Millèsime Encontro Nacional de Espumantes – Programa das provas comentadas

MILLÈSIME – 1º ENCONTRO NACIONAL DE ESPUMANTES A 25 E 26 DE MARÇO O programa do evento que decorre já nos dias 25 e 26 de Março no Curia Palace Hotel pode ser consultado AQUI . São 36 os produtores nacionais e mais 2 produtores espanhóis que participam no evento Millèsime – Encontro Nacional […]
MILLÈSIME – 1º ENCONTRO NACIONAL DE ESPUMANTES A 25 E 26 DE MARÇO
O programa do evento que decorre já nos dias 25 e 26 de Março no Curia Palace Hotel pode ser consultado AQUI .
São 36 os produtores nacionais e mais 2 produtores espanhóis que participam no evento Millèsime – Encontro Nacional de Espumantes.
A entrada tem o valor de 10€ com direito a copo Schott e o visitante pode provar livremente todos os vinhos que desejar. Pode também adquirir especialidades gastronómicas da região e abastecer-se dos vinhos dos produtores presentes na loja dinamizada pela Garrafeira Bohemios.
Para quem quiser saber mais sobre o tema tem ainda 4 provas comentadas pelos especialistas Luis Lopes e Luis Antunes onde os espumantes topo de gama são decifrados ao detalhe e harmonizados com leitão ou com iguarias várias fornecidas pelo restaurante Rei dos Leitões. Tudo isto envolto num ambiente sofisticado e glamoroso a lembrar a época dourada do termalismo de luxo no princípio do século XX, de que o Palace Hotel da Curia é um dos exemplos mais brilhantes. Dois dias imperdíveis!
Fique agora a par de todas as provas comentadas, pode inscrever-se directamente em: inscricoes@grandesescolhas.com (fornecendo os seus dados: nome/entidade, morada e nif).
Para outras informações ligue: 215810526.
Provas para Sábado dia 25 de Março:
16h – Prova orientada por Luís Lopes 18h – Prova orientada por Luís Antunes
Provas para Domingo dia 26 de Março:
16h – Prova orientada por Luís Lopes 18h- Prova orientada por Luís Antunes
Caminhos Cruzados usa morcegos na vinha para combater pragas

No âmbito do seu projecto de sustentabilidade e biodiversidade, o produtor Caminhos Cruzados, do Dão, convidou dezenas de crianças de uma escola primária de Nelas — onde se situa a Quinta da Teixuga — a pintar casas para morcegos (na fotografia) que vão ser espalhadas pela propriedade. O objectivo é estimular os morcegos a permanecer […]
No âmbito do seu projecto de sustentabilidade e biodiversidade, o produtor Caminhos Cruzados, do Dão, convidou dezenas de crianças de uma escola primária de Nelas — onde se situa a Quinta da Teixuga — a pintar casas para morcegos (na fotografia) que vão ser espalhadas pela propriedade. O objectivo é estimular os morcegos a permanecer na quinta, no seu habitat, junto das culturas, para que estes ajudem no controlo de pragas
Lígia Santos, directora de sustentabilidade da Caminhos Cruzados, explica que “sendo a dieta do morcego maioritariamente constituída por traças, pretende-se com este projecto reduzir os estragos causados na vinha. Paralelamente, esperamos reduzir a necessidade do uso de pesticidas, pois teremos frutos mais sãos e recuperaremos a vida biológica dos solos e da fauna existente”.
A empresa do Dão tem levado a cabo, nos últimos anos, um programa agroecológico que teve início com a plantação de 105 árvores espalhadas pela Quinta da Teixuga, formando um bosque com 10 espécies diferentes da região, com bagas e frutos que fornecem alimento à avifauna, ao longo de, praticamente, todo o ano. Um bosque que também contou com o envolvimento da comunidade escolar, “tendo em vista sensibilizar as crianças desde tenra idade para a importância da regeneração, preservação e valorização das matas”, comunica o produtor do Dão.
O compromisso ecológico da Caminhos Cruzados tem, além dos morcegos, outros “ajudantes”, como o as ovelhas: “Começámos em 2022 a usar ovelhas certificadas para a produção de Queijo da Serra, para controlar infestantes e promover uma cobertura regenerativa dos solos da vinha, o que trará como resultado uma terra mais fértil e rica em biodiversidade e carbono”, adianta Lígia Santos.
Grande Prova: No doce mundo dos Colheita Tardia

Os Colheita Tardia são vinhos doces não fortificados, o que os difere dos Porto, Madeira e outros licorosos, onde para preservar o açúcar natural acumulado nas uvas, a fermentação é interrompida por adição de aguardente. No caso dos Colheita Tardia o próprio nome explica, em parte, a forma como o vinho é obtido. As uvas […]
Os Colheita Tardia são vinhos doces não fortificados, o que os difere dos Porto, Madeira e outros licorosos, onde para preservar o açúcar natural acumulado nas uvas, a fermentação é interrompida por adição de aguardente. No caso dos Colheita Tardia o próprio nome explica, em parte, a forma como o vinho é obtido. As uvas são colhidas mais tarde, entrando em processo de desidratação, concentrando o açúcar e modificando os aromas.
Na história da humanidade, os vinhos doces eram muito apreciados em vários períodos a começar pela Roma Antiga – Vinum Dulce, Vinum Diachytum e Passum – feitos de uvas com maior ou menor grau de passificação.
Existem várias técnicas que permitem promover a desidratação dos bagos. A mais simples – passerillage – é deixar as uvas secarem na vinha. Cessa a ligação vascular entre a videira e o bago e a água começa a evaporar. Este processo pode ser acelerado, torcendo os caules dos cachos.
Outra forma é colher as uvas mais cedo e deixar secar ao sol, como fazem na Toscana para produzir Vin Santo ou em Jura para o Vin de Paille. Assim preservam-se melhor os ácidos do bago, mas alguns aromas degradam com a temperatura. O Eiswein na Alemanha e Áustria ou Icewine no Canadá é o extremo de colheita tardia – as uvas ficam na vinha até congelarem com temperaturas negativas. A vindima ocorre em Janeiro, resultando em mostos altamente concentrados em açúcares. E finalmente, a forma mais difícil e sofisticada de fazer o vinho doce é usando as uvas afectadas pelo fungo Botrytis cinerea, chamada “podridão nobre” que só é possível em condições muito específicas. O Botrytis também pode ser induzido quer antes, quer depois de vindima e estudos confirmam que em ambas as situações, o fungo cumpre a sua função de transformação profunda da composição dos bagos.
O início dos vinhos botritizados é associado à região de Tokaj na Hungria, onde os primeiros registos datam de 1560. Os vinhos ganharam notoriedade em XVII e XVIII e hoje o Tokaji Aszú é um dos mais famosos vinhos doces no mundo.
A Alemanha também contribuíu para o desenvolvimento de vinhos botritizados, ocorrendo a primeira experiência em 1775 por mero acaso. O dono da propriedade Schloss Johannisberg, em Rheingau, esqueceu-se de dar ordem para vindima e as uvas acabaram por ficar afectadas pela podridão nobre. A região de Sauternes, em Bordeaux, é outro exemplo clássico, onde, segundo reza a história, o primeiro vinho botritizado também foi feito por acaso em 1815.
Podridão sim, mas nobre!
Vinhos produzidos com a ajuda involuntária do fungo Botrytis cinerea é o fenómeno mais espantoso que existe no mundo vitivinícola. É um fungo patogénico, normalmente temido pelos viticultores dada a sua natureza extremamente danosa quando ataca as uvas. Provoca podridão cinzenta. Mas em condições certas, na altura certa, revela o seu alter ego – podridão nobre, actuando de forma benevolente e preparando a matéria-prima para os vinhos únicos.
Se o fungo é o mesmo, quando e como o lado bom de Dr. Jekyll domina o carácter sombrio de Mr. Hyde?
Há vários factores em jogo: meso- e microclima apropriado durante o tempo necessário; castas com determinadas características (em termos de maturação, anatomia do bago e cacho, produção de fitoalexinas em reação ao stress biológico etc.); e maturação total de uva na altura da invasão de Botrytis.
Numa situação ideal, as noites húmidas e nevoeiros matinais permitem o desenvolvimento do fungo, enquanto os dias solarentos e secos travam a sua evolução e ajudam a evaporação da água e desidratação dos bagos. E assim, repetidamente durante 2-4 semanas. No tempo demasiado chuvoso com pouco sol, as uvas não secam e outros microorganismos juntam-se à festa. Se, pelo contrário, o tempo permanecer muito seco, o desenvolvimento do fungo-maravilha é comprometido e o seu impacto benéfico fica sem efeito.
É facil concluir que só em alguns terroirs as condições ideais se verificam com a frequência comercialmente viável. O exemplo clássico é Sauternes e comunas adjacentes (Barsac, Cérons, Louipac, etc.) localizadas na proximidade do rio Garonne e o seu afluente Ciron de águas frias, alimentados por nascentes, onde o contraste da temperatura das águas é responsável pelo mesoclima. E mesmo nestes locais, com as alterações climáticas, hoje tudo se torna mais imprevisível.
O papel do Botrytis
O Botrytis sinerea penetra o bago através de mircrofissuras na pele e começa a batalha enzimática entre a planta e o fungo. A película fica macerada e mais fina, funciona como uma esponja, facilitando a evaporação da água; o bago diminui em tamanho até 5 vezes, o que explica a concentraçã dos açúcares. Isto provoca o aumento da pressão osmótica no meio e o fungo acaba por morrer. A vindima tem de acontecer no momento certo e, como a evolução do fungo nos cachos é muito díspar, obriga a várias passagens na vinha.
Curiosamente quando B. cinerea coloniza as uvas, o fungo tende a ser dominante e a quantidade de outros fungos diminui drasticamente. Aliás, quanto mais pura for a colonização de botrytis, melhor será a qualidade do vinho. Entretanto, as bactérias acéticas são bem presentes nas uvas afectadas pelo botrytis e não perdem a oportunidade de participar no processo, sendo muitas vezes responsáveis pela alta produção de ácido acético.
A presença do fungo altera significativamente a composição do bago com forte impacto na vinificação e, sobretudo, nas características organolépticas do vinho. A textura extremamente cremosa e macia dos vinhos botritizados deve-se ao glicerol abundante, podendo a sua concentração ser superior a 20 g/l. Alguns precursores aromáticos não existem nas uvas sãs, sendo criados pela acção da podridão nobre e outros ficam dramaticamente ampliados. A desidratação favorece a acumulação de compostos terpénicos (responsáveis pelos aromas florais, frutados e tabaco) enquanto a presença de B. cinerea facilita o seu desprendimento dos precursores através das enzimas presentes no mosto.
Tióis voláteis estão também bem presentes nos vinhos botritizados e conferem aromas típicos de casca de limão, toranja e maracujá. Variadíssimos tipos de lactonas benefeciam os vinhos de podridão nobre com aromas de damasco e pêssego, caramelo, notas mentoladas, aromas de coco em certos casos, sobretudo se o vinho tiver estágio em madeira, reforçando o tal famoso aroma de laranja cristalizada. O sotolon, responsável pelos aromas de caril, feno-grego e nozes, frequente nos vinhos do Porto e Madeira devido ao seu envelhecimento oxidativo, também foi identificado em Sauternes.
Outros compostos aromáticos muito importantes em vinhos botritizados são os benzaldeído e furfural com aromas amendoados, e fenilacetaldeído (não encontrado em uvas ou mostos sãos), com aroma de mel e cera de abelha. Os álcoois superiores como o feniletanol juntamente com o seu éster feniletil acetato também são compostos associados aos vinhos botritizados, conferindo o aroma de rosas. O cheiro a cogumelo pode ser identificável em alguns vinhos. Geralmente, os vinhos de uvas desidratadas caracterizaram-se por um maior teor de compostos com aromas a fruta fresca, enquanto a podridão nobre induz a maior complexidade aromática.
Castas e vinificação
Entre as castas mais utilizadas para colheitas tardias com podridão nobre estão Sémillon e Sauvignon Blanc em Sauternes e Barsac, Riesling no perfil Beerenauslese e Trockenbeerenauslese na Alemanha e Áustria, Furmint nos famosos Tokaji Aszú da Húngria, Riesling, Gewurztraminer, Pinot Gris e Muscat em Vendange Tardive da Alsácia. Curiosamente, não são todos de película fina: algumas castas, como a Furmint ou a Gewurztraminer têm a película grossa, mas demonstram a susceptibilidade à podridão nobre.
Em Portugal utiliza-se muito a casta Sémillon, sobretudo no Douro sob a sinonimia Boal (não confundir com o Boal da ilha da Madeira que é a Malvasia Fina no continente). Arinto e Fernão Pires também são opções. No Dão, Encruzado em parceria com Malvasia Fina e, na Casa de Santar, com Furmint. Viognier entra no lote da Quinta da Folgorosa e Falcoaria (Manuel Lobo reconhece uma grande textura que esta casta confere ao vinho). Casa de Vilacetinho, nos Vinhos Verdes, aposta no Avesso e faz um colheita tardia com carácter muito particular. Na Herdade da Malhadinha Nova optaram por utilizar uma outra casta francesa, Petit Manseng.
A vindima das uvas com Botrytis é muito exigente. A selecção na adega é extremamente rigorosa – é preciso separar os cachos (ou uma parte deles) bem afectados pela podridão nobre, mas livres de outro tipo de podridões (branca ou preta) – conta Jorge Moreira, responsável de enologia na Real Companhia Velha. O enólogo Pedro Baptista da Fundação Eugenio de Almeida também frisa que tiram para fora os cachos em passa.
Devido à grande viscosidade, o mosto lágrima não pode ser obtido das uvas botritizadas. A prensagem tem de ser forte para conseguir extrair sumo e a separação de mostos é importante. Quando se trata das uvas saudáveis, o mosto lágrima e de primeira prensagem são os mais ricos em açúcar, mas nas uvas com podridão nobre é ao contrário: a maior concentração de açúcar só se consegue nas últimas fracções da prensa. “Prensamos como se fosse para o vinho tinto – explica Jorge Moreira – o mosto sai castanho a lembrar lama e depois da clarificação fica dourado.” A melhor prensa para isto é a antiga prensa vertical hidráulica. O enólogo Manuel Lobo conta que quando resolveram avançar com Colheita Tardia, tiveram de arranjar uma.
A fermentação é outra luta. O alto teor de açúcar é o primeiro obstáculo que dificulta o processo pela sua alta pressão osmótica prejudicial às celulas das leveduras. Como se não bastasse, o B. cinerea produz substâncias com propriedades antifúngicas, limitando o crescimento da população das leveduras e esgota os nutrientes, como o azoto, por exemplo, que são necessários para a sua actividade. Por estas razões, a fermentação é muito lenta, dura cerca de 3-4 semanas, podendo variar entre os lotes, e tem de ser monitorizada por perto para evitar a paragem ou que o vinho fique desequilibrado (muito álcool e pouco açúcar ou, ao contrário, muito açúcar e álcool baixo). A fermentação é parada no momento desejado com frio e adição de sulfuroso para cessar a actividade das leveduras.
A mais alta acidez volátil dos vinhos botritizados pode ter várias origens. As primeiras responsáveis são bactérias acéticas presentes nas uvas, que podem ter “ajuda” acidental das bactérias lácticas no mosto e, finalmente, as próprias leveduras a trabalhar na fermentação em condições pouco favoráveis também podem produzir mais acidez volátil. Por esta razão, o limite de acidez volátil para colheitas tardias é mais alto do que para outros vinhos. No caso de um branco ou um rosé novo e fresco, isto seria um desastre, mas nos Colheitas Tardias acidez volátil um pouco mais alta fica contextualizada na matriz aromática e até acrescenta complexidade.
Colheita Tardia em Portugal
Em Portugal a tradição de vinhos doces prende-se mais com os vinhos fortificados e nesta matéria não há outro país igual no mundo. Por termos uma grande oferta destes, os Colheita Tardia não fazem parte da tradição nacional. É uma corrente mais recente.
Mas existe um Colheita Tardia histórico – o Grandjó da Real Companhia Velha. Parece incrível que no Douro, no início do século passado alguém se tenha lembrado de produzir um vinho branco doce a partir da casta Sémillon e ainda contratar um professor de Bordéus, J.Laborde para ensinar a fazê-lo. Foi o que aconteceu na Real Companhia Velha em 2010. E em 1912 foi registada a mais antiga marca da empresa (e do Douro) a Grandjó – da junção dos nomes Granja e Alijó.
O sucesso comercial, infelizmente, levou à diminuição da qualidade do vinho até ao seu desaparecimento na década dos anos 60. A produção só foi retomada a partir de 2002 sob supervisão do reputado enólogo da California, Jerry Luper. A seguir vieram colheitas de 2004, 2005, 2006, 2007 e 2008.
Em Portugal não é fácil encontrar um local onde se verifiquem as condições certas para o desenvolvimento da podridão nobre. No caso do Grandjó, a vinha com Sémillon fica a 600 metros de altitude no planalto do Alijó, com humidade matinal e dias solarentos. Mas com o aquecimento global, o clima torna-se cada vez mais quente e seco, não deixando que a podridão nobre se instale – lamenta Jorge Moreira. Se na primeira década do século foi possível produzir o Grandjó quase todos os anos, na segunda década só existe Grandjó de 2013 e fizeram também em 2020 apenas 700 litros (o que não chegará a 2000 garrafas de 350 ml). Tentam fazer todos os anos, deixam uvas na vinha e sem resultado.
Precisamente por ser difícil, são poucos os produtores que insistem em fazer Colheita Tardia com uvas afectadas pela podridão nobre. Pedro Baptista confirma que na Fundação Eugénio de Almeida também tentam fazer todos os anos, mas só se consegue em alguns.
Na Quinta do Casal Branco, na região do Tejo, a proximidade do rio em certos anos cria condições para o desenvolvimento do Botrtytis. Manuel Lobo que presta consultadoria enológica na propriedade do seu tio, contou que o ano chuvoso de 2014 deu origem ao primeiro Falcoaria doce. Houve umas parcelas que ficaram para trás e quando se descobriu os cachos afectados, instalou-se o pánico – as uvas apodreceram! Felizmente, não era a podridão cinzenta, era a sua versão nobre. Manuel Lobo convenceu o seu tio e a equipa a avançar com um Colheita Tardia. Foi um ensaio à escala real. O Falcoaria de 2014 saiu muitíssimo bom e em 2016 ficou ainda mais afinado e elegante.
A dificuldade e carácter imprivisível associados aos vinhos botritizados levam a que a maior parte das empresas produz Colheita Tardia com uvas sãs, apanhadas mais tarde.
Uma estratégia diferente foi seguida na J. Portugal Ramos. Ali optaram por replicar as condições de produção de icewine – as uvas colhidas ficam na câmara frigorifica com temperaturas negativas (cerca de -8ºC). Pela lei da física, só congelam as uvas com menor concentração de açúcar. Posteriormente são prensadas rapidamente, dando origem a um mosto com uma riqueza enorme em açúcares. Segue-se a fermentação e estágio em barrica de carvalho francês e húngaro. Para manter o perfil que pretendem, o vinho final é um lote de várias colheitas de 2017 a 2020.
Os Colheita Tardia não podem (e não devem) ser baratos devido aos altos custos de produção e rendimentos extremamente baixos. O bago desidratado produz pouco sumo. Em Sauternes, por exemplo, o rendimento não ultrapassa 25 hl/ha e no caso de Château d’Yquem é apenas 9 hl/ha. Jorge Moreira refere que para a produção do Grandjó são necessários 7 kg de uva para obter um litro de vinho. Já para não falar nas uvas estragadas nas tentativas que não foram bem-sucedidas.
Embora a legislação europeia estabeleça como o limíte mínimo para um vinho ser considerado doce 45 g/l de açúcar, o teor de açúcar dos Colheita Tardia em Portugal varia entre 80 e 160 g/l aproximadamente. É claro que com esta doçura, a vertente acídica assume uma responsabilidade acrescida de assegurar o equilíbrio. Os estilos variam dos mais concentrados, com açúcar e acidez proeminentes até as versões mais leves com menos corpo, doçura e estrutura.
Sugestões de harmonização
Uma das harmonizações clássicas para Colheitas Tardias é foie gras, mas as generalizações por vezes falham. Nem todos os Colheita Tardia são um par perfeito para esta iguaria. Para combinar um produto tão intenso de sabor e com alto teor de gordura é preciso assegurar uma intensidade e concentração no sabor do vinho com acidez alta. Isto automaticamente exclui os colheita tardia mais leves (mesmo que tenham uma boa acidez, ficam em “categorias de peso” diferentes em termos de sabor e concentração) e os mais doces que tendo muita concentração, não conseguem oferecer o equilíbrio necessário a nível de acidez e a junção de untuosidade com untuosidade pode ser excessiva.
O sommelier dos restaurantes JNcQUOI, Ivo Peralta, vê Colheita Tardia como vinho de sobremesa quando os vinhos fortificados são demasiado fortes em virtude do álcool mais elevado. Sobremesas com cremes e natas, por exemplo, ou com fruta (que tem sempre um componente ácido que pede uma acidez mais presente no vinho).
Do mundo dos queijos, o Roquefort é outra combinação clássica. O queijo de cabra curado também pode ser uma opção. Ivo Peralta sugere experimentar um Colheita Tardia com queijo de cabra e compota de alperce. Pessoalmente, aprecio o queijo de São Jorge curado com bons Colheita Tardia, onde o salgado e o picante do queijo é harmonizado pela cremosidade e doçura do vinho. E os melhores Colheita Tardia convidam à meditação, dispensando o acompanhamento. Sendo doces, não se tornam enjoativos. É uma doçura intelectual. São viciantes pela sua envolvência que apraz o palato, deixando uma frescura no fim, estimulando a repetir esta experiência sensorial.
(Artigo publicado na edição de Fevereiro de 2023)
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Quinta da Folgorosa
- 2019 -
Casa de Vilacetinho
- 2017 -
Grandjó
- 2007 -
Três Bagos
- 2017 -
Malhadinha
Colheita Tardia/ Late Harvest - 2018 -
Fonte do Ouro
Colheita Tardia/ Late Harvest - 2017 -
D. Graça
Colheita Tardia/ Late Harvest - 2018 -
Casa Santos Lima
Colheita Tardia/ Late Harvest - 2017 -
Bridão
Colheita Tardia/ Late Harvest - 2021 -
Rozès Noble
Colheita Tardia/ Late Harvest - 2019 -
Quinta do Boição
Colheita Tardia/ Late Harvest - 2009 -
Pacheca
Colheita Tardia/ Late Harvest - 2019 -
Marquês de Borba
Colheita Tardia/ Late Harvest - 2018 -
Foral de Évora
Colheita Tardia/ Late Harvest - 2016 -
Dalva
Colheita Tardia/ Late Harvest - 2015 -
Casa de Santar Outono de Santar
Colheita Tardia/ Late Harvest - 2018
Rui Nabeiro: um ser humano fora do comum

TEXTO: Luís Lopes FOTO: Gonçalo Villaverde/Adega Mayor Aos 91 anos de idade, deixou-nos uma das pessoas mais extraordinárias que conheci ao longo das minhas quase quatro décadas de jornalismo. Das diversas vezes (ainda assim, não tantas quanto desejaria) que com Rui Nabeiro tive ocasião de privar e prolongar a conversa, deixou-me sempre profunda impressão, uma […]
TEXTO: Luís Lopes
FOTO: Gonçalo Villaverde/Adega Mayor
Aos 91 anos de idade, deixou-nos uma das pessoas mais extraordinárias que conheci ao longo das minhas quase quatro décadas de jornalismo. Das diversas vezes (ainda assim, não tantas quanto desejaria) que com Rui Nabeiro tive ocasião de privar e prolongar a conversa, deixou-me sempre profunda impressão, uma impressão nascida da certeza de estar a falar com alguém absolutamente em paz consigo e com o Mundo.
Conhecido, sobretudo, pelo “império de café” que construiu em torno da Delta (marca que tem para mim o apelo emocional de ter sido criada no ano que nasci, 1961), os apreciadores tiveram oportunidade de experienciar os vinhos da família Nabeiro a partir de 2007, com a fundação da Adega Mayor. Em Campo Maior, claro, como não podia deixar de ser.
De origens humildes, aquele que se tornou um dos mais notáveis empresários que Portugal viu nascer, nunca deixou de ser um filho de Campo Maior. E contribuir para a prosperidade desta vila raiana foi certamente um dos seus desígnios de vida. A forte consciência social que sempre o envolveu, a noção de que as pessoas e o seu bem-estar são fundamentais para o sucesso do negócio, caracterizam-no enquanto gestor e empresário. E essa “cultura Nabeiro” passou intocada da Delta para a Adega Mayor e de Rui Nabeiro para sua neta Rita, administradora da vertente vitivinícola do grupo.
O vinho era paixão antiga de Rui Nabeiro. Numa entrevista que me concedeu em 2012 explicou-me o porquê de ter avançado para este sector. “Gostei sempre do campo, da terra. E em Campo Maior existia tradição de os terrenos baldios serem divididos e entregues às pessoas, uma parte para a produção de trigo e cevada, outra para olival e vinha. Quando era miúdo, toda a gente ia para a adega fazer vinho. Havia também a produção de talhas de barro. Mas, gradualmente, foram-se perdendo essas tradições, até desaparecerem, nos anos 60. E eu sempre sonhei, um dia, poder imitar um dos meus avós e fazer um vinho meu”.
Rui Nabeiro fundou a Delta em 1961 e inaugurou a Adega Mayor em 2007
Na verdade, quando Rui Nabeiro decidiu fazer vinho, podia ter escolhido qualquer local do Alentejo para plantar vinha e fazer uma adega. Mas, para ele, só faria sentido se fosse em Campo Maior. Na sua visão, acredito, quase tudo só fazia sentido se fosse em Campo Maior. Perguntei-lhe um dia, não há muitos anos, o que teria acontecido se gostasse de desportos náuticos? Procurava trazer o mar para Campo Maior? Ele sorriu, com aquele sorriso aberto, inconfundível e contagiante, e meneou a cabeça, como que admitindo a possibilidade…
A entrevista de 2012 terminou assim: “Como acha que será recordado daqui a 50 anos?” A resposta diz tudo: “Se eu acabar bem, até ao final da minha vida, talvez venha a ser recordado todos os dias. Pelo menos em Campo Maior. Pois não há ninguém na vila que não tenha um familiar a trabalhar aqui…”.
Senhor Rui Nabeiro, permita-me hoje assegurar o que a modéstia lhe não permitiu na altura. Não apenas em Campo Maior e não apenas junto das muitas famílias que trabalham para as empresas do grupo. Acredito que o seu exemplo de vida vai perdurar no tempo. E que será sempre recordado como um empresário de referência e, sobretudo, um ser humano fora do comum.
ViniPortugal reelege presidente Frederico Falcão

Frederico Falcão foi reeleito Presidente da Direcção da ViniPortugal, no passado dia 17 de Março. A associação interprofissional do vinho nomeou Frederico Falcão para o triénio 2023/2025, em Assembleia Geral, nas instalações do CNEMA, em Santarém. Sobre a reeleição, Frederico Falcão — natural da Chamusca e licenciado em Agronomia, com pós-graduação em Enologia — declara: […]
Frederico Falcão foi reeleito Presidente da Direcção da ViniPortugal, no passado dia 17 de Março. A associação interprofissional do vinho nomeou Frederico Falcão para o triénio 2023/2025, em Assembleia Geral, nas instalações do CNEMA, em Santarém.
Sobre a reeleição, Frederico Falcão — natural da Chamusca e licenciado em Agronomia, com pós-graduação em Enologia — declara: “É um grande privilégio ser reeleito enquanto Presidente desta instituição que admiro e é também um voto de confiança e de reconhecimento por todo o trabalho que a anterior direcção, e a equipa da ViniPortugal, tem desenvolvido em prol da internacionalização e da distinção dos vinhos portugueses além-fronteiras. Não posso, no entanto, deixar de agradecer, também, a todos aqueles que trabalham diariamente e têm um contributo fundamental naquela que é a nossa missão de enaltecer o valor dos vinhos portugueses internacionalmente. A todos os nossos associados, CVRs e restantes entidades ligadas ao sector vitivinícola, deixo o meu profundo agradecimento por tornarem isto possível. O sector vitivinícola português pode continuar a contar com a minha total dedicação para elevar o valor dos vinhos portugueses e a acelerar o seu crescimento”.
Antes de iniciar funções na ViniPortugal em 2020, Frederico Falcão desenvolveu a sua carreira como enólogo em várias empresas de vinho, como Esporão, Companhia das Lezírias, Pegos Claros e Fundação Abreu Callado. Entre 2012 e 2018 foi presidente do IVV, Instituto da Vinha e do Vinho, tendo sido o mais jovem presidente deste instituto. Entre 2018 e 2019 foi CEO da Bacalhôa Vinhos de Portugal.
Sogrape apresenta programa de sustentabilidade “Seed the Future”

Através da divulgação de uma carta pública de Mafalda Guedes, representante da quarta geração da família proprietária da Sogrape, o grupo vitivinícola anunciou o seu Programa Global de Sustentabilidade, denominado “Seed the Future”. Mafalda Guedes elucida, no documento: “Esta é uma estrutura desenvolvida pela Sogrape para focar os nossos esforços, para que juntos possamos reformular […]
Através da divulgação de uma carta pública de Mafalda Guedes, representante da quarta geração da família proprietária da Sogrape, o grupo vitivinícola anunciou o seu Programa Global de Sustentabilidade, denominado “Seed the Future”.
Mafalda Guedes elucida, no documento: “Esta é uma estrutura desenvolvida pela Sogrape para focar os nossos esforços, para que juntos possamos reformular o modo como trabalhamos, de forma a construir um futuro mais sustentável, inclusivo e qualificado. Ao contribuirmos activamente para os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, acreditamos que podemos fazer parte da solução para os desafios mais prementes do mundo”.
Numa primeira fase, até 2027, a Sogrape pretende, no âmbito do Seed the Future, reduzir as emissões em 50%, bem como criar estruturas de imobilização que irão permitir capturar o CO2 nas suas propriedades. “O uso de energia será mais eficiente e iremos envolver a nossa cadeia de abastecimento para que possamos ter um impacto material, bem como implementar práticas para proteger e desenvolver a natureza e a biodiversidade. Queremos elevar a herança do vinho através da preservação, Investimento & Desenvolvimento e inovação. Isto inclui equipar as comunidades e os viticultores com competências, conhecimento e recursos para uma produção de vinho viável e sustentável no futuro”, adianta Mafalda Guedes.
Intermarché tem novo conceito para a marca Selecção de Enófilos

O Intermarché lançou, recentemente, um novo conceito para a sua marca de vinhos Selecção de Enófilos, com nova imagem e design. O objectivo, segundo a insígnia alimentar do grupo Os Mosqueteiros, foi uma maior aproximação “aos princípios de biodiversidade, ecologia e sustentabilidade”. Ainda de acordo com o Intermarché, “a nova identidade visual dos vinhos Selecção […]
O Intermarché lançou, recentemente, um novo conceito para a sua marca de vinhos Selecção de Enófilos, com nova imagem e design. O objectivo, segundo a insígnia alimentar do grupo Os Mosqueteiros, foi uma maior aproximação “aos princípios de biodiversidade, ecologia e sustentabilidade”.
Ainda de acordo com o Intermarché, “a nova identidade visual dos vinhos Selecção de Enófilos faz alusão às regiões vitivinícolas através de plantas e aves enquanto agentes biocontroladores”.

A marca Selecção de Enófilos inclui vinhos de várias Denominações de Origem portuguesas, como Tejo, Lisboa, Dão, Alentejo, Bairrada, Douro, Palmela, Vinho Verde, Setúbal, e brevemente, vinho do Porto. Foi destacada com o selo Escolha do Consumidor 2023, na categoria “Melhor Oferta em Vinhos de Marca Própria”, tendo o seu rebranding merecido destaque em publicações internacionais como o Packaging of the World, o World Brand Design Society e a Favourite Design.
Millèsime – 1º Encontro Nacional de Espumantes a 25 e 26 de Março

Millèsime – Encontro Nacional de Espumantes pretende reunir no mesmo espaço os melhores produtores nacionais de espumantes com denominação de origem e que contará também com alguns convidados internacionais. De acordo com a natureza do espaço onde vai decorrer, o Curia Palace Hotel, pretende-se fazer um evento sofisticado, com uma imagem inspirada na época dourada […]
Millèsime – Encontro Nacional de Espumantes pretende reunir no mesmo espaço os melhores produtores nacionais de espumantes com denominação de origem e que contará também com alguns convidados internacionais.
De acordo com a natureza do espaço onde vai decorrer, o Curia Palace Hotel, pretende-se fazer um evento sofisticado, com uma imagem inspirada na época dourada dos primeiros anos do século XX, com glamour e classe.
Este é um evento pensado e desenhado para apreciadores de espumantes e que convoca também os profissionais ligados ao sector. O acesso do público ao evento faz-se mediante a compra de um copo que tem o valor de 10€. Uma loja de espumantes a instalar no espaço permitirá a venda ao público dos espumantes dos produtores presentes que o desejarem. Estão previstos conteúdos aliciantes para apreciadores e profissionais, tais como provas comentadas de espumantes, provas de harmonização de espumantes com iguarias e um debate profissional e troca de experiências entre enólogos e produtores. Para além dos stands de vinhos, também está prevista a mostra e venda de produtos gourmets.
É já conhecido o programa assim como os 38 produtores que participam na 1º edição deste evento exclusivamente dedicado aos espumantes.
Sábado, 25 de Março 2023
10:30 – À conversa com Pedro Guedes
Enólogo da Caves Transmontanas e autor do livro «Fizziologia – Elaboração dos Vinhos Espumantes segundo o Método Clássico»
Experiência e conhecimento na produção de espumantes
Reservado a profissionais – Entrada livre – Inscrições limitada à capacidade da sala. Inscrições em inscricoes@grandesescolhas.com
15:00 horas –Inauguração do Millèsime – Encontro Nacional de Espumantes
Abertura da mostra e degustação dos Espumantes nos stands dos 38 produtores presentes.
16:00 horas– Prova comentada por Luís Lopes, Director da Grande Escolhas: «Espumantes de Portugal e Espanha»
18:00 horas – Prova comentada por Luís Antunes, jornalista e crítico de vinhos e gastronomia: «Harmonias – Espumantes e Leitão»
21:30 às 22:00 – Actuação do Coro da Casa de Pessoal da RTP.
22:00 – Encerramento da Exposição
Domingo, 26 de Março 2023
15:00 horas – Abertura da mostra e degustação dos Espumantes nos stands dos 37 produtores presentes
16:00 horas – Prova comentada por Luís Lopes, director da Grandes Escolhas: «Espumantes da Bairrada»
18:00 horas – Prova Comentada por Luís Antunes, jornalista e crítico de vinhos e gastronomia: «Harmonias – Espumantes e Iguarias»
19:00 – Encerramento do Millèsime – Encontro Nacional de Espumantes
Conheça aqui os produtores que vão estar presentes no evento: