Queremos gelados o ano inteiro!

O universo gastronómico é vasto e diversificado, sabemo-lo bem. E quanto mais nos interessamos por determinado assunto, mais ele se bifurca em mil outros. O grande capítulo dos gelados abarca muito mais do que o simples cone, copo ou pau que povoou a nossa infância. É um alimento autónomo particularmente nutritivo e particular amigo do […]
O universo gastronómico é vasto e diversificado, sabemo-lo bem. E quanto mais nos interessamos por determinado assunto, mais ele se bifurca em mil outros. O grande capítulo dos gelados abarca muito mais do que o simples cone, copo ou pau que povoou a nossa infância. É um alimento autónomo particularmente nutritivo e particular amigo do vinho. A minha experiência nesta faixa do conhecimento é uma acumulação sustentada de perplexidades. Algumas aconteceram cedo na minha vida e começo por essas, em jeito de convite à leitura de coisas menos comuns. Estamos perante uma explosão combinatorial, por isso escolho os momentos que melhor ilustram o caso.
O mundo em forma de gelado foi-me mostrado em momentos fortes e marcantes. Vem-me sempre à memória uma das muitas vezes em que fui a Espanha, para acompanhar os meus tios em viagens de negócios. Em 1979, com a ETA a impor o estado de sítio em Bilbau, tinha eu 14 anos apenas. Nas ruas, passavam militares de metralhadora em riste, com o dedo no gatilho e não havia pessoas entre o anoitecer e a alvorada. Havia muita tensão e medo portanto, que me fez, na altura, pensar seriamente na gravidade do momento. Foram buscar-nos, a mim e às minhas primas, ao hotel e seguimos para o clube náutico. Estava fechado, por efeito do estado de sítio que referi.
O indivíduo que nos convidou era acionista de referência do Banco de Bilbau, que decidiu mudar o nosso jantar para a exclusivíssima Sociedad Bilbaina. Experiência memorável. Fomos acomodados num salão fantástico, barroco em todos os aspetos, da decoração aos empregados, em trajes dignos de Luís XIV. Refeição impecável, com vários pratos e requinte a toda a prova. No momento final, vem a última sobremesa, com o simpático nome de souffle do Alasca. Uma imensa bola de gelado a flutuar em rum, a vir em chamas para a mesa. A dita grande bola foi cortada em fatias iguais, ainda em chamas, e finalmente servida em pratos individuais. Sabores que nunca mais esqueci. Sabia a pêssego e desfazia-se no contacto com a língua. Tinha, além disso, uma crocância assinalável e pequenos pedaços de frutos secos no corpo gelado da incrível sobremesa.
À maneira de Virgínia Woolf, puxo o fio da consciência e vem-me à memória uma conversa que já tinha tido antes com o imponente e bem disposto senhor Atílio Santini, na geladaria de Cascais, onde existe ainda hoje. Italiano, casado com uma espanhola, casal exemplar. Devo ter sido metediço. Estava ele a mexer um gelado num dos muitos potes gelados que compunham a geladaria e quis explicar-me como eram feitos. Aquele, em particular, era de baunilha e explicou-me que o segredo principal estava na matéria-prima propriamente dita. Deve ter sido a primeira vez que ouvi que se tratava de uma vagem delicada. Muito potente, mesmo quando utilizada em doses homeopáticas. A seguir perguntou-me qual era o gelado Santini de que mais gostava. A resposta era óbvia: limão. E ele explicou-me que os limões vinham de um pomar especial. Senti-me enganado, nesse tempo da minha vida achava que era feito com sumo de limão e que podia ser congelado. Sorriu, divertido, garantindo-me que o gelado de que eu era fã era mesmo feito com limões autênticos.
Muitas décadas mais tarde, conheci, na Bairrada, o grande mestre italiano da destilação Vittorio Capovilla, que me revelou o fascínio que tinha por alguns frutos portugueses. Um deles era o limão, outro a pêra rocha e outro ainda o pêssego. Enquanto me dizia isso, eu recordava a instrução recebida em criança do grande Santini. Autêntica epifania. Aprendi na mesma altura a diferença abissal entre gelado e sorvete. A principal é a presença ou não de proteína animal, normalmente na forma de natas ou outros derivados do leite. Importante é, neste caso, conseguir emulsionar uma gordura. Havendo emulsão, em princípio, conseguimos ter um gelado. É certo que a cozinha molecular tem aberto novas galerias de conhecimento e os gelados beneficiaram muito de todas elas. Quando temos apenas fruta ou uma qualquer essência a que juntamos água e açúcar, aí temos um sorvete.
Quase tudo o que sabemos sobre cozinha e ingredientes pode ter versões em gelado fascinantes e sápidas. O chamado trou normand, originalmente feito com a aguardente Calvados (de maçã), é, hoje, um sorvete feito a partir de ingredientes diversos, os quais têm como função fundamental limpar o palato. Outrora, era utilizado nas refeições para separar entre si os pratos de peixe dos de carne. A tecnologia entretanto desenvolvida veio facilitar muito a produção na cozinha, a ponto de permitir a inclusão de sorvetes em vários momentos da degustação. A máquina Paco Jet, com frio integrado, permite fazer uma quenelle de sorvete num par de minutos. Como se vê, o gelado chega a todo o lado.
Havia uma pequena fábrica de gelados por detrás da Igreja do Santo Condestável, em Campo de Ourique, Lisboa, onde o meu pai me levava. Tinha menos de sete anos e não tenho memórias geladas mais antigas que essa. Servia-se em pequenos copos de plástico e comia-se com uma colher ridiculamente pequena também feita a partir do mesmo material. Os cones eram muito frágeis. Desfaziam-se em três tempos, deixando as mãos cheias de gelado. Vistas bem as coisas, nesses meus verdes anos, o gelado em cone era uma fonte de problemas. O assunto só ficou resolvido quando apareceram os cones reforçados, que já conseguiam aguentar um gelado composto por cima. Foi um deserto relativamente difícil de ultrapassar. Houve um ponto intermédio na escala de aprendizagem, que me proporcionou muito prazer. Inicialmente, era feito com gelado básico, mas, com o tempo, ganhou consistência e qualidade. Falo da sandes de gelado. Não dura muito na mão, mas é fresca e saborosa. Gosto muito de a acompanhar com um Chardonnay sem madeira. As notas de pastelaria e panificação típicas da casta entroncam bem com a bolacha da sandes. O todo é maior que a soma das partes, sem dúvida. Tenho pena que seja uma raridade nas melhores gelatarias. Para mim, representa uma certa universalidade, embora saiba que não faz parte das preferências da maioria.
Foram os chineses?
É difícil estabelecer uma cronologia para a história do gelado. Isto porque adoçar a boca com uma preparação gelada ou semi-fria faz parte da humanidade desde sempre. Há dois mil anos, na Pérsia era prática corrente pegar em neve e deitar-lhe sumo de uva por cima, para criar uma sobremesa muito popular, ligada à própria história do vinho. Alexandre Magno, Rei da Macedónia, gostava de uma preparação semelhante, mas enriquecida com mel. Entre os séculos VII e X, na dinastia Tang, os chineses elevaram aos píncaros a arte da cozinha fria. Utilizavam, por exemplo, leite de búfala, para produzir gelados exóticos juntamente com farinha e cânfora. Seguramente influenciaram a vulgarização do sorvete e, depois, os gelados, tal como os conhecemos hoje.
Por outro lado, temos de atender ao facto de terem sido os árabes os primeiros a combinar leite, açúcar e sabores naturais entre si. Fizeram-no inicialmente com bebidas refrigeradas com neve, passando, a posteriori, a técnicas mais elaboradas, tocando no gelado actual. A abertura das rotas do Oriente trouxe a novidade total para Itália, França e a Europa em geral. Basicamente, raspava-se um gelo com uma ferramenta especial, que depois se impregnava e batia, mantendo a temperatura baixa. A cremosidade foi bem acolhida e foi-se criando um padrão universal, servindo o Velho Mundo por toda a parte.
No século XVI, os ovos entraram na dança culinária gelada pelas mãos dos chefs italianos e franceses. As custardas ganhavam assim notoriedade rápida e os gelados que se produziam eram deliciosos. No início do século XVIII, o gelado chega à América e rapidamente ganha força industrial, permitindo a todos o acesso à nova pequena maravilha. O resto é conhecido. Não terão sido, por isso, apenas os chineses, nem os ingleses, muito menos os franceses, a inventar o gelado. Mas, no fundo, e em termos práticos, o assunto não nos tira o sono.
O drama do chocolate
Enquanto nas frutas e compotas o gelado tem, desde cedo, parceiro firme e vantajoso, o chocolate tem, para mim, mistério diferente, nem sempre brilhante. Mesmo já na idade adulta e supostamente resolvida, não consegui albergar o gelado de chocolate no coração. E, no entanto, desde miúdo era cultor do chocolate quente da Mexicana, assim como do que se fazia na desaparecida pastelaria Suíça, no Rossio, ambas em Lisboa. A vida tem destas coisas, inexplicáveis. Ou talvez nem tanto.
O gelado de chocolate, para saber ao dito, não pode geralmente ser feito sem a chamada parte branca da fava do cacau. A redução ao frio extremo exacerba ainda mais essa separação clara entre doce e amargo. O chocolate de leite, de que nunca fui fã, é mais simpático e reage positivamente ao estímulo chocolateiro. Por isso, o mundo inteiro aplaude o Ferrero Rocher e diz um tremendo não à semente amarga contida na fava. Quando se trata de chocolate branco, a conversa muda completamente. Damos-lhe esse nome, mas nada tem de chocolate e, tradicionalmente, conhecemo-lo por manteiga de cacau. Ao contrário do chocolate negro, com 70% ou mais de cacau, é rico em gordura, pelo que emulsiona com total eficácia. É utilizado em abundância em bombons, coberturas de pastelaria e gelados. Um emulsionante eficaz pode fazer as vezes, mas não sabe a chocolate. É um drama com o qual temos de conviver. Eu prefiro, como em criança, continuar a evitar o gelado de chocolate. É apenas um parti pris, mas é muito real.
Uma refeição completa
Um gelado pode ser uma refeição completa. Acidez, polifenóis, amargos e doces tornam-no numa iguaria apetecível e até nutritiva. Para nós, “povo tuga”, conservador por natureza, vai demorar muito até que isso aconteça por cá. Faz falta ir até ao Lago Como, nos arredores de Milão, para acompanhar amigos ao almoço na época certa. É absolutamente vulgar e tradicional irmos até essas paragens para saborear um grande gelado. Está a conversa feita. É ver para crer e eu, não só vi como provei. Até repeti. E voltarei, sempre que me for possível. Não é preciso o exotismo da paisagem maravilhosa ao alcance dos milaneses. Nos restaurantes de Milão também se pratica este saudável costume. Nunca cheguei a ver, com os meus olhos, os milaneses a beber vinho com os seus gelados, mas curiosamente é exercício que faço abundantemente. Naturalmente, recomendo a todos que ponham de parte o preconceito e se atrevam a maridar um gelado… com vinho! A experiência é gratificante e dessa nem o senhor Santini se lembrou, senão tinha-nos sentado às suas mesas felizes com um copo de vinho.
A verdade é que uma bola ou quenelle de gelado pode fazer uma enorme diferença no prato. Aperitivos, entradas, pratos de peixe, pratos de carne, pratos vegetarianos e sobremesas, todos podem ser mais equilibrados se contarem com um apontamento gelado. A cozinha japonesa habituou-nos ao gelado de chá verde com feijão e é das melhores recompensas que podemos ter à mesa; o de melancia complementa na perfeição o estufado tipicamente transmontano de feijão verde, tomate e cebola, e harmoniza bem com um branco de Arinto com três anos. Um gelado de ameixa no prato ao lado de melanzana à Parmigiana – prato de beringela e queijo – é a redefinição da palavra delícia. E tantas outras maridagens são possíveis, a maioria das quais ainda por descobrir.
Experiências felizes
Certo dia, por iniciativa do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP), rumei até ao triplamente estrelado Can Roca, na Catalunha. Almoço memorável, que ainda perdura na minha memória. Pratos de incrível rasgo criativo e técnico, sempre em sucessão surpreendente e até pedagógica. A boa mesa é uma grande oportunidade para crescer e aprender. De repente, como última sobremesa, vem um copo grande com várias gulodices dentro, todas geladas. Alcaçuz, caramelo, framboesa e baunilha, todas com a forma de outras gulodices, servidas com um Porto 40 Anos.
A sequência de toda a refeição foi, por isso, terminada com o chef Jordi Roca, o mais jovem dos três irmãos Roca e o que habitualmente trata da doçaria da casa. A explicação do chef pasteleiro caiu como uma bomba para mim: era de que se tinha recriado o copo de gomas e rebuçados que o pai de Jordi lhe comprava em miúdo, quando iam ao parque de diversões. Felicidade suprema, partilhada com simplicidade por um dos melhores do mundo. Vivam o gelado e as boas memórias!
(Artigo publicado na edição de Novembro de 2025)
TINTOS DO ALENTEJO: A plenitude de uma região

O Alentejo estende-se da fronteira com Espanha até à Costa Vicentina, desce a Serra de São Mamede, em Portalegre, e propaga-se até ao Algarve. A região, amplamente banhada pelo sol, é moderada por influências marítimas no litoral e pela continentalidade no interior, proporcionando amplitudes térmicas diárias. Apresenta a maior diversidade de solos do país – […]
O Alentejo estende-se da fronteira com Espanha até à Costa Vicentina, desce a Serra de São Mamede, em Portalegre, e propaga-se até ao Algarve. A região, amplamente banhada pelo sol, é moderada por influências marítimas no litoral e pela continentalidade no interior, proporcionando amplitudes térmicas diárias. Apresenta a maior diversidade de solos do país – xistosos, graníticos, argilosos e arenosos, sobretudo –, o que se reflete diretamente no perfil dos vinhos. Portanto, é natural que revelem expressões muito diferentes.
Da herança romana à excelência atual
Habituamo-nos a pensar que o Alentejo é uma região vitivinícola recente, porque confundimos o boom de crescimento com a história do próprio território, que já vai longa. O cultivo da vinha remonta à época romana, como comprovam vestígios arqueológicos encontrados na região, entre eles, grainhas de uva nas ruínas de São Cucufate, localizadas junto à Vidigueira, e antigos lagares atribuídos a esse período. As talhas de barro usadas para fermentar e conservar o vinho também são uma herança romana na região.
O Alentejo viveu várias épocas de ouro e crises profundas: a invasão muçulmana; a aposta do Marquês de Pombal no desenvolvimento do Douro; a praga de filoxera; a primeira guerra mundial e a campanha cerealífera do Estado Novo.
Embora já existissem as referências emblemáticas de Mouchão, Tapada do Chaves, Quinta do Carmo ou José de Sousa, o verdadeiro impulso dos vinhos alentejanos deu-se nas duas últimas décadas do século passado, com a demarcação da região em 1988/89. As grandes marcas, que então surgiram, conquistaram o consumidor através dos vinhos redondos e macios, com fruta madura, muita presença e consistência.
Em 1985, nasceu a marca Esporão. A empresa também viria a ser pioneira no enoturismo, abrindo as portas ao público em 1997. A Fundação Eugénio de Almeida lançou, por sua vez, duas marcas representativas do Alentejo: Cartuxa (1986) e Pêra-Manca (1990). Ambas alcançaram grande sucesso em Portugal e no Brasil, e não só mantiveram a fama, como se tornaram clássicas, competindo, hoje, lado a lado, com as novas estrelas em ascensão.
Na década de 90 aconteceram mudanças significativas no estilo de vinhos alentejanos, com a contribuição de dois grandes enólogos: João Portugal Ramos, que iniciou depois o próprio projecto, e o australiano David Baverstock, que assumiu a responsabilidade de enologia no Esporão em 1992. Antigamente, os vinhos alentejanos ou não passavam por madeira, ou estagiavam em vasilhas usadas, normalmente barricas de 500 litros ou tonéis de maior capacidade. Utilizava-se, sobretudo, carvalho português e, por vezes, até castanho. Com estes dois enólogos, introduziu-se o uso de madeira nova e de meias barricas de carvalho francês e americano. Os vinhos tornaram-se mais estruturados e texturados, com notas de especiaria e a doçura subtil da madeira.
Na primeira década de 2000, surgiram, entre muitos outros produtores, a Herdade do Rocim, a Fitapreta e a Herdade da Malhadinha, que actualmente estão bem consolidados e são amplamente reconhecidos.
Habituamo-nos a pensar que o Alentejo é uma região vitivinícola recente, porque confundimos o boom de crescimento com a história do próprio território, que já vai longa
Investimento na terra
As características do Alentejo e o sucesso junto do consumidor motivaram produtores de outras regiões e até empresários estrangeiros a investir neste território vitivinícola. Apenas alguns exemplos: em 2010, o casal suíço Erika e Thomas Meier adquiriu a Herdade da Cardeira, localizada a Norte de Borba; em 2015, o casal brasileiro Alberto Weisser e Gabriela Mascioli comprou a histórica Tapada de Coelheiros, em Arraiolos; empresário alemão Dieter Morszeck investiu na Quinta do Paral, na Vidigueira, onde reabilitou e ampliou a vinha existente, e comprou parcelas com mais de 70 anos, na zona de Vila de Frades; David Baverstock, em parceria com o empresário inglês Howard Bilton, inaugurou a adega Howard’s Folly, em Estremoz.
Nos últimos cinco a oito anos, produtores do Douro, cientes do potencial do Alentejo, começaram a investir na região. Foi o caso da Symington Family Estates que, em 2017, expandiu as operações para o Alentejo, dando início ao projecto da Quinta da Fonte Souto, em Portalegre, com 43 hectares de vinha entre os 490 e 550 metros de altitude. No mesmo ano, a empresária Luísa Amorim, responsável pela duriense Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo e pela Taboadella, no Dão, com o cunho pessoal e familiar, fez renascer a Herdade da Aldeia de Cima, na Serra do Mendro, junto à Vidigueira. Em 2021, António Boal, conhecido pelos vinhos do Douro e de Trás-os-Montes, expandiu a Costa Boal Family Estates para o Alentejo, através da aquisição da Herdade dos Cardeais, perto de Estremoz. Na mesma época, o enólogo duriense Manuel Lobo uniu duas propriedades da família sob a marca Lobo de Vasconcellos Wines.
As sub-regiões do Alentejo: 8 + 1?
A Denominação de Origem Alentejo inclui oito sub-regiões oficialmente reconhecidas: Borba, Évora, Granja-Amareleja, Moura, Portalegre, Redondo, Reguengos e Vidigueira. Contudo, há um território que reúne todas as condições para se tornar a nona sub-região: Beja. Numa área tão vasta e diversa em solos, relevo e clima como o Alentejo, esta possibilidade não é de todo improvável.
Nos arredores de Beja, faz-se vinho há mais de mil anos. Porém, durante o Estado Novo, os agricultores foram obrigados a dedicar-se ao cultivo do trigo, tornando este distrito o principal produtor de cereal do país. Entretanto, à volta de Beja nasceram projectos de referência, com volumes de produção interessantes, consistência na qualidade, notoriedade e forte aposta no enoturismo, contribuindo para o novo dinamismo vitivinícola da zona. Referimo-nos à Herdade da Malhadinha Nova (1998), Santa Vitória (2002), Herdade dos Grous (2004) e Herdade da Mingorra (2004), que já atingiram massa crítica suficientes para justificar a criação de uma nova sub-região DOC no Alentejo.
Segundo os dados mais recentes do IVV, a Alicante Bouschet assumiu a liderança no Alentejo, com 17,6% da área plantada
Alicante Bouschet e Co.
Aquando da demarcação da região, a área de vinha do Alentejo registava 11 510 hectares. Desde então, não parou de crescer, atingindo, em 2014, 26 066 hectares. Não há dúvida de que hoje a Alicante Bouschet define a identidade dos vinhos alentejanos, especialmente quando falamos de topo de gama. A casta, de origem francesa, chegou a Portugal no final do século XIX. Pela sua longa história e méritos comprovados, conquistou a “cidadania” na região, onde tem mais tradição do que no país de origem.
Segundo os dados mais recentes do IVV, a Alicante Bouschet assumiu a liderança no Alentejo, com 17,6% da área plantada, ultrapassando a Aragonez, que ocupa, agora, o segundo lugar, com 17,2% (embora nos cadastros da Comissão Vitivinícola Regional Alentejana, esta variedade ainda surja em primeiro, devido a um método de contagem diferente).
Produz generosamente, ultrapassando, facilmente, 15 toneladas por hectare, obrigando a controlar a produção (através da poda curta e monda em verde) entre as sete e oito toneladas por hectare, no máximo, para preservar a identidade. Amadurece tarde, mas a maturação completa é de extrema importância, porque tem película e polpa rica em compostos fenólicos. Não estando bem madura, exprime rusticidade, taninos duros e notas vegetais. Plantada no sítio certo, com produção controlada e ao atingir o ponto óptimo de maturação, revela a essência mais nobre: concentração, volume de boca, força, elegância e longevidade. A intensidade corante é o cartão de visita, já que se trata de uma casta tintureira (com polpa corada). Contribui com isto tudo no lote e não se intimida a solo. Só nesta prova de 36 vinhos, a Alicante Bouschet marcou presença em 25, dos quais três são monovarietais.
Líder nacional em área plantada, a Aragonez também está omnipresente no Alentejo. Confere grande estrutura tânica, mas peca por falta de acidez, sendo combinado, geralmente, com castas que entreguem outras qualidades ao lote. As parceiras mais frequentes são Trincadeira, Alicante Bouschet, Touriga Nacional e, por vezes, Cabernet Sauvignon.
A Trincadeira ainda ocupa o terceiro lugar em área plantada, mas não goza da popularidade de outrora, estando em franco declínio. É uma casta antiga, referida desde 1711, e uma das mais tradicionais do Alentejo. Gosta de condições quentes e preserva bem a acidez, mas apresenta algumas vulnerabilidades. Os cachos compactos, combinados com uma película fina e frágil, tornam-na susceptível às podridões. Além disso, a película não a protege do calor excessivo, fazendo com que os bagos se desidratem, enquanto chuvas abundantes podem fazer os bagos inchar e rebentar. Paulo Laureano descreve-a com carinho: “É uma casta muito feminina: se fizermos tudo bem, cada pequena coisinha, ela é extraordinária; se nos enganarmos numa coisa insignificante, é um desastre.” A Trincadeira continua a ter um papel importante nos lotes tradicionais do Alentejo, frequentemente em parceria com Aragonez e Alicante Bouschet. Aromaticamente, apresenta notas vegetais, herbáceas e apimentadas, para além da fruta.
A Syrah é a quarta casta mais plantada neste vasto território e continua em expansão. Há 35 anos, praticamente ninguém a conhecia e não constava na lista das castas autorizadas da região. Entrou “incognitamente” nos encepamentos e nos vinhos alentejanos pela Cortes de Cima, em 1991, e logo conquistou a atenção e o entusiasmo. Hoje, é uma das paixões gerais dos produtores e consumidores da região.
Para a Touriga Nacional, o Alentejo não é o habitat de eleição, mas a maturação longa traz vantagens na adaptação ao clima regional. Suporta bem a seca, mantendo os bagos túrgidos. Aromaticamente expressiva, é muito apreciada nos lotes, embora, por vezes, se torne um pouco dominante.
Há outra casta do Norte que conquista cada vez mais adeptos na região: Touriga Franca. De ciclo longo, adaptou-se bem às condições alentejanas: não perde folhas basais durante a seca e apresenta bom desempenho tanto em lotes, como em vinhos monovarietais, nos anos mais favoráveis. Nesta prova, esteve presente um monovarietal de Touriga Franca da Plansel.
A Castelão, casta tipicamente alentejana dos tempos passados, tem vindo a perder, literalmente, terreno, e a Cabernet Sauvignon, que chegou ao Alentejo antes da Syrah, nunca atingiu o mesmo protagonismo, mantendo-se relativamente estável nas plantações. Esperava-se que, por ser tardia, se adaptasse ao calor da região, mas o clima é demasiado quente para a casta. O enólogo e produtor Hamilton Reis explica que a Cabernet Sauvignon passa rapidamente “de carácter vincadamente verde a sobremaduro”. Na primeira situação, “os taninos mostram dureza e amargor” e, na segunda, “ficam flácidos e com doçura”, comprometendo o equilíbrio. Pedro Batista, da Fundação Eugénio de Almeida, acrescenta que a célebre casta francesa no Alentejo não apresenta consistência, produzindo “vinhos extraordinários dois anos em cada dez”.
Mais duas castas francesas procuram, no Alentejo, condições melhores do que as da sua origem: Petit Verdot e Petite Sirah. A primeira é uma variedade de ciclo longo e muito tardia, que precisa de sol para amadurecer os taninos; em Bordeaux, não teria qualquer hipótese para brilhar, mas, na referida região portuguesa, encontrou o clima favorável. A segunda, Petite Sirah, sinónimo da casta francesa Durif, foi criada, no século XIX, por François Durif, a partir do cruzamento de Syrah com Peloursin Noir. Quase desapareceu em França, mas alcançou grande sucesso na Califórnia e está presente em alguns países do Novo Mundo. No Alentejo, já começa a afirmar-se, superando castas como Tinta Caiada, Tinta Miúda e Tinta Grossa. Amadurece relativamente tarde e revela preferência por climas quentes e secos. Com cachos compactos e bagos pequenos de casca espessa, rica em antocianinas, produz vinhos muito concentrados e estruturados.
Entramos agora nas castas de nicho. Algumas já tiveram grande representatividade na região, mas, agora, estão fora de moda. A Moreto é uma casta antiga, presente no Alentejo desde o século XIX. Vigorosa e bastante produtiva, revela melhor o carácter quando provém de vinhas mais velhas ou é implantada em solos pobres, onde o vigor e a produtividade são naturalmente controlados. É rústica e muito resistente ao calor, o que explica a sua presença histórica na região, acima de tudo nas zonas mais quentes. Amadurece lentamente e tarde, sendo uma das últimas a ser vindimada, mas nunca atinge teores de álcool elevados. Aromaticamente, não é muito intensa, apresentando fruta vermelha delicada e tem vocação especial para vinhos de talha, mas raramente entra nos topos de gama.
A Alfrocheiro é uma das variedades mais antigas de Portugal. Progenitora de Moreto, Castelão e muitas outras castas, é uma casta muito produtiva, se não for controlada, delicada e tem capacidade para produzir vinhos entusiasmantes. Normalmente, entra nos lotes e raramente chega aos vinhos topo de gama. Nesta prova, esteve presente em dois vinhos provenientes de vinhas velhas: Vinhas da Ira, da Mingorra, e Os Paulistas Chão dos Eremitas, de António Maçanita.
A Tinta Caiada é originária do Nordeste de Espanha, onde é conhecida como Parraleta. Em 1900, Cincinato da Costa descrevia-a, na obra O Portugal Vinícola, como “uma casta de grande produção e rendimento, cultivada em larga escala no Alentejo e geralmente apreciada por dar muito vinho”. Referia ainda que “acomoda-se a todos os terrenos, não chegando, no entanto, a amadurar bem nos terrenos baixos e húmidos”. A casta terá recebido o nome Tinta Caiada, devido ao “enfarinhado abundante” que reveste os bagos, lembrando uma poeira branca. Actualmente, são poucos os produtores a apostar nesta variedade, destacando-se a Herdade da Cardeira, a Adega Maior e João Portugal Ramos, nos quais assume protagonismo em vinhos monovarietais.
A Tinta Miúda (conhecida por Graciano, em Espanha, tem muito mais expressão, sobretudo no Norte), existe na região de Lisboa, onde tem dificuldade em amadurecer bem, além de que se revela sensível à podridão. No Alentejo, apresenta bons resultados, com maturação tardia e capacidade de preservar acidez natural sem ganhar muito açúcar (a Baga também tem um pouco este papel no Alentejo). É um componente importante de lotes e Luís Duarte, enólogo na Herdade dos Grous, é fã assumido desta casta. Os vinhos Reserva da casa tinham, inicialmente, no lote Touriga Nacional, Alicante Bouschet e Syrah, mas, a partir de 2007, esta última foi substituída com sucesso por Tinta Miúda. Torre da Palma é outro topo de gama com Tinta Miúda no lote.
Aquando da demarcação da região, a área de vinha do Alentejo registava 11 510 hectares. Desde então, não parou de crescer, atingindo, em 2014, 26 066 hectares
O típico blend do Alentejo
A Alicante Bouschet é, hoje, a espinha dorsal do blend típico do Alentejo, muitas vezes em parceria com outras castas que também conferem estrutura e até complexidade ao vinho, como a Syrah, a Aragonez e a Touriga Nacional. Às vezes, surge Trincadeira e Cabernet Sauvignon, para mostrar outras facetas e, muito raramente, as castas mais delicadas, como Alfrocheiro, Castelão, Tinta Caiada, Tinta Miúda e Moreto, na qualidade de “sal e pimenta”.
Nos vinhos clássicos é possível acompanhar a evolução do perfil da região ao longo do tempo. Os primeiros Cartuxa Reserva, produzidos desde 1987, eram feitos a partir de Trincadeira, Aragonez e Alfrocheiro, e não se repetiam todos os anos, como recorda o enólogo Pedro Batista. No final da década de 1990, início dos anos 2000, a Alicante Bouschet começou a ganhar protagonismo, geralmente acompanhada por Trincadeira ou Aragonez. No Cartuxa Reserva, apresentado nesta prova, a base é Alicante Bouschet e Aragonez, com um toque de Cabernet Sauvignon.
Outro exemplo clássico é o Garrafeira dos Sócios da CARMIM, criado em 1982 como oferta premium exclusiva para os associados da cooperativa. Os primeiros lotes eram elaborados com castas tipicamente alentejanas, como Castelão, Moreto e Tinta Caiada, entre outras. Mais tarde, o destaque passou para Aragonez e Trincadeira, e a Cabernet Sauvignon começou a integrar o lote. Nos vinhos mais recentes, a Alicante Bouschet assume a maior responsabilidade, como nesta edição, em que a casta predomina, com 55% do lote, tendo a Aragonez um papel secundário, com 30%, e a Cabernet Sauvignon a assumir-se como figurante, com 15%.
A grandeza nasce da precisão
É natural que as castas que retratam uma região estejam sujeitas a modas e tendências, mas também à evolução. Podemos recordar, com um toque de nostalgia, os grandes alentejanos de outrora, que as novas gerações provavelmente nem chegarão a conhecer, a menos que os entusiastas, como António Maçanita, que apostam na preservação das vinhas velhas e nas castas ancestrais, se encarreguem de manter viva essa memória e assegurem que a identidade vínica do Alentejo não se dilua na modernidade. Convém também lembrar: o que ontem foi inovador, amanhã torna-se clássico.
As formas de vinificação também evoluem com o tempo e estão sujeitas às mesmas modas e tendências. Se, nos anos 90, se introduziu a barrica nova de carvalho francês e de capacidade mais reduzida, hoje nota-se o regresso a depósitos de maior volume, não necessariamente de carvalho, e o betão está novamente em destaque. Não estamos perante um ciclo fechado, mas sim de uma nova volta de espiral. Afinal, o grande vinho é sempre uma triangulação de casta, sítio e enologia.
O Esporão Private Selection surgiu, em 1987, como Garrafeira de uma selecção de barricas do Esporão Reserva. Na década de 1990, com David Baverstock, então enólogo responsável, foram plantadas as castas Syrah e Alicante Bouschet, com o objectivo de criar um topo de gama “mais forte, firme e estruturado”. Em 2000, apresentaram oficialmente o Esporão Private Selection. Ao longo dos anos, o lote foi composto por Alicante Bouschet, Aragonez e Syrah; em 2016 entrou a Touriga Franca e, na colheita de 2019, incluíram a Touriga Nacional. Mais importante do que as castas, é o facto de representarem o lote de vinhas, sendo, o vinho, pensado na raiz. A abordagem enológica é ajustada a cada casta e parcela. A Aragonez, a Touriga Franca e a Touriga Nacional fermentaram em lagares de mármore com pisa a pé, mas estagiaram em vasilhames distintos: a Aragonez em balseiros de 5000 litros, a Franca em barricas de 500 litros e a Nacional em barricas de 225 litros. A Alicante Bouschet fermentou em cubas de betão e estagiou em barricas novas de 500 litros.
Este é apenas um exemplo de como a precisão na vinha e na vinificação cria um vinho de grande afinação e complexidade. Os vinhos podem ser feitos das mesmas castas, enaltecendo o traço de uma região, mas a diferença está nas pinceladas finas, na interligação de todos os componentes. Enfim, na precisão.
(Artigo publicado na edição de Novembro de 2025)
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Torre de Palma Reserva da Família
Tinto - 2017 -

T Quinta da Terrugem
Tinto - 2015 -

Rocim Crónica #328
Tinto - 2022 -

Reguengos Garrafeira dos Sócios
Tinto - 2021 -

Quinta do Paral
Tinto - 2019 -

Quinta da Fonte Souto Vinha do Souto
Tinto - 2019 -

Mingorra Vinhas da Ira
Tinto - 2018 -

Marias da Malhadinha Vinhas Velhas
Tinto - 2021 -

Howard’s Folly Cristina
Tinto - 2019 -

Herdade do Sobroso Élevage
Tinto - 2023
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Quinta da Viçosa Single Vineyard
Tinto - 2021 -

Quetzal Família
Tinto - 2017 -

Plansel
Tinto - 2023 -

Marmelar
Tinto - 2019 -

Mainova Matremilia
Tinto - 2020 -

Herdade do Peso Parcelas
Tinto - 2020 -

Havendo Tempo
Tinto - 2021 -

Conde d’Ervideira Private Selection
Tinto - 2021 -

Comendador Leonel Cameirinha
Tinto - 2018 -

1808 Field Blend
Tinto - 2017
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Aldeia de Juromenha Signature
Tinto - 2021 -

Abegoaria dos Frades
Tinto - 2022 -

Tapada da Fonte
Tinto - 2023 -

Santos da Casa Fazem Milagres
Tinto - 2021 -

Santa Vitória
Tinto - 2023 -

Herdade Paço do Conde
Tinto - 2018 -

Herdade dos Grous
Tinto - 2023 -

Tapada de Coelheiros
Tinto - 2021 -

Ravasqueira Premium
Tinto - 2014 -

Quinta dos Cardeais
Tinto - 2019
Poente by Vallado. Onde? Na cidade do Porto

É o novo marco na expansão do enoturismo da Quinta do Vallado. Está instalado num edifício de quatro pisos, datado do século XVIII, localizado na zona ribeirinha da “Invicta” e totalmente recuperado em 2024. O projeto de arquitetura de interiores é da autoria do Arquiteto Francisco Vieira de Campos, que primou pelo cruzamento de linhas […]
É o novo marco na expansão do enoturismo da Quinta do Vallado. Está instalado num edifício de quatro pisos, datado do século XVIII, localizado na zona ribeirinha da “Invicta” e totalmente recuperado em 2024. O projeto de arquitetura de interiores é da autoria do Arquiteto Francisco Vieira de Campos, que primou pelo cruzamento de linhas contemporâneas cruzadas com as memórias do património histórico edificado da cidade.
No piso térreo, está a loja de vinhos, onde é possível adquirir toda a gama de produtos Vallado, uma sala dedicada aos vinhos do Porto, um espaço museológico criado com base na história da referida propriedade duriense, fundada em 1716, e esplanada virada para o rio Douro, destinada ao serviço de vinhos e tapas. A mesma vista é partilhada pela esplanada do primeiro piso, onde o wine bar e restaurante dá palco à carta assinada pelo Chef David Jesus. A premissa é enfatizar os sabores do Douro. A harmonização cabe aos vinhos de mesa e do Porto. Já o segundo andar é constituído por uma sala aberta a vários tipos de degustações, que vão das provas standard às colheitas antigas. No topo do edifício está a Sala Adelaide. O espaço mais exclusivo do Poente by Vallado presta homenagem a D. Antónia e ao vinho icónico Adelaide, e está preparada para refeições privadas, que aliam menus de degustação a vinhos premium, sessões corporativas e provas especiais. A vista, já se sabe, é para o rio Douro.
A gestão está nas mãos de Matilde Álvares Ribeiro, para quem “o Poente nasceu da vontade de aproximar o Vallado do Porto e do mundo. É um espaço que liga a memória do Douro ao pulso da cidade, onde queremos receber cada visitante como recebemos quem chega à nossa casa. Para nós, é mais do que enoturismo: é assumir a identidade do Vallado e projetá-la, com autenticidade e ambição, para o futuro”.
Os retratos da vindima

Na CARMIM, em Reguengos, Tiago Garcia e Rui Veladas confiam na longevidade dos tintos de 2025 + Uvas extremamente sãs, com óptimo estado sanitário. Brancas vindimadas mais cedo, com bela acidez e equilíbrio, resultando em vinhos citrinos, frutados e delicados. Nas uvas tintas, destaque para as castas mais tradicionais, como Aragonez, Trincadeira e Alicante Bouschet, […]
Na CARMIM, em Reguengos, Tiago Garcia e Rui Veladas confiam na longevidade dos tintos de 2025
+ Uvas extremamente sãs, com óptimo estado sanitário. Brancas vindimadas mais cedo, com bela acidez e equilíbrio, resultando em vinhos citrinos, frutados e delicados. Nas uvas tintas, destaque para as castas mais tradicionais, como Aragonez, Trincadeira e Alicante Bouschet, com muito boa maturação fenólica, concentração e taninos de qualidade, condições ideais para potenciar o estágio dos vinhos nas barricas.
– As elevadas temperaturas na primeira semana de Agosto e a elevada humidade noturna das semanas seguintes resultaram em maturações menos homogéneas para algumas castas, como a Touriga Nacional e a Touriga Franca, dando origem a alguns vinhos menos equilibrados.

Na Cooperativa Agrícola de Pegões, a experiência e conhecimento de Jaime Quendera são determinantes
+ Muita chuva entre Janeiro e Maio, deixando os solos bem nutridos e permitindo um ciclo vegetativo equilibrado, praticamente até às vindimas. Uvas de excelente qualidade em todos os aspectos enológicos: bom fruto significa bom vinho. Vindima em condições secas, possibilitando colheita faseada, sem stress e sem o risco de podridões ou outros problemas que habitualmente surgem com a chuva nesta fase.
– Menos 25% de uvas face à média dos últimos cinco anos. As chuvas abundantes causaram a ocorrência de míldio nas vinhas menos cuidadas, originando alguma perda da matéria-prima. Este cenário foi agravado pela fraca nascença, inferior ao habitual, e ainda por episódios de escaldão no final de Julho e início de Agosto, coincidentes com a onda de calor que afectou Portugal durante mais de 20 dias.

Em Valle Pradinhos, um ícone de Trás-os-Montes, Rui Cunha faz vinhos desde 1997
+ Início da vindima, a 1 de Setembro, com a Tinta Roriz para rosé, antes da Gewürztraminer, algo inédito em 27 anos! Maior quantidade de uvas brancas que em 2024. Nas castas tintas, bagos mais pequenos (em média menos 10% do peso de 200 bagos quando comparado com 2024), o que originou vinhos tintos com muito boa cor e uma belíssima estrutura.
– Menor produção nas castas tintas, com menos cerca 15% face a 2024. Maior percentagem de uvas-passas, o que obrigou a uma menor velocidade do tapete de escolha, para permitir uma selecção da uva em condições. Número elevado de mão de obra estrangeira, implicando menor velocidade no corte e necessidade de explicação diária sobre o que não vindimar (netas).

Director de enologia do grupo Bacalhôa, Francisco Antunes seguiu a vindima em várias regiões
+ No Douro, a excelente maturação, a qualidade dos taninos, a intensidade aromática e estrutura da Touriga Nacional. Em Setúbal, as maturações faseadas, com bela acidez e concentração, e destaque para Chardonnay, Fernão Pires, Merlot e Cabernet. No Alentejo, brancos exuberantes e frescos, e tintos poderosos de Alicante Bouschet. Na Bairrada, óptimas bases de espumante a partir de 11 de Agosto e tempo seco, que permitiu esperar pela Baga até final de Setembro, para excelentes tintos de guarda.
– Florações complicadas e menor produção no Douro e na Merlot da Bairrada. Vaga de calor, com alguma desidratação em certas castas tintas do Douro e Setúbal, e maturação precoce da Cabernet no Alentejo. Quebra de produção na Moscatel de Setúbal, devido ao escaldão. No Alentejo, forte chuvada com granizo, na primeira semana de Agosto, afectou alguns talhões virados a norte.
A casta Alicante Bouschet é estruturante na Reynolds Wine Growers e nos tintos criados por Nelson Martins
+ Boa maturação fenólica, com bela acidez e teores alcoólicos moderados, originando vinhos elegantes, frescos e de taninos maduros. Nos brancos, destaca-se a fresca exuberância citrina da Arinto. Nos tintos, a elegância da Trincadeira e a fruta e intensidade da Syrah. A chuva de 7 de Setembro e a descida das temperaturas proporcionaram à Alicante Bouschet uma das melhores maturações dos últimos anos, assegurando tintos de notável estrutura e longevidade.
– A vinha registou uma baixa frutificação devido à recuperação da tempestade de granizo ocorrida em 2024. O final de Julho e o início de Agosto, com temperaturas máximas acima dos 40º C e médias acima dos 30º C, prejudicaram o bom enchimento do bago, resultando numa perda de 40% da produção esperada.

David Guimaraens, da Fladgate Partnership, está contente com os vinhos, mas zangado com os responsáveis durienses
+ A qualidade geral dos vinhos do Porto tintos. Considerando as temperaturas altas do verão e a ausência total de chuva a partir de Maio, produziram-se, ainda assim, vinhos fortificados, com uma intensidade de cor tremenda, mas mantendo uma exuberância aromática frutada, que lhes confere bastante elegância e os torna muito atractivos.
– A falência económica dos viticultores durienses de média dimensão, que se dedicam à produção e comercialização de uvas. A incompetência colectiva do sector, desde as associações de comerciantes e produtores aos órgãos governativos do Douro. A conivência, que beneficia alguns e permite que a mesma videira possa, enganosamente, manifestar duas Denominações de Origem na mesma colheita.
Na Quinta das Bágeiras, Frederico e Mário Sérgio Nuno estão seguros de que 2025 será ano memorável de tintos
+ Apesar de estar abaixo de um ano médio, a produção foi significativamente superior a 2024. Vindima sem chuva, com maturação plena, originando uvas sãs, equilibradas e de excelente qualidade. As condições climatéricas proporcionaram às uvas tintas, e em especial à Baga, um desempenho extraordinário. Tudo indica que será uma das melhores colheitas de tintos da última década.
– Ano desafiante no controlo do míldio, devido às chuvas persistentes até final de Maio. Pouca chuva e temperaturas muito elevadas em Julho e Agosto, conduzindo a vindima precoce nas castas brancas. Algumas castas brancas com acidez menor do que o habitual na região, ainda que a consistência de outras castas tenha equilibrado os lotes.
Jorge Serôdio Borges e Sandra Tavares da Silva fizeram da Wine & Soul uma referência no Douro
+ Excelente maturação fenólica, após o arrefecimento das noites a partir da segunda semana de Setembro. Maturações suaves, vinhos extremamente frescos e com excelente equilíbrio. Vinhas velhas em perfeita harmonia, mostrando a sua resiliência e aptidão para superarem anos desafiantes. Vinhos muito surpreendentes, vibrantes, com frescura e elegância.
– Primavera com elevada precipitação e grande pressão fúngica, o que levou a uma ligeira quebra de produção, principalmente associada ao míldio. Quebra de produção acentuada pelas três vagas de calor em Junho, Julho e Agosto. Em Agosto, tivemos 10 dias consecutivos acima dos 40º C, o que, no caso das vinhas mais novas, foi muito impactante em termos de produção.
As vinhas velhas da serra de São Mamede são um tesouro para Tiago Correia e Diogo Vieira, da Altas Quintas
+ Disponibilidade hídrica nos solos, com as chuvas da Primavera e início do Verão. Apesar do calor de Julho e Agosto, não houve escaldão acentuado. Início da vindima a meio de Agosto, com uvas brancas de excelente equilíbrio ácido. Alicante Bouschet mais precoce que o habitual, com excelente maturação fenólica e frescura impressionante. Castelão obteve maturação fenólica com teores de álcool perto dos 12%.
– O Verão começou mais tarde, no entanto com temperaturas médias mais altas e amplitudes diárias menores. Algumas castas tintas tiveram dificuldade na maturação, apenas desbloqueada após as chuvas que ocorreram no início de Setembro.

A vindima sem chuva deu a Paulo Nunes as condições ideais para tomar decisões atempadas
+ 2025 foi um dos raros anos em que o clima de Setembro e Outubro permitiu a decisão de vindima não condicionada pelas chuvas típicas do equinócio, especialmente gravosas em regiões como a Bairrada e o Dão. O tempo seco em Setembro e Outubro possibilitou sanidade inequívoca da uva e vindima orientada pela qualidade polifenólica. Excelente equilíbrio entre acidez e açúcares, esperando-se grandes vinhos.
– Chuvas intensas até Abril provocaram quebras de produção significativas, com problemas na floração que levaram a vingamento menos positivo. O calor intenso de Julho e Agosto provocou algum stress hídrico, especialmente em vinhas mais novas e de exposição solar mais intensa. Alguma atipicidade no ciclo natural de maturação, levando o local a ser mais importante do que a casta na decisão de vindima.

Na Quinta da Gaivosa, Domingos e Tiago Alves de Sousa fazem balanço muito positivo
+ Reservas de água acumuladas fizeram face ao calor estival, com o calendário vitícola a recuperar consideravelmente. Uma das vindimas mais serenas de sempre, sem qualquer condicionamento, aguardando o momento de cada vinha. DOC Douro equilibrados, frescos, sólidos, com imensa qualidade e longevidade. Breve pico de calor na segunda quinzena de Setembro, que trouxe a concentração e intensidade para os vinhos do Porto.
– Nascença em contra-ciclo face à bem mais abundante colheita anterior, quebra acentuada por primavera extremamente chuvosa, com impacto na floração, elevada pressão fitossanitária e algum atraso nas etapas iniciais do ciclo vegetativo. A quantidade ressentiu-se, com produção 17% abaixo da média dos últimos 5 anos e 29% abaixo de 2024.
(Artigo publicado na edição de Novembro de 2025)
FITAPRETA: Cozinha do Paço

Integrado no monumental Paço do Morgado de Oliveira, cujas vetustas fundações remontam ao século XIV, estamos no coração do empreendimento Fita Preta, em Graça do Divor, no concelho de Évora, mesmo ao lado da moderna adega que António Maçanita construiu de raiz e onde vinifica os seus vinhos alentejanos. A bem dizer, não estamos perante […]
Integrado no monumental Paço do Morgado de Oliveira, cujas vetustas fundações remontam ao século XIV, estamos no coração do empreendimento Fita Preta, em Graça do Divor, no concelho de Évora, mesmo ao lado da moderna adega que António Maçanita construiu de raiz e onde vinifica os seus vinhos alentejanos.
A bem dizer, não estamos perante um restaurante alentejano no sentido convencional do termo, já que o lugar onde se servem as refeições se divide por cinco espaços muito diferentes entre si (nós ficámos na belíssima tribuna da Capela). A cozinha que nos é proposta pelo Chef Afonso Dantas tem do Alentejo a inspiração e alguns dos produtos que servem de base às composições, mas os processos e técnicas refinadas levam a refeição pelos caminhos inesperados de um ambicioso fine dining. É verdade que do princípio ao fim temos o vinho, sempre o vinho, como elemento condutor e agregador dos vários momentos que compõem o repasto. Aqui, são as criações do Chef que procuram responder aos nem sempre fáceis desafios que os vinhos lhe apresentam.
Guiados pela mão e explicações do competente sommelier Francisco Cunha, tivemos o primeiro snack, peixe do rio sobre uma base de bolacha de grão de bico com o espumante Fita Preta. Já a Tinta Carvalha 2020 serviu de sustento ao segundo snack, ovas de lúcio perca em que o peixe marinou em borras de Alicante Bouschet e a combinação se revelou ousada. O Fina Flor Arinto non millésimé, estranhíssimo, fermentado naturalmente, extra-seco, uma aproximação à Solera bateu-se com o torricado de aviado com pasta de cogumelos. Igualmente desafiante, o Vinho da Corda dos Profetas 2021, de Porto Santo, lidou com um coscorão de borrego, tomate e ovo, uma composição feliz e cheia de sabor. Muito interessante, até pelo aproveitamento de uma matéria prima pouco valorizada, o tártaro de lagostim do rio, cenoura fermentada, tudo envolvido por uma bisque do mesmo lagostim que, claramente, ganhou ao Fita Preta rosé que o acompanhou.
Deslumbrante na apresentação e não desmerecendo no sabor, a enguia fumada com creme de pinhão e escabeche de ervas, que mediu meças com o Arinto dos Açores Canada do Monte 2021 e constitui, na minha opinião, a melhor conjugação do dia. Quem esperaria tanto mar em pleno Alentejo? Outro peixe, um belo pregado, no caso, cozido no ponto perfeito, com funcho e óleo de folhas de figueira casou com o branco Morgado de Oliveira NM, de Arinto, que passou 15 meses em carvalho e me conquistou pela excelente acidez e final longo. Mais clássica, a combinação do tinto Chão dos Eremitas Os Profetas 2020, com a pequena troncha de lombinho e cachaço de porco ibérico com puré de tupinambo que revelou um excelente apuro da técnica do Chef. Uma pré-sobremesa com base em pera fermentada e uma sobremesa de sabores cítricos com creme de mel, laranja, toranja e açafrão completaram a refeição.
Não faltam arrojo, criatividade e apuro técnico a esta Cozinha do Paço. Se são estas as propostas que o viajante espera encontrar e valoriza quando mergulha numa experiência de enoturismo no Alentejo, o tempo o dirá.
Cozinha do Paço
FitaPreta Vinhos, Nossa Senhora da Graça do Divor, 7000-016 Évora
Almoço e jantar, de terça-feira a sábado das 12h00 às 14h00 e às 19h00
Tel.: 915880095; adega@fitapreta.com
Menus de degustação de 135€ (5 vinhos, 6 momentos) a 255€ (9 momentos, 7 vinhos)
SITEVI, uma montra de inovação e tecnologia

A edição de 2025 do SITEVI, salão internacional dedicado aos sectores da vitivinicultura, enologia, fruticultura e olivicultura registou 51.000 entradas de profissionais provenientes de 62 países, maioritariamente de Espanha, Itália, Suíça, Portugal e Alemanha. Dada a afluência, revelou-se o ponto de encontro internacional favorável ao sector, nomeadamente em relação ao reforço do conhecimento sobre as […]
A edição de 2025 do SITEVI, salão internacional dedicado aos sectores da vitivinicultura, enologia, fruticultura e olivicultura registou 51.000 entradas de profissionais provenientes de 62 países, maioritariamente de Espanha, Itália, Suíça, Portugal e Alemanha. Dada a afluência, revelou-se o ponto de encontro internacional favorável ao sector, nomeadamente em relação ao reforço do conhecimento sobre as tendências do mercado, à partilha boas práticas e ao encontro de soluções necessárias para enfrentar os desafios económicos, sociais e ambientais.
Sobre os Prémios de Inovação SITEVI, houve o registo de 70 candidaturas, das quais foram galardoados 17 produtos e serviços. De acordo com o comunicado, os “premiados espelham a diversidade da oferta apresentada no certame e ilustram as principais tendências: melhoria da qualidade dos produtos e adaptação às necessidades do mercado, resiliência das explorações face aos fenómenos climáticos e a qualidade dos produtos, conveniência e facilidade para o utilizador”.
Destaque ainda para o espaço LAB TECH, que reuniu cerca de uma dezena de empresas e startups percursoras na área da transformação digital e tecnológica do abrangente sector agrícola.
Grosso modo, o certame organizou um programa com mais de 60 conferências e workshops, com mais 2.500 participantes e mais de 200 oradores, enquanto o fórum de masterclasses e provas de vinhos atraiu aproximadamente 1.000 visitantes. No âmbito das Business Meetings, o SITEVI registou 1.400 encontros, que permitiram reuniões directas com expositores.
Editorial: My precious

Editorial da edição nrº 104 (Dezembro de 2025) Serão as festividades o momento certo para abrir grandes vinhos? Chega a época festiva e instala-se o habitual desfile: produtores com “sugestões imperdíveis”, supermercados e garrafeiras com caixas de “oportunidades únicas” e revistas a apresentarem os vinhos mais pontuados. E lá vamos nós revistar a garrafeira, à […]
Editorial da edição nrº 104 (Dezembro de 2025)
Serão as festividades o momento certo para abrir grandes vinhos?
Chega a época festiva e instala-se o habitual desfile: produtores com “sugestões imperdíveis”, supermercados e garrafeiras com caixas de “oportunidades únicas” e revistas a apresentarem os vinhos mais pontuados. E lá vamos nós revistar a garrafeira, à procura daquele tesouro esquecido que, supostamente, só deve ser aberto quando os astros se alinham. É grande a tentação de provar, finalmente, aquela garrafa rara, guardada cuidadosamente durante anos à espera do momento perfeito.
Ora o que pode acontecer. Entre confirmar se há guardanapos suficientes e se a carne está no ponto, resolver as últimas tarefas e responder às dúvidas existenciais das crianças sobre o Pai Natal, é difícil controlar a temperatura a que o vinho é servido e, sobretudo, a que é realmente consumido. A conversa anima-se, soltam-se as gargalhadas e o vinho vai aquecenddo no copo, a não ser que festeje o Natal num convento medieval, onde a temperatura ambiente não ultrapassa 12-14ºC.
A azáfama de uma festa raramente permite prestar a atenção desejada ao que está no copo. Um vinho mítico pode acabar por perder todo o protagonismo e, quando damos por ele, resta apenas um gole no fundo do copo e nem nos lembramos bem de como era. Eu própria caí nesse erro há muitos anos, num almoço em minha casa: tinha amigos de Moscovo a visitar-me e, por coincidência, os meus pais estavam de férias em Portugal. Os amigos apareceram com uma garrafa de Quinta do Ribeirinho, de Luís Pato (compraram o vinho mais caro que havia numa loja) e eu coloquei-a na mesa. No turbilhão do almoço, mal tive oportunidade de parar e desfrutar o vinho. Acabei por ter de marcar um novo encontro com este grande Baga para o conhecer como merecia. Valeu muito a pena, mas isto dará uma outra história.
Desde então, estou convencida que um vinho excepcional deve ter um momento próprio, só para ele, fora de qualquer outro contexto.
Este ano, vi, na Netflix, uma minissérie norueguesa chamada La Palma. Retrata um desastre natural na ilha com o mesmo nome, no arquipélago das Canárias: um sismo que desencadeia um tsunami e uma erupção vulcânica. Há um momento particularmente marcante, pouco antes de um tsunami devastar o arquipélago, em que Álvaro Pérez, o chefe do observatório sísmico (interpretado por Jorge de Juan), partilha com um colega uma garrafa de Pingus 2013, que lhe foi oferecido no aniversário e ficou guardado. “As pessoas acham que precisam de uma ocasião especial para abrir um grande vinho. Estão enganadas. O vinho é a ocasião”, diz ele e eu subscrevo por completo. Na iminência de morrer na catástrofe, os dois saboreiam o vinho, o último prazer genuíno no meio do dramatismo. E, numa das cenas finais, os sismólogos, em fatos à prova de fogo, aproximam-se da cratera em erupção. Um deles leva a garrafa para acabar o vinho e ambos desaparecem na lava, a desfrutar o derradeiro gole de Pingus.
Não é preciso esperar pelo fim do mundo para abrir uma tal garrafa, mas também não vale a pena desperdiçá-la numa festa agitada. Para uma celebração em casa, costumo abrir vinhos que conheço bem e que garantidamente me darão prazer, mesmo quando a atenção está dividida, deixando os mais raros e especiais que não conheço para momentos em que realmente posso apreciá-los. Porque estes não precisam de um motivo especial, eles próprios o são.
Valéria Zeferino
Cork Supply com certificação B Corp

A norte-americana Cork Supply, fundada em 1981 e com sede de Investigação & Desenvolvimento implementada em Portugal, obteve a certificação B Corp. Atribuída pela organização sem fins lucrativos B Lab, esta declaração formal destaca o reconhecimento desta empresa no âmbito da responsabilidade corporativa. Assim, para além das boas práticas nas antigas florestas ibéricas de sobreiros, […]
A norte-americana Cork Supply, fundada em 1981 e com sede de Investigação & Desenvolvimento implementada em Portugal, obteve a certificação B Corp. Atribuída pela organização sem fins lucrativos B Lab, esta declaração formal destaca o reconhecimento desta empresa no âmbito da responsabilidade corporativa. Assim, para além das boas práticas nas antigas florestas ibéricas de sobreiros, ganha destaque pela ética, graças ao trabalho efetuado com artesãos especializados nas unidades de produção.
Paralelamente, é dado destaque às parcerias de longa duração com proprietários florestais, trabalho que deu azo ao desenvolvimento de programas de gestão e reabilitação florestal, por forma a promover a qualidade da cortiça e, ao mesmo tempo, apoiar as economias locais.
“O nosso propósito sempre foi mais do que apenas negócio. Vemos a sustentabilidade como um dever para com as nossas equipas, comunidades e para com o planeta, criando valor a longo prazo para todos. Esta certificação é um reconhecimento dos valores que moldaram o nosso grupo desde a sua origem”, afirma o fundador e Presidente da Cork Supply, Jochen Michalski.
Por esse motivo, a mesma dedicação que resultou na obtenção da certificação B Corp é extensível ao Harv 81 Group – grupo centrado na especialização em cápsulas de madeira, bartops para espirituosos, barris e alternativas de carvalho, e cujo nome é inspirado no ano em que Michalski fundou a Cork Supply e se tornou importador de rolhas no norte da Califórnia –, que alcançou 89,3 pontos, número superior ao exigido para a certificação B Corp.
Já na área de investigação & desenvolvimento, o objectivo consiste em “produzir as rolhas mais consistentes, preservando, simultaneamente, recursos essenciais como a cortiça e a água”, de acordo com o comunicado. Este investimento permitiu desenvolver uma acção circular, em que os subprodutos da produção de rolhas naturais são destinados ao fabrico de rolhas técnicas, enquanto o pó de cortiça é recolhido nas unidades industriais, para alimentar as caldeiras. Mas sem descurar a parte da sustentabilidade, seja ambiental, seja social, por forma a promover a economia local.

























