Johnny Symington reforma-se em Fevereiro

Johnny Symington, Presidente do Conselho de Administração da Symington, reforma-se, no final de Fevereiro, após 40 anos na empresa. Os Symington, de ascendência escocesa, inglesa e portuguesa, são produtores de vinho do Porto no norte de Portugal desde 1882. Há cinco gerações que produzem vinhos do Porto e, mais recentemente, vinhos tranquilos, com um forte […]
Johnny Symington, Presidente do Conselho de Administração da Symington, reforma-se, no final de Fevereiro, após 40 anos na empresa.
Os Symington, de ascendência escocesa, inglesa e portuguesa, são produtores de vinho do Porto no norte de Portugal desde 1882. Há cinco gerações que produzem vinhos do Porto e, mais recentemente, vinhos tranquilos, com um forte compromisso com a região e as suas pessoas.
Hoje, nove membros da família trabalham nas casas de vinho do Porto desta empresa familiar – Graham’s, Cockburn’s, Dow’s e Warre’s –, que também produz vinhos do Douro Quinta do Vesúvio, Quinta do Ataíde, Altano e na parceria Prats & Symington (Chryseia). Para além destes, integra os projectos mais recentes da Quinta da Fonte Souto, no Alto Alentejo, e da Casa de Rodas, em Monção e Melgaço (Vinhos Verdes) e está presente na produção dos vinhos espumantes Vértice, das Caves Transmontanas, e Hambledon, no Reino Unido, detendo 50% do capital de cada um destes produtores.
Após a retirada de Johnny Symington, Rupert, da 4.ª geração da família, que ocupava o cargo de CEO, assumiu o lugar de Presidente do Conselho de Administração da Symington Family Estates. O seu primo Charles foi nomeado CEO conjunto e continuará a ser o responsável por toda a área de produção de vinhos da família. Rob Symington, da 5.ª geração, foi nomeado CEO conjunto e terá, a seu cargo, a orientação da área comercial, enoturismo, people and culture e sustentabilidade. Juntam-se-lhes seis outros elementos da 5.ª geração: Charlotte, Harry, Anthony, Vicky, Teresa e Hugh, com responsabilidades nas áreas de marketing, vendas e enoturismo.
“Tenho enorme confiança naqueles que me sucedem e no futuro”, diz Johnny Symington, acrescentando que está convicto que “o legado e reputação de qualidade e confiabilidade” da empresa “irão perdurar” e que esta manterá a sua “capacidade de adaptação a um mundo que muito provavelmente mudará nos próximos 40 anos tanto ou mais que nos últimos 40.”
Lisboa vende 69 milhões de garrafas em 2024

A Região dos Vinhos de Lisboa terminou o ano passado com um crescimento de 5% nas vendas, para um máximo histórico de 69 milhões garrafas. “É a confirmação de que os vinhos da Região de Lisboa estão a impor-se cada vez mais no mercado, indo ao encontro de um perfil de consumo que procura sobretudo […]
A Região dos Vinhos de Lisboa terminou o ano passado com um crescimento de 5% nas vendas, para um máximo histórico de 69 milhões garrafas.
“É a confirmação de que os vinhos da Região de Lisboa estão a impor-se cada vez mais no mercado, indo ao encontro de um perfil de consumo que procura sobretudo elegância, frescura, potencial gastronómico e também álcool mais discreto”, explica Francisco Toscano Rico, presidente da Comissão Vitivinícola da Região de Lisboa, a propósito dos números revelados pela sua CVR. “A afirmação da Região de Lisboa é resultado do trabalho que tem vindo a ser desenvolvido pelos diversos produtores, em articulação com a promoção nacional e internacional coordenada entre todos os agentes, com o apoio da CVR Lisboa, por exemplo através do investimento promocional realizado, que ascendeu a cerca de um milhão de euros”, acrescenta.
A dinâmica da Região dos Vinhos de Lisboa é fortemente alavancada pelo desempenho no mercado internacional, que representa 80% das vendas repartidas por cerca de 100 países, liderados pelos Estados Unidos da América, Reino Unido, Brasil, Canadá, países escandinavos, Alemanha e Polónia. O mercado nacional representa a restante fatia de 20% nas vendas. Nas diversas categorias de produto, o vinho branco cresceu 12%, o vinho rosé 22% e o vinho Leve Lisboa apresentou uma evolução exponencial de 88%.
Entrevista com Dora Simões: “O ‘novo’ estilo de Verde precisa de um nome”

Desde há pouco mais de dois anos assume na região dos Vinhos Verdes funções semelhantes às que desempenhou no Alentejo. Existindo certamente, desafios comuns às duas regiões, o que é que, no seu entender, principalmente as distingue em termos de mercado, estrutura produtiva ou organização institucional, por exemplo? Em termos de organização e tradição de […]
Desde há pouco mais de dois anos assume na região dos Vinhos Verdes funções semelhantes às que desempenhou no Alentejo. Existindo certamente, desafios comuns às duas regiões, o que é que, no seu entender, principalmente as distingue em termos de mercado, estrutura produtiva ou organização institucional, por exemplo?
Em termos de organização e tradição de uma região, faz diferença ter 116 anos ou ter 25 anos de região demarcada, marco que eu ainda celebrei no Alentejo. Embora a idade não altere a produção de vinho em si, altera a história de uma região e introduz condicionantes na forma de a gerir. Mas, de uma forma geral, enquanto entidade certificadora, as coisas estão tão harmonizadas que, embora podendo existir “afinações” diferentes, os procedimentos são hoje muito idênticos de região para região. Haverá sempre coisas a melhorar, mas os standards estão muito bem definidos.
O mercado dos Vinhos Verdes e do Alentejo é muito distinto?
O mercado onde se opera é igual, a comunicação e a narrativa é que são muito diferentes. O apelo ao consumo é distinto. Passámos uma época em que o vinho tinto cobria a grande maioria das preferências do mercado, e hoje isso está a mudar. Não existem dados muito evidentes sobre quanto é que mudou, mas existe uma percepção clara de mudança. A sazonalidade de consumo que outrora existiu nos brancos e que condicionou os Vinhos Verdes esbateu-se muito.
O que mais a surpreendeu nos Vinhos Verdes quando começou a aprofundar o seu conhecimento sobre a CVRVV, a região, os produtores, o mercado?
Em primeiro lugar, a Comissão é uma casa muito bem montada e foi muito bem orientada durante muito tempo. Tornou-se assim fácil o envolvimento e o trabalho com a generalidade dos departamentos. É uma entidade bastante orientada para a promoção, com um departamento de marketing bem estruturado e com conhecimento do mercado. No que diz respeito à fiscalização e controlo da região, está hoje a um nível que quase nenhuma região em Portugal tem. A região e os seus produtores têm igualmente uma larga experiência de mercados internacionais. Os produtores são profissionais, viajam muito, vão às feiras, conhecem as especificidades de cada mercado. E isto é algo que mudou imenso nas últimas décadas.
Quando eu estava na ViniPortugal, em 2004, lembro-me do que era o Vinho Verde e sei aquilo que é hoje. Claro que a mudança é transversal às várias regiões, mas esta tremenda evolução “comercial” é muito evidente nos Vinhos Verdes. Há muito a fazer, sempre, mas o nível de profissionalização da região dos Vinhos Verdes, quando comparado com outras, é muito elevado.
O perfil dos produtores é muito variado…
O tecido empresarial é muito pulverizado. É salutar que esta seja uma região com operadores relativamente grandes. Mas existe, entre os muito grandes e os muitos pequenos, uma faixa de operadores médios tremendamente dinâmicos. Acho que o mercado nacional tem uma fraca percepção dessa dinâmica, porque muitos produtores de Vinho Verde trabalham, sobretudo, para exportação. E muitos, exportam largas centenas de milhar de garrafas. E, depois, temos os mais pequenos, que produzem frequentemente menos de 50 mil garrafas.
“Os dois perfis de Verde são bastante distintos. E é fundamental que o consumidor saiba o que está dentro da garrafa antes de fazer a compra”
A área de vinha (pouco menos de 17.300 hectares) caiu bastante na década de 2010. A produtividade, porém, aumentou significativamente, devido as reestruturações e ganhos de eficiência. Ainda assim, tirando a sub-região de Monção e Melgaço, onde o preço da uva é bem mais elevado do que a média da região, pode uma família de lavradores viver de vender uvas?
Depende muito da dimensão da propriedade. Infelizmente temos poucos ou nenhuns estudos sobre isso. Não sabemos que dimensão é necessária para poder dar condições de vida a uma família de viticultores. Lembro-me que quando do estudo Porter se falava em entre cinco a sete hectares, para originar um rendimento um pouco acima do salário mínimo. Passaram 20 anos e hoje a área necessária será certamente acima disto.
Quanto ao decréscimo da área de vinha, é importante termos em conta duas coisas. Primeiro, é verdade que há muita gente a abandonar, mas também há um grande processo de consolidação, ou seja, há muitos produtores profissionais a adquirir vinhas a outros viticultores. Por outro lado, o decréscimo do número oficial de vinha plantada tem igualmente a ver com a crescente eficiência da fiscalização. Há muita vinha abandonada há muito, de que só em anos recentes tem sido dado baixa.
No entanto, não deixa de ser evidente, para quem conhece a região, que o preço médio praticado na compra da uva não é o mais adequado. Deveria ser mais elevado para acomodar os gastos de uma viticultura que não é fácil. Ainda que, sendo baixo, o preço está longe de ser dos mais baixos comparado com outras regiões de Portugal. Até é bastante acima da média.
Por tudo isso, e respondendo em concreto à sua questão, com a dimensão média da propriedade na região não é fácil ser-se viticultor e viver de produzir e vender uva. Acredito que seja preciso bem mais de uma dezena de hectares. Mas também acontece que muitos são viticultores a tempo inteiro depois de uma carreira bem sucedida noutras áreas de actividade. E não é apenas por saudosismo ou paixão pela terra. Depois de terem feito a reconversão da vinha, com o claro aumento de produtividade, esta passou a, pelo menos, compensar os gastos que com ela têm. O Alvarinho de Monção e Melgaço é, claro, um caso raro. Aí não é preciso ter uma área de vinha muito grande para o retorno ser compensador.
A produção de Verde tinto parece estar em contínuo decréscimo. Na vindima de 2023, em conjunto com os rosés, valeu cerca de 11,5 milhões de litros versus 72 milhões de vinho branco. Sabendo-se que os rosés estão em crescendo, isso significa que a queda dos tintos, outrora líderes na região, é maior ainda. Está o Verde tinto condenado?
Espero que não. Mas sem dúvida que está em risco de extinção. E temos de inverter esta curva decrescente, que é perigosíssima. Se na região nunca tivesse existido tradição de uva tinta, até se podia entender. Mas não é o caso, antes pelo contrário. O risco de perder a uva tinta significa também o risco de se perder diversidade genética, de se perder o conhecimento das castas, da sua aptidão e do seu contributo para o futuro da região. Os rosés estão, e ainda bem, a crescer, mas sem as uvas tintas não conseguimos fazer rosé. E com os tintos assentes quase exclusivamente numa casta, o Vinhão, também não se consegue fazer grande diversidade de rosé e, muito menos, no estilo que hoje conquista os mercados. Os brancos e rosés estão na moda e os tintos em baixo. Mas isso é hoje. Como sabemos, estas vagas mudam e, por vezes, de forma rápida. E se nós estamos com uma produção residual de uva tinta podemos vir a ter dificuldades no futuro.
Na CVRVV procuramos sensibilizar os produtores para este problema e sentimos a responsabilidade de ajudar a inverter esta situação. Temos dado passos para se perceber melhor as diversas uvas tintas da região, avaliando o seu potencial para a produção de rosés e de tintos mais leves e elegantes. Não precisamos de castas de fora para isso. Acreditamos que temos uma grande variedade de castas tintas autóctones, que temos de estudar e perceber até onde podem ir. Temos uma agenda de investigação e desenvolvimento na EVAG (Estação Vitivinícola Amândio Galhano) e estamos particularmente focados nas castas tintas. Aí realizamos investigação aplicada, realizando microvinificações com algumas castas minoritárias no sentido de perceber quais as mais indicadas para tintos e rosés, em distintos perfis. E todos os anos os vinhos produzidos são provados por um pequeno grupo de especialistas. Com as conclusões desse trabalho, vamos na EVAG criar material vegetativo, para poder disponibilizar varas ou enxertos-prontos. A ideia é gerar informação técnica (vinha, adega e prova) credível e consistente, e colocá-la à disposição dos produtores, para que possam olhar para essas castas minoritárias como opções válidas para desenvolver o seu negócio.
A exportação representa cerca de 60% do negócio dos Vinhos Verdes. Mas também o mercado nacional tem tido um bom desempenho. O preço médio, no entanto, continua abaixo da média nacional, alinhado com Lisboa, acima de Setúbal e Tejo, mas abaixo das restantes regiões. O Vinho Verde está ainda demasiado barato?
Sim, é um facto. Infelizmente, há tradições negativas que demoram a quebrar e este é um caso, existe a convicção generalizada de que “aquele vinho” tem aquele preço. Mas isso parte também do produtor. Conhecemos vários produtores que trabalham em diferentes regiões e eles próprios posicionam os seus Vinhos Verdes a um preço mais baixo. Podem argumentar que as pessoas não estão dispostas a pagar mais por um Vinho Verde. Mas é precisamente isso que nós temos de combater. Claro que isso só se consegue tendo produtos equiparáveis. E é aí que esta questão do assumir de dois estilos de Vinho Verde, um mais “tradicional” e popular, outro mais ambicioso e longevo, se torna fundamental. E, mesmo assim, mesmo fazendo grandes Vinhos Verdes brancos, temos de ter a noção de que, no mundo inteiro, e com raras excepções, o preço médio do vinho branco é inferior ao do tinto. Ou seja, há dois degraus difíceis que é preciso subir, e esse é um trabalho colectivo que é necessário fazer.
A CVRVV tem procurado comunicar esse conceito dos dois estilos de Vinho Verde. Mas essa distinção não está plasmada na lei. Não existe um designativo na rotulagem, um nome que os diferencie aos olhos do consumidor. Como se pode passar a mensagem sem esse suporte?
Não tem sido um assunto fácil, e quando da passagem de “pasta” por parte da anterior direcção da CVRVV, este foi-me indicado como tema de urgente resolução. Fundamentalmente, não tem havido acordo entre os produtores para o nome desta “nova” categoria de Vinho Verde. Vamos lançar um inquérito aos agentes económicos, para perceber a sua opinião. Mas, Direcção e Conselho Geral, entendemos que é fundamental existir essa designação. Até porque os dois produtos, o Verde mais “clássico”, leve, com “borbulha” e alguma edulcoração, e o Verde mais moderno, seco, intenso e longevo, são bastante distintos. E é fundamental que o consumidor saiba o perfil que está dentro da garrafa antes de fazer a sua compra. Porque, caso contrário, poderá haver um risco de desilusão, que vai jogar contra um ou outro produto.
Uma coisa tão simples e básica quanto ter ou não ter gás adicionado é algo que o consumidor só percebe depois de abrir a garrafa…
Claro, e isso não pode continuar. Há que assumir estes dois perfis como características intrínsecas dos produtos, ter orgulho neles, mas evidenciar essa diferença com um designativo, uma palavra, na rotulagem. Claro que encontrar o nome certo exige consenso e os consensos são difíceis de alcançar. Mas é preciso urgentemente fazê-lo. E mesmo que o nome não seja perfeito, é preferível ajustar mais tarde do que não actuar agora, continuando a limitar a ambição do Vinho Verde, em termos dos mercados e preços que pode atingir. Isto é absolutamente prioritário.
Durante muitas e muitas décadas o Vinho Verde “vendeu-se” como um produto “único no mundo”, diferente de todos os outros, o que lhe permitiu correr numa pista à parte, sem concorrência. O dano colateral, no entanto, foi colá-lo à imagem de um produto simples, popular, pouco “exigente”, se quisermos. Neste início de 2025, como é que o Vinho Verde quer ser visto pelos consumidores?
Temos de saber jogar com tudo isso. O facto de o Vinho Verde mais “tradicional” ter alguma simplicidade, ser leve, poder ser bebido de forma descontraída, é-nos muito útil para cativar uma faixa jovem de mercado que está a “fugir” do vinho mais “complicado”. Mas precisamos também da outra categoria mais ambiciosa, para nos batermos de igual para igual com aqueles que são considerados grandes vinhos do mundo. Precisamos de ganhar valor. E temos a forma ideal de o fazer, através nas nossas castas, Alvarinho, Loureiro, Avesso, etc. Comunicar através da casta é mais facilmente compreensível, mais facilmente exportável. Em resumo, precisamos de fazer passar a mensagem, internamente, entre os produtores, e para o exterior, para os consumidores.
“A sazonalidade de consumo que outrora existiu nos brancos e que condicionou os Vinhos Verdes esbateu-se muito”
Foi no seu consulado à frente da CVR Alentejo que foi desenvolvido e implementado o Plano de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo (PSVA), que se tornou uma referência nacional e internacional. Como está a região dos Vinhos Verdes em termos de sustentabilidade ambiental?
Quando esta direcção tomou posse, havia já um plano de sustentabilidade em marcha, ainda não implementado. Coincidindo com o início deste mandato, surgiu igualmente o Referencial Nacional de Sustentabilidade do Instituto da Vinha e do Vinho, um conjunto de orientações transversais não adaptado especificamente a cada região. No que ao Vinho Verde respeita, acreditamos que fazer um plano novo, de raiz, tal como se fez no Alentejo, será estar a trabalhar sobre algo que já existe. Assim, o que foi decidido foi adoptar o Referencial Nacional como base para quem quiser medir a sua evolução nesta área, podendo depois certificar-se neste Referencial ou noutro que possa ser mais interessante para o seu negócio. Paralelamente, contratámos um especialista em sustentabilidade que tem, como primeira tarefa, acompanhar os produtores na utilização do Referencial Nacional e na preparação para o cumprir.
Depois, o segundo passo vai ser definir e implementar uma parte específica para o Vinho Verde. Dou-lhe um exemplo: os recursos hídricos. Aqui estamos tão habituados a ver água que parece que não existem carências hídricas. Mas elas existem e são imensas. E falta-nos o conhecimento – que porventura existe noutras regiões há muito habituadas a ter pouca água – para tirar o melhor partido da água. Precisamos, hoje, de aprender a gerir a escassez. Outro exemplo: pelas suas condições climáticas, nos Vinhos Verdes fazemos mais tratamentos do que noutras regiões. Ao mesmo tempo começam a aparecer doenças a que não estávamos acostumados. A região precisa de criar um programa de tratamentos sustentáveis muito mais específico do que o existente no Referencial Nacional.
Adicionalmente, a certificação no Referencial Nacional precisa de ser mais promovida a nível nacional e mundial. Os produtores necessitam de ver vantagens económicas e comerciais concretas em aderir ao Referencial Nacional. É que existem diversas certificações mundiais, com grande promoção associada. E uma empresa vai aderir às que lhes parecerem mais vantajosas para o seu negócio, por exemplo, em função dos mercados onde mais vende.
Que méritos vê no modelo orgânico e na sua aplicação a uma região de clima atlântico, como a dos Vinhos Verdes?
Daquilo que vemos na região, temos pouquíssimas empresas a adoptar o modelo de produção biológica. E temos até uma ou outra que já o tiveram e abandonaram. Nesta região, é difícil, ainda que não impossível, cumprir um modelo orgânico. E torna-se muito complicado cumprir tudo durante três anos e, depois, vem um mau ano climático que obriga a falhar as regras e cumprir de novo todo o ciclo. Por outro lado, temos uma situação muito gravosa que tem a ver com a flavescência dourada. Não há região onde a flavescência esteja instalada que consiga cumprir facilmente com os standards do biológico: vai ter de fazer tratamentos. Quem não o fizer pode estar a colocar em risco não apenas a sua própria produção – porque as vinhas vão morrer – mas também as vinhas dos vizinhos. Daí que seja muito importante a questão da Sustentabilidade, porque é um modelo que permite fazer melhor e de forma mais equilibrada, com benefícios para a vinha e para o próprio negócio. Claro que um modelo bio ou biodinâmico não é de todo impossível: mas apenas em áreas muito pequenas e facilmente geríveis.
Um dos maiores sucessos do seu antecessor foi levar de vencida aquela que ficou conhecida como “Guerra do Alvarinho”. Em seu entender, os ganhos para ambas as partes (produtores de Monção e Melgaço e restantes produtores da região) foram suficientes para pacificar esta questão? Ou a relativa autonomia conquistada por Monção e Melgaço ainda é de menos para uns e de mais para outros?
Se olharmos para os números que nos são fornecidos pelos selos de certificação, o segmento que mais aumenta é precisamente o do Alvarinho, produzido em Monção e Melgaço, sobretudo, mas também fora da sub-região. E até com o crescimento de vinhos de nicho, bem valorizados, como é o caso do espumante de Alvarinho. Com o acordo que foi feito no passado, foi também alocada uma verba para a promoção da sub-região de Monção e Melgaço, verba essa que, com a colaboração da CVRVV, tem sido utilizada de forma muito positiva, com inúmeras ações e visitas por parte de jornalistas e compradores. Os resultados positivos são evidentes.
“O Verde tinto está em risco de extinção. E temos de inverter esta curva decrescente, que é perigosíssima”
Esse caminho de progressiva autonomia desenvolvido por Monção e Melgaço pode e deve ser estendido às restantes sub-regiões?
Para isso, os produtores dessas regiões têm de o querer. Quando olhamos para os números de certificação com sub-região (identificada na rotulagem), Monção e Melgaço está à frente, a enorme distância do Lima, que vem a seguir. Mas depois não há muito mais. E são nove sub-regiões nos Vinhos Verdes! Portanto, a vontade dos produtores não parece ser evidenciar a sub-região onde produzem, preferindo ficar apenas com a denominação Vinho Verde.
A Dora Simões já correu o mundo do vinho em funções muito distintas, O que é mais difícil? Convencer o comprador de um supermercado inglês a referenciar o seu produto ou gerir um Conselho Geral de uma CVR?
Nunca me tinham feito essa pergunta… Apesar de tudo, penso que é mais difícil ser produtor. Exige uma resiliência enorme: implica ouvir muitas recusas, não conseguir atingir objectivos, ter de gerir um negócio a céu aberto com imensos imponderáveis. Produzir vinho é um risco. Muitas destas novas categorias de bebidas (a kombucha, por exemplo) são fáceis de fazer, implicam muito menos investimento e não dependem da natureza. Mas chegam à prateleira e custam o mesmo que o vinho.
É certo que fazer parte da direcção de uma CVR pode ter aspectos ingratos e não tem muitas das recompensas de ser produtor. Aqui ninguém está à espera de levar uma palmadinha das costas por ter conseguido isto ou aquilo. Mas isso faz parte da função. Ser produtor de vinho é bem mais exigente.
Sei que não vai mencionar marcas, mas qual a casta ou perfil de Vinho Verde que mais aprecia no copo?
Na verdade, sou muito eclética quanto a perfis de vinho. Aprecio estilos muito diversos, por vezes dependendo do momento. Mas estou mais acostumada, até pelo tempo que passei na Alemanha, a beber vinhos brancos com fruta, frescura e potencial de longevidade. Aqui, Alvarinho e Loureiro, por exemplo, enquadram-se muito bem.
(Artigo publicado na edição de Janeiro de 2024)
Altas Quintas celebra dias dos namorados com “Diálogos que Apaixonam”

Sob o mote “Uma mesa, dois corações e diálogos que apaixonam”, a Altas Quintas, empresa produtora de vinhos do Alentejo, convida os casais a viverem momentos genuínos de conexão e partilha. O destaque desta campanha é um conjunto composto por uma garrafa do vinho Conversas da Talha e um cubo desbloqueador de conversas, que inclui […]
Sob o mote “Uma mesa, dois corações e diálogos que apaixonam”, a Altas Quintas, empresa produtora de vinhos do Alentejo, convida os casais a viverem momentos genuínos de conexão e partilha.
O destaque desta campanha é um conjunto composto por uma garrafa do vinho Conversas da Talha e um cubo desbloqueador de conversas, que inclui perguntas destinadas a criar interações leves e divertidas, para transformar, cada refeição, num momento de cumplicidade e boa disposição.
Para tornar a data ainda mais especial, a Altas Quintas lança um passatempo em parceria com restaurantes selecionados em todo o país. No dia 14 de fevereiro, casais que pedirem Conversas da Talha em qualquer um dos aderentes podem ganhar uma refeição romântica. São eles o Barracão do Petisco, em Santa Bárbara, Tropicana, Nadadouro, Lugar Marcado, Lisboa, Satélite da Graça, Lisboa, O Tavira, Setúbal e Taberna 22, Torres Vedras.
“Queremos que o Conversas da Talha seja, mais do que um vinho, um convite a momentos especiais, partilhas autênticas e diálogos que realmente apaixonam”, salienta, a propósito da iniciativa, Tiago Correia, enólogo das Altas Quintas.
Direct Wine Nacional distribui Quinta do Portal, Cazas Novas e Quinta do Mondego em Portugal

A Direct Wine Nacional, empresa do Grupo The Fladgate Partnership, reforçou a sua posição no mercado nacional ao assumir, no início de 2025, a distribuição exclusiva das marcas Cazas Novas, Quinta do Portal e Quinta do Mondego. Para Paulo Cunha, administrador da área de distribuição do grupo The Fladgate Partnership, “a integração da Quinta do […]
A Direct Wine Nacional, empresa do Grupo The Fladgate Partnership, reforçou a sua posição no mercado nacional ao assumir, no início de 2025, a distribuição exclusiva das marcas Cazas Novas, Quinta do Portal e Quinta do Mondego.
Para Paulo Cunha, administrador da área de distribuição do grupo The Fladgate Partnership, “a integração da Quinta do Portal, Cazas Novas e Quinta do Mondego” no portefólio da empresa “reforça o compromisso da Direct Wine Nacional em oferecer produtos de elevada qualidade, consolidando a sua posição junto dos nossos clientes”.
A primeira fica na região dos Vinhos Verdes e destaca-se pela produção de vinhos elegantes e distintos, da casta Avesso, cujo encepamento ocupa 24 dos cerca de 100 hectares das quatro quintas da empresa. Aliando métodos de produção sustentáveis à inovação, esta casa tem vindo a consolidar a sua presença nos mercados nacional e internacional. A Quinta do Portal é um produtor reconhecido de vinhos do Douro, do Porto e Moscatel, tendo sido pioneira na produção de vinhos de mesa da região. Em março de 2024, a The Fladgate Partnership adquiriu-a, integrando-a no seu grupo e alinhando-a com a sua estratégia global. A Quinta do Mondego, situada na região do Dão, é conhecida pelos seus vinhos, que expressam a autenticidade e a singularidade do seu terroir. São 70 hectares de terra, dos quais 20 de vinha, com mais de 1,5 km de extensão ao longo do rio Mondego.
Herdade da Mingorra: Nas terras da família Uva

Em pleno Baixo Alentejo, na casa rústica e acolhedora da Herdade da Mingorra, ao crepitar de uma grande lareira, viajámos pela história desta herdade na companhia dos seus quatro principais rostos – Henrique Uva, o patriarca e o fundador, as filhas Maria e Sofia e Pedro Hipólito, o director geral da empresa, que tem acompanhado […]
Em pleno Baixo Alentejo, na casa rústica e acolhedora da Herdade da Mingorra, ao crepitar de uma grande lareira, viajámos pela história desta herdade na companhia dos seus quatro principais rostos – Henrique Uva, o patriarca e o fundador, as filhas Maria e Sofia e Pedro Hipólito, o director geral da empresa, que tem acompanhado o projecto desde o início.
O sucesso da Herdade da Mingorra deve-se às decisões certas tomadas nos momentos cruciais e a uma adaptação constante às condições climáticas e do mercado. O essencial é aposta na uva própria, gestão inteligente de processos desde a vinha à rede comercial e a abertura à inovação a todos os níveis. Resumindo, não compram um quilo de uva e não têm um litro de vinho em excesso no armazém. E estamos a falar de uma produção superior a um milhão de garrafas, com qualidade e criatividade na abordagem.
20 anos de evolução
A aventura começou há 20 anos, quase na véspera de Natal de 2003, quando Henrique Uva apresentou a sua proposta, ambiciosa e desafiante, a Pedro Hipólito, à data responsável de produção na Adega de Redondo.
Naquela altura, Henrique Uva já tinha, na sua posse, uma propriedade, a 20 km de Beja, com 1400 hectares, que construiu adquirindo pequenas herdades quase contíguas, onde, para além de 125 ha de vinha, teve olival, amendoal e áreas florestais.
Nos anos 1990, a venda de uva era extremamente rentávelm com os preços a ultrapassar um euro por quilo. Na viragem do século, o mercado mudou e os preços foram reduzidos a menos da metade. Produzir o seu próprio vinho e construir uma marca foi a decisão que Henrique Uva tomou. Para a sua realização, precisava de uma adega com dimensão considerável e de uma pessoa competente para assegurar o projecto. A pessoa certa foi Pedro Hipólito, enólogo com imensa experiência na definição do layout, dimensionamento e gestão de adegas com esta ordem de grandeza. Talvez o maior desafio para Pedro foram os prazos: Henrique queria ter a adega pronta em agosto de 2004. E assim foi. A vindima decorreu na adega nova, perfeitamente funcional e bem dimensionada para as necessidades do projecto.
Quem está na produção de vinhos sabe perfeitamente que os primeiros anos nunca são fáceis. A Herdade da Mingorra tinha vinha e adega, mas a marca e o mercado ainda estavam por desenvolver. A conjuntura do mercado indicava o caminho mais fácil – foco na produção de vinho a granel que, naquela altura, era escasso. Mas Henrique queria afirmar-se e evoluir pela qualidade. A sensatez de não ir atrás da rentabilidade imediata “permitiu criar condições para perceber o que queremos e dar tempo para que as coisas evoluam” – relata Pedro Hipólito e acrescenta: “não podíamos pensar que iriamos vender cerca de um milhão de garrafas rapidamente”. Por isto foi estabelecido um plano: vender 20% de vinho engarrafado, para ir construindo o mercado e o resto a granel para rentabilizar o esforço, aumentando gradualmente a parte do vinho engarrafado com a marca própria até chegar aos 100%. Só conseguiram este objectivo em 2015.
O sucesso da Herdade da Mingorra deve-se às decisões certas tomadas nos momentos cruciais e a uma adaptação constante às condições climáticas e do mercado.
Aposta na uva própria
Uma das convicções de Henrique Uva, logo desde o início, foi trabalhar só com a uva própria. “Nós somos muito agricultores” – explica, e desta forma conseguem ter o controlo total da produção e manter a consistência ao longo dos anos.
O encepamento foi passo a passo adaptado ao projecto. É preciso lembrar que, no início dos anos 90, as vinhas plantavam-se para se vender uvas às adegas cooperativas e não para produzir vinhos de qualidade. Assim, no espaço de 20 anos reestruturaram quase 80% de vinha, um pouco por tentativa e erro, porque queriam criar a sua própria experiência e nem todas as castas corresponderam às expectativas. Gradualmente foram aumentando a presença de castas brancas. Em 2015 plantaram-se mais 45 hectares de vinha. Actualmente contam com 170 hectares, divididos em 87 parcelas, dos quais 40% são castas brancas e 60% tintas.
Através das castas regionais procuram expressar o carácter regional; as castas nacionais são bandeiras importantes dentro e fora do país; as castas internacionais fazem sentido no contexto de evolução de estilos, mas nem todas funcionam na região. Por exemplo, em 10 anos tiveram um Merlot muito bom e por duas vezes um Cabernet Sauvignon, castas que não vale a pena manter. “Hoje já estamos encaixados nas castas e no perfil com que nos identificamos”, dizem Henrique e Pedro, com satisfação.
Para além dos cuidados nas práticas culturais, estão atentos a práticas biotecnológicas inovadoras e implementam-nas na herdade para avaliar os resultados. O uso de leveduras inactivadas na vinha simula o ataque de fungos e estimula o metabolismo secundário das videiras, favorecendo a produção de compostos fenólicos como taninos e antocianas. É uma prática sustentável, que não só aumenta a resistência natural da planta, como melhora a qualidade do tanino e intensifica a cor do vinho. Experimentam também o ensombramento das vinhas mais expostas. Esta prática resulta em 3˚C de diferença de temperatura na copa da planta e em 10 dias de diferença na vindima.
Preferir funcionalidade à beleza
Na adega desenhada por Pedro Hipólito preferiu-se funcionalidade ao design. Os lagares e as cubas pequenas foram projectados para permitir o processamento separado de algumas parcelas, enquanto as cubas maiores foram dimensionadas como múltiplos das menores, possibilitando a junção de parcelas mais homogéneas.
Em 2022 ampliaram a adega e aumentaram a capacidade de recepção, para poder apanhar a uva na altura certa, mesmo que seja em simultâneo. O resultado é o salto qualitativo na gama de entrada. Para os vinhos de gamas mais altas existem barricas de 300 e 700 litros, com tosta escolhida para para não marcar muito o vinho, por um lado e, por outro, para não introduzir duros taninos elágicos. Têm também oito ânforas de cerâmica italianas de 600 litros.
A adega é autossuficiente em energia através dos paineis solares. O investimento recente, para além da ampliação de espaço, abrangeu a construção de um novo armazém de 1000 m2 para engarrafamento e produto acabado e aquisição de uma solução tecnológica extremamente inovadora, Winegrid, que combina sensores inteligentes e software para monitorizar em tempo real o processo de produção de vinhos. Os sensores são colocados dentro dos tanques, lagares ou barricas e recolhem dados essenciais, como densidade do mosto, temperatura, nível de líquido etc., que são enviados para uma plataforma digital, onde podem ser consultados por computador ou smartphone. O enólogo consegue assim acompanhar todo o processo de vinificação e reagir rapidamente quando necessário. A solução permite reduzir desperdícios, poupar na mão de obra e tornar o processo de vinificação mais preciso e eficiente.
Gamas bem definidas
Com a produção extensa, uma boa definição das gamas perceptível pelo consumidor, é indispensável. À gama de entrada é dado o nome Terras d’Uva, pelo feliz trocadilho do apelido e o fruto da videira. Mingorra engloba os Colheita e Reserva, crescendo agora para o Grande Reserva. Todas estas gamas são consistentes e coerentes. A linha “M” é reservada a criatividade e experiências, nela se enquadram os vinhos “fora da caixa”.
A casta duriense Tinto Cão, de maturação tardia e boa preservação de acidez, foi plantada na Herdade da Mingorra em 2009, na vinha da Horta. Não se enquadrou no perfil dos vinhos tintos, foi considerada um erro de casting e estava prestes a ser reenxertada, até ter sido experimentada no papel principal para um rosé ambicioso. E, nesta vertente, a casta conseguiu mostrar o seu potencial. Aguentou o estágio de seis meses em barricas novas de carvalho francês de 700 litros e beneficiou com ele, resultando num rosé sofisticado e encantador.
Outra novidade nesta gama foi um vinho licoroso, feito de Touriga Nacional e Sousão que estagiou em seis cascos de Cognac. Notavelmente menos doce, não tendo muita concentração, funciona bem com esta doçura reduzida o que o torna numa escolha acertada para quem não é muito guloso.
Mais uma novidade absoluta, já na gama principal, é o Mingorra Grande Reserva 2020, feito a partir de uma única parcela, o Talhão 86. Esta área de dois hectares, com solo de xisto e algum calcário, foi plantada em 2017 com sete castas misturadas, escolhidas entre regionais, nacionais e internacionais: Alicante Bouschet, Castelão, Tinta Miúda, Touriga Franca, Syrah, Petit Verdot e Petite Sirah. Tiveram em conta o ponto de maturação das variedades para conseguir a vindima mais homogénea possível.
O famoso talhão 25 e o Vinhas da Ira
Com a aquisição da Herdade dos Pelados, vieram umas parcelas antigas, plantadas em 1978. As vinhas não se encontravam no melhor estado, “agronomicamente era um desastre”. O talhão 14 acabou por ser abandonado, mas o talhão 25 tinha outrora muita fama. É o resultado da selecção massal de uma vinha mãe da Vidigueira. Chamava-se Talhão de Alfrocheiro e, no início, fez muita confusão, porque quando a uva chegava à adega era óbvio que não se tratava só desta casta. Via-se, pelos mostos, que havia lá muita uva tintureira. Quando, em 2004, fizeram um levantamento genético da vinha, foram identificadas 12 variedades misturadas, onde 54% era o Alicante Bouschet, 30% Aragonez e 7% Alfrocheiro, que eram as mais representativas. Também tem Tinta Grossa, Castelão, Moreto e Trincadeira, entre outras. Este talhão de dois hectares origina, desde 2004, o ex-líbris da casa – o Vinhas da Ira. Produzido apenas em anos de excelência, quando a vinha mostra o seu carácter na plenitude, o vinho pode ser considerado um dos clássicos do Alentejo actual.
Vindima-se tudo junto e o Alicante Bouschet serve de referência para a definição da data de colheita. Dá três lagares de três toneladas. Mas às vezes o último lagar não faz parte do lote final, pois alberga uvas vindimadas um pouco mais tarde, que não mostram o nível pretendido da frescura. A meio de fermentação, vai para uma cuba troncocónica e depois de maceração prolongada, estagia 18 meses em barricas novas de 300 litros, de diferentes tanoarias.
Tivemos oportunidade de fazer uma mini vertical esta referência, com excelentes resultados. Aqui deixo as notas de prova – 2009 – Granada com laivos acastanhados; mostra evolução com compotas, notas de carne, um apontamento de ferrugem, certa secura, tanino muito macio e frescura evidente (17,5). 2011 – Concentrado na cor; cereja preta carnuda, esmagada, alcatrão e notas resinosas, louro, tomilho e especiaria; belíssimo na harmonia de conjunto, poderoso, cheio de vida, polido, harmonioso, tanino maduro e redondo, textura de veludo e novamente frescura (18,5); 2014 – Opaco, uma ligeira redução no nariz que se esvanece à medida que o vinho vai abrindo no copo, azeitona preta, café, muita frescura a destacar-se, menos corpo, tanino polido, louro e notas de carne e especiaria no final persistente (18); 2017 – Aroma harmonioso, com fruta pura a lembrar amora e cereja, nuances de eucalipto e mentol; tanino firme, com garra mas sem ferir, concentração sem peso e com frescura, tanino fino e final bem projectado (18,5); 2018 – Especiaria e fruta madura destacam-se no nariz, como a ameixa; elegante e fino, com imensa frescura, guloso e não demasiado encorpado, com muita vida pela frente (18,5). Chegámos a provar também o futuro Vinhas da Ira 2020 que já se mostrava muito bem, rico na fruta preta e vermelha a destacar amora e framboesa, um toque floral e terroso, sedoso na textura e com óptimo polimento. Só será lançado em meados de 2025 e, até, lá continua a repousar em cave. Aqui, ninguém tem pressa.
(Artigo publicado na edição de Janeiro de 2025)
Horácio Simões: E viva a diferença

A Casa Agrícola Horácio Simões iniciou a sua actividade em 1910 e resultou da partilha de terras e empresas pelo bisavô da geração actual, José Carvalho Simões, pelos três filhos que queriam trabalhar em vitivinicultura: Horácio, Dinis e Virgílio. Foram, assim, criadas três casas agrícolas, com áreas bem definidas para comercialização dos seus vinhos. Lisboa, […]
A Casa Agrícola Horácio Simões iniciou a sua actividade em 1910 e resultou da partilha de terras e empresas pelo bisavô da geração actual, José Carvalho Simões, pelos três filhos que queriam trabalhar em vitivinicultura: Horácio, Dinis e Virgílio. Foram, assim, criadas três casas agrícolas, com áreas bem definidas para comercialização dos seus vinhos. Lisboa, Sul do Tejo e Sul da Península de Setúbal. A Horácio, o fundador da casa agrícola com o seu nome, calhou a segunda.
Mas há registos anteriores da actividade da família, quando José Carvalho Simões produzia uva e vinho por sua conta e risco, numa época em que era tradição produzir as uvas, transformá-las em vinhos e comercializá-los. Mas como Luís Simões, 45 anos, membro da quarta geração da família e enólogo da casa gosta de salientar, a prática agrícola do seu ancestral, e dos outros agricultores da região, incluía mais do que apenas a produção de vinho, numa época em que era necessário produzir frutas, legumes, carne e leite para as famílias sobreviverem.
Quando o fundador desta casa iniciou a sua actividade, o escoamento dos vinhos era feito em tabernas. Por isso, foi montando várias em diversas localidades do seu território, e desafiando os filhos dos seus empregados mais antigos para as gerir. “Iam vendendo o vinho e abatendo a conta do investimento feito pelo Horácio no estabelecimento, que acabava por passar para as suas mãos após alguns anos”, conta Pedro Simões, 50 anos, também membro da quarta geração da família e responsável pela viticultura e comercialização da empresa. Era uma forma antiga de fazer este negócio, que se manteve durante muitos anos, até ao fecho da última taberna montada pelo bisavô, a da Baixa da Banheira, apenas há um par de anos.
Nas vinhas da empresa estão plantadas as variedades brancas Rabo de Ovelha e Boal do Barreiro, tintas Castelão e Bastardo e Moscatel de Setúbal, Moscatel Roxo, algumas com mais de 100 anos
Dos barris para vinho engarrafado
Há cerca de 30 anos, a empresa deixou de vender vinho a granel e barris para passar a comercializá-lo engarrafado. Foi na altura em que Pedro e Luís começaram a trabalhar na empresa, que já só comercializava vinho em barris e charutos de madeira de 50 e 30 litros. “Qualquer um de nós dois ainda carregámos alguns, até em sítios bem complicados onde tínhamos clientes, como as escarpas de Sesimbra”, conta Pedro Simões.
Com o aproximar do fim do consumo de vinho nas tabernas, Pedro e Luis decidiram mudar para a venda de vinho em garrafa, porque sabiam que não teriam capacidade para competir com as grandes casas, que já eram especialistas na venda de vinhos em garrafão e noutros formatos de comercialização a granel. “Tivémos, desde logo, a visão de evoluir para o engarrafado”, salienta Luís. Para além disso, apostaram na produção e comercialização de vinhos com denominação de origem, em vez de entrarem primeiro com vinhos de mesa no mercado. “Acreditámos que tínhamos possibilidade, com as nossas vinhas e as nossas uvas, de produzir algo distinto que nos fizesse diferenciar no mercado como produtor de vinhos da região”, explica Pedro Simões.
Primeiro lançaram um regional tinto e branco, mais um Moscatel branco e Roxo. “E, a partir daí, o nosso trabalho foi sendo feito com base na nossa crença de que, apostando num trabalho sério e diferenciador, iriamos ter boa receptividade do mercado”, diz o irmão mais velho. Estavam, afinal, a seguir o conselho que o avô lhes tinha transmitido para a sua vida, para “não dependerem nem fazerem como os outros”.
O trabalho que fizeram, incluindo a forma como foram contactando e abrindo portas, andando acima e abaixo do país, abrindo muitas garrafas, foi originando a aceitação do mercado, mesmo em zonas menos tradicionais para o consumo de Moscatel, como o norte do país. Hoje é, segundo Pedro Simões, o melhor mercado deste tipo de vinhos da empresa.
O que é a Casa Horácio Simões?
Sediada na Quinta do Anjo, onde tem a sua adega e espaço de enoturismo, a empresa tem cerca de 30 hectares de vinha própria e adquire uvas de mais 30 ha a parceiros. “É uma realidade muito de minifúndio, em que a nossa maior parcela tem quatro hectares e a mais pequena meio hectare”, conta Pedro Simões, acrescentando que todas ficam em volta da Quinta do Anjo, no sopé da Serra do Louro, o que influencia o caracter distinto dos vinhos que a empresa tem no mercado.
Actualmente, a empresa exporta 30% da sua produção para destinos como o Brasil, Estados Unidos e praticamente para todos os países da Europa, mas apenas para estabelecimentos do canal Horeca e garrafeiras. Em Portugal, os vinhos são distribuídos pela Decante Vinhos.
O sucesso dos moscatéis
“Se há 20 anos alguém me perguntasse se vendia uma garrafa de Moscatel no Porto, dizia que eram malucos, porque não conseguia vender uma garrafa de Santarém para cima naquela altura”, afirma, salientando que o sucesso dos moscatéis não foi acompanhado, com a mesma intensidade, pelo dos vinhos tranquilos. “Hoje temos alguma dificuldade em mostrar que a Horácio Simões não é só Moscatel de Setúbal”, conta Luís Simões, explicando que o sucesso dos seus moscatéis se deve, também, à aposta da empresa na sua diferenciação, através do lançamento de referências produzidas com “novas forma de vinificação” e de terroirs diversos.
Até aí os consumidores conheciam o produto, mas não sabiam que a sua origem podia diferenciar as suas características e que uma forma diferente de vinificar se podia sentir no produto final. “Essa maneira de abordar a comunicação dos moscatéis foi a primeira forma de diferenciação da Casa Agrícola Horácio Simões”, revela Luís, acrescentando que a procura de inovações e a experimentação foi-lhes transmitida e incentivada pelo avô, Horácio Simões. E começou, há 30 anos, com a produção e comercialização de vinhos de castas internacionais engarrafados. Mas quando Pedro deu a provar o seu primeiro Castelão/Syrah, e lhe responderam que o vinho era muito bom, mas havia vários produtores com vinhos ainda melhores daquelas castas, decidiu não vinificar mais variedades internacionais na sua casa e apostar na produção e comercialização de vinhos de castas regionais, como forma de diferenciar a casa no mercado. Como é evidente, este processo implicou a procura dessas variedades, o seu estudo e o desenvolvimento de produtos com base nelas. “E mesmo que já tenha havido concorrentes que tenham lançado, depois, vinhos das mesmas castas, nós fomos os primeiros a fazê-lo”, diz Pedro Simões.
Há cerca de 30 anos, a empresa deixou de vender vinho a granel e barris para passar a comercializá-lo engarrafado
Os ensinamentos dos antigos
Foi o que aconteceu com os vinhos brancos da casta Boal, que estava plantada no meio das vinhas de Castelão da família. Depois de seleccionada, foi feito um estudo para conhecer melhor as suas características no campo, definir o seu maneio mais adequado e perceber as características dos vinhos que origina. O objectivo era “produzir, com base nela, um Reserva ou um Grande Reserva branco, um vinho diferenciador para a região produzido com uma casta regional”, conta Pedro Simões, acrescentando que a aposta na casta começou em 2007, mas o processo apenas terminou em 2020, com o reconhecimento do vinho pelo mercado.
Foi também com base em trabalho moroso que começaram a ser feitos vinhos com base no Bastardo e na Rabo de Ovelha, variedade cujos bagos gostava de comer quando ia com o avô à vinha. “Desde esse tempo que pensei em fazer um vinho da casta”, revela Pedro, acrescentando que todo o trabalho desenvolvido desde que a geração actual assumiu os destinos da casa está assente na mesma filosofia das gerações anteriores, de “fazer diferente, melhor”. “A sabedoria das gerações anteriores, que não tinham estudos, era suficiente para produzirem vinhos diferenciadores”, diz Luís Simões, acrescentando que os seus ancestrais sabiam, por exemplo, que “fazia sentido ter, numa vinha velha, castas brancas e tintas misturadas”.
Ensinamentos como estes, que lhes foram transmitidos pelas gerações anteriores e não pelos livros que foi estudando, contribuem, de forma significativa, para a forma como as coisas são feitas nesta casa agrícola. “O nosso caminho passa pelo uso de tudo o que aprendemos com os anteriores membros da casa e dos conhecimentos actuais para tirar o melhor de cada colheita”, acrescenta Pedro Simões, salientando que é isso que ambos querem engarrafar: uma vinha e um ano agrícola.
Os efeitos do tempo
Nas vinhas da empresa estão plantadas as variedades brancas Rabo de Ovelha e Boal do Barreiro, tintas Castelão e Bastardo e Moscatel de Setúbal, Moscatel Roxo, algumas com mais de 100 anos. Nestas, as vindimas seguem o ritmo de colheitas de sempre. “O aquecimento global pouco tem influenciado as datas de vindima”, conta Luís Simões. “O que os nossos registos nos dizem é que o Castelão está maduro a 15 de Setembro, mas pode ser a 14, 16 ou 18, variações tão pouco significativas, que nos demonstram que as datas de vindima se têm mantido ao longo do tempo”, acrescenta.
A primeira a ser colhida é sempre Moscatel Roxo, quando está no estado de maturação perfeito para a produção de licoroso. “Quando estava misturado com outras castas na vinha, as uvas quase nunca eram colhidas por serem as primeiras a amadurecer, e a ser comidas por pássaros e insectos”, conta Luis Simões. Mas não é o que acontece hoje. Seguem-se, após algum período de paragem, as brancas Boal e Rabo de Ovelha e, depois, o Castelão e o Bastardo, que é vindimado em duas fases. “Primeiro, em Agosto, quando tem 11 a 11,5% de álcool, para o tinto, e, em Setembro, para a produção de licoroso”, explica Pedro, acrescentando que a maior parte das vindimas de uma parte das castas foi antecipada em relação ao período tradicional, logo a seguir à Festa da Moita em honra de Nossa Senhora da Boa Viagem, em Setembro. “Aquilo que conhecemos sobre as castas de ciclos mais pequenos, mais temporãs, levou-nos a antecipar vindimas e os períodos de tempo em que decorrem para aproveitar aquilo que cada casta, e cada vinha, pode dar, para o tipo de vinho para aquilo que pretendemos produzir”, explica acrescentando que a sua adega está actualmente preparada para ir trabalhando e parando entre vindimas.
(Artigo publicado na edição de Janeiro de 2025)
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Horácio Simões Heritage
Fortificado/ Licoroso - 2008 -
Horácio Simões Heritage
Fortificado/ Licoroso - 2013 -
Horácio Simões
Tinto - 2022 -
Horácio Simões Old School Signature Tonel Centenário
Tinto - 2019 -
Horácio Simões Old School Signature
Tinto - 2021 -
Horácio Simões Old School Signature
Branco - 2021 -
Horácio Simões Reserva
Branco - 2022
Esporão reorganiza sistema produtivo no Alentejo

O Esporão, empresa familiar com mais de 50 anos de história, está a implementar uma reorganização estratégica do seu aparelho produtivo, para reforçar o seu compromisso com a sustentabilidade. Nesse sentido, 184 hectares de vinha biológica da empresa no Alentejo estão já a ser substituídos por 182 hectares de olival, que se somarão aos 93 […]
O Esporão, empresa familiar com mais de 50 anos de história, está a implementar uma reorganização estratégica do seu aparelho produtivo, para reforçar o seu compromisso com a sustentabilidade. Nesse sentido, 184 hectares de vinha biológica da empresa no Alentejo estão já a ser substituídos por 182 hectares de olival, que se somarão aos 93 hectares já existentes nas suas propriedades.
A decisão da mudança foi baseada, segundo um comunicado da empresa, “numa análise criteriosa das condições agrícolas e económicas, com o objectivo de optimizar a utilização do solo”. O resultado levou a que castas pouco adaptadas ao local, sem potencial qualitativo e produtivo, estejam a ser substituídas por olival.
“Ao reorganizarmos a nossa área agrícola, estamos a preparar o Esporão para os desafios do futuro, especialmente no contexto das alterações climáticas”, explica João Roquette, Presidente do Conselho de Administração do Esporão, como fundamento da mudança. A redução da área irá implicar maior cuidado e atenção, por parte da equipa da empresa, em relação aos 430 hectares de vinha biológica da Herdade do Esporão, aqueles que foram definidos como os de maior potencial de qualidade.
O novo olival será plantado com variedades tradicionais e seguirá o modo de produção biológico, tal como acontece na vinha. “Esta é mais uma prova da nossa aposta, no longo prazo, de produzir os melhores produtos que a natureza proporciona, com respeito pelo ambiente e pela comunidade onde estamos inseridos”, diz ainda João Roquette.