Passarella: Uma estrela à beira da serra

Casa da Passarella

Uma recente visita à Casa da Passarella permitiu-nos conhecer melhor a evolução desta casa que, embora de história mais do que centenária (já fazia vinhos em 1893), só atingiu o estrelato junto dos apreciadores na última década, com novo proprietário e outras ambições.  Há muitas novidades na Passarella, não apenas vínicas mas também turísticas, dois […]

Uma recente visita à Casa da Passarella permitiu-nos conhecer melhor a evolução desta casa que, embora de história mais do que centenária (já fazia vinhos em 1893), só atingiu o estrelato junto dos apreciadores na última década, com novo proprietário e outras ambições.  Há muitas novidades na Passarella, não apenas vínicas mas também turísticas, dois elementos que, como se sabe, estão cada vez mais ligados.

 Texto: João Paulo Martins

Fotos: O Abrigo da Passarela

A Casa da Passarella está localizada num imenso planalto que antecede as subidas várias à serra da Estrela, passando por Gouveia, subindo ao Sabugueiro para aí aproveitar a natureza ondulante, quem sabe para um passeio arejado à beira de riachos e de caminhos com muita hortelã, a enriquecer o ar, já de si, bastante puro. Os vinhos aqui produzidos têm estampado no rótulo a sub-região Serra da Estrela, o que subentende um conjunto de características que remete para diversos produtores, uns bem conhecidos, como Álvaro de Castro, outros menos. Já se sabia, desde há muito, da valia dos vinhos da Passarella, com fama de décadas na produção de néctares muitas vezes comercializados a granel para grandes casas engarrafadoras. É uma grande propriedade, com vinhas dispersas por zonas diferentes, e com idades distintas, sistemas de condução variados, castas conhecidas e desconhecidas, umas nacionais, outras nem tanto. À fama de outrora, até aos anos 70 do século passado, seguiu-se um período em que a decadência parecia inevitável. Em boa hora foi adquirida pela família Cabral em 2008 e o novo proprietário deitou mãos a obra para recuperar a casa e as vinhas. A encimar a propriedade temos a casa, já completamente restaurada (um trabalho exemplar…) e pronta para se tornar, em breve, um hotel. Dizer que é de charme é muito pouco. Aqui todo o charme vem da própria arquitectura, da variada decoração de paredes e tectos que foram deixados intactos e apenas cuidadosamente recuperados. A decoração e os interiores seguem dentro de momentos. Daqui se vislumbra um mar de vinhas, ainda que só se abranja com o olhar uma parte dos vinhedos que completam 60 hectares. Ao arranjo e decoração dos interiores segue-se todo o arranjo exterior que irá tornar o local num ponto de paragem obrigatório para quem quiser conhecer o Dão e os vinhos da Serra da Estrela.

passarella estrela da serraManter, renovar ou arrancar?

Do ponto de vista do trabalho de viticultura e enologia, aqui estamos no céu, tal o manancial à disposição de Paulo Nunes, o enólogo que lidera este projecto desde que foi abraçado pelo novo proprietário. Na visita rápida que fizemos às vinhas, percebemos que as decisões tomadas foram arriscadas mas compensaram. Paulo explica que uma das vinhas velhas estava já com um projecto Vitis aprovado e iria ser arrancada em breve; à súplica do enólogo que pediu “só mais uma vindima” para ver o que dava, o Céu e os Deuses ouviram as preces e contemplaram o enólogo com uma colheita de 2008 de qualidade excepcional que acabou por justificar a manutenção da vinha. Produzia pouco? Pouco mecanizável? Castas esquisitas? Sim, isso tudo, mas dali vem agora um vinho emblemático da casa. O desafio passou muito por aqui, por manter o que era de manter, num trabalho enorme de preservação. Neste caso, de património cultural, não haja qualquer dúvida.

Na continuação da visita fomos ver as vinhas escondidas atrás de pinheiros e castanheiros, as formas de condução já caídas em desuso (“à morcela”) ou de reprodução (por mergulhia). Isto tudo sem deixar de ver as novas “folhas de vinha”, de moderna implantação e as vinhas do vizinho (vamos chamar-lhe sr. Manuel…) que fazem a cobiça de Paulo. Quando ali passámos, lá andava o sr. Manuel a tratar da vinha e Paulo comentou que “anda aqui todos os dias, trata disto como um jardim e temos uma óptima relação; já me disse que, entanto puder, irá continuar a tratar assim e entregar as uvas na adega cooperativa”. Nem com a proposta de lhe pagar o dobro, e a pronto, o sr. Manuel se comoveu; a ligação à cooperativa é um compromisso pessoal, fidelidade é isto…

Nos vinhedos ainda se encontra muita Tinta Roriz, uma casta que é verdadeiramente o “ódio de estimação” de Paulo Nunes que insiste não conhecer nenhum varietal daquela casta que mereça crédito. Por enquanto ela ainda lá está e tem sido usada para encomendas especiais, nomeadamente vindas de fora. A par dela, nas vinhas velhas circulam muitas outras castas, algumas impossíveis de identificar por não constarem em qualquer colecção ampelográfica, como se verá na descrição mais pormenorizada dos vinhos provados.

Novos vinhos e segredos por revelar

Provamos dois novos vinhos brancos, o Descoberta 2021, de que se fazem 60 000 garrafas. No lote entram Encruzado, Verdelho, Malvasia Fina e Barcelo. É um dos vinhos que mais depressa esgota, sendo habitual a ruptura de stock ao fim de dois meses. Não existem, no entanto, perspectivas de aumento significativo da produção. O Abanico 2021 tem origem em vinhas velhas com castas misturadas, sendo o lote completado com Encruzado e Bical. A produção atinge as 13 300 garrafas. Fermenta com leveduras indígenas e, após a fermentação, o estágio decorre em barricas e balseiros usados. A procura elevada exige uma pré-alocação do vinho para que chegue aos clientes habituais. Do Curtimenta branco só se fizeram 1990 garrafas. Vem de uma vinha velha onde têm as uvas com mais acidez. Feito em cuba de cimento com engaço total (3 semanas) onde faz também a maloláctica. Depois vai para barrica usada de 500 litros. Este branco recria o estilo antigo, já que era esta a forma como eram feitos todos os brancos da Passarella.

O Descoberta rosé corresponde a 13 000 garrafas. Tem Touriga Nacional, Jaen e Tinta Roriz. Fazem duas passagens de vindima nestas parcelas, uma parte vai para base de espumante e outra para rosé; o lote final acaba por ser a junção das duas vindimas.

Nos tintos provámos O Enólogo Vinhas Velhas 2019, de que se fizeram 9 000 garrafas. A vinha, que esteve para ser arrancada (ver texto em cima), tem 23 castas misturadas com a Jaen e a Baga em maior percentagem. Faz-se uma co-fermentação de todas as uvas e depois o vinho estagia num tonel usado.

O Fugitivo Bastardo é um produto de nicho. De que se fazem apenas 2152 garrafas mas que se apresenta muito bem. Apesar de ser tida como casta que origina tintos para beber enquanto jovens, o enólogo assegura que o vinho aguentará muito bem a prova do tempo. Do Fugitivo Vinha Centenária resultaram 3000 garrafas. O corte é feito em lagar com pisa a pé, com 100% de engaço, a que se segue um removimento da manta das vezes por dia com a “tranca”, nome de instrumento de madeira que se assemelha (na função) àquele que no Douro ou na Bairrada se chama “macaco”, embora o aspecto não seja igual. A fermentação demora uns 4 a 5 dias a arrancar e depois termina em tonel. Aí fica dois invernos e, posteriormente, tem mais dois anos de estágio em garrafa. Foi, assim, engarrafado em 2020.

No hotel a abrir no futuro próximo serão servidos vinhos de produções micro – Tinta Amarela e Alvarelhão, por exemplo – e para os quais serão recriados rótulos antigos. Fica a ideia que as micro-produções e as experiências do técnico só poderão ser provadas pelos clientes do alojamento. Esta, só por si, já poderia ser razão bastante para a deslocação e estadia no hotel que, desta forma, adquire um charme extra.

É provável que saia também no futuro próximo um tinto de Pinot Noir, uma casta que há muito existia na quinta e era dessa vinha que se fazia um pé de cuba usado depois nas fermentações. Irá sair como Fugitivo. Feito em lagar com engaço, prensado depois, termina em tonel. Pela pré-prova que fizemos notámos que tem muito carácter borgonhês, com leve acidez volátil bem. Irá ser um caso muito sério e contribuir para a aura de qualidade e diferenciação dos vinhos da Casa da Passarella.

(Artigo publicado na edição de Julho de 2022)

Não foram encontrados produtos correspondentes à sua pesquisa.

Quinta das Bágeiras Garrafeira: Um branco à frente do seu tempo

Quinta das Bágeiras

Nasceu em 2001 quando, em Portugal, ainda não se dava valor a brancos complexos e de guarda. Era, antes de existir, o branco que Mário Sérgio Nuno queria produzir, mas ainda não tinha. Hoje, 19 edições depois, é provavelmente o branco que todos queriam ter. Texto: Mariana Lopes Fotos: Anabela Trindade No início dos anos […]

Nasceu em 2001 quando, em Portugal, ainda não se dava valor a brancos complexos e de guarda. Era, antes de existir, o branco que Mário Sérgio Nuno queria produzir, mas ainda não tinha. Hoje, 19 edições depois, é provavelmente o branco que todos queriam ter.

Texto: Mariana Lopes
Fotos: Anabela Trindade

No início dos anos 2000, numa feira de vinhos em Lisboa, Mário Sérgio Nuno apresentou um branco, a medo, a David Lopes Ramos. Nesse mesmo evento, o jornalista e crítico de vinhos e gastronomia, orientou uma prova comentada de vinho com queijos e, igual a si próprio, fez algo que na altura era tudo menos convencional: deu a provar, mesmo no final da sessão e a uma sala cheia, um branco com queijo Nisa. Era o Quinta das Bágeiras Garrafeira branco 2001, a primeiríssima colheita. O produtor tinha estado durante toda a prova, no fundo da sala “à espera de levar porrada”, como o próprio diz, pois “não era um   vinho compreendido pelas pessoas”. Mas todos os presentes adoraram. Era uma vez um branco proscrito e oprimido, 22 anos depois considerado com um dos melhores de Portugal.

Mário Sérgio Alves Nuno criou o projecto da Quinta das Bágeiras em 1989, pegando em todo o know-how aprendido com a sua família, que até então produzia vinho a granel para as caves da região. Juntando vinhas do seu avô paterno com outras do avô materno, perfazendo 12 hectares, fundou nesse ano, segundo o bairradino, a primeira empresa vinícola da Bairrada em mais de duas décadas.

“Bágeiras” era a vinha para onde o avô de Mário Sérgio, Fausto Nuno, costumava ir todos os dias trabalhar, montado na sua bicicleta “pasteleira”, hoje em exposição na adega que fica na aldeia da Fogueira, concelho de Anadia. “Lá vai o Fausto para a sua Quinta das Bágeiras”, dizia o povo, sem saber que viria, um dia, a dar o nome a um dos mais promissores produtores de vinho portugueses, no top da região da Bairrada.

Até hoje sempre com o apoio — na vinha, na adega e na vida — do seu pai Abel e mãe Maria do Céu, Mário Sérgio tem agora também ao seu lado o filho Frederico Nuno, de 25 anos, licenciado em Enologia pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro e com estágio em empresas de diferentes tamanhos e conceitos, como Lusovini, Susana Esteban, Sogrape, Anselmo Mendes ou Barão de Vilar. Também ele aprendeu muito com o pai e os avós enquanto cresceu, lições preciosas dadas diariamente no campo e na adega. Muito chegado à sua família e à sua terra, é no meio destas — e das galinhas, gansos e faisões que cria junto à adega — que Frederico se sente bem e prospera. Há vários anos que vai, todos os dias, tomar o pequeno-almoço a casa dos avós paternos, também ali ao lado e, sempre que pode, amassa o pão que a avó coze no forno de lenha, mostrando que há, de facto, uma geração que volta a ter amor pelas coisas da aldeia e da agricultura. E já não era sem tempo.

Quinta das Bágeiras
Mário Sérgio à direita com o pai Abel Nuno.

Um branco “como o avô fazia”

 Antes de 2001, Mario Sérgio apenas fazia um vinho branco em inox, que considerava bom, mas que não lhe dava pica. Ainda não tinha um branco que lhe enchesse verdadeiramente as medidas, ao seu gosto, mais complexo e ambicioso. Entre desabafos, Rui Moura Alves, à data enólogo consultor da Quinta das Bágeiras — e figura muito importante para esta casa, sobretudo no início — chegou com a resposta: “fazemos um branco como o teu avô fazia, no tonel, e deixamo-lo mais tempo nas borras, o necessário até o vinho se mostrar pronto e estabilizar por ele próprio”.

O Garrafeira branco é um lote de Bical e Maria Gomes, de várias vinhas velhas, algumas centenárias, em solo argilo-calcário. A maioria são parcelas de castas tintas plantadas em “field blend” (misturadas na vinha), como ditou o encepamento dos anos 60 e 70 na região, com as brancas pelo meio, a forma que se arranjou na altura para conferir mais álcool e estrutura aos vinhos tintos.

Faz decantação por precipitação natural durante um dia ou um dia e meio, sensivelmente. De seguida, fermenta e estagia precisamente num tonel antigo já com centenas de usos — sempre o mesmo, o número 21, com 2500 litros de capacidade — de Setembro até Julho ou Agosto do ano seguinte, conforme a prontidão que o vinho mostra. “Com uma mangueira, tiramos o vinho do tonel para uma selha, daí para o inox e deste para as garrafas [cerca de 3 mil], onde fica um ano antes de sair para o mercado”, explica Mário Sérgio Nuno. “Fica sempre uma pequena quantidade no fundo do tonel, cerca de 50 litros, que utilizamos na produção de vinagre ou para atestos. O vinho é feito da mesma maneira desde a primeira colheita, só varia o ano”, desenvolve.

Quando as duas primeiras colheitas foram lançadas, o Garrafeira branco não tinha grande aceitação no mercado, e Mário Sérgio chegou a pensar que só ele é que gostava do vinho… ao ponto de decidir não produzir a colheita de 2003, a única que falta nesta prova vertical, por esse motivo. “A Câmara de Provadores da Bairrada tinha, inclusive, chumbado o 2002, e só à terceira é que o passou”, confessa Mário Sérgio. Mas, depois do sucesso da prova do David Lopes Ramos e ao ver a reacção positiva do público, o produtor resolveu apostar nele, sem interrupções, desde a colheita de 2004 até hoje. Agora lança a de 2020, a 19ª edição. Assim, David acabou por ser, depois do incentivo inicial de Rui Moura Alves, o grande encorajador do Quinta das Bágeiras Garrafeira branco. “Devo a existência deste vinho ao David Lopes Ramos, por me encorajar a continuar a fazê-lo”, afirma. Mário Sérgio bem disse, bastantes anos mais tarde nos Prémios Grandes Escolhas de 2018, no discurso após ter recebido o Troféu Singularidade, que “o verdadeiro segredo deste negócio é a teimosia, eu sou muito teimoso naquilo que faço”. E o Garrafeira branco foi também muito isso.

A Bairrada e os seus brancos

Há várias condições edafoclimáticas na Bairrada que fazem dela uma excelente região para produzir grandes vinhos brancos, apesar de ser bem mais conhecida, e valorizada, pelos tintos de Baga. “A minha ideia da Bairrada é que é uma região que pode produzir excelentes brancos e, além disso, é mais fácil fazer todos os anos um grande branco do que um grande tinto. A influência marítima, a acidez das uvas sempre altíssima, os solos argilo-calcários… tudo isto é ideal para os brancos na região”, explica Mário Sérgio.

O clima da Bairrada é atlântico temperado, com Invernos frios e chuvosos e Verões moderadamente quentes, pois são suavizados pelos ventos vindos do mar e pelas grandes amplitudes térmicas, sendo muito frequentes as noites frescas. É uma região sem barreiras orográficas a Oeste, o que facilita a referida influência marítima.

“Quando eu comecei no vinho, havia uma coisa que se dizia muito, que era ‘bebe-se branco quando não há tinto’. Os brancos sofreram muito, ao longo dos anos, deste preconceito. É uma questão cultural, o país, de modo geral, ainda dá mais importância aos vinhos tintos. Uma das razões por que, logo nos encepamentos iniciais, se plantaram mais castas tintas do que brancas. Eu, por exemplo, tenho vinhos brancos mais caros do que os tintos”, elucida o fundador da Quinta das Bágeiras.

“Há um nicho de consumidores para os brancos ambiciosos, sobretudo nestas quantidades mais baixas, que deve ser aproveitado”, continua. Em boa verdade, a Bairrada é uma região de minifúndio, de parcelas dispersas, com uma dimensão média de vinha que chega apenas no meio hectare. “O Garrafeira branco 2021 só venderemos em 2023, mas idealmente até seria só lançado em 2025. É nos brancos de guarda, para lançar mais tarde, ambiciosos e complexos que a Bairrada deve apostar”. E conclui: “Não temos dimensão para grande volume, e fazer brancos ‘fresquinhos e do ano’, embora perfeitamente legítimos, não é o futuro da região…”.

Quinta das Bágeiras

No mercado:

Não foram encontrados produtos correspondentes à sua pesquisa.

Notas de Prova da Vertical:

18 B

Quinta das Bágeiras Garrafeira branco 2019

Apenas num ano de colheita de diferença, ganhou nuances de orvalho matinal, sílex, leve raspa de toranja e toque de pólvora. Muito envolvente, sem nunca perder o nervo inicial, está ainda super novo e pujante. O grau nem se acusa, dada a elevada frescura natural. (15,5%)

18 C

Quinta das Bágeiras Garrafeira branco 2018

Aqui, além da cremosidade e do querosene e pólvora expectáveis, tem já especiarias, como pimenta branca e açafrão, uma componente vegetal e sugestão de casca de laranja. Na boca mantém a acidez no topo e sobretudo uma enorme secura final, característica de quase todos os Bágeiras Garrafeira branco. (14%)

 17,5 B

Quinta das Bágeiras Garrafeira branco 2017

Floral, grafite, limão maduro, ligeiramente menos preciso e mais difuso nos aromas. Na boca, apesar de não dar o estalo de acidez que os outros dão, tem enorme frescura e cremosidade, delicadeza num conjunto muito bonito. (14,5%)

 17,5 B

Quinta das Bágeiras Garrafeira branco 2016

Bem delicado no aroma floral q.b., infusões tipo camomila e erva-príncipe, toranja madura. Na boca volta ao registo de óptima frescura ácida e precisão, nervo e juventude. Fica na boca e termina salino. (14%)

 17,5 B

Quinta das Bágeiras Garrafeira branco 2015

Muito expressivo e a atacar na pedra raspada e no querosene, bastante pólvora e sugestão calcária, pimenta branca. Na boca traz uma percepção de acidez um pouco mais baixa do que os outros, mas é elegante e delicado. (14%)

 17 A

Quinta das Bágeiras Garrafeira branco 2014

Floral e com fundo vegetal no nariz contido, com levíssima sugestão de pvc que lhe dá piada. Mais directo na boca e com menos corpo do que os anteriores, e ligeiramente mais diluído no conjunto. Provavelmente resultado das adversidades do ano 2014, que foi bastante chuvoso no momento em que não devia. (13,5%)

 17,5 B

Quinta das Bágeiras Garrafeira branco 2013

Este vai na direcção do exotismo, com bastante especiaria, casca de laranja, lima e sugestão de cardamomo. Na boca está bem vivo e harmonioso. (13,5%)

 19 B

Quinta das Bágeiras Garrafeira branco 2012

Pólvora, pederneira, muita flor e fruta, como nêspera e alperce, pimenta branca e leve caril de fundo, num nariz sublime. A untuosidade é impressionante, num conjunto de pendor vegetal, precisão superlativa e persistência quase infinita. O melhor da “nova geração” do Garrafeira branco. (14%)

 18,5 B

Quinta das Bágeiras Garrafeira branco 2011

Aqui parece que o vinho chegou à maturidade, qual adulto consciente e sereno na vida. Consolidado, bastante complexo e profundo no aroma, sério, com tudo no sítio. Na boca tem grande volume, estrutura fenomenal, tudo em harmonia, super longo, com imenso carácter e presença. Prima pelo perfil de tensão, secura e untuosidade óptimas. (14%)

 18,5 B

Quinta das Bágeiras Garrafeira branco 2010

Bastante flor do campo, ervas aromáticas, limão e pedra molhada no nariz muito bonito. Na boca é impactante porque parece um dos novos, com acidez no topo, imenso nervo e estrutura, sempre com cremosidade presente mas q.b. Impressionante também pelo equilíbrio e harmonia, sabor, secura e suculência. (13,5%)

 18,5 B

Quinta das Bágeiras Garrafeira branco 2009

Enorme complexidade de nariz, envolvência e mistério. Na boca explode em corpo e estrutura, altamente sumarento na fruta cítrica e branca, tenso, consolidado, com muita classe. Espectacular. (14,5%)

18,5 B

Quinta das Bágeiras Garrafeira branco 2008

Querosene, grafite, pedra molhada, fruta de caroço madura, pimenta branca e folha de louro, no nariz complexo, para não variar. Com elevadíssima secura e elegância, e também nervo, é nele óbvia a longevidade em garrafa. (13,5%)

 19,5 B

Quinta das Bágeiras Garrafeira branco 2007

Enormíssima complexidade no aroma expressivo de sílex, pedra molhada, pimenta branca, grafite, pederneira… Na boca é todo impressionante pela gigante frescura, equilíbrio em todos os pontos, vivacidade, firmeza, enorme amplitude, crocância e prolongamento. A suavidade é de luxo e o vinho poderoso em simultâneo, um branco que não acaba, de classe mundial. (14%)

18,5 B

Quinta das Bágeiras Garrafeira branco 2006

Muito mineral nas notas de sílex e querosene, flores brancas e sugestão de zest. Óptima cremosidade e estrutura ácida, super amplo e largo no palato, salino no final longo e nervoso. (14%)

 18,5 B

Quinta das Bágeiras Garrafeira branco 2005

Nariz com imenso querosene, pólvora, sugestão aborrachada no fundo, também casca de tangerina. Altamente equilibrado, com acidez cítrica gigante, mostrando o perfil mais cítrico de todos. Enorme te(n)são. (14%)

 19,5 B

Quinta das Bágeiras Garrafeira branco 2004

Chegamos mais uma vez ao topo dos Garrafeira branco. Este apresenta fruta cítrica cristalizada, pederneira, flores do campo, infusão de camomila, no nariz complexo e profundo. Na boca tem tensão enorme, é intenso nos sabores e tem salinidade no ponto, a deixar as glândulas salivares a pulsar de prazer. Espectacular, quase coage ao próximo copo, envolvente e muito, muito puro no conjunto. Não queremos sair dele, é monumental. (13%)

 19 B

Quinta das Bágeiras Garrafeira branco 2002

Aqui as flores do campo juntam-se ao mel fumado e à madeira antiga, também amêndoa torrada. Enorme classe e mineralidade, fumo finíssimo no nariz e na boca, imenso sabor e suculência, super largo, fica para sempre na boca, acidez enorme e equilibradíssima com a untuosidade sedutora. Grande branco. (13,5%)

 20 B

Quinta das Bágeiras Garrafeira branco 2001

Acabamos em grande, parece de propósito, mas não é. Extremamente sério e complexo no nariz mineral, sensual, sem exuberâncias histriónicas, mas com um certo “quê” que adivinha grandiosidade. Na boca envolve-nos numa dança de precisão, finesse e classe, fantástica personalidade e carácter, presença imponente, ainda muito vivo e para durar. Não se podem escrever as coisas que apetece fazer com este vinho. Estrondoso e a mostrar, pela sua juventude, que o Garrafeira branco é quase eterno. (13,5%)

(Artigo publicado na edição de Julho 2022)

Warre’s: A história de um LBV diferente

Warre's LBV

Nos últimos 50 anos o LBV – Late Bottled Vintage – ganhou muito espaço no conjunto das categorias do vinho do Porto e, actualmente, quer as grandes empresas, quer os pequenos produtores, assumiram a produção anual deste tipo de Porto. Mas, no meio deste de todas estas marcas, Warre’s e Smith Woodhouse alcançaram um lugar […]

Nos últimos 50 anos o LBV – Late Bottled Vintage – ganhou muito espaço no conjunto das categorias do vinho do Porto e, actualmente, quer as grandes empresas, quer os pequenos produtores, assumiram a produção anual deste tipo de Porto. Mas, no meio deste de todas estas marcas, Warre’s e Smith Woodhouse alcançaram um lugar especial. Fomos saber porquê.

Texto:João Paulo Martins

Fotos: Anabela Trindade/Symington

Comecemos pelo princípio e pelo conceito, uma vez que há alguma confusão no que diz respeito à origem e história desta categoria de vinho do Porto. Por definição, um LBV é um Porto de muito boa qualidade – faz parte das categorias especiais – que é engarrafado entre o 4º e 6º ano a seguir à vindima (data-limite do engarrafamento: 31 de Dezembro do 6º ano). Neste particular distingue-se do Vintage, uma vez que este tem de ser engarrafado entre o 2º e o 3º ano após a colheita. Até aqui não parece haver dúvidas e os consumidores há muito que estão familiarizados com este perfil de Porto. A distinção entre os dois – Vintage e LBV – pode ser de vária ordem; por norma o LBV é mais acessível no perfil, menos concentrado, menos taninoso e, por isso, bebível mais cedo. Mas (há sempre um mas…) o LBV originalmente podia ter sido um Vintage, caso tivesse cumprido a regra da data do engarrafamento. Quer isto dizer que, quando novo, o LBV pode apresentar-se tão poderoso e concentrado como um Vintage mas os 4 anos de estágio amaciam os taninos e levam a um polimento originado pelo estágio em balseiro. Ao Vintage pede-se tempo para que o estágio em garrafa faça o seu papel, no LBV parte desse trabalho está feito quando é engarrafado.

A história do Porto Vintage tem, no entanto, alguns segredos escondidos. O que se passou durante décadas foi que alguns vintages, em vez de serem engarrafados ao 2º ano, eram colocados na garrafa mais tarde. Chamavam-se assim Vintage Late Bottled, exactamente porque não tinham data certa para serem embotelhados. Recordemos que durante grande parte do séc. XX o vintage era exportado em pipa e que competia ao importador proceder ao engarrafamento. Ora esse engarrafamento não tinha data certa para ser feito e os vinhos não tinham, de resto, o selo do então chamado Instituto do Vinho do Porto. Foi só a partir de 1970 que, por força da legislação, passou a ser proibido exportar o vintage em casco, sendo obrigatoriamente engarrafado em Portugal e com selo do Instituto. Assim, o 70 foi o último vintage que ainda foi parcialmente exportado em pipa. Recordo-me de já ter encontrado fora de portas, nomeadamente nos Estados Unidos, vintages dos inícios dos anos 60 sem selo aposto nas garrafas. Embora apressadamente se pudesse pensar que se trataria de uma fraude, em boa verdade não era, uma vez que eram vinhos que tinham chegado ao destino ainda em casco.

Esses Vintages Late Bottled (ver foto) sempre existiram no sector. A propósito desta nossa prova e visita à Symington, soubemos que Peter Symington, hoje retirado e que foi o enólogo da empresa a partir da colheita de 1963, afirmou que sempre se lembrava de ver esses vinhos que, sendo Vintage, eram engarrafados mais tarde. E recordou-nos, por exemplo, os anos de 1954, 58 e 62, todos engarrafados 4 anos após a colheita; embora por norma estas declarações não coincidissem com as declarações dos vintages clássicos, houve excepções, como foi o caso do Dow’s 1945, um dos mais grandiosos vintages clássicos da marca, que também foi lançado como Late Bottled em 1949. Esta coincidência não é estranha, já que sabemos que a percentagem de vinho engarrafado como vintage é sempre muito pequena por comparação com o total da colheita. Pode até perguntar-se porque não aconteceu mais vezes o que aconteceu em 45.

Esta dicotomia entre Vintage e Vintage Late Bottled prestava-se a muita confusão. Havia tradições a manter mas havia que clarificar. Pode dizer-se que era uma tradição mal compreendida ou mal explicada.

Warre’s LBV
Charles Symington é o guardião do templo, onde as velhas garrafas repousam.

A nova era

E foi por causa dos mal-entendidos que mudou a legislação. A partir dos meados dos anos 60 tudo ficou mais claro. Segundo as regras então estabelecidas, não se poderia escrever Vintage em letras gordas e Late Bottled em segunda linha; tudo teria que ser no mesmo tamanho de letra, com a mesma cor e na mesma linha (que é o que vemos hoje nas garrafas); pode parecer um detalhe mas a ideia do legislador foi, creio, evitar a confusão do consumidor. A partir daqui haveria uma clara distinção entre Vintage …ano tal, e Late Bottled Vintage …ano tal. Foi então que começaram a surgir com mais frequência os LBV em dois modelos: um, por alguns chamado de “moderno”, ou seja, que correspondia a vinhos filtrados e estabilizados pelo frio antes do engarrafamento; outro, os não filtrados, que foram tendo vários nomes, como Traditional, Unfiltered e Late Bottled. O primeiro desta nova geração terá sido o Taylor’s 65 que surgiu no mercado em 1970. A mais recente actualização da legislação – Portaria nº 3, de 2022 – autoriza a designação Bottled Matured, Bottled Aged ou Envelhecido em Garrafa para os vinhos que tenham, pelo menos, três anos de estágio em garrafa. São designativos a mais, o que em nada ajuda o consumidor mas o sector do Vinho Porto é fértil neste campo…

Se somarmos os anos de estágio em madeira mais os três anos de estágio em garrafa temos assim vinhos que são colocados no mercado com uma idade entre os 7 e os 9 anos. No caso da família Symington, três marcas ficaram nos “modernos” – Cockburn’s, Graham e Dow’s – enquanto a Warre’s e Smith Woodhouse se conservaram no perfil mais clássico, não filtrados e vendidos, somando os anos de garrafa aos 4 obrigatórios, com um total de 10 a 12 anos de idade.

Entretanto no mercado surgiram alguns LBV de datas anteriores à legislação, de meados dos anos 60, o que veio confundir o consumidor, como o Burmester 1964 ou mesmo o muito antigo Ramos Pinto 1927. Ana Rosas, actual responsável dos vinhos do Porto desta casa disse-nos que este 27 foi o único que puderam provar e comprovar que cumpria os requisitos para se poder chamar LBV mas “a verdade é que todas as casas tinham vinhos deste tipo, eram vintages engarrafados mais tarde”, como nos confirmou. Tudo assim a assegurar que não foi a legislação de meados dos anos 60 que criou a categoria, antes se limitou a regulamentá-la.

O LBV moderno, filtrado e estabilizado, ganhou muito espaço em termos comerciais: é um vinho que aguenta perfeitamente um mês ou mais após a abertura da garrafa, não requer decantação e, assim, está sempre pronto a servir; isso faz dele um óptimo vinho para consumo na restauração. A Taylor’s, por exemplo, tem no seu LBV “moderno” o vinho que mais vende, ultrapassando o milhão de garrafas. E se dúvidas existirem sobre a qualidade destes LBV “modernos”, sugiro a prova do Taylor’s 2017 (Grandes Escolhas: 17 pontos/€15,90).

A originalidade dos LBV Warre’s e Smith Woodhouse decorre do tempo de estágio que têm e que vai além dos 3 anos Bottled Matured exigidos por lei. Têm por isso um lugar à parte na categoria. Relembro aqui várias provas feitas desde há década e meia em que, na categoria LBV, (e às cegas) as amostras Warre’s eras crónicas vencedoras. A esta originalidade junta-se o factor preço que, se compararmos com os vintages, não é só vantajoso, é altissimamente vantajoso para o consumidor.

Foi no final da década de 70 que a Symington começou a comercializar os LBV “modernos”, que foram ganhando força nos anos 80 e às suas marcas adicionou, depois de 2006, o LBV Cockburn’s. Entre Dow’s e Graham‘s a Symington faz 80 000 caixas de 12 garrafas. A quantidade Cockburn’s é residual.

 

Warre’s LBV

 

Notas de prova da vertical ( Nota: os preços não estão indicados pois as referências em questão já não se encontram no mercado, no entanto poderão ser úteis para quem adquiriu em tempos e ainda a guarda na garrafeira!)

18 A

Dow’s

Port LBV 1964

Magnífica cor topázio ainda com leves tons avermelhados. Aroma muito fino, muito focado nos licores de ervas, nos frutos secos, nas madeiras exóticas. Tudo suave e muito elegante. Muita classe na boca, com volume, imensa fruta, mas tudo ainda com muito nervo, um vinho que se mastiga, com grande prazer. Textura sedosa e glicerinada.

17 A

Warre’s

Porto LBV 1969

Engarrafado para o nascimento de Charles Symington. Ainda carregado na cor e com muito boa presença, mais discreto nos aromas, aqui com mais notas de compotas, tabaco e caixa de charutos.  Muito boa prova na boca, com bastante elegância, não muito complexo mas a dar muito prazer a beber, deixa um rasto longo e macio.

17,5 A

Warre’s

Porto LBV 1976

Tonalidades vermelhas com tons de mogno, aroma muito fino, clássicas notas de vintage, com fruta em calda, leves citrinos, tudo muito bem proporcionado. Na boca percebe-se que não é vintage, um pouco mais delgado de corpo mas está muito fino e pode dar imenso prazer se bebido agora. Alguma austeridade ainda marca presença. Classe pura.

17 A

Warre’s Traditional

Porto LBV 1981

Symington Family Estates

Bons tons vermelhos, ligeiro na concentração mas com muita pureza de frutos vermelhos, discreto mas correcto. Mais interessante na boca, com uma grande delicadeza aromática, com fruta em calda, licorados e com textura fina e muito atractiva. Perfeito para consumir agora com prazer.

17 A

Warre’s Bottled Aged

Porto LBV 1984

Pouca concentração na cor, aroma muito fiel às notas de vintage com evolução, com imensa classe. Delgado na boca, frágil mas com tudo no sítio no que respeita a aromas. É o tipo de vinho a que chamamos perfumado. Não vale pelo vigor da boca, vale pelo nariz subtil e delicado.

18,5 B

Warre’s Bottled Aged

Porto LBV 1992

Extraordinária concentração de cor, vigor excelente, aroma ainda muito concentrado, com tudo ainda por desenvolver. É um vinho que marca a fronteira entre os anteriores e esta geração mais vermelha, mais focada nos frutos pretos, mais estruturada. Tudo está em excelente forma e a mostrar que tem muitos anos pela ferente. A mesma sensação na boca, é um LBV que dá imenso prazer a beber, um assunto muito sério. Originalidade que se mantém até hoje.

18 B

Warre’s Bottled Aged

Porto LBV 1994

Inacreditável concentração de cor, um vinho fechado, tenso, com notas químicas que não nos revelam a idade. Ainda tem tudo por descobrir, sendo certo que as notas licoradas são de grande classe. Um vinho que surpreende. Grande prova de boca, com volume, um pouco menos de vigor do que o 92 na boca mas a dizer que temos vinho para décadas.

18 B

Warre’s Bottled Aged

Porto LBV 1995

Cor muito intensa, concentrado e rico, muito negro. No aroma está com notas finas de frutos negros (amoras e ameixas pretas), alguns licores mas com um estilo fechado e cheio de vigor. Muita esteva, amoras, tudo bem atractivo. Grande polimento na prova de boca, ainda com leves taninos que permitem mastigar o vinho, é um estilo cheio de força que assim permanecerá por muitos anos.

18 B

Warre’s Bottled Aged

Porto LBV 2000

Ainda está na fase ascendente, os aromas ainda não desdobraram, não se nota o envelhecimento. Por aqui estamos em frutas negras e chocolate negro. No estilo ainda fechado e pouco falador, é daqueles casos que é claramente para beber ou guardar. Nota de ginja, de fruta em calda, de mato seco, leve mentol em fundo. Muito bom o volume de boca, um perfil onde o vinho ainda se mastiga, bela textura, com anos pela frente.

17,5 A

Warre’s Bottled Aged

Porto LBV 2003

Muito interessante no aroma, concentrado, assenta sobretudo nos frutos negros, no chocolate negro, rico e muito texturado. Na boca está mais macio e envolvente do que o 2000, parece mais evoluído mas está a dar agora uma boa prova. Provavelmente para beber antes do 2000. Muitos licores, muito atractivo, a beber a solo ou com queijos secos.

17,5 C

Warre’s Bottled Aged

Porto Unfiltered LBV 2015

Ainda em cave a aguardar colocação do mercado. É uma pré prova. Nada no aroma nos diz que estamos perante um LBV e não um vintage: a concentração da cor, a própria tonalidade, escura e densa, tudo ainda fechado, à espera que o tempo em garrafa faça a sua acção. É na boca, pela textura mais macia e sedosa que podemos adivinhar que se trata de um LBV. É um vinho concentrado e rico, que precisará de tempo para se mostrar.

18 C

Warre’s Bottled Aged

Porto Unfiltered LBV 2017

Pré-prova, está ainda na cave da empresa. Muito químico no aroma, muita pimenta, muito estilo Warre’s, pleno de fruta negra, com tudo ainda por desenvolver. Na boca mostra uma bela textura, um perfil fino e bem conseguido, sentindo-se ainda alguns taninos mas já com o perfil macio e elegante que o tempo em casco lhe permitiu.

(Artigo publicado na edição de Junho de 2022)

Grande Prova: Beira Interior 2.0

Beira Interior desafiante

Brancos e tintos desafiantes A Beira Interior está em constante mudança, com o solidificar e desenvolver de projectos clássicos e bem-sucedidos e o surgir de outros que vêm trazer ainda mais dinamismo e competitividade. Nesta prova, percorremos os brancos e tintos bem diferenciadores de uma região com antigas tradições de vinha e de vinho, onde […]

Brancos e tintos desafiantes

A Beira Interior está em constante mudança, com o solidificar e desenvolver de projectos clássicos e bem-sucedidos e o surgir de outros que vêm trazer ainda mais dinamismo e competitividade. Nesta prova, percorremos os brancos e tintos bem diferenciadores de uma região com antigas tradições de vinha e de vinho, onde o carácter, a frescura e a elegância são denominador comum.

Texto: Valéria Zeferino
Fotos: Ricardo Palma Veiga

A tradição vitivinícola antiga na Beira Interior remonta à época romana, sendo oficialmente demarcada em 1999. Há alguns anos falámos no despertar da Beira Interior, quando surgiram projectos novos a inspirados pelos entusiastas, alguns com raízes na região, outros vindos de fora dela. Enólogos conhecidos, como Virgílio Loureiro, Anselmo Mendes, Rui Madeira, Rui Reguinga ou Patrícia Santos, trouxeram o seu conhecimento, elevaram a qualidade dos vinhos e deram credibilidade à região. O consumidor também despertou, (re)descobrindo uma região antiga na sua versão 2.0 com identidade própria que privilegia frescura e elegância.

Hoje, a região produz mais de 3 milhões de garrafas, apostando cada vez mais na exportação. Nos últimos dois anos a exportação duplicou chegando a 40% de produção. Os principais mercados neste momento são Brasil, Letónia, USA, Canadá, Dinamarca, Bélgica e Holanda, de acordo com os dados da CVRBI. Esta entidade certificadora também assume um papel de promotora da região, apostando fortemente no enoturismo e na internacionalização dos seus vinhos, trazendo potenciais importadores à região através das missões inversas. Nos últimos dois anos foi criada a Rota dos Vinhos da Beira Interior que pretende atrair cada vez mais pessoas ao interior. Até porque a oferta enogastronómica e cultural dentro da região é grande. E não podemos esquecer que das 12 aldeias históricas de Portugal, 11 ficam na Beira Interior.

Identidade geográfica

A altitude, a continentalidade e os solos pobres moldam as condições edafo-climáticas da Beira Interior.  A região estende-se do vale do Douro e Trás-os-Montes no norte ao rio Tejo no sul. Faz fronteira com a Espanha e é separada da Beira Litoral pelas várias formações montanhosas:  Serra da Estrela, do Açor, Gardunha e Lousã, que cortam a influência atlântica, deixando o clima mais seco, com maior amplitude térmica diária e anual.

A continentalidade manifesta-se pelos invernos rigorosos e frios, temperaturas negativas e neve frequente e pelos verões curtos, mas quentes e secos, com muitas horas de sol. A amplitude também ameniza os extremos de temperatura no pico de Verão. As noites frescas criam condições importantes para maturações mais homogéneas e retenção da acidez que mais tarde se traduz na frescura dos vinhos produzidos.

As montanhas e planaltos elevam as vinhas à altitude de 300 a 700 metros, amenizando as temperaturas médias, pois a temperatura baixa 0,6˚C por cada 100 metros.

Os solos são pobres em matéria orgânica e bem drenados, de origem maioritariamente granítica, mas também xistosa em zonas de transição para o Douro, com filões de quartzo e alguma ascendência arenosa.

Existem três sub-regiões, que antes da criação de denominação de origem em 1999, eram três regiões separadas: Pinhel, Castelo Rodrigo e Cova da Beira.

A sub-região de Pinhel com altitude média de 650 metros fica a norte da Guarda e estende-se até Mêda e à serra da Marofa.  A sub-região do Castelo Rodrigo está praticamente colada à de Pinhel, tendo como a linha de separação o rio Côa e uma estrutura montanhosa. Caracteriza-se pelos planaltos a 600 e 750 m de altitude. Ambas as sub-regiões são secas, com precipitação anual raramente a ultrapassar os 500 mm e com grandes amplitudes térmicas.

A Cova da Beira situa-se na zona sul da região, sendo limitada, a Norte, pelas serras da Estrela, Gardunha e Malcata e a sul, pela bacia hidrográfica do Tejo, onde o clima já tem alguma influência mediterrânica. É a sub-região mais extensa da Beira Interior, onde dá para distinguir duas zonas com características um pouco diferentes. Uma mais a Norte, entre as Serras da Gardunha e da Serra, à volta do Fundão e da Covilhã, com a precipitação a variar muito (de 600 a 1.800 mm por ano) em função do relevo. Outra, a Sul da Serra da Gardunha, com temperaturas mais elevadas e de precipitação a rondar os 500-700 mm. Aqui o clima apresenta semelhanças com o Alentejo.

A vindima entre a Cova da Beira e Pinhel pode começar com três semanas de diferença. As geadas de primavera são problemáticas na maior parte da região. Como diz Pedro Carvalho, da Quinta dos Termos, “geada há sempre, a dúvida é se será muita ou pouca”. Por isto as podas são mais tardias, às vezes são feitas em Abril para os abrolhamentos serem mais tarde, não prejudicando a produção em caso de geada.

Castas com carácter

De acordo com os dados do IVV, houve uma diminuição em termos de área plantada nos últimos anos (de 15110 ha para 13874 ha), provavelmente devido  ao abandono da vinha e a algum arranque para plantação de outras culturas. Mesmo que 75% da vinha não tenha DOP/IGP, a área de vinha para vinhos certificados como DOP e IGP aumentou bastante, o que é uma dinâmica muito positiva.

As castas mais plantadas na Beira Interior, segundo o IVV, são Rufete e Siria representando 16,2% e 15,6% da área plantada, respectivamente. O Aragonez também tem uma grande presença na região ocupando 14,5% da vinha.

As primeiras duas castas existiam antes da filoxera, variando um pouco entre as zonas, e expressam mais a região, mas na maior parte dos vinhos entram em lotes. Outras castas antigas são Fonte Cal, Malvasia, Gouveio, Rabigato e Folgasão, nas brancas e Marufo, Bastardo, Tinta Francisca, Donzelinho, entre castas tintas. Com o passar do tempo e novas tendências o encepamento mudou e hoje encontramos na região as castas nacionais de outras regiões (Touriga Nacional, Tinta Roriz, Touriga Franca, por exemplo) e estrangeiras como a Chardonnay, Cabernet Sauvignon, Syrah e Merlot. Até Sangiovese e Nebbiolo foram plantadas pela Quinta dos Termos a título de experiência.

A casta Rufete, também é conhecida como Tinta Pinheira no Dão e encontra-se em pouca quantidade noutras regiões, ocupando 2% de encepamento do país. Produz imenso, diz o produtor José Afonso, das Casas Altas. Tirando isto, na sua opinião, é bem amiga do viticultor. Antigamente, quando chovia mais no Outono, verificavam-se problemas de podridão a que a casta é sensível, ultimamente nem isto. Na adega tem tendência para aromas um pouco reduzidos, pelo que convém transfegar logo quando acaba a fermentação.

Pela sua grande produtividade, o Rufete ganhou alcunha de “pai dos pobres”. Nas adegas cooperativas chegava a produzir até 20 tn/ha, perdendo completamente a sua identidade e imagem, e nos anos 80-90 acabou por ser renegada na sua terra natal. O proprietário da Quinta dos Termos, João Carvalho, contou uma vez que em algumas adegas cooperativas até nem se aceitavam novos sócios com muito Rufete, dando preferência a outras castas.

O Rufete origina vinhos de grau alcoólico contido, com pouco tanino, cor aberta e acidez média. Plantada nos sítios certos, em solos pobres, com produções controladas a não ultrapassar 6-7 tn/ha, produz vinhos sérios, mas delicados, com frescura e carácter próprio.

A enóloga e produtora Patrícia Santos (Rosa da Mata), refere que, em termos aromáticos, Rufete tem bastante fruta, mas é delicada, nada de excessos. Tem bastante acidez e evolui bem em barrica.

É sempre uma óptima alternativa a vinhos mais extraídos, carnudos e tánicos que são cada vez mais apreciados pelos enófilos, mas nem sempre a cor mais aberta do Rufete é entendida pelo consumidor geral. José Afonso explica que vende os vinhos de Rufete mais aos conhecedores e hotelaria de luxo do que ao consumidor menos informado, embora as pessoas mais antigas da região, que entendiam o vinho como parte da alimentação, aceitassem bem a cor menos intensa.

A casta Síria no nosso país responde por muitos nomes: Roupeiro no Alentejo e Códega no Douro, são os sinónimos oficiais. Para além disto é conhecida como Alvadourão ou Alvadurão no Dão, Malvasia Grossa e Dona Branca em Bucelas e Crato Branco no Algarve. Até na Beira Interior, na zona de Belmonte, e em Portalegre, usava o sinónimo de Alva. Como vemos é bastante comum em várias regiões e ocupa 3% do encepamento nacional. Mas é na Beira Interior que a casta se destaca pela maior frescura e aromas menos terpênicos, mais delicados e focados, mas que duram mais tempo no envelhecimento em garrafa. Segundo Patrícia Santos, a Síria é uma casta muito versátil e expressa de forma identificativa não só a região da Beira Interior, como também cada sub-região. Na zona de Castelo Branco demonstra mais perfume, mas consegue manter a frescura; na zona de Pinhel é mais discreta, mais selecta; na zona de Figueira é um compromisso entre as outras duas.

A Fonte Cal é uma casta originária da zona de Pinhel e praticamente só existe na Beira Interior, sobretudo nos encepamentos antigos. Representa menos de 1% do encepamento da região, mas encontra-se principalmente em vinhas velhas onde existe uma mistura de muitas castas e por isto não se encontra identificada pelo IVV como Fonte Cal. É uma casta vigorosa, mas não muito produtiva. Precisa de mais tempo para amadurecer do que a Síria, mas perde rapidamente a acidez, pelo que a janela de vindima é muito pequena. Por esta razão entrava sempre nos lotes com Síria ou Arinto com mais nervo.

Patrícia Santos refere que na adega a Fonte Cal também não é fácil. Tem tendência para oxidar e perde aromas rapidamente. Como se não bastasse, apresenta instabilidade em termos de tartaratos de cálcio e tem tendência para o pinking (um fenómeno oxidativo do vinho branco, dando origem a uma evolução da cor para um tom cinzento-rosado). A verdade é que continuam a existir muito poucos vinhos monovarietais de Fonte Cal.

Algumas castas antigas da região são pouco conhecidas hoje em dia e trazem alguma polémica quanto à sua origem. E o caso da Callum, vinificada em extreme pela Quinta dos Termos. As opiniões dividem-se e nem os especialistas chegam a um consenso: uns dizem que é uma das castas antigas na zona que era chamada Pinhal Interior, enquanto existe possibilidade de ser a mesma casta chamada Batoca na região de Vinhos Verdes. Também foi referenciada nos distritos de Aveiro, Leiria, Vila Real e Bragança, com os nomes de Sedouro ou Alvaraça. Mas independentemente da sua origem, não há dúvidas que a casta teve sempre presença naquela zona da Beira Interior. Antes da filoxera entrava nos encepamentos de Sertã, Covilhã e Belmonte. O produtor e enólogo Pedro Carvalho conta que Callum já era autorizada para produção de vinhos na antiga Cova da Beira ainda antes de criação da denominação de origem.

Tudo começou quando a Quinta dos Termos adquiriu em 2015 outra propriedade – Herdade de Lousial, onde plantou nos cerca de 2 hectares 92 clones de Callum, provenientes de zonas distintas do pais, incluindo o Minho. Fizeram-se cerca de 1200 garrafas de um vinho único desta casta em 2020 e a experiência foi repetida em 2021, com mais de 3 mil garrafas.

A casta Fernão Pires não é muito associada à Beira Interior, ocupando cerca de 1% de vinha, mas tem na zona de Pinhel uma expressão bem interessante. Patrícia Santos ficou fascinada pela performance da casta que em Pinhel mostra uma quase salinidade inexplicável. Compara com vinhos de Sancerre, que, feitos de uma casta aromática, naquela região revelam uma personalidade diferente. No final de fermentação o vinho passa para as pipas de 500 litros, onde permanece pelo menos um ano. A produtora gosta de vinhos com madeira para dar outra dimensão ao vinho, desde que não seja exagerada. Deste vinho produz  apenas 1500 litros, mas faz um vinho de que gosta e que reflecte o terroir.

Na zona de transição para a região do Douro, os solos são xistosos e nota-se grande presença das castas durienses. As vinhas da Casas do Côro, na aldeia histórica de Marialva a poucos quilometros de Mêda, são velhas com quase 100 anos, com produções baixíssimas de 1500 kg/ha e ficam numa altitude de 600 metros. Entre as castas tintas predominam Mourisco e Touriga Franca e nas brancas Rabigato e Códega, aos quais se juntam uvas de Rabigato, Verdelho da Madeira e Donzelinho, provenientes da primeira vinha plantada em 2009.

Projectos novos e antigos

Na Beira Interior nota-se um movimento em direcção à qualidade e valorização da região. Já há produtores de renome, marcas associadas aos vinhos de autor, com personalidade vincada, que começam a ficar emblemáticas para a região, como a Casas de Côro, Biaia, Quinta dos Termos (também é uma das mais antigas) e Rui Madeira, entre outros.

E quase todos os anos aparecem projectos novos de grande dedicação e com propósito. Podem não ter ainda dimensão, mas contribuem para o nível qualitativo da região. Um dos mais interessantes é o de Miss Vitis Wines com marca Bal da Madre. Gil Taveira conta que o projecto começou no Douro pelo seu avó e com ele teve continuação. Há poucos anos resolveu apostar na Beira Interior para fazer vinhos de agricultura biológica, já que a região reúne as condições para isso. Em conjunto com produtores de azeite e mel, entre outros produtos, exportam para o Reino Unido, transportando a mercadoria em veleiros (para reduzir a pegada ecológica). O nome Bal da Madre significa “Vale da Mãe” em língua mirandesa e presta homenagem à mulher e à videira, onde tudo começa. A primeira colheita foi de 2017. O perfil dos vinhos é muito limpo, delicado, com uma simplicidade cativante.

A notoriedade constrói-se com resiliência e dedicação e pequenos projectos por vezes seguem conceitos bem sucedidos, são rapidamente captados pelos radares dos enófilos e propagados, valorizando a imagem global da região.

(Artigo publicado na edição de Junho de 2022)

 

Séries RCV- A engarrafar o futuro

Séries RCV

Tudo começou com um Rufete de 2010, e hoje são já 13 varietais. O projecto Séries, da Real Companhia Velha, tem sido um autêntico esboço do presente e do futuro dos vinhos não fortificados da empresa. Um estudo aprofundado do potencial vitícola e enológico de cada casta antiga do Douro. Texto: Mariana Lopes Fotos: Real […]

Tudo começou com um Rufete de 2010, e hoje são já 13 varietais. O projecto Séries, da Real Companhia Velha, tem sido um autêntico esboço do presente e do futuro dos vinhos não fortificados da empresa. Um estudo aprofundado do potencial vitícola e enológico de cada casta antiga do Douro.

Texto: Mariana Lopes

Fotos: Real Companhia Velha

No Douro, estão reconhecidas cerca de 150 castas autóctones autorizadas para produção de vinho. Só nas vinhas velhas, encontram-se várias dezenas de variedades diferentes, umas mais populares e amplamente utilizadas nos vinhos de hoje, e outras já consideradas raras, existentes em pouca quantidade, algumas com excelentes aptidões na adega. Isto é mais do que razão para se tirar partido prático desta riqueza varietal, e é mesmo isso que a Real Companhia Velha está a fazer com o projecto Séries. “A grande vantagem das vinhas velhas do Douro não é apenas a idade, é, precisamente, a diversidade de castas que lá encontramos, como as familiares Touriga Franca, Tinta Roriz, Tinta Amarela, naturalmente a Touriga Nacional, mas também outras muito interessantes como Tinta da Barca, Cornifesto, Malvasia Preta, Donzelinho Branco, Donzelinho Tinto… castas estas que produzem, e que se mostram adaptáveis às condições austeras do Douro”, sublinhou Pedro O. Silva Reis, Fine Wine Manager da empresa com sede em Vila Nova de Gaia, na apresentação dos novos Séries. Na verdade, foi esta diversidade que inspirou o nascimento desta gama de ensaios, onde se exploram diferentes técnicas na adega, castas e abordagens: em 2002, depois de várias visitas a campos ampelográficos do Douro, a equipa técnica da Real Companhia Velha inspirou-se e iniciou a aposta na recuperação de mais de 30 variedades autóctones. Séries RCV

Na Quinta do Casal da Granja, em Alijó, estão as brancas Alvarelhão Branco, Alvaraça, Branco Gouvães (ou Touriga Branca), Esgana Cão, Donzelinho Branco, Moscatel Ottonel, e Samarrinho. Já as tintas Bastardo, Donzelinho Tinto, Malvasia Preta, Preto Martinho, Cornifesto, Rufete, Tinta da Barca, Tinta Francisca e Tinto Cão, são da Quinta das Carvalhas, junto ao Pinhão. Quase todas foram plantadas pela empresa em parcelas estremes com área mínima de um hectare, para serem estudadas quanto ao comportamento agronómico e avaliado o seu potencial em vinhos varietais. Como explicou Jorge Moreira, responsável de enologia da Real Companhia Velha, foram “também às vinhas velhas à procura das castas mais antigas, para as vinificar separadamente”.

Famosa pelos seus vinhos do Porto, a Real Companhia Velha arrancou com o seu projecto de vinhos não fortificados — chamado Fine Wine Division — em 1996, ano em que resolveu “apostar na produção de grandes vinhos do Douro”, referiu o enólogo. “Começámos a melhorar a forma como tratávamos da vinha para termos uvas de qualidade, e a apostar em novas técnicas de vinificação, mais cuidadas e precisas. Sentimos necessidade de perceber, entre a enorme panóplia de castas que tínhamos, o que é que cada uma representava”, desenvolveu. Assim, ainda no final dos anos 90 e já com o “bichinho” dos estudos varietais, a empresa começou a engarrafar vinhos monocasta com as marcas Porca de Murça e Quinta de Cidrô, como Tinta Roriz, Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Barroca, Chardonnay, ou Cabernet Sauvignon. “Poucos se mantiveram, mas foram importantíssimos para percebermos as nuances de cada uma das castas na vinha e na adega, e permitiu-nos das um grande salto qualitativo”, explicou Jorge Moreira.

Séries RCVCom primeiro lançamento em 2012, de um Rufete 2010, as Séries contam já com 13 referências, algumas com mais de uma edição, o que totaliza mais de 30 vinhos, incluindo brancos, tintos e espumante. No recentemente inaugurado The Editory Riverside Hotel, em Santa Apolónia, foram lançadas as mais recentes colheitas dos Donzelinho Branco, Bastardo, Rufete, Malvasia Preta e Cornifesto; e também a novidade absoluta, um Tinta Amarela, cujas uvas têm origem na Quinta dos Aciprestes. Como “teaser” do que sairá em breve, provou-se um Samarrinho de 2019 e um Branco Gouvães de 2018.

“Isto é algo que teve um grande impacto na Real Companhia Velha. Os Séries marcaram muito a nossa forma de produzir vinho, criaram-se técnicas na adega muito a pensar nas uvas que estamos a vinificar, como uso ou não de engaço, maior ou menor extracção, remontagens… no fundo, aprendemos muito com este projecto”, afirmou Pedro Silva Reis, e Jorge Moreira rematou: “O que se passa aqui são as bases do futuro da Real Companhia Velha. Estamos entusiasmados, nunca fizemos vinhos tão bons, e falo de nós e do Douro em geral. Os Séries são, hoje, as sementes para fazer mais tarde vinhos ainda melhores. São lições que aprendemos, de conhecimento e de prazer”. Para “adoçar a boca”, a dupla revelou ainda que, na calha, está um Tinta da Barca e um Moreto…

(Artigo publicado na edição de Maio 2022)

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Lindeborg Wines- Como ser grande em pequena escala

Lindeborg Wines

Lindeborg Wines é um projecto recente, ambicioso e com grandes planos para o futuro. Neste momento agrega três quintas em produção – a Quinta da Folgorosa e Cortém na Região de Lisboa e a Quinta Vale do Armo no Tejo. O grupo ainda integra uma distribuidora, garrafeira e wine bar “111 Vinhos” com presença em […]

Lindeborg Wines é um projecto recente, ambicioso e com grandes planos para o futuro. Neste momento agrega três quintas em produção – a Quinta da Folgorosa e Cortém na Região de Lisboa e a Quinta Vale do Armo no Tejo. O grupo ainda integra uma distribuidora, garrafeira e wine bar “111 Vinhos” com presença em Lisboa e Cascais. No futuro mais próximo cabe o desenvolvimento da propriedade adquirida no Alentejo.

 Texto: Valéria Zeferino

Fotos: Lindeborg Wines

 Thomas Lindeborg, o empresário sueco com negócios na área de investimento imobiliário em vários países do mundo, de Europa a Ásia, partiu para uma nova aventura, agora no sector do vinho, com os pés bem assentes na terra. Literalmente. Thomas não compra vinho a granel para engarrafar e vender milhões de litros. Tem uma abordagem diferente – investe em terras, vinhas e quintas. Quer vender vinho de qualidade a preço razoável, em vez de entrar na guerra de preços baixos.

Não vê o vinho apenas como um hobby. Está disposto a e tem capacidade de investir sem esperar por lucros imediatos. A sua visão é a longo prazo, assenta na construção de uma imagem sólida e operações sustentáveis. Como impresário, percebe que o negócio tem que ser suficientemente grande para beneficiar de economia de escala e criar volume para entrar nos mercados de exportação, mas prefere atingir estes objectivos por via de complementaridade de várias propriedades de pequena/média dimensão. Esta abordagem permite preservar a autenticidade, evitando uniformização de grandes produções, e ao mesmo tempo ter uma oferta diversificada “in authentic small scale way” com brancos frescos de Lisboa, tintos aromáticos do Tejo, encorpados e redondos do Alentejo para além de vinhos biológicos e uma linha de vinhos vegan – para satisfazer todos os gostos. “Quero mostrar nos mercados internacionais que o vinho português não é só industrial” – afirma Thomas e sublinha “seja como for, eu não investi em vão, investi em imobiliário”.

Em vez de jogar golf, prefere podar a vinha. “Como passo muito tempo à frente do computador e ao telefone, o trabalho físico na vinha relaxa-me” – explica Thomas. As pessoas locais quando o viram pela primeira vez, pensavam que era algum turista alemão. Depois habituaram-se.

Lindeborg WinesComo tudo começou

Thomas Lindeborg visitou Portugal pela primeira vez em 1984, quando fez uma viagem a São Martinho do Porto com a sua esposa. “Era a viagem mais barata que consegui” – sorrindo lembra-se Thomas. Foi aí que se apaixonou pelo nosso país. Por razões de negócio viveu em Londres, mas desde 2008 teve uma segunda casa na costa Oeste. Em 2017, o Brexit impulsionou a sua mudança definitiva para Portugal.

O vinho sempre lhe despertou o interesse, servindo de motivação para investir nesta área. Em 2019 Thomas adquiriu a Quinta da Folgorosa com 46 hectares de vinha. No final do mesmo ano fez um negócio com um casal estrangeiro e ficou com a Cortém, uma pequena propriedade com apenas 6 hectares de vinha em produção biológica. Para ser autosustentável o negócio precisava de escalar, e em 2020 surgiu uma oportunidade no Tejo de aquisição da Quinta Vale do Armo com 94 hectares de vinha. No final do ano passado realizou-se mais um investimento, agora no Alentejo – a Herdade de Cabeceira com 50 hectares e possibilidade de plantar mais 40. Os primeiros vinhos desta propriedade só serão lançados em 2023.

Visão estratégica

 Depois de aquisição das propriedades, investiu-se nas vinhas, nas instalações e no equipamento para assegurar a qualidade de produção, e só agora chegou a vez da área comercial para alargar as vendas. Antes tinham e continuam a ter clientes privados em Portugal e fora.

Sustentabilidade é um conceito profundamente enraizado na Lindeborg Wines. Utilizam vidro mais leve, as caixas fecham-se sem utilização de cola ou plástico. Estão a estudar a possibilidade de substituir as cápsulas convencionais por outras de materiais alternativos sustentáveis que permitem a sua reciclagem ou cuja produção reduz significativamente a pegada de carbono. O papel para os rótulos é feito de massa a partir de grainha de uva. Estas medidas levam ao aumento de custos de produção, mas são mais sustentáveis de ponto de vista ambiental.

Sendo um líder por natureza, Thomas sabe que é na equipa que se deve apostar para alcançar o resultado pretendido. Sabe motivar as pessoas e dar-lhes oportunidades. “Não se preocupem com a parte financeira, esta preocupação é minha. A vossa é fazer vinhos de alta qualidade” – esta é a mensagem de Thomas para os seus colaboradores.

Pessoa chave na equipa é Diogo Pereira, o responsável de enologia do grupo. Entrou em 2009 na Quinta da Folgorosa e já tem mais de 10 anos de aprendizagem sobre as suas condições, pois as diferenças entre as regiões são grandes. Antes trabalhou no Alentejo, onde os taninos são naturalmente mais maduros e redondos. Na região de Lisboa encontrou taninos mais reactivos e agressivos e no Tejo teve que aprender a lidar com taninos secos. À sua responsabilidade fica a definição de gamas das quintas todas e a abordagem geral de produção.

Quinta da Folgorosa – frescura atlântica

A Quinta da Folgorosa fica perto de Sobral de Monte Agraço no concelho de Torres Vedras. É uma propriedade muito antiga com morgadio desde 1711 e antes das guerras napoleónicas já tinha vinhas. A parte mais alta da vinha fica a uma altitude de cerca de 300 metros, as ondulações do terreno não são acentuadas. Algumas parcelas são vindimadas à mão, outras, onde as condições de terreno e a dimenção da vinha permitem, vindimam-se à máquina.

No meio da vinha fica um velho moinho que acaba por servir de miradouro natural e dar um traço pitoresco à propriedade. Também é retratado nos rótulos.

A idade dos vinhedos anda pelos 12 a 18 anos mas, ao contrário do habitual na região, as produções por hectare são muito baixas, apenas 2-3 toneladas, derivado da falta de investimento em anos anteriores. As vinhas estão quase decrépitas, situação que está a ser corrigida agora. Aliás, os primeiros investimentos foram feitos precisamente na vinha e na adega logo depois da aquisição. O investimento na promoção e na área comercial só se verifica a partir de agora.

A grande parte de vinhos era vendida a granel, prática com a qual Thomas acabou. E também baniu completamente a adição de açúcar e pasteurização mesmo nas gamas de entrada.” O vinho tem que ser honesto, ou não vale a pena fazê-lo”, diz. A partir da colheita 2021 os vinhos vão ser certificados como DOC Torres Vedras. Os sete vinhos do portefólio são apropriados para vegans, ou seja, na sua produção, não são utilizados produtos de origem animal.

A proximidade atlântica traz frescura necessária para fazer brancos com frescura e carácter. O Arinto representa 60% do encepamento, é a base dos lotes. Diogo prefere apanhar o Arinto com o máximo de 12,5% de álcool provável, “pois quando atinge mais de 13%, começa a transmitir aromas que lembram maçã raineta e laranja confitada”, refere.

O Moscatel foi plantado como tempero para integrar nos lotes. Em 2020 fizeram o primeiro monovarietal, ainda com o objectivo de lotear. Sobrou cerca de 1000 litros e era muito bom. Foi para barrica durante 3 meses e chegaram à conclusão que vale a pena dar protagonismo à casta na gama Quinta da Folgorosa.

Plantou-se mais Moscatel e Alvarinho. Sauvignon Blanc também tem uma expressão interessante e vão apostar num monovarietal dentro da gama Quinta da Folgorosa. O Fernão Pires é bom para fazer lotes aos quais confere volume, mas não representa uma grande aposta a solo.

Está previsto também ter dois monovarietais tintos: de Touriga Nacional e provavelmente de Castelão. Futuramente vai haver um espumante e talvez uma aguardente. Em tempos, a quinta esteve ligada à aguardente CR&F, o que é sempre bom augúrio…

Cortém – vinhos biológicos

 Esta pequena propriedade rústica com uma adega bastante artesanal, também fica na região de Lisboa, situada em Caldas da Rainha. Apenas o chão e o tecto da casa original foram alvos de renovação, mantendo o traço original e todo o encanto de uma pequena quinta.

A apenas 15 km da costa em linha recta, o clima apresenta forte influência atlântica, ainda mais pronunciada do que na Quinta da Folgorosa. A vinha, inicialmente com 6 hectares e mais 3 adquiridos mais tarde, é plantada em dois vales – vale de Cortém, mais húmido e vale dos Mosteiros, mais seco. Os nevoeiros aparecem sempre de manhã e mantêm-se até às 11-12 horas, e depois acumulam-se novamente a partir das 5-6 horas da tarde.

Os antigos proprietários, o casal Price, apostaram na viticultura orgânica, o que tem sido um enorme desafio nesta zona pela humidade e a carga de doenças. A produção é baixíssima, não ultrapassa 3-4 tn/ha e em anos mais chuvosos a colheita fica fortemente comprometida. De acordo com a filosofia anterior, os vinhos passavam 2 anos em depósitos e ainda mais 2 anos em garrafa.

Quinta Vale do Armo – a expressão do Tejo

 Mudámos para a região do Tejo. A Quinta Vale do Armo encontra-se perto da pequena vila de Sardoal no concelho de Santarém, conhecida como Vila Jardim por ter muitas plantas e flores na decoração das casas. O rio Tejo fica a 6 km a norte da quinta.

Começou em 2004 com apenas 9 ha e cresceu até mais de 90 ha. Tiago Alves, responsável pela viticultura, foi encarregado de adquirir vinhas na zona para aumentar a área de plantação. Na conservatória onde se registava a passagem dos direitos, já toda a gente o conhecia, depois do registo de 42 cadernetas!

A colecção de castas tintas inclui Touriga Nacional, Touriga Franca, Aragonez, Trincadeira (não muito boa), Syrah, Petit Verdot, Merlot, Cabernet Sauvignon, Alicante Bouschet e algumas vinhas velhas. Para brancos têm Alvarinho, Viosinho, Arinto, Verdelho e Sauvignon Blanc. As castas brancas são plantadas nas zonas mais baixas com um pouco mais de fertilidade do solo; as tintas nas zonas mais altas com alguma encosta. As geadas representam aqui um problema grande. Há anos que há “zero Verdelho ou Touriga Nacional”, conta Tiago Alves.

Tiago considera Aragonez e Syrah duas castas estruturais. Touriga Franca, na sua opinião, é a casta de futuro nesta mudança climática. Para amadurecer e quebrar o tanino seco precisa de calor e aguenta-o muito bem. Não sofreu nada no famoso escaldão de 2018, não dá problemas fitossanitários e potencia os lotes.

Os solos nesta zona são muito pobres, explica Tiago, é difícil produzir mais de 6 tn/ha. Noutro polo de vinhas que ocupa 65 ha conseguem produzir cerca de 9 tn/ha, o que está muito longe das produções médias do Tejo. Por ano, produzem cerca de 500 000 litros de vinho, dos quais 70 000 são de brancos.

Embora a zona se aproxime territorialmente à Beira Interior e ao Alentejo, Tiago aponta diferenças essenciais nas condições climatéricas. As temperaturas no Tejo e no Alentejo são semelhantes, facilmente chegam aos 40˚C com a diferença que no Alentejo esta temperatura é atingida muito mais cedo e dura mais horas durante o dia do que no Tejo.

Se na Quinta da Folgorosa não precisam de rega, aqui é inevitável. Os solos são franco-limosos e argilo-calcários, com uma boa drenagem, mas não retém água por muito tempo. Para a rega têm dois depósitos de água: um de 150 mil litros com a captação de um furo e outro de 300 mil litros com captação do rio Tejo.

A colheita de 2021 já foi vinificada pela nova equipa a 100% e com a filosofia e abordagem enológica do grupo. Provei alguns ensaios muito interessantes que ainda estão em cubas e em barricas. A próxima colheita promete! Embora cada quinta tenha a sua própria adega, as instalações da Quinta Vale do Armo irão tornar-se num hub logístico e de engarrafamento da Lindeborg Wines.

O próximo passo é solidificar e harmonizar a imagem dos vinhos feitos em cada quinta com identidade do grupo e redefinir os portfólios. Como diz Thomas, e bem, “Portugal transmite paixão e felicidade aos quais eu junto estrutura e foco para um futuro de sucesso.”

(Artigo publicado na edição de Maio 2022)

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Portugal Vineyards – Vinhos de Portugal para o mundo

Portugal Vineyards

A Portugal Vineyards começou como loja online de vinhos portugueses na internet, para vender e entregar na casa dos consumidores de países da União Europeia. Sete anos depois de abrir portas, alargou a oferta a mais de nove mil referências e tem clientes em todos os continentes. A principal diferença: o serviço prestado a cada […]

A Portugal Vineyards começou como loja online de vinhos portugueses na internet, para vender e entregar na casa dos consumidores de países da União Europeia. Sete anos depois de abrir portas, alargou a oferta a mais de nove mil referências e tem clientes em todos os continentes. A principal diferença: o serviço prestado a cada um deles

Texto: José Miguel Dentinho

Fotos:  Portugal Vineyards

Quando se começa, é tudo ainda experimental. Ao longo do tempo vai-se evoluindo, procurando disponibilizar o melhor serviço possível, aquele que faz os clientes de uma empresa comercial repetirem as compras e contar a sua experiência aos conhecidos e amigos. “Mais do que vender vinho, é isso que faz os clientes procurarem-nos”, diz Miguel Almeida Diniz, proprietário e CEO da Portugal Vineyards.

Quando se mudou para o Porto, em 2013, já pensava em investir numa empresa comercial e de logística ligada ao sector de vinhos, projecto que imaginara e desenhara muitos anos antes, mas que não avançara ainda devido ao seu envolvimento noutros negócios. Em 2014 abriu a empresa. No ano seguinte já tinha um volume de negócios superior a 500 mil euros, valor que cresceu até aos cerca de 10 milhões de euros em 2021.

Segundo Miguel Almeida, são precisos muitos anos para lá chegar. Numa loja tem-se porta aberta para a rua e os passantes entram atraídos, por exemplo, pela forma como está decorada e por aquilo que está em exposição na montra. “Ao final de algum tempo, e se a experiência for boa, ganha-se reputação e as pessoas voltam ao local”, explica.

Já no negócio online é preciso comunicar que a empresa existe, o que faz, e as vantagens de quem opta por lá comprar, ou seja, “é necessário investir muito em marketing online, em todos os formatos, para ganhar reputação suficiente para que as pessoas comecem a procurar a loja”, diz o gestor. “É preciso ter paciência, saber esperar, porque não há certeza de que as vendas expludam apenas um par de anos depois de se abrir a empresa”, adianta. Isto significa que é preciso capacidade financeira e resiliência para abrir um negócio como este.

Serviço premium

 Claro que o serviço oferecido é essencial para garantir que os clientes se mantêm satisfeitos e voltem a comprar. Para o comércio online, isso significa que, depois de fazerem a encomenda, recebem o produto que pediram, com as características e qualidade anunciada no site, no período de tempo e no prazo acordado.

Para além de ter criado embalagens próprias para assegurar que o produto chega intacto aos destinos, a Portugal Vineyards usa os serviços de três transportadoras internacionais conceituadas no mercado, a UPS, a Fedex e a DHL, nas opções de transporte terrestre e aéreo. Mas é preciso que, antes, os clientes façam as suas encomendas.

Como é evidente, a experiência que as pessoas têm deve ser aliciante e o mais fácil possível. Por isso, Miguel Almeida Diniz procurou implementar as melhores práticas de venda online. Logo na primeira página existe uma montra de tudo o que está disponível para venda, de vinhos aos produtos gourmet. Há produtos novos, promoções, e por aí adiante e os vinhos podem ser pesquisados por tipo, produtor, região de origem, preço, produtos mais vendidos, recomendações, formatos especiais e em leilão.

Portugal VineyardsEuropa é mercado principal

 A Portugal Vineyards vende vinhos, cervejas, destilados e produtos gourmet nacionais para países onde consegue entregar mercadoria, porque os seus parceiros garantem a qualidade da entrega e não há constrangimentos à entrada de produtos. “Não faz sentido ter clientes em países como o Afeganistão, porque não consigo lá entrar”, explica Miguel Almeida Diniz. Conta que começou o seu negócio vendendo inicialmente a países da União Europeia, e foi avançando para outros depois de saber tudo o que era necessário para estar presente nesses mercados.

Actualmente, a União Europeia representa cerca de 60% das vendas em valor. Para além disso, a empresa vende sobretudo para o Reino Unido e Suíça, para além da Albânia, Israel, Noruega, Islândia. O resto da Europa totaliza cerca de 30% das suas vendas em valor. Hoje, também vende para países do continente americano, África do Sul, Austrália e Nova Zelândia.

O mercado asiático é constituído essencialmente pela Coreia do Sul e Hong Kong, apesar de a empresa vender para outros destinos. Como a Portugal Vineyards não conseguiria gerir diretamente as redes sociais nesses países, devido à dificuldade em entender as suas línguas, contratou uma agência de comunicação quando iniciou a sua actividade na região, também “para contactar wine influencers, escanções que escrevem e fazem cursos e formações sobre vinhos, para fazerem o mesmo com os nossos”, explica Miguel Almeida. Acrescenta que, hoje, a empresa tem uma rede com este tipo de contactos em todos os mercados onde está presente.

A travessia do Brexit

 Às 23h00 do dia 31 de janeiro de 2020, o Reino Unido deixou de ser um Estado-Membro da União Europeia. Nesse momento entrou em vigor o Acordo de Saída, garantindo uma partida ordenada desse país da União Europeia, e iniciou-se um período transitório, que terminou no dia 31 de dezembro de 2020. Nos últimos meses do ano, a Portugal Vineyards estava a despachar, para o país, entre 10 e 15 paletes de Porta 6, um vinho da Vidigal Wines, por semana. “Chegavam a ser 120 garrafas por encomenda, numa altura em que os britânicos estavam a acumular vinhos antes do Brexit”, conta Miguel Almeida Diniz. Depois, no início de janeiro de 2021, a sua empresa cessou a sua atividade no país, para estudar as novas contingências do mercado. No final do mês reabriram de novo. “Nesse período registámo-nos nas Finanças do país, e tratámos de realizar todos os processos necessários para garantir que tudo o que era preciso ia nas facturas e restantes documentações das encomendas e evitar, assim, devoluções por não conformidades com a legislação do Reino Unido, diz o gestor.

Portugal VineyardsNa Ásia o negócio é diferente

 Quando a Portugal Vineyards entrou no mercado da Coreia do Sul, sabia que os seus cidadãos escolhiam as marcas que compravam pela forma como estas os inspiravam. Eram sobretudo tawnies velhos, de marcas históricas como a Graham’s e a Taylor’s. “As pessoas optavam por este tipo de produtos porque sentiam que lhes davam estatuto”, conta o administrador. A partir do trabalho feito com o apoio dos wine influencers, começaram por experimentar outros tipos de vinhos do Porto, vinhos Madeira e, agora, “já compram um pouco de tudo”. Segundo o gestor, este país, Hong Kong e restantes mercados asiáticos representam, hoje, cerca de 600 a 800 mil euros de facturação, mas este valor deverá aumentar ainda mais, dado que as vendas para estes mercados estão a crescer 50% ao ano.

E Portugal?

 A Portugal Vineyards não começou logo a sua actividade pelo seu país, porque teria de concorrer, entre outros, com as empresas da Distribuição Moderna, e as margens baixas que teria de praticar poderiam prejudicar o seu negócio. “Como iriámos ser entendidos, pelos portugueses, como mais caros que as grandes superfícies ou as garrafeiras físicas que também vendem online, pensámos que seriamos pouco interessantes para o mercado nacional, pelo menos numa fase inicial, quando não eramos conhecidos”, explica Miguel Almeida Diniz, defendendo que “tem de se ganhar dinheiro para se poder investir e crescer, vendendo muito com margens pequenas, ou pouco com margens maiores”. Por isso, lançou-se primeiro lá fora, dado que “os mercados externos estavam preparados para pagar o nosso preço porque, para além do produto, os seus consumidores querem ter, como parceiros, empresas de confiança que lhes entreguem os produtos com qualidade e a tempo e horas”, defende mais uma vez. Para além disso, os consumidores desses mercados não compram nas grandes superfícies.

Portugal Vineyards
A loja foi aberta antes da pandemia, para receber os clientes que vão buscar as suas encomendas às instalações.

Passados alguns anos, a Portugal Vineyards começou a ter procura por parte de estrangeiros que pretendiam vir cá. Muitos são clientes que fazem férias em Portugal. Hoje, o nosso país é um mercado que está a crescer.

Os investimentos em comunicação nos canais online, que a Portugal Vineyards está atualmente a fazer, deverão contribuir para a intensificação das vendas da empresa em território nacional. Mas essa evolução não será feita à conta da diminuição das margens, já que Miguel Almeida não pretende abdicar das que coloca nos vinhos, sempre as mesmas, independentemente dos mercados onde vende. “Apesar de sermos caros em relação a alguns vinhos mais correntes, provavelmente somos baratos noutros, porque não faço especulação”, diz, acrescentando, no entanto, que há algumas excepções, como a marca Barca Velha por exemplo, “porque as empresas pedem para não o fazer, já que não produzem mais do que um número restrito de garrafas em cada colheita”.

Oito anos após o início da actividade, que começou com a oferta de vinhos e se alargou para os destilados, cervejas e produtos gourmet, inclui, hoje, também leilões online de produtos raros e distintos, a Portugal Vineyards está já a preparar e irá lançar mais uma área de negócio até ao final do ano, que ainda está em segredo. A ver vamos.

Portugal Vineyards

Rosés ambiciosos, a não perder

rosés ambiciosos

Depois de dois anos de pandemia, o verão de 2022 poderá ser o mais redentor e prazeroso dos últimos tempos com um rosé ambicioso no copo.  A qualidade, traduzida em expressão de fruta, equilíbrio, frescura e, em vários casos, carácter regional, está toda lá. Portanto, deixe de lado os preconceitos e agarre um (ou vários) […]

Depois de dois anos de pandemia, o verão de 2022 poderá ser o mais redentor e prazeroso dos últimos tempos com um rosé ambicioso no copo.  A qualidade, traduzida em expressão de fruta, equilíbrio, frescura e, em vários casos, carácter regional, está toda lá. Portanto, deixe de lado os preconceitos e agarre um (ou vários) destes rosés. Verá que vai valer a pena.

 Texto: Nuno de Oliveira Garcia

Fotos: Ricardo Palma Veiga

Após anos a afirmar a qualidade crescente dos rosés nacionais, bem como o seu evidente e natural lugar à mesa lusitana e internacional, é tempo de atacar o tema por onde, porventura, é mais difícil: por si, o consumidor! Com efeito, já dissemos quase tudo noutros trabalhos sobre o tema. Falámos, então, dos clássicos lançados nos mercados mundiais a partir dos anos 40 do século passado, como Mateus Rosé (Sogrape), Gatão (Borges), Lancers (José Maria da Fonseca) ou Casal Mendes (Aliança), e das novas referências, com outro perfil qualitativo, como sejam Redoma (Niepoort) com mais de vinte anos no mercado, Colecção DSF (José Maria da Fonseca), MR Premium (Ravasqueira), Vinha Grande (Sogrape), Dona Maria (Júlio Bastos) e mais recentemente Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo (da propriedade duriense com o mesmo nome). Em todos eles destacámos a qualidade e coragem dos produtores em lançarem produtos com ambição, mesmo que num país onde o imaginário do que era um rosé se assemelhava a uma sangria de vinho tinto, com doçura evidente e gás carbónico adicionado. A verdade é, pois, esta: os rosés actuais em nada ficam a dever aos brancos e tintos, e vamos comprovar isso mesmo de seguida, desmistificando cada um dos dogmas que ainda subsistem.

rosés ambiciososDogma 1: o rosé é feito com menos cuidado

É importante dizer com veemência que, na adega, a vinificação de um vinho rosé não perde em complexidade, técnica e rigor, para os restantes tipos de vinho, bem pelo contrário. E na vinha, todos os cuidados também são poucos: na eleição da parcela em termos de exposição solar e altitude, por exemplo, das castas, do momento da vindima e controlo da maturação, sobretudo nos níveis de acidez e do álcool, pois ninguém quer um rosé mole e pesado. Este cuidado especial é tanto mais relevante quando justifica, muitas vezes, uma vindima mais precoce para rosés (o mesmo sucede para espumantes) do que para tintos e alguns brancos, o que, obviamente, torna o processo mais complexo e exigente. Voltando à adega, o rosé requer atenção e cuidado enológico particulares, sendo, inclusivamente, um dos tipos de vinho no qual as opções enológicas determinam de forma mais significativa o produto final, o que não significa, de todo em todo, que o seu processo de vinificação seja menos natural. Com efeito, atenção na adega é permanente: da definição do nível óptimo de extracção e prensa (de preferência apenas lágrima) que se pode perder com a mais pequena desatenção, até à temperatura de fermentação escolhida. O mesmo se diga para opção pela ‘bâtonnage’ (agitação das borras), podendo-se eleger uma menor influência de oxigénio ou, como sucede com alguns produtores, permitir até alguma oxidação que venha a ajudar a proteger o vinho para uma maior longevidade. Entre as várias outras opções, pode-se proceder à utilização de borras de vinho branco (com ou sem bâtonnage, contribuindo tanto com cremosidade como com acidez crocante para o produto final), existindo até casos em que se utiliza parte de mosto de tinto sangrado que se mistura com outra parte constituída por um rosé de bica aberta (levíssimo contato pelicular e fermentação realizada com uvas sem pele), ou então mosto de tinto sangrado que é prensado com as películas de vinho branco e depois fermentado (por exemplo numa barrica, com ou sem tampo). Por fim, é hoje muito comum que nos rosés de topo de gama se proceda à fermentação, em parte ou totalmente, em barrica (Quinta do Monte d’ Oiro, MR Premium, Redoma, Vallado Tinto Cão, Nélita, Olho de Mocho, Quinta da Biaia, entre tantos outros), e mais ainda habitual que, pelo menos, os vinhos passem por estágio em madeira. Como se vê, a diversidade de estilos é grande e em todos eles o resultado pode ser excelente, o que, tudo somado, desmistifica o preconceito da simplificação da elaboração de rosés.

Dogma 2: o rosé vem de castas menos nobres

Outra ideia muito presente é a de que o rosé é feito da mistura de vinho branco e tinto, o que não é o caso, e que são utilizados vinhos de lotes e/ou castas menos nobres ou com menor concentração. Nada podia, pelo menos nos rosés de ambição que provámos, estar mais errado! Em primeiro lugar, em quase todos os vinhos deste painel, a colheita da uva foi feita propositadamente para rosé, sendo apenas utilizadas as melhores uvas que cada produtor entendeu que seriam as indispensáveis para o tipo de rosé de excelência que pretendiam. Por outro lado, não existe qualquer discriminação de castas no que respeita ao seu valor de mercado ou qualidade, sendo disso bom exemplo o facto de parte significativa dos vinhos em prova serem exclusiva, ou parcialmente, produzidos a partir de Touriga Nacional (MR Premium, Vinha Grande, Monte da Raposinha, Síbio, Quinta da Pacheca, Manoella, Caminhos Cruzados, Casa Santa Eulália, entre outros) uma das mais afamadas e caras uvas do nosso país vitícola. O mesmo se passa com a casta Baga nos rosés da Bairrada, Moscatel Roxo na Península de Setúbal e Palmela, Alvarinho e Sousão nos Vinhos Verdes, e Tinto Cão no Douro (uma casta igualmente com procura e preço crescentes). Existem até castas estrangeiras, e algumas pouco habituais, que estão presentes em lotes ambiciosos, sendo o caso mais expressivo a uva borgonhesa Pinot Noir (Phenomena, Vicentino, Adega Mãe, Casa Ermelinda Freitas neste caso com loteado com Merlot), mas também Syrah (Quinta do Monte d’ Oiro, Herdade do Sobroso; Quinta do Paral), Cabernet Sauvignon (Quinta do Sobreiró) e até Sangiovese, a casta-rainha da Toscana (Herdade das Servas e Monte das Bagas). Destes todos, o fenómeno do Pinor Noir é, efectivamente, o mais paradigmático e exemplar pela enorme qualidade dos vinhos rosés apresentados, ainda que a sua utilização para tintos nacionais não tenha ainda conseguido trazer os resultados esperados. Quanto à escolha maioritária por castas como Touriga Nacional, Syrah ou Moscatel Roxo, essa explica-se pelos seus registos aromáticos mais evidentes, algo muito relevante quando a uva (como sucede com os rosés) é vindimada muito cedo, ou seja, ainda com pouca maturação fenólica. A opção pela uva Mourisco (Quinta da Biaia) revela a vontade de mostrar o lado delicado desta casta bem presente na Beira Interior, e o uso da variedade Tinto Cão (Quinta do Vallado) leva em consideração o facto da mesma, quando vindimada abaixo dos 13% álcool provável, proporcionar vinhos abertos de cor (acima dos 14% a cor é precisamente o inverso) e uma capacidade de proporcionar néctares com uma elegância e exotismo únicos. Na verdade, produzem-se excelentes rosés com recurso a várias castas, e praticamente em todo o território nacional, apesar de o terroir resultar menos marcado nos rosés precisamente pelo facto de as uvas serem colhidas muito cedo, muitas vezes sem a referida maturação fenólica estar completa (por isso também, as temperaturas altas e a perda de acidez típicas de parte do Douro e Alentejo não são um problema nos rosés).

Dogma 3: o rosé evolui mal e é inferior a um branco ou tinto

Outras duas ideias a abater… A primeira diz respeito à evolução em garrafa dos rosés, e nesse capítulo dúvidas não existem que, nos vinhos com qualidade e ambição, essa evolução ocorre sem grandes perturbações. Efectivamente, em prova tivemos alguns vinhos com 4 e 5 anos em garrafa (MR Premium e Nélita, respectivamente), e vários com 3 anos (Quinta do Monte de Ouro, Vicentino, Quinta das Cerejeiras, Adega de Borba) sem que em nenhum deles a evolução fosse outra que não positiva. Aliás, nenhum dos vinhos em prova (mais de 4 dezenas…) se revelou cansado, nem, de resto, apresentou defeito evidente. Acresce, que várias foram as garrafas que, uma vez abertas, permaneceram no frio e sem bomba de vácuo, sendo que a sua prova 24 horas depois se revelou igualmente prazerosa. O facto de estes vinhos serem vinificados em ambientes redutores (com pouco contacto de oxigénio) pode explicar essa circunstância, o mesmo se podendo dizer dos níveis elevados de acidez totais (quase sempre acima das registadas em tintos). A segunda ideia a reverter é que um rosé nunca pode ter o mesmo nível de um branco e tinto da mesma gama, no que respeita a complexidade. Pois bem, não vemos como um Redoma rosé ou um Vinha Grande rosé, e o mesmo poderíamos dizer do Olho de Mocho rosé ou Casa Santar rosé, seja menos interessante do que as correspondentes versões tintas, ou brancas. Mesmo ao nível da complexidade, reconhecendo que num rosé essa característica é mais difícil de alcançar para o produtor e para o consumidor, temos dificuldades em perfilhar a posição de que encontramos, necessariamente, mais sofisticação num tinto, ou num branco, do que num rosé. De resto, o recurso a fermentação e estágio em barrica permite mesmo uma aproximação dos estilos e de perfil qualitativo dos rosés aos seus irmãos brancos e tintos.

Dogma 4: os rosés são baratos e para beber no Verão

A visão do rosé como sendo um produto vínico fresco e acessível tem, obviamente, justificação. Foi esse o modelo dos rosés nacionais durante muitos anos, e a adopção de um perfil fácil a preço cordato explica também o seu enorme sucesso na exportação. Em muitos casos, sobretudo os nascidos na última década e meia, são rosés feitos de sangrias de vinhos tintos, afinados e engarrafados à medida das encomendas com altíssimas produções. Naturalmente, os vinhos que participaram nesta Grande Prova nada têm que ver com rosés massificados, sendo, ao invés, alguns deles verdadeiras preciosidades líquidas dos quais apenas estão disponíveis algumas centenas garrafas, ou pouco mais (Fogueira, Quinta do Monte d’Oiro, Paulo Coutinho Fusion, entre outros). Aliás, quanto a qualidade e preços, note-se que foram 14 (cerca de 1/3 dos vinhos em prova) os vinhos classificados com as notas 18 e 17,5, sendo que a média de preços destes vinhos anda acima de €25! Tal justifica-se, obviamente, pelos custos com os cuidados modernos na viticultura e na vinificação que atrás descrevemos. Mas também se justifica pelo actual posicionamento dos vinhos rosés no mercado, ou seja, pela existência de uma gama de rosés premium que há uma década nem se imaginava ser possível de vir a existir. Esta oferta e diversificação de rosés com ambição só é possível por existirem consumidores que os procuram, seja na restauração, seja nas garrafeiras mais selectas. A circunstância de Portugal ser um destino turístico, sobretudo nos meses mais quentes, em conjunto com uma crescente população estrangeira residente no nosso país, é outro factor relevante, tal como nos confidenciaram alguns proprietários de garrafeiras no Algarve e em Lisboa. Com efeito, muitos estrangeiros residentes em Portugal trouxeram dos seus países de origem o hábito de começarem uma refeição com vinhos que, sendo leves e frescos, têm grande qualidade, ao mesmo tempo que se revelam eficazes na hora de casarem com pratos condimentados (como são tradicionalmente os lusitanos), o que fez aumentar a procura de rosés elegantes e com personalidade. Naturalmente, um PVP mais elevado permite que os produtores invistam mais na hora de elaborarem um rosé, tanto mais quanto não faltam em Portugal enólogos talentosos e cada vez mais cientes das modas e exigências internacionais.

Conclusão

Aqui chegados a conclusão é óbvia. Portugal tem hoje dezenas de rosés a um nível muito alto que em nada ficam atrás do que melhor se faz nos restantes países produtores. Cabe ao consumidor eleger o(s) seu(s) estilo(s) preferido, saber se o prefere beber novo ou passados alguns anos, e se vai juntá-lo a uma refeição ou apenas servi-lo como aperitivo sofisticado. Quer isto dizer que o ónus está agora em si – o consumidor. Até porque o actual elevado nível de qualidade e diversidade de rosés nacionais só se poderá manter se os mesmos forem procurados e bebidos, e se forem consumidos com alguma regularidade. Estamos convencidos que haverá sempre lugar para alguns rosés de topo que serão procurados por este ou aquele nicho de consumidores. Mas para manter as dezenas de rosés com a ambição ao nível que os agora provados revelam é preciso mais; é necessário deixar para trás preconceitos sobre os vinhos rosés, embarcar na aventura de provar o que de melhor se faz em Portugal, e partir para a descoberta das múltiplas harmonizações possíveis com esta maravilhosa bebida rosada. Venha daí!

ROSÉS AMBICIOSOS