14 Brancos a não perder neste Verão

brancos

Combata o calor do Verão bebendo vinhos brancos frescos e vibrantes. Seleccionámos para si 14 brancos que obtiveram selo de “Boa Escolha”, o que é uma garantia de qualidade a um preço em conta. Nunca foi tão fácil beber bom e barato! Atreva-se!

Combata o calor do Verão bebendo vinhos brancos frescos e vibrantes.

Seleccionámos para si 14 brancos que obtiveram selo de “Boa Escolha”, o que é uma garantia de qualidade a um preço em conta. Nunca foi tão fácil beber bom e barato!

Atreva-se!

Verão com boas novas no Bar 360 do The Yeatman

The Yeatman

Porque a época de estio rima com barbecue, nada melhor que optar por uma refeição leve e fresca, inspirada na culinária mediterrânica, para saborear a céu aberto. Eis a estreia no Bar 360 do The Yeatman, o icónico rooftop desta unidade localizada em Vila Nova de Gaia, com a curadoria de Ricardo Costa, o chef […]

Porque a época de estio rima com barbecue, nada melhor que optar por uma refeição leve e fresca, inspirada na culinária mediterrânica, para saborear a céu aberto. Eis a estreia no Bar 360 do The Yeatman, o icónico rooftop desta unidade localizada em Vila Nova de Gaia, com a curadoria de Ricardo Costa, o chef executivo deste hotel de cinco estrelas virado para a cidade do Porto.

A oferta gastronómica continua em Setembro e tem como base uma seleção de ingredientes frescos e sazonais. À grelha, onde cabem as carnes, os peixes e os legumes grelhados, acrescenta-se o forno a lenha, destinado às focaccias, ao pão de alho ou ao leitão assado, prato simbólico para o chef Ricardo Costa. Na estação de saladas, o destaque vai para as combinações nutritivas e equilibradas. O momento mais guloso, criativo e original fica reservado para o final da refeição.

The Yeatman

Quanto ao serviço, os produtos são confeccionados ou finalizados à vista do cliente num ambiente informal e descontraído. O menu varia a cada dia de evento e, na carta de bebidas, não faltam cocktails clássicos, espumantes, champagnes, Vinho do Porto, entre outros.

Esta experiência gastronómica acontece todas as sextas-feiras, das 18h30 às 21h00, aos sábados ao almoço e ao jantar, das 13h00 às 15h00 e das 18h30 às 21h00, e aos domingos, das 13h00 às 15h00. O valor é de 65€ por pessoa, sem bebidas incluídas. Impera a reserva.

 

Vinalda entra no mundo do bourbon

Vinalda

A distribuidora nacional de vinhos e de bebidas espirituosas passou a distribuir duas referências da icónica Buffalo Trace Distillery, do grupo Sazerac, localizada em Frankfort, Kentucky, nos Estados Unidos: a Buffalo Trace Kentucky Straight Bourbon Whiskey e a Eagle Rare Kentucky Straight Bourbon Whiskey. O primeiro é produzido em homenagem aos poderosos búfalos e ao […]

A distribuidora nacional de vinhos e de bebidas espirituosas passou a distribuir duas referências da icónica Buffalo Trace Distillery, do grupo Sazerac, localizada em Frankfort, Kentucky, nos Estados Unidos: a Buffalo Trace Kentucky Straight Bourbon Whiskey e a Eagle Rare Kentucky Straight Bourbon Whiskey.

O primeiro é produzido em homenagem aos poderosos búfalos e ao espírito robusto e independente dos pioneiros que os seguiram, e submetido a um envelhecimento em barricas de carvalho novas, durante vários anos, em armazéns centenários, até atingir o pico da maturidade. O segundo, considerado uma preciosidade na categoria premium, é envelhecido durante, no mínimo, dez anos. Ambos são peças preponderantes da produção da bicentenária Buffalo Trace Destillery, classificada como Património Histórico Nacional.

Com este reforço, a Vinalda torna-se um player de relevo na categoria do bourbon em Portugal e reforça o portefólio com a distribuição do Paddy Irish Whiskey, com raízes em 1779 e tido, por muitos, como a verdadeira essência do whisky irlandês.

 

Saiba os resultados do Concurso de Vinhos Escanções de Portugal

Concurso

No dia 12 de Julho, o Hotel Holiday Inn Lisboa – Continental recebeu a 6ª edição do Concurso de Vinhos Escanções de Portugal promovido pela Associação dos Escanções de Portugal e reconhecido pelo Instituto da Vinha e do Vinho. Foram entregues seis Grandes Tambuladeiras de Ouro, prémio maior destinado aos vinhos de excelência dentro de […]

No dia 12 de Julho, o Hotel Holiday Inn Lisboa – Continental recebeu a 6ª edição do Concurso de Vinhos Escanções de Portugal promovido pela Associação dos Escanções de Portugal e reconhecido pelo Instituto da Vinha e do Vinho. Foram entregues seis Grandes Tambuladeiras de Ouro, prémio maior destinado aos vinhos de excelência dentro de cada categoria. Nesta lista, constam o “Melhor Vinho Tinto”, o Torre de Palma Reserva da Família Tinto 2017 (Torre de Palma, Alentejo); o “Melhor Vinho Branco”, o Quinta do Pinto Limited Edition Arinto Branco 2021 (Quinta do Pinto, Lisboa); o “Melhor Vinho Rosé”, o Casa Relvas Rosé Pom-Pom Rosé 2024 (Casa Relvas, Alentejo); o “Melhor Espumante”, o Quinta do Cerrado da Porta Espumante Grande Reserva Pinot Noir 2016 (Cerrado da Porta, Lisboa); o “Melhor Vinho Licoroso”, o Vista Alegre 30 Anos Tawny Porto (Vallegre Vinhos do Porto S.A., Douro); a “Melhor Aguardente”, a 32.ª Série da Aguardente Vínica XO Clássica (Adega Cooperativa da Lourinhã, Lisboa).

Além deste galardão, esta competição atribuiu 81 Medalhas de Ouro. A este número, somam-se 109 referências vínicas com Selo de Qualidade distribuída pelas referências vínicas com 90 ou mais pontos, totalizando, assim, 109 rótulos.

Presidida por Tiago Paula, Presidente da Comissão Técnica, a 6ª edição do Concurso de Vinhos Escanções de Portugal contou com um painel de mais de 50 jurados especializados, entre escanções, enólogos e outros profissionais do sector provenientes de várias regiões do país. Pela primeira vez, houve painéis específicos de prova, com um júri dedicado a espumantes e dois painéis dedicados à avaliação de vinhos licorosos e aguardentes, de modo a garantir uma avaliação mais rigorosa e tecnicamente adequada a cada categoria.

Sanleti: Um poiso de petiscos na Praia da Rocha

Sanleti Tapas & Vinhos

O meu Algarve não é o meu poiso de férias, como acontece com muitos outros portugueses. É a minha terra, aquela onde brinquei, joguei  ao berlinde e aos jogos de apanhada, fiz amizades eternas, estudei e aprendi, andei pelos campos, apanhando aqui e ali uma romã, uma nêspera, uma laranja, e fui à pesca, à […]

O meu Algarve não é o meu poiso de férias, como acontece com muitos outros portugueses. É a minha terra, aquela onde brinquei, joguei  ao berlinde e aos jogos de apanhada, fiz amizades eternas, estudei e aprendi, andei pelos campos, apanhando aqui e ali uma romã, uma nêspera, uma laranja, e fui à pesca, à ameijoa e ao berbigão, num dos sítios para onde gosto mais de olhar: a Ria Formosa. É um Algarve de muitos algarves, parecidos, mas todos ainda um pouco diferentes uns dos outros, apesar da muralha de casario, um pouco desordenado, que separa a linha de costa do resto, parecer querer uniformizar a paisagem.

Sanleti Tapas & Vinhos

Sítio de comer

Uma das coisas que gosto é conseguir encontrar sempre sítios de comer onde me sinto bem e sou bem tratado. São vários por toda a região e um deles, na zona de Portimão, é o Sanleti Tapas & Vinhos, sobretudo porque tem uma oferta diversificada de petiscos, que vai variando ao longo do ano, uma carta bem composta de vinhos algarvios e, à noite boa música ao vivo, calma, tocada e cantada por bons interpretes. Ao longo do tempo, fui conhecendo melhor o seu proprietário, Rui Silva, moço da região que estudou e deu os primeiros passos na profissão pelo norte, mas não resistiu a voltar.

Estabeleceu o seu Sanleti em Ferragudo, perto da margem esquerda do rio Arade, e mudou-se mais recentemente para a zona da Praia da Rocha, para um espaço maior com vista para a marina de Portimão, que continua a ser essencialmente uma casa de petiscos, cuja oferta vai variando ao longo do ano. Já lá comi Peixinhos da horta, Moxama de atum, Bolinhas de alheira com chouriço e outros, mas desta vez optamos pela Tiborna de Cavala com tomate, manga e pimentos vermelhos aos cubos, em pão tostado, que repito quase sempre, mais uma Tirinhas de polvo salteadas com puré de pimentos e Brás do Sanleti, com bacalhau, batata, camarão e ovo. Tudo saboroso e agradável, como habitual, desta vez apreciado na companhia de um Lagoa Reserva single vineyard, da casta Crato Branco, um vinho branco de aroma fresco, com notas de alperce, pêssego e fruta branca e o volume e frescura apropriados para o repasto.

Faltou-me apenas a tarte de amêndoa da mãe do Rui, incontornável, mas apenas porque me esqueci de reservar, já que a concorrência é grande pela sobremesa e é apenas ela que a sabe fazer. Mas fica para a próxima.

Sanleti Tapas & Vinhos

 

 

 

 

Sanleti Tapas & Vinhos

Morada:  R. Bartolomeu Dias, Loja A, Praia da Rocha, 8500-806 Portimão

Tel.: 963 405 776

Site: sanleti.wixsite.com

 

Bairrada: Uma região de “clássicos”

Bairrada

Criada apenas em 1979, após vários anos de hesitações entre o poder político e os interesses dos agentes económicos, a Região Demarcada da Bairrada, antes de acolher regulamentação legal, já se afirmava há mais de dois mil anos nas práticas vitivinícolas, crendo-se, pelo menos, desde a romanização do território. Muitos são os testemunhos, enraizados nos […]

Criada apenas em 1979, após vários anos de hesitações entre o poder político e os interesses dos agentes económicos, a Região Demarcada da Bairrada, antes de acolher regulamentação legal, já se afirmava há mais de dois mil anos nas práticas vitivinícolas, crendo-se, pelo menos, desde a romanização do território. Muitos são os testemunhos, enraizados nos vestígios arqueológicos, que nos reafirmam a vitivinicultura como uma das principais atividades agrícolas que se estenderam desde a ocupação romana e perduram até à atualidade.

Se porventura nos quisermos apoiar no rigor do suporte documental, pode atestar-se que, já no ano 950, o seu território era conhecido como região vinhateira, conforme nos revela um documento existente na Torre do Tombo referente a uma doação ao Mosteiro do Lorvão de terras e vinhas na Silvã (Mealhada). Um outro documento refere uma “vinha em Rippela sob o monte Buzacco”, em 1086. Ou uma outra doação àquele Mosteiro, de “uma casa em São João e vinha na Pocariça” (Cantanhede), em 1176.

Contudo, o documento mais curioso é datado de 1137, e encontra-se igualmente na Torre do Tombo, no qual “D. Afonso Henriques autoriza a plantação de vinha na herdade de Eiras, sob o caminho público de Vilarinum (Vilarinho do Bairro, Mealhada) ao monte Buzacco (Bussaco), com a condição de lhe darem 1/4 do vinho, sem mais encargos e eles fiquem com as primícias e décimas do vinho…”. Um testemunho de inigualável valor que atesta a qualidade do vinho ali produzido, o qual servia de meio de pagamento dos impostos ao Rei.

OS PRIMÓRDIOS DA BAIRRADA

Não se pense que a criação da Região Demarcada do Douro, peticionada por 14 dos “principais lavradores de Cima do Douro e Homens Bons da cidade do Porto”, estribados pela visão de Sebastião José de Carvalho, não terá tido influência em diversas outras regiões do país onde se cultivava vinha e produzia vinho. A representação dirigida ao rei D. José I, em 31 de Agosto de 1756, foi estabelecida por Alvará, confirmado a 10 de Setembro desse mesmo ano, demarcando e, diz-se, protegendo a região duriense dos demais territórios produtores.

Se é certo que a instituição da Companhia Geral de Agricultura das Vinhas do Alto Douro somente aos vinhedos daquela região dizia respeito, a realidade mostrou-nos que, nos anos seguintes, houve extensas demandas legislativas que intervieram noutras zonas vinhateiras, determinando o arranque de diversas vinhas em “terrenos das vargens, lezírias e campinas” que fossem mais próprias, pela sua natureza, para nelas se promover a cultura cerealífera, tão necessária para a alimentação básica dos portugueses. Medidas drásticas que alteraram a paisagem vitivinícola portuguesa, dizimando a produção de vinha em larga escala. À data, tais medidas eram justificadas pela carência de cereais e falta de pão para o consumo das gentes. Por outro lado, visava-se diminuir a produção excessiva de vinho de qualidade inferior que, em concorrência desleal, acarretava elevados prejuízos para os de qualidade superior.

A região da Bairrada não terá ficado imune a estas medidas, por força dos alvarás que aplicaram a mesma lei às margens e campinas dos rios Mondego e Vouga e a mais terras que fossem de paul e lezírias. E, apesar de nesses alvarás se fazerem referências elogiosas aos vinhos produzidos “nos terrenos de Anadia, Mogofores e outros das mesma qualidade”, igualando estes vinhos aos criados nos “termos de Lisboa, de Oeyras, de Carcavelos, do Lavradio, de Torres Vedras, Alenquer…”, nesses tempos com notoriedade semelhante aos vinhos durienses, certo foi que, outro Alvará, agora de 18 de Fevereiro de 1766, já impunha como sujeição imediata o arranque de vinhas existentes em Anadia, Mogofores, Arcos, Avelãs de Caminho e Fermentelos”, terras bairradinas por excelência, duas delas citadas com louvor cinco meses antes.

Numa visão otimista, podemos considerar que o génio ímpar de Pombal, além de ter criado a primeira Região Demarcada do mundo, terá ensaiado outras demarcações, embora sem lhes ter dado o tratamento legislativo adequado. A da Bairrada terá tido atenção do seu pensamento, pois, pelo menos por duas vezes, referenciou os terrenos Anadia e Mogofores como sendo de óbvia qualidade para a produção de vinho.

 

“A Região Demarcada da Bairrada (…) já se afirmava há mais de dois mil anos nas práticas vitivinícolas, crendo-se, pelo menos, desde a romanização do território”

 

O PAIZ VINHATEIRO

Em 1866, por Portaria de 10 de Agosto, foi nomeada pelo Ministro do Reino, Andrade Corvo, uma comissão encarregada de estudar as diversas regiões do país “durante a vindima e da feitura do vinho nos principais districtos vinhateiros do reino”. Desta comissão faziam parte três membros e a cada um dos quais foi delimitada a respetiva área de estudo.

O Visconde de Villa Maior ficou com a área a norte do Rio Douro, António Augusto de Aguiar ficou responsável pela área de território entre os rios Douro e Tejo, excluindo o distrito de Lisboa, cabendo, por fim, a Joaquim Inácio Ferreira Lapa o distrito de Lisboa e todos os territórios a Sul do Tejo.

Publicado em 1867, nesse trabalho conjunto, mas com as respetivas indicações de cada um dos seus autores, existe um único mapa. E este, no conjunto de tantas outras regiões vitivinícolas nela representadas, refere-se apenas a uma, designado “Paiz Vinhateiro da Bairrada”. Um mapa que, mesmo desatualizado ao tempo da criação da região demarcada, mais de cem anos depois, serviu de base à sua delimitação. Naquele mapa há já uma marcação, a cores diversas, de três sub-regiões, ainda que em moldes distintos daquelas que foram, por exemplo, definidas em França. Neste, as sub-regiões são designadas por região de vinho branco, região de vinho tinto de embarque e região de vinho de consumo. Estabelecem-se, também, limites geográficos, definindo, a Sul, o concelho de Mealhada, ao tempo considerado o coração da Bairrada, e parte do concelho de Cantanhede; ao centro, o concelho de Anadia; a Norte o concelho de Oliveira do Bairro. Excluídos ficaram, a Sul, a freguesia de Souselas, no Centro, parte do concelho de Cantanhede e todos os de Vagos e Aveiro, e, a Norte, parte do concelho de Oliveira do Bairro.

As zonas nobres para vinhos tintos de embarque delimitavam-se, aos concelhos da Mealhada e de Anadia, enquanto as mais aptas para vinhos brancos situavam-se na margem esquerda do rio Certoma, até Óis do Bairro, S. Lourenço e Mogofores. Fora destes limites situavam-se as zonas de vinhos para consumo, classificando-se detalhadamente os de primeira, segunda e terceira categorias. Interessante é constatar o detalhe com António Augusto de Aguiar estudou a composição dos solos, identificando, com denodo, uma zona hoje muito bem conhecida por produzir vinhos de extrema elegância: “da Mealhada para o Luso, do Travasso para a Vacariça encontra-se uma mistura de solos, em que figuram retalhos de arenatas do terreno quaternário…”. Falamos, em parte, da zona de Cadoiços, onde se encontram hoje algumas das mais imponentes vinhas velhas da Bairrada e das quais nasce um dos grandes vinhos que constituem o painel de prova deste artigo.

Elaborado este estudo pouco após a grande crise do oídio, que afetando toda a viticultura nacional também não poupou o território da Bairrada, é um exercício curioso constatar como se dá a evolução do encepamento na região. Em 1850, o oídio surge de modo lancinante e, durante quase uma década, destruiu, quase por completo, toda a produção de uva na região. As castas mais atacadas foram, nas tintas, o Castelão e a Trincadeira, e, nas brancas, o “Boal Cachudo”, o Arinto e Mourisco. Perante estas adversidades, eis que surge uma uva salvífica, a Baga, fortemente resistente ao oídio. A partir de 1860, a atual intitulada casta rainha da Bairrada, conhece uma expansão até então nunca vista, tendo António Augusto de Aguiar, que por ela não morria de amores, escrito que, “se o amor por ella continuar como até agora, dentro de poucos anos toda a Bairrada fará plantações e vinhos extremes de uma casta só”.

A 28 de Dezembro de 1979, nasce a Região Demarcada da Bairrada, e com ela a sua delimitação geográfica que, curiosamente, não é assim tão distante daquela que havia sido desenhada mais de 100 anos antes por António Augusto de Aguiar.

 

ANTEVISÃO DE UMA REGIÃO

Com a industrialização do espumante e o nascimento das grandes casas engarrafadoras a partir dos anos 20 do século passado, assistiu-se a um crescimento exponencial da região. Caves São João, Caves Messias, Caves Aliança ou Caves São Domingos, entre outras, tornam-se os grandes centros produtores do país, engarrafando, comercializando e exportando vinhos para as colónias e Brasil. A demarcação era, à data, e já após o Dão ter procedido à sua demarcação enquanto região em 1908, uma temática não muito do agrado das grandes casas, que adquiriam vinhos em diversas regiões limítrofes para satisfazer a as suas necessidades de grande volume.

No início dos anos 50 dá-se início a uma contenda feroz entre, por um lado, os defensores da não demarcação, liderados pela maior referência da enologia nacional, Mário Pato, e, do outro lado, uma linha vanguardista defensora da necessidade de criar a região demarcada, tendo na linha da frente o Professor Américo Urbano.

Mário Pato, numa publicação de 1 de Outubro de 1953, no Boletim da Federação dos Grémios da Lavoura da Beira Litoral, clamava que a região começava a sofrer de uma “delimitomania” ou mania das regiões delimitadas, que amolece as faculdades mentais dos viticultores e lhes paralisa a atividade. Para o enólogo, o pedido de intervenção do Governo na delimitação da sua região causaria um atavismo e um encerramento dentro de si própria, que motivaria uma não evolução no acompanhamento do desenvolvimento dos métodos enológicos e, consequentemente, uma desvalorização dos vinhos produzidos. À data, dava como exemplo as regiões de Bucelas, Colares e Carcavelos, cujos vinhos começavam a perder notoriedade, invocando igualmente os exemplos do Dão e Vinhos Verdes que também não se mostrariam brilhantes.

Já Américo Urbano trazia para a defesa da demarcação preocupações que não são díspares das da atualidade, mostrando toda a pertinência. A este preocupava-o a concorrência feroz vinda das terras a Sul, onde os custos do granjeio eram muito inferiores e a qualidade dos vinhos, em que “milhentas de pipas de água anualmente são adicionadas aos mesmos”, era manifestamente inferior.

No meio das contendas, Américo Urbano não foi parco em palavras, acusando Mário Pato de ser o principal responsável pelo uso de técnicas enológicas que privilegiavam a produção de vinhos destinados ao lote, ao invés de dar o seu contributo para o aperfeiçoamento das características organoléticas que sempre distinguiram os vinhos da Bairrada. Uma conceção visionária que, ainda hoje, define o modo como se entende uma Bairrada de características muito distintas.

O interesse pela demarcação da região vai crescendo ao longo dos anos 60 e, em 1973, é criado o Grupo de Trabalho incumbido do estudo da Demarcação da Bairrada, composto pelos agrónomos Melchior Barata de Tovar e Octávio da Silva Pato, contando ainda com a colaboração de Mateus Augusto dos Anjos e de Luís Azevedo Correia. O relatório veio a revelar-se extremamente relevante para constituir as bases para a futura demarcação, incidindo sobre a orografia e hidrografia, geologia, solos, clima, práticas agrícolas, castas cultivadas, métodos de vinificação e tipos de vinho, proposta de demarcação e delimitação da região produtora e, entre outras, do direito à denominação de origem. Estava quase…

Para dar força a este movimento, Luiz Ferreira da Costa, figura icónica das Caves São João, agrega uma série de figuras relevantes da região e cria a Confraria dos Enófilos da Bairrada, em Junho de 1979, associação que foi absolutamente determinante, através de diversas iniciativas e contactos com as esferas do Governo, para derrubar as últimas barreiras tendentes à Regulamentação da Região Demarcada da Bairrada.

POR FIM, A DEMARCAÇÃO

A 28 de Dezembro de 1979, pela Portaria nº 709-A/79, nasce a Região Demarcada da Bairrada e, com ela, a sua delimitação geográfica que, curiosamente, não é assim tão distante daquela que havia sido desenhada mais de 100 anos antes por António Augusto de Aguiar. Exigindo-se a condução da vinha em forma baixa, definem-se, desde logo, as castas autorizadas, que serão objeto de apreciação e cadastro pelos serviços competentes, definindo-se, como tintas autorizadas, a Baga com mínimo de 50%, Castelão ou Moreto e Tinta Pinheira, autorizando-se, desde que não excedessem 20% do povoamento total, o Alfrocheiro Preto, Bastardo, Preto de Mortágua, Trincadeira, Jaen e Água Santa. Nas castas brancas, exigindo um mínimo de 60% do povoamento, Bical, Maria Gomes (Fernão Pires) e Rabo-de-Ovelha, autorizando-se com um máximo de povoamento total de 40%, o Arinto, Cercial, Chardonnay e Sercialinho, lista que mais tarde havia de ser revista. Nesta primeira abordagem que, até aos dias de hoje, havia de ter diversas alterações, definiu-se a obrigatoriedade de a vinificação ser realizada dentro da região em adegas inscritas para o efeito, limitou-se a produção a um máximo de 55 hectolitros por hectare de vinha, parametrizou-se um teor alcoólico mínimo de 11% vol. para os vinhos e fixou-se estágios obrigatórios mínimos de 18 meses para tintos e 10 meses para brancos.

Bairrada

Inicialmente, ou seja, em 2003, a menção “Clássico” ficou destinada apenas a vinhos tintos, cingindo-se às castas Baga, Camarate, Castelão (Periquita) e Touriga Nacional

 

“CLÁSSICO”, UM SELO DE IDENTIDADE

Após a demarcação e até ao virar do século, muitas foram as mudanças de paradigma a que se assistiu na Bairrada. As Adegas Cooperativas e as grandes casas engarrafadoras foram colocadas perante uma nova realidade de produção e consumo. O mundo pedia vinhos com maior identidade, vinhos de Quinta, produções menores, mas muito mais exigentes e qualitativamente nos antípodas daquilo que até então se fazia. Os mercados das colónias haviam desaparecido, o Brasil minguava na procura. Uma nova Bairrada despontava e muitas foram as grandes casas que soçobraram. Adegas Cooperativas, como Vilarinho do Bairro, Mogofores e Mealhada, ou casas engarrafadoras como Barrocão, Valdarcos, Monte Crasto, entre outras, finaram-se. Felizmente, houve casos de grande sucesso na mudança, como foram as Caves São João, que já em 1971 haviam adquirido a Quinta do Poço do Lobo, ou as Caves Messias, com produção de vinhos de uvas próprias na Quinta do Valdoeiro.

Algo havia a fazer para contrariar uma certa desorientação estratégica que afetava a Bairrada. A preocupação dos agentes económicos centrava-se na adequação das potencialidades da região, sempre associadas a uma nomenclatura de qualidade e certificação, alcançando a sua melhor valorização no mercado.

A Portaria nº 428/2000, de 17 de Julho, vem fixar as castas aptas à produção de vinho em Portugal. Nessas condições, entendia-se como necessário efetuar algumas alterações relativamente aos encepamentos existentes permitidos para a DOC Bairrada, do mesmo modo que era crível que podia haver uma maior variedade de vinhos de qualidade produzidos na região e reconhecidos no mercado. Subjacente a estas alterações, que viriam alterar substancialmente o número de castas autorizadas à menção DOC, nada mais, nada menos que 26, algumas delas com pouca expressão na região, um juízo avisado justificou a criação de uma certificação especial para os vinhos da Bairrada que pudessem respeitar determinados parâmetros de tradição e práticas antigas, tanto de viticultura como de vinicultura, adotando-se, por via dessa premissa, a menção “Clássico”. Inicialmente, ou seja, em 2003, a menção “Clássico” ficou destinada apenas a vinhos tintos, cingindo-se às castas Baga, Camarate, Castelão (Periquita) e Touriga Nacional, obrigando os vinhos a representar, em conjunto ou separadamente, 85% do encepamento, não podendo a Baga representar menos de 50%. Obrigava, ainda, a que a uva fosse proveniente de vinhas com rendimento não superior a 55 hectolitros por hectare, não podendo o vinho tinto possuir um teor alcoólico inferior a 12,5%. É, no que toca ao tempo de estágio, que surgem as condições mais exigentes, obrigando os vinhos tintos com aquela menção a poderem apenas ser comercializados  após um estágio mínimo de 30 meses, 12 dos quais obrigatoriamente em garrafa. A Portaria 211/2014, de 14 de Outubro, repõe a justiça e concede, igualmente, aos vinhos brancos a possibilidade de ostentarem a menção “Clássico”, definindo como castas aptas à mesma a Maria Gomes (Fernão Pires), Bical, Cercial e Rabo-de-Ovelha. Aqui, houve também a preocupação em regular a produção máxima por hectare, que seria idêntica à das castas tintas, limitando o volume alcoólico dos brancos aos 12% mínimo, obrigando ainda a um estágio mínimo antes de comercialização a 12 meses, seis dos quais em garrafa. Em matéria de reposição de injustiças, a Portaria nº 335/2015, de 6 de Outubro, veio colmatar uma ausência inadmissível, colocando a histórica Arinto, casta já referenciada por António Augusto de Aguiar, em 1867, como uma das mais relevantes uvas brancas do encepamento do território da Bairrada.

Terminamos esta longa, mas rica história de um território abençoado pela proteção das Serras do Bussaco e Caramulo, bafejado pela influência do Atlântico, com a afirmação de qualidade superior dos vinhos que ostentam a menção “Clássico”, concedendo à Bairrada um estatuto de maior relevância em boa hora regulamentada, e que tão bem é expressa nos 12 vinhos que brilharam na nossa prova.

* O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

(Artigo publicado na edição de Junho de 2025)

SYMINGTON: Entre o Douro e o Minho

Symington

A estratégia de diversificação da Symington Family Estates tem sido uma aposta cirúrgica em regiões e propriedades com história e potencial comprovado. Há apenas uma década, o Altano era o único vinho branco que a Symington apresentava no mercado. Hoje, o portefólio cresceu com propostas como o Taifa, de Portalegre, e agora o Casa de […]

A estratégia de diversificação da Symington Family Estates tem sido uma aposta cirúrgica em regiões e propriedades com história e potencial comprovado. Há apenas uma década, o Altano era o único vinho branco que a Symington apresentava no mercado. Hoje, o portefólio cresceu com propostas como o Taifa, de Portalegre, e agora o Casa de Rodas, de Monção e Melgaço. É o primeiro lançamento depois da aquisição da histórica propriedade em Monção, concretizada em 2022. Desconhecida pelos consumidores de hoje, esta foi a primeira marca comercial de Alvarinho. O vinho começou a ser engarrafado pela Casa de Rodas nos anos 1920, em colaboração com Amândio Galhano, o incontornável agrónomo da região dos Vinhos Verdes, ao qual se deve a descoberta das virtudes da casta.

Novo capítulo

A propriedade em si é ainda mais antiga. Foi construída em 1655 e representa um típico solar minhoto daquela época. Guarda a memória das famílias nobres que por ali passaram, destacando-se pela sua arquitetura, jardins centenários e uma capela do século XVIII. A marca não chegou aos nossos tempos, mas os 27,5 hectares de vinha da propriedade são dedicados exclusivamente à casta Alvarinho, dos quais 1,5 hectares são de uma vinha muito velha, de baixa produção. Ao pertencer agora ao universo Symington, abre-se um novo capítulo na história da casa e da marca.

O Casa de Rodas Alvarinho 2023 é vinificado por Anselmo Mendes na sua adega. Resulta de uma colheita manual e de uma prensagem suave. A fermentação decorre com temperatura controlada a acompanhar a sua dinâmica e prolonga-se por três semanas, seguida de um estágio sobre borras finas durante seis meses. Foram produzidas 13.555 garrafas.

A nova colheita da Quinta do Vesúvio surge num contexto vitícola desafiante. Rupert e Charles Symington relembram que 2022 foi um dos anos mais quentes e secos de que há memória. Em dez meses, caíram apenas 170 mm de chuva. Em julho, os termómetros no Pinhão atingiram os 47˚C e, durante dez dias consecutivos, as temperaturas mínimas não desceram abaixo dos 20˚C.

A vindima começou incrivelmente cedo, a 24 de agosto, mas as primeiras uvas mostraram sinais de maturação incompleta. No início de Setembro, o furacão Daniel irrompeu com chuva intensa e inesperada, forçando uma interrupção sem precedentes nas vindimas. No entanto, a chuva revelou-se benéfica: as temperaturas desceram, permitindo que as videiras completassem a maturação em condições equilibradas. Assim, a vindima pôde ser retomada com calma e óptimo resultado. A Touriga Nacional foi colhida entre 20 e 21 de setembro nas cotas mais altas da Quinta do Vesúvio (a cerca de 450 metros de altitude), enquanto a Touriga Franca foi apanhada entre 27 e 30 de setembro no Vale da Teja. Estas duas castas são os pilares do lote do Quinta do Vesúvio, onde Touriga Nacional está em maioria, com 65%, e Touriga Franca entra com 30%. A Tinta Amarela, também do Vale da Teja, compõe os restantes 5%.

O vinho estagiou durante 15 meses em barricas de carvalho francês (80% novas, 20% usadas), com capacidades de 225 e 400 litros. Foram engarrafadas 13.100 unidades, além de 350 magnum e 100 double magnum.

 

O Casa de Rodas Alvarinho 2023 é vinificado por Anselmo Mendes na sua adega. Resulta de uma colheita manual e de uma prensagem suave

 

A nova colheita da Quinta do Vesúvio surge num contexto vitícola desafiante, pois 2022 foi um dos anos mais quentes e secos de que há memória

 

Lançamentos simultâneos

Num conceito inovador, inspirado na tradição do Vinho do Porto Vintage, onde uma parte do stock é reservada para lançamentos futuros, foi apresentada uma nova edição do Quinta do Vesuvio 2015, com indicação Cellar Release. Esta prática prevê o lançamento simultâneo de novas colheitas e relançamento das colheitas mais antigas, com pelo menos dez anos de guarda.

“Estamos no sector da paciência”, explicou Rupert Symington, actual CEO da empresa. “Fazemos o trabalho pelos restaurantes e clientes: guardamos o vinho e disponibilizamos quando está mais próximo do ponto ideal de consumo.” Com esta abordagem, torna-se possível apreciar a evolução dos vinhos em diferentes fases da sua evolução, desde a vivacidade da juventude até à sofisticação adquirida com a maturidade.

Tal como no 2022, a composição varietal do Vesúvio 2015 baseia-se na Touriga Nacional (54%) e Touriga Franca (42%), com um toque de Tinta Amarela (4%). Entretanto, as condições do ano foram bastante distintas: o 2015 registou níveis médios de precipitação e temperatura. O início do ano vitícola, em novembro, foi marcado por chuvas generosas, fundamentais para fazer frente à falta de precipitação no inverno, primavera e verão. Alguma chuva que caiu na altura certa, em maio, foi providencial, preparando as videiras para os meses quentes de junho e julho. O mês de agosto foi ameno, com noites frescas, criando as condições ideais para maturações equilibradas e para a preservação da acidez natural das uvas. O Quinta do Vesúvio Cellar Release 2015 está limitado a 2.500 garrafas, numeradas individualmente e apresentadas numa embalagem exclusiva.

(Artigo publicado na edição de Junho de 2025)

Estão abertas as inscrições para o Concurso Escolha da Imprensa 2025

inscrições

O Concurso Escolha da Imprensa é um evento no qual a Grandes Escolhas convida colegas de outros órgãos de comunicação social — da imprensa escrita, à rádio, televisão e media digital — a provarem uma amostra significativa do melhor que se faz na produção de vinhos em Portugal. O júri é constituído por críticos e […]

O Concurso Escolha da Imprensa é um evento no qual a Grandes Escolhas convida colegas de outros órgãos de comunicação social — da imprensa escrita, à rádio, televisão e media digital — a provarem uma amostra significativa do melhor que se faz na produção de vinhos em Portugal.

O júri é constituído por críticos e jornalistas, que se reunirão no dia 1 de Outubro, em Lisboa, para provar os vinhos a concurso.

O anúncio e exposição pública dos vencedores realiza-se durante o evento GRANDES ESCOLHAS | VINHOS & SABORES, a decorrer na FIL, Parque das Nações, de 18 a 20 de Outubro, com atribuição dos respectivos Diplomas aos vencedores.
A Divulgação pública dos resultados é feita no site, na revista Grandes Escolhas e nas redes sociais.

Se for produtor e estiver interessado em inscrever-se no concurso clique AQUI.