Melhores vinhos de Lisboa 2024 premiados pela região
A Comissão Vitivinícola da Região de Lisboa (CVR Lisboa) anunciou recentemente os vencedores do Concurso Vinhos de Lisboa 2024, num evento que decorreu na Quinta da Pimenteira, na capital portuguesa. Destaque para o Prémio Excelência, o mais alto galardão desta competição, que distinguiu, este ano, vinhos em cinco categorias. O Melhor Leve Lisboa foi atribuído […]
A Comissão Vitivinícola da Região de Lisboa (CVR Lisboa) anunciou recentemente os vencedores do Concurso Vinhos de Lisboa 2024, num evento que decorreu na Quinta da Pimenteira, na capital portuguesa.
Destaque para o Prémio Excelência, o mais alto galardão desta competição, que distinguiu, este ano, vinhos em cinco categorias. O Melhor Leve Lisboa foi atribuído ao Sottal Branco 2023, da Quinta do Sanguinhal; o Melhor Branco foi entregue ao Adega d’Arrocha Fernão-Pires Reserva 2022, da Adega d’Arrocha; o Melhor Tinto foi para o Casa Santos Lima Reserva 2020, da Casa Santos Lima; o Melhor DOP e o Melhor Vital foram atribuídos ao Casa das Gaeiras Vital Vinhas Velhas Branco Reserva 2018, da Casa das Gaeiras.
O prémio de Melhor Arinto foi atribuído ao CH by Chocapalha Branco 2020, da Quinta de Chocapalha e o Vinho Revelação foi o Trincadeira Branca da Quinta do Lagar Novo. No total foram atribuídas 17 medalhas de prata, 25 medalhas de ouro e quatro medalhas Grande Ouro, tendo também sido premiados a Melhor Carta de Vinhos em Restaurantes de Hotel, o Melhor Enoturismo, o Evento do Ano, o Mérito Enogastronómico e o Mérito Carreira.
A AdegaMãe foi a grande vencedora do prémio Melhor Enoturismo e o Evento do Ano foi o Alma do Vinho de Alenquer. O Restaurante Aurea, do Art Legacy Hotel, em Lisboa, foi distinguido com o prémio Melhor Carta de Vinhos em Restaurantes de Hotel, a Escola de Hotelaria e Turismo do Oeste foi reconhecida com o prémio Mérito Enogastronómico e o Mérito Carreira foi atribuído a António Bernardino Paulo da Silva Chitas, que dedicou a sua vida à vitivinicultura na região de Colares.
“A Região Demarcada de Lisboa tem vinhos muito diferenciadores e, neste concurso, quisemos, uma vez mais, salientar a nossa identidade, com destaque para os brancos da casta Arinto, a rainha da Região e da DOP Bucelas, a Vital, casta rara e cheia de personalidade que começa a renascer, e ainda os Vinhos Leves Lisboa”, salientou, durante a cerimónia, Francisco Toscano Rico, presidente da CVR Lisboa.
João Portugal Ramos reforça presença nos Vinhos Verdes
O produtor irá começar a produzir vinhos da casta Loureiro no Vale do Lima, em parceria com o Paço do Cardido, onde a empresa começou o seu percurso nos Verdes, em 2010. “Esta é uma região com um clima e terroir com muito para oferecer, pois é propícia à produção de vinhos brancos frescos, com […]
O produtor irá começar a produzir vinhos da casta Loureiro no Vale do Lima, em parceria com o Paço do Cardido, onde a empresa começou o seu percurso nos Verdes, em 2010. “Esta é uma região com um clima e terroir com muito para oferecer, pois é propícia à produção de vinhos brancos frescos, com muita qualidade” explica o enólogo João Portugal Ramos a propósito desta nova parceria na Região dos Vinhos Verdes.
A transferência da operação dos Vinhos Verdes de Monção e Melgaço para Ponte de Lima, através da parceria com a família Portela Morais, permitirá ao Grupo reforçar a sua presença nesta região, e um maior controlo sobre a vinha e matéria-prima. João Portugal Ramos acredita que só assim é possível assegurar a qualidade reconhecida nos seus vinhos, mas também dar resposta a um mercado exigente e que dá cada vez mais protagonismo à casta Loureiro.
Os primeiros vinhos do Grupo, vinificados na adega pertencente ao Paço do Cardido, sairão já da vindima deste ano e virão completar uma gama que já conta com um vinho Alvarinho e dois espumantes da mesma casta. As novidades serão reveladas no final do ano.
Herdade da Amada: Da Vinha, com amor…
No ano 2018 a Herdade da Amada, situada em Elvas, foi adquirida pelo grupo empresarial da família Marvanejo (Armazéns Marvanejo), um grossista que se dedica à comercialização de inúmeros produtos do ramo alimentar, com especial incidência nas carnes de porco preto “Patanegra”, vinhos e destilados. Helena e Luís Marvanejo apostaram nas tradições seculares da herdade, […]
No ano 2018 a Herdade da Amada, situada em Elvas, foi adquirida pelo grupo empresarial da família Marvanejo (Armazéns Marvanejo), um grossista que se dedica à comercialização de inúmeros produtos do ramo alimentar, com especial incidência nas carnes de porco preto “Patanegra”, vinhos e destilados. Helena e Luís Marvanejo apostaram nas tradições seculares da herdade, ao plantarem 14 hectares de vinha, o resultado de uma aspiração e de um sonho familiar.
“Quisemos fazer algo diferente do que já existia no mercado, e apresentar, ao mundo, vinhos que reflectissem, na nossa ideia, um novo e renovado Alentejo. Não queríamos produzir vinhos sobre-maduros, com excesso de álcool ou madeira a mais, mas antes apostar num perfil claro de elegância e frescura, vivacidade e autenticidade”, referiram Luís e Helena Marvanejo.
Bacelos bravos
E foi com esta ideia de vinho que, começando as coisas pelo princípio, como deve de ser, decidiram tomar a opção de, ao contrário do habitual, plantarem em bravo, talvez a primeira manifestação de amor para com a futura vinha, lembram-se da frase do Poeta?
Plantar bacelos bravos, por si só, não resulta em nada. É necessário, posteriormente, enxertar neles as videiras das castas que se pretendem criar. O processo começa pela escolha dos porta-enxertos. Os da Herdade da Amada foram seleccionados em vinhas velhas da região, recuperando assim a genética das vinhas velhas de sequeiro. Foram, depois, plantados na terra, tendo ficado a criar raízes durante um ano, um sistema radicular com maior profundidade para que a planta aguente melhor as altas temperaturas do Alentejo, garantindo, assim, um vinha durante mais anos, e, ao mesmo tempo, dando alguma resposta ao problema das alterações climáticas
Adicionalmente, este método, segundo Luís Marvanejo, permite que, a longo prazo, se poupe dois terços da água geralmente usada nas regas de uma vinha normal.
Quando os porta-enxertos já revelam a circulação da seiva, são colocadas, então, as videiras, meticulosamente identificadas e colhidas durante o Verão, uma a uma, tendo ficado armazenadas numa câmara frigorífica até Março-Abril, altura em que são colocadas nos porta-enxertos. O terreno foi dividido em parcelas identificadas, tendo sido enxertada, em cada uma delas, a casta que previsivelmente melhor se adaptará, depois de previamente estudados e analisados os respectivos solos.
Este método de plantação em bacelo bravo, para além de ser uma prática muito antiga, é também mais morosa e dispendiosa, existindo sempre a opção alternativa de adquirir porta enxertos já prontos. No entanto, a opção pelo método de enxertia tradicional constitui um forte motivo de orgulho para Luís e Helena Marvanejo, razão pela qual lhe é dada menção de destaque no rótulo dos vinhos da casa, ou não fosse a Herdade da Amada um dos maiores vinhedos da região inteiramente plantado com enxertia no local.
A vinha está entregue ao viticólogo José Luís Marmelo, e a enologia conta com as contribuições do enólogo residente Bruno Pinto da Silva e o conhecimento e experiência da enóloga consultora Susana Esteban que, por si só, dispensa grandes apresentações.
Produção integrada
A viticultura da Herdade da Amada, certificada pelo Programa de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo, é baseada no modo de produção integrada e segue o princípio da intervenção mínima, no respeito pela natureza das castas e do seu terroir. Este tipo de viticultura tem, como base, a prevenção aliada a uma forte monitorização e acompanhamento. Por seu lado, a enologia segue também o princípio da intervenção mínima. Trata-se de uma enologia subtractiva, de forte base científica, que trabalha ao máximo com a química da uva e o factor tempo, quase sem recurso a produtos enológicos, exceto quando estritamente necessário. E este será, provavelmente, o segundo momento de demonstração de amor para com a vinha.
Resta saber se o termo “intervenção mínima” será o verdadeiramente correcto, pois toda a atenção, constante monitorização e acompanhamento da vinha, aliado ao forte trabalho científico com a química da uva e factor tempo, não serão antes uma verdadeira e salutar “intervenção máxima”? Mas isso são contas de outro rosário…
Com solos argilo-calcários, clima tipicamente Mediterrâneo, caracterizado por verões quentes e secos e invernos chuvosos, foram escolhidas dez castas a serem plantadas, após selecção massal. Nas brancas, Arinto, Fernão Pires de vinhas velhas da Serra de Portalegre, Roupeiro e Verdejo de Rueda DO. Nas tintas, Alicante Bouschet, Castelão, Syrah do Rhône, Grand Noir de vinhas velhas da Serra de Portalegre, Touriga Nacional do Crasto e Tempranillo (Aragonez) de Toro DO. De momento, para a vinificação, ainda se recorre aos serviços de uma adega em Arronches, mas está já em andamento o projecto para a construção da própria adega na Herdade da Amada.
A primeira vindima foi em 2022, tendo resultado vários vinhos, um branco e um tinto de lote, com produção de 6898 e 11630 garrafas, respectivamente, ambos já disponíveis no mercado, e ainda três monocastas, Touriga Nacional, Syrah e Alicante Bouschet, que deverão sair durante a Primavera de 2024, em virtude de precisarem de mais tempo depois de um curto estágio em madeira.
E eis-nos chegados ao momento em que podemos constatar a frase inicial do Poeta, será que a vinha correspondeu a tanto amor, cuidado e dedicação? A resposta é francamente positiva. Brindemos pois!
(Artigo publicado na edição de Maio de 2024)
CASA DOS ESPÍRITOS: William Hinton, a estrela do rum da Madeira
O rum começou por ser conhecido como aguardente de cana da Madeira e usado para fazer a poncha, a versão local da caipirinha brasileira. Mas, já neste século, tudo mudou. A alteração da designação de aguardente de cana para Rum Agrícola visou tornar a vida mais fácil aos muitos turistas que visitam a ilha e […]
O rum começou por ser conhecido como aguardente de cana da Madeira e usado para fazer a poncha, a versão local da caipirinha brasileira. Mas, já neste século, tudo mudou. A alteração da designação de aguardente de cana para Rum Agrícola visou tornar a vida mais fácil aos muitos turistas que visitam a ilha e a quem aguardente de cana, não só é difícil de pronunciar, como de identificar o produto como o Rum que de facto é. Bares e cocktails agradeceram e a elaboração de produtos distintos e de gama superior ganhou nova dimensão.
A cana-de-açúcar foi introduzida, na ilha, ainda no séc. XV, pouco tempo após a sua descoberta e foi muito importante na economia local, antes ainda do vinho ter assumido um papel de relevo. Dela a plantação do açúcar foi levada para as Antilhas e para o Brasil, onde a técnica foi replicada e onde assumiu um papel de enorme importância. O solo, a exposição, a disponibilidade, quer de água quer de material para os engenhos, foi determinante para o sucesso das plantações.
A primeira referência à produção de aguardente de cana data de 1649. Com o sucesso da produção na América, a produção local declinou (sem desaparecer) e foi aí que o vinho ganhou mais preponderância. A originalidade do rum agrícola e a diferença para um rum vulgar é-nos explicada por Américo Pereira, especialista local de destilados: “cerca de 95% do rum mundial é industrial, feito com restos de cana, melaço (que neste caso é um subproduto da destilação) e, na Madeira, apenas usamos o sumo fresco que depois fermenta durante 48 horas, muitas vezes sem leveduras ou, com frequência, com um pão em massa fresca da padaria, que aqui serve de levedura. No final, a grande diferença em relação ao rum da Venezuela ou Cuba é que o nosso tem mais acidez, é mais puro e tem muito pouco açúcar”.
Existem actualmente seis engenhos activos na ilha, onde se processa a produção de uma miríade de pequenos produtores de cana. A produção tem direito a IGP (Indicação Geográfica Protegida), e é obtida exclusivamente por fermentação alcoólica do sumo de cana-de-açúcar.A destilaria William Hinton foi fundada em 1845. Por volta de 1920, assumindo uma posição dominante na ilha, chegou a processar 600 toneladas de cana-de-açúcar por dia. O negócio interrompeu-se em 1986 e foi retomado em 2006 e a empresa, além do rum com indicação de idade tem também edições especiais, os Single Cask que utilizam cascos de variadas origens, como Madeira, Whisky, Carcavelos, Sauternes, entre outros. Deve ser apreciado a solo, com um cubo de gelo ou um pouco de água mineral e em cocktail, sendo que o mais simples é a adição de uma casca de laranja ao rum. Pode-se, no clássico cocktail Old Fashioned, substituir o whiskey por rum agrícola envelhecido.
(Artigo publicado na edição de Maio de 2024)
À CONVERSA COM: EDUARDO CHADWICK – Do Chile para o mundo
Já esteve em Portugal? Estive uma vez, faz agora cerca 21 anos, quando visitei o Douro a convite do Dirk Niepoort e dos Douro Boys. É uma região maravilhosa. Não poderia ser mais diferente de Chile… Sim, no Chile trabalhamos com poucas variedades e, no Douro, pelo que soube, há uma imensidão de castas diferentes. […]
Já esteve em Portugal?
Estive uma vez, faz agora cerca 21 anos, quando visitei o Douro a convite do Dirk Niepoort e dos Douro Boys. É uma região maravilhosa.
Não poderia ser mais diferente de Chile…
Sim, no Chile trabalhamos com poucas variedades e, no Douro, pelo que soube, há uma imensidão de castas diferentes. No meu país começámos por trabalhar os vinhos por casta, mas actualmente estamos a trabalhar mais na mistura de castas, nos blends. Actualmente os nossos melhores vinhos são lote de várias castas: Don Maximiliano é um lote bordalês, Seña é uma mistura bordalesa com Carmenère. Esta nova tendência começou há cerca de 20 anos. Continuamos essencialmente a plantar as cepas em pé-franco.
Nos novos perfis de vinhos, crê que a “moda Parker” já faz parte do passado?
A verdade é que algumas empresas ainda estão a fazer vinho com esse estilo, sobretudo as que têm nos Estados Unidos e China os seus principais mercados. O nosso estilo sempre foi o oposto de Parker. Sempre quisemos apostar na elegância e finesse, indo ao encontro do gosto inglês, que sempre foi o nosso principal mercado.
Havia então uma espécie de barreira entre o “estilo Parker” e o gosto inglês…
Sim, nós chegámos a ter uma associação no Chile com a família Mondavi (Califórnia), de que nasceu o vinho Seña. Mas após os problemas que a família teve na Califórnia, resolvemos recomprar a parte deles. Houve, assim, uma ligação ao mercado americano, mas hoje o nosso foco é o mercado inglês.
Nos vinhos chilenos, além da Carmenère que faz um pouco figura de casta-bandeira, que outras variedades melhor representam os vinhos do Chile?
Creio que o Cabernet Sauvignon é a mais representativa e a primeira na exportação. No Chile temos zonas bem distintas, a que chamamos vales, mas ainda não são regiões demarcadas com regras próprias como há na Europa. Ainda precisamos discriminar melhor dentro de cada vale, mas falta consenso entre produtores e instituições. É um desafio que temos ainda pela frente. E há algumas dificuldades, porque muitas empresas têm vinho com uvas que vêm de zonas muito diferentes, e isso choca com a noção de região demarcada. Mas estamos a apostar nos vinhos “single estate” exactamente à procura dos micro terroirs. Também temos Merlot e Syrah, mas esta é difícil de vender. A Malbec está a crescer um pouco.
E nos brancos?
A nossa casta-rainha é a Sauvignon Blanc e, em seguida, a Chardonnay. Depois há um pouco de Viognier, Chenin Blanc, Pinot Gris, Verdejo também um pouco. Alvarinho? Creio que não…
Qual a melhor maneira de introduzir vinhos do Novo Mundo no mercado europeu tão tradicional?
Começámos no Reino Unido, que não produzia… Bem, agora já produz (risos…), e também em outras zonas não produtoras, como Escandinávia e Holanda, com vinhos de boa qualidade e baixo preço. Mas o nosso foco são os vinhos de gama alta e mercados como Suíça e até Portugal que está no TOP 5 europeu.
Além dos clássicos Alma Viva, Clos Apalta e Don Melchor, há actualmente algum outro vinho-ícone no Chile?
Diria que Seña está perto desse grupo. Aliás, foi lançado primeiro que esses, nos anos 90. No entanto o prestígio desses vinhos continua.
Nota: a Grandes Escolhas viajou a convite da Wine + Partners. Os vinhos Chadwick são importados para Portugal pela Luxury Drinks
(Artigo publicado na edição de Maio de 2024)
Gala do Tejo celebrou vinhos e gastronomia
A região Tejo celebrou, este ano, a sua gala anual na ODE Winery, em Vila Chá de Ourique, Cartaxo, onde premiou vinhos, empresas, profissionais e restaurantes, numa iniciativa conjunta da CVR Tejo e da Confraria Enófila Nossa Senhora do Tejo. O Prémio Excelência do Concurso de Vinhos do Tejo foi atribuído aos vinhos Falcoaria tinto […]
A região Tejo celebrou, este ano, a sua gala anual na ODE Winery, em Vila Chá de Ourique, Cartaxo, onde premiou vinhos, empresas, profissionais e restaurantes, numa iniciativa conjunta da CVR Tejo e da Confraria Enófila Nossa Senhora do Tejo.
O Prémio Excelência do Concurso de Vinhos do Tejo foi atribuído aos vinhos Falcoaria tinto 2021, da Quinta Casal Branco, e Ode Enóloga branco 2022, da Ode Winery, os grandes vencedores deste ano. Foram atribuídas mais cinco medalhas de Grande Ouro, 27 de Ouro e 37 de Prata. Para além disso, o vinho Reserva das Pedras Fernão Pires branco 2018 foi eleito o “Melhor Fernão Pires” e o Casa da Atela Vinhas Velhas Castelão tinto, de 2021, o “Melhor Castelão”. A competição contou com 50 jurados, que avaliaram 216 amostras a concurso.
No que se refere às empresas e personalidades da região, foram distinguidos a Adega de Almeirim como “Empresa Dinamismo”, a Quinta do Casal Monteiro como “Empresa Excelência” , Pedro Gil como “Enólogo do Ano”, distinção que lhe foi concedida pela terceira vez, e Manuel Azoia Gabirra com o “Prémio Carreira”.
No evento foram também atribuídos os prémios do Concurso Tejo Gourmet, que distingue restaurantes de todo o país que aliam a sua gastronomia a uma boa carta de vinhos do Tejo e um bom serviço. Numa competição que teve uma participação record de restaurantes concorrentes, foram atribuídas 11 medalhas Grande Ouro, 24 medalhas de Ouro e 25 de Prata. O restaurante Desarma do Hotel The Views Baía, do Funchal, foi o mais distinguido, tendo alcançado os títulos de “Melhor Restaurante”, “Melhor Cozinha de Autor” e “Melhor Harmonização”.
O estabelecimento com “Melhor Cozinha Internacional” foi o Amassa, de Santarém, enquanto que a “Melhor Carta de Vinhos” distinguiu o Roots, de Torres Vedras. O prémio para a “Melhor Cozinha Tradicional” foi para o restaurante À Terra, de Moncarapacho, o da “Melhor Harmonização” foi para o Landeira, de Tomar, e a “Melhor Casa de Petiscos” foi o Tum Tum, de Torres Novas.
Lagoalva de cima: Um ícone do Tejo
A Quinta da Lagoalva de Cima tem 660 hectares e fica muito próxima de Alpiarça, na margem Sul do Tejo, a Nordeste de Santarém. A quinta é muito antiga. Há referências datadas de 1193. É há muitos anos propriedade da família Louçã Campilho, hoje seis irmãos, filhos da recentemente falecida Dona Isabel Juliana, aliás devidamente […]
A Quinta da Lagoalva de Cima tem 660 hectares e fica muito próxima de Alpiarça, na margem Sul do Tejo, a Nordeste de Santarém. A quinta é muito antiga. Há referências datadas de 1193. É há muitos anos propriedade da família Louçã Campilho, hoje seis irmãos, filhos da recentemente falecida Dona Isabel Juliana, aliás devidamente homenageada ainda em vida com um vinho topo de gama com o seu nome. A família explora um total de 5500 hectares, com muita floresta de sobreiros, eucaliptos e pinheiros, produção animal, incluindo gado e coudelaria, e ainda milho, batata, couves, e muitas outras diferentes culturas. De vinha são 45ha, todos em Alpiarça. Com o nome da quinta, apenas chegam ao consumidor o vinho e o azeite.
Dias quentes e noites frias
A vinha fica muito próximo do rio Tejo e o clima dá dias muito quentes e noites frias. As castas foram plantadas em diversas parcelas, e ao longo dos anos têm sido feitas alterações para optimizar o seu desempenho. Muitas vinhas estão em solos de aluvião, e já aconteceu ficarem inundadas, apesar de hoje as cheias serem pouco frequentes. Com as vinhas em dormência, quando as águas baixavam voltavam a rebentar sem problemas. Outras culturas nestes solos estariam perdidas. Segundo Pedro Pinhão, há 20 anos enólogo na propriedade e hoje com a responsabilidade desta área, em 1979 a casa da quinta chegou a estar toda alagada. No início dos anos 1990 desenvolveu-se muito o regadio, para melhor controlar os ciclos vegetativos das várias castas. O Arinto é complicado na vinha, tem cacho grande mas pouca produção, precisa de muito trabalho. O Alfrocheiro vem de uma vinha velha, oriundo dos primos Soares Franco, da José Maria da Fonseca.
A Lagoalva chegou a ter 200 ha de vinhas, mas o enfoque era na quantidade, não na qualidade. Era o tempo do granel. Essas terras passaram a produzir culturas de Primavera e Verão. O primeiro rótulo da Quinta da Lagoalva é de 1989, quando começou a conversão da quantidade para a qualidade. Aliás, este é um ano inicial para muitos outros produtores ao longo de todo o país.
A Lagoalva foi pioneira no plantio da Syrah, com uma vinha de 1984. Na altura tinham parcelas de Tinta Carvalha, a produzir 40ton/ha, para granel. A casa apostou muito na exportação, e teve algumas combinações de sucesso entre castas portuguesas e internacionais, para atrair o olhar dos consumidores. Exemplos que se tornaram clássicos são o Arinto/Chardonnay e a Syrah/Touriga Nacional.
Recentemente, a restruturação das vinhas levou à plantação de castas brancas nos solos mais profundos. Um exemplo é o Sauvignon Blanc, que é podado à máquina, primeiro pré-poda e depois poda de precisão. É mais rápida do que a poda à mão e mais eficiente do ponto de vista de mão de obra. Os tintos estão plantados em solos mais pobres, arenosos. 95% da vindima é feita à máquina, sempre à noite, entre as 2h e as 8h da manhã, já que Outubro é muito quente. Apenas os topos de gama são feitos à mão, por uma equipa de 10 a 12 pessoas. A quinta tem muitas castas exóticas, por razões históricas. Por exemplo, tem Tannat em solos de aluvião, mas esta casta precisa de solos de areia, mais pobres. Do ponto de vista agrícola, é mantido um enrelvamento natural entre as linhas de videiras. Pode inclusive ser de sementeira, para ser mais vigoroso e consumir mais água. Faz-se uma agricultura de conservação, não lavram nem mobilizam muito o solo para controlar infestantes. Esta prática começou há 30 anos na cultura do milho. Todas as vinhas estão em produção integrada e o olival também.
Mais brancos que tintos
A quinta tem um talhão de 2,5ha com Alfrocheiro em agricultura biológica (“há muita pressão comercial para ter biológico”, dizem-nos), parcela isolada das outras numa zona franca de transição entre campo e areia, com pouco vigor e sem muitos problemas para controlar o míldio, que é a principal doença vitícola na região. Esta vinha foi plantada em 1974 e origina o Grande Reserva Alfrocheiro. Com muita precipitação e muito vigor, não seria competitivo produzir biológico em todos os 45ha de vinha. A vinha do Alfrocheiro fazia monda de cachos para reduzir a produção. O míldio faz uma monda natural, a vinha passa a 3ton/ha. E assim mantém a qualidade desejada.
Com solos férteis, é preciso reduzir a produção. As novas vinhas têm cepas espaçadas a 2,3m por 1m. Em 2010 ainda plantavam a 3m para os tratores passarem. Não se compravam tratores próprios para a vinha. Assim, as produções são de 15 a 16ton/ha no Chardonnay e 28 a 30 ton/ha no Fernão Pires. O Sauvignon Blanc, que é casta de cacho pequeno, aguenta 20 a 25 ton/ha e mantém a qualidade. O Arinto chega a ter cachos de 1kg e dá produção a mais, cerca de 28 a 30/ton/ha. Mas na vinha velha a produção é de 7 a 8ton/ha e tem grande qualidade.
A poda mecânica de precisão é uma ferramenta útil, em particular pela falta de mão de obra e pelas alterações climáticas que exigem acção rápida: “não podemos vacilar”, diz Pedro Pinhão, e acrescenta: “Não consigo produzir grandes tintos com grandes produções, mas os brancos sim. Com qualidade que se reflecte no bolso do consumidor.” Claro que para o Grande Reserva branco, fermentado em barrica, recorre-se à vinha velha de Fernão Pires, com menos de 2ha, podada e vindimada manualmente.
A rega nas novas plantações é também uma ferramenta para controlar os fenómenos climáticos. Sustentabilidade sim, mas com sustentabilidade económica também. Em termos de distribuição de castas, a área é metade de tintas e metade de brancas, mas a produção de brancos é 70% do total. 70/30 também é a distribuição entre mercado nacional e exportação.
A equipa é liderada há dois anos por Pedro Pinhão, e conta ainda com Luís Paulino na enologia e Cristina Barreira no controle de qualidade. Com Rita Barosa como CEO da quinta, os desafios do crescimento têm sido encarados com coragem. De 650 mil garrafas em 2022, passaram para 1,4 milhões em 2023, muito graças a um vinho colocado no cabaz do Pinto Doce. Em 2024 o orçamento prevê 1,1 milhões de garrafas. O vinho na Lagoalva passa por dores de crescimento, com o rebranding de todos os produtos, novas propostas para o mercado e grandes projectos programados para o próximo biénio, incluindo grandes obras na adega. Os depósitos de cimento de 25 mil litros são muito estáveis em termos térmicos, e permitem encarar aumentos na produção. 2023 foi já o melhor ano de sempre, com mais de 3M€ de facturação. Ao mesmo tempo, os vinhos estão melhores que nunca. O portefólio tem 14 vinhos, incluindo Lagoalva e Quinta da Lagoalva. A Syrah e o Alfrocheiro plantados em 1984 e 1974 continuam a ser bandeiras da casa. O topo de gama Dona Isabel Juliana nasceu com o tinto em 2009 e o branco em 2018. Em verdade vos digo: são grandes vinhos que vale a pena provar. Regressa um dos grandes ícones da região Tejo, que tanto deles precisa.
(Artigo publicado na edição de Maio de 2024)
Wine bar Tão Longe, Tão Perto com vinhos servidos em torneira
O wine bar Tão Longe, Tão Perto, marca que nasceu em S. Paulo, no Brasil com o conceito de apenas servir vinhos em torneiras, abriu recentemente o seu primeiro espaço em Portugal, em Vila Nova de Gaia. “Queremos promover a sustentabilidade, reduzindo a produção, transporte e descarte de embalagens de vidro, promover a economia circular […]
O wine bar Tão Longe, Tão Perto, marca que nasceu em S. Paulo, no Brasil com o conceito de apenas servir vinhos em torneiras, abriu recentemente o seu primeiro espaço em Portugal, em Vila Nova de Gaia.
“Queremos promover a sustentabilidade, reduzindo a produção, transporte e descarte de embalagens de vidro, promover a economia circular e facilitar o acesso a vinhos de qualidade a preços competitivos”, explicam Carlos e Ana Carolina Chaves, dois dos sócios da Casa Tão Longe, Tão Perto em Portugal, a propósito do novo conceito. “Procuramos aproximar o público a uma nova geração do vinho português, com quem trabalhamos de forma muito próxima”, acrescentam.
Nas torneiras do Tão Longe, Tão Perto estão disponíveis seis vinhos, entre os quais dois tintos, dois brancos, um rosé e um orange wine de quatro produtores: Quinta do Javali e Pormenor, da região do Douro, APRT3- Wine Creators, de Lisboa e Textura Wines, do Dão. Para os acompanhar o wine bar oferece uma selecção de queijos e enchidos artesanais, azeitonas e pão.
Situado numa artéria da cidade que desagua na Ribeira, o Tão Longe, Tão Perto ocupa um edifício com mais de 70 anos, onde as paredes de granito foram preservadas e saltam à vista as torneiras de vinho, o sofá, as mesas altas, o balcão exterior e uma grande janela com vista para as caves de vinho do Porto, o rio Douro e as cidades do Porto e de Vila Nova de Gaia.