Caves Messias: Grandes vinhos, grande família

A Caves Messias é um dos grandes produtores de vinho do nosso país. Com vinhas na Bairrada, onde tem a sede, no Dão e no Douro, a empresa consegue chegar a quase todos os tipos de vinhos e possui um portefólio impressionante. Na sua base continua a estar uma família que cada vez mais alia […]

A Caves Messias é um dos grandes produtores de vinho do nosso país. Com vinhas na Bairrada, onde tem a sede, no Dão e no Douro, a empresa consegue chegar a quase todos os tipos de vinhos e possui um portefólio impressionante. Na sua base continua a estar uma família que cada vez mais alia a discrição à vontade de bem fazer.

TEXTO António Falcão
NOTAS DE PROVA Vários provadores da GE
FOTOS Anabela Trindade

Os representantes da família na administração: Gonçalo Lousada, José Vigário, Margarida Valente, Messias Vigário e Henrique Guedes de Campos.

A Grandes Escolhas percorreu os caminhos da Caves Messias, conduzidos por Gonçalo Lousada, responsável da produção, e Margarida Valente, prima de Gonçalo e responsável de marketing, enoturismo e recursos humanos. Ambos são administradores, tal como mais outros três elementos, cada um deles representando uma das cinco famílias que herdaram o património que começou a ter nome em 1926. Gonçalo e Margarida representam a quarta geração à frente dos destinos da casa, que começou com Messias Baptista, o fundador da empresa (na altura ainda em nome individual). Não se sabe a história completa de Messias, mas Margarida disse-nos que o bisavô começou de baixo. Terá começado a sua fortuna a exportar vinho para vários mercados da Europa. Outra versão fala ainda da venda de aguardente aos produtores de Vinho do Porto, trazida de grandes explorações do Ribatejo. Estas e outras actividades económicas deram-lhe capacidade para começar a adquirir terras e vinhas na sua Bairrada natal. Em 1938 a 1943 constrói a actual sede da casa, na Mealhada, uma estrutura já de grande dimensão, fundamentalmente constituída por caves e armazéns. Poucos anos depois, Messias Baptista oferece um cineteatro ao município da Mealhada. Mais tarde recebe o grau de Comendador.
Ao longo dos anos foi acumulando uma fortuna considerável. Parte da fortuna foi para a compra de terras e casas. Começou na Bairrada, onde se destacou a Quinta de Valdoeiro, na Mealhada, nos anos 40 do século passado. A segunda aquisição foi no Douro, a Quinta do Cachão, em 1956. Dois anos depois, Messias Baptista iria adquirir uma quinta adjacente, a Quinta do Rei, que pertencia a Gonzalez Byass, famoso produtor de Jerez. As duas quintas fundiram-se e possuem cerca de 200 hectares, dos quais 90 estão actualmente ocupados por vinha. E foi exactamente por aqui que começámos a nossa visita.

Rumo a Ferradosa, São João da Pesqueira

A Quinta do Cachão fica no Cima Corgo, mas está praticamente encostada ao Douro Superior. “A próxima freguesia já aí pertence”, diz-nos Gonçalo. E a paisagem não mente, com as fragas e rochas a mostrarem aquele lado mais selvagem tão típico da sub-região mais a Leste. A casa de apoio aos visitantes, sejam ele família ou técnicos, fica mesmo ao lado da adega e tem todos os confortos necessários neste pedaço de mundo afastado de quase tudo. Estamos no fundo de um vale e ao lado está o final de um dos braços da barragem da Valeira, uma das cinco que represam o Douro na sua corrida para o mar (em território português). O efeito estético é muito interessante.
A adega, de aspecto industrial fica logo ao lado e, apesar de estar em colina, na altura da construção, há umas décadas, optou-se por colocar a recepção da uva na base e depois bombar as massas para os respectivos depósitos. Nos dias de hoje seria exactamente ao contrário, para evitar bombas e usar o benefício da gravidade, maximizando a qualidade. Gonçalo pretende reformular em breve a recepção da adega para a parte de cima, nem que seja apenas para as uvas que vêm em caixas, destinadas para os vinhos especiais. Este ano o desafio é ainda comprar alguns lagares e depósitos de pequena capacidade, para tintos e Vintage ainda mais ambiciosos, à semelhança do que fazem na Mealhada.
No exterior está um generoso conjunto de grandes depósitos (de 50 a 150 mil litros) onde estão os vinhos vinificados. Os vinhos por aqui ficam, muitas vezes um ano ou dois, antes de transitar para madeira ou garrafa.


A adega recebe, das vinhas da casa, apenas 180 toneladas de uva tinta e 10 toneladas de branca. Pouca quantidade para a área de vinha, mas existe uma explicação: “preferimos qualidade em detrimento da quantidade”, afiança Gonçalo. No total a adega recebe muito mais uva do que esta, através de contractos com muitos viticultores da região. No total, entram aqui em média, e por ano, 1,6 milhões de quilos. Como a adega foi projectada para o dobro, conseguem-se “fazer as coisas com calma”, garante o director de produção. Cerca de 70% vai para Vinho do Porto, o resto para vinho Douro. Tudo é engarrafado em Gaia.
Por baixo da adega, uma nova construção, com apenas alguns anos: a casa das barricas, que alberga os melhores vinhos tintos da casa. Todos os anos se compram barricas novas, mas predomina a madeira de carvalho francês. João Soares, o enólogo que vem da Mealhada, é o experimentador nato e por isso reina a diversidade de marcas. Por outro lado, a equipa de enologia descobriu que misturar barricas novas e velhas dá melhores resultados.

Um enorme património de tawnies

A enóloga Ana Urbano gere os stocks de um vasto património de Vinho do Porto. Só na Quinta do Cachão estão cerca de 500 mil litros, com datas a começar em 1982. O armazém principal fica a cerca de 2 quilómetros da adega e é constituído por um enorme edifício mesmo junto ao rio. A abertura da porta, no piso inferior, revela-nos um gigantesco pé direito, exibindo um telhado lá em cima, a mais de 10 metros de altura do chão. As retorcidas traves de madeira, de enorme tamanho e espessura, revelam que esta antiga adega está aqui há muitas, muitas décadas. As grossas paredes de pedra e as raquíticas janelas só realçam ainda mais a cinefilia do espaço, que nos leva a mente para séries de grandiosos cenários, como a Guerra dos Tronos ou o Senhor dos Anéis. Encostados à parede, diversos tonéis e balseiros de vários tamanhos e capacidades, até às dezenas de milhar de litros, por exemplo). Cada tonel tem vinhos de um ano só e aqui não há lotes. Este espaço consegue manter-se fresco todo o ano, mesmo quando estão 40 graus lá fora, garante Margarida.
A idade do edifício? Não se sabe ao certo e, pasme-se, não havia registo dele na câmara municipal. Um indício é a data inscrita num dos tonéis: 1853.
Este seria um local óptimo para fazer eventos vínicos e Margarida Valente sabe-o. O grande óbice, está bom de ver, é o afastamento dos grandes centros. A Régua está muito longe e mesmo o Pinhão dista quase uma hora de carro. A viagem por rio, contudo, é bem mais descansada, mas exige a passagem por barragens e respectivas eclusas: as mais próximas são Bagaúste, entre a Régua e o Pinhão, e Valeira, mais acima no rio. Menos mal que aqui não faltam cais de atracagem, incluindo o da Ferradosa. Este será um projecto para o futuro próximo, certamente, até porque uma casa anexa está já projectada para ser convertida em enoturismo. A exploração poderá vir a ser realizada com um parceiro especializado.
Ana Urbano traz-nos, entretanto, para o presente. “Envelhecemos aqui os vinhos, a maioria para fazer tawnies. Quando os vinhos chegam à qualidade que pretendemos, são enviados para Gaia e substituídos por vinho novo”. Ana prefere estagiar os vinhos em Gaia, que é uma zona mais fresca e húmida e os vinhos levam mais tempo a envelhecer.

Chega, entretanto, Albertino, o homem que toma conta dos vinhos. Quem pense que é só encher os tonéis e esquecer, engana-se. Um Vinho do Porto em estágio dá muito trabalho e as operações não admitem erros. Albertino passa por aqui todos os dias e, de vez em quando tem de arejar um vinho, instruído pela enóloga; ou seja, tira-se o vinho pela torneira de baixo, para um recipiente, e volta para o tonel por cima, através de mangueira. “Quando estão muito tempo fechados, os vinhos do Porto podem ficar com poucos aromas; o arejamento reanima-os”, esclarece Ana. Outra tarefa frequente é, por exemplo, arranjar um tonel que começou a verter e lá se tem que chamar um tanoeiro, coisa nada fácil nos dias que correm.
Fazer os lotes, já em Gaia, é das tarefas favoritas de Ana. Até porque os vinhos podem ser caprichosos. Diz ela que “nunca recuso um lote só porque à primeira parece não funcionar. No dia seguinte pode estar muito diferente e…. muito melhor. Os vinhos têm que casar…”. A técnica de laboratório da casa, Ana Maria, ajuda nesta tarefa.

Vinha no Cachão

Depois de adquirida, a quinta foi alvo de uma grande reestruturação. As castas típicas do Douro, claro, mas já separadas por talhões. Esta quinta terá sido mesmo a pioneira no Douro neste sistema de gestão da vinha. De esses tempos até hoje, a vinha foi sofrendo reestruturações, a cargo das gerações seguintes. Ana consegue assim fermentar casta a casta e depois fazer blends. É quase tudo tinto, excepto um bocadinho de Malvasia e Rabigato. Esta região é muito quente para brancos, afirma Ana. A maior vinha ocupa uma boa parte do monte de Santa Bárbara, encimado por uma capela, a mais de 300 metros de altura. A enorme vinha estende-se até ao rio, quase 200 metros mais abaixo. A plantação mais recente foi um pouco de Sousão, há dois anos, para se conseguir “um pouco mais de acidez”, diz Ana. No total estamos a falar de cerca de 90 hectares, uma vinha de tamanho considerável no Douro e um património invejável. O maior desafio aqui é, cada vez mais, a falta de mão-de-obra, especialmente na vindima. Este problema, diga-se de passagem, é neste momento transversal a todo o Douro.

Rumo à Mealhada

Saímos do Douro em direcção ao sul, para a Mealhada. Pelo meio, mais ou menos, fica a Quinta do Penedo, a operação Dão da Messias. Junto à Aldeia de Carvalho, Mangualde, esta quinta foi adquirida pela Messias em 1999 e pouco tempo depois estava em reestruturação, com as castas mais típicas do Dão. No portefólio da casa, o Dão ocupa pouco espaço, até porque a área de vinha é aqui a mais reduzida de todas as regiões: tem apenas 20 hectares de vinha, que dá origem a três tintos e um branco.

Os enólogos João Soares e Ana Urbano, e o técnico de viticultura Manuel António.

Chegamos finalmente à Bairrada, onde o destino é de imediato a enorme Quinta do Valdoeiro, uma das maiores áreas contíguas de vinha da região, com 70 hectares de videiras. Esta quinta tem a particularidade de ser atravessada pela linha de comboio da Beira Alta, que separa a vinha em duas partes. Um enorme edifício vê-se ao longe, mas não é a adega. Eram construções de uma antiga exploração de gado.
Para o visitante, esta vinha é de facto de uma beleza surpreendente, também pela sua extensão e morfologia, instalada num vale de colinas suaves, entrecortado aqui e ali por pinhal. Que contraste face ao tom rústico e selvagem do Douro! Em vez de xisto, o solo aqui é predominante argilo-calcário. O clima é também muito diferente, marcado substancialmente pela proximidade ao Atlântico, a uns meros 35 quilómetros: “é mais temperado que no Douro”, atira-nos Messias Vigário, administrador e responsável comercial da casa. Ou seja, menores amplitudes térmicas e muito mais humidade, dois factores que fazem muita diferença no vinho (sobretudo na acidez), mas, no caso da humidade, costuma colocar aqui grande pressão de doenças fúngicas, muito mais do que no Douro. Mas longe vão os tempos em que se faziam de 12 a 14 tratamentos; nesta altura fazem menos de metade, uma maravilha em termos económicos e ambientais.
Conseguir maturações completas é o outro grande desafio. A casta tinta rainha da Bairrada, a Baga, é das menos exigentes, porque se conseguem excelentes vinhos com graus alcoólicos abaixo dos 13,5 graus. Outras castas tintas precisam de maior grau, mas, verdade seja dita, os últimos anos têm ajudado, com épocas de vindima secas. Outro ponto a favor é a recente máquina de vindimar, que consegue fazer 5 a 6 hectares por dia. “Foi um alívio, porque em alguns anos isto era um sufoco com falta de mão-de-obra”, garante José Vigário, o administrador da casa com o pelouro financeiro. Manuel António acrescenta: “antes tínhamos 60 pessoas a vindimar e levávamos mais de 20 dias a apanhar… hoje fazemos tudo em metade do tempo”. A máquina tem outra enorme vantagem: colher as uvas mais próximas do ponto óptimo de maturação, uma etapa crucial para a qualidade dos vinhos. Sem ter medo da chuva, o eterno problema nesta região (e em outras). Manuel António e Gonçalo Lousada adoravam levar a máquina para o Douro, mas tal não é possível, claro, pela inclinação do terreno.

Quinta do Valdoeiro.

É neste contexto que trabalham João Soares e o técnico de viticultura Manuel António, que estão juntos na Messias há mais de 18 anos, um caso raro de longevidade nesta fileira. E conseguem produzir todos os anos um belo portfolio de vinhos, desde espumantes até tintos, com uma notável consistência de qualidade. Mesmo no Valdoeiro colheita, cuja produção chega às 60 ou 70 mil garrafas. Este que é, diz João Soares, o “grande desafio enológico: fazer 3 ou 4 mil garrafas de um vinho especial não é muito difícil aqui no Valdoeiro”.
As uvas vão para a sede da casa, na Mealhada, onde as instalações possuem tudo o que é necessário para produzir bons vinhos e espumantes. Produzir e, acrescentamos, armazenar, especialmente no caso dos espumantes, que precisam de muito tempo em garrafa antes de irem para o mercado. Não espanta assim que a Messias tenha em stock mais de um milhão de garrafas de espumante, um negócio “importantíssimo e em crescimento” para a família, nas palavras de Messias Vigário. Sem contar com o Vinho do Porto, o sector ‘espumantes’ representa 30% da facturação e tem tido muito sucesso também na exportação. Messias Vigário diz que, pela Europa fora, os enófilos começam a conhecer e gostar do espumante português.
Alguns deles aparecem na Mealhada, onde hoje têm melhores condições para serem recebidos. A casa fez obras recentes na recepção e possui uma elegante loja com espaço, num piso superior, para fazer algumas provas.

Vasto portefólio

Uma parte do que é vinificado na Messias não vai para produtos da casa. Em particular no Vinho do Porto, onde o negócio vai para a venda de vinho a grandes casas. Uma parte do vinho feito com uvas do Douro, contudo, fica nos armazéns, em Gaia. Vai para marcas da casa, brancas e tintas, e em todos os estilos. Os tawnies, contudo, têm especial destaque. É por isso que a Messias possui uma das mais vastas colecções de ‘colheitas’, com data de vindima. Uma parte está até disponível para aquisição no site da empresa, com datas que recuam até 1962. Por lá estão também quatro tintos emblemáticos. Destacamos três deles: um é o Triunvirato, lote de vinhos do Douro, do Dão e da Bairrada. Outro vinho invulgar chama-se Dados, um Douro feito na colheita de 2009 em parceria com o enólogo espanhol Javier Rodriguez. Não teve continuidade. Finalmente, o Clássico, o Baga da Bairrada que apenas é feito em anos de enorme qualidade.


De resto, o portefólio é enorme e só uma pequena parte foi aqui avaliada. O grande objectivo estabelecido para o futuro pelos seus timoneiros, José e Messias, é ir subindo paulatinamente a qualidade dos vinhos e, ao mesmo tempo, o seu valor no mercado. A equipa de gestão, incluindo os técnicos, sabe que este desafio não é fácil: implica pequenas afinações em todo o processo, melhorias constantes, e, claro, alguma sorte, em especial no clima. A exportação tem ajudado, com 65% dos vinhos a ir para o estrangeiro. A Alemanha é, de longe, o maior mercado, e com pouca ajuda do chamado ‘mercado da saudade’. Ou seja, os alemães gostam mesmo dos vinhos da casa.

A caminho do século

O percurso da Caves Messias sempre foi discreto, mas o observador mais atento percebeu que os vinhos que daqui têm saído, sejam eles Douro, Dão ou Bairrada, generoso ou espumante, mostram um trabalho cada vez mais sério e sustentado em experiência e conhecimento. A empresa continua a singrar e apresta-se para fazer um século de actividade em 2026. Pode parecer que ainda falta muito, mas não é assim. Não é cedo, por exemplo, para preparar um Vinho do Porto, um tinto muito ambicioso ou um espumante com estágio ‘sur lies’. A família sabe-o e, em conjunto com os técnicos, já estão a preparar “qualquer coisa”. João Soares não adianta mais, mas será certamente algo em grande. E faz bem, porque a casa Messias merece-o.

 

Edição nº 34, Fevereiro de 2020

Quinta dos Muros: A outra face do Portal

No vasto e diversificado mundo do vinho, a identidade é uma mais-valia importante. É neste contexto que surgem os vinhos de parcela, como forma de destacar, numa determinada vinha, um terroir muito particular. O agora apresentado Quinta dos Muros Parcela M7 abre um novo caminho no portefólio do Portal e assume-se desde já como uma […]

No vasto e diversificado mundo do vinho, a identidade é uma mais-valia importante. É neste contexto que surgem os vinhos de parcela, como forma de destacar, numa determinada vinha, um terroir muito particular. O agora apresentado Quinta dos Muros Parcela M7 abre um novo caminho no portefólio do Portal e assume-se desde já como uma das estrelas mais cintilantes da empresa.

TEXTO E FOTOS Luís Lopes

A Quinta dos Muros é o berço duriense da família Mansilha Branco, proprietária da sociedade Quinta do Portal. Nas mãos da família desde finais do século XIX, a Quinta dos Muros foi, na verdade, o princípio de tudo. Ali, na encosta nascente do Vale do Rio Pinhão, as sucessivas gerações Mansilha Branco começaram por produzir vinho do Porto, vendido depois a granel para as grandes casas de Gaia. A partir de 1974, resolveram ir guardando algum vinho, criando um stock de Porto que lhes permitiu, no início da década de 90, fazer nascer a sociedade Quinta do Portal, dedicada à produção e comércio de Douro e Porto, e que, mais tarde, integrou enoturismo e hotelaria. Hoje, Portal é a marca e identidade “chapéu” que agrupa a produção de várias quintas mas, para a família Mansilha Branco, as raízes (reais e emocionais) do seu projecto vitivinícola, estão na Quinta dos Muros.

Com 28 hectares plantados, a Quinta dos Muros é igualmente a maior das vinhas da empresa. Contígua, fica a parte da Quinta da Manoela, com 11 hectares de vinha, que pertence à família Mansilha Branco, sendo a outra parte propriedade da família Serôdio Borges (Wine & Soul). Mas enquanto a Quinta dos Muros produz uvas para Porto e Douro, as vinhas da Quinta da Manoela (plantada apenas com Touriga Nacional e Tinta Roriz) estão exclusivamente orientadas para Douro. O património vitícola da empresa fica completo com as quintas do Portal (12,2 ha), da Abelheira (16,6 ha) e Confradeiro (19,6 ha), num total de cerca de 88 hectares de vinha em produção. O olival está também presente em várias destas propriedades.

Pedro Mansilha Branco e Paulo Coutinho.

A parcela M7

Quem cuida de todas estas vinhas, adega, armazéns e vinho, é o enólogo Paulo Coutinho. E percebe-se, quando com ele se fala, que nutre pela Quinta dos Muros um carinho muito especial. Talvez pela diversidade que encontra, pela qualidade das uvas que ali recolhe e pelo tempo e esforço que investiu no estudo e aprimoramento destas videiras. A Quinta dos Muros está dividida em diversas parcelas, entre os 135 e os 550 metros de altitude, integrando vinhas mais recentes e mais antigas, talhões estremes e talhões com castas misturadas. Tinta Barroca, Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinto Cão, Tinta Roriz e Cabernet Sauvignon encontram-se plantados separadamente, mas existem várias parcelas com vinha velha de “field blend”. Entre estas, destacando-se pela sua configuração em oito taludes/patamares de três e quatro bardos, plantados há cerca de 50 anos, está a parcela M7.

A M7 abrange 1,39 hectares, com orientação oeste/noroeste, entre os 440 e os 490 metros de altitude. Neste momento, são exactamente 4.548 videiras, integrando 30 variedades distintas, e tendo como mais representativas a Tinta Barroca, Tinta Roriz, Touriga Franca, Tinta Carvalha e Mourisco.

 

Esta singularidade esteve muito perto de desaparecer para sempre. Uma vinha antiga não produz necessariamente bons vinhos (longe disso!) e alguma decrepitude vitícola da parcela M7 sugeria que deveria ser reestruturada, ou seja, arrancada para plantar vinha nova. Em 2016, porém, Paulo Coutinho, apoiado por Pedro Mansilha Branco, resolveu dar à M7 uma oportunidade para mostrar o que valia. Até aí, as uvas tinham sempre sido misturadas com as de outras parcelas, pelo que ninguém sabia a qualidade e perfil de vinhos que poderiam vir dali. Antes da vindima de 2016, Paulo provou as uvas de todas as videiras, selecionando aquelas que lhe pareciam com mais potencial. Essas cepas foram marcadas e vindimadas separadamente, e as uvas vinificadas em micro lagares de 1m3, com mergulho da manta apenas com a mão e braços, e movimentações do mosto por gravidade. O estágio decorreu em barricas de 300 a 500 litros, novas e velhas. O resultado foi tão surpreendente que, na vindima de 2017, repetiu-se a experiência, minimizando assim a margem de erro. A qualidade da M7 foi reconfirmada e a decisão tomada: a parcela era para salvar, recuperar e preservar.

Assim, logo a seguir à vindima de 2017, entraram em cena dois talentosos classificadores (profissão hoje em dia praticamente extinta e que muita falta vai fazer para o estudo e preservação das vinhas velhas do Douro…). Sem cachos para ajudar a dissipar dúvidas, e com as folhas já em cores outonais, estes profissionais conseguiram ainda assim identificar e classificar individualmente todas estas cepas. A confirmação por DNA foi feita na Universidade de Trás os Montes e Alto Douro (UTAD), com a particularidade de ainda estarem em fase de descoberta/confirmação duas castas, um Gouveio Preto e uma potencial nova variante de Tinta Carvalha. Depois da classificação das cepas, veio o trabalho de remodelar a parcela, reconstruindo taludes e reformulando o sistema de condução das videiras. De postes de madeira com uma fiada de arame, passou-se para os clássicos esteios de xisto, agora com dois arames fixos e dois móveis. Segundo Paulo Coutinho, a vinha respondeu muito bem a esta intervenção, com resultados muitos animadores em 2018 e, sobretudo, 2019.

Uma nova abordagem

A experiência feita com a parcela M7 levou a empresa a procurar replicá-la. Assim, para Pedro Branco e Paulo Coutinho, a M7 servirá de modelo para intervir noutras parcelas de vinha onde também existe “field blend”, e foi já fornecedora de material de propagação (varas de videiras para enxertia) para novas parcelas que já foram entretanto plantadas, quer nos Muros quer na Manoela.
A Quinta dos Muros fornece em todas as vindimas algumas das melhores uvas para a adega do Portal, quer para tintos do Douro quer para Porto Vintage. Mas agora a propriedade vai ganhar outro estatuto dentro do universo Quinta do Portal. O Porto Vintage é um bom exemplo. Até 2011, o Porto da Quinta dos Muros foi sempre integrado no lote do lote do Portal Vintage. Em 2013, 2014 e 2016, os melhores fortificados das uvas da propriedade deram origem a Portal Quinta dos Muros Vintage. Mas na colheita de 2017, o Quinta dos Muros Porto Vintage aparece já sem o “chapéu” Portal, ganhando identidade e autonomia próprias.

E a quinta merece esse destaque. Para Paulo Coutinho, a Quinta dos Muros tem características diferenciadoras face às outras propriedades da empresa: “claramente, a exposição, as diversas altitudes, os patamares de uma ou duas linhas que dominam as parcelas, dão o carácter que necessitamos para os Vintages mais portentosos e os tintos mais concentrados”.

A M7 ajudou igualmente a mudar o modelo de viticultura do Portal. Para além da enologia, Paulo Coutinho tem assumido também, nos últimos anos, a direcção desta área e sabe bem o que quer. “Estamos em reformulação desde 2016”, diz. “E estamos convictos de que temos dado grandes passos, caminhando não para uma filosofia de quinta, mas antes filosofia de parcela e, em certos casos, com uma atenção planta a planta. A interpretação dos sinais de que cada parcela ou planta nos transmite, é o que tem ditado a abordagem. Não somos nós que decidimos o que fazer. As videiras é que nos transmitem o que temos de fazer por elas…”.

 

Edição nº 34, Fevereiro de 2020

Abegoaria tem cabazes que entrega em casa

selecções Abegoaria

A Abegoaria, empresa ligada a produtores de vinho (Encostas do Alqueva) e de produtos da terra (azeites, queijos e enchidos/presuntos de Barrancos) está a promover três cabazes, com preços entre os €49,90 e os €119,90. Todos os cabazes envolvem vinhos, azeite, queijos, enchidos e/ou presunto. As marcas de vinho envolvidas são a Abelharuco e José […]

A Abegoaria, empresa ligada a produtores de vinho (Encostas do Alqueva) e de produtos da terra (azeites, queijos e enchidos/presuntos de Barrancos) está a promover três cabazes, com preços entre os €49,90 e os €119,90. Todos os cabazes envolvem vinhos, azeite, queijos, enchidos e/ou presunto. As marcas de vinho envolvidas são a Abelharuco e José Piteira (Alentejo), Quinta Vale de Fornos (Tejo) e Moscatel de Alijó (Douro).

As selecções proporcionam ao comprador entre 15 e 33% de desconto face ao preço individual de todos os produtos. Pode ver os produtos no site da Abegoaria.

As encomendas podem ser realizadas por e-mail (entregaemcasa@abegoaria.pt) ou por telefone (967 234 536, entre as 9 e 18 horas). As entregas estão limitadas, contudo, aos concelhos de Lisboa, Setúbal, Évora e Beja.

José Maria da Fonseca lança packs experiência com provas online privadas

Numa altura de recolhimento, a José Maria da Fonseca cria a oportunidade de se assistir a uma prova de vinhos online comentada por um dos elementos da família Soares Franco, de forma personalizada e privada. Esta prova de 30 minutos, dirigida ao cliente e feita através de Skype, vem com a compra de um dos […]

Numa altura de recolhimento, a José Maria da Fonseca cria a oportunidade de se assistir a uma prova de vinhos online comentada por um dos elementos da família Soares Franco, de forma personalizada e privada. Esta prova de 30 minutos, dirigida ao cliente e feita através de Skype, vem com a compra de um dos 4 packs experiência criados pelo produtor. Os packs incluem também o envio gratuito das garrafas dos vinhos incluídos na prova, um saca-rolhas e ainda um voucher de visita guiada à Casa Museu José Maria da Fonseca, para duas pessoas poderem usufruir pós “quarentena”.

Os 4 packs disponíveis, que incluem a prova online, são:

“À descoberta dos vinhos de Talha” (90€), composta por dois vinhos: Puro Talha branco e Puro Talha Tinto. Uma viajem pelo mundo dos vinhos de talha, uma forma de produção ancestral que é preservada na Adega José de Sousa, em Reguengos de Monsaraz.

“Duelo de Regiões: Douro Vs. Península de Setúbal” (100€), composta pelos vinhos Domini Plus e Periquita Superyor, que aborda as especificidades de duas regiões vitivinícolas nacionais – Douro e Península de Setúbal – com prova de dois topos de gama das respectivas regiões.

“Moscatéis da Colecção Privada DSF à prova” (75€), composta pelo DSF Moscatel Roxo e DSF Moscatel de Setúbal (Armagnac), onde são explicadas as especificidades do Moscatel de Setúbal e as características únicas de dois dos exemplares da Colecção Privada do enólogo Domingos Soares Franco.

“Moscatel de Setúbal para iniciados” (74€), composta por três vinhos – Alambre Moscatel de Setúbal, Alambre Moscatel de Setúbal Roxo e Alambre 20 Anos – que aborda as especificidades do Moscatel de Setúbal e as características únicas de três exemplares do portefólio da José Maria da Fonseca.

Pode adquirir estes packs na loja online da José Maria da Fonseca. Após o pagamento, basta enviar um e-mail para apoioaocliente@jmfonseca.pt, indicando a preferência de data e horário, para a família agendar a prova via Skype.

Symington e Esporão são duas das marcas mais admiradas do mundo

Torre do Esporão

Um inquérito realizado a vários líderes de opinião e a 160.000 consumidores de vinho de todo o mundo deu resultados extraordinários para duas empresas e/ou marcas portuguesas. De facto, tanto a Symington como o Esporão conseguiram entrar no top 50 da lista The World’s Most Admired Wine Brands (As marcas de vinho mais admiradas do […]

Um inquérito realizado a vários líderes de opinião e a 160.000 consumidores de vinho de todo o mundo deu resultados extraordinários para duas empresas e/ou marcas portuguesas. De facto, tanto a Symington como o Esporão conseguiram entrar no top 50 da lista The World’s Most Admired Wine Brands (As marcas de vinho mais admiradas do mundo), acabada de editar pela revista inglesa Drinks International.

A Symington ficou no 7º lugar e o Esporão no 13.º lugar no ranking dos The World’s Most Admired Wine Brands 2020. Estes prémios, atribuídos desde 2011, distinguem as marcas de vinho mais conceituadas e prestigiantes do mundo. A Symington ficou à frente de empresas/marcas como Veja Sicilia (Espanha), Cloudy Bay (Nova Zelândia) ou Barefoot (EUA). Ambas as empresas superaram outros nomes sonantes de todo o mundo vínico, como Sassicaia, Cono Sur, Marqués de Riscal, Frescobaldi, Yellow Tail, Château d’Yquem ou Cheval Blanc, ou ainda Robert Mondavi ou Château Pétrus.
Nos três primeiros lugares ficaram a Catena Zapata (Argentina), a australiana Penfolds e a espanhola Torres.

Para a atribuição destes prémios, a Drinks International reuniu um conjunto de especialistas constituída por profissionais da indústria do vinho, desde comerciantes, retalhistas, importadores, bartenders, proprietários de garrafeiras e bares, Masters of Wine, críticos de vinho, jornalistas especializados em vinho e professores de enologia. Depois, com o recurso à Wine Intelligence (empresa especializada em estudos de mercado, estatísticas e consultoria), foram realizadas mais de 160.000 inquéritos a consumidores de vinho de 48 países. Os critérios avaliados passam por qualidade e consistência, relação preço – qualidade, “sentido de lugar” dos vinhos, país de origem ou o tipo de castas produzidas.

Rupert Symington, CEO da Symington Family Estates avança que “este é um fantástico reflexo da reputação que temos contruído ao longo de muitos anos – não apenas como empresa familiar de vinhos com credenciais de qualidade impecáveis, mas também, em nosso entender, um testemunho da nossa reputação de longo prazo e compromisso sério em sermos uma empresa responsável e ética, especialmente agora que nos tornarmos na primeira empresa de vinhos em Portugal com certificação B Corporation. Este reconhecimento chega numa altura difícil para todos a nível mundial – independentemente do país ou setor onde cada um de nós trabalha – e é uma motivação bem-vinda para a nossa equipa que tem respondido de forma notável aos desafios de adaptação à nova realidade criada pelo coronavírus.”

Quanto a João Roquette, o CEO do Esporão disse que “este reconhecimento é particularmente especial para o Esporão, pelo seu caracter global, pela abrangência e qualidade do painel que o atribui e como motivação no momento delicado que o mundo vive. Construir uma marca de vinhos reconhecida em todo o mundo era parte central da visão inicial e ousada dos fundadores do Esporão. Estamos, e continuaremos a realizar essa visão.”

Quinta do Vale Meão: 20 anos e 2 séculos mais tarde

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É difícil de imaginar outra propriedade no Douro com uma história tão rica e gloriosa. Idealizada e construída de raíz por Dona Antónia, mais tarde gerida pela Casa Ferreirinha, dando origem ao mítico Barca Velha, a Quinta do Vale Meão tem o brilho e mérito próprio nas mãos dos descendentes da sua primeira genial proprietária.

TEXTO Valéria Zeferino
FOTOS Anabela Trindade

Este ano a empresa F. Olazabal e Filhos comemorou 20 anos desde a sua criação em 1999, sendo este também o ano que assinalou os primeiros vinhos com o nome da Quinta do Vale Meão. Francisco Xavier de Olazabal (conhecido no meio como Vito) e os seus filhos Francisco (Xito), Jaime e Luísa unem esforços neste projecto familiar, contribuindo cada um com conhecimento e paixão.
Quando felicitei Xito pelos 20 anos, ele modestamente respondeu que isto não é nada, comparativamente com as empresas que fazem 200 anos… Sim, é verdade, a história mais recente desta casa tem apenas duas décadas, mas é justo recordar que a história da Quinta começou no século XIX com a decisão visionária de Dona Antónia Adelaide Ferreira de adquirir um terreno e plantar vinha naquela zona mais agreste e afastada do Douro Superior.

O século XIX – Património de Dona Antónia

O monte Meão sempre foi uma zona com muita arborização, tipicamente mediterrânica. Os habitantes de Vila Nova de Foz Côa e de Seixo de Ansiães iam lá buscar azinheiras para lenha, dividindo o monte a meias, o que, talvez, tenha originado o seu nome.
À procura de terras livres de filoxera, não olhando o afastamento geográfico e dificuldades logísticas da altura, Dona Antónia adquiriu 300 hectares de terreno em 1877. Nem todos acreditavam que este empreendimento seria proveitoso, mas Dona Antónia avançou, sempre firme e confiante. A primeira vinha foi plantada em 1888. Uma barca velha que por perto fazia travessia entre as margens, deu nome a esta vinha, à primeira adega, concluída em 1892 e, mais tarde, ao vinho mítico do Douro.
Como uma adega só não chegava para o volume de produção, em 1895 foi construída outra maior, chamada Adega dos Novos, que é utilizada, com algumas modificações, até à data. O conceito de gravidade, popular nas adegas modernas, foi aplicado naquela altura para facilitar o trabalho face à falta de electricidade.
Na pequena capela junto à casa, ainda hoje vêem-se as paredes salpicadas com mosto nas missas para dar graças – testemunhas das primeiras vindimas na Quinta.

O Século XX – o Barca Velha

Nos meados do século XX, Fernando Nicolau de Almeida, o enólogo da Casa Ferreirinha e o futuro sogro de Vito, alocou todo o seu esforço para produzir um inédito vinho de mesa na região do Vinho do Porto. Escolheu as melhores vinhas do Vale Meão e algumas da zona mais alta de Mêda para conseguir o perfil idealizado. Em 1956 foi lançado o primeiro vinho da colheita de 1952 que teve um grande reconhecimento. Não adoptou o nome da Quinta porque as uvas não eram desta na totalidade, mas batizou o seu vinho como “Barca Velha” para marcar a ligação ao local.
Francisco Javier de Olazabal entrou na Casa Ferreirinha em 1966 e em 1982 sucedeu ao seu pai como Presidente do Conselho de Administração da empresa. Mesmo, quando em 1987, a Sogrape adquiriu a Casa Ferreirinha, manteve a sua posição e mais tarde integrou o Concelho de Administração da Sogrape.
Entretanto, o apego que sentiu à Quinta do Vale Meão, juntamente com os seus filhos, e a vulnerabilidade da posição minoritária na sua posse, motivou-o a reunir as partes indivisas pertencentes aos seus 16 parentes (8 do ramo Olazabal e 8 do ramo Sequeira). Neste processo, contou com ajuda dos primos, que em 1994 venderam as suas partes aos três filhos de Vito.
Na realidade, das mais de 20 quintas pertencentes a Dona Antónia, apenas duas se mantêm inteiramente na posse e sob gestão dos seus descententes – a Quinta do Vale Meão e a Quinta do Vallado.
Assegurando a propriedade total da Quinta, com a qualidade comprovada das vinhas, e sendo o filho Francisco formado em enologia, reuniram-se as condições para construir uma nova história na Quinta do Vale Meão.

Xito, Jaime e Luísa Olazabal.

O Século XXI – a fazer história

O facto de serem descendentes de uma figura lendária na região, não é um mérito por si só. O legado familiar até pode ajudar no arranque, mas não garante o futuro. O verdadeiro mérito da nova geração está no resultado do seu trabalho sem cair na tentação de imitar o que foi feito antes. Uma nova história escreve-se com vinhos de personalidade própria feitos ao longo dos últimos 20 anos.
O impulcionador do projecto foi Xito. Licenciado em Enologia pela UTAD em 1992, inicialmente trabalhou como enólogo na Quinta do Vallado, mas ambicionava fazer algo mais. Tinha as suas ideias claras e uma determinação em avançar com o projecto familiar.
O pai, eticamente, não podia conciliar dois projectos de natureza idêntica. Embora a decisão não tenha sido fácil, ao atingir os 60 anos, optou por apostar na Quinta do Vale Meão e em 1998 rescindir a sua relação profissional com a Sogrape. Abdicou de posição prestigiante numa grande e estável empresa, onde criou muitos laços de amizade, para se tornar num pequeno e desconhecido (no início) produtor de vinhos com todos os riscos associados. Apesar das dúvidas, aceitou o desafio, inspirado pela confiança do filho.
Lembra-se hoje que nem perguntou quais eram as vinhas usadas para o Barca Velha. Mas também não havia um objectivo em perseguir a sua fama, o que se pretendia era produzir vinhos com carácter da Quinta.
Optou-se pelo modelo bordalês, onde o primeiro vinho ostenta o nome da propriedade e o segundo remete para uma marca com ligação forte à sua origem. Assim, do meandro do rio Douro nasceu o segundo vinho da casa. A semelhança fonética entre o Meandro e o Vale Meão é evidente e a sua situação geográfica transparece no mapa.
As uvas da primeira vindima em 1999 foram vinificadas na Quinta do Vallado, porque a Casa Ferreirinha ainda não tinha finalizado a construção de uma nova adega na Quinta da Leda e teve que utilizar a adega da Quinta do Vale Meão. Na vindima de 2000 a Adega dos Novos também foi partilhada: numa parte vinificava a Casa Ferreirinha e noutra a Quinta do Vale Meão.
O ano 2001 tornou-se o momento crucial, pois o mercado aguardava as primeiras colheitas (1999) do Vale Meão e do Meandro. A ansiedade de Vito era grande. Confessa que acordava à noite sem sono e ia provar as amostras, que claro, nestas condições, não lhe sabiam bem e apresentavam todos os defeitos imagináveis. Xito, pelo contrário, manteve-se calmo e confiante.
Os dois vinhos foram lançados na mesma altura. Foi um êxito. A excelente aceitação pela crítica nacional e internacional foi entusiasmante e deu a necessária visibilidade ao projecto.
O grande ano de 2000 no Douro, ajudou a fixar o nível de qualidade no lançamento seguinte. Este também foi o ano do primeiro Vinho do Porto Vintage do Vale Meão.
Naqueles tempos ainda não havia muitos vinhos de mesa no Douro. Tirando o Barca Velha, já existiam os da Quinta do Côtto, Duas Quintas (Ramos Pinto), Quinta da Gaivosa, Niepoort, Quinta do Crasto e pouco mais. Por um lado, era mais fácil destacar-se, por outro, o próprio conceito dos vinhos Douro DOC ainda não tinha muita notoriedade.
Também por isto, em 2002 com base na amizade juntaram-se 5 produtores – Niepoort, Quinta do Crasto, Quinta do Vallado, Quinta Vale D. Maria e Quinta do Vale Meão – e criaram uma união com o descontraído nome de “Douro Boys”, aliando os esforços na promoção da região e dos seus vinhos a nível internacional.
Em 2003 e depois novamente em 2013 os rótulos sofreram uma alteração de imagem. Também em 2013 juntaram ao portefólio o Meandro branco (13 mil garrafas actualmente), feito de Arinto e Rabigato, que veio fazer companhia ao Meandro tinto (207 mil garrafas) e o ícone Quinta do Vale Meão (27 mil garrafas).
Em 2005, Luísa juntou-se ao projecto familiar. Formada em Relações internacionais já tinha trabalhado no Grupo Vranken-Pommery (do qual Rozès e Quinta do Grifo também fazem parte) e foi uma mais valia para a empresa.
Jaime, que trabalhou na banca, juntou-se aos irmãos há 2 anos para abraçar o mercado nacional e enoturismo. A razão principal é a sensação gratificante, em vez de criar um valor momentâneo, de estar a construir algo realmente bom, intemporal, da terra e da família, que fique para gerações vindouras.
Este ano a Quinta do Vale Meão abriu as portas ao enoturismo. Apesar de não ser o core buisiness da quinta, permitiu proporcionar uma experiência única aos enófilos que procuram conhecer melhor a sua impressionante história.
Nos dias de hoje, a casa de traço antigo e muitas memórias, continua a ter vida. No verão enche-se de netos que adoram cá vir; no outono sente-se a azáfama das vindimas. No inverno a lareira espalha o calor para infrentar o frio do clima continental do Douro Superior. A família junta-se à volta da mesa e do vinho. Conversa-se sobre vivências e experiências, onde o vinho está quase sempre presente, a par de histórias, curiosidades e troca de opiniões.
O futuro da quinta e da empresa estará nas mãos dos netos e deverá dar muita satisfação à família e ao Xito, particularmente, ver a sua filha Leonor a estudar engenharia agrónoma no ISA.

As vinhas e os vinhos

A plena confiança de Xito nas suas capacidades como enólogo e produtor não tem nada a ver com a arrogância. Tem a humildade de assumir que ao fim de 20 anos ainda continua a aprender sobre as castas e os terroirs da própria quinta. Experimenta, tira as conclusões e avança. Replanta quando acha que outra casta no mesmo sítio daria melhor fruto; rega, quando é necessário; substitui barricas novas pelas usadas se gosta mais do resultado final. Defende as suas convicções e não se deixa influenciar pela opinião dos outros. É determinado e movido pela busca da perfeição, tal como fazia a sua tetravó.
Francisco aponta três factores que mudaram muito nas últimas duas décadas: viticultura, condições de engarrafamento e de armazenamento. No início, não tendo a própria linha de enchimento, tinham de alugar uma. Os erros nesta fase podem comprometer a evolução de um grande vinho, tal como durante o seu armazenamento. Isto também explica uma certa variabilidade de garrafas das primeiras colheitas.
A vinha, sem dúvida, é um dos alicerces do sucesso. A primeira replantação começou no início dos anos 70. As novas vinhas foram plantadas em talhões por casta com enfoque na Touriga Nacional pelas suas qualidades enológicas e pela boa adaptação aos verões secos e ao stress hídrico do Douro Superior. Mais tarde, entre 1989 e 1994 Xito geriu a replantação de algumas vinhas da Quinta e posteriormente plantações novas em 2007, 2008 e 2011. Com isto e através da aquisição de um terreno adjacente à quinta com cerca de 10 ha, a área de vinha cresceu de 62 para 100 hectares ocupados na sua maioria pelas das duas Tourigas e Tinta Roriz, mas também com Tinta Amarela, Tinta Barroca, Tinto Cão, Alicante Bouschet, Sousão e até castas antigas menos conhecidas e estudadas, como Tinta Francisca e Cornifesto.
Exploraram-se áreas novas, como por exemplo, vinhas viradas a norte ou de altitude, onde se preserva mais a frescura. É o caso da Vinha da Salgueira, de castas misturadas numa cota de 300 metros, plantadas à maneira antiga com densidade de 8 mil pés/ha numa ilha de xisto rodeada de granito. Como se vê, a conquista do Monte Meão, iniciada por Ferreirinha, continua até hoje.
A composição de solos na Quinta do Vale Meão é influenciada pela sua topografia. A falha de Vilariça divide o terreno em duas partes: granito nas encostas do Monte Meão e xisto à nascente, enquanto junto ao rio existem zonas aluviais e de calhau rolado.
Não há dois sítios da vinha com condições iguais e Francisco está convencido que as generalizações no Douro, e mesmo no Douro Superior, são limitativas e não correspondem à realidade. Diferentes exposições e altitudes, multiplicadas pela diversidade de solos e castas plantadas, podem originar combinações quase infinitas. Por isto as vinhas no Vale Meão são vistas mais na óptica de parcelas e não tanto de castas.
Vinifica-se tudo em separado: casta por casta, talhão por talhão. As dezenas de cubas de tamanhos a variar de 3, a 10,5 mil litros permitem fazer vinificações de precisão, estudar cada faceta do seu terroir. Cada vindima origina mais de 100 lotes e foi assim que nasceram vinhos monovarietais das vinhas mais expressivas, os Monte Meão.
O primeiro Monte Meão foi feito em 2009. Touriga Nacional com 25 anos de 3 hectares da Vinha dos Novos plantada no granito, marcava sempre muito o lote. Decidiram dar-lhe maior protagonismo. No início com metade dos bagos inteiros e metade esmagados fica em lagar, onde é pisada a pé para permitir uma extração suave antes de formação de alcóol. As colheitas de 2013 e 2014 fermentaram em barricas, as de 2016 e 2017 em balseiros. Todas depois estagiam em barricas usadas de 225 litros entre 15 e 18 meses. Originam uma Touriga de grande estilo e finesse de que se fazem 8 mil garrafas.
A Tinta Roriz da vinha do Cabeço Vermelho destacava-se sempre de outras parcelas pela maior presença da fruta. É uma vinha com mais de 50 anos plantada nas terraças de aluvião junto ao rio. Desde 2011 tem a possibilidade de se expressar num vinho monovarietal. Este não passa por lagar para evitar demasiada rusticidade, fermenta em cubas de madeira usada e depois estágia cerca de um ano e meio em barricas usadas de 225 litros para amaciar o tanino robusto. Fazem-se 4 mil garrafas/ano.
Em 2013 fizeram o primeiro (e até agora único no Douro) monovarietal de Baga que por cá chama-se Tinta da Bairrada. Da Bairrada não tem quase nada, assumindo um perfil diferente e que lhe fica bem. Sendo uma casta de maturação tardia, plantada num solo de granito do clima mais continental apresenta um comportamento diferente e amadurece muito mais cedo – final de Agosto, início de Setembro e sem ganhar muito grau. Em 2013 foi desengaçada, mas a partir de 2015 fermenta com 50% de bagos inteiros (para extrair menos e suavizar o sabor) e 50% de engaço (para dar estrutura) com pouca maceração e posterior estágio cerca de um ano em barricas usadas de 500 litros. Resulta em vinhos suculentos, elegantes, plenos de sabor e frescura de que enchem apenas 2 mil garrafas por edição.
O Vinho do Porto é uma grande aposta da casa, já pensada em tempos. Há 10 anos deixaram de vender o Vinho do Porto a granel e actualmente dispõem de 450 mil litros de stock a envelhecer na adega da Barca Velha. O Porto representa já quase 10% das vendas anuais. Para o próximo ano preparam-se duas novidades: um Colheita de 1999 e um tawny 10 anos. E nada resume melhor um capítulo de duas décadas do que um brinde com os vinhos da primeira colheita. O Meandro 1999 está ainda muito vivo ao fim de 20 anos, com frescura e tanino ainda bem presente (17); o Vale Meão 1999 em magnum é um autêntico tigre domesticado. Afinação de nariz e largura de boca impressionante, potência com delicadeza aristocrática, tanino ajuizado pelo tempo e uma frescura fantástica (19). A Quinta do Vale Meão é assim.

Uma vertical de Monte Meão

Tive oportunidade de fazer uma prova vertical da marca mais recente da casa, os monovarietais Monte Meão. O resultado mostra bem a diversidade de parcelas e castas (terroirs), no fundo, da quinta. Começando pelo Monte Meão Baga, da Vinha da Cantina: o 2013 revela cor aberta e aroma intenso, macio, suculento e muito fresco (17); mais maduro e pouco falador o 2015, denso e de tanino duro, seco e sério (16,5); no 2016 evidencia-se a fruta doce e sumarenta, também pimenta e chá preto, suculento e longo (17,5). A Vinha dos Novos é a “casa” do Touriga Nacional. Muito bem o 2013, com esteva, mentol, acidez presente e tanino firme, longo e saboroso (17,5); mais austero no nariz e mais fresco na boca o 2014, com tanino mais rebelde muito carácter (17,5); bem distinto o 2016, muito aromático, delicado e elegante, chá preto com bergamota, violetas e fruta carnuda, sedoso, suculento, muito sedutor (18). Finalmente, a Vinha do Cabeço vermelho, onde nasce a Tinta Roriz. Gostei muito do 2013, um tinto em tons de outono, notas de carne, vegetal seco, tanino poderoso envolto em textura aveludada (17,5); mais amigável o 2014, fruta vermelha escondida, toque de especiaria e algo terroso (17); o 2015 está robusto e estruturado, com tanino bruto e esmagador a necessitar polimento pelo tempo (16,5).

 

 

 

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Edição nº 33, Janeiro 2020

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Churchill’s comemora 20 anos na Quinta da Gricha com edição limitada

A Churchill’s lançou duas caixas comemorativas dos 20 anos na Quinta da Gricha. Uma Edição Limitada, de Porto e de Douro, com os três últimos anos do Quinta da Gricha Vintage Port (2015, 2016 e 2017) e do Quinta da Gricha Douro (2014, 2016 e 2017). Fundada em 1981 por John Graham – 5ª geração […]

A Churchill’s lançou duas caixas comemorativas dos 20 anos na Quinta da Gricha. Uma Edição Limitada, de Porto e de Douro, com os três últimos anos do Quinta da Gricha Vintage Port (2015, 2016 e 2017) e do Quinta da Gricha Douro (2014, 2016 e 2017).

Fundada em 1981 por John Graham – 5ª geração da sua família a fazer vinho no Douro – a Churchill’s foi a primeira empresa de vinho do Porto a ser fundada em mais de 50 anos, mantendo-se actualmente como um produtor familiar e independente. Dedicada inicialmente só aos vinhos do Porto, desde a aquisição da Quinta da Gricha em 1999 que a Churchill’s também produz vinhos Douro. “Estamos extremamente entusiasmados por poder partilhar estes vinhos excepcionais e afirmar o Douro como uma das melhores regiões produtoras de vinho do mundo”, afirma John Graham, enólogo e fundador.

Por seu lado, Zoe Graham, filha mais velha do fundador – que veio recentemente assumir a direcção de vendas e marketing da empresa para dar continuidade à tradição familiar – afirma: “Sentimo-nos orgulhosos da nossa equipa Churchill’s que acompanhou estas últimas 20 vindimas na Quinta da Gricha”.

Em pleno coração do Douro, a quinta, com uma vinha de 40 hectares, localiza-se na margem sul do rio, na sub-região do Cima Corgo. Foi baptizada a partir de uma nascente natural (Gricha) que alimenta as vinhas viradas a norte.

José Maria da Fonseca Distribuição comercializa vinhos da Lima&Smith

A José Maria da Fonseca Distribuição vai assegurar, a partir do próximo dia 1 de Abril, a comercialização em território nacional dos vinhos da Lima&Smith, produtor das regiões do Douro e dos Vinhos Verdes. As suas referências já são bem conhecidas, como Covela, Quinta da Boa Vista e Quinta das Tecedeiras. Com este alargamento do […]

A José Maria da Fonseca Distribuição vai assegurar, a partir do próximo dia 1 de Abril, a comercialização em território nacional dos vinhos da Lima&Smith, produtor das regiões do Douro e dos Vinhos Verdes. As suas referências já são bem conhecidas, como Covela, Quinta da Boa Vista e Quinta das Tecedeiras.

Com este alargamento do portefólio, de vinhos de elevada qualidade da região do Douro e do Vinho Verde, a José Maria da Fonseca Distribuição vê assim reconhecido o trabalho desenvolvido nos últimos cinco anos, como refere António Maria Soares Franco, administrador da José Maria da Fonseca com o pelouro de Marketing e Vendas: “Ao fim de cinco anos de franca expansão, conseguirmos alargar o portefólio da José Maria da Fonseca Distribuição com a comercialização dos vinhos de mais um produtor de excelência é sinal de reconhecimento do trabalho que temos desenvolvido. Os vinhos da Lima&Smith são sobejamente conhecidos e apreciados e consideramos que vêm enriquecer e diversificar, ainda mais, o nosso portefólio, acrescentando valor ao serviço que prestamos aos nossos parceiros e clientes”.

Tony Smith, sócio gerente da Lima&Smith, sublinha “esperar com este novo acordo de distribuição levar as marcas da Lima & Smith para um novo patamar no mercado nacional. Partilhando com o nosso novo parceiro a José Maria da Fonseca Distribuição o dinamismo, a preocupação com qualidade e com a ética, pretendemos crescer as vendas das nossas marcas e consolidar a sua notoriedade de Norte a Sul, incluindo as ilhas.”