Ramos Pinto: Celebrar o passado na vinha da Urtiga

Ramos Pinto Urtiga

A vinha tem mais de 100 anos e está incluída na quinta do Bom Retiro. Foi Adriano Ramos Pinto que a adquiriu em 1933. Frágil mas resistente, a vinha exige, de todos, os cuidados máximos para que a intervenção seja mínima. Uma carga de trabalhos que só a ideia, militante diríamos nós, da conservação do […]

A vinha tem mais de 100 anos e está incluída na quinta do Bom Retiro. Foi Adriano Ramos Pinto que a adquiriu em 1933. Frágil mas resistente, a vinha exige, de todos, os cuidados máximos para que a intervenção seja mínima. Uma carga de trabalhos que só a ideia, militante diríamos nós, da conservação do património, aliada à excelência vínica, pode justificar.

Texto: João Paulo Martins  Fotos: Ramos Pinto

O Verão corria seco mas quando visitámos a vinha da Urtiga o céu resolveu dar um ar da sua graça e brindou-nos com chuva. Da boa e da necessária, embora, como se imagina, já tardia para o que se podia esperar da vindima. Foi ali, mesmo no meio da vinha da Urtiga – parcela que integra a quinta do Bom Retiro – que iniciámos a conversa com a equipa da Ramos Pinto. Para o efeito a empresa deslocou para o centro da vinha da Urtiga uma mesa e uns copos para que o vinho fosse apreciado em seu sitio. A ideia era boa mas não previa a chuva e lá teve de vir uma emissária com chapéus de chuva para que tudo corresse bem. O que ali se passou foi um verdadeiro encontro civilizacional. As cepas, ali à nossa beira, respiravam ainda saúde apesar de serem maioritariamente centenárias; para as interpretar, conhecer, reconhecer e preservar havia ali um tablet onde tudo estava registado, a começar pela geo-localização de cada pé de vinha e as informações adicionais que se revelam da maior importância para a equipa de cuidadores daquela parcela. Que casta é, que vigor tem, quantos cachos produz, em que estádio fenológico se encontra ou a resistência à secura e à seca. Esta tarefa é igual para cada um dos 12 500 pés de vinha que ocupam os 3,4 ha da Urtiga. Temos então patamares com 200 anos, cepas com 100 e tecnologia do séc. XXI que, num futuro próximo, irá também incluir drones de alguma dimensão que farão transporte (caixas de até 40 kg) entre a vinha e a adega.

Bem perto da vinha encontra-se uma mata de medronheiros, reconhecida hoje como a última mancha original das matas de medronheiros que outrora povoavam grandes áreas do Douro. Ali ninguém toca, ali não está previsto plantar nada; apenas numa zona que, entretanto, tinha ficado a descoberto, foram plantadados mais 0,5 ha em velhos patamares pré-filoxéricos, idênticos aqueles onde estivemos sentados a ouvir as histórias da Urtiga. Para quem não está familiarizado com o conceito, os patamares pré-filoxéricos são muito baixos e apresentam-se agora com uma grande “desorganização”, bem diferentes dos muros dos terraços feitos após a filoxera, com os da Quinta do Noval, bem visíveis para quem passa na estrada.
Carlos Peixoto trata das vinhas e, como nos confessou, “adoro este trabalho, já ando cá há 44 anos e não me vejo a fazer outra coisa; ainda me consigo entusiasmar com cada vindima, cada poda, cada nova plantação. Este trabalho que estamos a fazer na Urtiga é notável, é uma revolução que traz para a vinha todos os novos conhecimentos de informática.” A Urtiga, confessa, não estava abandonada mas estava esquecida; “não era colhida quando devia, não tínhamos noção do que aqui havia; foi a partir de 2015 e 2016 que começámos a olhar para esta parcela com olhos de ver”. Jorge Rosas, actual CEO da Ramos Pinto lembra-nos que “em tempos a empresa já teve um Vinho do Porto com o nome Urtiga e que esta vinha era, como todas as vinhas velhas do Douro, usada para fazer vinho para Porto. As castas eram muitas e contámos 63. No entanto a Tinta Amarela é a mais representada e há 7 variedades que, juntas, representam 90% dos encepamentos. Às restantes, chamamos hoje, o sal e pimenta”. Das variedades, muitas delas com nomes estranhos, é sempre possível descobrir mais algumas que nunca tínhamos ouvido falar, como São Saul, Carrega Branco, Tinta Aguiar e Caramela. Ficámos também a saber que “a Tinta Amarela é por norma a casta mais representada nestas vinhas muito velhas”, diz-nos Peixoto.

Nos tratamentos da vinha estão a ser usados preparados biodinâmicos que são importados de França. Conta Jorge Rosas, “é um modelo que queremos aprofundar, mas sem preocupação de certificação. O caos burocrático que a certificação obriga leva-nos a fazer escolhas: queremos e acreditamos nas práticas mas não nos impomos a certificação e não alinhamos em fundamentalismos. O que é que adianta a vinha ser bio se depois não temos uvas?”, comentou. Uma equipa pequena muito dedicada a esta vinha e muitos cuidados na prevenção das doenças ajudam a que, de uma vinha tão pouco produtiva, saia um tinto que se coloca de imediato no patamar mais alto dos vinhos da empresa. Sobre o tema, Jorge Rosas, secundado por Ana Rato, responsável comercial comentam: “é verdade que colocamos o vinho num patamar muito alto de ambição e preço mas é também porque queremos, exactamente, que ele seja entendido como vinho muito especial que é. Temos mais de 100 mercados para onde vendemos vinho e este será por alocação. Não vai ser nada difícil colocar o vinho, até já houve importadores que nos disseram que podíamos enviar a quantidade que quiséssemos e que o preço não seria problema.”
Na véspera da vindima a equipa faz uma passagem na vinha e retira logo tudo o que não estiver em condições de ser vindimado. No dia seguinte vindima-se, faz-se nova selecção à entrada da adega onde os trabalhos são coordenados pelo enólogo João Luis Baptista. Após desengace, as uvas vão para o lagar para o primeiro corte (lagar com pisa a pé) e depois a manta vai sendo movimentada até ao momento da prensagem. De seguida é conduzido para tonéis de pequenas dimensões e 10% do vinho vai para barricas novas e por lá fica durante 16 meses. É nesta altura que se decide se o vinho tem a qualidade pretendida para ser Urtiga. Caso se entenda que não tem, entrará noutros lotes. O estágio prolonga-se por dois anos depois do engarrafamento. Resultaram, nesta primeira edição, 3100 garrafas, disponibilizadas em caixa individual.

Não foram encontrados produtos correspondentes à sua pesquisa.

Ramos Pinto lança novo site, que é uma autêntica experiência

O novo site da Ramos Pinto acaba de ir para o ar, e o que não falta são novos e enriquecedores conteúdos sobre a marca. Com o objectivo de “aproximar o consumidor à Ramos Pinto”, como se pode ler no comunicado, esta plataforma conta com uma nova arquitectura de materiais, com mais informação sobre vinhos, […]

O novo site da Ramos Pinto acaba de ir para o ar, e o que não falta são novos e enriquecedores conteúdos sobre a marca.

Com o objectivo de “aproximar o consumidor à Ramos Pinto”, como se pode ler no comunicado, esta plataforma conta com uma nova arquitectura de materiais, com mais informação sobre vinhos, história, origem e filosofia da empresa, e também com conteúdos multimédia e áreas dedicadas ao enoturismo e eventos.

Outra das novidades é a possibilidade de se marcar, através do site, uma visita no Museu de Sítio de Ervamoira, no Centro de Visitas Ramos Pinto e no Museu Casa Adriano Ramos Pinto.

Ramos Pinto lança o seu Late Bottled Vintage 2015

Proveniente da Quinta de Ervamoira e da Quinta do Bom Retiro, o Ramos Pinto Late Bottled Vintage 2015 acaba de sair para o mercado, depois de estagiar em balseiros de 15 mil litros, em Vila Nova de Gaia.  “As uvas provenientes das nossas Quintas de Ervamoira e do Bom Retiro são vindimadas manualmente e pisadas […]

Proveniente da Quinta de Ervamoira e da Quinta do Bom Retiro, o Ramos Pinto Late Bottled Vintage 2015 acaba de sair para o mercado, depois de estagiar em balseiros de 15 mil litros, em Vila Nova de Gaia. 

“As uvas provenientes das nossas Quintas de Ervamoira e do Bom Retiro são vindimadas manualmente e pisadas a pé em lagar. A fermentação dura entre 3 a 5 dias, produzindo um vinho com excelente extracto e concentração. O blend do LBV 2015 foi feito em Maio de 2019 e o enchimento em Outubro do mesmo ano”, explica a Ramos Pinto em comunicado.

Ana Rosas, Master Blender da Ramos Pinto, refere que este LBV 2015 “revela boa concentração de cor, um ruby vivo, opaco e muito denso com aromas frescos de morango, framboesa e cereja vermelha bem combinados com notas de lavanda e apontamentos de cravinho”.

O Ramos Pinto LBV 2015 tem um p.v.p. de €19,90.

Ramos Pinto anuncia Quinta do Bom Retiro Vintage 2018

A Ramos Pinto, clássica empresa do Douro e Porto que tem Ana Rosas como Master Blender, acaba de anunciar o lançamento do vinho do Porto Vintage 2018 da Quinta do Bom Retiro. Em comunicado de imprensa, a Ramos Pinto descreve o ano vitícola de 2018, nesta mesma quinta: “(…) o Inverno de 2018 foi frio, […]

A Ramos Pinto, clássica empresa do Douro e Porto que tem Ana Rosas como Master Blender, acaba de anunciar o lançamento do vinho do Porto Vintage 2018 da Quinta do Bom Retiro.

Em comunicado de imprensa, a Ramos Pinto descreve o ano vitícola de 2018, nesta mesma quinta: “(…) o Inverno de 2018 foi frio, seco e registou baixos níveis de precipitação. Com o início da Primavera, surgiram finalmente chuvas intensas e abundantes, acompanhadas de temperaturas frescas, que não só atrasaram a vindima, como dificultaram os trabalhos na vinha. (…) Agosto e Setembro, os dois meses cruciais para maturação das uvas, foram extremamente secos e quentes, permitindo atingir o estado desejado para a colheita”.

Assim, Ana Rosas declara que “2018 foi um dos anos mais desafiantes a nível vitícola, mas resultou em vinhos de uma pureza e fruta excepcional!”.

Ramos Pinto: a vinha na ponta dos dedos

Carlos Peixoto com Alberto Baptista

(na foto,  Carlos Peixoto com Alberto Baptista, da viticultura da Ramos Pinto) Director de viticultura na Ramos Pinto desde 1982, Carlos Peixoto conhece o Douro como poucos. Nesta região emblemática, os desafios colocados a quem trata da vinha são muitos e diversos, e nem todos têm a ver com o solo, as plantas ou o […]

(na foto,  Carlos Peixoto com Alberto Baptista, da viticultura da Ramos Pinto)

Director de viticultura na Ramos Pinto desde 1982, Carlos Peixoto conhece o Douro como poucos. Nesta região emblemática, os desafios colocados a quem trata da vinha são muitos e diversos, e nem todos têm a ver com o solo, as plantas ou o clima: a economia ou as relações laborais são igualmente importantes. Na empresa, que aboliu os herbicidas em 2010, o objectivo está fixado à partida: obter a cada ano que passa uvas mais equilibradas, mais sãs e que expressem melhor o terroir onde nasceram.

TEXTO E FOTOS Luís Lopes

A Ramos Pinto possui três quintas na região do Douro. A Quinta do Bom Retiro situada na sub-região de Cima Corgo possui 45 hectares de vinha. As castas predominantes são a Touriga Nacional, a Touriga Franca e vinhas antigas com mistura de variedades. As exposições e altitudes variam entre os 90 e os 420 metros.

A Quinta dos Bons Ares, com uma área plantada de 25 hectares, está situada a 600 metros de altitude, no Douro Superior, e as suas uvas estão orientadas para a produção de DOC Douro e Regional Duriense. Os solos são de origem granítica e com texturas arenosas. Predominam as castas brancas, como o Rabigato, Viosinho e algum Sauvignon Blanc. Nos tintos, a Touriga Nacional, a Touriga Franca e Cabernet Sauvignon.

A emblemática Quinta de Ervamoira tem uma área plantada de 150 hectares, com altitudes que variam entre os 130 e os 350 metros. Em solos francos e franco-arenosos estão 20 hectares de uvas brancas com predomínio do Rabigato, Viosinho e Arinto. As uvas tintas, largamente maioritárias, incluem sobretudo Touriga Nacional, alguma Touriga Franca e, em menor percentagem, Tinta Barroca, Tinta Roriz, Tinta da Barca e Tinto Cão.

Quando Carlos Peixoto começou a sua actividade na Ramos Pinto, ainda como estagiário, em 1979, a empresa era proprietária de 65 ha de vinha, dos quais 30 em Ervamoira e 35 no Bom Retiro. Foi entre 1979 e 1981 que colaborou no fundamental estudo das castas do Douro, orientado por José António Rosas e João Nicolau de Almeida, e que resultou na produção de vasta informação vitícola e enológica de 10 variedades durienses. Em 1985, a Ramos Pinto adquiriu a Quinta dos Bons Ares que foi integralmente replantada. Actualmente, a empresa possui 220 hectares de área útil de vinha, distribuídos pelas três quintas. Mais de 150 hectares foram já instalados sob a responsabilidade de Carlos Peixoto, director de viticultura desde 1982.

O “homem da vinha”, na Ramos Pinto, na realidade, não sabe só de vinha. Com o tempo, Carlos Peixoto apercebeu-se que a viticultura duriense não pode ser entendida sem se conhecer a realidade social, económica e laboral da região. Talvez por isso, depois de se graduar em engenharia agrícola, na UTAD, e viticultura e enologia, em Charles Sturt (Austrália), Carlos Peixoto resolveu fazer a licenciatura em direito, no Porto, estando neste momento a finalizar o mestrado na mesma área, com uma tese de dissertação intitulada “O contrato de trabalho intermitente” que está directamente ligada às questões do trabalho e da escassez de mão de obra agrícola. O futuro da vinha, no Douro e noutras regiões, não está apenas ligado às condicionantes do terroir. Variáveis como as alterações climáticas estão já há algum tempo na mente dos produtores. Mais recentemente, a falta de mão de obra tem sido preocupação acrescida.

Vinha plantada na Ramos Pinto

A vinha da Urtiga

Mas é sobretudo na vinha que Carlos Peixoto se sente “em casa”. E entre as muitas vinhas e parcelas espalhadas pelas quintas da Ramos Pinto, a vinha da Urtiga, na Quinta do Bom Retiro, merece-lhe especial atenção e, diria mesmo, respeito. Há óbvias razões para isso, é uma vinha impressionante. A Urtiga está instalada em terraços pré-filoxéricos construídos há mais de 200 anos. A idade média da vinha é superior a 100 anos, com as normais replantações devido às videiras que vão morrendo. No total, são 3,4 hectares com 12.500 cepas.

Se o estudo pioneiro de José Rosas e João Nicolau de Almeida visava incentivar o Douro a focar-se em meia dúzia de variedades emblemáticas, criando massa crítica, duas décadas e meia depois, num contexto temporal diferente, a preocupação foi no sentido oposto: identificar e preservar as variedades diferenciadoras. A Urtiga era perfeita para isso e, em 2008, a equipa de viticultura da Ramos Pinto identificou ali 32 variedades. Mais tarde, e com o advento da geolocalização, ajudou a desenvolver com a empresa Geodouro uma aplicação auxiliada por GPS (chamada Gestão de Plantas) que localiza e monitoriza cada uma das cepas. Com esta aplicação é possível controlar os estados fenológicos, o número de cachos, o peso das varas, a resistência à secura, à podridão, ao calor.

Actualmente, existem da vinha da Urtiga 55 variedades, mas a empresa espera atingir em 2020 um total de 63, pretendendo fazer desta parcela mais do que centenária uma reserva genética de variedades pouco divulgadas. Assim, para além das clássicas Tinta Amarela, Touriga Franca, Tinta Roriz e Tinta Barroca (que, no conjunto, representam 46% do total), encontramos ali Malvasia Preta, Rufete, Touriga Nacional, Baga, Barreto, Alicante-Bouschet, Bastardo, Casculho, Cornifesto, Donzelinho, Jaen, Mourisco da Semente, Nevoeira, Patorra, Sarigo, Tinta Aguiar, Tinta Carvalha, Tinta Fontes, Tinta Mesquita, Touriga Fêmea, Valdosa, entre outras. Nota-se a predominância da Tinta Amarela e a relativa insignificância da Touriga Nacional como acontece em muitas vinhas antigas. A parcela encontra-se entre os 320 e os 370 metros de altitude e está em modo de produção biológico, ao qual se adicionam desde 2017, algumas práticas biodinâmicas. Os vinhos aqui nascidos destacam-se pela sua qualidade e personalidade, podendo vir a dar origem, num futuro próximo, a um engarrafamento em separado.

O efeito do solo e dos nutrientes

Para Carlos Peixoto, o solo determina muito do que se pode e deve fazer na vinha, e o seu estudo é essencial para obter uma uniformização de produção, de vigor e sobretudo de melhoria qualitativa pela correção de desequilíbrios. A partir de 2008, a Ramos Pinto desenvolveu estudos bastante detalhados sobre a textura, estrutura, nutrição e economia de água dos solos das suas múltiplas parcelas. Os resultados foram muito importantes para entender a distribuição das raízes, a existência de impermes, a capacidade de infiltração e retenção de água, bem como a distribuição dos nutrientes. Em 2014 a empresa iniciou um ciclo de aplicação de matéria orgânica em doses elevadas e prescindiu quase totalmente dos adubos minerais. Hoje em dia, 99% dos nutrientes que alimentam as videiras espalhadas pelas três quintas da empresa são provenientes de matéria orgânica. Segundo Carlos Peixoto “os resultados desta aplicação têm sido muito bons, proporcionando um vigor equilibrado e um aumento moderado, mas qualitativo, das produções, assim como um efeito extraordinário na resistência das videiras à seca”. Mas ressalva: “Claro que nunca podemos atribuir determinado efeito a uma só causa. Penso que a melhoria da estrutura, da capacidade de infiltração e de retenção de água no solo, tem aqui um papel determinante”.

Vinha na Ramos Pinto

Herbicida Zero

Nas vinhas da Ramos Pinto, desde 2010 que não há herbicidas. “Na nossa opinião os herbicidas já tiveram a sua época”, diz Carlos Peixoto. E está à vontade (e com conhecimento de causa) para o dizer, porque em 1983 a Ramos Pinto foi uma das empresas pioneiras na introdução do herbicida no Douro. Os tempos, porém, eram outros. O agrónomo explica: “A introdução de herbicida constituiu uma grande mudança quer estrutural quer económica. É preciso perceber o cenário que antecedeu essa época: a viticultura era sustentada por salários baixos e péssimas condições de trabalho, não se pagava férias, subsídios de férias e de natal, e não havia trabalhadores permanentes. Com a fuga de mão-de-obra para as cidades assistiu-se a uma subida rápida dos salários. No início dos anos 80, a introdução de herbicidas no Douro foi, para além de uma solução, uma verdadeira revolução silenciosa. Existiam muitas matérias activas e todas eram eficazes desde que a aplicação fosse correcta”.

Mas os tempos mudaram, mais uma vez. Actualmente, os herbicidas têm todos os constrangimentos ambientais que se conhecem e deixaram de ser eficazes devido às resistências que geraram nas infestantes. Com uma agravante, diz Carlos Peixoto: “Nota-se igualmente um grande desinvestimento das empresas fitofarmacêuticas na procura de novas moléculas menos ofensivas do ambiente e mais eficazes no controlo das infestantes”.

Assim, após muita reflexão e discussão, a viticultura e a administração da Ramos Pinto entenderam em 2010 que o caminho mais adequado seria não aplicar herbicidas. Com os desafios estruturais inerentes, porventura ainda mais difíceis que os encontrados em 1983. É que não aplicar herbicida significa, entre outras coisas, aumentar o investimento em máquinas e, num quadro de escassez de mão de obra, procurar conciliar o combate aos infestantes com todos os outros trabalhos de vinha que ocorrem na mesma época do ano (de Maio a Julho), desde a espampa aos tratamentos fitossanitários.

Haja ovelhas

“Os dois primeiros anos sem herbicida são muito complicados, sobretudo em propriedades grandes”, confessa Carlos Peixoto. E acrescenta: “O enrelvamento quer natural, quer de sementeira foi para nós uma má experiência, na medida em que gera muita competição pela água e nutrientes originando uma quebra acentuada de vigor nas videiras. Por outro lado, o mulching com casca de pinheiro, palha, não nos parece uma solução adequada devido ao perigo de incêndio, ao vento e aos custos de instalação. E a utilização de roçadeiras mecânicas traz problemas com a mão-de-obra e com os ferimentos nas cepas causados pelo fio de corte”.

Mas existem outras soluções. Com a ajuda do Prof. Nuno Moreira da UTAD, a Ramos Pinto tem feito ensaios com trevos subterrâneos. Esta planta tem a particularidade de cobrir o solo com um rendilhado que impede o desenvolvimento de outras infestantes, é uma leguminosa que fixa o azoto, termina o ciclo por meados de junho e renasce com as primeiras chuvas.

Para evitar a roçadeira mecânica, utilizam-se…ovelhas. Diz Carlos Peixoto: “As ovelhas para além de controlarem as ervas infestantes deixam os dejectos no solo que servem de fertilizante”. E como evitar que as ovelhas comam o que não devem? é a pergunta que se impõe. A resposta surge, desconcertante: “Começámos por utilizar ovelhas anãs e posteriormente participámos no desenvolvimento de uma coleira electrónica que controla a postura das ovelhas e impede o levantamento da cabeça para a videira. Este sistema permite a utilização das ovelhas durante a primavera e verão. O dispositivo foi desenvolvido por um consórcio constituído pela Ramos Pinto, Globaltronic, Instituto de Telecomunicações da Universidade de Aveiro e Escola Agrária de Viseu”. Ovelhas com telecomando, quem diria…

De qualquer modo, abdicar dos herbicidas tem sempre custos adicionais. Carlos Peixoto admite: “Nas vinhas não mecanizadas acarreta um aumento de custos da ordem dos 30%, mas assiste-se a uma tendência de diminuição face a um melhor conhecimento da flora e dos locais. Nas vinhas onde podem entrar máquinas, o trabalho na linha feito com intercepas é eficaz, embora com baixo rendimento. Normalmente uma volta e meia permite um controlo adequado das infestantes. Os custos directos ao fim do 3º ano, não são significativamente diferentes, mas têm amortizações maiores devido ao aumento do parque de máquinas”. Quem pensa que viticultura não é economia, desiluda-se.

 

Muros de suporte da vinha na Ramos Pinto

A viticultura orgânica e a mão de obra

E por falar em economia, que balanço fazer da viticultura biológica/orgânica, que a Ramos Pinto pratica em 25 hectares? “Uma viticultura biológica acarreta sempre um aumento de custos e um acréscimo de riscos”, refere Carlos Peixoto. “No Douro é ainda uma prática residual e não acredito numa evolução muito rápida a não ser que o mercado o exija e esteja preparado para pagar preços mais elevados”, acrescenta.
Na Ramos Pinto, da área de vinha em modo de produção biológico, cerca de 10% (2,5 hectares) estão em produção biodinâmica. A transição da viticultura convencional para a biológica até foi fácil. “Uma vez que terminámos com o herbicida há vários anos, grande parte do caminho está feito. No entanto a nossa opção vai no sentido de ir aumentando as práticas biológicas de uma forma gradual, não pensando para já na venda de um vinho rotulado como biológico”. Mais difícil foi a introdução da biodinâmica: “A biodinâmica é uma prática iniciada há dois anos e exige alguma preparação e aprendizagem. Implica também uma mudança de hábitos e rotinas e, face às condições do Douro, parece-me pouco adequada a grandes áreas. A principal vantagem advirá das mudanças que opera no solo. Estamos a acompanhar essa evolução para tirarmos conclusões”, conclui Carlos Peixoto. Os 90% de área que não estão em biológico/biodinâmico encontram-se naquele que será, talvez, o melhor compromisso entre racionalidade e preocupação ambiental, o modo de produção integrada.

Alterações climáticas e rega

A palavra clima está na ordem do dia e a pergunta não pode ser evitada: na viticultura duriense sente-se uma alteração no padrão climático? E, em caso afirmativo, o que é possível fazer para minimizar os seus efeitos num médio e longo prazo? Carlos Peixoto não foge às respostas: “No Douro, o que se nota mais são os fenómenos extremos e repentinos. Granizos, trovoadas, chuvas abundantes, secas prolongadas, noites tropicais, temperaturas extremas com mudanças bruscas.”

Na Ramos Pinto, procura-se mitigar estes fenómenos com algumas mudanças na cultura da vinha: as aplicações de matéria orgânica têm gerado videiras mais equilibradas no vigor e na nutrição; com a modificação da estrutura do solo, da capacidade de infiltração e de retenção de água, há melhoria assinalável em vinhas que perdiam folhas precocemente; alterações na esponta visam aproveitar a emissão de novos lançamentos para proteger os cachos; fazem-se ensaios na gestão da altura da parede de vegetação; e, finalmente, dá-se mais atenção àquelas castas minoritárias que conciliam qualidade enológica com a capacidade de resistir melhor a estes fenómenos.

E quanto a rega? Carlos Peixoto não tem tabus: “A rega acaba por ser uma falsa questão, uma vez que grande parte da região tem dificuldade no acesso à água. A polémica advém do facto de se entender a rega como um modo de aumentar a produção, quando devia ser encarada como uma maneira de melhorar a qualidade”. Para o viticólogo, “no Douro, a única sub-região em que a presença ou ausência da água é factor limitador, é o Douro Superior. Nas outras sub-regiões, há casos pontuais onde também seria adequada”.

Na Ramos Pinto, só a Quinta de Ervamoira possui instalação de rega. “A irrigação sempre foi encarada por nós como uma ferramenta para melhorar a qualidade, sobretudo o final da maturação”, adianta. “Gastamos mais dinheiro com os métodos que permitem não fazer regas desnecessárias, do que a regar. Recorremos ao balanço hídrico, à medição do stress hídrico, aos tensiómetros de solo, ao termómetro de infravermelhos e a observação visual das plantas”.

E conclui: “As alterações climáticas são sentidas por todo o lado. Não sou dos que pensam que o mundo vai acabar amanhã, mas temos necessariamente de mudar comportamentos e, pelo menos, não aumentar os problemas”.

Edição nº33, Janeiro de 2020

Ramos Pinto também declara Vintage 2017

Ana Rosas, Master Blender da Casa Ramos Pinto (na foto), disse a propósito da vindima de 2017: “após uma vindima vertiginosa, a natureza foi generosa e ofereceu-nos vinhos extraordinários: concentrados, muito aromáticos e frescos”. Jorge Rosas, CEO da Ramos Pinto, acrescenta: “Um ano excepcional – 2017 está sem dúvida ao nível dos nossos melhores vintages”. Esta declaração […]

Ana Rosas, Master Blender da Casa Ramos Pinto (na foto), disse a propósito da vindima de 2017: “após uma vindima vertiginosa, a natureza foi generosa e ofereceu-nos vinhos extraordinários: concentrados, muito aromáticos e frescos”. Jorge Rosas, CEO da Ramos Pinto, acrescenta: “Um ano excepcional – 2017 está sem dúvida ao nível dos nossos melhores vintages”. Esta declaração ocorreu durante o lançamento do Ramos Pinto Vintage 2017 e do Quinta de Ervamoira Vintage 2017, evento que decorreu em Londres. Nesta década esta é a terceira declaração de Vintage. As outras ocorreram em 2011 e 2015. Diga-se de passagem que, historicamente, a Casa Ramos Pinto declara Vintage em média 3 vezes a cada 10 anos.
Diz a Ramos Pinto que, “na região do Douro, o ano vitícola 2016-2017 foi bastante seco e todo o ciclo vegetativo da vinha foi muito precoce. Durante a vindima, uma das mais prematuras da história da Casa, as uvas apresentaram-se no seu melhor ponto de maturação e equilíbrio, realçando-se ainda os baixos rendimentos obtidos”. Sendo assim, comunica a casa, “o perfil da colheita 2017 é maduro, rico e perfumado”.
A Ramos Pinto produziu 9.000 garrafas de Vintage 2017 e 9.000 garrafas de Quinta de Ervamoira Vintage 2017. A exiguidade desta tiragem tem a ver com “uma selecção criteriosa das melhores parcelas, com o intuito de atingir uma qualidade excepcional”.

Ramos Pinto não declara Vintage 2016

“O ano de 2016 caracterizou-se por uma série de eventos climáticos que afectaram gravemente o bom desenvolvimento das vinhas da Quinta de Ervamoira. Foram registados dois episódios de trovoada e granizo no mês de Julho, que contribuíram substancialmente para a decisão” de a Ramos Pinto optar por não declarar Porto Vintage da Casa. As aspas […]

“O ano de 2016 caracterizou-se por uma série de eventos climáticos que afectaram gravemente o bom desenvolvimento das vinhas da Quinta de Ervamoira. Foram registados dois episódios de trovoada e granizo no mês de Julho, que contribuíram substancialmente para a decisão” de a Ramos Pinto optar por não declarar Porto Vintage da Casa. As aspas indicam a justificação da empresa duriense em comunicado de imprensa, que acrescenta: a Ramos Pinto “apenas declara em anos nos quais os vinhos revelam ser de excepcional qualidade. Os critérios de selecção são rígidos e, como consequência, as quantidades produzidas são invariavelmente reduzidas.

As uvas que dão origem ao Vintage Ramos Pinto provêm de 3 das 4 quintas da Casa: da Quinta do Bom Retiro e da Quinta da Urtiga, situadas em Cima Corgo, e ainda da Quinta de Ervamoira, localizada no Douro Superior.

Jorge Rosas, administrador da Ramos Pinto, afirma que “A decisão de declarar ou não Vintage é tomada pela Ramos Pinto exclusivamente em função da qualidade das uvas vindimadas, que têm obrigatoriamente de ser extraordinárias”. Acrescenta ainda que “(…) sempre foi assim e é uma regra da Casa que nos orgulhamos de manter” declara o CEO da empresa.

Historicamente, a Casa Ramos Pinto declara Vintage aproximadamente 3 vezes a cada 10 anos. Na presente década, até à data, foram produzidos em 2011 e em 2015.

Ramos Pinto Lágrima tem nova imagem

É uma das marcas centenárias do Vinho do Porto e agora tem nova imagem. Não falamos de revolução, antes de um refrescamento. A Ramos Pinto optou por manter os traços distintivos que a marca conserva há mais de 100 anos. Tradicionalmente feito de uvas brancas e caracterizado por ser o mais doce de todos os […]

É uma das marcas centenárias do Vinho do Porto e agora tem nova imagem. Não falamos de revolução, antes de um refrescamento. A Ramos Pinto optou por manter os traços distintivos que a marca conserva há mais de 100 anos. Tradicionalmente feito de uvas brancas e caracterizado por ser o mais doce de todos os Vinhos do Porto, o Porto Lágrima teve em 2009 a primeira versão tinta deste vinho, o que reforçou o êxito desta marca junto do público. Agora, em 2017, lança a nova imagem que recupera o fundo branco que caracterizou o 1º de todos os rótulos Lágrima Ramos Pinto.
O vinho é exportado para dezenas de países e tem atravessado gerações de fiéis apreciadores desde o início do século XX. Jorge Rosas, diretor geral da empresa, disse que “este rebranding foi uma consequência natural do estilo da Ramos Pinto (…) por um lado, valorizamos a nossa história e cultura e, por outro lado, procuramos inovar e estar por dentro das tendências actuais”. A nova imagem e o novo packaging vão poder ser encontrados em Portugal a partir de Dezembro.