ENOTURISMO: QUINTA DO CASAL BRANCO

Quinta do Casal Branco

A Região Vitivinícola dos Vinhos do Tejo fica no coração de Portugal e é um dos territórios vitivinícolas mais tradicionais e férteis do país. Desenvolve-se ao longo de um rio que atravessa a região de leste a oeste, tem uma paisagem variada e uma riqueza geoclimática que contribui para a singularidade dos seus vinhos. Com […]

A Região Vitivinícola dos Vinhos do Tejo fica no coração de Portugal e é um dos territórios vitivinícolas mais tradicionais e férteis do país. Desenvolve-se ao longo de um rio que atravessa a região de leste a oeste, tem uma paisagem variada e uma riqueza geoclimática que contribui para a singularidade dos seus vinhos.

Com cerca de 18 mil hectares de vinhas, o Tejo é uma região que alia história, diversidade e qualidade. A experiência sensorial que se tem dos seus vinhos mistura-se com uma profunda reflexão sobre o tempo, a terra e a tradição, porque a região é famosa tanto pela excelência dos seus vinhos quanto pela riqueza histórica e cultural que a envolve. Mais do que uma geografia produtiva, o Tejo é uma fonte inesgotável de narrativas e significados, que evocam um entendimento filosófico da terra e do viver.

 Identidade regional

Desde a antiguidade, as margens férteis do Tejo foram cultivadas por romanos, mouros e, mais tarde, por portugueses que reconheceram o potencial de suas terras. Sob os auspícios da monarquia, especialmente de reis como D. João II, a produção vinícola floresceu, transformando-se num símbolo do poder e do requinte da corte. Os reis e rainhas de Portugal não bebiam apenas o vinho do Tejo. Também compreendiam que representava a união entre a terra e a cultura, algo digno de apreciação e respeito. Ao beberem o vinho, os monarcas não estavam apenas a saborear uma bebida, mas a integrar-se num ciclo mais amplo, em que a terra, o tempo e a tradição se entrelaçam.

Neste deleite do corpo e da alma, as paisagens do Tejo são uma ode à simbiose entre o natural e o humano. Colinas suaves, vinhedos a perder de vista, campos banhados pela luz suave e espelhada pelo rio e os seus lugares históricos são testemunhas silenciosas da forma cuidada como as suas pessoas têm feito as coisas ao longo de séculos.

Cada estação oferece uma nova interpretação dessas paisagens: no inverno, a tranquilidade; na primavera, o renascimento; no verão, o labor e o crescimento e, no outono, a colheita e a celebração. Esse ciclo natural, que influencia a própria vida dos vinhedos, é um lembrete de que o vinho, como nós, é um produto do tempo.

Produzir vinho, nesta região, é um ato quase filosófico, que requer paciência e compreensão do caráter das uvas e do solo. Não se pode apressar a maturação de uma videira, e o cultivo não se rende às urgências do mercado. Segue um ritmo próprio. Aqui, o vinho torna-se numa metáfora para a vida. É necessário esperar, cuidar, observar, e aceitar que cada colheita traz o seu próprio sabor. Esta é uma sabedoria intrínseca ao ofício dos viticultores, para quem o vinho do Tejo é tanto um produto quanto uma expressão da identidade regional. Essa identidade reflete-se também na gastronomia, que se harmoniza com os vinhos da região e exalta os sabores tradicionais. Os pratos são robustos, autênticos, celebrando o que a terra e o rio oferecem. Em cada refeição, a gastronomia une-se ao vinho num convite para uma experiência sensorial completa e autêntica. Por aqui pode-se encontrar uma culinária com produto, história e identidade. A sua teia de histórias e significados vai muito além do copo.

Ao degustarmos um vinho do Tejo, saboreamos a paciência das vinhas, o trabalho dos que cultivam a terra, o poder unificador do rio e a história dos reis que um dia brindaram com vinhos desta terra. A cada gole, há uma viagem ao passado e uma celebração do presente, um momento de reflexão e um convite para entender que, tal como o vinho, a vida tem suas camadas, o seu amadurecimento e o seu sabor único e irrepetível.

O Tejo é mais do que uma região de vinhos: é uma filosofia de ligação entre o homem, a terra e o tempo. É uma celebração da simplicidade e da profundidade, da tradição e da autenticidade, elementos que fazem de cada vinho não apenas uma bebida, mas uma experiência de vida.

As terras da Quinta do Casal Branco fizeram parte da coutada real de Almeirim, zona de caça da família real portuguesa até finais do século XVIII.

O Tejo e a sua magia

A Região dos Vinhos do Tejo integra-se o distrito de Santarém e divide-se em três sub-regiões distintas. O Bairro, localizado a norte do rio Tejo, caracteriza-se por terrenos de encostas e colinas com solos argilosos e calcário. A Charneca, a sul do rio, com solos arenosos, é uma região que sofre maior influência do clima quente e seco. O Campo, uma área plana e aluvial  situada ao longo do próprio rio Tejo, tem solos férteis que beneficiam da humidade e do clima mais moderado trazido pelo rio. A região abrange municípios como Santarém, Almeirim, Cartaxo, Coruche, Alpiarça, Benavente, Golegã, Tomar e Salvaterra de Magos, cada um a contribuir para a diversidade e tipicidade dos vinhos produzidos.

O rio Tejo é mais do que um simples elemento geográfico na paisagem. Representa uma artéria vital para a história e cultura lusitana, simbolizando continuidade e renovação. As suas margens férteis e clima ameno tornaram-se, desde tempos remotos, propícios para o cultivo da vinha.

A presença do rio cria um microclima específico. Aliado à diversidade de solos, que vão desde os terrenos argilosos das planícies até os solos calcários das áreas mais elevadas, contribui para a variedade e características únicas dos vinhos da região, que encantam e desafiam paladares em todo o mundo.

Solos aluviais e arenosos nas margens do rio, favorecendo vinhos leves e frescos. Solos argilosos e calcários nas áreas de Bairro, conferindo estrutura e complexidade aos vinhos.

O clima é mediterrânico, marcado por verões quentes e secos, com temperaturas médias que variam entre 26°C e 30°C no verão, e invernos relativamente suaves, com mínimas entre 5°C e 10°C. A pluviosidade anual média é moderada, situando-se entre 600 e 800 mm, com chuvas concentradas principalmente no inverno e na primavera, o que permite um desenvolvimento equilibrado das videiras ao longo do ano.

A diversidade de castas é uma marca distintiva dos Vinhos do Tejo. Entre as mais utilizadas destacam-se as tintas Castelão, Aragonez, Touriga Nacional, Trincadeira e Alicante Bouschet, as mais tradicionais, sendo também comum o uso de Syrah e Cabernet Sauvignon, que adicionam complexidade e estrutura aos vinhos de lote. Entre as brancas destacam-se as Fernão Pires, Arinto e Trincadeira das Pratas, as mais comuns, para além do Sauvignon Blanc e da Chardonnay, que se adaptaram bem ao terroir da região. Os vinhos tintos do Tejo são conhecidos pela sua estrutura e intensidade aromática, enquanto os brancos destacam-se pela frescura e versatilidade.

A combinação da tradição com práticas modernas de viticultura tem contribuído para que a Região Vitivinícola dos Vinhos do Tejo seja cada vez mais reconhecida, tanto em Portugal como nos mercados internacionais, reforçando o seu papel de destaque no cenário vinícola português.

 

 

Terra de reis e princesas 

A ligação entre o Tejo e a realeza vai além das uvas e vinhos. Historicamente, a região foi favorecida pela corte portuguesa, que incentivou o desenvolvimento das vinhas e se deliciava com os vinhos locais. Reis e rainhas portugueses reconheciam seu potencial de excelência, incentivando práticas de cultivo e produção que garantissem a qualidade e longevidade das vinhas. D. João II, em particular, foi um dos monarcas que mais valorizou a região do Tejo, criando estímulos para a produção local alcançar um nível que sustentasse o orgulho nacional e as exigências da corte.

O vinho sempre foi mais do que uma bebida. Conta uma história, salienta os usos costumes e tradições, realça a sabedoria humana e marca a autenticidade de um povo, de uma região. Nesta em particular, o vinho assume uma conotação ainda mais especial, pois é parte do tecido identitário das pessoas e do lugar. Aqui, é um elo entre gerações, uma ponte que liga o presente ao passado e o futuro. O cultivo da vinha e a produção de vinho exigem paciência, uma virtude filosófica apreciada por grandes pensadores, que, na prática, se reflete no tempo necessário para que uma videira amadureça, para que as uvas atinjam seu ponto ótimo e para que o vinho, finalmente, envelheça e possa ser apreciado.

A tradição vitivinícola no Tejo persiste, sustentada pelas mãos hábeis de viticultores que continuam a cultivar a terra como seus antepassados. Hoje, a região moderniza-se e atrai novos olhares, mas sem perder a conexão com sua essência histórica. Cada garrafa que sai das adegas da Região do Tejo carrega uma parte da história de Portugal, uma memória da época em que reis brindavam com seus vinhos numa lógica de preservação e apreciação do tempo.

Vesti a minha “armadura”, e em cima dos mais de 110 cavalos do meu veículo “cavalguei” até esta região impregnada de histórias de reis, que há muito me atraía para a visitar. Possuidor de alguma informação escolhi a Quinta do Casal Branco para me deliciar com esta nobre aventura.

 

Além da experiência sensorial, o enoturismo da Quinta do Casal Branco oferece uma imersão cultural, apresentando um património arquitetónico e histórico que remonta ao século XVIII, período em que a quinta foi fundada.

 

Uma quinta familiar…

A Quinta do Casal Branco é, desde a sua fundação em 1775, uma casa agrícola alicerçada pelas famílias Braamcamp e da Cruz Sobral. As suas terras fizeram parte da coutada real de Almeirim, zona de caça da família real portuguesa até finais do século XVIII.

Atualmente, é administrada pelo Dr. José Lobo de Vasconcelos, que assumiu a gestão do negócio em 1997, a pedido de sua mãe. A tradição vitivinícola, que chegou até os dias de hoje, resulta do saber partilhado por várias gerações das famílias Braamcamp Sobral e Lobo de Vasconcelos. A propriedade é hoje um testemunho vivo da evolução da viticultura no país, aliando práticas ancestrais com inovações tecnológicas modernas.

A quinta destaca-se pela produção de vinhos que refletem a essência da região, com vinhas plantadas em solos de excelente qualidade e beneficiadas pelo clima temperado do Ribatejo. No entanto, a produção vinícola é apenas uma parte do que define o Casal Branco.

A propriedade é também conhecida pela criação de cavalos lusitanos, tradição que, tal como a produção de vinho, se mantém como parte do seu legado. A paixão pelos cavalos é um dos traços mais marcantes da família. Na quinta, a sua criação é uma arte e uma tradição, acompanhada de rigor e de um profundo conhecimento. Conhecidos pela sua elegância, força e inteligência, os cavalos lusitanos criados na Quinta do Casal Branco são admirados e competem em eventos equestres de renome. Os seus estábulos, com séculos de história, abrigam linhagens cuidadas com amor e respeito, demonstrando a simbiose entre a família e a natureza ao seu redor.

O compromisso com a sustentabilidade e as práticas agrícolas ecológicas tornou-se central à filosofia da propriedade, refere José Lobo de Vasconcelos. Recentemente foi também aberto o seu enoturismo, que convida os visitantes de todo o mundo a conhecerem de perto o ciclo de produção dos vinhos e a história fascinante da quinta.

Com uma combinação singular de tradição e modernidade, a Quinta do Casal Branco é muito mais que uma adega. É uma entidade familiar e cultural que preserva o espírito ribatejano e as raízes de Portugal, ao mesmo tempo que olha para o futuro com o mesmo espírito empreendedor que marcou a sua fundação, salienta, orgulhosamente, o CEO da empresa.

 

Conhecidos pela sua elegância, força e inteligência, os cavalos lusitanos criados na Quinta do Casal Branco são admirados e competem em eventos equestres de renome.

 

Encanto e tradição

A Quinta do Casal Branco é um tesouro vitivinícola que carrega, nas suas vinhas, histórias de gerações que, com devoção, cultivaram e transformaram uvas em néctares que traduzem o caráter fértil da região. Cada colheita é um reflexo fiel do Tejo, rio que dá o nome à região e empresta a sua essência às vinhas do território.

Na exploração desta propriedade do concelho de Almeirim, uma verdadeira joia da região dos Vinhos do Tejo, vê-se as vinhas a surgirem como um tapete verdejante, desenhado com precisão e encanto, onde o passado e o presente se entrelaçam em cada detalhe. Aqui, o tempo parece seguir outro ritmo, compassado pela brisa do rio e pelas estações que pintam as paisagens com tons de verde, dourado e bordô, conforme a época do ciclo das vinhas. Na adega, o aroma do vinho que repousa em barris de carvalho é quase poético, e cada garrafa produzida é como uma carta de amor ao terroir do Tejo, com a sabedoria da enóloga residente, Joana Silva Lopes, e a mestria do Enólogo consultor, Manuel Lobo de Vasconcelos, sobrinho de José Lobo de Vasconcelos.

Os vinhos da Quinta do Casal Branco refletem um romance com a terra, nascendo de castas autóctones que expressam o frescor e a autenticidade da região. Degustá-los é embarcar numa viagem sensorial pelo Tejo, do bouquet floral de um branco leve e perfumado ao caráter profundo e envolvente de um tinto encorpado. A cada gole, um segredo antigo parece ser revelado, um testemunho da paixão que faz desta quinta um lugar onde o vinho é, mais que bebida, uma obra de arte, uma ode ao espírito do Tejo e à natureza que o cerca.

As visitas ao Casal Branco proporcionam uma imersão no terroir único do Tejo, com degustações que celebram as castas locais e o cuidado artesanal no processo de vinificação. Cada copo é um brinde à simplicidade e ao charme rural, trazendo consigo o sabor autêntico da terra e o coração dos que a trabalham. Aqui, as vinhas parecem cantar um fado antigo, ecoando a beleza da vida no campo e o encanto de um Portugal intocado, realça Filomena Justo, responsável pela gestão e operacionalização da atividade de enoturismo na Quinta.

A Quinta do Casal Branco não é apenas um destino, mas um convite à contemplação. Entre vinhas, jardins e vinhos de exceção, sente-se o romantismo de um lugar onde o tempo parece desacelerar, e cada visitante pode viver o privilégio de um momento eterno no coração dos Vinhos do Tejo. Cultura, Tradições, Cavalos (equitação), História de Reis e Princesas, Caça e os Falcões, fazem desta quinta um almanaque de experiências inesquecíveis.

O ponto alto da experiência é a degustação, realizada numa sala especialmente preparada, onde os vinhos da quinta são apresentados em combinações pensadas para valorizar os sabores e aromas característicos de cada colheita.

A visita…

Ao chegar à Quinta do Casal Branco, o visitante é recebido por um ambiente de campo onde se destacam as vinhas que se estendem até perder de vista, numa paisagem que as harmoniza com os olivais. O percurso começa na loja, onde é feita uma explicação sobre a história da Quinta do Casal Branco e a importância desta casa agrícola ao longo de 200 anos. A visita continua pelas instalações de vinificação, onde é possível acompanhar cada etapa da produção dos vinhos. Nos tanques de inox e nas barricas de carvalho os guias dão explicações detalhadas sobre os métodos de fermentação, maturação e envelhecimento que conferem aos vinhos da Quinta do Casal Branco um perfil sofisticado. Esse contato direto com o processo produtivo permite, ao visitante, compreender o rigor e a dedicação envolvidos na criação de cada garrafa.

As visitas às vinhas, algumas delas com cerca de 120 anos, realizam-se a pé ou de carro. Nelas são explicadas as características dos solos, o clima da região e os processos de cultivo das castas tintas Castelão, Merlot, Sousão, Cabernet Sauvignon, Syrah, Touriga Nacional, Aragonês, Touriga Franca, Alicante Bouschet e Petit Verdot, e brancas Fernão Pires, Alvarinho, Sauvignon Blanc, Gouveio, Viognier, Moscatel e Arinto, que ocupam um total de 130 hectares.

O ponto alto da experiência é a degustação, realizada numa sala especialmente preparada, onde os vinhos da quinta são apresentados em combinações pensadas para valorizar os sabores e aromas característicos de cada safra. O visitante pode experimentar desde brancos frescos e leves até tintos encorpados e complexos, sempre acompanhados de explicações que enaltecem a qualidade do terroir. A experiência é complementada pela oportunidade de adquirir os vinhos, com rótulos exclusivos que, muitas vezes, só estão disponíveis para os visitantes.

Por fim, além da experiência sensorial, o enoturismo da Quinta do Casal Branco oferece uma imersão cultural, apresentando um património arquitetónico e histórico que remonta ao século XVIII, período em que a quinta foi fundada. O passeio inclui uma visita à casa principal e aos jardins, que mantêm a elegância e a imponência dos séculos passados. Para os amantes de vinhos e de experiências culturais, a visita à Quinta do Casal Branco é uma experiência rica, onde história, tradição e inovação se unem para proporcionar uma viagem sensorial e cultural única.

Nota: O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico.

Quinta do Casal Branco

CADERNO DE VISITA

 COMODIDADES

– Línguas faladas: inglês, francês

– Loja de vinhos

– Bar de provas com capacidade de duas a 18 pessoas (provas e refeições sob consulta)

– Esplanada com capacidade para 50 pessoas

– Sala da Caldeira com capacidade de 10 a 60 pessoas

– Diferentes atividades e refeições (sob consulta)

– Parque para automóveis ligeiros e 10 autocarros

– Provas comentadas (ver programas);

– Refeições (ver programas)

– Wifi gratuito disponível

– Visita às vinhas

EVENTOS

Eventos corporativos sob consulta

Atividades team building sob consulta

 

PROGRAMAS DE ENOTURISMO

GRANDE ESCOLHA

35€ P/ PESSOA

Visita à adega, coudelaria e jardins históricos da casa da família Lobo de Vasconcelos, prova comentada de cinco vinhos (Quinta do Casal Branco Alvarinho, Falcoaria Vinhas Velhas branco, Falcoaria Clássico branco, Falcoaria Grande Reserva tinto, Falcoaria Colheita Tardia branco) e tábua de queijos & enchidos da região Compotas caseiras com tostas & pão regional

De segunda a sexta. N.º mínimo de participantes: dois

Fins-de-semana e feriados. Nº mínimo de participantes: 25

Sempre sob marcação prévia.

PREMIUM

25€ P/ PESSOA

Visita à adega, coudelaria e jardins históricos da casa da família Lobo de Vasconcelos, prova comentada de três vinhos e tábua de queijos & enchidos da região Compotas caseiras com tostas & pão regional

De segunda a sexta. N.º mínimo de participantes: dois

Fins-de-semana e feriados. Nº mínimo de participantes: 25

Sempre sob marcação prévia.

VINDIMA

98,50€ P/ PESSOA

Aperitivo de boas-vindas com Espumante Monge, visita à coudelaria com batismo equestre ou manhã de vindima e prova de mais quatro vinhos harmonizada com produtos regionais. Almoço na esplanada ou Sala da Caldeira

N.º mínimo de participantes: 35

Sempre sob marcação prévia.

BEBERETE

14,00€ P/ PESSOA

Aperitivo de boas-vindas, visita guiada à adega e prova de dois vinhos harmonizada com produtos regionais

N.º mínimo de participantes: 35

Sempre sob marcação prévia.

 

CONTACTOS

Quinta do Casal Branco

Estrada Nacional 118, quilómetro 69

Almeirim

2080-187 Almeirim

Email reservas: filomenajusto@casalbranco.com

Email geral: info@casalbranco.com

Tel.: +351 243 592412; +351 917 656 683; +351243 592 412

https://www.casalbranco.com/

Facebook @quintadocasalbranco

Instagram @quintadocasalbranco

Responsável pelo enoturismo: Filomena Justo

Entrevista com Dora Simões: “O ‘novo’ estilo de Verde precisa de um nome”

Dora Simões

Desde há pouco mais de dois anos assume na região dos Vinhos Verdes funções semelhantes às que desempenhou no Alentejo. Existindo certamente, desafios comuns às duas regiões, o que é que, no seu entender, principalmente as distingue em termos de mercado, estrutura produtiva ou organização institucional, por exemplo? Em termos de organização e tradição de […]

Desde há pouco mais de dois anos assume na região dos Vinhos Verdes funções semelhantes às que desempenhou no Alentejo. Existindo certamente, desafios comuns às duas regiões, o que é que, no seu entender, principalmente as distingue em termos de mercado, estrutura produtiva ou organização institucional, por exemplo?

Em termos de organização e tradição de uma região, faz diferença ter 116 anos ou ter 25 anos de região demarcada, marco que eu ainda celebrei no Alentejo. Embora a idade não altere a produção de vinho em si, altera a história de uma região e introduz condicionantes na forma de a gerir. Mas, de uma forma geral, enquanto entidade certificadora, as coisas estão tão harmonizadas que, embora podendo existir “afinações” diferentes, os procedimentos são hoje muito idênticos de região para região. Haverá sempre coisas a melhorar, mas os standards estão muito bem definidos.

O mercado dos Vinhos Verdes e do Alentejo é muito distinto?

O mercado onde se opera é igual, a comunicação e a narrativa é que são muito diferentes. O apelo ao consumo é distinto. Passámos uma época em que o vinho tinto cobria a grande maioria das preferências do mercado, e hoje isso está a mudar. Não existem dados muito evidentes sobre quanto é que mudou, mas existe uma percepção clara de mudança. A sazonalidade de consumo que outrora existiu nos brancos e que condicionou os Vinhos Verdes esbateu-se muito.

O que mais a surpreendeu nos Vinhos Verdes quando começou a aprofundar o seu conhecimento sobre a CVRVV, a região, os produtores, o mercado?

Em primeiro lugar, a Comissão é uma casa muito bem montada e foi muito bem orientada durante muito tempo.  Tornou-se assim fácil o envolvimento e o trabalho com a generalidade dos departamentos. É uma entidade bastante orientada para a promoção, com um departamento de marketing bem estruturado e com conhecimento do mercado. No que diz respeito à fiscalização e controlo da região, está hoje a um nível que quase nenhuma região em Portugal tem. A região e os seus produtores têm igualmente uma larga experiência de mercados internacionais. Os produtores são profissionais, viajam muito, vão às feiras, conhecem as especificidades de cada mercado. E isto é algo que mudou imenso nas últimas décadas.

Quando eu estava na ViniPortugal, em 2004, lembro-me do que era o Vinho Verde e sei aquilo que é hoje. Claro que a mudança é transversal às várias regiões, mas esta tremenda evolução “comercial” é muito evidente nos Vinhos Verdes. Há muito a fazer, sempre, mas o nível de profissionalização da região dos Vinhos Verdes, quando comparado com outras, é muito elevado.

O perfil dos produtores é muito variado…

O tecido empresarial é muito pulverizado. É salutar que esta seja uma região com operadores relativamente grandes. Mas existe, entre os muito grandes e os muitos pequenos, uma faixa de operadores médios tremendamente dinâmicos. Acho que o mercado nacional tem uma fraca percepção dessa dinâmica, porque muitos produtores de Vinho Verde trabalham, sobretudo, para exportação. E muitos, exportam largas centenas de milhar de garrafas. E, depois, temos os mais pequenos, que produzem frequentemente menos de 50 mil garrafas.

Dora Simões

“Os dois perfis de Verde são bastante distintos. E é fundamental que o consumidor saiba o que está dentro da garrafa antes de fazer a compra”

 

A área de vinha (pouco menos de 17.300 hectares) caiu bastante na década de 2010. A produtividade, porém, aumentou significativamente, devido as reestruturações e ganhos de eficiência. Ainda assim, tirando a sub-região de Monção e Melgaço, onde o preço da uva é bem mais elevado do que a média da região, pode uma família de lavradores viver de vender uvas?

Depende muito da dimensão da propriedade. Infelizmente temos poucos ou nenhuns estudos sobre isso. Não sabemos que dimensão é necessária para poder dar condições de vida a uma família de viticultores. Lembro-me que quando do estudo Porter se falava em entre cinco a sete hectares, para originar um rendimento um pouco acima do salário mínimo. Passaram 20 anos e hoje a área necessária será certamente acima disto.

Quanto ao decréscimo da área de vinha, é importante termos em conta duas coisas. Primeiro, é verdade que há muita gente a abandonar, mas também há um grande processo de consolidação, ou seja, há muitos produtores profissionais a adquirir vinhas a outros viticultores. Por outro lado, o decréscimo do número oficial de vinha plantada tem igualmente a ver com a crescente eficiência da fiscalização. Há muita vinha abandonada há muito, de que só em anos recentes tem sido dado baixa.

No entanto, não deixa de ser evidente, para quem conhece a região, que o preço médio praticado na compra da uva não é o mais adequado. Deveria ser mais elevado para acomodar os gastos de uma viticultura que não é fácil. Ainda que, sendo baixo, o preço está longe de ser dos mais baixos comparado com outras regiões de Portugal. Até é bastante acima da média.

Por tudo isso, e respondendo em concreto à sua questão, com a dimensão média da propriedade na região não é fácil ser-se viticultor e viver de produzir e vender uva. Acredito que seja preciso bem mais de uma dezena de hectares. Mas também acontece que muitos são viticultores a tempo inteiro depois de uma carreira bem sucedida noutras áreas de actividade. E não é apenas por saudosismo ou paixão pela terra. Depois de terem feito a reconversão da vinha, com o claro aumento de produtividade, esta passou a, pelo menos, compensar os gastos que com ela têm. O Alvarinho de Monção e Melgaço é, claro, um caso raro. Aí não é preciso ter uma área de vinha muito grande para o retorno ser compensador.

A produção de Verde tinto parece estar em contínuo decréscimo. Na vindima de 2023, em conjunto com os rosés, valeu cerca de 11,5 milhões de litros versus 72 milhões de vinho branco. Sabendo-se que os rosés estão em crescendo, isso significa que a queda dos tintos, outrora líderes na região, é maior ainda. Está o Verde tinto condenado?

Espero que não. Mas sem dúvida que está em risco de extinção. E temos de inverter esta curva decrescente, que é perigosíssima. Se na região nunca tivesse existido tradição de uva tinta, até se podia entender. Mas não é o caso, antes pelo contrário. O risco de perder a uva tinta significa também o risco de se perder diversidade genética, de se perder o conhecimento das castas, da sua aptidão e do seu contributo para o futuro da região. Os rosés estão, e ainda bem, a crescer, mas sem as uvas tintas não conseguimos fazer rosé. E com os tintos assentes quase exclusivamente numa casta, o Vinhão, também não se consegue fazer grande diversidade de rosé e, muito menos, no estilo que hoje conquista os mercados. Os brancos e rosés estão na moda e os tintos em baixo. Mas isso é hoje. Como sabemos, estas vagas mudam e, por vezes, de forma rápida. E se nós estamos com uma produção residual de uva tinta podemos vir a ter dificuldades no futuro.

Na CVRVV procuramos sensibilizar os produtores para este problema e sentimos a responsabilidade de ajudar a inverter esta situação. Temos dado passos para se perceber melhor as diversas uvas tintas da região, avaliando o seu potencial para a produção de rosés e de tintos mais leves e elegantes. Não precisamos de castas de fora para isso. Acreditamos que temos uma grande variedade de castas tintas autóctones, que temos de estudar e perceber até onde podem ir. Temos uma agenda de investigação e desenvolvimento na EVAG (Estação Vitivinícola Amândio Galhano) e estamos particularmente focados nas castas tintas. Aí realizamos investigação aplicada, realizando microvinificações com algumas castas minoritárias no sentido de perceber quais as mais indicadas para tintos e rosés, em distintos perfis. E todos os anos os vinhos produzidos são provados por um pequeno grupo de especialistas. Com as conclusões desse trabalho, vamos na EVAG criar material vegetativo, para poder disponibilizar varas ou enxertos-prontos. A ideia é gerar informação técnica (vinha, adega e prova) credível e consistente, e colocá-la à disposição dos produtores, para que possam olhar para essas castas minoritárias como opções válidas para desenvolver o seu negócio.

A exportação representa cerca de 60% do negócio dos Vinhos Verdes. Mas também o mercado nacional tem tido um bom desempenho. O preço médio, no entanto, continua abaixo da média nacional, alinhado com Lisboa, acima de Setúbal e Tejo, mas abaixo das restantes regiões. O Vinho Verde está ainda demasiado barato?

Sim, é um facto. Infelizmente, há tradições negativas que demoram a quebrar e este é um caso, existe a convicção generalizada de que “aquele vinho” tem aquele preço. Mas isso parte também do produtor. Conhecemos vários produtores que trabalham em diferentes regiões e eles próprios posicionam os seus Vinhos Verdes a um preço mais baixo. Podem argumentar que as pessoas não estão dispostas a pagar mais por um Vinho Verde. Mas é precisamente isso que nós temos de combater. Claro que isso só se consegue tendo produtos equiparáveis. E é aí que esta questão do assumir de dois estilos de Vinho Verde, um mais “tradicional” e popular, outro mais ambicioso e longevo, se torna fundamental. E, mesmo assim, mesmo fazendo grandes Vinhos Verdes brancos, temos de ter a noção de que, no mundo inteiro, e com raras excepções, o preço médio do vinho branco é inferior ao do tinto. Ou seja, há dois degraus difíceis que é preciso subir, e esse é um trabalho colectivo que é necessário fazer.

 A CVRVV tem procurado comunicar esse conceito dos dois estilos de Vinho Verde. Mas essa distinção não está plasmada na lei. Não existe um designativo na rotulagem, um nome que os diferencie aos olhos do consumidor. Como se pode passar a mensagem sem esse suporte?

Não tem sido um assunto fácil, e quando da passagem de “pasta” por parte da anterior direcção da CVRVV, este foi-me indicado como tema de urgente resolução. Fundamentalmente, não tem havido acordo entre os produtores para o nome desta “nova” categoria de Vinho Verde. Vamos lançar um inquérito aos agentes económicos, para perceber a sua opinião. Mas, Direcção e Conselho Geral, entendemos que é fundamental existir essa designação. Até porque os dois produtos, o Verde mais “clássico”, leve, com “borbulha” e alguma edulcoração, e o Verde mais moderno, seco, intenso e longevo, são bastante distintos. E é fundamental que o consumidor saiba o perfil que está dentro da garrafa antes de fazer a sua compra. Porque, caso contrário, poderá haver um risco de desilusão, que vai jogar contra um ou outro produto.

Uma coisa tão simples e básica quanto ter ou não ter gás adicionado é algo que o consumidor só percebe depois de abrir a garrafa…

Claro, e isso não pode continuar. Há que assumir estes dois perfis como características intrínsecas dos produtos, ter orgulho neles, mas evidenciar essa diferença com um designativo, uma palavra, na rotulagem. Claro que encontrar o nome certo exige consenso e os consensos são difíceis de alcançar. Mas é preciso urgentemente fazê-lo. E mesmo que o nome não seja perfeito, é preferível ajustar mais tarde do que não actuar agora, continuando a limitar a ambição do Vinho Verde, em termos dos mercados e preços que pode atingir. Isto é absolutamente prioritário.

Durante muitas e muitas décadas o Vinho Verde “vendeu-se” como um produto “único no mundo”, diferente de todos os outros, o que lhe permitiu correr numa pista à parte, sem concorrência. O dano colateral, no entanto, foi colá-lo à imagem de um produto simples, popular, pouco “exigente”, se quisermos. Neste início de 2025, como é que o Vinho Verde quer ser visto pelos consumidores?

Temos de saber jogar com tudo isso. O facto de o Vinho Verde mais “tradicional” ter alguma simplicidade, ser leve, poder ser bebido de forma descontraída, é-nos muito útil para cativar uma faixa jovem de mercado que está a “fugir” do vinho mais “complicado”. Mas precisamos também da outra categoria mais ambiciosa, para nos batermos de igual para igual com aqueles que são considerados grandes vinhos do mundo. Precisamos de ganhar valor. E temos a forma ideal de o fazer, através nas nossas castas, Alvarinho, Loureiro, Avesso, etc. Comunicar através da casta é mais facilmente compreensível, mais facilmente exportável. Em resumo, precisamos de fazer passar a mensagem, internamente, entre os produtores, e para o exterior, para os consumidores.

Dora Simões

“A sazonalidade de consumo que outrora existiu nos brancos e que condicionou os Vinhos Verdes esbateu-se muito”

 

Foi no seu consulado à frente da CVR Alentejo que foi desenvolvido e implementado o Plano de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo (PSVA), que se tornou uma referência nacional e internacional. Como está a região dos Vinhos Verdes em termos de sustentabilidade ambiental?

Quando esta direcção tomou posse, havia já um plano de sustentabilidade em marcha, ainda não implementado. Coincidindo com o início deste mandato, surgiu igualmente o Referencial Nacional de Sustentabilidade do Instituto da Vinha e do Vinho, um conjunto de orientações transversais não adaptado especificamente a cada região. No que ao Vinho Verde respeita, acreditamos que fazer um plano novo, de raiz, tal como se fez no Alentejo, será estar a trabalhar sobre algo que já existe. Assim, o que foi decidido foi adoptar o Referencial Nacional como base para quem quiser medir a sua evolução nesta área, podendo depois certificar-se neste Referencial ou noutro que possa ser mais interessante para o seu negócio. Paralelamente, contratámos um especialista em sustentabilidade que tem, como primeira tarefa, acompanhar os produtores na utilização do Referencial Nacional e na preparação para o cumprir.

Depois, o segundo passo vai ser definir e implementar uma parte específica para o Vinho Verde. Dou-lhe um exemplo: os recursos hídricos. Aqui estamos tão habituados a ver água que parece que não existem carências hídricas. Mas elas existem e são imensas. E falta-nos o conhecimento – que porventura existe noutras regiões há muito habituadas a ter pouca água – para tirar o melhor partido da água. Precisamos, hoje, de aprender a gerir a escassez. Outro exemplo: pelas suas condições climáticas, nos Vinhos Verdes fazemos mais tratamentos do que noutras regiões. Ao mesmo tempo começam a aparecer doenças a que não estávamos acostumados. A região precisa de criar um programa de tratamentos sustentáveis muito mais específico do que o existente no Referencial Nacional.

Adicionalmente, a certificação no Referencial Nacional precisa de ser mais promovida a nível nacional e mundial. Os produtores necessitam de ver vantagens económicas e comerciais concretas em aderir ao Referencial Nacional. É que existem diversas certificações mundiais, com grande promoção associada.  E uma empresa vai aderir às que lhes parecerem mais vantajosas para o seu negócio, por exemplo, em função dos mercados onde mais vende.

Que méritos vê no modelo orgânico e na sua aplicação a uma região de clima atlântico, como a dos Vinhos Verdes?

Daquilo que vemos na região, temos pouquíssimas empresas a adoptar o modelo de produção biológica. E temos até uma ou outra que já o tiveram e abandonaram. Nesta região, é difícil, ainda que não impossível, cumprir um modelo orgânico. E torna-se muito complicado cumprir tudo durante três anos e, depois, vem um mau ano climático que obriga a falhar as regras e cumprir de novo todo o ciclo. Por outro lado, temos uma situação muito gravosa que tem a ver com a flavescência dourada. Não há região onde a flavescência esteja instalada que consiga cumprir facilmente com os standards do biológico: vai ter de fazer tratamentos. Quem não o fizer pode estar a colocar em risco não apenas a sua própria produção – porque as vinhas vão morrer – mas também as vinhas dos vizinhos. Daí que seja muito importante a questão da Sustentabilidade, porque é um modelo que permite fazer melhor e de forma mais equilibrada, com benefícios para a vinha e para o próprio negócio. Claro que um modelo bio ou biodinâmico não é de todo impossível: mas apenas em áreas muito pequenas e facilmente geríveis.

Um dos maiores sucessos do seu antecessor foi levar de vencida aquela que ficou conhecida como “Guerra do Alvarinho”. Em seu entender, os ganhos para ambas as partes (produtores de Monção e Melgaço e restantes produtores da região) foram suficientes para pacificar esta questão? Ou a relativa autonomia conquistada por Monção e Melgaço ainda é de menos para uns e de mais para outros?

Se olharmos para os números que nos são fornecidos pelos selos de certificação, o segmento que mais aumenta é precisamente o do Alvarinho, produzido em Monção e Melgaço, sobretudo, mas também fora da sub-região. E até com o crescimento de vinhos de nicho, bem valorizados, como é o caso do espumante de Alvarinho. Com o acordo que foi feito no passado, foi também alocada uma verba para a promoção da sub-região de Monção e Melgaço, verba essa que, com a colaboração da CVRVV, tem sido utilizada de forma muito positiva, com inúmeras ações e visitas por parte de jornalistas e compradores. Os resultados positivos são evidentes.

Dora Simões

“O Verde tinto está em risco de extinção. E temos de inverter esta curva decrescente, que é perigosíssima”

 

Esse caminho de progressiva autonomia desenvolvido por Monção e Melgaço pode e deve ser estendido às restantes sub-regiões?

Para isso, os produtores dessas regiões têm de o querer. Quando olhamos para os números de certificação com sub-região (identificada na rotulagem), Monção e Melgaço está à frente, a enorme distância do Lima, que vem a seguir. Mas depois não há muito mais. E são nove sub-regiões nos Vinhos Verdes! Portanto, a vontade dos produtores não parece ser evidenciar a sub-região onde produzem, preferindo ficar apenas com a denominação Vinho Verde.

A Dora Simões já correu o mundo do vinho em funções muito distintas, O que é mais difícil? Convencer o comprador de um supermercado inglês a referenciar o seu produto ou gerir um Conselho Geral de uma CVR?

Nunca me tinham feito essa pergunta… Apesar de tudo, penso que é mais difícil ser produtor. Exige uma resiliência enorme: implica ouvir muitas recusas, não conseguir atingir objectivos, ter de gerir um negócio a céu aberto com imensos imponderáveis. Produzir vinho é um risco. Muitas destas novas categorias de bebidas (a kombucha, por exemplo) são fáceis de fazer, implicam muito menos investimento e não dependem da natureza. Mas chegam à prateleira e custam o mesmo que o vinho.

É certo que fazer parte da direcção de uma CVR pode ter aspectos ingratos e não tem muitas das recompensas de ser produtor. Aqui ninguém está à espera de levar uma palmadinha das costas por ter conseguido isto ou aquilo. Mas isso faz parte da função. Ser produtor de vinho é bem mais exigente.

Sei que não vai mencionar marcas, mas qual a casta ou perfil de Vinho Verde que mais aprecia no copo?

Na verdade, sou muito eclética quanto a perfis de vinho. Aprecio estilos muito diversos, por vezes dependendo do momento. Mas estou mais acostumada, até pelo tempo que passei na Alemanha, a beber vinhos brancos com fruta, frescura e potencial de longevidade. Aqui, Alvarinho e Loureiro, por exemplo, enquadram-se muito bem.

(Artigo publicado na edição de Janeiro de 2024)

Herdade da Mingorra: Nas terras da família Uva

Herdade da Mingorra

Em pleno Baixo Alentejo, na casa rústica e acolhedora da Herdade da Mingorra, ao crepitar de uma grande lareira, viajámos pela história desta herdade na companhia dos seus quatro principais rostos – Henrique Uva, o patriarca e o fundador, as filhas Maria e Sofia e Pedro Hipólito, o director geral da empresa, que tem acompanhado […]

Em pleno Baixo Alentejo, na casa rústica e acolhedora da Herdade da Mingorra, ao crepitar de uma grande lareira, viajámos pela história desta herdade na companhia dos seus quatro principais rostos – Henrique Uva, o patriarca e o fundador, as filhas Maria e Sofia e Pedro Hipólito, o director geral da empresa, que tem acompanhado o projecto desde o início.
O sucesso da Herdade da Mingorra deve-se às decisões certas tomadas nos momentos cruciais e a uma adaptação constante às condições climáticas e do mercado. O essencial é aposta na uva própria, gestão inteligente de processos desde a vinha à rede comercial e a abertura à inovação a todos os níveis. Resumindo, não compram um quilo de uva e não têm um litro de vinho em excesso no armazém. E estamos a falar de uma produção superior a um milhão de garrafas, com qualidade e criatividade na abordagem.

20 anos de evolução

A aventura começou há 20 anos, quase na véspera de Natal de 2003, quando Henrique Uva apresentou a sua proposta, ambiciosa e desafiante, a Pedro Hipólito, à data responsável de produção na Adega de Redondo.
Naquela altura, Henrique Uva já tinha, na sua posse, uma propriedade, a 20 km de Beja, com 1400 hectares, que construiu adquirindo pequenas herdades quase contíguas, onde, para além de 125 ha de vinha, teve olival, amendoal e áreas florestais.

Nos anos 1990, a venda de uva era extremamente rentávelm com os preços a ultrapassar um euro por quilo. Na viragem do século, o mercado mudou e os preços foram reduzidos a menos da metade. Produzir o seu próprio vinho e construir uma marca foi a decisão que Henrique Uva tomou. Para a sua realização, precisava de uma adega com dimensão considerável e de uma pessoa competente para assegurar o projecto. A pessoa certa foi Pedro Hipólito, enólogo com imensa experiência na definição do layout, dimensionamento e gestão de adegas com esta ordem de grandeza. Talvez o maior desafio para Pedro foram os prazos: Henrique queria ter a adega pronta em agosto de 2004. E assim foi. A vindima decorreu na adega nova, perfeitamente funcional e bem dimensionada para as necessidades do projecto.

Quem está na produção de vinhos sabe perfeitamente que os primeiros anos nunca são fáceis. A Herdade da Mingorra tinha vinha e adega, mas a marca e o mercado ainda estavam por desenvolver. A conjuntura do mercado indicava o caminho mais fácil – foco na produção de vinho a granel que, naquela altura, era escasso. Mas Henrique queria afirmar-se e evoluir pela qualidade. A sensatez de não ir atrás da rentabilidade imediata “permitiu criar condições para perceber o que queremos e dar tempo para que as coisas evoluam” – relata Pedro Hipólito e acrescenta: “não podíamos pensar que iriamos vender cerca de um milhão de garrafas rapidamente”. Por isto foi estabelecido um plano: vender 20% de vinho engarrafado, para ir construindo o mercado e o resto a granel para rentabilizar o esforço, aumentando gradualmente a parte do vinho engarrafado com a marca própria até chegar aos 100%. Só conseguiram este objectivo em 2015.

O sucesso da Herdade da Mingorra deve-se às decisões certas tomadas nos momentos cruciais e a uma adaptação constante às condições climáticas e do mercado.

Aposta na uva própria

Uma das convicções de Henrique Uva, logo desde o início, foi trabalhar só com a uva própria. “Nós somos muito agricultores” – explica, e desta forma conseguem ter o controlo total da produção e manter a consistência ao longo dos anos.
O encepamento foi passo a passo adaptado ao projecto. É preciso lembrar que, no início dos anos 90, as vinhas plantavam-se para se vender uvas às adegas cooperativas e não para produzir vinhos de qualidade. Assim, no espaço de 20 anos reestruturaram quase 80% de vinha, um pouco por tentativa e erro, porque queriam criar a sua própria experiência e nem todas as castas corresponderam às expectativas. Gradualmente foram aumentando a presença de castas brancas. Em 2015 plantaram-se mais 45 hectares de vinha. Actualmente contam com 170 hectares, divididos em 87 parcelas, dos quais 40% são castas brancas e 60% tintas.

Através das castas regionais procuram expressar o carácter regional; as castas nacionais são bandeiras importantes dentro e fora do país; as castas internacionais fazem sentido no contexto de evolução de estilos, mas nem todas funcionam na região. Por exemplo, em 10 anos tiveram um Merlot muito bom e por duas vezes um Cabernet Sauvignon, castas que não vale a pena manter. “Hoje já estamos encaixados nas castas e no perfil com que nos identificamos”, dizem Henrique e Pedro, com satisfação.
Para além dos cuidados nas práticas culturais, estão atentos a práticas biotecnológicas inovadoras e implementam-nas na herdade para avaliar os resultados. O uso de leveduras inactivadas na vinha simula o ataque de fungos e estimula o metabolismo secundário das videiras, favorecendo a produção de compostos fenólicos como taninos e antocianas. É uma prática sustentável, que não só aumenta a resistência natural da planta, como melhora a qualidade do tanino e intensifica a cor do vinho. Experimentam também o ensombramento das vinhas mais expostas. Esta prática resulta em 3˚C de diferença de temperatura na copa da planta e em 10 dias de diferença na vindima.

Preferir funcionalidade à beleza

Na adega desenhada por Pedro Hipólito preferiu-se funcionalidade ao design. Os lagares e as cubas pequenas foram projectados para permitir o processamento separado de algumas parcelas, enquanto as cubas maiores foram dimensionadas como múltiplos das menores, possibilitando a junção de parcelas mais homogéneas.
Em 2022 ampliaram a adega e aumentaram a capacidade de recepção, para poder apanhar a uva na altura certa, mesmo que seja em simultâneo. O resultado é o salto qualitativo na gama de entrada. Para os vinhos de gamas mais altas existem barricas de 300 e 700 litros, com tosta escolhida para para não marcar muito o vinho, por um lado e, por outro, para não introduzir duros taninos elágicos. Têm também oito ânforas de cerâmica italianas de 600 litros.

A adega é autossuficiente em energia através dos paineis solares. O investimento recente, para além da ampliação de espaço, abrangeu a construção de um novo armazém de 1000 m2 para engarrafamento e produto acabado e aquisição de uma solução tecnológica extremamente inovadora, Winegrid, que combina sensores inteligentes e software para monitorizar em tempo real o processo de produção de vinhos. Os sensores são colocados dentro dos tanques, lagares ou barricas e recolhem dados essenciais, como densidade do mosto, temperatura, nível de líquido etc., que são enviados para uma plataforma digital, onde podem ser consultados por computador ou smartphone. O enólogo consegue assim acompanhar todo o processo de vinificação e reagir rapidamente quando necessário. A solução permite reduzir desperdícios, poupar na mão de obra e tornar o processo de vinificação mais preciso e eficiente.

Gamas bem definidas

Com a produção extensa, uma boa definição das gamas perceptível pelo consumidor, é indispensável. À gama de entrada é dado o nome Terras d’Uva, pelo feliz trocadilho do apelido e o fruto da videira. Mingorra engloba os Colheita e Reserva, crescendo agora para o Grande Reserva. Todas estas gamas são consistentes e coerentes. A linha “M” é reservada a criatividade e experiências, nela se enquadram os vinhos “fora da caixa”.
A casta duriense Tinto Cão, de maturação tardia e boa preservação de acidez, foi plantada na Herdade da Mingorra em 2009, na vinha da Horta. Não se enquadrou no perfil dos vinhos tintos, foi considerada um erro de casting e estava prestes a ser reenxertada, até ter sido experimentada no papel principal para um rosé ambicioso. E, nesta vertente, a casta conseguiu mostrar o seu potencial. Aguentou o estágio de seis meses em barricas novas de carvalho francês de 700 litros e beneficiou com ele, resultando num rosé sofisticado e encantador.

Outra novidade nesta gama foi um vinho licoroso, feito de Touriga Nacional e Sousão que estagiou em seis cascos de Cognac. Notavelmente menos doce, não tendo muita concentração, funciona bem com esta doçura reduzida o que o torna numa escolha acertada para quem não é muito guloso.
Mais uma novidade absoluta, já na gama principal, é o Mingorra Grande Reserva 2020, feito a partir de uma única parcela, o Talhão 86. Esta área de dois hectares, com solo de xisto e algum calcário, foi plantada em 2017 com sete castas misturadas, escolhidas entre regionais, nacionais e internacionais: Alicante Bouschet, Castelão, Tinta Miúda, Touriga Franca, Syrah, Petit Verdot e Petite Sirah. Tiveram em conta o ponto de maturação das variedades para conseguir a vindima mais homogénea possível.

O famoso talhão 25 e o Vinhas da Ira

Com a aquisição da Herdade dos Pelados, vieram umas parcelas antigas, plantadas em 1978. As vinhas não se encontravam no melhor estado, “agronomicamente era um desastre”. O talhão 14 acabou por ser abandonado, mas o talhão 25 tinha outrora muita fama. É o resultado da selecção massal de uma vinha mãe da Vidigueira. Chamava-se Talhão de Alfrocheiro e, no início, fez muita confusão, porque quando a uva chegava à adega era óbvio que não se tratava só desta casta. Via-se, pelos mostos, que havia lá muita uva tintureira. Quando, em 2004, fizeram um levantamento genético da vinha, foram identificadas 12 variedades misturadas, onde 54% era o Alicante Bouschet, 30% Aragonez e 7% Alfrocheiro, que eram as mais representativas. Também tem Tinta Grossa, Castelão, Moreto e Trincadeira, entre outras. Este talhão de dois hectares origina, desde 2004, o ex-líbris da casa – o Vinhas da Ira. Produzido apenas em anos de excelência, quando a vinha mostra o seu carácter na plenitude, o vinho pode ser considerado um dos clássicos do Alentejo actual.

Vindima-se tudo junto e o Alicante Bouschet serve de referência para a definição da data de colheita. Dá três lagares de três toneladas. Mas às vezes o último lagar não faz parte do lote final, pois alberga uvas vindimadas um pouco mais tarde, que não mostram o nível pretendido da frescura. A meio de fermentação, vai para uma cuba troncocónica e depois de maceração prolongada, estagia 18 meses em barricas novas de 300 litros, de diferentes tanoarias.
Tivemos oportunidade de fazer uma mini vertical esta referência, com excelentes resultados. Aqui deixo as notas de prova – 2009 – Granada com laivos acastanhados; mostra evolução com compotas, notas de carne, um apontamento de ferrugem, certa secura, tanino muito macio e frescura evidente (17,5). 2011 – Concentrado na cor; cereja preta carnuda, esmagada, alcatrão e notas resinosas, louro, tomilho e especiaria; belíssimo na harmonia de conjunto, poderoso, cheio de vida, polido, harmonioso, tanino maduro e redondo, textura de veludo e novamente frescura (18,5); 2014 – Opaco, uma ligeira redução no nariz que se esvanece à medida que o vinho vai abrindo no copo, azeitona preta, café, muita frescura a destacar-se, menos corpo, tanino polido, louro e notas de carne e especiaria no final persistente (18); 2017 – Aroma harmonioso, com fruta pura a lembrar amora e cereja, nuances de eucalipto e mentol; tanino firme, com garra mas sem ferir, concentração sem peso e com frescura, tanino fino e final bem projectado (18,5); 2018 – Especiaria e fruta madura destacam-se no nariz, como a ameixa; elegante e fino, com imensa frescura, guloso e não demasiado encorpado, com muita vida pela frente (18,5). Chegámos a provar também o futuro Vinhas da Ira 2020 que já se mostrava muito bem, rico na fruta preta e vermelha a destacar amora e framboesa, um toque floral e terroso, sedoso na textura e com óptimo polimento. Só será lançado em meados de 2025 e, até, lá continua a repousar em cave. Aqui, ninguém tem pressa.

(Artigo publicado na edição de Janeiro de 2025)

Vintage 1994: 30 anos de boa memória

Vintage

No ano de 1843, a cidade de Londres, ao acordar da modorra noturna, deparou-se com uma publicação anónima que apresentou um título invulgarmente longo, quando comparado com a métrica jornalística atual: A Word Or Two on Port Wine! Showing How, and Why, it is Adulterated, and Affording Some Means of Detecting Its Adulterations. Curiosamente, a […]

No ano de 1843, a cidade de Londres, ao acordar da modorra noturna, deparou-se com uma publicação anónima que apresentou um título invulgarmente longo, quando comparado com a métrica jornalística atual: A Word Or Two on Port Wine! Showing How, and Why, it is Adulterated, and Affording Some Means of Detecting Its Adulterations. Curiosamente, a única referência à sua intrigante autoria também se encontrou na primeira página: By one residing in Portugal for eleven years. Este folheto, cuja autoria terá sido, mais tarde, atribuída ao barão de Forrester, foi a faísca que acabou por incendiar uma enorme polémica genuinamente internacional sobre as práticas de vinificação da altura, tendo por pano de fundo uma aguda crise comercial.

Para o barão, no seguimento da muito famosa colheita de 1820 que apresentou vinhos invulgarmente “cheios, doces e saborosos”, foi desenvolvido um novo sistema de vinificação de encontro aos incontáveis pedidos dos consumidores e dos negociantes pela regularidade deste perfil. O argumento fundamental de Forrester era desconcertantemente simples e avassalador: “raras vezes se podia obter puro um tal vinho, sendo mui raras tão boas estações, recorreu-se à adulteração (…) a fim de produzir coisa que o imitasse (…); e os esforços entre muitos dos exportadores tendiam a que cada um exportasse vinho mais doce, encorpado e de mais cor que o do seu vizinho”. Na sua opinião, a adulteração dos vinhos estava ligada ao crescente uso de jeropiga, baga de sabugueiro e ao uso crescente de aguardente na fermentação, após a fermentação, no momento do carregamento para Vila Nova de Gaia e na ocasião do embarque para Inglaterra. Estes procedimentos, segundo o barão, estavam na génese da crise comercial verificada desde o início da década de quarenta. Forrester defendia precisamente o inverso, ou seja, o fabrico de vinhos “puros”, “secos”, “preparados com bastante fermentação” e com “pouca ou nenhuma aguardente”.

Pouco tempo depois surgiu um novo folheto, igualmente publicado de forma anónima, em Londres, que tentou refutar todas as considerações do primeiro. No seguimento, no Porto, em apoio ao folheto inicial foi difundida uma carta, através do Periódico dos Pobres do Porto, assinada por “um velho lavrador do Douro” na qual dava sustentabilidade total aos argumentos de Forrester. Os detratores do barão acusaram-no de provocar o descrédito do vinho do Porto e contrapunham que a aguardentação convinha ao aperfeiçoamento do produto para atender às solicitações do mercado e resistir à viagem para as ilhas britânicas.

Ainda assim, era no Douro que o Barão de Forrester tinha uma das suas maiores aliadas nesta causa, tratava-se da família Ferreira que, nesta altura, já granjeava uma enorme reputação no mercado dos vinhos. Curiosamente, estes mantinham inteligentemente uma dupla política comercial. Por um lado, existem registos revelando a venda de vinhos retintos e encorpados, a pedido expresso dos exportadores. Por outro lado, os melhores vinhos, provenientes da Quinta do Vesúvio, continuavam a produzir-se com muito menos aguardentação.

Apesar dos esforços do Barão de Forrester e dos seus apoiantes, o que acabou por prevalecer foi o denominado “gosto inglês” que deu preferência a vinhos retintos, fortes, encorpados e, acima de tudo, doces. A preferência por esse perfil característico acabou por ser cristalizada e assumida como a norma na categoria dos vinhos do Porto Vintage. Atualmente, o perfil destes vinhos foi vertido em forma de lei determinando o vinho do Porto Vintage como “…proveniente de uma só vindima, retinto e encorpado…”.

A masterclasse “Os 30 anos do Porto Vintage 1994” foi conduzida por Paulo Russel-Pinto um dos especialistas do IVDP

 

Uma inesquecível masterclass

 Esta colheita é um excelente exemplo do triunfo e herança do “gosto inglês”, mas poucas atingiram a pontuação e o estrelato internacional dos vinhos do Porto Vintage do ano de 1994.

A estratosférica pontuação atribuída por uma das principais revistas mundiais de crítica de vinhos (100 pontos a dois Vintage de 1994: Taylor’s e Fonseca), fez renascer o desejo pelo vinho do Porto no mercado norte-americano e mundial. Por cá, o Vintage foi descoberto pelos consumidores e transformado em produto de moda. Desta forma, as vendas das categorias especiais de vinho do Porto atingiram, na altura, novo pico de venda e um sucesso estrondoso. Muitos dos operadores esgotaram rapidamente as alocações do Vintage de 1994 programadas, muitas delas em apenas três meses, e com preços bem interessantes.

O segredo do sucesso desta colheita esteve relacionado com as condições climátericas ocorridas. Apesar do pobre início, a época de desenvolvimento das uvas foi razoável, com tempo seco, apenas interrompido por reduzidos períodos de chuva. Esta conjuntura redundou numa vindima uniforme e extraordinária e em vinhos que, 30 anos depois, nos envolvem os sentidos.

Isso mesmo comprovámos na atmosfera intimista do Salão Nobre do Instituto dos Vinhos do Porto e Douro, palco de uma das comemorações mais aguardadas do “Port Wine Day”: a masterclass “Os 30 anos do Porto Vintage 1994”. Esta foi conduzida por Paulo Russell-Pinto, um dos especialistas do instituto, e contou com a presença dos enólogos das empresas representadas. A plateia era constituída por várias classes de profissionais da fileira do mundo do vinho nacional e por alguns jornalistas. Paulo Russel-Pinto fez desfilar oito vinhos de empresas sobejamente reconhecidas pelos mercados nacionais e internacionais: Cálem, Churchill’s, Dow’s, Poças, Quinta do Noval, Ramos Pinto, Rozès e Taylor’s.

O Cálem Vintage 1994, apresentado por Carlos Alves, exibiu ainda uma cor rubi bastante intensa e opaca com as notas de fruta vermelha madura ainda bem marcadas. No palato, os taninos bem marcados, juntamente com a fruta bem madura conferiam uma prova intensa e prazerosa. Um exemplar ainda bastante jovem denotando equilíbrio entre álcool, acidez e açúcar. (19,5 pontos).

A uma das casas mais recentes na produção de vinho Porto coube a apresentação do Churchill´s Vintage 1994 proveniente de vinhas com mais de 50 anos de idade apresentou uma coloração levemente acastanhada evidenciando aromas a frutos secos, marmelada e alguma fruta vermelha. De perfil seco, fresco e de recorte muito fino, revelou uma faceta elegante. Um dos mais evoluídos em prova. (18,5).

Do universo Symington foi apresentado um vinho cujas uvas foram provenientes da Quinta do Bonfim (Cima Corgo) e da Quinta da Senhora da Ribeira (Douro Superior). Estas resultaram no Dow’s Vintage 2014, que se mostrou ainda retinto e opaco com aromas bem marcados a fruta vermelha compotada, especiarias e alcaçuz. Boa intensidade e equilíbrio entra a doçura e acidez. Ainda jovem e com boa capacidade de guarda. (19).

A batuta de Jorge Manuel Pintão, bisneto do fundador, concebeu o Poças Vintage 2014 de cor levemente acastanhada denotando aromas a pinho, frutos secos, mentol, tabaco e alguma fruta vermelha. O tanino firme e a acidez marcada conferem alguma intensidade e nervo à fruta compotada. Está num excelente momento para ser bebido. (18,5).

A Quinta do Noval, situada no vale Mendiz, apresentou um vinho que resultou da primeira colheita com a gerência do grupo internacional Axa-Milésimes, o Noval Vintage 2014 produzido com uvas provenientes de uma colina apenas, entre os 200 e os 400 metros de altitude. Opaco e retinto marcado por aromas balsâmicos, fruta preta e cacau. Muito persistente, intenso compaginando doçura e acidez com galhardia. (19).

Os Single Quinta são uma categoria menos conhecida pelo consumidor comum e representam a singularidade de um território com bastantes cambiantes. Desta forma foi apresentado, pela mão da Ramos Pinto, o Quinta da Ervamoira Vintage 1994 de cor bastante intensa, brilhante e rubi aparentando apenas uma leve evolução. Grande intensidade de aromas com destaque para a fruta madura, tabaco e algum balsâmico. No palato revelou fruta madura fresca e menta envolvidos por um tanino bem presente. Grande intensidade e volume. Um dos melhores em prova. (19,5).

O Rozès Vintage 1994 mostrou uma coloração menos intensa e acastanhada evidenciando aromas a marmelada e frutos secos. De perfil mais doce e concentração média, revelando estar a atravessar um período menos intenso. (18).

Para o final estava guardada a estrela do dia, provada em formato magnum, o que lhe conferiu impacto adicional. Tratou-se do Taylor’s Vintage 1994 de coloração bastante intensa e aromas ainda bastante fechados, mas bem marcados a fruta vermelha e preta. No palato mostrou bastante intensidade, fruta fresca e mentol. O tanino bem marcado e o perfil ainda fechado conferem um tempo de guarda bastante confortável. Um grande Vintage. (20).

 As implicações tardias de um folheto

 Na altura em que foram lançados e nos anos subsequentes, os Vintage de 1994 foram elevados ao pináculo superior do estrelato mediático nacional e internacional. Concomitantemente, a região do Douro aproveitando um enorme manancial vínico com 300 anos, transformou-se de forma definitiva.

Na década de noventa, atravessou uma época verdadeiramente dourada, Dirk Niepoort faz, em 1990, duas pipas de vinho para consumo e, em 1991, foi lançado, com enorme sucesso comercial, o Duas Quintas. Durante essa década muitas das marcas que hoje são incontornáveis na região (Quinta da Gaivosa, Quinta do Crasto, Quinta Vale D. Maria, Chryseia, Quinta do Vale Meão ou Quinta do Vallado) viram a luz do dia. Foi o ressurgimento definitivo dos “vinhos secos” a que o barão de Forrester se referia em 1843…

Ainda assim, esta fantástica prova de vinhos relembra, mais uma vez, com veemência e elegância, o triunfo da tradição dos vinhos do Porto Vintage. A história do Douro e dos seus vinhos é muito longa e envolta em muitos meandros…e ainda bem.

(Artigo publicado na edição de Dezembro de 2024)

Altas Quintas: Um regresso em grande

Altas Quintas

A Altas Quintas é uma marca alentejana bem conhecida e apreciada, estabelecida em 2004. Pertencia à família de João Lourenço que, em 2017, vendeu a propriedade (vinhas e adega) à Symington Family Estates, ficando com a marca e os stocks de vinho. Assim, manteve a actividade de viticultor e produtor de vinhos, embora numa escala […]

A Altas Quintas é uma marca alentejana bem conhecida e apreciada, estabelecida em 2004. Pertencia à família de João Lourenço que, em 2017, vendeu a propriedade (vinhas e adega) à Symington Family Estates, ficando com a marca e os stocks de vinho. Assim, manteve a actividade de viticultor e produtor de vinhos, embora numa escala menor, adquirindo a Herdade do Porto da Boga, localizada igualmente nas encostas da Serra de São Mamede. No entanto, por motivos de saúde, teve de abandonar esta actividade. Como António Ventura acompanhava a família neste projecto vitivinícola desde 2009, foi a ele que recorreram para lhes ajudar na venda da propriedade. E o enólogo sabia quem seria a pessoa ideal para dar continuidade ao projecto.

Vontade de investir

Recuando alguns anos (António Ventura já conta com mais de quatro décadas de carreira), houve um rapazinho que fez três vindimas com ele na Adega da Vermelha, na região de Lisboa. Este jovem chamava-se Ricardo Machado que, após a experiência dura da vindima, ficou “com o bichinho” do vinho. O facto de ter viticultores na família, desde o seu bisavô, também contribuiu para esta paixão e António Ventura tornou-se no seu mentor em tudo relacionado com vinhos. Ricardo formou-se em Engenharia de Gestão do Território e o seu rumo profissional levou-o para fora do país. Regressou há poucos anos como empresário de sucesso, viajado, com experiência internacional e contactos no mundo inteiro, mas sobretudo com vontade de investir em projectos no seu país natal.

Aconteceu como nos filmes, com duas linhas do enredo a desenvolverem-se de forma independente até se cruzarem num determinado momento, a partir do qual a história toma um novo rumo. António Ventura falou ao Ricardo Machado na possibilidade de adquirir o projecto Altas Quintas. Visitaram a propriedade e o empresário decidiu avançar com a sua aquisição, o que aconteceu no outono do ano passado.

Para além de António Ventura na qualidade de consultor, juntou-se, ao projecto, o enólogo Tiago Correia como responsável de produção, a contar com o apoio do enólogo-residente, Diogo Vieira. Todo o acompanhamento da vinha está à responsabilidade do viticólogo José Luís Marmelo, profundo conhecedor das vinhas e terroir de Portalegre.

A herdade compreende 156 hectares de área, dos quais 27 hectares de vinha (e mais cinco hectares em breve) na encosta da Serra de São Mamede. Ali, a Altas Quintas pratica uma viticultura regenerativa e de protecção integrada, deixando de mobilizar o solo, fazendo coberturas melhoradoras. Tudo isto para levar o melhor do terroir, preservando-o para o futuro. Ao mesmo tempo, a empresa faz parcerias com produtores que têm boas parcelas em locais especiais e acompanham-nos continuadamente, desde a poda até à vindima. Desta forma, a Altas Quintas tem acesso a uvas em todos os distintos terroirs da Serra de São Mamede (orgulhando-se de ser a única empresa a consegui-lo), em altitudes e exposições diferentes. Na adega, bem equipada, tiveram de expandir a área de vinificação de brancos e planeiam aumentar o espaço de estágio em barricas e talhas. Tudo isto para conseguir vinificar, em separado, todas as diferentes parcelas e assim avaliar o potencial de cada terroir.

A mente irrequieta de Ricardo Machado e a sua grande capacidade de identificar oportunidades de negócio, bem como a abertura para estabelecer parcerias e unir esforços para o bem comum, prometem muitas novidades, algumas tradicionais, outras mais arrojadas, nos próximos anos. Já começaram a produzir os vinhos kosher (quatro referências, cerca de 30 mil garrafas), porque claramente há mercado para isto, sobretudo nos EUA. Nos seus planos está igualmente fazer uma espécie de “vinho romano” adoçado com mel, outrora chamado mulsum.

Muitos projectos em marcha

E há mais ideias em carteira. Ricardo Machado tem outra propriedade, de grande dimensão, na região da Beira Alta, a Herdade de Vale Feitoso, com 7300 hectares, onde está a apostar na exploração florestal, pecuária e cinegética, neste último caso desenvolvendo uma indústria de tratamento e comercialização da carne de caça (veados, gamos e javalis, sobretudo) para lojas e restaurantes mais sofisticados. Nesta propriedade também irão plantar vinha, que poderá ir até 100 hectares. E dois hotéis em Monfortinho complementam a oferta e abrem uma vertente turística. Outro projecto em desenvolvimento fica nos Açores, mais precisamente na Ilha de São Jorge, em dois hectares de vinha na Fajã do Cavalete. E, obviamente, haverá algo na região de Lisboa, junto às origens de Ricardo Machado, local onde, com o seu pai, possui já 100 hectares de vinha. “Estou a divertir-me imenso com estes projectos”, confessa, com um sorriso, Ricardo. “Muita gente pergunta porque fui investir no interior. Mas em Altas Quintas e em Vale Feitoso eu não me sinto no interior, afastado de tudo. Estou próximo de Lisboa e de Madrid, no centro da Ibéria”, remata.

Para promover a visibilidade da marca, a Altas Quintas patrocinou já a Porsche Cup C6 Bank, que teve lugar em Portugal, no autódromo do Estoril, em Junho deste ano. E, em Setembro passado, três vinhos Altas Quintas acompanharam o jantar anual de uma das mais antigas e prestigiadas sociedades gastronómicas do Reino Unido, fundada em 1899, a Réunion des Gastronomes. É a primeira vez, desde a fundação da sociedade, que os vinhos tranquilos portugueses acompanham este jantar.

Voltando aos vinhos agora apresentados à imprensa. O espumante Viúva Le Cocq Reserva 2020 é feito de Verdelho, com estágio 18 meses antes de dégorgement. O Altas Quintas branco de 2023 é composto por Verdelho e Arinto em partes iguais, provenientes de vinha plantada a 600 metros de altitude. O estágio decorreu em barricas de carvalho francês durante seis meses. O lote do Altas Quintas Reserva branco de 2022 é composto pelas mesmas castas, mas o Verdelho entra com 60%. A fermentação teve lugar em barricas de carvalho francês, onde permaneceu por mais quatro meses, continuando depois nas cubas de inox. Já o Altas Quintas tinto 2022 resulta de um lote de Touriga Nacional (60%), Syrah (20%) e Alicante Bouschet (20%). Após maceração pré-fermentativa a frio durante 24 horas, a fermentação decorreu em pequenos lagares de 5 Ton, com pisa e delestage. O estágio posterior durou 12 meses em barricas de carvalho francês e depois em garrafa, antes de sair para o mercado. Para o Altas Quintas Reserva 2020 entrou Alicante Bouschet, com 50%, Touriga Nacional, com 30% e Syrah, com 20%. A maceração pré-fermentativa foi mais longa, durante 48 horas. A fermentação também decorreu em pequenos lagares de inox com delestage diária e depois ainda uma maceração pós-fermentativa durante três meses. O estágio em barrica contou com 16 meses e mais em garrafa. Para mais tarde ficou a apresentação dos topos de gama da casa, o Reserva-Do e o Obsessão.

A influência da altitude e do carácter da Serra de São Mamede sente-se claramente nestes vinhos, assegurando a sua frescura e o potencial de guarda. Altas Quintas, agora na versão 3.0, está de volta, e em grande.

(Artigo publicado na edição de Dezembro de 2024)

Valle de Passos: O renascer de uma marca

Valle de Passos

O concelho de Valpaços localiza-se no distrito de Vila Real, em Trás-os-Montes, a leste da serra da Padrela, entre os rios Torto e Caldo. Com 31 freguesias e aproximadamente 15.000 habitantes, possui uma altitude média de 600 metros, o que contribui para a produção de vinhos com elevada frescura e mineralidade, fruto também dos seus […]

O concelho de Valpaços localiza-se no distrito de Vila Real, em Trás-os-Montes, a leste da serra da Padrela, entre os rios Torto e Caldo. Com 31 freguesias e aproximadamente 15.000 habitantes, possui uma altitude média de 600 metros, o que contribui para a produção de vinhos com elevada frescura e mineralidade, fruto também dos seus solos graníticos.
A agricultura é uma das principais atividades económicas do concelho. O azeite, a batata, a castanha, o trigo, a fruta e claro, o vinho, são as principais produções agrícolas, sendo também importante a criação de gado. A cultura da vinha e do vinho, para além da importância histórica, assume também uma excecional importância social e económica, pela variedade e relevo das atividades que lhe estão ligadas. O nome de Valpaços, segundo alguns historiadores, é um derivado precisamente do vinho produzido neste vale durante o período Romano, denominado “vinho passum”, que seria um dos grandes vinhos do Império Romano. Daí o nome de vale passum, depois vale passos, hoje Valpaços. Curiosidades históricas que reforçam a aposta do grupo na região, “com o objetivo de fazê-la crescer de uma forma profissional e sustentada, associando o vinho aos enchidos e gastronomia”, reforça o administrador Álvaro Lopes.

A identidade da região

Tudo se iniciou em 2017 com a aquisição da Quinta Dona Adelaide, sala de eventos, ainda hoje palco para esse efeito, que será rebatizada Quinta Valle de Passos, concluindo assim o rebranding. Em paralelo é construído o hotel, cuja abertura coincide com a pandemia, em 2020. A compra da marca Valle de Passos e o lançamento dos primeiros vinhos culmina com a tão aguardada afirmação da presença do grupo Terras & Terroir na região de Trás-os-Montes. “Não conseguimos comprar a quinta e as uvas, mas ficámos com a marca Valle de Passos, identitária da região”, realça Álvaro Lopes. Na calha está previsto, junto ao Olive Nature, a construção de uma adega (neste momento as uvas são vinificadas em Montalegre) e a plantação de vinha própria. Para a criação dos vinhos Valle de Passos foi escolhido o enólogo Francisco Gonçalves, um dos técnicos que melhor conhece os terroirs e as castas de Trás-os-Montes, cuja vasta experiência na região é por demais reconhecida. “Queremos pegar no que é nosso e transportá-lo para a garrafa. Mostrar a identidade da região, pautando pela diferenciação através da utilização das castas que fazem parte dessa mesma identidade”, salienta o enólogo.

Valle de Passos

A Tinta Amarela e a responsabilidade social

Os vinhos são produzidos a partir de uvas adquiridas a viticultores selecionados. São cerca de 10 hectares de vinha, com predominância de Tinta Amarela, alguma Touriga Nacional e Tinta Roriz, enquanto a uva branca provém da freguesia de Carrazedo de Montenegro. A preocupação social é latente, pois trata-se de uma região com baixo rendimento económico, que vive da agricultura e tem muita dificuldade em escoar as uvas. “Pagamos melhor as uvas e ajudamos a alimentar famílias, comprando-as a quem não tem quem as compre”, conta-nos Hugo Fonseca, diretor de produção do grupo. Os primeiros quatro vinhos produzidos têm, por isso, matéria-prima de qualidade, tratada com carinho por quem é da região, com a casta Tinta Amarela como porta-estandarte. É a base de dois tintos e um rosé. O branco é feito de Gouveio, Arinto e Viosinho. “A Tinta, plantada em altitude e nestes solos, permite criar vinhos concentrados, mas simultaneamente leves, com enorme frescura”, destaca o enólogo Francisco Gonçalves. São quatro vinhos de uma boa estreia, que mostram o terroir. “Queremos que sejam vinhos daqui. Tal como os outros que produzimos noutros locais do país, é muito importante que falem o lugar. Esta região está pouco explorada, tem um elevado potencial e somos o primeiro grande grupo a apostar a sério em Trás-os-Montes”, refere Daniel Campos, diretor comercial do grupo. São vinhos gastronómicos, muito frescos, que acompanharam de forma brilhante o almoço preparado com mestria pelo chefe Adão Costa, harmonizando-os com uma seleção de iguarias transmontanas. “É muito importante apresentar qualidade nos vinhos entrada de gama. A base é fundamental para o cliente ficar agradado e querer experimentar novas referências”, remata Álvaro Lopes. E nós concordamos.

Nota: O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

(Artigo publicado na edição de Dezembro de 2024)

ENOTURISMO: ALIANÇA UNDERGROUND MUSEUM

Enoturismo Aliança

A história da Região da Bairrada remonta a tempos antigos, com evidências sólidas de ocupação humana desde a pré-história. Ao longo dos séculos, esta região encantadora tem sido moldada e influenciada por uma miríade de povos e culturas fascinantes. Desde tempos imemoriais, romanos, visigodos e mouros deixaram a sua marca indelével na rica tapeçaria cultural […]

A história da Região da Bairrada remonta a tempos antigos, com evidências sólidas de ocupação humana desde a pré-história. Ao longo dos séculos, esta região encantadora tem sido moldada e influenciada por uma miríade de povos e culturas fascinantes. Desde tempos imemoriais, romanos, visigodos e mouros deixaram a sua marca indelével na rica tapeçaria cultural da Bairrada. No entanto, não se pode falar sobre esta parte do mundo sem mencionar a tradição de produção de vinho que floresceu nas suas encostas ensolaradas.
A Bairrada situa-se na região centro de Portugal, entre o rio Vouga e o rio Mondego, abrangendo parte dos distritos de Aveiro, Coimbra e Leiria. Com um clima mediterrânico, apresenta invernos suaves e verões quentes e secos. É caracterizada por uma paisagem diversificada, com planícies, colinas e densas florestas de carvalhos. O clima ameno e a proximidade ao oceano Atlântico contribuem para as suas condições ideais para o cultivo das vinhas, sendo que a altitude média, de 200 metros, também influencia a maturação das uvas, resultando em vinhos de qualidade singular.
As vinhas da Bairrada existiam na Idade Média, quando o vinho que originavam era valorizado como um tesouro inestimável, tendo a região desempenhado um papel importante nas rotas comerciais de vinho que percorriam a Europa. A história desta região é verdadeiramente fascinante, e cada pedaço do seu solo conta estórias de uma época passada, que continuam vivas ainda hoje na sua tradição vitivinícola.

A ORIGEM
A influência de diferentes culturas e tradições moldou significativamente a paisagem desta região, dando origem a uma variada e abrangente gama de práticas e técnicas de vinificação. Da influência romana à moura, da era das grandes explorações marítimas ao período de industrialização, diversos acontecimentos moldaram as características e a identidade única dos vinhos Bairrada. Atualmente, a região é conhecida tanto pelas suas tradições enraizadas, quanto pela busca constante por inovação e excelência. Os viticultores da Bairrada preservam as técnicas tradicionais de cultivo e vinificação, ao mesmo tempo que adotam tecnologias de ponta e práticas sustentáveis. Isso traduz-se na produção de vinhos reconhecidos nacional e internacionalmente. A utilização de castas autóctones, aliada ao saber fazer dos viticultores locais, dá origem a vinhos distintos e autênticos, com equilíbrio e aromas complexos. A diversidade do terroir bairradino, com solos argilosos e calcários, contribui para o caráter único e a expressão de cada vinho produzido na região.

TERRAS E TERROIRS
Com as suas colinas ondulantes e vales férteis, a região possui uma beleza natural incomparável. Com condições de solo únicas, a Bairrada oferece um ambiente propício para a produção de vinhos com caráter autêntico. A combinação entre as características geográficas e as condições do solo dá origem a vinhos de sabores e aromas únicos, que os tornam verdadeiramente especiais.

Além disso, a orografia da Bairrada desempenha um papel fundamental na proteção das vinhas, com as suas colinas a abrigarem-nas contra ventos fortes, proporcionando um ambiente mais estável para o seu cultivo. Essa proteção natural contribui para a qualidade e a maturação adequada das uvas. Com verões quentes e invernos amenos, as vinhas desfrutam das melhores condições para o seu desenvolvimento equilibrado ao longo de todo o ano, originando vinhos que combinam harmoniosamente acidez, doçura e complexidade aromática. Em resumo, a paisagem diversificada, as condições do solo e a proximidade ao oceano Atlântico fazem da Bairrada uma região vitivinícola verdadeiramente única. Possuidora de castas intrigantes e complexas de diferentes cores, aromas e sabores, esta região é um caso internacional sério pela longevidade dos seus vinhos, com saliência para os da casta Baga, a joia da coroa da Bairrada. São encorpados e distintos, com uma acidez equilibrada que confere frescor e uma grande capacidade de envelhecimento. Nas tintas destacam-se também a Touriga Nacional, Castelão, Alfrocheiro, Merlot, Cabernet Sauvignon e Pinot Noir, entre outras. Nas castas brancas destacam-se a Maria Gomes, Bical, Arinto, Cercial e Chardonnay.
A par dos vinhos, a Bairrada é também conhecida por ter uma das Sete Maravilhas da Gastronomia Portuguesa, o Leitão à Bairrada, que origina um caso sério de peregrinação, diria de paragem obrigatória a quem passa perto, para o degustar. Recordo-me bem dessa paixão existir na minha família, que nunca deixava de fazer uma pausa para isso em qualquer deslocação ao Sul. E até mesmo quando as saudades batiam, lá estávamos a degustar o delicioso pitéu num dos bons restaurantes que ficam naqueles “sagrados” cinco km da Estrada Nacional 1, que abrangem os territórios dos concelhos da Mealhada e de Anadia.

A Bairrada é realmente um território abençoado, também pela sua tradição de produzir espumantes com grande carácter, muitos deles com base na sua principal casta tinta, a Baga, o que faz dela um destino único, que me faz feliz. Calcorrear o território em qualquer dos bons “cantos” da região e ouvir a frase celestial, “Vamos beber uma tacinha?”, não se experiencia em mais lado nenhum de Portugal.
Na Bairrada sinto-me em casa. Ao virar da esquina encontro produtores de espumante de nível internacional, o que me enche de orgulho e faz-me voltar constantemente. Imbuído na necessidade de ser feliz e com o sentimento impregnado de saudade de néctares que me preenchem o corpo e a alma, decidi rumar à Bairrada para visitar um dos produtores mais icónicos da Região, diria do país, as Caves Aliança, atualmente designada de Aliança Vinhos de Portugal.

ARTE, VINHO E PAIXÃO
As caves Aliança foram fundadas, em 1927, por 11 associados, com o objetivo produzir vinhos de qualidade na região da Bairrada. A empresa passou por diversas fases de crescimento e expansão ao longo das décadas, tornando-se numa das maiores e mais respeitadas adegas da região. Os investimentos realizados em tecnologia e inovação permitiram-lhe aumentar a sua capacidade produtiva e a qualidade dos seus vinhos, consolidando a sua posição no mercado nacional e internacional.

Em 2007 foi adquirida pelo Grupo Bacalhôa, que percebeu o seu potencial de desenvolvimento e crescimento. Para além da profissionalização e da inovação nos produtos e serviços, sem nunca perder de vista a essência e a patine que as caves possuíam, mudou o nome da empresa para Aliança Vinhos de Portugal, salientando assim a sua vocação exportadora, como salienta Paulo Costa, administrador da Bacalhoa Enoturismo, S.A. Mas para integrar um mercado tão competitivo como o dos vinhos e desenvolver atividade de enoturismo, havia que ser inovador e disruptivo. “Neste contexto, a inclusão de momentos culturais traria o toque da diferenciação que procurávamos”, refere. Assim, face ao amor pela arte e cultura e a paixão incontrolável por colecionar de Joe Berardo que, ao longo da sua vida, reuniu muitas peças únicas, algumas relacionadas com a história e cultura portuguesa, o Grupo Bacalhôa decidiu, em boa hora, integrar um espólio significativo de peças dessa coleção nas caves, para constituir o Aliança Underground Museum, desde 2010 um dos projetos mais inovadores de Portugal. Na realidade, “o que se pretende com este empreendimento é que seja conhecido, além-fronteiras, pelo seu caracter distintivo e diferenciador e pela sua simbiose perfeita entre vinhos, arte e cultura, para ser capaz de atrair mercados internacionais”, afirmou orgulhosamente e de forma muito sentida Paulo Costa.

Em conversa fluída, este administrador confessou-me que o Enoturismo é um desafio que nunca pensou experienciar, pois tinha funções noutra área. Abraçou o desígnio de gerir toda atividade com algum ceticismo pessoal, que rapidamente se transformou em paixão. O Grupo Bacalhôa tem já uma forte tradição e experiência nesta atividade, com resultados muito positivos quer na promoção e comercialização de vinhos, quer sobretudo na dinamização das unidades que constituem o Grupo – Bacalhôa Vinhos de Portugal, Aliança Vinhos de Portugal, Quinta do Carmo e o Bacalhôa Buddha Eden (somente visitas).
Ao longo dos anos, o acervo foi crescendo e tornou-se num verdadeiro tesouro para a preservação da identidade do país. O espaço conta com oito coleções permanentes, que envolvem áreas como a arqueologia, etnografia, mineralogia, paleontologia, azulejaria, cerâmica e estanhos de múltiplas origens e espécies, num encontro de povos, lugares, crenças e culturas em perfeita simbiose com os vinhos, espumantes e aguardentes produzidos pela empresa, um verdadeiro êxtase de cultura e vinhos. Além disso, as caves promovem regularmente eventos culturais, como concertos, exposições temporárias e espetáculos de dança, sendo um polo de difusão cultural na região.

Através do apoio à arte e à cultura, as Caves Aliança contribuem significativamente para a preservação e promoção da identidade portuguesa, enriquecendo a experiência dos visitantes e fortalecendo os laços com a comunidade local. É neste quadro conceptual que a Aliança Vinhos de Portugal oferece uma experiência de enoturismo completa, incluindo visitas guiadas pelas instalações, onde as pessoas podem aprender a história destas caves até ao dia de hoje, o processo de produção vinho e a importância da região na qualidade dos produtos vínicos finais. Além disso, os turistas podem participar em degustações dos vinhos da Aliança Vinhos de Portugal, tendo uma imersão completa no universo Vitivinícola da região. As visitas são todas orientadas por profissionais formados e capacitados para garantir uma experiência enriquecedora e inesquecível aos visitantes.
Em tom de “provocação”, questionei se estava perante um Museu com Adega ou uma Adega com Museu? “É claramente uma Adega com Museu”, disse, de forma perentória, o enólogo Francisco Antunes, diretor de enologia da Aliança Vinhos de Portugal desde 1993 e responsável pelos vinhos das regiões dos Vinhos Verdes, Douro, Beira Interior, Dão e Bairrada do Grupo Bacalhôa, assim como dos vinhos espumantes e das aguardentes. A Aliança Vinhos de Portugal possui um espaço museológico, onde as galerias que formam as caves de vinhos partilham o espaço com as obras com tempo e sabedoria, esclarece.

“O Aliança Underground Museum tem, sobretudo, a capacidade natural de transportar os visitantes para vários palcos culturais do mundo, na prática para o imaginário universal”, explica Paulo Costa com a convicção de que a empresa contribui decididamente para a imagem positiva e de qualidade da oferta de enoturismo da região e do país.
Mas a atividade de enoturismo só é possível com a preocupação constante de elaborar vinhos de grande nível e de tipologia diversificada, respeitando o passado com a visão necessária e adequada, para ganhar o presente sem nunca descurar o futuro, a médio e longo prazo. Neste âmbito, a Aliança apresenta um portefólio de vinhos diversificado que está ao dispor de quem visita o espaço. Tudo é possível provar. Aqui o cliente é o protagonista da história.

Enoturismo Aliança

CONHECIMENTO E PRAZER
A visita inicia-se na Sala das Artes, onde se realiza a apresentação da empresa e do que os visitantes vão usufruir. Mal se entra nas caves percebe-se, de imediato, que o visitante vai ser elevado para o imaginário, já que a experiência de imersão em obras de arte desperta emoções e proporciona reflexões sobre outras vivências e tradições. O ambiente de um museu convida frequentemente à contemplação, estimulando a imaginação e permitindo uma conexão profunda com diferentes épocas, culturas e ideias.
O percurso desenrola-se por várias coleções: Arqueológica, Etnográfica Africana, Escultura Contemporânea do Zimbabué, Minerais, Paleontológica, Azulejaria, Cerâmica das Caldas e Índia, com realce para as peças únicas e irrepetíveis de Bordalo Pinheiro. Mas as caves servem sobretudo para que os vinhos adormeçam ao som do silêncio, do tempo e da sabedoria.
O mundo maravilhoso dos vinhos em estágio é, de facto, uma experiência sensorial e poética, onde as barricas de carvalho transmitem histórias silenciosas e profundas. Cada uma carrega consigo o mistério do tempo, da transformação e da paciência.

O vinho que repousa nelas não amadurece apenas fisicamente. Também adquire camadas de significado e simbolismo que traduzem o terroir e a sabedoria da enologia. O aroma amadeirado, o ambiente sereno e o conhecimento de que o vinho está em constante metamorfose sugerem uma reflexão sobre a passagem do tempo e a arte da criação. Cada visitante, ao observar as barricas, pode ter sua própria interpretação, criando pensamentos únicos e imaginativos, inspirados pelas promessas de sabor e história que o vinho em estágio guarda. É o que sinto quando atravesso a sala das barricas que guardam os oitocentos mil litros de aguardente, uma visão única que só se pode encontrar aqui.

A Aliança Vinhos de Portugal possui, ainda, cerca de milhão e meio de garrafas de vinho, 70% das quais são espumantes que aguardam pacientemente a sua abertura. São verdadeiras joias líquidas em preparação, à espera do momento certo para se revelarem. O processo de segunda fermentação em garrafa, método clássico que ocorre nestas caves silenciosas, é quase uma dança invisível entre o tempo e a matéria, onde cada bolha captura o espírito da celebração. A paciência envolvida na sua criação reflete o cuidado e a dedicação do enólogo, que compreende que o tempo é o ingrediente essencial para a perfeição. Assim, cada garrafa de espumante é uma obra-prima, aguardando o instante ideal para brindar a vida com sua essência vibrante e inesquecível.

A visita culmina na loja, onde se tem a oportunidade de vivenciar de perto toda a beleza enológica dos vinhos, agora tangível, impregnada de tradições, usos e costumes. Neste espaço, cada garrafa torna-se um reflexo da herança cultural que a moldou, oferecendo não apenas um produto, mas uma conexão direta com a história e os terroirs da região.
A Aliança Vinhos de Portugal, com as suas caves e o museu, oferece uma experiência singular que une vinho, arte e cultura em perfeita harmonia. É um verdadeiro templo do tempo, onde o passado, o presente e o futuro se encontram. Cada barrica e cada garrafa repousa sob a inspiração de obras de arte cuidadosamente selecionadas, transformando a experiência de degustação e prova em algo que transcende o paladar, chegando ao imaginário e à sensibilidade de quem vivencia o local. Não se limita a proporcionar degustações, mas também experiências sensoriais profundas, onde cada visita é uma celebração da vida, do conhecimento e da beleza. É a espetacularidade de um encontro entre o mundo enológico e as artes, elevando a experiência a uma dimensão verdadeiramente memorável.

Enoturismo Aliança

CADERNO DE VISITA

COMODIDADES
– Kids friendly
– Línguas faladas: espanhol, inglês e francês
– Loja de vinhos
– Várias Salas de provas (16 a 100 pax)
– Várias Salas de refeição em regime exclusividade (20 a 300 pax)
– Parque para automóveis – 70 viaturas e três autocarros
– Provas comentadas (ver programas)
– Turismo acessível
– Wifi disponível
– Visita às vinhas (a pedido)

EVENTOS
– Eventos familiares (casamentos, batizados, aniversários)
– Eventos corporativos
– Atividades team building

ALIANÇA UNDERGROUND MUSEUM

OPÇÃO 1 – 6 € p/pessoa
Visita Guiada à exposição Aliança Underground Museum
Duração 01h30
Grátis para crianças até aos 12 anos de idade (inclusive)
Requer número mínimo de 2 participantes

OPÇÃO 2 – 8 € p/pessoa
Visita Guiada ao Aliança Underground Museum
Pãezinhos recheados com Leitão (2 unidades por pessoa)
Flute de Espumante ALIANÇA
Duração 01h30
Requer número mínimo de 2 participantes

OPÇÃO 3 – 27 € p/pessoa
Visita Guiada ao Aliança Underground Museum
Sandes de Leitão (Duas unidades por pessoa)
Espumante Aliança Baga Bairrada Reserva Bruto
Espumante Aliança Reserva Tinto Bruto
Duração 02h00
Crianças até aos 12 anos de Idade (50% desconto)
Requer número mínimo de 10 participantes

DIAS – Segunda a Domingo (encerra 1 de janeiro, 25 de dezembro)
IDIOMAS – Português, Inglês, Espanhol e Francês
Requer marcação prévia por telefone, fax ou e-mail. Sujeito a confirmação.

AVENTURE-SE NO MUNDO VÍNICO…

MOMENTO BAIRRADA – 20 € p/pessoa
Aliança Bairrada Reserva Branco
Aliança Bairrada Reserva Tinto
Espumante Aliança Baga Bairrada Reserva Bruto

O MUNDO EFERVESCENTE DO ESPUMANTE – 20 € p/pessoa
Espumante Aliança Grande Reserva Bruto
Espumante Aliança Baga Bairrada Reserva Rosé Bruto
Espumante Aliança Baga Bairrada Reserva Bruto

FRESCURA, CORPO E REQUINTE… – 25 € p/pessoa
Espumante Aliança Baga Bairrada Reserva Bruto
Aliança Baga Clássico Tinto Bairrada
Aguardente Antiquíssima Reserva

À CONVERSA COM… – 25 € p/pessoa
Espumante Aliança Baga Bairrada Reserva Bruto
Bacalhôa Moscatel Roxo 5 anos
Aguardente Antiquíssima Reserva

CASTAS IMIGRANTES – 25 € p/pessoa
Bacalhôa Greco di tufo Branco
Bacalhôa Chardonnay Branco
Bacalhôa Syrah Tinto
Bacalhôa Merlot Tinto

BACALHÔA PREMIUM – 25 € p/pessoa
Quinta da Bacalhôa Tinto
Quinta da Bacalhôa Branco
Bacalhôa Moscatel de Setúbal Superior

QUINTAS À PROVA – 25 € p/pessoa
Aliança Baga Clássico Tinto Bairrada
Quinta Quatro Ventos Reserva Douro Tinto
Bacalhôa Touriga Nacional Dão Tinto
Quinta da Terrugem Alentejo Tinto

…CASTAS E PERSONALIDADES – 25 € p/pessoa
Bacalhôa Verdelho Branco
Bacalhôa Roxo Rosé
Aliança Baga Clássico Tinto Bairrada

ALIANÇA – “A VELHA AMIGA DE TODOS OS DIAS” – 25 € p/pessoa
Aguardente Aliança Velha
Aguardente Antiqua
Aguardente Antiquíssima Reserva

BACALHÔA SUPER PREMIUM – 35 € p/pessoa
Palácio da Bacalhôa Tinto
Berardo Reserva Familiar Greco di tufo Branco
Bacalhôa Moscatel Roxo Superior

ALIANÇA EXTRA OLD – 35 € p/pessoa
Aguardente XO 10 Anos
Aguardente XO 20 Anos
Aguardente XO 40 Anos

Condições gerais
Provas – definidas para grupos mínimos de 2 pessoas e máximo de 30. Prova comentada por um técnico de Enoturismo. Visita Guiada ao Aliança Underground Museum – Duração – 02h00. Requer marcação prévia (mínimo 24 horas) por telefone ou correio eletrónico. Sujeito a confirmação. Nota: Suplemento Queijo e enchidos: 12 € p/pessoa.

ALIANÇA DE EXPERIÊNCIAS
Uma viagem pelo ALIANÇA UNDERGROUND MUSEUM com experiência vínica ao longo do percurso de quase 1,5 km … 40 € p/pessoa.
• O início de uma viagem pelos túneis subterrâneos onde se respira tradição, história e memórias, e… o encontro de uma surpresa borbulhante! PROVA Espumante Aliança Grande Reserva Bruto com Amêndoa Torrada
• Continuaremos à prova dos sentidos… entre barricas terá a oportunidade de conhecer a casta Baga e o potencial desta região vínica. PROVA Aliança Baga Clássico Tinto com Mini pãezinhos de Leitão
• Termine a sua viagem num local único e imponente. Na Cave de Aguardentes aqueça a alma, sinta os aromas e deixe-se seduzir por 40 anos de história. PROVA Aliança XO 40 Anos com Chocolate negro.

Condições gerais
A atividade decorre em espaço museológico. Definida para grupos mínimos de 10 pessoas e máximo de 100. Orientada por um técnico Enoturismo. Duração 02h00. Requer marcação prévia por correio eletrónico. Sujeito a confirmação

SER ENÓLOGO POR UM DIA
Deixe-se levar pela sua intuição e crie o seu lote de vinho – € 45 p/pessoa
Durante o percurso de visita ao ALIANÇA UNDERGROUND MUSEUM, os participantes serão convidados a encarnar o personagem de um enólogo, com várias tarefas envolvidas… Em constante movimento, aprendizagem e dinâmica os participantes colocam à prova o espírito de equipa.
• Após formação de equipas, é dado a conhecer o Universo do Grupo Bacalhôa, que a Aliança integra desde 2007, e o desafio …
• Terminada a viagem pelo Museu, é proposto o desafio final. É hora de preparar um grande lote de vinho a partir dos monovarietais provados, escolher um nome, criar um rótulo e uma estratégia de marketing para apresentar ao potencial cliente.
• Os premiados são…

Condições gerais
Definida para grupos mínimos de 10 pessoas e máximo de 100. Orientada por um técnico Enoturismo. Visita Guiada ao Aliança Underground Museum. Duração 03h00. Requer marcação prévia por correio eletrónico. Sujeito a confirmação

LOJA DO VINHO
“O local ideal para realizar as suas compras pessoais e profissionais”, um espaço acolhedor onde pode encontrar uma vasta gama de vinhos, espumantes, aguardentes e moscatéis das empresas do Grupo: Aliança, Bacalhôa e Quinta do Carmo. Aberta de segunda a domingo (encerra 1 de janeiro e 25 de dezembro). Horário: 10h00 – 13h00; 14h00 – 18h30.

CONTATOS ENOTURISMO
Sónia Oliveira. Tel.: 234 732 045, Tm: 916 483 544, E-mail: sonia.oliveira@bacalhoa.pt, E-mail: visitas@alianca.pt.

SITE
www.alianca.pt

COMO CHEGAR (A1)
Partida de Lisboa (Cerca de 232 Km) – Saída 14 (Mealhada / Anadia) | Siga em direção a Anadia / Aveiro (N234 – IC2) | Na localidade da Malaposta (rotunda), deverá seguir as indicações para Aveiro (N235) até à saída para Sangalhos.
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QUINTA DO QUETZAL: Deus do Ar, da Terra e da Vinha da Coroa!

Quinta do Quetzal

O Quetzal é uma das aves mais belas do continente americano, sagrada para todas as culturas mesoamericanas, porque neste animal se fundem o céu e a terra. Em várias das suas línguas, o termo pode também significar “precioso” ou “sagrado”. As penas verdes iridescentes na cauda simbolizavam igualmente o crescimento das plantas na Primavera para […]

O Quetzal é uma das aves mais belas do continente americano, sagrada para todas as culturas mesoamericanas, porque neste animal se fundem o céu e a terra. Em várias das suas línguas, o termo pode também significar “precioso” ou “sagrado”. As penas verdes iridescentes na cauda simbolizavam igualmente o crescimento das plantas na Primavera para os Aztecas e Maias, que viam o Quetzal como o “Deus do Ar” e um símbolo de bondade e luz.
A Quinta do Quetzal fica no coração da região do Alentejo, nas encostas da Vidigueira e nas imediações da mais antiga adega romana do Sudoeste da Península Ibérica. O seu microclima e as suas colinas criam as condições ideais para um terroir único, distinto da típica propriedade alentejana. Os solos xistosos, as diferentes exposições solares e altitudes, permitidas pela topografia em colina, e as áreas plantadas com vinhas velhas, formam uma combinação única no cenário da planície alentejana.
A região da Vidigueira é solarenga e quente. Mas, por estar no sopé Sul da Serra do Mendro, beneficia de ventos frescos veiculados pela serra a partir do oceano Atlântico. Estas condições, que se traduzem em elevadas amplitudes térmicas diárias, dão às plantas o calor que precisam para amadurecer as uvas e o fresco para recuperarem. A sua qualidade, aliada a um trabalho de enologia alicerçado na experiência e no conhecimento profundo de cada planta que compõe os 52 hectares de vinha, permite produzir vinhos que expressam verdadeiramente o carácter da região envolvente.

O vinho da empresa estagia no subsolo a uma temperatura naturalmente fresca, e ao som de uma instalação site-specific de Susan Philipsz.

 

A colecção da família

Como elemento fundamental da experiência Quetzal foi criado, de raiz, o edifício que inclui o restaurante, a loja e o Centro de Arte. O xisto que reveste as suas paredes destaca-se e integra-se com fluidez na paisagem envolvente, enquanto o espaço circundante foi concebido para incorporar plantas nativas naturais, de modo a maximizar a experiência do habitat natural do Alentejo.
Cees e Inge de Bruin são colecionadores e patrocinadores de arte contemporânea. Mantêm, há mais de 40 anos, juntamente com a família, uma forte ligação a Portugal. O projecto da Quinta do Quetzal expressa a sua paixão pela cultura, natureza, gastronomia e vinhos portugueses, que gostam de partilhar.

Todos os anos, em colaboração com a sua filha, Aveline de Bruin, organizam uma nova exposição na propriedade, em que o ponto de partida é a colecção privada da família (Coleção de Bruin-Heijn) e as suas ligações ao mundo da arte. Até final do passado mês de Setembro, a exposição colectiva “Echoes of Our Stories” (Ecos das Nossas Histórias) reuniu obras de Claudia Martínez Garay, Diana Policarpo, Jennifer Tee, Agnes Waruguru e Müge Yilmaz. As cinco artistas contaram histórias que nos fazem olhar para o mundo à nossa volta de maneira diferente da perspetiva ocidental dominante e nos ajudam a compreender esse mundo. Elas propuseram novas cosmovisões, alternativas espirituais, curativas e futurísticas, nas quais as rígidas dicotomias humano-natureza, acima-abaixo e centro-margem foram subvertidas.

Mas o Centro de Arte Quetzal também apresenta duas instalações site-specific de Susan Philipsz: “Tomorrow’s Sky” (O Céu de Amanhã) e “Sleep Close and Fast” (Dorme Perto e Profundamente), ambas de 2019, revestindo, a primeira, de elevado valor sentimental e motivo de especial orgulho para Inge de Bruin, assim como, hoje, para os seus filhos. Sobre esta peça, a sua autora salienta que o “pássaro Quetzal é o símbolo desta vinha e uma das características da paisagem envolvente é o seu vazio e silêncio”, acrescentando que imaginou, nesta instalação sonora em três canais, “o pássaro conjurado pelo som, abrindo as suas asas sobre a paisagem ao mesmo tempo que esta se funde com o som”.

Surpresa durante o silêncio

Em frente do Centro de Arte, e do restaurante, com a sua janela imensa, no topo da colina da Vinha da Coroa, com as três árvores, a instalação de som começa a cada dez minutos, surpreendendo quem por lá fica a desfrutar do silêncio e a contemplar a serra do Mendro, a Vidigueira, Vila de Frades, a Ermida de Nª Senhora de Guadalupe e, em dias mesmo limpos, a própria cidade de Beja. Foi neste contexto de arte, vinha e beleza natural que fomos recebidos por Reto Jörg, director geral da Quinta do Quetzal, José Portela, enólogo, e Ricardo Tavares, director comercial.

Todos os vinhos da Quinta do Quetzal são produzidos exclusivamente com uvas próprias, numa propriedade dividida em parcelas que definem o carácter da uva juntamente com as suas diferentes exposições solares e tipos de solo, desde os pobres de granito, ao abundante xisto e às terras mais férteis e planas, com alguma argila e algo arenosas.

A propriedade foi adquirida no ano de 2001 e estabelecida por Cees e Inge de Bruin em 2003. Hoje, totaliza 52 hectares de vinha, 70% dos quais com castas tintas (Trincadeira, Aragonez, Touriga Nacional, Touriga Franca, Cabernet Sauvignon, Alfrocheiro, Alicante Bouschet, Syrah e Petit Syrah) e 30% com brancas (Antão Vaz, Arinto, Verdelho e Roupeiro). Destacam-se cerca de 2,5 hectares de vinhas velhas (com mais de 40 anos), que se caracterizam por uma baixa produção, resultando numa forte concentração de aromas, e cerca de 30 hectares de vinhas com idade avançada (com cerca de 20 anos), que se caracterizam por uma produção de uva moderada e espelham, de forma fiel, o terroir da Vidigueira.

Som de embalar na cave de barricas

Na moderna adega, as uvas são introduzidas, pela pura ação natural da gravidade, num processo de vini¬ficação, que abrange cinco pisos, para reduzir o seu manuseio mecânico e a possibilidade de oxidação. O vinho que originam pode envelhecer gradualmente nas caves que se localizam no subsolo, a uma temperatura naturalmente fresca e ao som da segunda instalação site-specific de Susan Philipsz.

A ideia de “Sleep Close and Fast”, instalação de som de canal único, surgiu depois de Susan ter tido conhecimento que se tocava música para as barricas da Quinta do Quetzal, enquanto o vinho nelas estagiava. “Pensei que esta era uma ideia bonita e assim surgiu, imediatamente, o propósito de cantar uma canção de embalar para as barricas”, explica.
A enologia está a cargo de José Portela, enólogo residente desde o início, que mostra um conhecimento profundo e detalhado do Quetzal, que teve Paulo Laureano, primeiro, e Rui Reguinga, depois, como enólogos consultores. Da vindima de 2024, já finalizada aquando da nossa visita, destacou as boas produções das uvas brancas, na ordem das 6/7 ton/ha, “o bom desempenho da Alfrocheiro, Syrah e Petit Syrah e a boa concentração da Aragonez”. Apenas o Alicante Bouschet se ressentiu “do escaldão da segunda quinzena de Agosto”, e “não houve problemas de grau nem de açúcares.”

A Quinta do Quetzal oferece um portefólio diversificado. Começa nos vinhos Guadalupe, que oferecem um excelente equilíbrio entre elegância e frescura nas suas variedades branca, rosé e tinta, e constituem uma boa escolha em termos de custo-benefício, ideais para o consumo diário. Os Guadalupe Winemakers Selection, nas suas versões branca e tinta, oferecem uma complexidade subtil, tendo sido envelhecidos em barricas usadas. Acrescem duas edições especiais, o Quinta do Quetzal rosé, monovarietal de Trincadeira da Vinha da Coroa, e o Quinta do Quetzal Terroir branco, um single-vineyard de Arinto e Roupeiro, com 15 dias de maceração pelicular e envelhecimento em barricas de acácia.
O Quinta do Quetzal Brut é um espumante fresco e elegante, elaborado através do método tradicional a partir de um lote das castas Arinto, Antão Vaz e Perrum, com estágio de 24 meses sobre borras.

Os ícones da propriedade

Os vinhos Reserva representam a porta de entrada da gama Premium da Quinta. São elaborados a partir das melhores uvas selecionadas nos vinhedos da propriedade e envelhecidos em barricas novas de carvalho francês. Os vinhos Família são os ícones da propriedade, produzidos exclusivamente em anos de qualidade excepcional. Longamente amadurecidos, estes vinhos de edição limitada estão disponíveis em garrafas numeradas, reflectindo o compromisso inabalável da família com a sua visão de produzir vinhos ¬elegantes, que se juntam a arte e gastronomia de excepção.

Por fim, a gama Quetzal Rich constitui a oferta fortificada da Quinta, feita à moda do vinho do Porto através de fortificação com aguardente vínica com 77% de álcool. Nas suas versões Rich White, é produzido a partir de uvas Antão Vaz. Na Rich Red, a partir de Alicante Bouschet, sendo ambos envelhecidos em barricas de carvalho francês durante 16 meses.
“A ciência descreve as coisas como são; a arte, como são sentidas, como se sente que são”, disse um dia Fernando Pessoa. Talvez seja isto mesmo a experiência Quetzal, a maneira como a família de Bruin sente a Vidigueira, o Alentejo, o vinho e a gastronomia, a propriedade. Nada mais nada menos que a sua representação artística. Brindemos, pois!

(Artigo publicado na edição de Dezembro de 2024)