O Sado de copo na mão

Num país com muito vinho, alma de marinheiro, belos rios e largas centenas de quilómetros de costa, seria de esperar que os cruzeiros vínicos fossem coisa comum. Estranhamente, não são. Mas no Sado eles fazem parte da paisagem já há quatro anos. Crónica de um final de tarde de copo na mão, entre vinhos, paisagem […]
Num país com muito vinho, alma de marinheiro, belos rios e largas centenas de quilómetros de costa, seria de esperar que os cruzeiros vínicos fossem coisa comum. Estranhamente, não são. Mas no Sado eles fazem parte da paisagem já há quatro anos. Crónica de um final de tarde de copo na mão, entre vinhos, paisagem e golfinhos. Viva o Verão.
TEXTO Luís Francisco FOTOS Ricardo Palma Veiga
O sol ainda vai alto nesta tarde de Agosto, reforçando o apelo da brisa fresca e do brilho das águas no estuário do Sado. No cais, em Setúbal, junta-se um grupo relativamente heterogéneo de pessoas – portugueses e estrangeiros, novos e mais velhos, casais e grupos alargados – que aguarda o sinal verde para embarcar no “Mil Andanças”, a embarcação onde se renovará hoje uma tradição cada vez mais forte do Verão setubalense: o cruzeiro vínico de sábado. Desta vez, abrilhantado pelos vinhos da Adega Fernão Pó.
A ideia, fomentada pela Rota dos Vinhos da Península de Setúbal, surgiu há quatro anos e o número de produtores aderentes tem crescido todos os anos, até ao ponto de, em 2017, as 18 datas disponíveis no Verão (de 3 de Junho a 30 de Setembro) estarem todas ocupadas. E com muita procura. Pudera: a experiência é fantástica, mesmo para quem não seja fanático do vinho. A visão da Arrábida no enquadramento do pôr-do-sol, a península de Tróia e o casario de Setúbal, o plano de água e o movimento dos navios, as praias e os golfinhos. Sim, os golfinhos. Lá iremos.
O trajecto entre Setúbal e o cais de Tróia, segundo ponto de entrada de participantes no cruzeiro, serve praticamente de aperitivo. O sol ainda vai alto, as águas animam-se com carneirinhos de espuma, as pessoas arrumam-se nas cadeiras do deck superior ou nos bancos almofadados cá em baixo – a sala interior ainda está encerrada, enquanto se prepara a prova de vinhos.
A saída de Tróia marca o início das hostilidades. Toda a gente é convocada ao deck superior para se fazer a apresentação do produtor da semana, neste caso a Adega Fernão Pó. João Palhoça, enólogo, resume em duas ou três frases a origem familiar da empresa e lança uma primeira luz sobre os vinhos que iremos provar de seguida. Palavras não eram ditas e eis que toda a gente volta a descer, desta vez com o vinho em linha de mira. E a primeira rodada é sempre a mais difícil…
Seja porque a sede aperta, seja porque os balanços da barra pregam partidas a quem não está habituado, gera-se um ajuntamento na zona de serviço, onde também está disponível uma mesa com petiscos (pão, tostas, queijo, chouriço, presunto, entre outras iguarias)… Mas depressa o ritmo serena e podemos provar o branco de entrada de gama, a que se seguirão um rosé, outro branco (este um varietal de Viosinho) e uma série de tintos (quatro, no total) que culmina no Reserva da casa.
O passeio e o vinho
Aos poucos, as conversas distendem-se, os sorrisos alargam-se e os grupos misturam-se. Um pouco à parte, Kaeszar, um dentista londrino, e a sua mulher, Alia, estão mais confinados pela barreira da língua, mas todas as explicações sobre os vinhos e o passeio são também dadas em inglês. Estão de férias em Tróia – “No Reino Unido ninguém sabe que isto existe!”, espanta-se Kaezar – e um amigo alentejano sugeriu-lhes o cruzeiro. “Adoramos barcos e sunsets”, explica Alia; o vinho é uma espécie de bónus. E, por falar em extras, é por esta altura que soa o aviso: “Golfinhos à esquerda!” E por momentos tudo passa para segundo plano, enquanto os dorsos cinzentos dos roazes dançam na espuma mesmo debaixo dos nossos olhos.
A seguir o vento prega-nos uma partida e fustiga o navio durante alguns minutos, levando consigo algumas almofadas e obrigando toda a gente a abrigar-se no interior, face à ameaça dos salpicos. O “Mil Andanças”, que já há-de ter visto bem pior do que isto, apressa-se a rumar à linha de costa da Arrábida, onde ficará mais resguardado deste súbito mau humor da meteorologia. Curiosamente, mais do que susto ou enjoos, o que se vê a bordo são sorrisos rasgados pelo pitoresco da situação. E, claro, há quem nunca tenha pousado o copo e prossiga, impavidamente, com a prova dos vinhos Fernão Pó.
Giovani e Neia, marido e mulher, brasileiros, vivem em Setúbal há 16 anos e esta é a segunda vez que embarcam num destes cruzeiros vínicos. “Aproveitamos o passeio de barco – é uma cidade bonita, mas vista daqui é um espectáculo – e o vinho. Ela é mais de vinho do que eu, mas no Inverno também ponho de parte a cervejinha e troco por um tinto”, elucida ele, enquanto Neia garante que ambos são fãs dos vinhos da Península de Setúbal, mas que há uns de que gostam “mesmo muito”: “Os do Alentejo!”
O sol já se pôs lá fora e agora navegamos placidamente ao longo da costa, bordejando línguas de areia que em breve desaparecerão na maré cheia. Numa delas, um audaz (ou distraído) pescador continua a fazer lançamentos com ar compenetrado e água pelos joelhos, aparentemente alheio ao facto de em breve poder ficar sem luz e com o caminho de regresso a terra cortado pelas águas. Ele lá sabe…
Um pedido de casamento
Numa mesa, Joana, Tito, Teresa e Carolina, mais “o pai João e a mãe Paula”, uma família de seis que mora do Seixal, estão a confirmar as boas coisas que foram ditas à última por pessoas conhecidas e que os levaram a inscrever-se no cruzeiro. Mas há membros que estão “fora-da-lei” e bebem sumo… “Acho que as pessoas vêm pela experiência geral, os mais novos provavelmente mais pelo barco e pelo passeio do que pelo vinho.” Mas os argumentos vínicos têm em Tito um veemente tribuno: “Provas de vinhos há muitas; num barco é que não!”
E esta será, provavelmente, a frase a reter neste animado anoitecer setubalense. O apelo conjunto do passeio de barco, das paisagens, dos golfinhos e do vinho ajuda a compor um cocktail sedutor. Para os produtores, é uma excelente oportunidade de mostrarem os seus vinhos e recolherem reacções em primeira mão. “Este é o quarto ano em que aderimos aos cruzeiros. Mudámos a imagem há cinco anos, sentimos necessidade de nos darmos a conhecer”, explica Isabel Palhoça, da Adega Fernão Pó.
Nos últimos três anos, a organização dos cruzeiros vínicos passou a ser responsabilidade da SadoArrábida, com apoio da Rota dos Vinhos da Península de Setúbal. Joaquim Ferreira, director da empresa, não tem dúvidas: “É um sucesso. Muito público, quase sempre lotação esgotada, sempre boa disposição a bordo.” Os portugueses são os principais clientes e foi mesmo lusitano o momento mais inesquecível, quando, recorda Isabel Palhoça, num dos cruzeiros da Adega Fernão Pó aconteceu um pedido de casamento… “Era um grupo grande, toda a gente aplaudiu, foi muito bonito!”
Desta vez não houve joelho no chão nem anel no dedo, mas o ambiente foi sempre descontraído. À medida que a noite caía e o vento amainava, cada vez mais gente se foi dirigindo ao deck superior, a música dos Abba marcando o percurso final do passeio, o vinho lubrificando as conversas. Quando chegamos ao cais, agora com os Heróis do Mar a cantarem “Paixão”, é preciso fazer um apelo pela instalação sonora, explicando que a embarcação tem ainda de rumar a Tróia, para que os passageiros comecem a sair. Não há bem que sempre dure, mas a vantagem aqui é que podemos sempre repetir no sábado seguinte. E com vinhos diferentes para descobrir.
CRUZEIROS ENOTURÍSTICOS NO SADO
SadoArrábida
Tel: 915 560 342
Mail: geral@sadoarrabida.pt
Web: www.sadoarrabida.pt
O cruzeiro pelo estuário do Sado, baía de Setúbal, costa da Arrábida e Tróia inclui observação de golfinhos, música, provas de vinhos comentadas por enólogos das adegas convidadas e degustação de queijos, enchidos e doçaria tradicional. Tem uma duração de 2h30 e embarque às 18h30 (Setúbal, doca das Fontaínhas) ou 18h50 (marina de Tróia). Os bilhetes custam 30 euros para adultos e 17,5 euros para crianças dos 6 aos 12 anos. Sempre com marcação prévia. Em Setembro as datas incluem A Serenada (no dia 2), Quinta da Serralheira (9), Herdade da Comporta (16), Península de Setúbal (23) e o cruzeiro de encerramento (30).
Quinta Nova premiada pelo guia “Luxury Travel Guide”

O serviço premium e a elegância dos vinhos apresentados na proposta de enoturismo da Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo foram reconhecidos pelo guia de luxo inglês “Luxury Travel Guide” através da atribuição do prémio Luxury Hotel & Winery Of The Year 2018. Esta distinção surge depois de a prestigiada “Conde Nast Traveller”, revista […]
O serviço premium e a elegância dos vinhos apresentados na proposta de enoturismo da Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo foram reconhecidos pelo guia de luxo inglês “Luxury Travel Guide” através da atribuição do prémio Luxury Hotel & Winery Of The Year 2018. Esta distinção surge depois de a prestigiada “Conde Nast Traveller”, revista também britânica, ter descrito a Quinta Nova como a “jóia escondida” do Douro, na edição especial do seu 20º aniversário.
O guia inglês Luxury Travel Guide reconhece os melhores em cada uma das categorias no segmento de luxo, com um alcance de mais de meio milhão de pessoas em todo o mundo, e representa o auge das conquistas do setor das viagens e turismo. A atribuição destes prémios está sujeita a uma rigorosa avaliação realizada por profissionais internos, subscritores e parceiros.
“É um enorme reconhecimento para a Quinta Nova ser distinguida pelo terceiro ano consecutivo por um guia com esta relevância no setor”, assume Luísa Amorim, administradora da Quinta Nova. “Esta última atribuição é particularmente especial, uma vez que valoriza a essência da proposta da Quinta Nova, exaltando o projeto no seu âmago, ou seja, o casamento perfeito entre o mundo do vinho e do enoturismo.”
A oferta enoturística da Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo, na margem direita do Douro, em Covas do Douro, inclui alojamento (11 quartos), restaurante (Conceitus), loja e sala de provas, jardim e piscina panorâmicos e museu (Wine Museum Centre).
Mapa Enogastronómico do Porto e Norte já está disponível

Que ninguém se perca quando a fome e a sede apertam! Já está disponível o Mapa Enogastronómico do Porto e Norte de Portugal, que enumera de forma simples e intuitiva todos os espaços enoturísticos da região. O mapa, lançado pelo Turismo da região, acaba de lançar o contém informações sobre locais a visitar, aconselha provas […]
Que ninguém se perca quando a fome e a sede apertam! Já está disponível o Mapa Enogastronómico do Porto e Norte de Portugal, que enumera de forma simples e intuitiva todos os espaços enoturísticos da região. O mapa, lançado pelo Turismo da região, acaba de lançar o contém informações sobre locais a visitar, aconselha provas gastronómicas e dá orientações sobre regiões demarcadas de vinhos.
O documento possui 23 produtos com Denominação de Origem Protegida (DOP), tem 11 pontos de visitação e 255 quintas de enoturismo. Esta ferramenta turística está disponível em duas línguas – português e espanhol. O mapa, em formato de bolso, está disponível nas lojas de turismo em toda a região Porto e Norte.
“Em 2016 a gastronomia representou 23% do fator de motivação para quem nos visita, logo a seguir ao City Breaks e Touring Cultural, o que nos mostra que é realmente um produto estratégico de extrema importância para a promoção da vinda ao território e por isso mesmo a exigir que haja respostas para quem nos procura”, adianta Melchior Moreira, presidente do Turismo Porto e Norte de Portugal.
Os mercados com mais apetência para este produto são os espanhóis e franceses, os mesmos que mais procuram a região. Em 2017, no acumulado entre Janeiro e Setembro e em comparação com 2016, regista-se um aumento de 11,2% nos visitantes cuja motivação é a gastronomia e vinhos. Os mercados mantêm-se os mesmos, ou seja, Espanha e França registam o maior número de turistas, sendo de salientar o aumento de cerca de 17% da procura por parte dos espanhóis.
Duas visões do Douro

São das propostas mais recentes do turismo duriense. Uma aposta num turismo mais massificado, a outra assume uma filosofia de recolhimento. De um lado o turismo de passagem, do outro a estadia. Diferentes como são, coincidem num ponto fundamental: com elas, o Douro fica ainda mais apelativo! TEXTO Luís Francisco FOTOS Ricardo Palma Veiga […]
São das propostas mais recentes do turismo duriense. Uma aposta num turismo mais massificado, a outra assume uma filosofia de recolhimento. De um lado o turismo de passagem, do outro a estadia. Diferentes como são, coincidem num ponto fundamental: com elas, o Douro fica ainda mais apelativo!
TEXTO Luís Francisco FOTOS Ricardo Palma Veiga
O Douro continua a marcar pontos no panorama turístico português e reafirma-se como o exemplo mais perfeito de como o enoturismo se infiltrou tanto na imagem e na oferta de Portugal que já deixou de ser um nicho. Aqui, por entre encostas talhadas à mão e um rio que espelha a paisagem que o rodeia, tudo nos fala de vinho e dos homens que regaram a terra com suor para o fazerem crescer por entre placas de xisto. Mas, ao mesmo tempo que é omnipresente, o vinho também sabe partilhar a ribalta com outros argumentos destas paragens mágicas.
De carro, comboio ou barco (e até de helicóptero, para os mais abonados), descobrir o vale do Douro é sempre um espectáculo de perder a respiração. E para isso nem precisamos de gostar de vinho – embora ajude, caros abstémios! Não espanta, por isso, que a multidão de visitantes seja cada vez mais heterogénea, interessada nos vinhos e nas vinhas que lhes dão origem, mas não só: a natureza, o património histórico, as gentes. E também as experiências. Ninguém ficará desiludido.
À medida que cresce o fluxo turístico, também a oferta se alarga e diversifica. Com propostas muitas vezes bem diferentes, mas que se complementam. Desta vez, rumámos à zona do Pinhão para conhecermos duas apostas recentes – uma ambiciosa renovação e
uma estreia absoluta. De um lado, potenciam-se as visitas e as experiências de um dia; do outro, a aposta vira-se para a estadia, num clima de sossego e exclusividade.
Para quem chega ao Pinhão pelas cénicas EN222 e EN323, há agora motivos reforçados para sair à direita mesmo antes da entrada na ponte metálica que nos leva ao centro da vila duriense. A Quinta das Carvalhas, enorme (500 hectares) propriedade icónica da Real Companhia Velha, recuperou infra-estruturas e reformulou a oferta enoturística com propostas e paisagens irrecusáveis. Para quem prossegue na EN222 junto à foz do rio Torto, a viagem é um pouco mais longa, mas vale bem a pena: alguns quilómetros mais à frente, junto à localidade de Ervedosa do Douro, inflectimos na direcção do rio e vamos encontrar a nova Vineyard Residence da Quinta da Gricha, um piscar de olho da Churchill’s a quem sonha com o silêncio e a sedução dos grandes espaços.
QUINTA DAS CARVALHAS
O Verão estava a chegar e não haveria melhor altura para a Quinta das Carvalhas aparecer de cara lavada para seduzir os turistas que rumavam ao Pinhão. Logo no início de Junho,
era apresentado o resultado do investimento feito na remodelação da loja, agora mais moderna, funcional e sedutora. Mas, acima de tudo, o que vinha à tona era o trabalho imenso (e dispendioso…) de embelezamento e reabilitação de caminhos, canteiros, espaços de lazer e edifícios. Hoje, a Quinta das Carvalhas é um verdadeiro jardim panorâmico, com estradas alcatroadas, miradouros arranjados, canteiros bem cuidados, muros e passeios impecáveis. E isto sem nunca deixar de ser uma quinta dedicada à agricultura.
Desde a loja, à beira-rio, até ao ponto mais alto, a casa redonda que coroa a propriedade a 550 metros de altitude, não se encontra um pedacinho de lixo pelo chão, nunca circulamos
fora de superfícies pavimentadas (a não ser que optemos por andar a pé por entre as vinhas), há uma sensação de harmonia que se entranha quase sem darmos por ela. “E isso é muito importante quando, no final, provamos os vinhos da casa!”, sentencia Álvaro Martinho, o responsável pela viticultura das Carvalhas.
É com ele que vamos partir montanha acima, à descoberta da biodiversidade deste naco privilegiado de Douro. E é sempre da região que fala o nosso anfitrião, protagonista da visita Vintage (personalizada, em veículo todo-o-terreno) que, inicialmente, foi encarada como um produto de nicho e que agora se tornou campeã de popularidade.
Diga-se que o nosso anfitrião faz bem por merecer a preferência do visitante. Álvaro é um verdadeiro David Attenborough do Douro: trepa rochas, pendura-se em raízes nas barreiras da estrada, desenha a xisto sobre o asfalto, esmaga ervas com os dedos para lhes extrair aromas, trepa rochas e muros… A dada altura, perante uma menina chinesa que acompanha a família, ensaia mesmo uns truques de magia com uma moeda, antes de atacar, em inglês, a temática das vinhas velhas com castas misturadas.
E se o que faz é, por si só, um espectáculo memorável, convém não julgar o livro apenas pela capa: o que Álvaro nos diz é que, apesar da aparente pobreza, estes solos do Douro (e mais exactamente nesta zona central, grosso modo entre a Régua e a Foz do Tua) sustentam uma incrível variedade de espécies vegetais, que, por seu turno, são a base de uma vida animal abundante. Ou seja, o que Álvaro nos diz é que este solo é especial e que reside aí a explicação para o carácter único dos vinhos que aqui nascem.
Sempre com a fita espelhada do Douro lá em baixo, passamos por vinhas, mato virgem, miradouros e antigas construções; apreciamos vistas, geometrias, cheiros e texturas; coleccionamos emoções. E, justiça seja feita, também ficamos com sede… Quando regressamos à loja, a temperatura já baixou dos inclementes 37 graus que nos esmagaram ao início da tarde, mas a água é muito bem-vinda. E a seguir, o vinho. Belo vinho.
Morada: Quinta das Carvalhas, 5085-034 Pinhão
Tel: 254 738 050 / 925 141 948
Fax: 254 730 851
(Taberna da Adega: 919 001 166)
Mail: carvalhas@realcompanhiavelha.pt
Web: www.realcompanhiavelha.pt/pages/quintas/4
O leque da oferta enoturística das Carvalhas abre com a prova de vinhos na loja (à carta), acompanhada de petiscos regionais. A loja está aberta entre as 10h e as 13h e das 14h às 19h, no Verão; das 14 às 18h durante o Outono/Inverno. Há visitas guiadas em minibus (máximo 20 pessoas) com partida do Pinhão e horários fixos (10h, 12h, 15h, 17h – de terça a domingo entre Maio e Setembro; sob marcação no resto do ano). Custam 12,5 euros por pessoa (5€ crianças entre os 4 e os 11 anos). A visita Vintage, personalizada, está disponível todos os dias mediante marcação, custa 35 euros por pessoa e inclui prova de três vinhos no final. Refeições, piqueniques e caminhadas mediante marcação.
QUINTA DA GRICHA
Se em linha recta (leia-se: no mapa) a distância entre as Carvalhas e a Gricha parece diminuta, por estrada a tarefa é mais complicada. Nada de dramatismos: falamos de alguns
quilómetros, os últimos dos quais, reconheça-se, por estrada degradada e estreita com precipícios impressionantes à espreita. Mas é também esse o trunfo da recém-estreada Vineyard Residence da Quinta da Gricha, propriedade da Churchill’s… Aqui respira-se sossego e recolhimento.
Chegamos e é toda uma vertigem de linhas e rendilhados de vinha que se estende perante o olhar. Lá ao fundo, o Douro ainda brilha na luz doce do final da tarde – e só podemos imaginar como será a vista de lá de baixo… Na verdade, a viagem mais curta e mais gratificante para chegar a este recanto é mesmo pelo rio, rumo ao ancoradouro da Quinta de S. José, uma das várias de nome sonante que aqui se arrumam (Tecedeiras, Roriz, etc…), de onde podemos ser transportados até à Gricha, nome que deriva da palavra usada para descrever uma fonte que jorra das pedras.
E ela lá está, no ponto mais alto do espaço exterior da casa, presidindo, por entre muros de pedra e relvados, ao patamar que enquadra a piscina e a horta, bem como o terreiro das laranjeiras, locais de lazer e remanso onde um livro e um copo de vinho podem ser excelente companhia. São espaços independentes, mas comunicantes, formando um todo de grande harmonia e beleza, para mais cercados por este anfiteatro de céu azul e montanhas espectaculares.
A Vineyard Residence oferece alguns programas de actividades ao ar livre e sugere pontos de interesse para visitar, mas é sem surpresa que ficamos a saber que a maioria dos hóspedes
prefere mesmo é ficar quieta, gozando esta atmosfera de recolhimento. Talvez um dia, quando forem realizadas as obras de recuperação da verdadeira mãe de água e dos túneis que estão a montante da fonte, valha a pena dar uns passos para o lado e descobrir novas maravilhas. Por enquanto, está tudo aqui.
Ou não, porque se um copo de vinho se pode levar para todo o lado, chega uma altura em que apetece sentar à mesa. Antes, um passeio pela adega, com os seus lagares de granito esculpido, e uma boa conversa num dos grandes alpendres da casa – ainda e sempre a vista e o silêncio a comandarem as operações. A casa plana sobre as vinhas e as suas arrebatadoras geometrias, as paredes erguendo-se a meia encosta em tons de branco e cinzento, o laranja do telhado em vívido contraste com o mar de verde em volta.
Jantamos em ambiente familiar, sempre com belos vinhos por companhia, e regressamos ao alpendre para uma última dose de vertigem e silêncio, o pôr-do-sol ainda a reverberar em lampejos de luz sobre os cumes. A seguir, a escuridão instala-se e o céu acende-se de estrelas. Recolhemos aos quartos, espaçosos e confortáveis, mas despojados (não há TV nem ar condicionado – e quem for viciado em telemóveis tem de se esforçar para garantir rede…), com enormes casas de banho e duche espaçoso.
Está calor e temos de dormir de janela aberta. Tirando os grilos, não se ouve mais nada até ser de manhã e o sol voltar a iluminar esta paisagem extraordinária, agora apreciada de volta de um belo pequeno-almoço. A única má notícia é que temos de ir embora.
Morada: Quinta da Gricha, Ervedosa do Douro, 5130-108 S. João da Pesqueira
Tel: 254 422 136
Mail: quintadagricha@churchills-port.com
Web: www.churchills-port.com/quinta-da-gricha-vineyard-residence/
GPS: Latitude ºN – 41.18980; Longitude ºE – -7.47119
Os quatro quartos disponíveis custam, em média, 250 euros por noite para estadias mínimas de duas noites, com pequeno-almoço incluído. As refeições custam 45 ou 55 euros (para hóspedes e visitantes, respectivamente, incluindo a prova de 5 vinhos). As provas de vinhos ficam por 15 (Clássica, 5 vinhos) ou 40 euros (Ruby & Tawny Ports, 6 vinhos do Porto; ou The Gricha Terroir, 2 vinhos topo de gama). Há duas sugestões de tour – uma para
hóspedes, outra para visitantes, ambas envolvendo passeio de barco pelo Douro e com preços sob consulta.
Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo já tem museu

Chama-se Wine Museum Centre Fernanda Ramos Amorim, nasceu na Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo e é o mais recente museu do Douro. Com mais de 12.000 turistas anuais, o projecto enoturístico desta quinta situada na margem direita do rio, perto do Pinhão, que já contempla alojamento e restaurante, fica ainda mais completo. O […]
Chama-se Wine Museum Centre Fernanda Ramos Amorim, nasceu na Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo e é o mais recente museu do Douro. Com mais de 12.000 turistas anuais, o projecto enoturístico desta quinta situada na margem direita do rio, perto do Pinhão, que já contempla alojamento e restaurante, fica ainda mais completo.
O museu resulta do sonho da coleccionadora, Fernanda Amorim, de preservar a memória cultural da região do Douro, partilhando-a com todos os amantes de vinho que a visitam. O edifício foi desenhado por Arnaldo Barbosa, considerado um dos “arquitectos do Douro”, e os conteúdos estiveram a cargo da empresa de museologia MUSE, com a colaboração da Fundação Museu do Douro. O espólio reflecte a tradição secular do Douro, agora apresentada num acervo representativo do ciclo produtivo do Vinho do Porto, com peças dos séculos XIX e XX, reunidas ao longo de vários anos por Fernanda Ramos Amorim.
Quinta do Piloto inaugura alojamento

A Quinta do Piloto, em Palmela, acaba de alargar a sua oferta enoturística com a inauguração de um alojamento local na casa da propriedade. Com capacidade para acomodar até cinco pessoas, a habitação está inserida numa antiga adega, com vista panorâmica sobre o Parque Natural da Arrábida, de um lado, e Lisboa e Vale do […]
A Quinta do Piloto, em Palmela, acaba de alargar a sua oferta enoturística com a inauguração de um alojamento local na casa da propriedade. Com capacidade para acomodar até cinco pessoas, a habitação está inserida numa antiga adega, com vista panorâmica sobre o Parque Natural da Arrábida, de um lado, e Lisboa e Vale do Tejo, do outro.
O espaço sugere o reencontro com a tradição vinícola, ideal para encontros com a família ou amigos. Com valores entre os 190 e os 200 euros, a casa acomoda até 5 hospedes distribuídos por três quartos (dois com cama de casal e um com cama individual). Inaugurado em 2015, o enoturismo da Quinta do Piloto oferece um vasto conjunto de programas, que incluem diversas provas de vinhos, visitas guiadas à quinta e uma série de actividades e eventos que decorrem ao longo do ano.
Red Frog, em Lisboa, é um dos 100 melhores bares do mundo

Pela primeira vez na história da lista “The World’s 50 Best Bars” há um bar português entre os melhores do mundo: o Red Frog, junto à Avenida da Liberdade, em Lisboa, aparece na 92ª posição na segunda metade da tabela, que divulga os classificados entre os lugares 51 e 100. Os melhores 50 serão anunciados […]
Pela primeira vez na história da lista “The World’s 50 Best Bars” há um bar português entre os melhores do mundo: o Red Frog, junto à Avenida da Liberdade, em Lisboa, aparece na 92ª posição na segunda metade da tabela, que divulga os classificados entre os lugares 51 e 100. Os melhores 50 serão anunciados no dia 5 de Outubro.
Para Emanuel Minez e Paulo Gomes, os proprietários do Red Frog, esta boa notícia não significa missão cumprida: “Abrimos o Red Frog com o objectivo de fazer o melhor bar em Portugal. Viajamos regularmente pelo mundo inteiro para percebermos todo o tipo de conceitos e tendências que existem lá fora, de modo a realizarmos um trabalho único a nível nacional. Estamos muito satisfeitos por entrar nesta lista, sendo que estamos a trabalhar diariamente para melhorar a nossa posição no ranking.”
O Red Frog é um bar fiel ao conceito “speakeasy”, nome dado aos estabelecimentos que vendiam álcool ilegalmente nos EUA durante os anos 20, quando vigorava a Lei Seca. Não há porta aberta para a rua (é preciso tocar à campainha) e toda a decoração remete para a época em que só se podia beber às escondidas. Fica na Rua do Salitre, 5A, e está aberto todos os dias menos ao domingo, a partir das 18h.
Uma voltinha pelo Dão

O calor começa a apertar e a frescura do Dão torna-se ainda mais apelativa. Num breve périplo por Nelas, Tondela e Mangualde, visitámos três destinos de enoturismo e perdemos o olhar por paisagens tingidas de verde. Boa cama, boa mesa, belos vinhos. E a sensação de que as coisas estão a mexer na região. […]
O calor começa a apertar e a frescura do Dão torna-se ainda mais apelativa. Num breve périplo por Nelas, Tondela e Mangualde, visitámos três destinos de enoturismo e perdemos o olhar por paisagens tingidas de verde. Boa cama, boa mesa, belos vinhos. E a sensação de que as coisas estão a mexer na região.
TEXTO Luís Francisco FOTOS Ricardo Palma Veiga
PARA quem não está familiarizado com a região ou não liga muito a essas coisas, o enorme mapa em relevo colocado na parede da recepção das novas instalações da Lusovini, em Nelas, é uma ajuda preciosa. Representa a região do Dão e nele são bem evidentes os vales cavados dos três rios (Dão, Mondego e Alva) que correm por estas terras, todos alinhados num eixo Nordeste/Sudoeste. Mas também salta à vista a verdadeira cerca de montanhas que rodeia estas paragens de planalto: Nave, Pereiro, Estrela, Açor, Lousã, Buçaco e Caramulo, listadas no sentido dos ponteiros do relógio começando pelo Norte. Protegidos por esta fortaleza de pedra e água, há muitos segredos por descobrir.
O isolamento do interior é, como tudo, uma moeda de duas faces. Se, por um lado, garante autenticidade e carácter, por outro, traz consigo alheamento e imobilismo. Os vinhos do Dão e os seus agentes enfrentam a tarefa, sempre dura, de combater a segunda metade da equação sem hipotecarem a primeira, que é uma mais-valia preciosa nestes tempos de perigosa normalização. Durante muito tempo identificada como a região por excelência para fazer vinhos tranquilos de grande qualidade, o Dão deixou-se atrasar quando o vinho português começou a acelerar na sua era moderna. Mas reagiu, reorganizou fileiras e está a dar passos seguros no sentido de recuperar e reforçar o seu prestígio.
Quando um vinho do Dão (o Villa Oliveira Touriga Nacional 2011, da Casa da Passarella) conquista o título de melhor vinho português no concurso anual da ViniPortugal, a região enche o peito de orgulho. Tanto mais que a região conquistou ainda outro prémio, o de melhor blend branco (Quinta dos Carvalhais Reserva 2012), tornando-se a única a subir por duas vezes a um pódio que só tem seis vagas… A qualidade continua lá e as consistentes apostas de mercado de alguns dos seus maiores operadores reforçam essa certeza. O Dão está a ganhar balanço.
A vertente turística tem a sua quota-parte nesta evolução. Ainda há muito para fazer, sim, e os sinais de melhoria continuam a conviver com realidades mais arcaicas; mas os sinais são positivos e, na sequência do lançamento da Rota dos Vinhos do Dão, em 2015, a região assumiu a aposta no enoturismo como um factor de valorização. A rota, com várias dezenas de produtores, está dividida em cinco roteiros, mas as distâncias são curtas (estamos no interior de uma fortaleza, lembram-se?) e os acessos bastante razoáveis, pelo que não é difícil compor a nossa própria “expedição”. Foi o que fizemos, alinhavando um périplo por terras de Nelas, Tondela e Mangualde.
Lusovini, Nelas
Para quem entra em Nelas vindo de Viseu (e já depois de passar por Santar, um dos nomes mais icónicos da vitivinicultura portuguesa), há uma novidade do lado direito da estrada. Onde antes encontrávamos a silhueta caduca do complexo da antiga adega cooperativa, vemos agora um edifício de linhas clássicas mas recuperado com pormenores modernos. E vemos também os cartazes que nos convidam a entrar para nos sentarmos à mesa. O convite é irresistível e a Tasca da Adega merece bem a visita.
Mas antes de brandirmos o garfo e enchermos o copo, vamos conhecer melhor o trabalho que foi feito pela Lusovini na recuperação destas vetustas instalações, agora transformadas num moderno centro de recepção de visitantes. Inaugurado em Setembro de 2016, o espaço abre-se em tons leves, chão em padrão de cortiça, móveis de pinho claro, uma barrica transformada em gigantesco balde de gelo – e onde, realçadas pela luz azul de fundo, repousam as garrafas de espumante para a bebida de cortesia que é servida a todos os visitantes. Com mais de 30 graus lá fora, isto soa a paraíso.
Do lado direito da recepção, num edifício moderno, estão a loja (que se prolonga numa pequena esplanada exterior) e o restaurante; do lado esquerdo, a antiga adega. É por lá que começa a visita, depois de passarmos sob um pórtico que nos saúda em 11 línguas diferentes – e se algum dos quase 3.000 visitantes mensais não perceber o que está escrito, há sempre a linguagem universal de um sorriso. O primeiro espaço da visita (que é gratuita se não incluir prova de vinhos) exibe painéis de azulejo alusivos à faina do vinho e da vinha e daí uma porta conduz-nos à adega, com pipas de madeira, depósitos de cimento, salas com garrafas de espumante e uma divisão onde se podem organizar provas à sombra de velhos alambiques.
No andar superior podemos caminhar por cima das enormes cubas de cimento e debaixo de outras, novamente barricas em fundo e sempre, sempre, um ambiente de limpeza impecável, ainda mais notável quando falamos de um edifício antigo, que teve de ser milimetricamente recuperado e higienizado. É um local de trabalho – e para os visitantes tem esse apelo extra: o de mergulhar verdadeiramente numa adega e na sua vida quotidiana.
Regressamos ao restaurante e sentamo-nos para uma refeição cuidada e informal. Servem-se apenas os vinhos da casa (ao preço da loja, com alteração do IVA), mas se alguém trouxer uma garrafa de fora também não há problema. Executivos de fato e gravata ou turistas de calções e chinelos, todos se sentem à vontade neste espaço, explorado em parceria com a equipa do grupo Dux. O nome “Tasca da Adega” foi escolhido exactamente para dar o tom desta abertura de conceito: refeições ou petisco, aqui toda a gente tem lugar.
Morada: Avenida da Liberdade, nº15, Areal, 3520-061 Nelas
Tel: 232 942 153 / 936 830 020
(Taberna da Adega: 919 001 166)
Mail: lusovini@lusovini.com; enoturismo@lusovini.com; tabernadaadega@lusovini.com
www.lusovini.com
GPS: 40°32’10.7 N; 7°51’17.7 W
A visita simples à adega (com bebida de cortesia – espumante) é gratuita; com prova de dois vinhos fica em três euros por pessoa, subindo para 5€ com mais um Vinho do Porto e para 7,50€ com petisco. Estas verbas são reembolsáveis em compras na loja (a partir de 30, 50 e 75 euros, respectivamente). Solicita-se marcação antecipada para grupos com mais de 15 pessoas. A taberna da Adega senta 45 pessoas e serve almoços e jantares todos os dias (jantares ao domingo apenas para grupos sob reserva). Durante a semana existe um menu executivo por 9,90 euros e o menu à carta tem um preço médio de 25 euros por pessoa. Servem-se petiscos.
Quintas de Sirlyn, Tondela
Mas se na Lusovini o ambiente se pretende despreocupado e informal, não há nada como a atmosfera de uma quinta familiar para nos sentirmos parte do local onde nos encontramos. Alguns quilómetros de estradas mais ou menos sinuosas por entre casas, bosques, vinhas e hortas e aproximamo-nos de Tondela. Rumamos às Quintas de Sirlyn, um nome que evoca contos de fadas por entre as brumas irlandesas, mas que, pragmaticamente, representa apenas a contracção dos nomes das duas propriedades unidas nesta unidade: a Quinta das Cerejeiras e a Quinta de Linhar.
São seis hectares, 4,5 dos quais plantados com vinha, e uma casa (mais um anexo) no ponto mais elevado da suave encosta que se estende a partir do IP3. Ainda não fizemos as apresentações e já somos saudados pelo Faneco, o gato da casa que mais parece um cão, pela imediata relação de proximidade que estabelece com os forasteiros. Augusto Teixeira e a mulher, Rosário, perceberam há algum tempo que a saída dos filhos para estudarem fora (agora estão ambos em Londres) lhes oferecia espaço disponível na casa e decidiram abrir portas a quem quiser pernoitar na propriedade.
O movimento ainda não é muito, até porque Tondela não é bem o epicentro do enoturismo na região, e o que faltará em aprimoramento das instalações é largamente compensado pelo carácter genuíno da experiência. Jantamos ao fresco, no pátio da casa com vista para as vinhas, uma brisa contínua a sacudir os calores do dia. Rosário vive aqui com os filhos desde 2002, o marido só em 2009 encerrou uma carreira que o obrigava a viajar com regularidade (aliás, a família chegou a residir dois anos em meio em Sydney, na Austrália) e assentou armas e bagagens na propriedade que herdou dos pais.
Augusto, que era engenheiro na Alcatel, não se limita a tratar da vinha e dos vinhos e a gerir uma garrafeira em Tondela. Plantou árvores, organizou a quinta, promove (com a mulher) activamente os seus vinhos. E mantém vivo o “bichinho” da robótica… Garante que dentro de um ano poderá estar em condições de apresentar uma máquina de controlo remoto capaz de fazer muito do trabalho “chato” nas vinhas, como cortar as ervas por entre as videiras.
Enquanto falamos à volta de um copo de vinho, a passarada recolhe-se nos arbustos que sombreiam a pequena piscina e a noite impõe a sua lei fresca e silenciosa. O olhar perde-se nas silhuetas das casas, bosques e vinhas – esta noite, os vestígios de fumo não permitem vislumbrar a horizonte de serranias que enquadra estes retalhos de Dão. Após uma noite tranquila no quarto simples mas bem arranjado, acordamos para a manhã nublada e fazemo-nos novamente à estrada.
Morada: Avenida da Belavista, Santa Ovaia de Cima, 3460-020 Tondela
Tel: 965 130 695 / 232 848 176
Mail: geral@sirlyn.com
Web: www.sirlyn.com
GPS: 40,5501944; -8,056
A visita às vinhas com prova de um vinho custa 2,5€ por pessoa, subindo para 5€ com dois vinhos. Requer-se marcação prévia, para assegurar disponibilidade da família para receber. Pode-se pernoitar num quarto duplo (60 euros) ou numa suíte com dois quartos (80€), preços que, em qualquer dos casos englobam pequeno-almoço e prova de um vinho.
Centro Interpretativo da Vinha e do Vinho, Mangualde
Este lote de experiências de Dão vai completar-se com uma visita ao Centro Interpretativo da Vinha e do Vinho, encaixado nas instalações da Adega Cooperativa de Mangualde, um projecto que custou 100 mil euros (financiado pelo Proder, o Programa de Desenvolvimento Rural) e foi inaugurado em 2015. Para quem não está muito por dentro deste mundo fascinante, o conselho é mesmo que se passe por aqui antes de entrar no circuito das quintas.
Uma parte das caves da adega, cuja gigantesca capacidade de armazenamento (7 milhões de litros) se distribui pelo edifício principal e por depósitos exteriores (uns antigos, de cimento, outros modernos, em inox), foi reconvertida para proporcionar um circuito didáctico que, numa linguagem extremamente acessível e directa, nos conduz pelo “bê-á-bá” da vitivinicultura.
Os visitantes, que entram por um salão onde se organizam encontros e conferências, são conduzidos pelos corredores da cave, por entre depósitos de cimento e vetustas paredes com mais de meio século, por onde circulam, quando é caso disso, os trabalhadores que se ocupam das tarefas normais de uma adega. Nas paredes, vários quadros temáticos abordam temas como o “Ciclo Vegetativo da Vinha”, “Viticultura ou Cultivo da Vinha”, “Castas da Região”, “Doenças da Vinha”, “Vinificação de Vinhos Tintos”, “Vinificação de Brancos e Rosés” e por aí fora.
Escritos e ilustrados num estilo extremamente eficaz e linear (“Trabalhamos muito com o parque escolar da região”, explica o presidente da Adega Cooperativa, António Mendes), os quadros são a introdução perfeita ao mundo dos vinhos para não iniciados. E o último, intitulado “A Prova”, pode mesmo servir de guia a quem acha que já sabe tudo, porque nos guia pela “Roda dos Aromas”, “Terminologia da Prova” e “Palete de Tonalidades”…
De quadro em quadro, passamos por um corredor histórico com fotos dos anos 40, decorado com uma linha de videiras; apreciamos a antiga destilaria, com os alambiques e a caldeira; respiramos o peso dos grandes depósitos de cimento (25.000 litros), neste andar e no superior; viajamos no tempo levados pelas alfaias de outrora. À saída, encontramos a loja, espaçosa e de ambiente rústico, cuja localização – bem à beira da estrada N234, que liga Mangualde a Nelas – garante um fluxo constante de clientes habituais, visitantes organizados e passantes ocasionais.
Apesar de ter perdido algum movimento desde que as entradas passaram a ser pagas, o Centro Interpretativo da Vinha e do Vinho recebe, ainda assim, mais de um milhar de visitas anuais. E merece ter muitas mais.
Adega Cooperativa de Mangualde
Morada: Zona Industrial do Salgueiro, 3530-259 Mangualde
Tel: 232 623 845 / 964 768 754
Mail: enoturismo@acmang.com
Web: www.acmang.com/enoturismo
GPS: 40°36’10.0”N; 7°47’17.0”W
Existem cinco programas definidos de visita, com preços que vão dos dois aos nove euros por visitante (mínimo: 9 pessoas), sempre com oferta de uma garrafa de vinho ou brinde; e também a possibilidade de desenhar um programa à medida, mediante consulta prévia. É possível fazer as reservas on-line. Só o programa mais simples não carece de marcação antecipada – há visitas às 10h15, 11h30, 15h e 16h30 de segunda a sexta-feira. A loja está aberta aos dias de semana das 8h30 às 12h30 e das 14h30 às 17h, aos sábados das 9h às 13h.