região Terras de Sicó.
O espumante Cá da Bairrada Bruto branco 2010 arrecadou, naturalmente, também o prémio de melhor espumante. Já a Messias ganhou nos vinhos brancos com o seu Bairrada Clássico de 2017. Nos tintos, o melhor foi o São Domingos Grande Reserva 2017, das Caves São Domingos. De regresso aos espumantes, o melhor espumante Baga Bairrada foi o Primavera Baga Bairrada Grande Reserva Extra Bruto branco 2017, das Caves Primavera.
Este ano, a CVB decidiu ainda distinguir o melhor vinho da sub-região Terras de Sicó, galardão que foi para o Baforeira Reserva tinto 2020, de Maria Teresa Proença Simões da Silva Resende. Segundo a organização, esta foi uma forma de reconhecer a acentuada qualidade dos vinhos produzidos nesta sub-região com certificação Indicação Geográfica Protegida Beira Atlântico (Regional Beira Atlântico).
No que toca a medalhas de Ouro, foram atribuídas 27: 15 para espumantes, 4 para vinhos brancos e oito para tintos.
Na edição de 2022, o Concurso de Vinhos e Espumantes Bairrada reuniu 90 amostras — todas DO Bairrada ou IG Beira Atlântico — 46 de vinhos tranquilos e 44 de espumantes. Para as avaliar, estiveram presentes 9 sommeliers, numa parceria com a Associação Escanções de Portugal, e três enólogos da região. A chefiar o Concurso, esteve, mais uma vez, Luís Ramos Lopes, director da revista Grandes Escolhas e conceituado jornalista e crítico de vinhos com mais de 30 anos de experiência no sector.
Concurso de Vinhos e Espumantes Bairrada 2022
O GRANDE VENCEDOR
Cá da Bairrada Espumante Bruto branco 2010
OS MELHORES (por categoria)
Espumante
Cá da Bairrada Espumante Bruto branco 2010
Espumante Baga Bairrada
Primavera Espumante Baga Bairrada Grande Reserva Extra Bruto branco 2017
Vinho Branco
Messias Bairrada Clássico branco 2017
Vinho Tinto
São Domingos Grande Reserva tinto 2017
Vinho da Sub-Região Terras de Sicó
Baforeira Reserva tinto 2020
MEDALHAS DE OURO
Espumantes (15)
Marquês de Marialva Espumante Cuvée Primitivo Bruto Natural branco 2014
Quinta da Laboeira Espumante Reserva Bruto Natural branco 2019 (Baga)
Aliança Espumante Grande Reserva Bruto branco 2017
Grande Aplauso Espumante Bruto Natural branco 2015
Casa do Canto Espumante Grande Reserva Bruto branco 2016
Casa de Sarmento Espumante Bruto branco 2020
Montanha Real Espumante Grande Reserva Bruto branco 2015
Cá da Bairrada Espumante Bruto branco 2010
UNUM Espumante Super Reserva Bruto Natural branco 2011
Luiz Costa Espumante Pinot Noir Chardonnay Bruto Natural branco 2016
Quinta do Poço do Lobo Espumante Baga Pinot Noir Bruto Natural rosé 2017
Borga Espumante Bruto branco 2007
Monte Formigão Espumante Reserva Bruto branco 2019
Quinta da Lagoa Velha Espumante Touriga Nacional Bruto rosé 2019
Quinta dos Abibes Espumante Arinto & Baga Reserva Extra Bruto branco 2020
Vinhos Brancos (4)
António Marinha Legado Grande Reserva branco 2021
Encosta da Criveira Reserva Especial branco 2021
Prior Lucas Habemus.W branco 2020
Messias Bairrada Clássico branco 2017
Vinhos Tintos (8)
António Marinha Grande Reserva tinto 2015
Quinta D´Aguieira tinto 2017
Casa de Sarmento Baga tinto 2018
São Domingos Grande Reserva tinto 2017
Rabarrabos tinto 2020
Diga? tinto 2008
Baforeira Reserva tinto 2020
Trabuca Bairrada Clássico Baga tinto 2017