20 anos de Quinta Nova Vinha Centenária

quinta nova

Recordo-me bem, corria o início de verão de 2007, de chegar pela primeira vez à Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo. A propriedade, que até dois anos antes fazia parte do portefólio da J.W. Burmester, era uma típica quinta do Douro produtora de Vinho do Porto. Totalmente típica não…, pois a sua dimensão numa […]

Recordo-me bem, corria o início de verão de 2007, de chegar pela primeira vez à Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo. A propriedade, que até dois anos antes fazia parte do portefólio da J.W. Burmester, era uma típica quinta do Douro produtora de Vinho do Porto. Totalmente típica não…, pois a sua dimensão numa das melhores zonas no Cima Corgo – 120 hectares ao longo de 1,5 km de rio – era bem superior ao habitual na região. À frente da quinta estreava-se Luísa Amorim e, já nesse tempo, bastavam pouco minutos de conversa para concluir que muita coisa iria mudar na propriedade. E mudou!

A propriedade combina agora uma imaculada adega topo de gama e uma unidade de turismo de luxo com 11 quartos

Referenciada desde a primeira demarcação pombalina, em 1756, a Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo foi propriedade da Casa Real Portuguesa até 1725, e tornou-se uma “quinta nova” pela junção de duas quintas (o que explica a sua dimensão). Durante os séculos XVIII e XIX, viveram na quinta várias famílias portuguesas que mantiveram vivas a produção de uva e vinho, fruta e azeite. Mais recentemente, já no século XX, produzia exclusivamente uvas para Vinho do Porto. Quase vinte anos volvidos da primeira vez que lá fomos, basta olhar de cima, na estrada que serpenteia e circunda a propriedade, para notar que muito mudou na Quinta Nova. Desde logo, no que respeita ao edificado, principescamente restaurado, e albergando um dos melhores hotéis da região do Douro, inserido na prestigiada insígnia Relais & Châteaux. A propriedade, que era exclusivamente agrícola e vitícola até chegar às mãos de Luísa, combina agora uma imaculada adega topo de gama e uma unidade de turismo de luxo com 11 quartos (para a qual há um projeto de expansão, mas que, por enquanto, está no segredo dos Deuses) e um restaurante. Antes de chegarmos à casa senhorial que alberga o hotel, encontramos um conjunto de edifícios tradicionais com largas portas de madeira por onde, no passado, passavam as pipas de Vinho do Porto para os carros de bois. Hoje, esse espaço acolhe um wine bar lindíssimo, com os melhores copos disponíveis no mercado. Foi aí que tivemos a oportunidade de percorrer a prova vertical dos dois topos de gama batizados de Vinha Centenária.

Mas voltemos alguns anos atrás, regressando a 2007. Foi nesse início de verão que provei vários lotes dos primeiros vinhos DOC desta quinta, na altura quase todos da colheita de 2005. Provei-os numa adega bem diferente e mais modesta que a atual. Logo no início, após a separação da quinta da marca Burmester, quem começou na enologia foi Rui Cunha, apesar do pouco tempo disponível que as suas consultadorias lhe permitiam. Nesse ano de 2007, foi já Francisco Montenegro, enólogo da quinta até 2010, quem nos deu a provar o Grande Reserva 2005, um tinto magnífico com Touriga Nacional e alguma vinha velha, um vinho que, provado agora em vertical, continua em grande forma. Entretanto a área de vinha aumentou e, atualmente, já após replantações, a quinta tem uma mancha única de 85 hectares de vinha, toda ela tinta. Hoje, a produção ascende a 650 mil garrafas, grande parte centrada na gama premium, num posicionamento propositalmente alto e ambicioso, diz-nos Luísa Amorim.

Mudança e evolução são uma constante nos projetos chefiados por Luísa Amorim. Mas uma coisa mantém-se, ainda que se ajustando à passagem do tempo: os icónicos Vinha Centenária

 

As vinhas antigas

Aos comandos da enologia desde a colheita de 2011 e até março de 2025, tem estado Jorge Alves, que tem contado com a preciosa ajuda de Duarte Costa e Sónia Pereira. Como acima dissemos, muito, muito mesmo, mudou nesta magnifica propriedade da margem direita do Douro. Dir-se-ia até que mudança e evolução são uma constante nos projetos chefiados por Luísa Amorim. Mas uma coisa mantém-se, ainda que se ajustando à passagem do tempo: os icónicos Vinha Centenária.

Com efeito, se algo não mudou foram as vinhas mais antigas da propriedade que, sendo um património invulgar, foi preservado pelos cuidados da viticóloga Ana Mota, que conhece a propriedade e as vinhas como ninguém. Algumas dessas vinhas remontam da primeira plantação monovarietal na região do Douro, que resultou de um estudo realizado entre 1979 e 1981, em conjunto com o Ministério da Agricultura. À época, foram selecionadas três parcelas em patamares com as melhores exposições solares para a plantação de três grandes castas tradicionais, Touriga Nacional, Touriga Franca e Tinta Roriz. É, pois, desta iniciativa pioneira que nascem as duas referências ícones, primeiro denominadas de Grande Reserva e, desde a colheita de 2018, de Vinha Centenária. A primeira colheita foi em 2005 a partir de Touriga Nacional. A versão com base em Tinta Roriz surgiu em 2008. Existem outros topos de gama da propriedade – caso do Aeternus (homenagem familiar ao empresário Américo Amorim) e do Mirabilis – mas são os Vinha Centenária que continuam a ser o retrato do terroir que os viu nascer e acomodam, em si, a história da modernização do Douro e todo o passado da Quinta Nova.

Sucintamente, o Vinha Centenária Ref P29/P21 provém, como o nome indica, da Parcela 29 plantada com Touriga Nacional entre os 170 e os 205 metros de altitude, e da centenária Parcela 21. Já o Vinha Centenária Ref P28/P21 resulta da Parcela 28 plantada com Tinta Roriz entre os 205 e os 210 metros, e novamente a vinha centenária Parcela 21. As parcelas 29 e 28 são muito pequenas – 1,65 e 1,96 hectares, respetivamente – e a vinha velha, em co-plantação com Donzelinho Tinto, não ultrapassa os 3,5 hectares. Com produções médias entre 2500 e 2700kg por hectares não admira que no mercado não sejam lançadas mais do que 5000 garrafas de cada vinho. As uvas sempre foram 100% desengaçadas para ambos os vinhos, estagiando numa média de 12 meses em barricas novas de carvalho francês. Nota final para a enorme qualidade de ambos os vinhos na edição de 2021, comprovando a qualidade do ano (mais fresco que o habitual) e uma enologia cada vez mais de precisão e contenção.

Nota: O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

Vertical: Quinta Nova Grande Reserva/Vinha Centenária Ref.ª P29/P21

18,5 A

Quinta Nova Grande Reserva tinto 2005

Muito fruto negro e encarnado, sente-se o ano quente com notas de compota, profundo, floral maduro e tabaco doce. Cremoso em boca, alcaçuz, tanino vivo, firme, madeira harmoniosa. Dá grande prova, mas tem ainda alguns anos pela frente. (14%)

19 B

Quinta Nova Grande Reserva tinto 2007

Aroma jovem e intenso, com muito brilho na cor. Revela no nariz muito fruto, negro e azul, barrica de qualidade, tudo ainda a evoluir bem. Muito intenso em boca, fruta em camadas, leve chocolate sedutor, termina capitoso e muito jovem. (15%)

18,5 A

Quinta Nova Grande Reserva tinto 2008

Aroma plenamente silvestre com notas a floresta e chão de bosque, fruto azul, turfa. Sente-se a frescura do não em boca, floral aberto, fruto encarnado, mas já bastante redondo e sedutor, talvez no seu ponto ótimo para ser bebido. (14,5%)

19 A

Quinta Nova Grande Reserva tinto 2012

Muito bem no aroma, latente, sério, ameixa fresca, urze, grande integração e equilíbrio. A prova de boca segue o mesmo perfil, saboroso e redondo, muito especiado e complexo. Ótima fase de consumo, está agora no seu melhor! (14%)

18,5 B

Quinta Nova Grande Reserva tinto 2013

A cor e o aroma denotam juventude. Fechado e misterioso no nariz, levemente químico, abre para notas balsâmico e alcaçuz. Muito tanino em boca, intenso e espigado, cheio de garra, meio-corpo em boca, mas com alguma frescura e muitos anos pela frente. (14%)

18,5 A

Quinta Nova Grande Reserva tinto 2015

Aroma jovem, com a barrica a sentir-se na frente, secundada por fruto maduro em camadas, floral aberto, grafite, e chocolate preto. Muito bem em boca, largo e lácteo, com muito sabor, longo. Vai continuar a evoluir, mas a dar já grande prova. (14%)

18,5 B

Quinta Nova Grande Reserva tinto 2017

Aroma fantástico, com muita fruta encarnada, barrica impecável, especiados vários, e perceção de frescura. Muito intenso em boca, tanino maduro robusto, granulado e longo, é um vinho de porte aristocrático com futuro pela frente. (14%)

18,5 B

Quinta Nova Vinha Centenária Ref.ª P29/P21 tinto 2018

Aroma muito bonito, com fruto azul (mirtilo e amora), perceção frescura, profundo e balsâmico. Muito sabor em boca, revela-se jovem e com garra, ligeiramente menos concentrado, com a Touriga Nacional a marcar o conjunto magnífico. (14,5%)

19 B

Quinta Nova Vinha Centenária Ref.ª P29/P21 tinto 2019

Muito bem no aroma, todo jovem e profundo, químico (tinta-da-china), fruto negro, leve grafite. Prova de boca com muito sabor e potência, intenso com notas de alcaçuz e alcatrão, termina já longo, apesar de ter muito para crescer. (14,5%)

18,5 B

Quinta Nova Vinha Centenária Ref.ª P29/P21 tinto 2020

Fechado aromaticamente nesta fase, abre para notas latentes de fruta e barrica, algumas notas de chá e bergamota. Prova de boca em linha, diálogo entre a fruta e a barrica, tudo num perfil jovem e enérgico. (14,5%)

(Artigo publicado na edição de Maio de 2025)

Os três vinhos galardoados com o melhor vinho foram Vala da Barca 2022 de Maçanita Vinhos entre os vinhos brancos, Costureiro Garrafeira 2019 nos tintos e o Porto Vale da Tábua 50 Anos entre os vinhos fortificados.

De um total de 92 vinhos em prova, o Júri de 10 elementos, composto por jornalistas especializados e representantes do comércio de retalho, sommeliers e restaurantes, apreciou brancos, tintos e vinhos fortificados, dividindo-se estes entre Moscatel do Douro e Portos.

Sendo este concurso parte integrante da feira Vinhos & Sabores dos Altos, organizada pelo Município de Alijó e com produção da Grandes Escolhas, em rigor da verdade nem todos os vinhos concorrentes traduzem com rigor a sua origem “nos altos”, referindo-se esta expressão aos que são produzidos no planalto de Alijó, uma vez que os limites do concelho vão muito para além do referido planalto e chegam às margens do Douro e Tua. De igual modo também foram admitidos na feira e no concurso outros “altos”, provenientes dos municípios vizinhos de Carrazeda de Ansíães, Murça e Vila Flor.

Apurados os resultados, foram atribuídos um total 26 medalhas entre ouro e prata, para além da eleição do melhor vinho em cada categoria.

Segue a lista de todos os vinhos premiados.

Categoria Vinho BRANCO
Melhor Vinho Vale da Barca 2022 Maçanita Vinhos
Medalha de Ouro Casttêdo Valley Oaked Reserva 2022 Casttêdo Valley – Maria Luísa Seixas Pinto Marantes
Pormenor Reserva 2023 Pormenor Vinhos
Quinta de Martim 2019 Casa Agrícola Águia de Moura
Quinta do Noval Reserva 2023 Quinta do Noval
Soulmate Alvarinho Grande Reserva 2021 Cortes do Tua Wines
Medalha de Prata Amarrotado 2023 Amarrotado Wines
Costa Boal Chardonnay 2022 Costa Boal Family Estates
Família Silva Branco 2023 Branco Wines Family
Lugar da Corredoura 2021 Casa do Piàska
Má Vida 2022 Carlos Rua
Categoria Vinho TINTO
Melhor Vinho Costureiro Garrafeira 2019 Foz do Tua
Medalha de Ouro Bardino 2021 João M. Soares Pires
Costa Boal Homenagem Grande Reserva 2015 Costa Boal Family Estates
Pedigree 2019 Branco Wines Family
Pintas Character 2022 Wine and Soul
Submerso 2023 Submerso Vinhos
Medalha de Prata Fonte da Perdiz Grande Reserva 2020 Adega Cooperativa de Alijó
Lugar da Corredoura Touriga Nacional Reserva 2022 Casa do Piàska
Pandemic Wine 2020 Carlos Rua
Quinta de Santa Eugénia Grande Reserva 2020 Soc. Agr. Quinta de Santa Eugénia
Tactus 2020 Vinhos de Favaios
Categoria Vinhos Fortificados
Melhor Vinho Vale do Tábua Porto 50 anos Vale do Tábua
Medalha de Ouro Adega de Favaios Moscatel Colheita 2000 Adega de Favaios
Fragulho Tawny 10 anos Casa dos Lagares
Alijó Moscatel Reserva Adega Cooperativa de Alijó

QUINTA DA MOSCADINHA: A Liturgia da Sidra

sidra

Situada na pequena vila da Camacha, famosa pelas suas tradições e folclore, esta quinta do século XIX recebe o seu nome actual em 2019, a partir do licor de ervas Moscadinha, receita familiar com origem no lado Norte da Ilha. Nos tempos antigos, este licor era muito utilizado pelas gentes da terra, pois acreditava-se ter […]

Situada na pequena vila da Camacha, famosa pelas suas tradições e folclore, esta quinta do século XIX recebe o seu nome actual em 2019, a partir do licor de ervas Moscadinha, receita familiar com origem no lado Norte da Ilha. Nos tempos antigos, este licor era muito utilizado pelas gentes da terra, pois acreditava-se ter propriedades medicinais por ser feito com mel de cana, sacarina, infusão de várias plantas locais e especiarias em rum agrícola.

Cinco séculos de sidra

A história da Sidra da Madeira remonta há cinco séculos, com as primeiras maçãs a serem introduzidas pelos colonizadores no século XV. A partir de então, as maçãs, pêros e pêras começaram a ser cultivados na ilha para alimentar a população e abastecer a indústria conserveira da época e, no século seguinte, decorreu a expansão de pomares por diversos pontos geográficos da ilha. A sidra era conhecida como a “bebida dos pobres”, que se fazia para consumir em casa, já que a produção das uvas era destinada, na sua totalidade, para as empresas produtoras e exportadoras do afamado Vinho Madeira.

A Universidade da Madeira está a fazer a classificação e identificação rigorosa das variedades locais de maçãs/pêros, mas o saber empírico de quem trabalha o campo diariamente aponta para mais de 100 tipos diferentes, dos quais mais de 30 já fazem parte do catálogo nacional de variedades. As diferenças morfológicas e/ou químicas devem-se aos diferentes tipos de solo encontrados na ilha, conferindo às maçãs/pêros locais duas características excepcionais para a produção de sidra: a acidez (que confere estrutura e longevidade) e a doçura (que contribui para um teor alcoólico mais elevado).

Na Quinta da Moscadinha produz-se sidra de forma artesanal e diferenciada da maioria das que existem no mercado, através de um processo muito semelhante ao do vinho. Em vez da uva existem maçãs/pêros, mas existe a fermentação e o envelhecimento em barricas de vinho Madeira. Original, no mínimo, certo?!

 

A história da Sidra da Madeira começa há cinco séculos, quando as primeiras maçãs foram introduzidas pelos colonizadores no século XV.

Nos últimos dois anos, a Moscadinha de Márcio Nóbrega passou de uma produção de duas mil garrafas para 35 mil.

Vinho, só de uvas

No entanto a história das sidras em Portugal nem sempre foi tranquila. Fora de Portugal, a sidra é um vinho de maçã, ou um “vinho de pêros”, mas, no nosso País, o vinho só se pode fazer de uva. A razão remonta ao Estado Novo. Entre 1950 e 1960 foi proibido fazer sidra entre nós. É que alguns agricultores começaram a usar maçãs para juntar ao vinho e dar volume ou a deitar as vinhas abaixo para a plantação de pomares. Para proteger o sector do vinho e o próprio vinho em si, António Salazar promove uma lei que proíbe a produção de sidra e começa a pagar aos agricultores para abater as árvores e plantar novas vinhas. Por Decreto, a bem da Nação, “Vinho só se pode fazer a partir de uvas Vitis vinifera”.

E assim se inicia o período de expansão do vinhedo português e o declínio da sidra. No entanto, a sidra sobreviveu e, mais recentemente, em virtude das suas especificidades tão únicas, a Sidra da Madeira foi qualificada como IG (Indicação Geográfica) pela Comunidade Europeia. Em breve prevê-se a sua evolução para outros patamares. É, de resto, a primeira Sidra IG Nacional, com características muito diversas e próprias.

Tranquilas ou fortificadas, as sidras possuem uma variedade de cores que podem ir do amarelo pálido ao caramelo brilhante, com laivos laranja. Têm aromas de maçãs verdes a maduras, marmelo e até citrinos, e baixas concentrações de açúcar residual devido a fermentações quase completas, que realçam a sua acidez e as características mais ou menos taninosas e adstringentes das múltiplas variedades de maçãs e pêros que as podem compor.

Reconhecimento internacional

Nos últimos dois anos, a Moscadinha de Márcio Nóbrega passou de uma produção de duas mil garrafas para 35 mil, e foi reconhecida internacionalmente com 14 medalhas e, inclusivamente, premiada no Cider World Awards 2024, o maior concurso mundial de Sidras, que decorreu na Alemanha, entre 180 produtores de 17 países. E é por tudo isto, juntamente com a história secular desta bebida, que remonta às civilizações do Antigo Egipto e da Grécia Clássica, que a Sidra da Madeira é, certamente, uma das mais entusiasmantes (re)descobertas dos próximos anos! Parabéns, Márcio! Brindemos!

(Artigo publicado na edição de Maio de 2025)

Entre Douro e Minho: A nova geografia da Casa Ermelinda Freitas

Ermelinda Freitas

Leonor Freitas é uma empresária que sonha com os olhos bem abertos. Nada lhe escapa, e parece que nada é capaz de a fazer estremecer ou desistir dos seus sonhos. É o rosto da Casa Ermelinda Freitas e uma figura emblemática no panorama vínico em Portugal, uma mulher de ferro com um coração mole, grande […]

Leonor Freitas é uma empresária que sonha com os olhos bem abertos. Nada lhe escapa, e parece que nada é capaz de a fazer estremecer ou desistir dos seus sonhos. É o rosto da Casa Ermelinda Freitas e uma figura emblemática no panorama vínico em Portugal, uma mulher de ferro com um coração mole, grande empatia e um apurado sentido de responsabilidade social e empresarial. A lealdade às raízes não impede o seu pensamento global.

Jaime Quendera é um enólogo extremamente competente, prático e perspicaz, um grande parceiro e amigo de Leonor, que a acompanhou na empresa desde o início. Juntos formam uma dupla de sucesso, que alia a formação e competência de Jaime à mente aberta e à intuição para o negócio de Leonor.

Península de Setúbal, o berço

Em 1920, era ainda uma casa agrícola tradicional. A partir dos anos 50, já sob a orientação do pai de Leonor, a vinha passou a ser o centro de produção. A primeira adega, construída nessa época, foi transformada num Espaço de Memórias e Afetos – um tributo à história e aos laços da família.

Em 1998, quando Leonor Freitas, a quarta geração da família, assumiu a liderança do negócio, iniciou-se a parceria de sucesso com o enólogo Jaime Quendera. Conheceram-se no ano anterior, na Vinexpo, em Bordéus. Leonor, ainda com pouca experiência no mundo do vinho, visitou a feira movida pela curiosidade. Isso abriu-lhe os horizontes e revelou-lhe que o vinho podia ser um “produto de dignificação”. “Percebi que tinha de começar a engarrafar”, recorda.

Por feliz coincidência encontrou, na Vinexpo, o seu primo, também produtor de vinhos, acompanhado por Jaime Quendera. Durante as visitas aos châteaux, conversou com Jaime, viu o seu entusiasmo e percebeu que tinha encontrado o parceiro certo para o projeto que estava a idealizar: “Acreditei no Jaime desde o primeiro momento. Não tive dúvidas.”

A motivação era grande, mas também o desafio. Leonor teve que se encher de coragem para encaminhar o adegueiro do tempo do seu pai para a reforma – a renovação era inevitável. Naquela altura, tinha encomendado algumas cubas e equipamentos para a adega. Jaime alterou tudo, explicando que em vez de depósitos altos e estreitos, habituais na altura, as cubas largas e baixas eram mais eficazes para maximizar a extração. Leonor seguiu à risca as suas recomendações. “Podia não ter conhecimento, mas sempre tive intuição”.

No ano seguinte engarrafou uma pequena quantidade de vinho (apenas sete mil garrafas) com a marca Terras do Pó. Mas o grosso do negócio continuava assente na venda a granel. Sentia até uma certa responsabilidade em manter a entrega do vinho à empresa parceira. Mas em 2002, com a crise a apertar, recebeu uma notícia inesperada: a empresa já não precisava do vinho. De um momento para o outro ficou com um milhão de litros sem destino. Leonor, no entanto, não é de baixar os braços. Arranja sempre uma solução, e melhor do que a anterior. Assim nasceu o bag-in-box MJFreitas, que não foi apenas uma salvação, mas um verdadeiro sucesso.

Ermelinda Freitas

 

“Sempre crescemos em tempos de crise, a reinventar-nos, a fazer investimentos, porque quando a crise passa, temos de estar preparados.”

 

Crise e oportunidade

“Sempre crescemos em tempos de crise, a reinventar-nos, a fazer investimentos. Porque sabemos – e o Jaime tem aqui um papel muito importante – que, quando a crise passar, temos de estar preparados.” – resume a empresária.

Leonor nunca teve medo de duas coisas: trabalhar e pedir ajuda. Foi assim que aprendeu a operar a linha de enchimento, a manobrar o empilhador e a fazer tudo o que fosse preciso para a empresa. Durante as vindimas ficava na adega até às tantas, a analisar os mostos com Jaime e, às seis da manhã, já ia buscar os trabalhadores para a vindima.

O caminho não foi fácil, mas Leonor nunca parou. Arriscou, inovou, enfrentou as críticas, plantou vinha, comprou vinha, sempre com o apoio de Jaime, e em 25 anos, transformou a Casa Ermelinda Freitas na empresa nº 1 da Península de Setúbal em faturação (42 milhões de euros) e na segunda maior produtora de vinho certificado da região.

Começou com apenas 60 hectares e duas castas – Castelão e Fernão Pires – e hoje conta com 550 hectares e mais de 30 castas. Só no último ano, a produção total (entre vinho certificado e vinho de mesa) atingiu os 25 milhões de litros.

Actualmente planeia replantar 40 hectares de vinha e arrendar mais 60 hectares por 35 anos, o que equivale, na prática, a ter vinha própria. Além disso, compra uvas e vinho feito. Em setembro passado, comprou todas as uvas dos viticultores que não tinham comprador. Apoiar a região é uma verdadeira responsabilidade social para Leonor.

A Casa Ermelinda Freitas emprega 108 pessoas, mais 20 trabalham permanentemente na vinha. Onde é possível, investe em equipamentos de ponta e já têm poda automática e vindima à máquina em cerca de 150 hectares. Mas como nem todas as vinhas estão adaptadas à mecanização, nas alturas específicas chegam a contratar mais 100 trabalhadores temporários.

A estratégia sempre foi clara: produzir o melhor produto e colocá-lo no mercado pelo melhor preço. “Ao longo dos anos, fiz marketing natural, dando a cara. O meu vinho sempre teve um rosto, boa qualidade e história” – afirma Leonor e tem toda a razão.

 

“Sabíamos da compra da Quinta de Canivães, no Douro, era difícil rentabilizar. Mas achei que tinha direito à realização de um sonho”

“Só temos dinheiro do vinho, não temos outros negócios. Por isto, os nossos sonhos têm que se tornar rentáveis”

 

Expansão para Minho e Douro

Até 2017, a Casa Ermelinda Freitas cresceu dentro da região. Mas perseguindo o sonho antigo de ter “uma quintinha no Douro”, Leonor acabou por expandir o seu negócio para duas importantes e conhecidas regiões do Norte de Portugal: o Minho e o Douro.

Encontrar uma quinta no Douro que fosse tradicional e tivesse potencial revelou-se uma tarefa difícil. As opções eram poucas e, na maioria dos casos, não eram economicamente viáveis. Estava quase a abandonar a ideia do Douro, quando recebeu uma chamada inesperada com uma proposta de uma propriedade no Minho, perto de Braga. Pensou: “já que não consigo comprar nada no Douro, tenho de ponderar. Não gosto de fechar as portas.” Foram ver a quinta e perceberam que era uma oportunidade – tinha vinha e uma adega funcional. Leonor anda muito pelos mercados externos e sentiu que ter um Vinho Verde no portefólio seria uma mais-valia.

Mas Deus escreve direito por linhas tortas, e no intervalo entre o acordo e a concretização do negócio no Minho, surgiu uma quinta perto de Foz Côa, com os socalcos tradicionais, “um verdadeiro Douro”, exatamente como Leonor tinha sonhado. Com o parecer favorável de Jaime, avançou. “Sabíamos que era difícil rentabilizar. Mas achei que tinha direito à realização de um sonho e pensei para mim: se tiver que vender alguma coisa em Palmela, vendo”, confessa Leonor.

Investiu dois milhões de euros na Quinta do Minho na região dos Vinhos Verdes e 2,5 milhões na Quinta de Canivães no Douro, pois “o rio paga-se”. O sonho no Douro saiu mais caro e ainda precisa de muito investimento, mas valeu a pena.

“Tenho energia e projetos novos, como se fosse eterna”

 

Quinta com nome de região

A Quinta do Minho fica em Póvoa de Lanhoso, na sub-região de Ave. Embora não esteja muito longe do litoral (cerca de 40–50 km em linha reta do Oceano Atlântico), não é uma zona diretamente costeira e apresenta algumas influências do relevo interior. Está parcialmente protegida pela Serra do Gerês, que fica a nordeste, criando alguma barreira orográfica à precipitação e à temperatura.

A propriedade foi formada em 1990, a partir da fusão de duas quintas antigas: a Quinta do Bárrio e a Quinta da Pedreira. A casa principal brasonada remonta ao século XVIII. A quinta conta com 50 hectares, dos quais 10 são de vinha. A grande vantagem e a principal razão que levou Leonor Freitas a aceitar a proposta, foi a existência de uma adega bem equipada e funcional, com linha de engarrafamento. Isto permitiu uma rentabilização mais rápida do investimento. Ainda assim, o potencial da propriedade está longe de estar totalmente explorado, sobretudo na componente não industrial. A quinta inclui ainda dois palacetes antigos por recuperar, com grande potencial para projetos de enoturismo, mas este passo ainda não foi possível. “Só temos dinheiro do vinho, não temos outros negócios. Por isto, os nossos sonhos têm de se tornar rentáveis”, explica Leonor Freitas a sua grande máxima.

A adaptação à região correu bem, e Leonor partilha a sua experiência e visão desta aventura. “Pretendemos ir crescendo naturalmente. Estamos numa lógica de parceria, a contribuir para o prestígio da região e a ir ao encontro dos mercados. Ao mesmo tempo, percebemos que a antiguidade é um posto na região. Por exemplo, os vinhos com a nossa marca Campos do Minho não podem ser certificados como DO Vinho Verde, simplesmente porque o nome contém palavra “Minho”. Já um vinho de outra casa, chamado Terras do Minho, pode, porque a marca já existia antes de a regulamentação entrar em vigor. Vemos nisto alguma desigualdade de oportunidades, mas cada região tem as suas leis, e temos que aprender a lidar com elas.”

A primeira colheita foi lançada em 2020 e a produção já atinge os dois milhões de garrafas. O portefólio do Minho não concorre com o da Península de Setúbal — antes pelo contrário, criam-se sinergias: o Vinho Verde ajuda a vender os vinhos de Setúbal, e vice-versa.

A estratégia para os Vinhos Verdes mantém-se fiel à da casa-mãe: produzir bom vinho a bom preço. “O vinho tem de ter qualidade e agradar ao consumidor, que, na realidade, é quem paga as contas” – defende Leonor e acrescenta: “fazemos sempre algumas especialidades.” Neste caso, são os monovarietais de Loureiro, e certamente virá também um Alvarinho, casta com a qual já trabalha em Palmela.

Dispõem de várias marcas registadas, herdadas do proprietário anterior. Umas são mais vocacionadas para a exportação, outras para o retalho, como Fugaz e Gábia, e há marcas reservadas à restauração, como Campo da Vinha e Quinta do Minho.

A gama de estilos é abrangente e praticamente transversal às marcas, variando de um vinho ligeiro, um Vinho Verde clássico a monovarietais de Loureiro. O conceito do vinho ligeiro “importaram” da casa-mãe. É um vinho muito leve de corpo, com apenas 8,5% de álcool, ideal para o consumidor que procura vinhos menos alcoólicos. Considerado semi-doce, e os 20 g/l de açúcar estão perfeitamente equilibrados pela acidez, quando servido bem fresco, o seu perfil aromático e descomplicado funciona lindamente. Tem sido um sucesso de vendas. Outro ponto importante, na opinião de Jaime, é que “uma casa grande trabalha com casas grandes e, neste caso, os vinhos com menos álcool significam menos impostos para os importadores, o que, em escala, é muito notável.”

O estilo “clássico” do Vinho Verde corresponde ao imaginário coletivo do consumidor, com uma doçura residual (neste caso, 10 g/l de açúcar por 6 g/l de ácido tartárico) e a sensação de “agulha”, é proveniente da presença de gás carbónico (cerca de dois bar). O monovarietal de Loureiro, seco e sério, está disponível em duas versões: uma feita exclusivamente em inox e outra com uma breve passagem de dois meses pela madeira.

Quinta de Canivães – “um verdadeiro Douro”

O grande valor da Quinta de Canivães está na sua localização privilegiada, na sub-região do Douro Superior, perto de Vila Nova de Foz Côa, na margem esquerda do Douro. A propriedade tem quase um quilómetro de frente de rio, e das vinhas avista-se a confluência do rio Côa com o rio Douro.

Normalmente, quem tem propriedades e vinhas em zonas tão boas, não as vende. No entanto, a empresa que detinha a quinta entrou em insolvência. A propriedade, dada como garantia à Caixa Agrícola de Pinhel, foi colocada à venda. O proprietário anterior, contrariado, arrancou 15 hectares de vinha e retirou todo o equipamento da adega, deixando apenas os lagares de pedra, que não conseguiu levar. Restaram 20 hectares de vinha, dos quais cinco correspondem a vinhas mais velhas, com cerca de 30 anos. Atualmente, existe apenas encepamento tinto, com as três castas principais do Douro: as duas Tourigas e a Tinta Roriz. No futuro, está previsto o plantio de mais vinha, incluindo castas brancas típicas da região.

Os socalcos tradicionais, com 2,60 m de largura e de 2,5 a 3 m de altura são lindos, mas difíceis de trabalhar e não mecanizáveis. Se em Setúbal a apanha e entrega de uvas custa 4-5 cêntimos por kg, no Douro este valor sobe para 16 cêntimos.

Há já dois anos que está a converter a vinha para o modo de viticultura biológica. Falta um ano para obter a certificação, que considera uma mais-valia importante para o futuro. Esta transição “dói” principalmente ao Sr. Carlos, o colaborador que trata da vinha e da propriedade. À pergunta de Jaime se estava tudo bem na sua ausência, Sr. Carlos responde, com um sorrizo triste: “Sim, está tudo bem, o único problema é a relva… tanta relva na vinha…”

Há ainda 4,5 hectares de olival, do qual produzem, já há quatro anos, um azeite de alta qualidade com a marca Quinta de Canivães. As quatro mil garrafas de 500 ml são vendidas em lojas especializadas.

Como ainda não têm adega, Jaime e Leonor produzem o vinho nas instalações de outra empresa duriense (Saven). Neste momento têm duas referências no mercado: Quinta de Canivães 2020 (com estágio em carvalho americano e francês durante 8 meses) e Quinta de Canivães Reserva 2019 (com estágio de 12 meses), lançadas em Setembro do ano passado. Os vinhos são vendidos nas garrafeiras e na restauração. O lançamento de Grande Reserva está previsto no final deste ano. Existe uma segunda marca – Vinha de Canivães – destinada à exportação.

Compraram alguns equipamentos, como o trator, por exemplo, mas a adega ainda precisa de muito investimento. “O mundo não é só de rosas, e mesmo as rosas têm espinhos. Nós tentamos sempre a arredondá-los. Agora temos dois diamantes para lapidar”, resume Leonor Freitas.

“Ao longo dos anos, fiz marketing natural, dando a cara. O meu vinho sempre teve um rosto, boa qualidade e história”

 

Divulgar os vinhos de Portugal

Os novos projectos no Norte enquadram-se perfeitamente na estratégia da empresa de produzir vinhos de boa relação qualidade/preço, para todas as gamas e mercados, juntando agora uma vertente importante – divulgar os vinhos de Portugal de forma mais abrangente, sobretudo nos mercados externos.

Tendo em conta que a Casa Ermelinda Freitas está intrinsecamente ligada à Península de Setúbal, criaram uma empresa “irmã” – a Ermelinda Vinhos de Portugal – para não confundir o consumidor nacional. Nos mercados externos, como o Brasil, por exemplo, basta-lhes saber que é “o vinho da Ermelinda”. A faturação da Ermelinda Vinhos de Portugal é, por agora, de cerca de três milhões de euros, somando os dois projetos nortenhos.

A filha de Leonor, Joana, que representa a 5ª geração da família, já está na empresa há 20 anos. Ficou também entusiasmada com exploração de novos territórios e reconhece o seu papel em promover a Casa Ermelinda Freitas, a região onde estão e Portugal no seu todo. “Eu dou-lhe espaço, a casa tem que ter continuidade” – diz a empresária.

Embora Leonor tenha orgulho no percurso feito ao longo de mais de 25 anos no sector vitivinícola, considera que a Casa Ermelinda Freitas está ainda a meio do caminho, e tem um enorme potencial por explorar.

“Não quero bloquear a nova geração, mas vão ter que me aturar enquanto eu tiver saúde e cabeça. Tenho a mente rápida e não me sinto velha. Como vejo mal de perto, não vejo rugas – e tenho energia e projetos novos, como se fosse eterna” – confessa Leonor, entre sorrisos. E apetece-me acrescentar que Leonor vê muito bem ao longe, muito longe – no futuro.

Nota: A autora escreve segundo o novo acordo ortográfico.

(Artigo publicado na edição de Maio de 2025)

VINEVINU: Cerdeira com muita Alma

Vinevinu

O que distingue um vinho da bebida que resulta da fermentação do mosto é a sua alma. A alma de um vinho faz-se, não só das suas características organoléticas, da harmonia dos seus sabores, da interação com os aromas, da forma e momento como é consumido, mas também dos princípios que o norteiam, que estão […]

O que distingue um vinho da bebida que resulta da fermentação do mosto é a sua alma. A alma de um vinho faz-se, não só das suas características organoléticas, da harmonia dos seus sabores, da interação com os aromas, da forma e momento como é consumido, mas também dos princípios que o norteiam, que estão na sua Génese. Vinho que tem alma, que tem uma alma cheia, também tem, por detrás, uma missão, uma visão, e um conjunto de valores.

 

Vinevinu

 

A Vinevinu assenta sobre dualidades e conjuntos de dualidades. É vinha e vinho. É filho e pai Cerdeira. É Terroir Marítimo e de Montanha. É Alvarinho, é Loureiro, é Arinto e é Maria Gomes

 

Os atores

Uma equação com o Manuel e o Luís como numeradores e o apelido Cerdeira como denominador. Luís Cerdeira dispensa grandes apresentações. Uma referência incontornável da região dos Vinhos Verdes, com uma experiência consolidada em mais de 30 vindimas, tendo trabalhado na Comissão Vitivinícola da região e sido uma das figuras de proa da marca Soalheiro. O Luís é, indiscutivelmente, um dos expoentes máximos do Alvarinho.

Manuel é o filho primogénito do Luís. Não alheio ao percurso do pai e ao êxito da empresa da família, Manuel decidiu procurar conhecimento académico numa paragem “pouco clássica”. Foi no Reino Unido que se licenciou em Viticultura e Enologia e consolidou o que foi aprendendo ao longo das muitas vindimas efetuadas em Melgaço e noutras regiões aquém e além-fronteiras. Durante o seu percurso académico, foi cofundador de uma iniciativa fora da caixa, “Not Yet Named Wine Co”, que envolvia os amantes de vinhos aos processos de vinificação. Escutando-o é fácil depreender “Not Yet”, mas muito possivelmente num horizonte não muito distante que, de simples numerador, passará também a potência na região.

A Vinevinu surge no seio deste elenco com o propósito de idealizar e produzir vinhos que expressem a vinha de onde nascem e potenciem, ao máximo, os diferentes terroirs, adequando, para isso, o devido trabalho enológico que reforce essa diferenciação e mais-valia. Para o Luís, certamente que esta experiência o fará reviver o que sentiu, quando saído da universidade, foi acolhido pelo pai no projeto Soalheiro que, então, ainda estava distante do que é hoje. É pois uma partilha de testemunho, mas agora no lugar oposto.

 

Os palcos

A história desenrola-se na vasta região dos Vinhos Verdes, onde é possível encontrar e potenciar uma imensidão de terroirs. A Vinevinu pretende explorar dois distintos: por um lado, a proximidade do mar, a influência atlântica e, por outro, as vinhas de montanha, abrigadas da influência atlântica pelo relevo e a altitude.

A Vinevinu assentou praça em Requião, perto de Famalicão, o seu Terroir Marítimo. Aí encontrou, simultaneamente, as condições ideais para produzir de imediato e poder crescer. Mais concretamente, procedeu a um arrendamento a 20 anos das vinhas, de terra e da adega da Casa de Compostela para produzir com base numa boa adega e nos 17 ha de vinha existente, com o objetivo de potenciar, conservar e renovar. E crescer com base em 21ha de vinha que serão plantados já em 2025. Requião está somente a cerca de 20 km do mar e tem um relevo suave que não corta a influência atlântica. Os solos são de origem granítica, com alguma argila, contando ainda com nível bastante considerável de matéria orgânica. Destas premissas resultam solos de fertilidade relativamente elevada.

Monção e Melgaço ficam mais no interior da região dos Vinhos Verdes. Fisicamente, o relevo corta a influência atlântica. O Terroir de Montanha da Vinevinu tem solos graníticos, sem argila e mais pobres. As vinhas eleitas foram cultivadas em altitude e de proprietários com quem a família Cerdeira nunca teve parceria de produção de uvas. Em 2025, Luís e Manuel pretendem iniciar o projeto de construção da adega em Melgaço.

Do pouco que vimos, não tardará muito para que a Vinevinu seja reconhecida pela excelência, empenho e inovação na produção de vinhos com Alvarinho.

 

A meta

Da conversa que tive com o Manuel e o Luís depreende-se, com facilidade, que a Vinevinu sabe onde quer chegar e o caminho que quer trilhar. Conhecendo bem a versatilidade da casta Alvarinho, tanto vitícola, como enológica, pretendem produzir vinhos que se distingam na região dos Vinhos Verdes. Do pouco que vimos na adega e da visão partilhada da viticultura da região, não tardará muito para que a Vinevinu seja reconhecida pela excelência, empenho e inovação na produção de vinhos com Alvarinho.

Como referido, o propósito inicial da visita foi conhecer o projeto. Não tinha a ideia de escrever um artigo. Na realidade, integrei-me num grupo que foi com o mesmo objetivo: saber o que Luís Cerdeira andava a fazer. Visitámos a adega, conversámos com vista e sobre a vinha, atual e futura. E conhecemo-nos uns aos outros.
Tudo o que via e ouvia dava a sensação de que alguma lógica, algum fio condutor unia os conceitos, os detalhes do projeto. E não tardou a ficar evidente que a Vinevinu assenta sobre uma dualidade ou conjuntos de dualidades.

Vinevinu é vinha e vinho. É filho e é pai. É Terroir Marítimo e Terroir de Montanha. É Alvarinho, é Loureiro, é Arinto e é Maria Gomes. Perspetiva-se que venha a ser também Espadeiro e Padeiro. Fermenta em inox e em foudres de madeira. Estagia em Ovos de Cimento e em Barricas Mixtus. Mixtus é o nome dado a barricas exclusivas da Vinevinu, especialmente projetadas para incorporar um conceito único de mistura de madeiras. Cada barrica é construída combinando aduelas (as tábuas de madeira que formam o corpo da barrica) de diferentes tipos de madeira e origens. Por exemplo, pode-se alternar entre aduelas de carvalho português e carvalho francês, ou combinar carvalho português com castanheiro português, entre outras possibilidades. Essa abordagem permite criar barricas personalizadas que conferem características únicas e complexas aos vinhos.
Depois de me ver neste emaranhado de dualidades, lembrei-me de Agatha Christie e de Arthur Conan Doyle. Mas vou quebrar este ciclo. Prometo escrever um e um só artigo.

O autor deste artigo escreve segundo o novo acordo ortográfico

(Artigo publicado na edição de Maio de 2025)

Casa da Tapada: Novidades de um lugar com história

Casa da Tapada

A apresentação dos novos vinhos da Quinta Casa da Tapada decorreu no restaurante Santa Joana, que ocupa o espaço de uma antiga igreja da rua de Santa Marta, em Lisboa. Para além dos quatro vinhos brancos, um deles um espumante da vindima de 2019 com 48 meses de estágio sobre borras, foi apresentada a nova […]

A apresentação dos novos vinhos da Quinta Casa da Tapada decorreu no restaurante Santa Joana, que ocupa o espaço de uma antiga igreja da rua de Santa Marta, em Lisboa. Para além dos quatro vinhos brancos, um deles um espumante da vindima de 2019 com 48 meses de estágio sobre borras, foi apresentada a nova imagem da marca, mais adaptada aos objectivos da empresa e ao mercado.

Propriedade de charme

Há muito que Luís Serrano Mira, proprietário da Serrano Mira, grupo que detém a Herdade das Servas, no Alentejo, e a Casa da Tapada, nos Vinhos Verdes, ambicionava fazer vinho fora do Alentejo. O objectivo concretizou-se em 2018, com a aquisição da última, uma propriedade de charme no concelho de Amares, Região dos Vinhos Verdes, compra feita em parte com base emocional, já que um dos grandes amigos do seu avô produzia lá vinhos. “Esta amizade especial da família com um produtor de Vinho Verde contribuía para que houvesse sempre vinho da região à mesa, que eu aprendi a gostar desde cedo”, explica Luís Mira.
Situada em Fiscal, Amares, a Casa da Tapada inclui um solar imponente, uma mata centenária com 10 hectares e um património botânico diversificado. A propriedade tem 24 hectares, dos quais 12 são de vinha.
O edifício foi mandado erguer pelo poeta e conhecido humanista Francisco de Sá de Miranda, responsável pela introdução do movimento literário renascentista no nosso país, que ali se instalou, com quase 50 anos, em 1530 e começou a produzir vinho depois de alguns anos de vida em Lisboa. Com onze quartos, o solar da Casa da Tapada foi erguido em 1540 e ampliado por duas vezes, a primeira no século 17 e a segunda no século 19.

Casa da Tapada

Lugar com história

Luis Mira contou, durante a apresentação, que a maior parte da obra do poeta foi escrita na Casa da Tapada e que ainda hoje existem os lagares usados no século 16. Essa foi outra das razões que o levou a aproveitar a oportunidade de compra da quinta, “porque é ainda melhor produzir vinho num lugar com história”. O solar, classificado como Imóvel de Interesse Público em 1977, tem um valor histórico-cultural que pesou no investimento feito pela família Serrano Mira. Ali existem, ainda, as Casas da Eira e da Confraria, a Capela de Nossa Senhora da Guia, para além da adega e da loja de vinhos.
Quando a propriedade foi adquirida, a vinha estava praticamente abandonada e as suas plantas estavam espalhadas em pequenos patamares, difíceis de reconverter e de trabalhar. Por isso foi feita a sua reconversão, e alargados os patamares para dimensões exequíveis para o maneio adequado da vinha, tendo em conta a sua rentabilidade. Também foi adicionada a casta Alvarinho, que na região de Amares se chama Pedernã, às que já existiam ali, o Alvarinho e o Loureiro. Dão origem a duas marcas de vinho: Capela da Tapada, produzida também com uvas de parceiros, e Quinta Casa da Tapada.

(Artigo publicado na edição de Abril de 2024)

Ode Phosphorus: de Pessac-Leognan ao Vale de Franschhoek, a Hunter Valley e à região Tejo…

Ode Winerie

Acredito sinceramente que a casta Sémillon é merecedora de uma audiência maior no mundo vínico e enófilo, pois consegue originar vinhos deliciosos e extremamente acessíveis na sua juventude e desenvolve múltiplas nuances e grande complexidade ao longo da sua vida em garrafa. De origem francesa, é conhecida por estrelar os reverenciados vinhos brancos doces de […]

Acredito sinceramente que a casta Sémillon é merecedora de uma audiência maior no mundo vínico e enófilo, pois consegue originar vinhos deliciosos e extremamente acessíveis na sua juventude e desenvolve múltiplas nuances e grande complexidade ao longo da sua vida em garrafa. De origem francesa, é conhecida por estrelar os reverenciados vinhos brancos doces de Sauternes e os secos de Pessac-Leognan, da região de Bordeaux, de que é exemplo o icónico Chateau Haut-Brion, cujo lote é composto por Sémillon e Sauvignon Blanc, com ligeira predominância da primeira.

Mas diz-se ter sido na Austrália, no Hunter Valley, estado da Nova Gales do Sul, a norte de Sydney, que a Sémillon encontrou o seu terroir de eleição, onde, aliás, se encontra plantada desde o século XIX (1830) até aos dias de hoje. Na verdade, tal como a Chenin Blanc, no Vale do Loire, a Pinot Noir, na Borgonha ou a Nebbiolo, na região do Piedmonte, não existem muitos outros sítios no mundo onde a Sémillon produza resultados tão excepcionais como no Hunter Valley.

A versatilidade da casta manifesta-se na facilidade com que se adapta tanto a climas quentes como frios. No calor, ela apresenta aromas e sabores suculentos de frutas amarelas e tropicais como pêssego, manga e papaia, e produz vinhos com maior teor alcoólico e bom potencial de envelhecimento. No frio, os vinhos são mais frescos, com aromas e sabores de frutas cítricas, maçã, pêra e melão. São exemplares com mais acidez e menos álcool.
Em Portugal é uma das castas autóctones do Douro, por exemplo, tendo sido, inclusivamente, uma das mais utilizadas pelos viticultores da região, que a conheciam pelo nome de Boal. Só quando foi “importada” para o nosso País se descobriu que Sémillon e Boal são a mesma casta.

 

Ode Winerie

 

Produzido a partir de algumas das melhores uvas Sémillon, fermentadas e envelhecidas durante 12 meses em barricas de carvalho francês de 500 l, apresentou-se-nos um vinho elegante, texturado e extremamente gastronómico

 

A casta Sémillon no Tejo

A ODE Winery, Farm & Living é uma adega com história, localizada em Vila Chã de Ourique, freguesia do Município do Cartaxo, distrito de Santarém, a apenas 50 minutos de Lisboa.
Totalizando 96 hectares, começa a operar em 2022 pelo grupo Immerso Collective, criado com foco no luxo e sustentabilidade por David Clarkin e Andrew Homan, que têm mais de trinta anos de experiência em investimento e desenvolvimento imobiliário de futuro nos mercados asiático e australiano, bem como em gestão de fundos de investimento imobiliário. O objectivo foi criar um projecto que trouxesse a merecida visibilidade à região Tejo e à sua extensa cultura do vinho.

A Ode Winery integra a adega e vinhos ODE, produzidos numa unidade de vinificação de última geração, que manteve a sua beleza e origem históricas, que remontam ao ano de 1902.
Jim Cawood, australiano de nascença e com uma vasta experiência em todas as vertentes do negócio do vinho, tendo sido sommelier, importador, distribuidor e retalhista, e também produtor em Espanha, é o “director of Wines and Good Times” da ODE. Anfitrião por excelência, apaixonado pelo projecto e pelo terroir ODE, desde logo identificou várias semelhanças entre o terroir calcário onde está inserida a empresa e o clima e ph dos solos de Hunter Valley. Mas foi um feliz acaso que levou a Sémillon até à ODE Winery. Ou talvez não tenha sido totalmente um acaso. Em conjunto com a enóloga Maria Vicente, com mais de 20 colheitas no seu percurso profissional quando assumiu o projecto ODE, nas inspecções iniciais às vinhas, Jim constatou algo de esquisito na parcela onde estava registada e plantada a casta Viognier.

De um lado era Viognier, sem qualquer dúvida, mas, do outro, de certeza absoluta que Viognier não era. Eram simplesmente duas plantas diferentes. A outra era Sémillon!
Os motivos que levaram os antigos proprietários (Vale d’Algares) a registar tudo como Viognier não sabemos. Podemos apenas especular que fosse por a Sémillon não ser uma casta autorizada na região Tejo, na altura em que foi plantada, ou simplesmente por engano do viveirista. A verdade é que não sabemos. O que sabemos é que Maria e Jim, perante a realidade das coisas, decidiram apostar na casta, e em boa hora o fizeram, já que os resultados se têm revelado excelentes.

Potencial para envelhecer

Para adicionar textura e definição, cerca de 15% desse vinho envelheceu em barricas novas de 500 l de carvalho francês durante cinco meses. Seco e cítrico, com notas de limão, lima, maçã verde, e um final de boca mineral, na sua juventude será um vinho que harmoniza com facilidade com marisco, por exemplo, mas tendo potencial para envelhecer em garrafa até 10 ou mais anos. Envelhecido, será um vinho perfeito para acompanhar um assado de porco ou aves, como o faisão por exemplo.
Produzido a partir de algumas das melhores uvas Sémillon, fermentadas e envelhecidas durante 12 meses em barricas de carvalho francês de 500 l, apresentou-se-nos um vinho elegante, texturado e extremamente gastronómico. O Ode Phosphorus junta-se, assim, às 12 referências Ode já disponíveis no mercado. Pois seja bem vindo!

(Artigo publicado na edição de Abril de 2025)

Vinilourenço: Pai Horácio 1945, De filho para pai… a celebração do legado

Vinilourenço

Foi sem dúvida um dia de emoções fortes, uma cerimónia preparada pela família, com a presença dos amigos de sempre e todos os colaboradores da empresa que o “Pai Horácio” criou, impulsionou e que o filho Jorge fez crescer. E não faltaram à mesa os pratos preferidos do Sr. Horácio, seja a “torradinha com azeite”, […]

Foi sem dúvida um dia de emoções fortes, uma cerimónia preparada pela família, com a presença dos amigos de sempre e todos os colaboradores da empresa que o “Pai Horácio” criou, impulsionou e que o filho Jorge fez crescer. E não faltaram à mesa os pratos preferidos do Sr. Horácio, seja a “torradinha com azeite”, o bacalhau “que ele tanto apreciava de qualquer forma” ou o fabuloso “cabritinho assado no forno com um não menos delicioso arroz de miúdos”, “tudo pratos que o meu pai gostava” disse, com emoção, Jorge Lourenço. Almoço excecional, acompanhado por alguns dos grandes vinhos da casa e, claro está, pela estrela maior, o Pai Horácio 1945, lançado no dia em que faria 80 anos – um tinto de contemplação.

 

Regresso às origens

O lançamento ocorreu na sede da Vinilourenço, em Poço do Canto, Meda, onde se localiza também a adega, a loja e casa da família. Atualmente, a Vinilourenço possui uma área própria de 50 hectares de vinha, repartidos pelos concelhos da Meda e Vila Nova de Foz Côa, cujas altitudes variam entre os 130m e os 700m. Ficam sobre solos de xisto e granito, têm orientações solares e declives muito variáveis e uma diversidade de micro terroirs que permite explorar o melhor de cada casta e apresentar vinhos de perfis diversos. O portfolio é bastante extenso, onde talvez as marcas D. Graça e Fraga da Galhofa sejam as de maior notoriedade no mercado.

Destaque igualmente para a coleção castas, onde os monovarietais Samarrinho, Donzelinho, Casculho, Gouveio, diferentes abordagens ao Viosinho, entre outras, representam o regresso às origens, resultando em vinhos com perfil singular, evidenciando o carácter da casta versus terroir. Toda a produção é acompanhada e gerida pelo produtor, Jorge Lourenço, de 43 anos, que desempenha a função de enólogo principal. Embora o forte contributo do professor Virgílio Loureiro, sobretudo nos primeiros anos da Vinilourenço tenha sido evidente, hoje é Jorge que se encarrega da enologia.

Vinilourenço
Jorge Lourenço deu continuidade ao sonho do pai, criando a empresa ViniLourenço, à qual se dedica integralmente há mais de duas décadas

A Dona Graça e o apego à Terra

Horácio Lourenço, desde muito jovem mudou-se para Cascais, em busca de melhores condições e, com apenas 15 anos, já trabalhava na Câmara Municipal. Outros tempos, é claro… Aos 18 anos e finda a recruta militar foi para Angola, onde conheceu a algarvia Dona Graça, que viria a ser sua esposa e empresta o nome à talvez mais emblemática marca do extenso portfolio da Vinilourenço. Com a vida totalmente estabelecida em África, tal como muitos outros portugueses, foi forçado a regressar a Poço de Canto com muito pouco na bagagem, mas o suficiente para se iniciar na construção civil. Contudo, a sua grande paixão sempre foi a terra e, não tardou muito, começou a plantar vinhas.

Foi no final dos anos 70, princípio dos anos 80. “Estou aqui hoje para homenagear o grande patrono deste projeto, um homem fascinante, com uma enorme paixão pela terra. Eu também tinha essa paixão, mas a começar na adega. Com o Sr. Horácio era o contrário, ele queria estar nas vinhas e a adega era para os outros. Aprendi muito com ele”, refere o professor Virgílio Loureiro. No início as uvas eram vendidas para a adega cooperativa. Mas na viragem para o século XXI, Jorge Lourenço, que herdou a paixão pelas terras e pelas vinhas do seu Pai, tornou-se num trabalhador ávido por aprender e começou a demonstrar um grande espírito de liderança. Não surpreende, pois, que após concluir o ensino secundário tenha pretendido aperfeiçoar as suas características, fazendo um curso de jovem agricultor e, mais tarde, uma pós-graduação em Enoturismo.

Foi assim que Jorge Lourenço deu continuidade ao sonho do pai, criando a empresa ViniLourenço, à qual se dedica integralmente há mais de duas décadas. “Felizmente, hoje temos já uma equipa de 18 pessoas, a quem eu também muito agradeço, e o lançamento deste vinho muito especial é também para dignificar aquilo que é o nosso trabalho conjunto, honrando a memória e o legado do meu pai”, remata Jorge. O legado está assim perpetuado no vinho de homenagem Pai Horácio 2021 tinto Grande Reserva Edição Especial. Trata-se de uma produção limitada de 1945 (ano de nascimento de Horácio Lourenço) garrafas, em caixa individual. Resultou de um blend da seleção de parcelas, plantadas pelo próprio Horácio Lourenço, com base no estudo dos terroirs, ao longo das últimas décadas e da interpretação dos mesmos por Jorge Lourenço.

Cada detalhe foi pensado meticulosamente, com destaque para o rótulo duplo com dedicatória do filho para o pai, ou a tira de couro que envolve a garrafa, simbolizando o compromisso entre pai e filho, a família e a amizade. Um package realmente bonito e singular! Como Jorge Lourenço referiu, um vinho à imagem de seu pai, “forte, com muita estrutura e muita alma”.

Nota: O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico