Adega de Borba sopra 65 velas

Foi a 30 de Abril de 1955 que o Alentejo viu um grupo de viticultores fundar a primeira adega cooperativa da região, a Adega Cooperativa de Borba. São vários os marcos cronológicos assinaláveis: Em 2012, um marco importante: a conclusão da nova adega, 14 hectares de terreno que incluem dois polos, um centro de vinificação […]

Foi a 30 de Abril de 1955 que o Alentejo viu um grupo de viticultores fundar a primeira adega cooperativa da região, a Adega Cooperativa de Borba.

São vários os marcos cronológicos assinaláveis:

Em 2012, um marco importante: a conclusão da nova adega, 14 hectares de terreno que incluem dois polos, um centro de vinificação de tintos e um armazém de produto acabado.

Em 2014, deu-se um investimento em equipamentos modernos, para a criação de vinhos topo de gama: mesa de selecção de uvas com escolha por tecnologia óptica, vinificação de pequenos lotes e aumento do espaço para estágio dos vinhos em tonéis.

Em 2019, a Adega de Borba fez um investimento avultado em painéis fotovoltaicos, o que a permite assegurar a sua própria energia durante grande parte do anos. “A preocupação ambiental tem merecido a nossa especial atenção, o que nos tornou pioneiros no Programa de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo”, diz a empresa. Também nesse ano, em Fevereiro, inaugurou o Restaurante Adega de Borba.

Seis décadas depois, a Adega conta com cerca de 270 viticultores, e produz 1,2 milhões de caixas de 9 litros, com vinhos que provêm de 2300 hectares de vinha, em que estão plantadas 70% de castas tintas e o restante de brancas. Dos quadros da Adega, fazem parte 70 colaboradores que, tal como os 270 viticultores associados, têm as famílias envolvidas directa ou indirectamente no negócio. De relembrar que as adegas cooperativas têm, em Portugal, um papel social e económico muito importante nas zonas onde se encontram, precisamente por grande parte da população dessas zonas estar, em quase todos os casos, dependente dessas instituições.

Dentro das suas marcas, destaca-se o vinho Adega de Borba; Adega de Borba Reserva “Rótulo de Cortiça”, uma marca com mais de 50 anos; Montes Claros, que remonta a 1945; Convento da Vila, com boa relação preço/qualidade; a gama de monovarietais com o nome Senses; e Quintas de Borba, uma homenagem às pequenas quintas tradicionais da região de Borba.

Mariana Lopes

No olival do Pousio, intensamente

A Herdade do Monte da Ribeira foi pioneira no Alentejo no olival intensivo e superintensivo. A directora agrícola garante que tem preocupações de sustentabilidade e convida os “ambientalistas a irem ao terreno”. TEXTO Ricardo Dias Felner FOTOS Mário Cerdeira Uma dezena de homens e mulheres vai avançando pela fileira de Cobrançosa. O ritmo é rápido […]

A Herdade do Monte da Ribeira foi pioneira no Alentejo no olival intensivo e superintensivo. A directora agrícola garante que tem preocupações de sustentabilidade e convida os “ambientalistas a irem ao terreno”.

TEXTO Ricardo Dias Felner
FOTOS Mário Cerdeira

Uma dezena de homens e mulheres vai avançando pela fileira de Cobrançosa. O ritmo é rápido e está tudo mais do que treinado. Enquanto uns puxam a rede para a árvore seguinte, outro homem coloca a máquina a postos, espécie de braço mecânico que sai do tractor com uma pinça na ponta. Essa pinça engancha no tronco e abana-o freneticamente, o som da folhagem furando o ar, os frutos caindo no solo como uma bátega de granizo. Em pouco mais de um minuto, com a ajuda de dois varejadores, os ramos largam a azeitona quase toda sobre as redes — e o grupo volta a avançar sob o olhar atento da directora agrícola, Mariana Carmona e Costa.

Mariana Carmona e Costa

Aquilo que para um leigo parece um processo bastante expedito, no entanto, não satisfaz totalmente Mariana. A responsável pela Casa Agrícola Herdade Monte da Ribeira, em Marmelar, no concelho da Vidigueira, tem outro termo de comparação. “O superintensivo é muito mais rápido e simples. É um descanso na colheita”, atira, seguindo para a próxima árvore, cuidando que não pisa terrenos macios.
O solo está pesado e lamacento, mas é preciso aproveitar a brecha na meteorologia. Mariana Carmona e Costa andava há muito a monitorizar esta janela de oportunidade para tratar do olival intensivo. São 80 hectares, com uma malha de 12 metros por sete, numa área que alaga facilmente. “Se vêm as chuvas, já não entra aqui ninguém”, diz a engenheira agrícola, há oito anos à frente da Herdade Monte da Ribeira (HMR). A Cobrançosa podia ter sido apanhada mais tarde, mas isso teria também outras implicações, nomeadamente à entrada do lagar. “Nessa altura, quando fôssemos descarregar provavelmente teríamos o camião em fila de espera”. E azeitona em contentores a fermentar é tudo o que não se quer. “A tulha pode vir daí”, explica Mariana.

Quando a quantidade perfaz cerca de 10 toneladas, entra em cena Joaquim Dias, o caseiro da propriedade. Trabalha ali desde sempre, viu Mariana crescer naqueles campos. Hoje faz parte da história da casa, uma história que recomeçou há mais de 30 anos, quando o tio de Mariana comprou a herdade, hoje gerida pela Fundação Carmona e Costa. Em 2013, iniciou-se um processo de valorização da matéria-prima, com a actual directora agrícola a liderar essa reconversão e a demonstrar um carinho especial pelo olival.

Oliveiras felizes

O amor pelo azeite tem muito a ver com a sua formação. Depois da licenciatura em engenharia agrícola, integrou a primeira pós-graduação em olivicultura, ministrada por José Gouveia, no Instituto Superior de Agronomia, em Lisboa. Quando chegou à HMR o tio tinha-lhe deixado um brinquedo para gerir: em 2003, quando poucos sabiam o que era olival superintensivo, ele plantara 24 hectares de Arbequina. Ainda são as mesmas árvores, garante Mariana, desmentindo a ideia de que a varietal seja efémera. “Se bem tratada, com as podas certas, pode durar mais de 30 anos”. Ao lado, por sua vez, foram cultivados os tais 80 hectares de intensivo, hoje “maioritariamente de Cobrançosa, com uns apontamentos de Picual e Cordovil.” A esta matéria-prima havia ainda que juntar perto de 100 hectares com olival tradicional, onde pontificam várias árvores centenárias de galega, verdeal e bico-de-corvo, também conhecido como zambujeiro, primo selvagem da galega.

Quando Mariana chegou, a azeitona era vendida à Cooperativa Agrícola da Vidigueira, hoje Vidcavea, apenas para azeite a granel. Mas a directora agrícola achou que fazia sentido valorizar o produto e também embalá-lo com marca própria. Começou então a trabalhar em três lotes: um o Pousio, o outro o Pousio Premium e um terceiro, o Pousio Clássico. São todos de qualidade Virgem Extra, mas há diferenças. No Pousio e no Pousio Premium, procura-se que a azeitona seja colhida mais verde. No Clássico entra fruta mais madura. No grande comércio, as garrafas começaram a aparecer em 2016.

Parte dos lotes são feitos com olival tradicional, mas Mariana não esconde o seu apreço pelo superintensivo, enfrentando os críticos. Diz ser falso que o superintensivo acabe com a fauna: “Os javalis adoram-nos. E as lebres e as perdizes. Dão sombra e água.” E sublinha que as colheitas são feitas de dia e não à noite, altura em que os pássaros estão mais expostos. De resto — adianta — são usados produtos de protecção integrada e respeitam-se os limites impostos para o uso de pesticidas e herbicidas.

Questionada sobre se há fiscalização suficiente nesta matéria, Mariana admite, contudo, que o sector não tem o mesmo controlo do que outras áreas do agro-alimentar. E também não põe as mãos no fogo por outros produtores, sobretudo por quem compra terreno, mas não tem o apego à terra alentejana que têm os olivicultores locais. Aos ambientalistas que “só criticam” deixa o convite: “Eles que venham ao terreno ver como trabalhamos”.

Edição nº 33, Janeiro 2020

Adega Cartuxa com vinhos e azeites à distância de um clique

Já está disponível a nova loja online da Cartuxa com os seus vinhos e azeites, e entrega grátis em encomendas superiores a 40 euros. “Idealizadas para serem saboreadas com o tempo e a calmaria que caracteriza as vastas planícies alentejanas”, como diz a Fundação Eugénio de Almeida em comunicado de imprensa, destacam-se várias opções de […]

Já está disponível a nova loja online da Cartuxa com os seus vinhos e azeites, e entrega grátis em encomendas superiores a 40 euros.

“Idealizadas para serem saboreadas com o tempo e a calmaria que caracteriza as vastas planícies alentejanas”, como diz a Fundação Eugénio de Almeida em comunicado de imprensa, destacam-se várias opções de compra, entre elas o Cartuxa tinto 2016, o EA Biológico branco 2018 e o Pêra-Manca branco 2017, por exemplo.

É também possível encontrar neste site os azeites da empresa, que declara: “Mais perto do que nunca, os azeites e vinhos alentejanos da Adega Cartuxa prometem uma viagem até à gastronomia e às pacatas paisagens alentejanas, das vilas caiadas de branco ou da sombra do sobreiro, para que se reviva a saudade, mas também para celebrar e brindar às memórias que estarão para vir”.

José Maria da Fonseca lança packs experiência com provas online privadas

Numa altura de recolhimento, a José Maria da Fonseca cria a oportunidade de se assistir a uma prova de vinhos online comentada por um dos elementos da família Soares Franco, de forma personalizada e privada. Esta prova de 30 minutos, dirigida ao cliente e feita através de Skype, vem com a compra de um dos […]

Numa altura de recolhimento, a José Maria da Fonseca cria a oportunidade de se assistir a uma prova de vinhos online comentada por um dos elementos da família Soares Franco, de forma personalizada e privada. Esta prova de 30 minutos, dirigida ao cliente e feita através de Skype, vem com a compra de um dos 4 packs experiência criados pelo produtor. Os packs incluem também o envio gratuito das garrafas dos vinhos incluídos na prova, um saca-rolhas e ainda um voucher de visita guiada à Casa Museu José Maria da Fonseca, para duas pessoas poderem usufruir pós “quarentena”.

Os 4 packs disponíveis, que incluem a prova online, são:

“À descoberta dos vinhos de Talha” (90€), composta por dois vinhos: Puro Talha branco e Puro Talha Tinto. Uma viajem pelo mundo dos vinhos de talha, uma forma de produção ancestral que é preservada na Adega José de Sousa, em Reguengos de Monsaraz.

“Duelo de Regiões: Douro Vs. Península de Setúbal” (100€), composta pelos vinhos Domini Plus e Periquita Superyor, que aborda as especificidades de duas regiões vitivinícolas nacionais – Douro e Península de Setúbal – com prova de dois topos de gama das respectivas regiões.

“Moscatéis da Colecção Privada DSF à prova” (75€), composta pelo DSF Moscatel Roxo e DSF Moscatel de Setúbal (Armagnac), onde são explicadas as especificidades do Moscatel de Setúbal e as características únicas de dois dos exemplares da Colecção Privada do enólogo Domingos Soares Franco.

“Moscatel de Setúbal para iniciados” (74€), composta por três vinhos – Alambre Moscatel de Setúbal, Alambre Moscatel de Setúbal Roxo e Alambre 20 Anos – que aborda as especificidades do Moscatel de Setúbal e as características únicas de três exemplares do portefólio da José Maria da Fonseca.

Pode adquirir estes packs na loja online da José Maria da Fonseca. Após o pagamento, basta enviar um e-mail para apoioaocliente@jmfonseca.pt, indicando a preferência de data e horário, para a família agendar a prova via Skype.

Adega de Borba cria loja online

A Adega de Borba acaba de criar  um serviço que permite ao consumidor português escolher e comprar o seu vinho comodamente, a Loja Online. Nesta plataforma, é também disponibilizada informação sobre cada vinho, acesso a produtos exclusivos e, ao longo das próximas semanas, a promoções e ofertas especiais “com uma excelente relação entre a qualidade […]

A Adega de Borba acaba de criar  um serviço que permite ao consumidor português escolher e comprar o seu vinho comodamente, a Loja Online.

Nesta plataforma, é também disponibilizada informação sobre cada vinho, acesso a produtos exclusivos e, ao longo das próximas semanas, a promoções e ofertas especiais “com uma excelente relação entre a qualidade e o preço”, diz a empresa.

Os custos de envio são grátis em compras superiores a €50 e o acesso à Loja Online Adega de Borba é feito aqui.

Symington e Esporão são duas das marcas mais admiradas do mundo

Torre do Esporão

Um inquérito realizado a vários líderes de opinião e a 160.000 consumidores de vinho de todo o mundo deu resultados extraordinários para duas empresas e/ou marcas portuguesas. De facto, tanto a Symington como o Esporão conseguiram entrar no top 50 da lista The World’s Most Admired Wine Brands (As marcas de vinho mais admiradas do […]

Um inquérito realizado a vários líderes de opinião e a 160.000 consumidores de vinho de todo o mundo deu resultados extraordinários para duas empresas e/ou marcas portuguesas. De facto, tanto a Symington como o Esporão conseguiram entrar no top 50 da lista The World’s Most Admired Wine Brands (As marcas de vinho mais admiradas do mundo), acabada de editar pela revista inglesa Drinks International.

A Symington ficou no 7º lugar e o Esporão no 13.º lugar no ranking dos The World’s Most Admired Wine Brands 2020. Estes prémios, atribuídos desde 2011, distinguem as marcas de vinho mais conceituadas e prestigiantes do mundo. A Symington ficou à frente de empresas/marcas como Veja Sicilia (Espanha), Cloudy Bay (Nova Zelândia) ou Barefoot (EUA). Ambas as empresas superaram outros nomes sonantes de todo o mundo vínico, como Sassicaia, Cono Sur, Marqués de Riscal, Frescobaldi, Yellow Tail, Château d’Yquem ou Cheval Blanc, ou ainda Robert Mondavi ou Château Pétrus.
Nos três primeiros lugares ficaram a Catena Zapata (Argentina), a australiana Penfolds e a espanhola Torres.

Para a atribuição destes prémios, a Drinks International reuniu um conjunto de especialistas constituída por profissionais da indústria do vinho, desde comerciantes, retalhistas, importadores, bartenders, proprietários de garrafeiras e bares, Masters of Wine, críticos de vinho, jornalistas especializados em vinho e professores de enologia. Depois, com o recurso à Wine Intelligence (empresa especializada em estudos de mercado, estatísticas e consultoria), foram realizadas mais de 160.000 inquéritos a consumidores de vinho de 48 países. Os critérios avaliados passam por qualidade e consistência, relação preço – qualidade, “sentido de lugar” dos vinhos, país de origem ou o tipo de castas produzidas.

Rupert Symington, CEO da Symington Family Estates avança que “este é um fantástico reflexo da reputação que temos contruído ao longo de muitos anos – não apenas como empresa familiar de vinhos com credenciais de qualidade impecáveis, mas também, em nosso entender, um testemunho da nossa reputação de longo prazo e compromisso sério em sermos uma empresa responsável e ética, especialmente agora que nos tornarmos na primeira empresa de vinhos em Portugal com certificação B Corporation. Este reconhecimento chega numa altura difícil para todos a nível mundial – independentemente do país ou setor onde cada um de nós trabalha – e é uma motivação bem-vinda para a nossa equipa que tem respondido de forma notável aos desafios de adaptação à nova realidade criada pelo coronavírus.”

Quanto a João Roquette, o CEO do Esporão disse que “este reconhecimento é particularmente especial para o Esporão, pelo seu caracter global, pela abrangência e qualidade do painel que o atribui e como motivação no momento delicado que o mundo vive. Construir uma marca de vinhos reconhecida em todo o mundo era parte central da visão inicial e ousada dos fundadores do Esporão. Estamos, e continuaremos a realizar essa visão.”

António Maçanita e Fita Preta: Casa com passado, vinhos de futuro

[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text] Quando começou o seu percurso de enólogo e produtor, António Maçanita nunca pensou vir a restaurar um paço do século XIV. Indomável, construiu-se quando ninguém estava a ver, e agora é um dos players que mais […]

[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]

Quando começou o seu percurso de enólogo e produtor, António Maçanita nunca pensou vir a restaurar um paço do século XIV. Indomável, construiu-se quando ninguém estava a ver, e agora é um dos players que mais agitam as águas.

TEXTO Mariana Lopes
NOTAS DE PROVA Luís Lopes e Mariana Lopes
FOTOS Mário Cerdeira

De uma das estradas que vai de Évora para Nossa Senhora da Graça do Divor (uma freguesia que, entre menires cromeleques e antas, tem cerca de 500 habitantes), vê-se um edifício que não deixa ninguém indiferente. Pelo seu traçado, percebe-se que é coisa de outro tempo e quase parece, também, de outro lugar. António Maçanita, que na mochila trazia a Fita Preta, empresa que que fundou em 2004 com David Booth e que hoje partilha com a enóloga Sandra Sárria (sócia minoritária), passava naquela estrada inúmeras vezes e a pergunta era sempre a mesma: “O que é aquilo?”. Até que, em Maio 2015, no dia a seguir a um casamento e apesar do cansaço, as palavras “Não passa de hoje” ressoaram na sua cabeça. Foi aqui que deu início ao processo que fez com que a Fita Preta ganhasse casa própria (até aqui estava em adega alugada e não possuía vinha), adquirindo 87% da propriedade em 2016, com usufruto exclusivo e responsabilidade de recuperação. E que bela casa ganhou: um paço medieval fundado em 1306 em regime de morgadio por D. Martim Pires de Oliveira, arcebispo de Braga entre 1295 e 1313 e dono, entre outras, da vila da Vidigueira, um homem muito influente. Este entregou logo a gestão da coisa ao irmão Mem Pires, para garantir a transferência da mesma em linha direita sucessória, e porque a lei da altura era restritiva em relação à posse de bens por parte do clero.

No entanto, à data em que António Maçanita finalizou a compra, o proprietário do Paço do Morgado de Oliveira era D. João Saldanha, e há 700 anos que já estava na sua família. Por ali passaram reis, como D. João II, por exemplo, em Setembro de 1490, acompanhado do seu filho, o Príncipe D. Afonso. Por Garcia de Resende, em “Crónica de D. João II”, sabe-se que o monarca ali justou, no pátio do Paço da Oliveira. Um sítio místico, portanto, onde a Fita Preta colocou cinco historiadores a investigar e que se descobriu ter sido alvo de alterações ao longo do tempo, principalmente no século XIX, altura em que a família Saldanha tomou conta do edifício. Sem ambições museológicas e apenas pela preservação histórica e para fins funcionais, António Maçanita começou a recuperá-lo e, “escavando” as camadas de massa até à pedra, descobriu cinco portas de arco em ogiva, uma fresta e três pares de janelas em ogiva no primeiro piso (que não comunica com o térreo), resgatando o esqueleto original medieval do edifício. “Há aqui salas ‘abonitadas’ no século XVI”, esclareceu Maçanita. Também um lagar de azeite soterrado viu agora luz, que se confirmou sê-lo por um escrito de 1776 onde se lê “armazém de azeite com sua loiça”, e por outro de 1865 que refere a necessidade de obras no lagar.

Toda esta empreitada, sem qualquer financiamento externo, foi iniciada em 2017, bem como a do edifício novo, todo revestido a cortiça e perfeitamente integrado no ambiente e com a parte antiga. Assim, estes dois edifícios formam uma adega de duas naves, a de brancos no antigo e a de tintos no novo, com comunicação por tubos subterrâneos. Para a primeira, as cubas verticais de inox foram feitas com uma medida especial, para que coubessem entre as colunas de pedra originais. Estas coabitam com as barricas de madeira e com cubas horizontais, modelo de fermentação que António trouxe dos Açores, onde por ligação familiar (o pai é açoriano) também produz vinho, sob a umbrela Azores Wine Company. “O meu objectivo, nos brancos, é fazer o máximo de fermentações possíveis, trabalhando com leveduras que não geram novos perfis aromáticos, utilizando zero sulfitos até ao final da fermentação e apenas fazendo bâtonnage como ferramenta de protecção”, explicou o enólogo, apontando para as barricas, cada uma com um tipo de levedura diferente. A capela interior, datada de 1567, é também guardiã de barricas de estágio, cuidadosamente dispostas ao longo das suas paredes e a formar um corredor que leva ao altar original. No edifício novo, além da adega de tintos, espaçosa e muito prática, com as cubas, a prensa e a mesa de escolha, encontra-se a sala de provas, o laboratório, escritórios, loja e espaço para eventos.

A expansão do território

Apesar de, à sua chegada, António Maçanita ter tido um feeling de que ali se fazia vinho, à partida nada o mostrava, o terreno não continha vinha. Em 2017, começou por plantar quatro hectares, em 2019 foram mais dezasseis e em 2020 serão mais treze. Naquele solo, maioritariamente saibro e granito (a 60 metros de profundidade), a relação entre a superfície e o lençol freático é muito próxima. “Quase toda a zona de vinha é tocada pela água”, disse Maçanita. Na verdade, ali encontra-se o ribeiro do Louredo, de onde nasce o rio Xarrama (ou Enxarrama). Na parte com mais água, junto ao Paço, foi plantado Arinto, por exemplo. O historiador Francisco Bilou, autor do estudo “A Quintã da Oliveira, no termo de Évora: território, património e identidade histórica” refere precisamente a abundância de água como justificação para a configuração visual pouco comum da propriedade: “(…) a estrutura residencial não se localiza na parte mais alta da propriedade onde o domínio visual sobre o território envolvente é maior, sobretudo para o quadrante norte, mas antes a meia encosta, sendo apenas visível de sul e nascente. O que reforça a ideia de uma localização de acordo com as particularidades fisiográficas do «lugar», como são a abundância de água e a qualidade dos solos (…)”. Aliás, presume-se que da visita de D. João II, supramencionada, “tenha resultado a decisão de restaurar o velho aqueduto romano fazendo com que a água das fontes da Prata e Oliveira corresse na praça principal da cidade”, como escreveu Francisco Bilou.

Neste momento, o mapa vitícola da Fita Preta conta, além da área própria do Paço do Morgado de Oliveira e de vinte hectares recentemente adquiridos em Aldeia da Serra (no Redondo), com a exploração integral de seis hectares (bio, solos argilo-calcários) em Nora; seis em Craveira, no Redondo (granito); nove de vinha velha em Azaruja (granito); e dezasseis em Bencatel, em solos de xisto. António Maçanita descortinou: “Eu sou um fã de xisto, tínhamos de ter” e explicou que “do ponto de vista mineral é um solo mais complexo, dá textura e potência de boca aos vinhos. Além disso, o xisto faz um melhor doseamento de água para a planta ao longo do tempo. Granito dá elegância, mas é mais simples”. Em todos os locais, a preferência é por vindima manual e nocturna.

A vinha velha de Aldeia da Serra é impressionante. Tem 49 anos, solos graníticos, e está num local antes apelidado de Chão dos Eremitas, e por isso também nome de uma colecção de vinhos da Fita Preta que inclui três monocasta: Tinta Carvalha, Alicante Branco (antigo Boal de Alicante) e Trincadeira-das-Pratas (conhecida no Alentejo por Tamarez). As linhas montanhosas da Serra d’Ossa pintam-se em plano de fundo e dois riachos cortam as parcelas, onde nascem castas como, além das citadas, Fernão Pires, Roupeiro, Castelão, Trincadeira, Alfrocheiro, Moreto ou Grand Noir. É um cenário bastante aberto e solarengo, em planície, que com as imponentes videiras velhas e a presença dos riachos e de oliveiras circundantes, forma uma espécie de oásis, onde o nível freático está apenas entre os três e os cinco metros de profundidade. Aqui, os Pauperes Eremiitas (latim para Pobres Eremitas) de São Paulo faziam as suas vinhas, habitando onde é hoje o Convento de São Paulo. A importância deste local era tal, que a Bula Papal de 1397 isenta os Pauperes Eremiitas de tributos nestas vinhas, como contou Maçanita.

Um portefólio de peso

O portefólio Fita Preta é uma loucura, e não estamos a contar com vinhos de outras regiões que não o Alentejo. Tendo começado em 2004 com o tinto Preta e com o primeiro Sexy Tinto, tem crescido exponencialmente desde então. Vários outros Sexy foram adicionados, os Fita Preta, Branco de Talha, Baga ao Sol, Palpite, A Touriga Vai Nua, entre muitos outros, agora com novidades como os Chão dos Ermitas e o Laranja Mecânica, um vinho feito com dez castas e maceração de uma semana depois da primeira prensagem, fermentação espontânea em inox após segunda prensagem,

e doze meses de estágio sobre borras primárias. Tudo isto surge de uma hiperactividade mental de António Maçanita, que não se cansa de concretizar ideias, por mais mirabolantes que pareçam. Felizmente, tem os enólogos Sandra Sárria e Andrés Herrera ao seu lado que, com o mesmo espírito, alinham em todas as aventuras.
A produção actual da Fita Preta no Alentejo é de 280.000 garrafas anuais e “a vontade é de estabilizar este número”, afirmou António, admitindo que “o foco agora é aumentar o preço médio e lançar os vinhos mais tarde para o mercado”. Daquele número, 60% vai para fora do país, sobretudo para Suíça, Estados Unidos, Canadá, Bélgica, Alemanha, Holanda, França, Finlândia e Noruega. O envio de pequenas quantidades é já hábito da marca, pois “quem quer vender os nossos produtos não trabalha com grandes quantidades, nem começa com o portefólio todo, mas antes por entender o vinho. Assim, conseguimos construir um mercado exigente e de continuidade”, revela. Cheio de energia, António Maçanita não dá a entender que vá parar por aqui. Mas depois da recuperação de um Paço Medieval, só esperando para ver.

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Edição nº 33, Janeiro 2020

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Covid-19: Gin alentejano fornece álcool para 3 meses ao Hospital de Évora

Como revelou o site Tribuna Alentejo, o empresário António Cuco, produtor do Sharish Gin – empresa com sede em Reguengos de Monsaraz – vai assegurar o stock de álcool do Hospital de Évora para os próximos 3 meses, o que se traduz numa necessidade de 1200 litros do produto. A informação foi inicialmente avançada pelo próprio […]

Como revelou o site Tribuna Alentejo, o empresário António Cuco, produtor do Sharish Gin – empresa com sede em Reguengos de Monsaraz – vai assegurar o stock de álcool do Hospital de Évora para os próximos 3 meses, o que se traduz numa necessidade de 1200 litros do produto.

A informação foi inicialmente avançada pelo próprio e por José Calixto, presidente da Comunidade Intermunicipal do Alentejo Central.

Foto: Gin Foundry