Porto Tawny: Arte e conhecimento

Porto Tawny arte

Os vinhos que hoje aqui abordo são dos que mais tradição têm na região do Douro e na sua extensão, Vila Nova de Gaia. Eram estes Porto Tawny que sempre se reservavam para servir a visitas ilustres, para momentos de celebração. Hoje existem em todas as gamas, perfis e segmentos de preço, desde os mais […]

Os vinhos que hoje aqui abordo são dos que mais tradição têm na região do Douro e na sua extensão, Vila Nova de Gaia. Eram estes Porto Tawny que sempre se reservavam para servir a visitas ilustres, para momentos de celebração. Hoje existem em todas as gamas, perfis e segmentos de preço, desde os mais simples e acessíveis até aos néctares mais selectos, raros e caros. E todos passam por um minucioso processo de selecção, lotação e envelhecimento, até entrarem na garrafa.

Texto: João Paulo Martins

Fotos: DR

Sempre que se fala em Tawny e Ruby – as duas grandes famílias do vinho do Porto – vem à minha memória a frase que ouvi a Rolf, pai de Dirk Niepoort, e que conheci ainda aos comandos da empresa. Dizia ele que o Porto Vintage era o Rei e o Tawny (cuja tradução é aloirado) era o presidente da República. Não lhe sendo conhecidas inclinações monárquicas, esta frase de Rolf expressava as enormes diferenças que existem entre as duas famílias: o Vintage é uma dádiva da Natureza, uma vez que não está nas mãos do Homem comandar o clima, as chuvas, as maturações, o calor. Por isso, quando tudo corre bem temos um vintage, um presente que se aceita (ou não) mas que nos chega “caído do céu”. O tawny, ao contrário, é uma construção humana, é uma escolha, não é nada que se receba já feito, tem de ser criado. Com muitos vinhos em stock, é o enólogo (antigamente o provador) que selecciona, que decide o tempo de estágio, que elabora o lote com este ou aquele perfil.

No tawny juntam-se três artes complementares: a arte do lote, a arte da tanoaria e a arte do envelhecimento. Se recuarmos na história do Vinho do Porto encontramos um mapa muito bem definido da circulação do vinho que começava no Douro e acabava em Gaia. Os vinhos eram produzidos no Douro mas envelhecidos e estagiados em Vila Nova de Gaia onde, pela proximidade do mar, as condições de temperatura e humidade eram mais favoráveis à sua correcta evolução. Era aqui (em Gaia) que estavam os “exportadores”, era aqui que trabalhavam os “narizes” do Vinho do Porto. Lá longe, no Douro profundo, estavam os lavradores, os que faziam o vinho nos lagares e que depois vinham a Gaia no início do ano a seguir à vindima mostrar os seus vinhos e procurar comprador.

Porto Tawny arte
O Porto é um vinho com uma história e cultura sem igual.

Este quadro (quase) nada tem a ver com a actualidade. Hoje há empresas de Gaia com armazéns no Douro onde envelhecem vinhos em perfeitas condições e as relações de produtor/comprador conhecem novas fórmulas. Mas, como escrevi há uns anos, em reportagem sobre os “provadores” enquanto profissão com tendência a desaparecer, havia em Gaia técnicos competentíssimos na arte da prova que nunca tinham ido ao Douro ou feito uma vindima. Eram dois mundos separados.

Hoje vamos falar dos tawnies. Eles existem desde a gama de entrada mais acessível em termos de preço – são os tawny sem outra designação – prolongam-se pelo tawny Reserva, os vinhos com indicação de idade – 10, 20, 30, 40 e 50 anos (esta uma categoria recém-criada), os Colheita e uma outra para os vinhos muito, muito velhos. O consumidor pode dizer que são muitas categorias e que é difícil orientar-se mas, sejamos justos, tem havido uma simplificação das indicações incluídas nos rótulos. Pense-se, só como exemplo, que durante décadas os vinhos com indicação de idade não a ostentavam no rótulo e só quem soubesse percebia exactamente o que estava a beber. Exemplo: um Duque de Bragança era um tawny da Ferreira, ponto. Depois é que ficámos a saber que era um 20 anos!

O ESTILO DA CASA

Com centenas ou mesmo, frequentemente, milhares de barricas à disposição, com toneis cheios, balseiros por todo o lado, cubas de inox e cimento, a tarefa do enólogo não se revela nada fácil. É preciso conhecer o stock, mantê-lo com saúde, fazer periodicamente correcções de aguardente e ter um quadro muito minucioso onde se registam as idades dos vinhos que estão disponíveis. É com este manancial de vinhos que se constrói então o lote final que se pretende. É preciso treino, muito treino de prova, é preciso dar tempo aos vinhos para que amadureçam é preciso depois ter noção de qual é o “estilo da casa”. Não é fácil definir exactamente o que é o perfil de cada marca, mas fique-se apenas com a ideia de que, com o mesmo stock, e para um vinho de determinada idade, o provador pode optar por um estilo mais leve ou mais pesado, mais vermelho ou mais “avelhado”, mais centrado na fruta viva ou nos frutos secos, com mais acidez ou mais açúcar.

Sempre houve um estilo próprio de cada uma das grandes casas do sector do Vinho do Porto e, não deixa de ser curioso que nas fusões onde alguns grupos – Sogevinus, Sogrape, Symington, Taylor’s –congregam várias antigas empresas, há a preocupação de manter o “estilo” que cada casa tinha, que era do agrado dos importadores e que tinha consumidores fiéis. É assim que um 10 anos Kopke é diferente de um Cálem (ambos Sogevinus) ou um 30 anos Offley não é semelhante ao Sandeman (ambos Sogrape).

Para esta prova escolhemos vinhos de quase todas as categorias Tawny, de Reserva até ao 40 anos e Colheita. Neste último grupo, centrei-me em vinhos Colheita já deste século. Sabe-se que várias empresas ainda têm, por exemplo, o Colheita 1937 em casco mas entendo ser mais razoável optar por vinhos mais acessíveis e facilmente disponíveis nas lojas especializadas.

Para a elaboração de tawnies das diferentes categorias, as empresas adquirem frequentemente vinhos no mercado: nas adegas cooperativas para os vinhos de entrada de gama e em produtores particulares que têm stocks de vinhos velhos para os vinhos com mais idade.

A ARTE DO LOTE

Os tawnies correntes não são tão fáceis de fazer como se poderia imaginar. Em primeiro lugar, a cor tawny, sempre um pouco mais aloirada, é difícil de conseguir quando as castas maioritariamente plantadas na região originam vinhos de cor intensa. Vinhos demasiado vermelhos não passarão na Câmara de Provadores. Por isso, como nos lembrou Ana Rosas (Ramos Pinto) é preciso escolher logo na vindima vinhos mais ligeiros, menos macerados, que depois, em casco, oxidam mais rapidamente. São também vinhos que levam muitas correcções para poderem ter o perfil desejado. Naturalmente que na categoria Reserva é mais fácil afinar a cor, pois estamos a falar de vinhos com uma média de 7 anos o que já ajuda também a que as cores se revelem com maior evolução. Vinhos mais ligeiros são mais fáceis de conseguir no Baixo Corgo do que no Douro Superior (que gera vinhos muito carregados de cor), por exemplo, e obriga a conhecer muito bem a região para saber onde ir buscar os vinhos para cada categoria.

Nas grandes casas, estas gamas de tawnies são feitas ao longo do ano conforme os pedidos do mercado. Há um modelo-base que serve para ser replicado sempre que for preciso. Os vinhos para se enquadrarem na categoria obrigam a muitas passagens a limpo e arejamento para se acelerar a oxidação. Para afinar a cor, Carlos Alves (Sogevinus) diz-nos que só com pouca extracção na vindima e com uvas brancas e tintas misturadas é que se conseguem vinhos mais abertos de cor que envelhecem mais rapidamente.

Os tawnies 10 anos são elaborados todos os anos e, frequentemente várias vezes por ano. Dessa forma, consegue-se que estejam sempre no mercado vinhos com mais frescura, o que não aconteceria se as quantidades colocadas fossem enormes e que demorariam depois muito tempo a serem renovadas. Aqui falamos sempre de um lote de vinhos que irá, em média, dos 8 aos 12 anos. As quantidades produzidas variam muito de casa para casa, em função da maior ou menor presença e visibilidade no mercado. A Ramos Pinto produz 60 000 garrafas/ano nesta categoria. No Vallado são cerca de 20 000 litros, comercializados em garrafa de ½ litro, onde entram vinhos entre os 7 e os 13 anos. Fazem um único lote por ano. Os vinhos são parcialmente guardados em madeira mas também em inox para assim se conseguir, no lote final, um bom balanço entre estrutura e frescura. Estes vinhos têm teores variados de doçura mas não se afastam muito dos 100/120 gramas açúcar por litro. Na categoria 10 anos há também muito abastecimento fora de portas, sobretudo em cooperativas.

OS TAWNY VELHOS

Já nos tawnies mais velhos as casas são muito ciosas dos seus stocks. Também adquirem fora, mas, por exemplo, o 20 anos da Ramos Pinto não pode aumentar de volume porque como é um vinho da Quinta do Bom Retiro, a propriedade não dá para mais. Na Sogevinus é também muito clara a distinção dos stocks que se destinam às várias marcas. A Kopke, por exemplo, inclui sempre vinhos mais estruturados que depois se combinam com lotes mais elegantes para fazer o vinho no modelo final, o tal que se quer fiel à marca e ao estilo da casa.

No caso dos vinhos mais velhos, quer o Vallado quer a Ramos Pinto vão muitas vezes ao mercado comprar a lavradores vinhos muito velhos. Mas, como nos diz Francisco Ferreira, do Vallado, “é cada vez mais difícil encontrar vinhos de muita qualidade, guardados e mantidos em boas condições”. Por vezes as quantidades adquiridas são mínimas o que leva a que, na Sogevinus, sejam usados micro barris de 20 ou 30 litros para guardar estas essências. De seguida estes vinhos adquiridos na lavoura têm de ser “educados” e trabalhados para poderem entrar em lotes finais. Quanto mais velhos os tawnies, mais trabalho de “alquimia” se pede/exige ao enólogo. Há vinhos que podem entrar com 1% no lote final e fazem toda a diferença. Ana Rosas conta-nos: para fazer um lote de tawny 30 anos começa-se a trabalhar nele 3 anos antes; parte-se de uma base do vinho anteriormente no mercado, põe-se num balseiro com outros vinhos de 24 a 27 anos de idade e alguns bem mais velhos. No segundo ano passa para cascos (cerca de 10 cascos) e começa-se então a adicionar pequenas quantidades de vinhos muito velhos. No terceiro ano leva então os toques finais a conta-gotas. Numa barrica de 660 litros pode levar, por exemplo, 2,4 litros de um vinho com mais de 100 anos. “Nem se imagina a diferença que fazem essas pequenas quantidades no lote final”, diz-nos.

Os tawny 30 e 40 anos são engarrafados em quantidades muito pequenas. Mesmo empresas grandes, como a Sandeman, só engarrafam uma pipa por ano do seu 40 anos. São vinhos naturalmente caros mas que, pela enorme classe que apresentam e pelos anos de stockagem que exisgem, têm um preço muito ajustado. No caso dos brancos velhos, a palavra tawny não é aplicável por uma mera razão jurídico/burocrática: não está previsto na lei que se apelidem tawnies os brancos velhos, apenas os tintos têm direito ao designativo. Logo que se mude a lei, tudo poderá ser diferente…

Na prova que fizemos foi surpreendente a qualidade em todas as categorias (mais surpreendente nas mais baixas, naturalmente) e os consumidores ficam com um leque de escolhas muito interessante. Não ficam com obra de Deus, têm de se contentar com obra dos Homens. E que obra!

O CARÁCTER DOS COLHEITA

O Porto Colheita, diferentemente do Tawny, é um vinho elaborado a partir de uma só vindima e que passa, no mínimo, 7 anos em casco. Tem por isso um carácter muito próprio, que reflecte integralmente as características do ano em que nasceu. Recentemente, a legislação alterou-se e favoreceu muitos produtores que tinham vinhos em casa mas que não podiam declarar Colheita. Expliquemo-nos: até 2020, os lotes destinados a Colheita, e que só podiam ser comercializados após 7 anos de casco, tinham uma conta corrente própria para Colheita, onde a empresa ia dando baixa à medida que ia engarrafando. Por norma e tradição, cada empresa coloca uma certa quantidade no mercado com engarrafamentos anuais. É por esta razão que é sempre conveniente tomar em atenção a data indicada na garrafa. Se dizemos que há ainda 1937 no casco, podemos imaginar que existirão no mercado 30 ou 40 engarrafamentos diferentes do 37, feitos em anos diferentes e portanto, com diferentes idades de casco e diferentes características. Não restam dúvidas: o que foi engarrafado mais recentemente é incomparavelmente melhor do que o outro que, sendo da mesma Colheita, foi colocado na garrafa há 20 anos.

Porto Tawny art
Sem a arte manual do tanoeiro (aqui na Quinta do Noval) não haveria cascos e balseiros. E sem eles não haveria Porto.

A modificação que entretanto se operou na lei, permite que, desde que os produtores/empresas tenham vinhos de um determinado ano em conta corrente, possam engarrafar um Colheita. Deixa assim de haver uma conta específica para esta categoria o que, acredita Carlos Alves, vai fazer com que comece a surgir mais Porto Colheita no mercado.

A mais recente proposta de modificação (ainda não aprovada no Instituto do Vinho do Douro e do Porto à data da escrita deste trabalho) assenta na criação de duas novas categorias de Tawny: “50 anos” e “Very, Very Old” para tawnies com mais de 80 anos. Muito provavelmente, isso significará que os tawny 40 anos deixarão de exibir no rótulo “Over 40 years” ou “+ de 40 anos” como até aqui.

Independentemente, da categoria onde se insere, o Porto Tawny é um vinho que espelha, talvez como nenhum outro, o trabalho dos profissionais do sector, no Douro ou em Gaia, e o seu profundo conhecimento e talento. Uma arte, portanto.

Guardar e servir

Todos estes vinhos, independentemente da idade, correspondem a lotes com maior ou menor oxidação. Por essa razão estes vinhos não precisam de ser conservados deitados em nossas casas. O conselho básico é, assim, a conservação das garrafas ao alto. Nunca se deve esperar uma evidente evolução destes vinhos na garrafa. A evolução pode acontecer (nomeadamente o aparecimento daquele misterioso e difícil de definir “cheiro a garrafa”) mas o mais habitual é os vinhos perderem frescura e ficarem cansados com muitos anos de garrafa.

Todos estes vinhos são filtrados antes do engarrafamento, o que facilita o manuseamento da garrafa e não obriga a decantação prévia. No entanto há aqui dois casos a considerar: o gosto pessoal de ver um bom tawny num bonito decanter é razão mais que suficiente para se decantar o vinho; depois, caso a garrafa de tawny tenha já muitos anos (aquelas das heranças ou compradas em leilão) acabará sempre por gerar depósito no fundo da garrafa e por isso é conveniente, com muito cuidado, decantar previamente o vinho.

A indicação da data do engarrafamento que vem na garrafa é uma ajuda; deverá sempre comprar os engarrafamentos mais recentes. Mas atenção: ela só é obrigatória nos Colheita; nos outros tawnies pode, ou não, vir indicada.

A temperatura de serviço aconselhada é “ligeiramente refrescado” uma vez que a doçura e o álcool do vinho tende a torná-lo um pouco mais pesado. O melhor será colocar a garrafa no frio uma hora antes de servir. Se for para ir bebendo ao longo do serão, então um balde de água com algumas pedras de gelo será o suficiente para manter o Porto no seu ponto certo.

(Artigo publicado na edição de Janeiro 2022)

 [/vc_column_text][vc_column_text]

Não foram encontrados produtos correspondentes à sua pesquisa.

Casa da Passarella: Novidades da Serra

novidades serra

Na Casa da Passarella já nos habituámos a assistir a uma busca constante de formas de conservação do património, seja pela busca de vinhas velhas, seja pela recuperação de castas antigas. Aqui relatamos mais um episódio. Texto: João Paulo Martins Fotos:  O Abrigo da Passarella Paulo Nunes é o porta-voz da quinta e da empresa, […]

Na Casa da Passarella já nos habituámos a assistir a uma busca constante de formas de conservação do património, seja pela busca de vinhas velhas, seja pela recuperação de castas antigas. Aqui relatamos mais um episódio.

Texto: João Paulo Martins
Fotos:  O Abrigo da Passarella

Paulo Nunes é o porta-voz da quinta e da empresa, é por ele que vamos sabendo das novidades e dos rumos que se estão a traçar nesta propriedade emblemática e muito antiga da região do Dão. Ali, além das castas que melhor caracterizam o Dão temos também outras de que ouvimos agora falar e que, ou estavam quase enterradas, ou há muito que deixaram de estar em palco, nas luzes da ribalta.

A prova desta vez iniciou-se com um branco que se tornou um caso de sucesso na empresa. Referimo-nos ao O Fugitivo Encruzado, um vinho que desde a primeira edição, em 2010, ainda nunca falhou qualquer ano e, nas palavra de Paulo Nunes, “parece um relógio suíço», uma vez que ainda que tenha comportamentos diferentes nas várias sub-regiões, a casta Encruzado, tem sempre um comportamento regular e consistente em todas as zonas do Dão. A casta precisa de acompanhamento, na gestão da canópia e na carga de cada cepa mas consegue produzir regularmente. Assim, não se estranha que tenham começado em 2010 com 2000 garrafas e agora estejam a produzir 20 000. É um vinho de grande sucesso junto do público, esgotando-se em 6 meses. Este é “um vinho de uvas, não de parcelas”, querendo Paulo dizer que vão à procuras das uvas que precisam, não vão escolher para fazer um “vinho de uma vinha”. Aqui entram uvas de diversas vinhas com idades dos 12 aos 50 anos. A fermentação decorre em barricas de 500 litros, das quais 25% novas. O vinho estagia depois em barricas ou cuba até Maio do ano seguinte. O Encruzado tem também crescido à custa de outras variedades: Paulo Nunes tem feito reenxertias e substituído a casta Bical porque esta se tem mostrado especialmente sensível às alterações climáticas.

O vinho feito com Uva Cão (a uva que guarda a vinha!) corresponde apenas a 1300 garrafas mas a intenção é estender a vinha até aos 6 ha. A uva é especialmente indicada para os novos tempos que se aproximam porque a elevadíssima acidez que apresenta será muito útil em lotes com outras variedades. O mosto é vinificado em cuba de cimento e tem depois estágio sobre borras totais em barricas usadas; esta prática, associada à curtimenta, ajudam, diz o enólogo, a aligeirar a sensação da acidez, o que a prova confirmou.

O vinho de Tinta Pinheira traz consigo uma carga de novidade; por um lado a casta é muito antiga na região mas foi durante muito tempo desprezada por gerar vinhos com pouca cor. Paulo confessa que “é uma casta que expressa muito bem o carácter do Dão” e, também por isso, plantaram mais um hectare no último ano. Foi feito em lagar com engaço parcial e gerou 3300 garrafas.

Novidades Serra
Paulo Nunes, enólogo da Casa da Passarella.

O branco Vinha do Províncio (3000 garrafas) resulta de um lote de várias castas e a fermentação inicia-se com curtimenta em barrica usada e termina depois em balseiros de 2500 litros. Foi feito em 2012 e as castas são sempre as mesmas. A vinha, com 50 anos, obriga a duas vindimas separadas porque as brancas estão misturadas na vinha com as uvas tintas.

O tinto Vinha Centenária Pai d’Aviz (2600 garrafas) inclui muitas castas tintas, algumas antigas mas raras como a Alvarelhão, Tinta Carvalha, Tinta Pinheira e Tinta Amarela. Tem origem em pequenas parcelas de vários proprietários, algumas entretanto compradas. Feito em lagar com engaço total, termina depois a fermentação em grandes balseiros. A partir desta colheita passará a chamar-se Pai d’Aviz.

(Artigo publicado na edição de Janeiro de 2022)

[products ids=”82733,82735,82737,82739,82741″ columns=”4″

Entre Profetas e Villões

profetas villões

Talvez não fosse fácil imaginar que, em território português, ainda existisse terroir vitivinícola para explorar como se quase da primeira vez se tratasse. Mas aconteceu. Na ilha do Porto Santo (imagine-se), onde juntamente com Nuno Faria, produziu 3 brancos surpreendentes e de grande qualidade. Quem? António Maçanita, “who else”? Texto: Nuno de Oliveira Garcia Notas […]

Talvez não fosse fácil imaginar que, em território português, ainda existisse terroir vitivinícola para explorar como se quase da primeira vez se tratasse. Mas aconteceu. Na ilha do Porto Santo (imagine-se), onde juntamente com Nuno Faria, produziu 3 brancos surpreendentes e de grande qualidade. Quem? António Maçanita, “who else”?

Texto: Nuno de Oliveira Garcia
Notas de prova: João Paulo Martins e Nuno de Oliveira Garcia
Fotos: Fita Preta Vinhos

 A hora e o local estavam marcados, ainda que sem muita antecedência pois António Maçanita parece gozar de uma inquietação e entusiasmo permanentes que conduzem ao improviso feliz. Chegados ao restaurante, esperava-nos o próprio e Nuno Faria, parceiro no recém-criado projecto Profetas e Villões, propositadamente constituído e desenhado para albergar a produção de vinho na mais antiga ilha dos arquipélagos portugueses. O nome é uma referência expressa às alcunhas entre as gentes do arquipélago da Madeira: Profetas é como os madeirenses chamam aos porto santenses e Villões (lê-se Vilhões) o que os habitantes de Porto Santo chamam aos madeirenses. António e Nuno começam por nos lembrar que são amigos há mais de década e meia, que iniciaram a sua colaboração na criação de cartas de vinhos com chef Fausto Airoldi (no saudoso restaurante Pragma), entendimento que se seguiu nos restaurantes 100 Maneiras de Ljubomir Stanisic onde Nuno é sócio já há vários anos.

Os acontecimentos por detrás da génese do projecto que se apresentou são curiosos e António comunica-os com a habilidade de quem não o faz pela primeira vez. Assim começa: o seu amigo madeirense Nuno Faria habituou-se, desde pequeno, a passar férias no Porto Santo e, por isso, não hesitou em “refugiar-se” na ilha durante a pior fase do confinamento. Esse período levou-o a conhecer melhor a cultura de vinho de Porto Santo, e é o próprio Nuno a confirmar como ficou maravilhado com as vinhas velhas de estóica vivência praticamente sem água. Um dia, ao ligar a António a relatar o seu dia-a-dia na ilha (que incluía provas regulares de alguns vinhos locais…), o enólogo disparou: “vamos fazer aí um vinho!” Talvez António tenha proclamado a afirmação sem se recordar que a cultura de vinho em Porto Santo é deveras particular, sem proximidades com o arquipélago dos Açores (onde António é sócio da Azores Wine Company) e quase nada em comum com o Continente. Mas agora é o próprio a explicar-nos que se trata de um clima sem chuva, com bastante vento, e castas incomuns – Caracol e Listrão (Palomino, conhecida pela produção de Xerez). As vinhas estão assentes em solos calcários básicos (arenitos calcários decorrentes de acumulação de areia e moluscos) protegidas por pequenos muros de canas. Ao olhar para as imagens que nos são projectadas numa tela de computador só conseguimos identificar referências às Canárias (até por proximidade geográfica), a alguns dos solos de areia pobre de Santorini, mas sobretudo às vinhas velhas de Colares, também elas rasteiras e ladeadas por canas. Mas mais que tudo, a verdade é que pouco ou nada se sabe da viticultura no Porto Santo. As linhas de água que permitem as vinhas sobreviver, os antecedentes das castas, o arquétipo de vinho aí produzido durante séculos, tudo isso é desconhecido.  Mas o que poderia ser um inconveniente foi antes o desafio para a dupla produtora. Nuno e António provaram todos os vinhos locais, mais os produzidos por produtores madeirenses ao estilo Madeira com uvas do Porto Santo, e procuraram estudar as poucas referências históricas. A experiência do enólogo na “recuperação” de castas antigas fez o resto. Porém, do ímpeto de António até produzir ali um vinho muita coisa aconteceu. Foi necessário convencer produtores locais a avançar nesta aventura (as uvas provêm de vinhas de 80 anos de um produtor: o Sr. Cardina), depois combinar a data da vindima (sem qualquer referência histórica e mais cedo do que os restantes produtores locais, que são todos artesanais). Por fim, transportar as uvas por barco até à ilha da Madeira para aí iniciar a fermentação numa adega, sempre sem hesitar, mesmo quando as primeiras análises indicavam Ph entre 8,5-10…

Na apresentação, António e Nuno trouxeram uma garrafa do produtor local artesanal de que mais gostam para afinar o nosso palato e introduzirem-nos no universo dos vinhos do Porto Santo, e deram-nos ainda a provar um tinto cuja cuba se perdeu num acidente. No fim do almoço, voltam a fazê-lo, mas agora em despedida, com um velho e interessante Listrão Branco do produtor madeirense Artur de Barros e Sousa e um magnífico Listrão de 1977 da Blandy’s que está em comercialização. Mas foram, e são, aqueles três vinhos brancos apresentados – Caracol dos Profetas, Listrão dos Profetas, e Listrão dos Profetas Vinho da Corda – que mais nos ficaram na cabeça nos dias a seguir à prova. Pela originalidade e singularidade, mas sobretudo pela excelência da qualidade logo em ano de estreia num terroir quase desconhecido. Demos a volta à nossa memória para ver quando tinha sido a última vez que isso nos tinha acontecido. Ainda hoje não temos a resposta.

(Artigo publicado na edição de Janeiro de 2022)

[products ids=”82743,82745,82747″ columns=”4″

Dahlia wine bar: Vinho, música e um tempo bem passado

Dahlia

Abriu em Julho de 2021, no Cais do Sodré, numa capital já completamente “minada” de wine bars e coisas que tais. No entanto, o Dahlia é muito mais do que um bar no Cais. TEXTO Mariana Lopes FOTOS Dahlia Querer ir a um bar mesmo no centro da movida de Lisboa, mas não saber qual […]

Abriu em Julho de 2021, no Cais do Sodré, numa capital já completamente “minada” de wine bars e coisas que tais. No entanto, o Dahlia é muito mais do que um bar no Cais.

TEXTO Mariana Lopes
FOTOS Dahlia

Querer ir a um bar mesmo no centro da movida de Lisboa, mas não saber qual escolher porque a oferta é enorme e a originalidade é pouca. Esta é uma condição comum, que para os verdadeiros amantes de música, vinho e boa comida, já tem uma solução: a Travessa do Carvalho nº 13, no Cais do Sodré, ganhou o Dahlia, um “listening wine bar”. Os listening bars, como explica a Mumbli — uma empresa que avalia e certifica o “bem-estar sonoro” de espaços abertos ao público, com base na qualidade de conversação e níveis de som saudáveis — popularizaram-se no Japão na década de 50 e são, na sua maioria, bares com equipamento de som de elevada qualidade, que tocam discos vinil cuidadosamente escolhidos por quem gere o espaço. Recentemente, o fenómeno dos listening bars alargou-se às grandes capitais do resto do Mundo e David Wolstencroft, juntamente com outros três sócios, Hamish Seears, Tiago Oudman e Harrison Iuliano, trouxe-o em Julho do ano passado para Lisboa.

O interior do Dahlia lembra, no design, uma mistura de “mid-century modern” —  sobretudo nos tons de verde-azulado e laranja-abóbora, e nos candeeiros abaulados suspensos sobre o balcão comprido que atravessa, do lado direito, todo o bar — com uma grande simplicidade nos detalhes. Atrás do balcão, na parede, pode ver-se a vasta colecção de vinil da casa, com dezenas de discos a pedir para serem escolhidos por David (Dj Trus’me) ou por um dos clientes que queria muito impor a sua curadoria aos demais. Afinal, a música é aqui protagonista, com a cozinha e os vinhos a apoiá-la com excelência.Quem visita o Dahlia, dificilmente não repara na presença do enérgico e atento Adam Purnell. Nascido no Reino Unido, Adam trabalhou, até 2015, em Business Development e Publicidade. Nesse ano, como o próprio conta, teve uma espécie de epifania e decidiu mudar de vida, demitiu-se, acabou a relação com a namorada da altura e mudou-se de malas e bagagens para Berlim. Na capital alemã geriu espaços semelhantes a este, e em 2021 acabou por aceitar o convite dos amigos e veio para Lisboa gerir o Dahlia. Sendo ele próprio enófilo, um mundo que Adam diz estar a descobrir cada vez mais, a carta de vinhos — que inicialmente foi desenhada pelos proprietários com o conceito “natural”, mas que na verdade vai além desta corrente (afinal, o que são mesmo vinhos naturais…?) — está agora a seu cargo, e vai sofrendo pequenos ajustes. Falamos de mais de duas dezenas de rótulos de vários países como, a título de exemplo, o Uivo, na versão varietal de Rabigato, da Folias de Baco (Douro); A Seara Castas Brancas, um Ribeiro (Espanha) de Iria Otero; Charmeleon Chardonnay (Australia); Phaunus Loureiro, da Aphros (Vinho Verde); Pai Abel Chumbado, da Quinta das Bágeiras (Bairrada); Madeleine, de Les Dolomies (Jura, França); Luna Llena, de Kindeli (Nelson, Nova Zelândia); ou o alentejano Vira Cabeças, da Cabeças do Reguengo. Há também alguns Pet Nat (como o Javali, do Douro), Uivo Colheita Tardia e, fora do vinho mas na mesa carta, Mezcal Amores Misterios. Algumas destas referências estão disponíveis a copo. Já para quem prefere cocktails, o Dahlia tem uma selecção personalizada, preparada pelo mixologista Rony Hernandez, que inclui receitas como Mezcal Negroni ou Hibiscus Frizz, além do Grilled Pineapple Smash ou Orange Fashioned.E o que vem da cozinha é, na verdade, uma revelação. Os chefs Vítor Oliveira (ex-chef do Damas, também em Lisboa) e Gabriel Rivera têm uma grande preocupação em utilizar apenas produtos frescos, sazonais — e, em alguns dos casos, comprados na zona — e um “dedo” muito talentoso para combinações inusitadas em petiscos de autor, onde tudo funciona em harmonia e com muito sabor. Recentemente, a dupla apresentou um novo menu, onde propõe momentos como as entradas Bolinhos de Feijão (€4) ou Pakora (€4, um prato típico da Índia e do Paquistão); e os pratos Rosti de batata doce com molho agridoce (€7,50), Salada de melão, mostarda vinagrete e menta (€7,50), Couve-flor assada, cacau e kimchi de tomate (€8,50), Massa fresca do dia (€12,50) e Franguito fumado, farofa, limão (€15). Nas sobremesas, a sugestão vai para Chocolate tahini, banana e crumble (€6), Arroz doce caramelizado e limão preto (€6) e Bolo de figo com doce de pastinaca (€6). “O novo menu reflecte a criatividade dos nossos chefs. Acreditamos que estas novas criações do Dahlia vão voltar a surpreender os nossos clientes, com uma experiência diferenciadora que inclui não só a cozinha, mas também o bar e a música, tudo num ambiente muito ‘cool’ e descontraído”, convida Adam Purnell.

O Dahlia tem capacidade para 29 lugares e abre de terça-feira a sábado, com a cozinha a funcionar das 18h30 às 23h00. E, para deleite dos mais organizados, aceita reservas!

Taylor’s abre candidaturas para bolsas de estudo destinadas a minorias étnico-raciais

Taylor's golden vines

Estão agora abertas as candidaturas para as bolsas de estudo Taylor’s Port Golden Vines 2022, destinadas a candidatos de minorias étnico-raciais, de todo o Mundo, que desejem inscrever-se nos cursos Master of Wine ou Master Sommelier. As bolsas Taylor’s Port Golden Vines têm um valor unitário de 55 mil libras e, segundo a Taylor’s, cobrem […]

Estão agora abertas as candidaturas para as bolsas de estudo Taylor’s Port Golden Vines 2022, destinadas a candidatos de minorias étnico-raciais, de todo o Mundo, que desejem inscrever-se nos cursos Master of Wine ou Master Sommelier.

As bolsas Taylor’s Port Golden Vines têm um valor unitário de 55 mil libras e, segundo a Taylor’s, cobrem integralmente os custos do curso e os respectivos exames, assim como as perdas de rendimentos devido aos estágios programados. Os interessados podem inscrever-se online AQUI, até ao dia 8 de Abril de 2022.

Em comunicado, a empresa de vinho do Porto esclarece que o programa “inclui um conjunto diversificado de experiências com alguns dos melhores produtores mundiais de vinhos e destilados, tais como: Bodega Catena Zapata, Castiglion del Bosco, Château Cheval Blanc, Château d’Yquem, Château Smith-Haut-Lafitte, Lapostolle Clos Apalta, Colgin Cellars, Dom Pérignon, Domaine Arnoux-Lachaux, Domaine Baron Thénard, Domaine des Lambrays, Domaine Laroche, Klein Constantia, Lawrence Wine Estates (Heitz Cellars, Stony Hill Vineyard, Ink Grade Estate and Burgess Cellars), Liber Pater, Marchesi Antinori, Opus One, Ruinart, Symington Family Estates, Taylor’s Port, The Macallan Distillery, Vilafonté, Vina Vik, Weingut Egon Müller. Também a  Amorim Cork, Annabel’s Private Members Club, the Kedge Wine School, Octavian Wine Vaults, the OIV, UC Davis Department of Enology & Viticulture, e WOW Wine School (Porto) vão proporcionar cursos académicos ou estágios aos candidatos vencedores”.

Adrian Bridge, director-geral da Taylor’s, declara: “O programa de angariação de fundos do Golden Vines, lançado em 2021 para honrar o legado de Gérard Basset, é um programa notável com alcance global. Mostra como a indústria do vinho pode ter um papel de liderança importante em muitas áreas, mas particularmente no que toca à diversidade e inclusão. A Taylor’s tem muito orgulho em patrocinar as bolsas Golden Vines e estamos muito satisfeitos por ver a união da indústria do vinho em torno desta nobre causa”.

O painel do júri, para as bolsas de 2022, inclui Angela Scott, a vencedora da bolsa 2021 Taylor’s Port Golden Vines; Nina Basset FIH; Rajat Parr (Sandhi Wines); Clement Robert MS (The Birley Clubs / Annabel’s); e a líder do júri Jancis Robinson OBE MW. Estes membros vão também assegurar a mentoria contínua aos alunos do The Golden Vines Diversity durante a sua jornada académica.

Os vencedores do Taylor’s Port Golden Vines receberão os seus prémios na cerimónia The 2022 Golden Vines Awards, que será realizada em Florença (Itália) de 14 a 17 de Outubro de 2022, que elege os melhores produtores de vinhos finos do Mundo.

Dona Matilde-O privilégio das vinhas históricas

Dona Matilde Vinhas

Nesta bonita propriedade na margem do rio Douro têm sido vários os ensaios que procuram espelhar melhor as virtudes das vinhas. Sobretudo as que têm mais passado e muito que contar, as vinhas históricas. Texto: João Paulo Martins Foto: Quinta Dona Matilde Começam agora a chegar à verdadeira velhice as vinhas que resultam das plantações […]

Nesta bonita propriedade na margem do rio Douro têm sido vários os ensaios que procuram espelhar melhor as virtudes das vinhas. Sobretudo as que têm mais passado e muito que contar, as vinhas históricas.

Texto: João Paulo Martins

Foto: Quinta Dona Matilde

Começam agora a chegar à verdadeira velhice as vinhas que resultam das plantações pós-filoxéricas que se fizeram no Douro. Para combater a praga usaram-se porta-enxertos resistentes e a lógica do plantio seguiu os ensinamentos que vinham de há séculos: misturar as castas na vinha porque num ano em que não davam umas davam outras e, por outro lado, a vindima não distinguia variedades e todas eram colhidas em simultâneo; provavelmente umas mais maduras que dariam mais álcool e outras mais verdes que confeririam mais acidez. Era este o conceito que hoje chamamos de field blend, em que o lote já vinha feito da vinha, não era necessário fazer ensaios na mesa de provas.

São estas vinhas, comummente chamadas de “vinhas velhas” que José Carlos Oliveira, o técnico de viticultura da quinta prefere, e bem, apelidar de “vinhas históricas”. Elas ainda existem no Douro, apesar das maldades e perfeita destruição de património que se operou nos anos 80 quando se replantaram vinhas com o patrocínio do Banco Mundial, se arrancaram vinhas velhas (e com elas perdeu-se muito do património genético) e se afunilou a selecção das castas a plantar. Estava na mente de todos a produção de uvas para Vinho do Porto mas o que ninguém imaginava era que, passados 40 anos, o DOC Douro fosse mais importante que o Vinho do Porto. Hoje andamos a tapar as feridas, a tentar recuperar estas vinhas muito velhas e a procurar conservar clones e genes. A verdade é que o apreço pelas vinhas históricas é hoje bem maior do que então era e a região só tem a ganhar com isso. O conceito de vinha histórica prende-se também com o facto de não haver duas iguais, quer pela localização de cada uma (exposição, altitude) quer pela malha de castas que torna cada vinha única e irrepetível. Na vindima de 2017 a empresa tinha apresentado o tinto Vinha dos Calços Largos e, agora, surge da vindima de 2019, o Vinha do Pinto.

Dona Matilde VinhasO tinto da Vinha do Pinto procura expressar essa complexidade da vinha histórica com uma ousadia ainda pouco tentada no Douro: fazer um tinto topo de gama sem que tenha tido qualquer contacto com barrica, nova ou usada. Este vinho apenas estagiou em inox e o que perdeu (eventualmente) em complexidade e mistério ganhou (seguramente) em elegância, precisão e aptidão gastronómica. A vinha tem 30 castas e à entrada da adega foram retiradas as uvas brancas que a vinha também tinha e que estavam lá para ajudarem no ajuste da cor, sobretudo para a produção de Porto tawny. A produção deste primeiro “tinto sem madeira” limitou-se a 2800 garrafas numeradas. João Pissarra, enólogo, optou por uma intervenção minimalista em termos de adega e daí deriva também a ausência da madeira.

O branco, menos ousado, é também um field blend de uma vinha com 25 anos e com estágio de 6 meses em barrica. Na vinha encontramos Arinto, Viosinho, Gouveio e Rabigato, quatro das mais emblemáticas variedades da região.

A quinta de 93 ha, com larga frente de rio entre a Régua e o Pinhão, tem 28 ha de vinha e uma alargada área de mato e floresta; está na posse da família Barros desde 1927 e integrava o património da empresa de Porto Barros Almeida. Aquando da venda da empresa à Sogevinus (2006) a família Barros recuperou a posse desta quinta, agora dirigida por Manuel Ângelo Barros e seu filho Filipe. A quinta também produz Vinho do Porto.

(Artigo publicado na edição de Dezembro de 2021)

[[products ids=”82401,82403″ columns=”4″

Casa Santos Lima-Um fenómeno da exportação

Casa Santos Lima

Estamos a 45km a Norte de Lisboa, na Quinta da Boavista, lugar da Merceana, em Alenquer, no coração e na origem deste que é um negócio multi-regional e multi-marca, fenómeno além-fronteiras, mas que tem muito mais para contar.  Texto: Mariana Lopes Fotos: Ricardo Palma Veiga A Casa Santos Lima, empresa familiar, nasceu em Alenquer, na […]

Estamos a 45km a Norte de Lisboa, na Quinta da Boavista, lugar da Merceana, em Alenquer, no coração e na origem deste que é um negócio multi-regional e multi-marca, fenómeno além-fronteiras, mas que tem muito mais para contar.

 Texto: Mariana Lopes

Fotos: Ricardo Palma Veiga

A Casa Santos Lima, empresa familiar, nasceu em Alenquer, na primeira metade do século XX, pelas mãos de Joaquim Santos Lima, cujo negócio já era o vinho desde o final do século XIX. Nessa altura produzia e exportava, sobretudo para o Brasil, onde acabou por casar com a filha do seu importador neste país, no Estado da Bahia. Depois, voltou para Portugal e comprou mais vinhas em algumas regiões portuguesas, no Dão, por exemplo, onde tinha nascido, expandindo o seu negócio. A base da empresa, formalizada por volta de 1920 e na altura com outro nome, nunca deixou de ser em Alenquer. Mas foi em 1990 que o bisneto de Joaquim, José Luís Santos Lima Oliveira da Silva — que vinha de um percurso de 20 anos de banca — a revolucionou, instituindo a Casa Santos Lima como tal, restruturando-a, replantando as vinhas e arrancando com o projecto de engarrafamento ainda nessa década, comercializando em 1996 os primeiros vinhos com marcas próprias: Quinta da Espiga, Quinta das Setencostas, Palha-Canas e alguns varietais. Durante 5 anos, ainda conjugou a actividade financeira com a Casa Santos Lima. Como o próprio diz, “sempre que podemos, compramos terreno e plantamos vinha”, o que vai de encontro ao mais recente plano de alargamento, com aquisições, parcerias e produção em regiões como o Douro, Vinhos Verdes, Alentejo e Algarve.

Casa Santos Lima
José Luís Oliveira da Silva revolucionou a Casa Santos Lima nos anos 90.

Tendo herdado o espírito empreendedor e exportador do seu bisavô, José Luís — que nos recebeu na Quinta da Boavista, ao lado do seu “braço direito” Luís Almada, administrador — transformou a Casa Santos Lima num “gigante com coração”, um grupo que hoje tem mais de 200 referências de vinho, uma produção de quase 35 milhões de garrafas por ano (mais de 25 milhões de litros no total das cinco regiões), 90% de exportação e 300 postos de trabalho. É também o maior produtor de DOC Alenquer e de vinho Regional Lisboa, detendo 55% de “quota” na região. Enquanto passeamos pelas vinhas da propriedade e arredores, fazendo uma viagem pelo universo vitícola da casa e conversando sobre a actividade nas outras regiões, percebemos que “gigante” é uma palavra que ali é apenas consequência dos números, pois é com muito “coração” que José Luís Oliveira da Silva e a sua equipa olham para a matéria-prima que cultivam e para o produto que engarrafam. “Este Alicante Bouschet vai para o Opaco”, ou “Aqui está o Castelão que entra no Palha Canas”, indica José Luís, que sabe exactamente onde está cada casta plantada e qual o seu fim. Nas várias parcelas, é possível ver o cuidado e alguns métodos característicos de produtores mais pequenos, como o enrelvamento entre linhas, por exemplo. “O enrelvamento protege da erosão e promove alguma concorrência com a vinha, o que origina maior concentração e cria uma biodiversidade que é muito positiva para a Natureza”, desenvolve José Luís.

Dos Vinhos Verdes ao Algarve

 Nas vinhas de Alenquer, região de Lisboa, a distância ao mar é de 25 quilómetros e a influência deste é grande, pois o clima torna-se temperado, com Invernos amenos e noites de Verão bem frescas. Os 400 hectares de videiras que a Casa Santos Lima tem aqui, em sua propriedade ou em parceria com mais de 90 viticultores, estendem-se por encostas entre os 110 e os 220 metros de altitude, com uma exposição solar privilegiada, dada a suavidade das inclinações. As castas são mais de 50, mas as principais passam pelas tintas Pinot Noir, Alicante Bouschet, Cabernet Sauvignon, Preto Martinho, Sousão, Camarate, Syrah, Malbec e Tinto Cão; e as brancas Alvarinho, Moscatel, Antão Vaz, Rabigato, Loureiro, Roupeiro, Sauvignon Blanc, Gewürztraminer. Entre vinhos leves, brancos, rosés, tintos e colheitas tardias (Late Harvest), as marcas são dezenas, praticamente todas criadas por José Luís Oliveira da Silva, materializadas graficamente pela equipa interna de design, ocasionalmente com input externo: LAB, Azulejo, Portuga, Vale Perdido, Alteza, Valmaduro, Colossal, Confidencial, Sem Reservas, Red Blend, Duas Uvas, OMG, Portas de Lisboa, Casa Santos Lima, Cabra Cega, Touriz, Lisbonita, Joya ou Quinta das Amoras são algumas delas, a juntar às já referidas anteriormente neste texto.

Casa Santos LimaAdicionalmente, a Casa Santos Lima explora também a famosa “Vinha do Aeroporto”, dois hectares junto ao aeroporto da capital — com Arinto, Touriga Nacional e Tinta Roriz — que dão origem ao vinho Corvos de Lisboa.

Na região dos Vinhos Verdes, em Lousada, o grupo explora a Casa de Vila Verde, sob a égide de uma empresa criada para esse efeito e com o mesmo nome. Esta quinta, com 44 hectares de vinha, tem plantadas sobretudo as variedades Espadeiro, Vinhão, Touriga Nacional, Arinto, Loureiro, Trajadura, Avesso e Alvarinho. Com elas, produzem-se os vinhos Pluma, Tiroliro, Espada, Cardido ou Casa de Vila Verde, entre outras marcas comuns a mais regiões.

Desde 2011 que a Casa Santos Lima é sócia da Quinta de Porrais, no Douro, propriedade em Murça que pertenceu a Dona Antónia Adelaide Ferreira e que hoje ainda está, em parte, na sua família. Esta quinta tem 35 hectares de vinha, com idade média de 65 anos, plantada em solos de xisto e quase todas a 600m de altitude, com as castas brancas (60%) Rabigato, Códega do Larinho, Viosinho e Verdelho; e as tintas Touriga Nacional, Touriga Francesa, Sousão e Tinta Barroca. No entanto, em toda a região, a Casa Santos Lima trabalha cerca de 100 hectares de vinha. Os vinhos durienses do grupo têm os nomes “Quinta de Porrais”, “Porrais” ou “Vinhas de Murça”, sendo o enólogo consultor Francisco Olazabal (Vale Meão), e Jaime Quelhas, o residente.

Já no Alentejo, a Casa Santos Lima escolheu a zona de Beja, onde explora 150 hectares de vinhedos em solos argilo-xistosos. O clima é bem agreste aqui, como sabemos, tanto no Inverno como no Verão, e as castas presentes nestas parcelas são as tintas Touriga Nacional, Tinta Roriz, Petit Verdot, Syrah, Alicante Bouschet, Cabernet Sauvignon; e as brancas Arinto, Viosinho, Verdelho, Antão Vaz, Fernão Pires e Sauvignon Blanc. É daqui que saem os vinhos Valcatrina, Fortíssimo, Caçada Real, Palaios, Monte das Promessas, Rebelde, Primoroso, Coccinela, Quid Pro Quo, entre outros.

Por fim, o grupo detém, em Tavira, região do Algarve, 45,7 hectares de vinha própria e a exploração de outros 6,5, em solos secos, de arenito vermelho e amarelo. As castas Touriga Nacional, Tinta Roriz, Negra Mole, Syrah, Alicante Bouschet, Cabernet Sauvignon, Arinto, Viosinho, Verdelho e Alvarinho dão origem aos vinhos Al-Ria, Portas da Luz, Barrocal ou Talabira do Algarve. “Todos os anos plantamos vinha nova ou restruturamos parcelas. Só nos últimos dois anos, plantámos, no total das regiões, mais de 70 hectares”, afirma José Luís, que refere ser já responsável por cerca de 30% de todo o vinho produzido no Algarve…

História encontra tecnologia

É muito curiosa a facilidade com que se observa, na Quinta da Boavista, a passagem dos tempos e das gerações. Na parte mais alta, situa-se a casa original, construída nos anos 30 por José Santos Lima, avô de José Luís. Tímida, a casa esconde atrás de plantas trepadeiras a face mais exposta aos visitantes, e respira pelo lado virado para uma paisagem quase infinita, de vinhas multicor e agregados de casas espalhados pela manta de retalhos. Ao seu lado, um curioso jardim de grandes pedras arredondadas dispostas num círculo, a sugerir que foi ali invocada, de alguma forma, a mãe-natureza. Mas isto nem José Luís Oliveira da Silva consegue explicar…

Logo a seguir à casa, está a primeira adega da quinta, com mais de 90 anos, uma de um total de três adegas próprias nesta região, além da adega nova, um pouco mais abaixo da primeira, e das instalações da antiga Adega Cooperativa da Merceana, compradas pela Casa Santos Lima.

A adega nova foi criada de raiz na Quinta da Boavista, construída a tempo da vindima de 2014. Toda ela está bastante automatizada, feita numa disposição vertical e com parte da mesma enterrada, o que além de potenciar os movimentos por gravidade, mantém mais facilmente as temperaturas ideais. Os quatro enormes depósitos de 250 mil litros são também pilares de sustentação do edifício, que alberga outros de 100 e 30 mil litros, bem como cerca de mil barricas distribuídas por vários locais. Luís Almada explica que a vindima é sempre feita por variedade, para que a vinificação seja também feita, em todos os casos, separadamente.

Por sua vez, as instalações da antiga Adega Cooperativa foram totalmente reequipadas desde a sua aquisição — com dezenas de cubas, quatro prensas, filtros e muito mais — constituindo, de acordo com José Luís Oliveira da Silva, “uma parte muito importante da operação da Casa Santos Lima”.

Ainda na Quinta da Boavista, um dos armazéns acolhe uma linha de engarrafamento e embalamento impressionante, que ocupa todo o espaço disponível, em várias direcções. Quando lá entrámos, o entusiasmo foi imediato, qual criança a chegar a um parque de diversões. Logo ao início, as grandes e altas máquinas de rotulagem chamam a atenção, pois assemelham-se aos robôs das farmácias mas, em vez de medicamentos, vão ao interior buscar o rótulo que é pedido. Mas há várias estações de rotulagem, não só de rótulo e contra-rótulo, mas também de medalhas obtidas em concursos e na imprensa. Como é natural numa empresa desta dimensão, há também uma produção significativa de bag-in-box (cerca de ⅓) e de um formato que, mais recentemente, se tornou popular, o “pouch”, que se assemelha a uma bolsa com pega. Com 9 mil garrafas cheias por hora, a Casa Santos Lima “não engarrafa para stock, é tudo para saída imediata e com destino definido”, informa José Luís, e acrescenta que “com a pandemia de Covid-19, aumentámos muito as vendas para níveis que ainda se mantêm”. Isto deve-se ao facto de a maior parte dos clientes que têm nos principais mercados — EUA, Finlândia, Suécia e Noruega — não terem sido impactados negativamente pela pandemia. Nos três mercados escandinavos de monopólio, a Casa Santos Lima é o maior produtor português e, na Finlândia, o vinho mais vendido, de todo o Mundo, é o Duas Uvas Premium, que provamos no final desta reportagem. Em virtude deste crescimento, na continuação destes armazéns, está neste momento a ser construído mais um, com 11 mil metros quadrados.

O que o futuro reserva

 Mas a expansão não pára nas cinco actuais regiões, e a Casa Santos Lima está em processo de alargamento para os Açores, com vinhas já compradas na ilha do Pico. Além disto, há um projecto para construir uma adega na região dos Vinhos Verdes e outra no Douro, e um plano de Enoturismo para Tavira, no Algarve.

Antes de irmos embora, deixamos uma pergunta mais pessoal a José Luís Oliveira da Silva. “Quais os vinhos da casa, que mais gosta de beber?”, interrogámos. Perante a natural hesitação de alguém que tem orgulho em tudo o que produz, o CEO acabou por retorquir: “Nos brancos, os varietais Casa Santos Lima Sauvignon Blanc e Gewürztraminer, e o Essencial Reserva; nos tintos, o Touriz e o Quid Pro Quo. Nos rosés, varia muito…”.

(Artigo publicado na edição de Janeiro de 2022)

Concurso Vinhos de Portugal 2022 abre inscrições

Concurso Vinhos de Portugal 2021 júri

A ViniPortugal vai distinguir, pela nona vez, os melhores vinhos nacionais no Concurso Vinhos de Portugal 2022, que acontecerá de 2 a 4 de Maio deste ano, no local do costume, as instalações do CNEMA, em Santarém. As inscrições para este concurso já abriram — podem ser submetidas no site do Concurso Vinhos de Portugal […]

A ViniPortugal vai distinguir, pela nona vez, os melhores vinhos nacionais no Concurso Vinhos de Portugal 2022, que acontecerá de 2 a 4 de Maio deste ano, no local do costume, as instalações do CNEMA, em Santarém.

As inscrições para este concurso já abriram — podem ser submetidas no site do Concurso Vinhos de Portugal — e terminam a 3 de Abril, mas há vantagens para quem registar os seus vinhos até dia 11 de Março: um desconto de 5€ por cada vinho inscrito. 

A primeira fase do Concurso, que inclui sessões técnicas de prova, decorrerá de 2 a 4 de Maio. Nesses dois dias, estão também programadas masterclasses, jantares com produtores, visitas e múltiplas provas de vinhos. A fase final decorrerá nos dias 5 e 6 de Maio, momento em que Grande Júri reunirá e decidirá os Grande Ouro e os Melhores do Ano. Já a divulgação dos vencedores, terá lugar na Cerimónia de Entrega de Prémios, no dia 6 de Maio. Este ano, a região seleccionada para apresentação dos Prémios, durante o jantar de gala, foi o Tejo. 

De salientar é o facto da participação no Concurso Vinhos de Portugal 2022 constituir, para os produtores, uma plataforma para a promoção internacional, uma vez que os vinhos distinguidos com as Medalhas Grande Ouro e Ouro terão presença garantida em eventos internacionais de renome deste ano. 

Recorde-se que, no ano passado, o Concurso Vinhos de Portugal recebeu mais de 1400 referências, cuja qualidade foi avaliada por um painel de jurados nacionais e internacionais, composto por especialistas em vinho, entre os quais enólogos, sommeliers, jornalistas, wine educators e outras profissões ligadas ao sector. 

Quinta do Crasto Vinha Maria Teresa: Um grandíssimo tinto de Portugal

Crasto tinto Portugal

Maria Teresa. A elegância e harmonia do nome não passa despercebida, nome que não poderia adequar-se melhor ao vinho que o transporta e à vinha que lhe dá origem. Texto: Mariana Lopes Fotos: Quinta do Crasto Quinta do Crasto já é um dos produtores mais emblemáticos do Douro e de Portugal. Com muitas e diferentes […]

Maria Teresa. A elegância e harmonia do nome não passa despercebida, nome que não poderia adequar-se melhor ao vinho que o transporta e à vinha que lhe dá origem.

Texto: Mariana Lopes
Fotos: Quinta do Crasto

Quinta do Crasto já é um dos produtores mais emblemáticos do Douro e de Portugal. Com muitas e diferentes valências vitivinícolas — dos vários perfis de vinho que produz ao projecto do Douro Superior com a Quinta da Cabreira, passando pela investigação na área da viticultura — são as suas emblemáticas vinhas velhas que invocam para si um estatuto quase de Santo Graal. Isto surge tanto pelas características únicas destas vinhas, como pelos vinhos que nelas têm origem. São três as vinhas muito velhas do Crasto, Vinha dos Cardanhos, Vinha da Ponte e Vinha Maria Teresa, mas é esta última sobre a qual agora recai o “spotlight”, com o lançamento da colheita 2017 do sempre esperado tinto Quinta do Crasto Vinha Maria Teresa.

A Vinha Maria Teresa é centenária e tem 4,7 hectares, tendo sido plantada em duas partes: uma há cerca de 111 anos e outra quando Constantino de Almeida (bisavô do administrador Tomás Roquette e do director de vendas Pedro Almeida) comprou a Quinta do Crasto, em 1918. O solo destas parcelas é sobretudo de xisto e a exposição é maioritariamente nascente, o que, segundo Manuel Lobo, enólogo-chefe do Crasto, “foi muito favorável e importante em 2017”. Como a generalidade das vinhas velhas do Douro, esta também tem dezenas de castas misturadas, e o Crasto já identificou 54 diferentes, apurando que a mais plantada é a Tinta Amarela. A produção média desta vinha é, como seria de esperar, bastante baixa, menos de 300g por videira, e a sua antiguidade traz algo inevitável: todos os anos morrem videiras. É aqui que a equipa do Crasto veste a capa de super-herói, movida pelo desígnio de salvar e preservar a identidade desta vinha, um património muito precioso que, na verdade, se está lentamente a perder por todo o Douro. Em 2013, iniciou o projecto Pat Gen Vineyards, um processo de mapeamento genético de cada casta ali plantada, para que a vinha pudesse ser “replicada” na mesma proporção, num “berçário” de videiras (ou campo de multiplicação de genótipos) e, no futuro, as videiras mortas repostas com variedades geneticamente idênticas. A ideia era, e é, “perpetuar desta forma o terroir e o ‘field blend’ desta vinha única”. Cada videira tem uma coordenada gps própria, e a equipa do Crasto acede a uma plataforma digital para supervisionar vários aspectos da vinha, como o estado de saúde de cada pé, a localização das variedades e muitos outros parâmetros. Os planos são para que, segundo Tomás Roquette, “ainda este ano se comecem a replantar as videiras mortas”.

O ano vitícola de 2017 originou, nas palavras de Manuel Lobo, “a vindima mais precoce de que temos memória, na Quinta do Crasto”. De acordo com o enólogo, as primeiras uvas tintas foram colhidas a 18 de Agosto e o primeiro corte na Vinha Maria Teresa deu-se no dia 25 de Agosto, algo que “nunca antes tinha acontecido”. Já o segundo corte nesta vinha, deu-se a 2 de Setembro e, dezassete dias depois, o último. Foi um ano “pouco produtivo, mas com excelente concentração”, explicou Manuel Lobo. Cachos mais pequenos e uvas de menor diâmetro, com óptimo rácio entre película e polpa, contribuíram para isso. Para o Crasto, 2017 “ficará certamente registado na História como um ano de vinhos excepcionais”, e é normal que o produtor assim pense, já que o Vinha Maria Teresa tinto 2017 arrebata qualquer um, mesmo na sua actual juventude. Estagiado durante 20 meses em barricas novas de carvalho francês, de 225 litros, este vinho é o resultado de uma “selecção exaustiva de barricas que tiveram melhor performance”, referiu Manuel Lobo.

E é precisamente por esta importância que as vinhas velhas têm para o Crasto, que o produtor concretizou recentemente “um sonho que tínhamos desde 2007”: a Adega Vinhas Velhas. Este é um espaço totalmente renovado, “cada cuba pensada para cada parcela de vinha velha, e com todas as condições necessárias para a optimização da expressão de identidade de cada uma”. Manuel Lobo tem um novo espaço para “brincar”, e dele só poderá sair coisa boa…

(Artigo publicado na edição de Dezembro de 2020)

[products ids=”77634″ columns=”4″

Revelados os restaurantes aderentes ao concurso Tejo Gourmet 2022

Tejo Gourmet 2022

O Tejo Gourmet 2022, Concurso de Iguarias e Vinhos do Tejo que este ano chega à 10ª edição, já tem definidos os restaurantes nacionais que aderiram à iniciativa. São 63 os espaços — do continente e ilhas — que submeteram os seus menus vínicos à prova, nesta competição promovida pela Comissão Vitivinícola Regional do Tejo […]

O Tejo Gourmet 2022, Concurso de Iguarias e Vinhos do Tejo que este ano chega à 10ª edição, já tem definidos os restaurantes nacionais que aderiram à iniciativa. São 63 os espaços — do continente e ilhas — que submeteram os seus menus vínicos à prova, nesta competição promovida pela Comissão Vitivinícola Regional do Tejo (CVR Tejo) e pela Confraria Enófila Nossa Senhora do Tejo.

De 1 de Fevereiro a 31 de Março de 2022, os visitantes destes restaurantes poderão fazer a “Rota do Tejo Gourmet”, para provar e desfrutar dos menus vínicos criados especialmente para o concurso. Cada menu é composto por entrada, prato e sobremesa e, como não podia deixar de ser, é harmonizado, a cada momento, com diferentes Vinhos do Tejo. Para além da avaliação feita pelos comensais, caberá a um painel de jurados, composto por quatro profissionais em cada visita, pontuar a gastronomia, os vinhos e a harmonização. O Tejo Gourmet 2022 premeia “O Melhor Restaurante” em absoluto, assim como as categorias “Melhor Entrada”, “Melhor Prato Principal”, “Melhor Sobremesa”, “Melhor Carta de Vinhos”, “Melhor Promoção”, “Restaurante Revelação”, “Melhor Casa de Petiscos”, “Melhor Cozinha Tradicional”, “Melhor Cozinha de Autor” e “Melhor Cozinha Internacional”. São ainda entregues diplomas de Prata e de Ouro. O anúncio e entrega dos prémios acontecem por ocasião da Gala Vinhos do Tejo, marcada para o dia 28 de Maio de 2022.

Luís de Castro, Presidente da CVR Tejo, afirma: “Estamos bastante satisfeitos com a adesão a esta edição do Tejo Gourmet, que vem confirmar o espaço que este nosso Concurso já ocupa no panorama nacional. Conta já com uma dezena de edições, o que tem, sem dúvida, ajudado a afirmar os Vinhos do Tejo dentro e fora da região. Se na primeira edição aderiram 22 restaurantes, apenas da região dos Vinhos do Tejo, na última, em 2019, o número subiu para 58 e, este ano, para 63 restaurantes, neste que foi salto triplo, a contar da génese”.

Criado em 2010, o Tejo Gourmet começou por ser um concurso de âmbito regional, passando, em 2012, a contemplar os restaurantes de lés-a-lés de Portugal. Esta mudança contribuiu, segundo os organizadores, “para o seu crescimento, quer em qualidade, quer em quantidade, no que diz respeito ao número de restaurantes participantes”.10ª Edição TEJO GOURMET – Concurso de Iguarias e Vinhos do Tejo
Lista dos restaurantes participantes:

• A Casa do Avô (Guia, Albufeira)

• A Lúria (Portela de São Pedro, Tomar)

• A Toca do Coelho (Usseira, Óbidos)

• A Varanda do Parque (Santarém)

• Adega Açoriana – Tapas & Wine House (Pico, Açores)

• Alecrim.com (Funchal, Madeira)

• Almourol Restaurante (Tancos, Vila Nova da Barquinha)

• Amassa (Santarém)

• Atual Restaurante (Silveira, Torres Vedras)

• Aveiramariscos (Aveiras de Cima)

• Beef & Wines (Funchal, Ilha da Madeira)

• Belpaço (Tomar)

• Black Frog Restaurante & Gin House (Santarém)

• Burro Velho (Batalha)

• Café Alentejo (Évora)

• Capriola – Hotel Lusitano (Golegã)

• Casa Chef Victor Felisberto (Alferrarede, Abrantes)

• Casa de Pasto “A Regional Valonguense” (Valongo)

• Chalet Vicente (Funchal, Madeira)

• Clube Naval de São Roque do Pico (Pico, Açores)

• Cordel Maneirista (Coimbra)

• Danidoce Marisqueira (Alpiarça)

• De’gustar (Torres Novas)

• DiGusto (Santarém)

• Dom Joaquim (Évora)

• Dona Laura – Tapas e Vinhos (Évora)

• Genuinu’s (Aveiras de Cima)

• InPar Restaurante by Aroeira Lisbon Hotel (Aroeira, Charneca da Caparica)

• Mãe – Cozinha com Amor (Lisboa)

• Magma (Pico, Açores)

• Magna Carta – Wine & Food (Paredes da Vitória, Pataias)

• Mensa – Hotel Le Malibu Foz (Figueira da Foz)

• No Tacho (Coimbra)

• O Castelo (Belver)

• O Cavalo do Sorraia (Alpiarça)

• O Convite – Dom Gonçalo Hotel Spa (Fátima)

• O Febra (Almeirim)

• O Picadeiro (Tomar)

• O Poço do Zé (Casais de Santa Helena, Caldas da Rainha)

• O Rochedo (Pico, Açores)

• Oh!Vargas (Santarém)

• Palhinhas Gold (Rio Maior)

• Papa Figos (Torres Novas)

• Pátio da Graça (Santarém)

• Petiscaki (Montemor-o-Novo)

• Petrarum Domus Bar Restaurante (Óbidos)

• Pirá Cevicheria (Loulé)

• Praça – Hotel República (Tomar)

• Roots (Torres Vedras)

• Sabores de Az (Funchal, Madeira)

• Stop (Vila Nova da Barquinha)

• Taberna Lusitana (Matosinhos)

• Taberna Portuguesa 1865 (Rio Maior)

• Taberna Zé Cristino (Urqueira, Ourém)

• Tasko d’Adega (Fazendas de Almeirim)

• Taverna 1488 (Constância)

• Taverna Antiqua (Tomar)

• Taxiko Tapas (Funchal, Madeira)

• Triangular – Hamburgueria Artesanal (Évora)

• Villa Lausana (Lousã)

• Vintage (Pombal)

• Wish Restaurante & Sushi (Porto)