A minha vinha é mais velha do que a tua

Os mais ambiciosos tintos do Douro são tema em destaque nesta edição da Grandes Escolhas. Entre as quase seis dezenas de vinhos provados surgem denominadores comuns: a muito grande qualidade (em alguns casos atingindo o brilhantismo) e o vincado carácter regional estão na primeira linha. Transversalmente, emergem as palavras mágicas: vinhas velhas. TEXTO Luís Lopes […]
Os mais ambiciosos tintos do Douro são tema em destaque nesta edição da Grandes Escolhas. Entre as quase seis dezenas de vinhos provados surgem denominadores comuns: a muito grande qualidade (em alguns casos atingindo o brilhantismo) e o vincado carácter regional estão na primeira linha. Transversalmente, emergem as palavras mágicas: vinhas velhas.
TEXTO Luís Lopes
O Douro é hoje, inquestionavelmente, a região de eleição dos consumidores portugueses nos segmentos superiores de preço. Um sucesso inteiramente merecido e que assenta, sobretudo, na qualidade dos seus vinhos, produzidos num território especialmente vocacionado para a excelência vínica. Mas também no elevado nível de profissionalismo, dedicação, foco, por parte da maioria dos seus produtores, que fazem um trabalho de formiguinha incansável junto das lojas de vinho e dos líderes de opinião (em Portugal e no mundo) batendo às portas certas e tocando a melodia perfeita. Do lado da estratégia comunicacional, a chave que abre mais portas chama-se “vinhas velhas”.
Dos 58 vinhos durienses de topo que apreciámos no nosso painel de prova, mais de metade apresenta-se no rótulo, no contra-rótulo ou na ficha técnica, como sendo oriundos de vinhas velhas. Se olharmos para estes números, podemos ser levados a acreditar que, ou no Douro a maioria das vinhas são velhas, ou a vinha velha é determinante para fazer um grande vinho nesta região. Conclusões absolutamente erradas que partem de uma premissa errada. É que ninguém sabe definir, em concreto, o que é isso de uma vinha velha.
O problema não se manifesta apenas no Douro, longe disso. “Vinhas Velhas” tornou-se um designativo que, por falta de enquadramento legal, é usado indiscriminadamente como bandeira de qualidade um pouco por todo o país. Noutras regiões, já visitei “vinhas velhas” com 20 anos. E porque não, se é a vinha mais velha do produtor? Para ele, faz todo o sentido. Mas sentido, significado, valor, é precisamente o que vamos perder se continuarmos a banalizar a expressão “vinhas velhas” ao sabor da vontade de cada um. Numa pesquisa rápida pelos sites das cadeias de retalho, encontro tintos intitulados “vinhas velhas” a €4,50. Acho que isto resume tudo.
Vinha velha não significa necessariamente qualidade, todos os produtores o sabem, mas a expressão tem sido vendida ao consumidor como um sinónimo de excelência e personalidade. O Douro, sendo a região de Portugal onde se preservaram mais vinhas antigas e, consequentemente, aquela que mais utiliza o conceito para promover os seus vinhos, tem aqui responsabilidade acrescida. Deverá por isso ser o Douro, no seu próprio interesse, a liderar o processo de definição e regulamentação da designação vinhas velhas. Uma associação de viticultores, a Prodouro, que congrega 72 agentes económicos regionais, já deu o primeiro passo propondo, para definir uma vinha velha duriense, resumidamente, algo como isto: “vinha plantada até ao ano 1965 segundo o modelo comum ‘socalco pós-filoxera’, embora, por razões de topografia do terreno, possa não ter obrigado à construção de socalcos suportados por muros de pedra posta. Contudo a vinha velha em socalco pós-filoxera constituirá um subgrupo de eleição a que sugerimos chamar ‘vinha velha histórica’.”
É um ponto de partida, para ser apreciado e discutido no Douro. Como é evidente, este modelo, idade e descritivo não serve a todas as regiões de Portugal. Por isso, cada uma deverá encontrar critérios e regras adequadas ao seu passado e presente vitícola. Mas acredito que, se o Douro der o exemplo, as outras regiões o seguirão. E se o fizerem, conseguiremos duas coisas: primeiro, deixar de iludir/confundir os consumidores; e depois, trazer verdade e valor ao conceito de vinhas velhas e aos vinhos que originam, contribuindo assim para preservar esse tão importante património genético, histórico e cultural do Portugal do vinho.
Edição n.º31, Novembro 2019
Uma discreta elaboração de acasos

Mexemos, remexemos e buscamos no baú das memórias e dos canhanhos e vamos que todas as criações culinárias são acidentais. Confirma-se tanto nos clássicos franceses como por cá. A globalização do talento nunca aceitou barreiras. TEXTO OPINIÃO Fernando Melo Quando olhamos para o molho Béchamel, supostamente criado por Louis de Béchamel, marquês de Nointel e […]
Mexemos, remexemos e buscamos no baú das memórias e dos canhanhos e vamos que todas as criações culinárias são acidentais. Confirma-se tanto nos clássicos franceses como por cá. A globalização do talento nunca aceitou barreiras.
TEXTO OPINIÃO Fernando Melo
Quando olhamos para o molho Béchamel, supostamente criado por Louis de Béchamel, marquês de Nointel e maître d’hotel de do rei-sol Luís XIV, custa-nos crer na autoria, tal o uso comum que lhe foi sempre dado. É um molho branco feito com leite, farinha e manteiga e na verdade trata-se de uma apropriação ilícita do trabalho do célebre cozinheiro francês La Varenne. Como em tantos casos, não foi o seu nome que vingou pela história fora. A plêiade de gratinados, pastéis e pratos a que deu origem é interminável e ainda hoje o desafio de cozer bem a farinha continua na esmagadora maioria dos casos por cumprir. Justa Nobre faz desde sempre um gratinado de legumes que é referencial e padrão, irrepreensível na cozedura. Nos bons tempos do Nobre na Ajuda, era servido à colher no prato de cada um aconchegava o estômago e a alma. Quando não é o caso, o efeito é exactamente o contrário. A brandada de bacalhau deve ter surgido no final do Séc. XVIII, das mãos de autor francês anónimo, ao aquecer por acidente o bacalhau que vinha da Terra Nova, depois emulsionado com azeite; a origem será sempre difícil de rastrear, mas a certo ponto a emoção da emulsão protagonizada pelo bacalhau toca-nos bem a nós também, curiosamente sem nunca termos vulgarizado o pil-pil, quando em Espanha se faz muito, a partir do colagénio contido na própria estrutura e pele do peixe. Por cá, está por toda a parte mesmo sem darmos por isso, a começar no pastel de bacalhau – bolinho no Norte – e a terminar na complexa receita fixada por João Ribeiro no glorioso Hotel Aviz, e que dá pelo nome de bacalhau à Conde da Guarda. Temos em Vítor Sobral o guardião dessas transformações inefáveis do peixe que ainda gostamos de processar seco, com que ele intima frequente e avidamente. Já que temos a âncora no final do Séc. XVIII é também nessa altura que começa a imparável epopeia da batata, pela mão de Parmentier. No longo período de cativeiro não só elevou a planta meramente decorativa a alimento, como a elevou a iguaria e medicamento sem rival. Parmentier é o nome do assado de batata, leite e às vezes queijo, a que o mundo inteiro continua a render homenagem. O conduto já destronou em Portugal a castanha, passou ainda pouco tempo para a transição plena, mas já vive bem nos nossos empadões, alegria e sustento das famílias além, de prato festivo, com múltipla declinações. Em 1888, pegando em tomilho, alho, manteiga e ovos de forma inédita, Annette Poulard sacraliza a sua omelete souflée na pensão Poulard, no Monte Saint Michel. Foi para lá com o patrão, arquitecto encarregue da restauro do forte que era prisão e passou a templo turístico. Graças a um trabalho excepcional separando as claras das gemas, respeitando as cozeduras diferentes, a Mere Poulard superou em popularidade o próprio monumento. Não houve celebridade que não provasse a especialidade, cenário interior e exterior formidáveis, o prato sempre feito na sala à vista de toda a gente e a encantar. Grande omelete servia o Café Guarany, na Avenida dos Aliados, Porto, logo desde que abriu, em 1933, talvez inspirado nesse enorme sucesso de Annette na Normandia, nunca saberemos. Certo é que a omelete de gambas que ali se serve ainda configura tentação. Mas, tal como aconteceu com o peixe cozido, as pessoas deixaram de pedir omeletes. Pior, deixaram de as fazer também. Entre ambas as venturas, acontece a glória do pato do Tour d’Argent, em Paris. Criação de Frédéric Delair em 1890. Comporta um trabalho de sala fascinante, a extracção muito rápida dos peitos do pequenino pato, o corte das coxas e depois a extracção do sangue por prensagem, também na sala, e que vai dar origem ao molho do primeiro serviço. Um outro molho é depois produzido para acompanhar o segundo serviço, das coxas desossadas e servidas em pedaços. Delair vendeu cedo o restaurante ao mítico André Terrail, e ao longo de mais de cinquenta anos teve três estrelas Michelin. Na mente poderosa de Jorge Valle, fundador da Casa da Comida, o pato teve sempre preponderância e uma receita, actualmente disponível apenas por encomenda, continua sem par. É o pato com azeitonas, fabuloso e copioso prato. O malogrado Bernard Loiseau foi um dos mais geniais criadores da nova cozinha francesa e deixou um legado grande de pratos e pistas de desenvolvimento de muitos outros. Inesquecíveis as coxas de rã com puré de alho e jus de salsa. Mas o que dizer das coxas de rã em tomatada de António Nobre, ainda disponíveis nos hoteis M’Ar de Ar, em Évora? Rusticidade e alta cozinha de mãos dadas, converte mesmo o maior detractor das coxas de rã. Todo um tratado, que Loiseau prova agora no Olimpo e certamente aprova. O mítico e maravilhoso Paul Bocuse, o chef dos chefs, teve no início dos anos setenta duas iluminações próximas uma da outra. A primeira aconteceu durante um jantar em casa do seu apanhador de trufas, em que as ditas eram laminadas para a sopa de legumes que estava a ser servida; a segunda foi no restaurante de um seu contemporâneo, Paul Haeberlin, onde lhe foi servida uma tigela com foie gras e um pedaço de trufa, tudo coberto com massa folhada. Combinou as duas numa e criou a sopa de trufas Valérie Giscard d’Estaing, para comemorar a atribuição da legião de honra que lhe foi feita pelo então presidente francês em 1975. Pedro Mendes, do Alentejo Marmóris em Vila Viçosa levou-me às lágrimas com os seus pézinhos de porco de coentrada, criados em homenagem a Paul Bocuse e servidos migados, numa cebola vazada. O batimento existe, cabe-nos a nós ir acompanhando o pulsar imanente dos territórios. Só não podemos ficar quietos no lugar, partir em descoberta é a grande premissa.
O vintage 2017 e o fim das tradições

Finalmente foram quebradas as antigas regras não escritas que determinavam que “Porto Vintage, só três vezes em cada década”. Espera-se que acabem de vez e que não tenha sido apenas um fogacho. TEXTO OPINIÃO João Paulo Martins As declarações de um ano como Vintage sempre foram acontecimentos importantes para o sector do Vinho do Porto. […]
Finalmente foram quebradas as antigas regras não escritas que determinavam que “Porto Vintage, só três vezes em cada década”. Espera-se que acabem de vez e que não tenha sido apenas um fogacho.
TEXTO OPINIÃO João Paulo Martins
As declarações de um ano como Vintage sempre foram acontecimentos importantes para o sector do Vinho do Porto. O Vintage é o vinho mais prestigiado mas também, entre os “grandes”, aquele que tem menos custos de produção, sobretudo se comparado com os tawnies com indicação de idade. Fazer um bom tawny é uma dor de cabeça que se prolonga por vários anos , qual criança que tem de ser apoiada e educada para vir a ser um adulto à séria. O Vintage, quase inexplicavelmente, já nasce adulto e feito e por isso trata-se é não estragar o que a natureza deu e colocar essa qualidade rapidamente dentro da garrafa para que depois o tempo faça o seu papel, mas já em interferência do produtor. O primeiro deveria ser bem mais caro que o segundo mas a verdade é de sentido inverso: para se vender um tawny ao preço que actualmente se vendem os vintages das empresas mais prestigiadas, temos de apontar para um 30 ou 40 anos de idade. Só de pensar as voltas que tal vinho deu, o que se perdeu para os bebedolas lá de cima (há quem lhes chame anjos…) ficamos com os cabelos em pé. Mas é assim que o sistema funciona, vamos em frente. A tradição, criada sabe-se lá por quem, de apenas declarar como clássico um vintage duas ou três vezes por década não tem dado grandes frutos. Os ingleses, muito ligados a essa tradição, fizeram questão de a cumprir por mais de um século e por isso deixaram algumas potenciais declarações fora do “classicismo” como 1995, 2005 e 2015.
A tese é deles, mas casas como Ramos Pinto, Poças, Sogrape, Porto Cruz, Noval ou Niepoort não querem nem ouvir falar de termos como “clássico” e “não clássico”. Para estes produtores, a declaração acontece quando o ano é bom, independentemente da frequência. Mas o que ninguém nega, mesmo os outsiders, é que em ano “clássico” as vendas são rápidas e os preços bem convenientes. Vantagens para todos à boleia da tradição inglesa.
Foi preciso chegar à segunda década deste século para ver ruir a tradição. Diz-se nos mentideros que não se declarou o 2015 porque se percebeu que o 2016 era de grande qualidade e foi esse o escolhido para ser clássico. Só que, ironia do destino, o 2017 logo à nascença deu mostras de ser um grande Vintage, o que se veio a confirmar. Estavam lançados os dados para se furar a tradição e declarar um Vintage “clássico” dois anos seguidos. Toda a gente declarou e muitos já venderam tudo. Só que…o 2018 está em cave à espera e ninguém é por agora capaz de afiançar se vai declarar ou não. Falta tempo mas não tanto assim, uma vez que a partir de Janeiro se podem começar a enviar amostras para aprovação. Vamos ter um tri-clássico? É cedo mas, como sabemos, depois de pecar a primeira vez os pecados seguintes soam apenas a pecadilhos. E o Porto bem precisa de promoção e que se fale dele por esse mundo fora. Os consumidores portugueses, dizem-nos no comércio, andam um pouco arredados do Vintage e as vendas estão muito longe de serem o que eram há uma ou duas décadas. Mas os actuais vintages têm a enorme vantagem de darem cartas na elegância mesmo em novos, coisa que os antigos não davam. E lá se vai assim, de uma penada, mais uma tradição pelo cano: à ideia antiga de que o vintage ou se bebia muito novo ou tinha de se esperar 15 a 20 anos sucedeu a geração actual, assente em melhor viticultura e em aguardente de qualidade incomparavelmente superior à que se usava antigamente, Dessa forma, permite-se que o vinho seja apreciado novo e mesmo na década a seguir à colocação no mercado. Confesso que continuo a gostar mais dele com 15 ou 20 anos mas tiro o chapéu aos novos vinhos, muito mais assentes na fruta e na elegância e que dão boa prova em qualquer momento. É verdade que as quantidades actualmente declaradas são cautelosas (3 a 5 000 caixas de 12) e a Taylor’s faz figura de “exagerada” por ter declarado, no 2017, 11 500 caixas mas, voltando ao exemplo clássico, em 1927 a Cockburn’s e a Croft terão declarado entre 20 e 30 000 caixas. Isso sim, eram declarações à grande!
Ficamos assim na expectativa sobre o que vai acontecer com o 2018 e quem sabe, dados os bons prenúncios desta vindima, com o 2019… Isto está a complicar-se, disso não tenhamos dúvidas, mas é destas complicações que nós gostamos.
Edição Nº30, Outubro 2019
Bairrada, a excelência em tons de branco

A Bairrada é uma pequena região de grandes vinhos. E a sua dimensão qualitativa vai muito além da notoriedade dos sólidos tintos de Baga e dos frescos espumantes. Na verdade, a Bairrada é uma das melhores regiões do país para produção de belíssimos vinhos brancos, com uma longevidade invejável. TEXTO Valéria Zeferino FOTOS Ricardo Gomez […]
A Bairrada é uma pequena região de grandes vinhos. E a sua dimensão qualitativa vai muito além da notoriedade dos sólidos tintos de Baga e dos frescos espumantes. Na verdade, a Bairrada é uma das melhores regiões do país para produção de belíssimos vinhos brancos, com uma longevidade invejável.
TEXTO Valéria Zeferino
FOTOS Ricardo Gomez
Há até quem considere que a Bairrada é mais região de brancos do que de tintos e é fácil de perceber porquê. A casta predominante na Bairrada é a Baga, que amadurece tarde, muitas vezes ultrapassando as chuvas de equinócio e, quanto a chuva se prolonga, nem sempre consegue a melhor performance. As castas brancas, amadurecendo mais cedo, têm mais condições para uma maturação perfeita e consistente de ano para ano.
Esta prova evidenciou que os vinhos brancos da Bairrada são de altíssima qualidade e que melhoram substancialmente com o tempo em garrafa.
Em termos quantitativos, os vinhos brancos certificados (sem contar com os vinhos base para espumantes) são em minoria e correspondem a cerca de 20% da produção na Bairrada (de 400 a 450 mil garrafas). Isto deve-se a uma menor popularidade de brancos entre os consumidores e, tirando os Vinhos Verdes, a verdade é que o tinto predomina em todas as regiões do país.Condições edafo-climáticas
A Bairrada está situada no centro litoral do país, orientada no sentido Norte-Sul entre as cidades Águeda e Coimbra e os rios Vouga e Mondego. A leste fica naturalmente demarcada pelas serras do Caramulo e do Buçaco e a oeste estende-se até à orla marítima que exerce forte influência atlântica na região. O clima é temperado, com verões não demasiado quentes, invernos brandos e moderada amplitude térmica anual. As temperaturas médias anuais situam-se entre os 12,5˚C e os 15˚C (em comparação, no Alentejo varia de 15˚C a 17,5˚C). A maioria das zonas da Região da Bairrada usufrui de cerca de 2.500 horas de sol por ano. A precipitação vai de 800 a 1600 mm/ano (este último valor está ao nível da região dos Vinhos Verdes), aumentando de Oeste para Este e concentrando-se nos meses de Outono e Inverno.
Trata-se uma região bastante plana com colinas pouco acentuadas. As vinhas encontram-se plantadas entre os 40 e 120 m de altitude, o que faz sentir a influência Atlântica em toda a região. Geologicamente é muito heterogénea e os solos variam em composição de argila e calcário, com algumas zonas arenosas. Os solos mais argilosos precisam de ser bem drenados e dificultam a sua mobilização e os com mais calcário apresentam cor esbranquiçada e uma maior pedregosidade. Actualmente, conta com cerca de 6000 hectares de vinha.Marcos históricos
A cultura da vinha na região remonta à época da Reconquista cristã aos Mouros que teve início no século VIII. Demonstrou um grande crescimento nos séculos X – XII graças a ordens monásticas.
A produção de vinho estagnou após a demarcação da região do Douro em 1756, quando o Marquês de Pombal decretou o arranque das vinhas nas margens e campinas dos rios Mondego e Vouga. Para além de proteger a origem dos Vinhos do Porto, queria substituir o cultivo da vinha na região, que era abundante, pelo cultivo dos cereais, pois o pão escasseava.
No início do sêculo XIX, lentamente, a vitivinicultura bairradina começou a recuperar, mas mal o vinho voltou a ser valorizado, muitos produtores gananciosos cederam à tentação de plantar vinha em terrenos impróprios. Isto levou à primeira tentativa da demarcação na Bairrada que foi feita pelo político e cientista António Augusto Aguiar em 1867, baseada na relação entre constituição geológica dos terrenos e tipos de vinho.
O vinho de melhor qualidade chamava-se “Vinho de Embarque” e era destinado à exportação, e o vinho de qualidade mais fraca – “Vinho de Consumo” para o mercado interno. Os vinhos brancos de embarque eram produzidos na margem esquerda do rio Cértima até Óis do Bairro, São Lourenço do Bairro e Mogofores. No século passado, a partir dos anos 20, na Bairrada começaram a proliferar as Caves (Irmãos Unidos/Caves São João, Caves do Barrocão, Cave Central da Bairrada, Caves Messias, Caves Aliança, Caves Valdarcos, Caves Borlido, Caves Neto Costa, Caves do Solar de S. Domingos entre outras) que não tendo vinha própria, compravam vinho feito e estagiavam-no nas suas instalações. E não eram vinhos provenientes só da Bairrada, loteavam-se com os vinhos de outras regiões, nomeadamente Ribatejo, Beiras, Douro e Trás-os-Montes. A maior parte do vinho vendia-se a granel, algum em garrafões e muito pouco em garrafas. Os principais mercados de venda, para além do interno, eram as antigas colónias.
Os anos 50 foram marcados pela criação de adegas cooperativas – Adega de Cantanhede, de Mealhada, de Souselas, de Mogofores e Vilarinho do bairro. Até aos dias de hoje sobreviveu apenas a primeira.
Em meados da década de 70 com a independência das colónias, os produtores tinham que procurar mercados alternativos. O vinho foi canalizado para o mercado da saudade nos países europeus (França, Bélgica, Luxemburgo, Suíça e Alemanha) e nas Américas (Estados Unidos, Canadá, Brasil e Venezuela). Mas só este mercado também não era sustentável a longo prazo, à medida que os emigrantes da primeira geração regressavam à Patria e os seus filhos tinham hábitos diferentes. Os novos destinos de exportação trouxeram maiores exigências em termos de qualidade e assim a pouco e pouco começou-se a investir na modernização: higiene, novos equipamentos, cubas de inox, controlo de temperatura, clarificação dos mostos. Esta revolução tecnológica, que se deu um pouco por todo o país, contribuiu para a qualidade crescente dos vinhos – com aromas mais limpos, vinhos menos oxidativos e com óptimo equilibrio.
Em 1979 a Bairrada foi reconhecida como Denominação de Origem e procedeu-se à sua demarcação oficial que recentemente festejou os 40 anos. Nas decadas 70 e 80 surgem os primeiros produtores engarrafadores, que produzem vinho da sua vinha e com a sua marca. A demarcação, embora tenha colidido com o negócio de volume, encorajou os pequenos e médios produtores a avançarem com os seus projectos próprios.
Luís Pato, Quinta das Bágeiras, Casa de Saima, Campolargo, Sidónio de Sousa, entre outros, deram credibilidade e potenciaram a nova imagem da Bairrada a partir do início do século XXI.A polémica Maria Gomes
De acordo com os dados da Comissão Vitivinícola da Bairrada, 70% a 75% uvas produzidas na região são tintas, deixando os restantes 25 a 30% para castas brancas. A mais expressiva em termos de plantação é a Maria Gomes, conhecida noutras regiões como Fernão Pires, seguida de Bical e Arinto. Nos últimos anos registou-se um incremento de Cercial e Sauvignon Blanc. O Chardonnay é bastante valorizado para a produção de espumantes.
O trio principal para um lote bairradino consiste em Maria Gomes, Bical e Cercial, onde cada variedade tem o seu papel. A Maria Gomes, sendo a mais aromática das três, é responsável pelos aromas, sobretudo nos primeiros anos. O Bical dá corpo e untuosidade ao vinho e o Cercial contribui com a estrutura acídica.
A casta Maria Gomes, conhecida também como Fernão Pires no resto do país e que é a casta branca mais cultivada a nível nacional. A sua origem é desconhecida, mas foi mencionada em 1788 relativamente às regiões Tejo, Beiras e Douro. Alguns produtores constatam que nos encepamentos antigos esta casta na Bairrada apresenta uma morfologia ligeiramente diferente e tem bagos mais pequenos, que, provavelmente, poderão ser alguns dos clones diferentes de outras regiões.Maria Gomes amadurece cedo e tem uma curta janela de vindima, pois acumula muito açúcar e perde rapidamente a acidez. Muitas vezes é mal-amada pelos enólogos. As “culpas” são exuberância aromática e falta de acidez. João Soares, o enólogo da Messias aponta as mesmas razões “baixa acidez e normalmente com potencial de guarda reduzido, é muito terpénica, não deixa reflectir o solo”.
O produtor Nuno do Ó também confessa que não morre de amores por esta casta, mas se trabalhar com ela, prefere apanhá-la mais cedo “com carácter mais mineral e menos exuberante”.
Já Mário Sérgio da Quinta das Bágeiras defende a casta que, embora tenha menos acidez, tem aromas interessantes de geleia e floral. E a sua experiência diz-lhe que a qualidade depende da quantidade de uva na videira. A casta naturalmente é muito produtiva e este aspecto tem que ser controlado. Frequentemente colhe Maria Gomes em óptimo estado de maturação, com 14% de álcool, e perfeito equilíbrio ácido, com 7,5 g/l de acidez total e 3 pH.
O experiente Luís Pato, exemplo para muitos produtores de dentro e fora da região, planta a Maria Gomes em solo arenoso para manter acidez (no barro dá vinhos mais gordos), mas com rega, porque a casta é muito sensível ao stress hídrico, “os bagos mirram ainda antes de amadurecerem”. É uma casta muito importante para vinhos de entrada de gama, fornecendo-lhes aromas imediatos e apelativos, mas também ser a base de vinhos de topo.A elegante Bical
Bical, também apelidada como Borrado das Moscas devido às pequenas manchas castanhas que apresentam os bagos maduros. É uma casta autóctone, situada maioritariamente nas regiões das Beiras. Por não ter o porte erecto, dificulta a vida dos viticultores. É muito sensível aos ataques de oídio na floração e a sua produção varia bastante de ano para ano. Comporta-se melhor em solos medianamente férteis, com boa drenagem e não muito alcalinos.
Amadurece mais tarde do que a Maria Gomes, em meados de Setembro e é resistente à podridão graças aos seus cachos com bagos soltos.
É mais neutra em termos aromáticos, confere estrutura e corpo ao vinho. Atinge menos grau alcoólico do que a Maria Gomes e tem menos acidez do que a Cercial. Também tem que ser colhida no momento certo, porque “facilmente perde acidez numa semana”, refere Luís Pato.
O enólogo da Casa de Saima, Paulo Nunes, que também trabalha muito no Dão, confessa que nunca plantaria Bical no Dão, mas que na Bairrada com o clima Atlântico e neblinas matinais frequentes preserva muito melhor a acidez.
Já João Soares é um fã da Bical. Para ele, é a casta que melhor mostra a região, com notas de barro, iodo, maresia, se for apanhada atempadamente. Quando sobremadura desenvolve notas tropicais e de goiabas. Com idade, os vinhos de Bical evoluem para resinas e cera de abelha, fazendo lembrar o cheiro de pranchas de surf. Acha que não tem grande aptidão para ir à barrica e apresenta grande capacidade de envelhecimento em garrafa que considera o mérito da região.
Nuno do Ó também gosta de Bical pela sua austeridade e potencial de guarda. Aguenta vinificação oxidativa (o mosto fica acastanhado por uns tempos, mas depois já não oxida). Utiliza prensa aberta, onde os chachos vão com engaço. Prefere barricas usadas, porque a casta já tem aromas de especiaria e o excesso de barrica não lhe fica bem. Com 2-3 anos de guarda os vinhos cheiram a barro molhado.A nova estrela: Cercial
Deve ser uma das castas cujo nome provoca mais confusão, não só no meio de consumidores, mas também na sua classificação e caracterização histórica. Cercial da Bairrada não é a mesma casta que Cerceal Branco utilizado no Dão e Douro, e também não tem nada a ver com Sercial da Madeira (que no continente é chamado Esgana Cão). Apenas a acidez natural elevada é comum a estas três castas, de resto são bem diferentes.
Amadurece relativamente tarde e é suceptível à podridão dos cachos devido à sua película bastante fina. Tem aroma discreto e enorme capacidade de envelhecimento.
Na opinião de João Soares, a Cercial, tal como Bical, é bastante neutra aromaticamente (fruta branca delicada com um toque de bechamel) , “transparecem atlanticidade”, mas a Cercial é mais vertical, mais tensa.
Mário Sérgio não tem dúvidas que Cercial é uma casta fabulosa. É capaz de, com 14% de álcool provável apresentar 8 g/l de acidez e 2,98 de pH. O problema é que apodrece com facilidade. Porta-se melhor em talhão estreme do que misturada com outras nas vinhas velhas (matura mais sedo e apodrece) e tem maior potencial. Ao envelhecer desenvolve os aromas de favos de mel. Produz relativamente pouco, 5 a 6 mil litros por hectare.
Segundo Luís Pato, a casta tem acidez vibrante, demonstra elegância e tem óptima aptidão para estágio em madeira.
Entre as outras uvas presentes nas vinhas bairradinas, releva a Arinto, que é uma casta nobre plantada em quase todo o país, conferindo acidez aos lotes em que entra. Na Bairrada amadurece mais tarde, nos finais de Setembro, é normalmente a última a ser vindimada, explica Nuno do Ó. Mostra o seu lado “mais salino, mais calcário, com frescura nervosa, o vinho é mais vertical e austero, menos gordo do que em Bucelas”.
Há ainda outras castas com menos expressão, como o Rabo de Ovelha que produz muito e tem cachos grandes, de maturação tardia e conhecida pela acidez alta. Sercialinho, que é muito aromática e com óptima acidez. E as castas internacionais, como Chardonnay, Sauvignon Blanc, Pinot Blanc e Viognier também são permitidas na legislação regional de DOC (com excepção da categoria Bairrada Clássico), sendo muitas vezes utilizadas em lote com as variedades tradicionais, mais raramente engarrafadas a solo.
Independentemente da casta, o terroir bairradino imprime o seu carácter nos vinhos ali produzidos, e os brancos da região, amplos, vibrantes, longevos, merecem toda a atenção do apreciador exigente.
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Volúpia
Branco - 2018 -

Laboeira
Branco - 2017 -

Vadio
Branco - 2018 -

Pinho Leão
Branco - 2015 -

RS
Branco - 2018 -

Regateiro
Branco - 2016 -

Rama Vale de Sá
Branco - 2018 -

Quinta do Poço do Lobo
Branco - 2017 -

Marquês de Marialva
Branco - 2015 -

Niepoort V.V. Vinhas Velhas
Branco - 2017 -

Quinta dos Abibes Sublime
Branco - 2015 -

Quinta das Bágeiras
Branco - 2017 -

Kompassus
Branco - 2017 -

Encontro 1
Branco - 2014 -

Campolargo
Branco - 2017
Edição Nº30, Outubro 2019
Curral Atlantis: vinhos com sabor a mar

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O envolvimento da família Faria com o enólogo Paulo Laureano ao longo de duas décadas tem resultado num portefólio de vinhos de inquestionável qualidade e forte identidade, vinhos que expressam da melhor forma o inimitável terroir da ilha do Pico.
TEXTO Luís Lopes
Há 20 anos, ninguém no Pico sonhava que um dia os brancos da ilha seriam louvados por jornalistas e consumidores exigentes e apresentados como exemplo de singularidade e distinção. Naquela época, o objectivo dos picarotos mais envolvidos com a vinha e o vinho não passava por fazer grandes vinhos brancos e exportá-los para o mundo. A ambição era outra, bem mais simples e prosaica: substituir progressivamente o chamado “vinho de cheiro”, elaborado a partir de videiras não viníferas e autorizado unicamente para consumo local, por vinhos tintos de castas “europeias”, capazes (acreditavam) de relançar a indústria vitivinícola da ilha.
Foi com esse objectivo que o mais experiente viveirista do continente, o alemão Jorge Bohm, fundador da Plansel, começou a visitar o Pico no sentido de ali inserir as suas plantas, enxertadas com as variedades clássicas europeias e com os híbridos desenvolvidos no centro de investigação de Geisenheim. Havia que encontrar uma casta tinta de ciclo curto que, nas condições extremas do clima local, originasse vinhos com taninos maduros e suaves. O seu principal cliente no Pico era Manuel Faria, proprietário de uma empresa de venda de produtos e alfaias agrícolas. Da relação comercial e de amizade entre os dois surgiu a ideia de criar uma empresa produtora de uva e vinho e assim nasceu a Curral Atlantis em 1995.
A dupla adquiriu terrenos e, com o apoio da Universidade de Évora, plantou 3 hectares de uma vinha experimental, com 24 castas, entre elas Viosinho, Chardonnay, Gouveio, Pinot Grigio, Merlot, Syrah, Cabernet Sauvignon e diversos híbridos, videiras que foram conduzidas de forma “moderna”, em espaldeira, ao invés dos currais tradicionais. Em 1997 chegou o enólogo Paulo Laureano para, a partir daí e ao longo dos anos seguintes, vinificar os frutos desta vinha e retirar conclusões técnicas e científicas que alicerçassem o projecto. Não levou muito a perceber que daquela amálgama de castas apenas a Viosinho e as variedades clássicas da ilha, nomeadamente Arinto, Verdelho e Terrantez (tudo castas brancas…) ofereciam as garantias de qualidade pretendida.
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A vinha é desafio permanente
O projecto Curral Atlantis inverteu assim o sentido original e, a partir de 2010, a aposta seria total na vinha e castas tradicionais. Adquiriram-se terrenos, limparam-se matos e reconstruiram-se os currais. Actualmente, a empresa dispõe de 42 hectares de vinha, dos quais 8 hectares em zona plana (outrora em espaldeira, agora transformados em condução baixa, sem arames) e os restantes espalhados pelos inconfundíveis currais de pedra vulcânica. Para além desta matéria prima, o produtor conta com mais 20 hectares alugados a viticultores da região.
Entretanto, a Curral Atlantis tornou-se numa sociedade totalmente familiar, com Manuel Faria a adquirir a parte de Jorge Böhm e a integrar os seus filhos Marco e Rui no dia a dia da empresa. Com o actual “buzz” em torno dos vinhos do Pico e as vendas a crescerem no País e em diversos mercados internacionais, impõe-se agora a construção de uma nova adega, que estará pronta em 2020, primeiro a área de vinificação, mais tarde o enoturismo. Em velocidade de cruzeiro, o projecto conta produzir 250 mil garrafas/ano. A nova adega vai fornecer outras ferramentas a Paulo Laureano para afinar o perfil dos vinhos. O enólogo quer dar consistência ao que existe mas também fazer coisas diferentes (“precisamos saber até onde podemos ir no Arinto e no Verdelho”, diz) e dar outras condições de estágio aos licorosos (que, em rigor, o não são, pois o Curral Atlantis “licoroso” é um branco doce natural, sem adição de aguardente, como é tradição de alguns produtores do Pico).
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Mas também na vinha há muito por fazer. “Os desafios vitivinícolas no Pico são diferentes dos de há 20 anos”, refere. “Temos um terroir extraordinário, mas com enorme dificuldade de maneio e, paralelamente, muita falta de mão de obra. Precisamos controlar de forma mais adequada os infestantes, melhorar a resiliência das plantas e optimizar a produção – que não passa de 1,5 ou 2 kg por cepa”, enumera Paulo Laureano.
Fazer vinha e produzir vinho no Pico não é para qualquer um, é bem evidente. A Natureza impõe-se aqui de forma esmagadora, nada é oferecido, tudo é alcançado com muito labor e cuidados. Mais uma razão para que os produtores da ilha aprendam, cada vez mais, a trabalhar em conjunto em torno de objectivos comuns.
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“Há que saber comunicar e vender a forte identidade vínica do local”, diz Paulo Laureano. “Para o conseguirmos, salvaguardando o modelo de negócio e o estilo de cada um, deveremos todos caminhar no mesmo sentido, valorizando o Pico e os seus vinhos”. Nada mais certo.
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Curral Atlantis ( 500 ml)
Branco - 2003 -

Curral Atlantis ( 500 ml)
Branco - 2011 -

Curral Atlantis Seleção da Família
Tinto - 2011 -

Faria’s Vineyard Vinho dos Impérios
Tinto - -

Curral Atlantis
Rosé - 2018 -

Curral Atlantis
Branco - 2018 -

Curral Atlantis
Branco - 2018 -

Curral Atlantis Seleção da Família
Branco - 2018
Edição Nº30, Outubro 2019
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Casa Cadaval: A nobreza num copo de vinho

Ocupando uma parte da povoação a norte de Muge, a Casa Cadaval é um dos mais antigos e prestigiados produtores de vinho da região do Tejo. Tem nobres pergaminhos na sua história, nacionais e internacionais, e os vinhos seguem o mesmo caminho, com carácter, qualidade e polimento de mãos dadas. TEXTO António Falcão NOTAS DE […]
Ocupando uma parte da povoação a norte de Muge, a Casa Cadaval é um dos mais antigos e prestigiados produtores de vinho da região do Tejo. Tem nobres pergaminhos na sua história, nacionais e internacionais, e os vinhos seguem o mesmo caminho, com carácter, qualidade e polimento de mãos dadas.
TEXTO António Falcão
NOTAS DE PROVA Mariana Lopes
FOTOGRAFIAS Ricardo Gomez
Teresa Schönborn é descendente de nobreza nacional, mas ostenta ainda o título de Condessa de Schönborn e Wiesentheid, um título germânico com centenas de anos de história. Teresa teve uma educação esmerada e fala sete línguas diferentes, mas a sua maneira de ser dificilmente poderia transmitir mais simpatia e simplicidade. Como administradora da Casa Cadaval, esta executiva passa parte do seu dia no meio de tractores, estradas poeirentas, gado e cavalos, vinhas e adega. E aqui sente-se feliz, conseguindo ainda ser pessoa muito respeitada na zona, até porque muito tem ajudado a freguesia de Muge, do concelho de Salvaterra de Magos, em pleno Ribatejo.
Esta é uma casa com centenas de anos de história ilustre. Pertenceu a D. Nuno Álvares Pereira de Melo, personagem de grande relevo na história de Portugal e nomeado 1º Duque do Cadaval, em 1648 (não confundir com o general que derrotou Castela em Aljubarrota).
Teresa Schönborn é descendente desta família e o nome alemão vem do casamento de sua mãe, Graziela Álvares Pereira de Melo, com Friedrich Karl Anton, conde de Schönborn-Wiesentheid. A família possui vinhas na Alemanha, na Francónia (bem no coração do país) e no Reno, mais para o lado da França. “Já se faz lá vinho há 800 anos!”, graceja Teresa.
Por cá o terreno é muito maior. De facto, a Casa Cadaval é uma das maiores explorações agrícolas nacionais, com quase 5.000 hectares de terra. Sem contar com o pessoal adstrito à já famosa coudelaria de cavalos lusitanos (que data de pelo menos 1648!), aqui trabalham em permanência 37 pessoas, geridas por António Saldanha, o braço direito de Teresa. Para lá dos tractoristas da casa, que são muitos, a maior parte dos tratamentos e amanhos da vinha são realizados por pessoal de fora.
A herdade abrange muitas culturas – arroz e outros cereais, leguminosas, como tomate, gado de carne, uma enorme floresta de montado e, claro, vinha. Possui cerca de mil hectares de terra extremamente fértil e com abundância de água, dois factores que marcam fortemente a riqueza de uma exploração agrícola e o respectivo valor dessas terras. É por isso que o negócio do vinho nem sequer é o mais importante da Casa Cadaval. “A vinha (e o vinho) dá dinheiro, mas também muito trabalho”, diz-nos Teresa. No entanto, a maioria dos solos da Herdade de Muge é relativamente pobre e é exactamente aí que reside o enorme montado… e a vinha.
Um pulo às vinhas
Vinha e adega estão a cargo de Raquel Santos, a enóloga residente, e do consultor Mário Andrade, conhecido enólogo com um grande pendor na viticultura. Raquel entrou há cerca de um ano, vinda do Alentejo, mas a sua origem é do Dão e tem avô e pai viticultores. Ou seja, dois enólogos que adoram estar nos 45 hectares de vinha, espalhadas por três manchas: Adua, Serradinha e Amoreira. A primeira é a maior, a que tem a vinha mais velha e é onde estão, diz Raquel, “as castas com maior importância para nós”. Ou seja, é da Adua que saem os monocastas da casa, o topo de gama Marquesa de Cadaval, e por aí fora. As melhores partes e as uvas brancas são vindimadas à mão, juntamente com as vinhas muito jovens; o resto fica para uma máquina, alugada.
A vinha mais velha é de Trincadeira e data ainda de tempos antigos, quando a Casa Cadaval chegou a possuir 416 hectares de vinha, numa zona de areias. Na altura da plantação as coisas foram feitas a preceito, com a consultoria de técnicos franceses. A uva ia para vinho a granel e foi só por acção do pai de Teresa (e da avó) que a situação mudou, apostando-se antes em vinho com outras exigências de qualidade. Friedrich Karl Anton era, aliás, um “estudioso da vinha”, diz a filha. A área de vinha foi assim sofrendo reduções sucessivas. Com a nova vinha, e uma parcela de velha, o produtor começou a enviar vinho para a Alemanha, para a adega do pai de Teresa, onde era engarrafado com o rótulo Casa Cadaval. Isto por volta de 1975/1976. Por isso é que a marca tardou alguns anos a ser conhecida por cá, coisa que terá acontecido só por volta do início dos anos 80, altura em que existiam ainda muito poucas marcas no mercado português.
A era moderna da produção de vinho começou com o pai de Teresa, Friedrich, que, à semelhança do que acontecia na Alemanha, achava que as vinha tinha que ser plantada por castas e também que seriam feitos vinhos monovarietais. Hoje é corriqueiro, mas na altura era quase revolucionário. A Casa Cadaval foi assim das primeiras a lançar vinhos de uma só casta. E nas castas tintas apareceu Trincadeira, Pinot Noir, Cabernet Sauvignon, Merlot, e, nas brancas, a casta bem típica do Ribatejo, o Fernão Pires. Só bem mais tarde aparecem, por exemplo, outras castas brancas, como Riesling, Viognier e Verdelho.
Os solos de areia
Nos solos predominam as areias, algumas partes com argila no subsolo. Sondas colocadas o ano passado mostram bem os teores de humidade a um metro de fundo e têm ajudado muito os técnicos a planear a rega: “evitamos estar a regar demais ou de menos”, declara Mário. Aqui não há problema de falta de água. A enorme barragem, ao pé da sede agrícola da casa, os canais interiores e a proximidade ao Tejo asseguram que, mesmo nos Verões mais secos, exista sempre água em abundância. E o subsolo é também rico.
Ainda assim, a maioria da vinha está em solos com pouca fertilidade: “em média não conseguimos mais de 5 a 6 toneladas por hectare”, diz-nos Raquel. A técnica sabe que é pouco e que será bom para vinhos de qualidade, mas gostava de ter mais, mantendo o equilíbrio das uvas produzidas. Mário Andrade está de acordo e acrescenta: “aqui, com clima quente e solo pobre, até convém ter os bagos um pouco maiores, porque resistem melhor à seca e aos golpes de calor. Os antigos já o sabiam”.
Apesar de nenhuma vinha estar em terras de aluvião, Mário acredita que estes solos muito férteis são “excepcionais” para vinhos brancos, dando vinhos mais aromáticos e com menos taninos”. Para tintos, é melhor a charneca, a zona de solos mais pobres, que “dá vinhos mais estruturados e com mais taninos”.
À procura daquele solo especial
Mário e Raquel enfrentam, entretanto, num novo desafio, que é o de encontrar o espaço certo para plantar uma nova vinha. Já fizeram vários ensaios, em locais diferentes, mas até agora nenhum conseguiu reunir as condições certas para os requisitos dos técnicos. Os técnicos procuram, em termos muito simples, uma boa parcela, com solos de estrutura e perfil diferentes (para melhor) das existentes. Existe ainda muita terra para explorar e os ensaios vão continuar, porque esta não vai ser apenas mais uma vinha: “tem que ser boa e identitária”, diz Mário Andrade.
Com tanta mexida no campo, Raquel diz-nos que, no último ano, passou mais tempo na vinha que na adega. E vai conseguindo bons sucessos: as podas feitas este ano, por exemplo, foram de correcção. E o resultado foi muito bom, deixando Raquel muito contente: “Via-se que as plantas estavam mais felizes”, gracejou a técnica, enquanto nos dirigíamos para a adega.
Uma adega em remodelação
A adega foi em tempos concebida para vinificar milhares de toneladas de uva, por isso espaço é coisa que não falta. Chegaram-se a vinificar aqui 4 milhões de litros por ano e tudo estava em cimento, como era tradição, em quatro grandes alas. Muita coisa já mudou, entretanto, e outras vão mudar ainda nos próximos tempos. A traça original e vários depósitos vão-se manter, mas o laboratório desce do primeiro andar para o rés-do-chão e as seis prensas Titan – da Casa Hipólito, com 50 anos de idade – vão ser recuperadas. “São óptimas para tintos”, diz Mário.
Descemos ao piso subterrâneo, onde existem tegões de recepção, depósitos e muita maquinaria antiga, que vão sofrer remodelações e restaurações. É aqui que vão passar a ficar as barricas, até porque é o sítio mais fresco. Mário Andrade já espiolhou tudo e fica espantado com o planeamento da adega na altura e com algumas soluções engenhosas. Parece que, de facto, toda a adega foi planeada de raiz por enólogos franceses, há muitas décadas atrás. O enólogo acha que a adega é uma pequena jóia da arqueologia industrial.
De resto, Mário e Raquel são adeptos de vinificações minimalistas e das leveduras indígenas, sempre que possível. “É tudo o mais simples possível”, garante Mário Andrade, que fez centenas de testes ao longo dos anos e os vinhos feitos com métodos mais naturais (os testemunhas) estavam sempre entre os melhores. Por isso a receita é ter “uvas sãs, higiene e deixar correr o processo natural; dá menos trabalho, é mais barato e dá melhores resultados”.
Enoturismo a toda a força
Quem trata de toda a estratégia comercial e de marketing é Cátia Casadinho, com muita experiência nacional e internacional. Cátia organiza ainda o enoturismo da casa, com uma bela loja de vinhos, de generosas dimensões. A loja tem cada vez mais visitas, o resultado, diz Cátia, da crescente notoriedade turística de Portugal (e do seu vinho). As próprias agências pedem visitas, até porque a distância para a capital não é muita (75 km).
Na altura da nossa visita, um grupo de franceses tinha acabado de entrar, atraídos pelo sinal da loja de vinhos. É frequente fazerem aqui vários programas à volta do vinho (ver em www.casacadaval.pt), várias vezes com actividades complementares, como o baptismo de montar um cavalo lusitano, ou conhecer o montado de sobro. “Criamos aqui uma sinergia que acaba por gerar muita curiosidade nas visitas e é para nós uma mais-valia”, diz-nos Cátia. Outros atractivo é, por exemplo, a arqueologia. Prova disso são as vitrines na recepção com toda a espécie de artefactos de várias idades – do neolítico à época romana – encontrados um pouco por toda a herdade. Quase a querer dizer que, de facto, esta casa tem bem mais do que os 400 anos de história…
Edição Nº30, Outubro 2019
Factor X

Existem muitas definições para o chamado factor X. Aquela de que mais gosto explica-o desta forma: “Uma variável, numa dada situação, que pode vir a ter o impacto mais significativo no resultado final”. No caso do vinho, não tenho qualquer dúvida: a variável principal, o factor X, é o factor humano. TEXTO Luís Lopes O […]
Existem muitas definições para o chamado factor X. Aquela de que mais gosto explica-o desta forma: “Uma variável, numa dada situação, que pode vir a ter o impacto mais significativo no resultado final”. No caso do vinho, não tenho qualquer dúvida: a variável principal, o factor X, é o factor humano.
TEXTO Luís Lopes
O vinho é um produto da civilização. Ao contrário de outros bens que a natureza nos oferece, o vinho não pode existir sem a intervenção humana. Essa intervenção começa na própria videira, a vitis vinifera, resultado da domesticação da videira selvagem, e prolonga-se em todos os trabalhos de campo, sem os quais a videira não frutificaria. Diferentemente do que acontece com uma ameixeira ou macieira, por exemplo, uma vinha abandonada, passados alguns anos, deixa de dar frutos.
A progressiva banalização da palavra terroir pode levar-nos a pensar que a natureza tudo determina, e que o perfil de um determinado vinho é quase exclusivamente definido pelas características do local. Mas não é verdade.
A natureza é importantíssima na definição de um vinho, todos o sabemos. A mesma casta, trabalhada na adega da mesma forma, origina vinhos diferentes consoante o local onde nasceu, ou as condicionantes climáticas do ano vitícola. Mas a quantidade de variáveis introduzidas pela intervenção humana acaba sempre por sobrepor-se aos desígnios da natureza, com um impacto determinante no resultado final. Um exemplo, muito simples: perante um dado talhão de vinha, posso vindimar agora com 11% de álcool provável ou optar por colher as uvas mais tarde, com 14%. A decisão é minha, e desse exercício de livre arbítrio nascem vinhos completamente distintos. Multipliquemos isto por todo o tipo de variáveis aplicáveis na vinha e na adega decorrentes da intervenção humana e facilmente percebemos que cada decisão (mesmo a de não intervir) condiciona sempre o resultado final.
Nesta edição da Grandes Escolhas temos vários exemplos do poder do factor X na definição do perfil de um vinho. Desde logo, a grande prova de vinhos brancos de Monção e Melgaço. Em pouco mais de 30 vinhos provados, a diversidade de estilos patenteada é enorme. Estamos a falar da mesma casta (Alvarinho) e da mesma região, ainda que com diferenças de produtor para produtor ao nível de tipologia de solos, exposição solar ou altitude, que introduzem nuances distintas no aroma e sabor. Mas quando avaliamos dois vinhos produzidos em vinhas contíguas e nos deparamos com um deles exuberante, intenso e tropical, e outro, austero, citrino, mineral, percebemos então facilmente o efeito do factor humano no perfil de um vinho.
Veja-se, também nesta edição o caso de Cortes de Cima. Um produtor da Vidigueira resolve plantar vinha à beira mar, em Vila Nova de Milfontes. Podia ter dado mau resultado, pois não havia histórico vitivinícola no local. Dez anos depois, com muito trabalho para superar os exigentes desafios que a humidade atlântica traz, o novo terroir é uma aposta ganha. O mesmo se pode dizer de José Afonso, um médico que gosta (literalmente) de deitar as mãos à terra, em Souropires, Pinhel. Ali, a quase 700 metros de altitude, trabalha as vinhas antigas com as castas tradicionais, mas também faz belos vinhos das “imigrantes” Verdelho ou Chardonnay. Esses vinhos são, tal como os outros, produto daquele terroir. Um terroir do qual o Homem faz obrigatoriamente parte.
O factor X tem obviamente limites. Não é possível fazer um grande vinho num terroir que não está vocacionado para isso. Do mesmo modo, o ser humano é capaz, e demonstra-o com frequência, de desperdiçar um terroir de excelência fazendo vinhos vulgares. Ainda bem que assim é. É preferível tomar decisões, agir e aprender com os erros, até alcançar o máximo que um terroir pode dar, do que deixar um produto criado pelo Homem ao cuidado dos insondáveis desígnios da natureza. A natureza não faz vinho. Mas pode fazer um bom vinagre….
Edição n.º29, Setembro 2019
Reynolds Wine Growers: O oásis de um homem de paixões

[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]À frente da Reynolds está um empreendedor que não tem mãos a medir, de uma energia invejável. Julian Reynolds sabe bem o quer, desde muito cedo, e isso transparece nos vinhos criados à sua imagem e à […]
[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]À frente da Reynolds está um empreendedor que não tem mãos a medir, de uma energia invejável. Julian Reynolds sabe bem o quer, desde muito cedo, e isso transparece nos vinhos criados à sua imagem e à dos seus antepassados.
TEXTO E NOTAS DE PROVA Mariana Lopes
Estávamos no Monte da Figueira de Cima, em Arronches, e uma das primeiras coisas que Julian Reynolds nos desvendou foi “gosto muito da estética das coisas e de desfrutar delas”. Nota-se, a vinha junto às casas, culminando num monte de sobreiros, é um autêntico jardim de flores e as paredes caiadas a branco, com o friso azul a subir desde a base, estão imaculadas. Não há um canto desarranjado nem um telhado desalinhado. Os bonsais são uma das suas grandes paixões e sabe tudo sobre eles. O interior dos edifícios está recheado de belas obras de arte. Afinal, a formação original de Julian é em Belas Artes (o seu tio Joshua Reynolds fundou The Royal Academy of Arts), passando pelo Cinema (trabalhou seis anos na Columbia Pictures), e também pela Economia, um homem de sete ofícios que já fez de tudo um pouco. Agora, assentou no Alentejo e dedica-se ao vinho, ainda gerindo outros negócios à distância. “Sinto-me responsável pela beleza do Mundo”, disse Julian, com um sorriso sereno, parafraseando o imperador romano Adriano.
O nome Reynolds vem dos seus antecessores ingleses. Tudo começou quando, em 1820, o marinheiro e comerciante Thomas Reynolds chegou a Portugal atraído pelo negócio do vinho e pelas trocas comerciais entre Inglaterra e a Península Ibérica. Em 1838, Thomas e os seus filhos dedicam-se à indústria corticeira em Portugal e Espanha, especificamente em Albuquerque (apenas a 28km, em linha recta, de Arronches), local onde, entretanto, nasceram onze antepassados de Julian. Já em 1850, a família fixa-se em Estremoz. Alguns partiram, depois, para a Nova Zelândia com ovelhas merinas “debaixo do braço”, sem nunca mais voltar. Mas Robert, um dos filhos de Thomas, ficou e, com o mesmo espírito empreendedor que Julian herdou, toma conta dos negócios e cria mais uns tantos, adquirindo novas terras e produzindo ali vinhos de qualidade. Alguns Reynolds depois, nasce Gloria, mãe de Julian e talentosa violinista, e é a ela que este dedica o seu trabalho quando chega ali e compra a propriedade em 1996, criando em 2002 um vinho que leva o seu nome no rótulo: Gloria Reynolds. “Nessa altura, poucos faziam vinho nesta zona, apenas a Adega Cooperativa e a Tapada do Chaves”, contou Julian.[/vc_column_text][divider line_type=”No Line” custom_height=”10″][image_with_animation image_url=”40724″ alignment=”” animation=”Fade In” border_radius=”none” box_shadow=”none” max_width=”100%”][divider line_type=”No Line” custom_height=”10″][vc_column_text]DA SERRA À ADEGA, COM CONVICÇÃO
Como afirmou o produtor, “A História é importante mas o essencial é o que se faz agora, e como se faz”. Não há dúvidas de que estamos num local largamente influenciado pelo microclima da Serra de São Mamede. O vento que sentimos diz-nos isso e é bem-vindo, ajudando as videiras a prevenir-se de doenças. Entre os 200 hectares totais, com gado e plantações diversas, 40 são de vinha, até aos 420 metros de altitude, mais doze na Serra, até aos 600. “Altitude, boa drenagem, solos bastante minerais, excelente exposição e grande amplitude térmica é o que temos aqui, e o que se reflecte nos vinhos”, explicou o proprietário, que também revelou ter comprado aqueles terrenos a conselho do enólogo Francisco Colaço do Rosário. Os solos são xistosos, mas comportam em si muita variedade mineral, incluindo pedras de cariz vulcânico, e Julian lembrou que aquela área tem forte tradição mineira. Para obter mais concentração, reduzem a produção dos vinhedos, onde a casta mais presente é a Alicante Bouschet, bem como nos vinhos, e isso tem uma explicação: foi o bisavô e o seu irmão que trouxeram esta uva para o Alentejo, no século XIX. É caso para dizer “that’s quite a big deal”! Tanto que Julian afirma, e concretiza, “Quero que o Alicante seja a identidade dos nossos vinhos tintos”. Afinal, está-lhe “no sangue”. Mas também outras uvas tintas tradicionais da região marcam presença, como a Trincadeira, o Aragonez e o Cabernet Sauvignon, e brancas como Antão Vaz e Arinto. Quem pega em todas elas e as transforma em vinho são os enólogos Nelson Martins, braço direito de Julian no projecto, e Ana Real. Mas em todos eles se vê a mão do produtor, que sabe muito bem o que quer e transmiti-lo à sua equipa. “Fui criticado por lançar um Arinto, na altura em que estava a começar o projecto, porque me diziam ser uma casta desprezível, que só tinha boa expressão na costa atlântica”, confessou. Estamos a falar de uma casta que, hoje em dia, sabemos ser a branca mais viajável por todo o país, mas é perceptível que um dos grandes segredos do sucesso da Reynolds Wine Growers é a convicção de quem a gere.
O processo de produção está praticamente todo ali, incluindo linha de engarrafamento. A adega está num dos edifícios mais antigos, que outrora foi estábulo de bois, e que agora tem mais de duas dezenas de cubas da tanoaria francesa Seguin Moreau. Debaixo delas, um chão de ardósia com porosidade nula, que ao ser regado mantém a água na superfície e arrefece o ambiente, humidificando-o. Aliás, este é uma das industrias de Julian, a ardósia, e este conhece-a bem. A manutenção destas condições ideais de climatização é muito importante para a Reynolds, que é conhecida por fazer estágios bastante prolongados dos seus vinhos premium, em madeira e em garrafa. “É no campo da excelência e do bom gosto que me sinto confortável”, disse Julian, “e devo tudo à minha equipa, sem eles não faço nada e, aqui, todos ajudam em tudo”. A Reynolds, que produz cerca de 200 mil garrafas por ano, tem três marcas no mercado: Carlos Reynolds (o nome do filho de Julian, entrada de gama), Julian Reynolds e Gloria Reynolds (em anos de “excelente colheita”). Também um licoroso de Alicante Bouschet muito interessante faz parte do portefólio, Robert R. Reynolds, com notas de café e chocolate negro.[/vc_column_text][divider line_type=”No Line” custom_height=”10″][image_with_animation image_url=”40723″ alignment=”” animation=”Fade In” border_radius=”none” box_shadow=”none” max_width=”100%”][divider line_type=”No Line” custom_height=”10″][vc_column_text]SUSTENTABILIDADE DISCRETA
Além do tratamento de águas e reutilização, e da produção da própria electricidade, a Reynolds Wine Growers adopta medidas sustentáveis na viticultura que, actualmente, está em produção integrada. Contam com vários instrumentos tecnológicos, para melhor planificar a estratégia do ano vitivinícola, como estação meteorológica, sondas de humidade de solo, sondas de humidade das folhas e sondas de condutividade do solo. Não fazem tratamentos com nada vindo de fora da Herdade. Para fertilizar o solo produzem, “em casa”, uma massa orgânica composta por restos das podas, coberto vegetal e resíduos de vinificação, como bagaços e borras, juntamente com estrume dos animais. Isto também permite uma maior oxigenação e hidratação do solo. Já durante o desenvolvimento vegetativo, utilizam choques de aminoácidos provenientes das leveduras indígenas. Para conviver com as doenças e as pragas, na vinha, favorecem o aparecimento de predadores naturais. Isso é feito através da construção de abrigos naturais para coelhos, com restos de poda, pois a multiplicação dos coelhos leva ao aparecimento de aves de rapina que, por sua vez, afugentam pequenas aves que consomem as uvas. Utilizam cobre e enxofre de forma muito limitada e, para o evitar, aplicam infusões de plantas. Fazem, também, várias podas em verde para que haja mais arejamento das plantas, eliminando a humidade nas folhas e, consequentemente, evitar o desenvolvimento de fungos. Quanto ao gado, não têm mais do que podem alimentar com a própria plantação.
Julian, que emana uma aura positiva detectável a milhas, declarou: “Hoje, aqui, a fazer o que faço, estou de férias, porque foi pelas fantásticas férias que passava em Portugal, na minha infância, que decidi voltar e ficar. Mas não paro, a minha tarefa é continuar a procurar identidade”.[/vc_column_text][divider line_type=”No Line” custom_height=”10″][vc_text_separator title=”VINHOS EM PROVA”][vc_column_text]
Edição Nº28, Agosto 2019
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