“O Douro Merece Melhor”: grupo de produtores une-se em carta aberta e pede reformas urgentes

Ontem, dia 12 de Julho, um grupo de 26 signatários divulgou uma carta aberta intitulada “O Douro Merece Melhor”. Na carta, que pode ser lida na íntegra em baixo, os signatários — que constituem um grupo muito significativo de pessoas directamente ligadas ao sector do vinho na região do Douro — alertam para “a inacção […]
Ontem, dia 12 de Julho, um grupo de 26 signatários divulgou uma carta aberta intitulada “O Douro Merece Melhor”.
Na carta, que pode ser lida na íntegra em baixo, os signatários — que constituem um grupo muito significativo de pessoas directamente ligadas ao sector do vinho na região do Douro — alertam para “a inacção das instituições competentes no que toca às urgentes reformas necessárias para o quadro regulamentar que rege a produção de vinhos no Douro”.
Entretanto, juntaram-se aos signatários originais muitas outras individualidades. A lista de todos os signatários pode ser consultada em www.odouromerecemelhor.pt.
“O DOURO MERECE MELHOR
A Região Demarcada do Douro é conhecida internacionalmente por ser uma das maravilhas do mundo do vinho. Contém mais de metade das vinhas de montanha à escala global. Tem o estatuto de Património Mundial da UNESCO. Não há região comparável em qualquer país. Mais de 19,000 viticultores e 1,000 empresas cultivam empenhadamente estas vinhas desafiantes, produzindo dois vinhos altamente reconhecidos: o Vinho do Porto e o vinho DOC Douro.
Contudo, os últimos vinte anos foram caracterizados por uma descida de quase 25% no volume de vendas de Vinho do Porto, para 7,8 milhões de caixas de 9 litros. No mesmo período, as vendas dos vinhos DOC Douro cresceram significativamente para 5,2 milhões de caixas.
Apesar destas mudanças profundas, o quadro regulamentar não teve qualquer alteração, permanecendo, na sua essência, imutável há quase 100 anos. O sistema atual está a promover distorções devastadoras que estão a impactar não só no preço das uvas, mas também na sustentabilidade socioeconómica dos viticultores, das empresas, e no futuro dos seus vinhos nos mercados internacionais.
O sistema de ‘benefício’ – introduzido nos anos 1930 – estabelece a quantidade de uvas destinadas à produção de Vinho do Porto. Este limite é ajustado anualmente, dependendo de um conjunto de fatores, nomeadamente a qualidade e os níveis de oferta e de procura. Um sistema semelhante é praticado nas mais importantes regiões vitivinícolas europeias. Contudo, as uvas para vinho DOC Douro são comercializadas no mercado livre e, regra geral, num ambiente de excesso de oferta.
O Douro está a sofrer devido à redução dos volumes de Vinho do Porto e um contexto regulamentar desa-tualizado. Consequentemente muitas uvas são vendidas abaixo do seu custo de produção. O prejuízo para os viticultores é óbvio, resultando no abandono da vinha e no despovoamento da região. Uma situação agravada pelas alterações climáticas que estão a impactar seriamente a nossa região.
Igualmente grave é o facto de demasiados vinhos estarem à venda internacionalmente com preços comparáveis aos mais baratos do mundo – algo que nunca seria possivel se os viticultores recebessem um preço justo pelas suas uvas. Estamos a passar a mensagem que o Douro produz vinhos baratos, quando nada poderia estar mais longe da verdade. O nosso custo de produção, por kg, situa-se entre os mais elevados do mundo, e o rendimento por hectare é entre os mais baixos – por causa das características únicas da vinha de montanha no Douro.
Ao longo dos últimos 15 anos, vários estudos realizados por entidades de renome, incluindo a UTAD (Univer-sidade de Trás-os-Montes e Alto Douro), concluíram que o Douro não é sustentável nestas circunstâncias e que necessita de reforma no seu quadro regulamentar. Mas nada foi feito, apesar das promessas do Estado.
Nenhuma região de vinho aguenta tanto tempo neste desequilíbrio, sofrendo tantos danos na sua imagem e na economia das suas comunidades. A incompreensível inação está a prejudicar uma das mais históricas, belas e desafiantes regiões vinícolas do mundo. Existem, porém, soluções que estão ao nosso alcance, nomeadamente medidas de emergência, de curto prazo e outras, mais estruturantes, de médio e longo prazo. O Douro necessita de uma estratégia para o futuro construída numa base científica liderada por uma entidade independente, em consulta com os stakeholders chave da região.
Apelamos aos produtores, aos viticultores, aos comerciantes e respetivas Associações, ao Ministério da Agricultura, à CIM do Douro, e ao Instituto dos Vinhos do Douro e Porto, para enfrentarem esta situação com urgência. Deveríamos sentir orgulho no Douro, na sua gente e nos seus vinhos, mas atualmente não conseguimos senão sentir frustração e tristeza pelos danos graves e desnecessários que a inércia na alteração do quadro regulamentar e institucional está a provocar.
O Douro Merece Melhor
António Filipe, António Saraiva, Christian Seely, Cristiano van Zeller, Dirk Niepoort, Emídio Gomes, Fernando da Cunha Guedes, Francisco Spratley Ferreira, Francisco Olazabal, João Álvares Ribeiro, João Nicolau de Almeida, João Rebelo, John Graham, Jorge Dias, Jorge Moreira, Jorge Rosas, Jorge Serôdio Borges, Luís Sottomayor, Luisa Amorim, Mário Artur Lopes, Olga Martins, Oscar Quevedo, Paul Symington, Pedro Braga, Sandra Tavares, Sophia Bergqvist”
Maçanita: Nascidos de antigas cepas

Da ilha do Pico (com a Azores Wine Company) até ao Douro (com sua irmã Joana Maçanita), passando pela Madeira e Porto Santo (com a Companhia de Vinhos dos Profetas e dos Villões) e pelo Alentejo, (Fitapreta), estes vinhos de vinhas velhas, engarrafados, por vezes, em diminutas quantidades, são especialmente acarinhados por António […]
Da ilha do Pico (com a Azores Wine Company) até ao Douro (com sua irmã Joana Maçanita), passando pela Madeira e Porto Santo (com a Companhia de Vinhos dos Profetas e dos Villões) e pelo Alentejo, (Fitapreta), estes vinhos de vinhas velhas, engarrafados, por vezes, em diminutas quantidades, são especialmente acarinhados por António Maçanita. São vinhos de vinha, ou melhor de parcela. Vinhos que são o que são porque têm origem naquelas mesmas videiras e não noutras plantadas a umas centenas de metros de distância. Cada uma destas vinhas foi uma descoberta. E cada uma tem uma história que merece ser contada. Vamos contá-las, pois, com a ajuda das notas e da memória de António Maçanita.
PORTO SANTO E MADEIRA
Na ilha da Madeira chamam “profetas” aos porto-santenses; e estes retribuem apelidando os madeirenses de “villões”, alcunha derivada de “habitante da vila”. Seja como for, um belo nome para o projecto que António Maçanita ali criou com o seu amigo Nuno Faria. Foi este último que, em 2020, convenceu António a visitar um conjunto de vinhas nas duas ilhas. Despertado o interesse, “o próximo passo foi tentar convencer o Sr. Cardina a vender-nos uvas. Foi difícil, resistiu, mas lá aceitou no final. O Sr. Cardina é um dos mais respeitados viticultores e um acérrimo defensor da história do vinho do Porto Santo, tendo construído o museu do Vinho Cardina, com vários objetos do trabalho da vinha e vinho”, diz António Maçanita.
A ilha de Porto Santo é, em termos geológicos, uma das mais antigas dos arquipélagos portugueses, tendo emergido há 14 milhões de anos no oceano Atlântico. Foi também a primeira a ser descoberta por Gonçalves Zarco em 1418. A plantação da vinha data dos primeiros tempos da colonização, tendo Gaspar Frutuoso, em 1580, acentuado a abundância de vinhedos existente ao longo da costa, inclusive nas zonas mais arenosas. “Na história recente, os antigos contam que era aqui onde se vinham buscar as uvas mais maduras para dar grau ao vinho Madeira. Hoje restam menos de 14 hectares, cultivados por um punhado de resistentes”, refere Maçanita.
Os solos, arenitos calcários de origem marinha, apresentam um pH bastante elevado, em torno dos 8,5 (por comparação, nos Açores, este indicador anda pelos 5,5/6) e o clima fortemente atlântico implica uma condução rasteira das videiras, protegidas dos ventos e maresia por muros ou habilidosas estruturas de canas. A vinha do Sr. Cardina, com mais de 80 anos, está assente em calcários franco-arenosos. Plantada com a casta Listrão (conhecida em Jerez por Palomino Fino) dali saem, desde 2020, os vinhos Listrão dos Profetas e Listrão Vinho da Corda. Em 2021 António e Nuno persistiram na busca de mais vinhedos e hoje recebem uvas de 15 viticultores. São tudo vinhas entre 40 e 80 anos de idade, algumas delas nas Fazendas da Areia, zonas de pura areia calcária. Plantadas com a casta Caracol, dão origem aos vinhos Caracol dos Profetas e Caracol dos Profetas Fazendas da Areia.
Já na ilha da Madeira (a terra dos “vilões”…), o terroir muda totalmente. Os solos vulcânicos são bem mais ácidos e as videiras orientadas em latada. Os dois amigos escolheram o Estreito da Câmara de Lobos e a Tinta Negra como local e casta de eleição. A primeira vindima, em 2020, correu mal: a cuba caiu no transporte entre adegas. Avançaram de novo no ano seguinte e conseguiram comprar uvas a um viticultor com um vinhedo de Tinta Negra com mais de 40 anos. E nasceu o Tinta Negra dos Villões.
PICO
Fundada, em 2014, a Azores Wine Company (AWC) veio revolucionar a produção de uva e vinho na ilha do Pico e, em boa verdade, directa ou indirectamente, em todas ilhas vinícolas açorianas, pela criação de valor gerada desde então. A história da empresa já foi contada mais do que uma vez nestas páginas, pelo que vamos ao que interessa: as vinhas velhas. No que ao tema respeita, Filipe Rocha e António Maçanita, os sócios da AWC, elegem como “centro de tudo” a zona do lajido (lajes de lava) da Criação Velha, um dos dois locais picoenses classificados como Património Mundial pela Unesco. “A Criação Velha é a guardiã do património genético original da ilha e dos Açores”, diz António Maçanita. Este é, na verdade, um “spot” muito especial, e não apenas pela paisagem. António Maçanita refere as particularidades climáticas: distando 16 km do centro do vulcão do Pico, beneficia de mais horas de sol, pois o Pico bloqueia as nuvens; a sua baixa altitude, entre 6-35 metros, faz com que as raízes estejam a utilizar água “salobra”; e, por último, o mar ali tão perto acentua o carácter atlântico dos vinhos. Mas também, historicamente, a Criação Velha é especial: os seus vinhedos pertenciam a gentes do Faial, pela proximidade ao porto da Horta, ali em frente, do outro lado do canal, já que eram eles os principais produtores e comerciantes de vinhos.
Na Criação Velha, a AWC trabalha três áreas distintas que originam distintos vinhos, todos eles com a casta Arinto dos Açores largamente predominante. A chamada Vinha da Canada do Monte, é constituída por duas parcelas que encostam na Canada do Monte, que é o caminho que vai desde o tão fotografado moinho vermelho do Frade até ao Monte (pequeno relevo de terreno). Esta estrada marca também uma distância ao mar de cerca de 580 m e uma altitude de 35 metros. Depois, temos a Vinha Centenária, como o nome indica, uma das vinhas mais antigas da ilha, com idade compreendida entre 100-120 anos, situada também na linha da Canada do Monte. “Está na mesma família há várias gerações e é uma das mais bem tratadas que conhecemos no Pico”, refere António. Aqui encontramos também, ao lado do Arinto dos Açores, diversas cepas com Bual, Verdelho, Donzelinho e Alicante Branco. Finalmente, a Vinha dos Utras, hoje quase tão famosa quanto o moinho vermelho. Trata-se de uma pequena parcela que encosta mesmo ao mar (os chamados “1os Jeirões”), num local onde se consegue a maior exposição solar e concentração. Os Utras (deturpação do nome de Joss Hurtere, um flamengo que foi Capitão Donatário do Pico e do Faial) são uma família que chegou aos Açores em 1465 e se tornaram determinantes para o desenvolvimento do vinho e da vinha das ilhas.
Conta António Maçanita: “Adquirimos a vinha aos seus descendentes, a família Dutra, em 2018. Diziam os donos que o mar lhes causava muito danos na vinha. Viemos a aprender isso mesmo, pois em outubro de 2019 o mar roubou 40 metros à vinha; e em 2021 a maresia salgada queimou toda a produção…”
ALENTEJO
Apesar de o seu trabalho com os vinhos açorianos, em anos recentes, ter contribuído em muito para projectar a “marca” António Maçanita, a verdade é que a grande base da actividade vitivinícola deste irrequieto produtor e enólogo está no Alentejo, região onde iniciou a sua carreira profissional e onde, a partir de 2004, criou o projecto Fitapreta. Num portefólio alentejano de mais de 30 referências, destaca-se no topo a linha Chão dos Eremitas que inclui um blend (o notável Os Paulistas) e cinco varietais. “Descobri esta vinha através de um professor meu do ISA, o professor Mira. De início a ideia era arrendar, mas depois surgiu a hipótese de a adquirir e não hesitei, o meu ‘feeling’ é que era mesmo algo diferente”, conta.
O Chão dos Eremitas, situa-se no sopé da Serra d’Ossa. Refere António que há provas da produção ininterrupta de vinho naquele local desde o séc. XIV, quando a Bula Papal de 1397 isentou os Pauperes Eremitas de tributos nas vinhas. Uma escavação arqueológica recente desenterrou a escassos metros da vinha uma ânfora fenícia do séc. VIII a.C., debaixo da Anta da Candeeira, demonstrando que ali havia vinho 800 anos antes da chegada dos romanos. “Este lugar é muito especial, sente-se!”, exclama António Maçanita. “Percebe-se que era aqui que se plantava a vinha, junto a dois riachos que trazem da serra as águas das chuvas, mantendo o chão fresco e o nível freático alto.”
A vinha Chão dos Eremitas foi plantada em 1970, e tem uma composição de castas tintas e brancas que, em tempos, dominaram a paisagem vitícola da região: Tinta Carvalha, Castelão, Alfrocheiro Preto, Moreto, Trincadeira, Alicante Branco, Trincadeira das Pratas (Tamarez), Roupeiro e Fernão Pires.
Os irmãos Maçanita encontraram em Carlão, no planalto de Alijó, um conjunto de vinhas quase abandonadas, nas quais viram enorme potencial para fazer vinhos diferenciadores.
DOURO
A Maçanita Vinhos é um projecto de dois irmãos e enólogos, Joana e António. Os Maçanita procuraram tirar partido do clássico sistema de classificação dos vinhedos durienses (de A a F), focando-se nos extremos, ou seja, nas parcelas mais “nobres”, com maior maturação (letra A), no fundo dos vales do Douro e seus afluentes, e nas mais “desprezadas”, de maturação mais difícil, situadas nas zonas altas e fronteiriças, no limite da região (letra F). Nestas últimas encontraram em Carlão, no planalto de Alijó, um conjunto de vinhas quase abandonadas, nas quais viram enorme potencial para fazer vinhos diferenciadores. “Chegámos a esta região pela mão do chef André Magalhães que nos dizia que o seu pai tinha uma vinha velha e vendia mal as uvas. Um dia fomos visitar a dita vinha (chamada As Olgas) e ficámos encantados. A partir daí temos passado muito tempo nesta zona onde temos encontrado parcelas mágicas”, comenta António Maçanita. Nas vinhas de Carlão, o difícil acesso implica trabalho “à antiga”, ou seja, homem e cavalo. Nas parcelas misturam-se diversas castas brancas e tintas. Estando na transição entre granito e xisto, o terreno varia muito. No entanto há dominância dos solos graníticos, com alto teor de quartzo. A vinha Canivéis tem entre 80 e 92 anos, está a 510 metros de altitude e mistura 11 castas; a vinha As Olgas, de 90 a 110 anos, tem o mesmo número de castas e está a 480 metros. A Pala Pinta é a mais antiga vinha de Carlão. Com 110 a 130 anos de idade, estende-se entre os 580 e os 720 metros de altitude, com 20 castas distintas.
Porto Santo, Madeira, Pico, Alentejo, Douro. Em todas estas regiões existem lugares especiais que albergam vinhas singulares. E delas nascem vinhos que não deixam ninguém indiferente.
(Artigo publicado na edição de Junho de 2023)
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António Maçanita Chão dos Eremitas
- 2019 -
Da pedra se fez espumante Cuvée nº2
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Maçanita Pala Pinta
Tinto - 2019 -
Maçanita As Olgas
Tinto - 2020 -
Maçanita Os Canivéis
Tinto - 2020 -
Chão dos Eremitas Os Paulistas
Tinto - 2019 -
António Maçanita Chão dos Eremitas
Tinto - 2020 -
António Maçanita Chão dos Eremitas
Tinto - 2019 -
Vinha dos Utras Criação Velha 1ºs Jeirões
Branco - 2020 -
Vinha Centenária
Branco - 2020 -
Canada do Monte
Branco - 2020 -
Tinta Negra dos Villões
Tinto - 2021 -
Listrão dos Profetas
Branco - 2021 -
Caracol dos Profetas Fazendas da Areia
Branco - 2021 -
Caracol dos Profetas
Branco - 2021
Costa Boal Family Estates: Família com nome de casta

A história da Costa Boal mostra como uma abordagem clássica aos vinhos e à vinha, herdada por gerações anteriores, pode ser combinada com a modernização do negócio e das técnicas, para produzir vinhos de qualidade excepcional. António Boal iniciou a actividade vitivinícola no Douro, no planalto de Alijó, onde a sua família já trabalhava vinhas […]
A história da Costa Boal mostra como uma abordagem clássica aos vinhos e à vinha, herdada por gerações anteriores, pode ser combinada com a modernização do negócio e das técnicas, para produzir vinhos de qualidade excepcional.
António Boal iniciou a actividade vitivinícola no Douro, no planalto de Alijó, onde a sua família já trabalhava vinhas para empresas exportadoras desde 1857. No entanto, foi na cidade de Mirandela, na região de Trás-os-Montes, onde cresceu e constituiu família, que decidiu comprar um terreno em 2011, que incluía uma vinha bastante antiga. Boal tinha a intenção de replantar a vinha, mas foi aconselhado por um amigo a experimentar as uvas da vinha velha em barricas novas, o que levou, para sua surpresa, à produção do seu primeiro vinho, lançado em 2013, o Flor do Tua Grande Reserva 2011. Nascia assim um (novo) projecto familiar com DNA verdadeiramente transmontano, Costa Boal Family Estates, que, desde então, tem surpreendido pela qualidade crescente dos seus vinhos — hoje com assinatura enológica de Paulo Nunes — num portfólio variado em perfis, regiões e castas.
Entretanto, com a aquisição de mais vinhas, a Costa Boal produziu, em 2014, um Porto Vintage e o primeiro Palácio dos Távoras, marca para os vinhos D.O.C. Trás-os-Montes, a par de Flor do Tua e Quinta dos Távoras. Nesta região, o produtor tem 14 hectares de vinha com 67 anos, e um hectare de vinha centenária, em Sendim, mesmo junto à fronteira com Espanha. O enólogo consultor Paulo Nunes, actualmente um dos mais expressivos da cena vínica nacional, confessa que foram as vinhas velhas da Costa Boal que o convenceram a aceitar o convite para liderar a equipa de enologia residente. A adega, por sua vez, é mesmo na zona urbana de Mirandela, uma unidade descomplicada e pragmática que serve perfeitamente o seu propósito: fazer vinho de qualidade.
Já no Douro, a Costa Boal detém cerca de 40 hectares, entre Alijó, Murça e Vila Nova de Foz Côa. É também em Alijó, a 400m de altitude, que se encontra a adega antiga da família, com mais de 150 anos de idade, um edifício muito bonito erguido em lâminas de xisto. Esta adega mantém os tradicionais lagares de granito, nos quais ainda se faz pisa a pé das uvas com destino aos melhores vinhos da casa, e “esconde” vinhos do Porto antiquíssimos, relíquias mantidas pela família em nobre descanso.
O significado da Família
Basta passar algumas horas com António Boal para perceber que a família é o pilar mais fundamental da sua empresa. A proximidade, o comprometimento e o forte sentido de propósito da Costa Boal são valores nutridos num núcleo familiar onde se insere António, a companheira Raquel e a filha Carolina, ambas envolvidas no projecto, acompanhados pelos três cães Serra da Estrela, Flor, Tua e Côa.
Carolina Boal, apenas com 17 anos, já integra um curso de enologia e viticultura e não se vê a fazer outra coisa. A energia que emana, e a obstinação e disciplina que mostra, asseguram que será o futuro da Costa Boal. Desde muito pequena que afirma querer ser produtora de vinho. Quando tinha 5 anos, já era difícil tirá-la de uma vinha recém-plantada, e por isso essa parcela de Baga recebeu o nome de Parcela CB, as suas iniciais. O pai, claramente orgulhoso, olha para Carolina como se esta fosse todo o seu mundo, e é esta dinâmica que dá ao projecto uma identidade muito própria e o alicerça.
António Boal tem 43 anos. Nasceu em 1979, em Cabeda, Alijó, numa rua que hoje se chama Rua Bernardino Boal, membro da sua família e um dos fundadores da Casa do Douro. Esteve sempre ligado ao vinho e à terra, por influência do pai, e começou a sua formação na Escola Agrícola do Rodo, no Peso da Régua, antes de ingressar em Engenharia Alimentar, em Mirandela. Acabou por se apaixonar por (e em) Mirandela, onde se casou, e por isso resolveu comprar ali um terreno com vinha em 2011, ano de fundação do projecto Costa Boal Family Estates. “O meu pai dizia-me muitas vezes que, para mandar, é preciso saber fazer, e hoje dou-lhe toda a razão”, confessa. “Graças a ele sei fazer tudo na vinha, menos uma tarefa, que é enxertar”. António Boal criou os vinhos Costa Boal Homenagem em honra do pai. Recentemente, ganhou um novo hobby, que o faz feliz: andar de bicicleta pelos montes.
A expansão
A mais recente novidade da empresa, a nível de negócio, foi a expansão para uma região totalmente diferente da de origem: em 2021, a Costa Boal deu um pulo para Estremoz, no coração do Alentejo vitivinícola, como parte da sua estratégia de crescimento. Em Estremoz — a sub-região que não o é, infelizmente e incompreensivelmente — a empresa encontrou uma propriedade ideal para fazer vinhos de qualidade superior e com carácter, desafio em relação ao qual Paulo Nunes esteve à altura, como seria de esperar. A Herdade dos Cardeais agrega 10 hectares de vinha com 25 anos a uma adega, e já deu origem às marcas Monte dos Cardeais e Quinta dos Cardeais, que vieram ampliar o segmento premium do portefólio da Costa Boal.
Rendido às três regiões, António Boal criou, com Paulo Nunes, o tinto 3 Flores, que junta Alicante Bouschet de Trás-os-Montes, Tinto Cão do Douro e Cabernet Sauvignon do Alentejo. Poderíamos pensar que é mistura a mais — um pouco como aqueles restaurantes que oferecem, por exemplo, cozinha indiana e pizzas, ou sushi e pratos mexicanos, mas aqui o resultado foi um vinho ambicioso e complexo, muito interessante. Igualmente surpreendente é o Costa Boal Douro Moscatel Galego Branco que, na colheita de 2022, mostra um lado mais premium da casta, com imensa elegância e precisão, mantendo o perfil aromático característico.
Da mesma região, os Costa Boal Homenagem, branco e tinto, destacam-se pela estrutura e complexidade, e sobretudo pela capacidade de guarda e evolução positiva em garrafa. Já os Quinta dos Cardeais Grande Reserva branco e tinto mostram um lado fresco e envolvente de Estremoz, ambos com muita elegância e carácter. Uma prova vertical de Palácio dos Távoras Gold Edition tinto mostrou, à mesa, que Trás-os-Montes é uma região a pedir para ser explorada e valorizada: o 2015, já com 8 anos, apresenta charuto, musgo, caruma, muita especiaria, incenso exótico e resina de pinheiro. Elegantíssimo, mas cheio de vida, tem corpo suave mas pleno de carácter. Os taninos são sedosos e fruta de luxo, a acabar em especiaria longa e mentolados subtis (19 pontos). O 2016 sugere muita folha de tabaco, fruta negra, pimenta branca, agulha de pinheiro, balsâmicos e levíssimo toque de Earl Grey. Tem muito sabor e excelente prolongamento, textura e presença (18,5). Por último, o 2017 revela fruta intensa, a conferir imensa energia aromática, vegetal bem presente, especiarias vivas, todo ele expressivo e a pedir para ser guardado (18).
(Artigo publicado na edição de Maio de 2023)
Vieira de Sousa inaugura centro de visitas no Douro

O produtor de vinhos do Porto e Douro Vieira de Sousa abriu um novo centro de visitas, com sala de provas e loja de vinhos. Depois da fundação da empresa em 2008, como a conhecemos actualmente — o negócio de vinho do Porto já está na família há cinco gerações — este é o primeiro […]
O produtor de vinhos do Porto e Douro Vieira de Sousa abriu um novo centro de visitas, com sala de provas e loja de vinhos. Depois da fundação da empresa em 2008, como a conhecemos actualmente — o negócio de vinho do Porto já está na família há cinco gerações — este é o primeiro passo na vertente do enoturismo, dado pelas irmãs Luísa e Maria Vieira de Sousa.
Luísa e Maria “optaram por fasear os investimentos, com primazia nas infra-estruturas de produção, das adegas ao centro de operações; nas vinhas, com algumas aquisições e reconversões continuadas; e também nos vinhos, com um portefólio a crescer a cada ano e a produção de DOC Douro a ser encetada em 2011”, pode ler-se no comunicado de imprensa.
A Vieira de Sousa possui cerca de 70 hectares de vinhas próprias, localizadas em diferentes propriedades da família, todas na sub-região do Cima Corgo: Quinta da Água Alta (que congrega a Quinta do Bom Dia e a Quinta do Espinhal), em Gouvinhas; Quinta da Fonte, em Celeirós do Douro; Quinta do Fojo Velho, em Vale de Mendiz; e Quinta do Roncão Pequeno, em Vilarinho de Cotas. No entanto, foi na Quinta da Firveda, situada no Baixo Corgo, pertença da família de Luísa Vieira de Sousa, que nasceu o novo espaço de enoturismo.
“Isto porque é uma propriedade estrategicamente localizada, a cinco minutos de carro da cidade da Régua e mesmo na foz do rio Corgo. Soma o facto desta Quinta ter cerca de 6 hectares de vinha, visitáveis pelos turistas, e uma belíssima e centenária adega de produção e envelhecimento de vinhos do Porto, mantendo intactos os antigos lagares e sala de pipas, sendo ponto de interesse para as visitas guiadas e complemento às provas de vinhos do Douro e Porto”, justifica a Vieira de Sousa.
Agora restaurada, a Quinta da Firveda mantém a traça original e a forte presença de paredes de xisto, tradicionais na região do Douro, e foi feita a requalificação necessária para um acolher o centro de visitas, a sala de provas e a loja de vinhos.
Aberto todos os dias, em época alta, o espaço de enoturismo da Vieira de Sousa funciona das 10h00 às 13h30 e das 14h30 às 17h30. Aconselha-se reserva antecipada, de forma a garantir disponibilidade, e as visitas são complementadas com vários tipos de provas, disponíveis para consulta no site da Vieira de Sousa, no separador “ENOTURISMO”.
Ajudar as crianças da Bagos d’Ouro é grátis: consigne 0,5% do IRS!

A Associação Bagos d’Ouro — que apoia o percurso educativo, social e familiar das crianças e jovens do Douro, em situação de carência económica, e providencia as oportunidades educativas necessárias para promover o sucesso escolar e a integração no mercado de trabalho — pretende chegar a cada vez mais concelhos do Douro. Neste sentido, a Bagos […]
A Associação Bagos d’Ouro — que apoia o percurso educativo, social e familiar das crianças e jovens do Douro, em situação de carência económica, e providencia as oportunidades educativas necessárias para promover o sucesso escolar e a integração no mercado de trabalho — pretende chegar a cada vez mais concelhos do Douro.
Neste sentido, a Bagos d’Ouro tem a decorrer, até ao dia 30 de Junho de 2023, a Campanha de Consignação de IRS. A associação deixa uma mensagem de apelo:
“Este ano, mais do que nunca, esta é uma fonte de receita essencial para a continuidade da nossa actividade, uma vez que estamos a crescer! Temos a felicidade de estar já a trabalhar no novo concelho Bagos D’Ouro – Mesão Frio – que é um dos concelhos mais pobres da União Europeia. Neste momento, estamos a trabalhar em rede com os Parceiros Sociais Locais no processo de sinalização de mais crianças e jovens. Nos próximos 2 anos lectivos, apoiaremos a educação de +25 a 30 crianças, o que significa +15 a 18 famílias. Ninguém cresce sozinho. 0,5% do seu IRS é a medida do nosso crescimento!”.
Basta indicar o NIF da Bagos d’Ouro — 509 640 036 — no Portal das Finanças ao submeter a sua declaração de rendimentos. Assim, gratuitamente para si, estará a mudar o futuro de quem não tem as mesmas oportunidades.
Veja o vídeo que explica como pode doar 0,5% do seu IRS à Bagos d’Ouro:
Casa Ferreirinha lança edição 2014 do icónico Reserva Especial

Sairá para o mercado no final de Junho, com uma produção de mais de 16 mil garrafas. O Reserva Especial 2014 é apenas a 18ª edição deste tinto icónico da Casa Ferreirinha, da Sogrape, que nasceu em 1960 pelas mãos de Fernando Nicolau de Almeida. Vinificado na Quinta da Leda, em Almendra (Douro Superior) — […]
Sairá para o mercado no final de Junho, com uma produção de mais de 16 mil garrafas. O Reserva Especial 2014 é apenas a 18ª edição deste tinto icónico da Casa Ferreirinha, da Sogrape, que nasceu em 1960 pelas mãos de Fernando Nicolau de Almeida.
Vinificado na Quinta da Leda, em Almendra (Douro Superior) — propriedade que conta, actualmente, com cerca de 170 hectares de vinha — o Reserva Especial é desenhado pelo enólogo Luís Sottomayor. “É um vinho que marca pela sua elegância, fruto de um ano temperado e com boa maturação, e também pelo excelente volume, acidez viva, taninos firmes e final extremamente longo e complexo”, afirma o responsável de enologia da Sogrape no Douro.
O Casa Ferreirinha Reserva Especial 2014 chegará ao mercado um p.v.p. recomendado de €280, ficando disponível em garrafeiras e outras lojas da especialidade, restaurantes e hotéis premium, nas Caves Ferreira e em clubes de vinho seleccionados.
Leia o artigo completo sobre este vinho numa das próximas edições da revista Grandes Escolhas
Quinta dos Murças com nova imagem e primeiros vinhos bio

A duriense Quinta dos Murças, do grupo Esporão, acaba de lançar a colheita de 2021 dos seus vinhos Minas e Margem, dois tintos que marcam o momento da transição total da vinha para o modo de produção biológico, e que, para o assinalar, surgem com uma nova imagem. “Este trabalho começou em 2011, quando a […]
A duriense Quinta dos Murças, do grupo Esporão, acaba de lançar a colheita de 2021 dos seus vinhos Minas e Margem, dois tintos que marcam o momento da transição total da vinha para o modo de produção biológico, e que, para o assinalar, surgem com uma nova imagem.
“Este trabalho começou em 2011, quando a primeira parcela de vinha foi re-estruturada e convertida para modo de produção biológico. Caminho reforçado em 2021, com a conversão total das vinhas e a aposta num caminho menos interventivo, com processos que implicam maior rigor e mais trabalho. Esta transição permitiu a preservação e recuperação dos solos, tornando-os mais vivos e saudáveis, com vinhas mais fortes e resilientes”, explica a empresa.
Lourenço Charters, responsável de enologia e viticultura da Quinta dos Murças, sublinha que “este lançamento confirma o percurso da Quinta dos Murças como produtor de vinhos biológicos e, com isso, o reconhecimento de práticas que conduzem a um maior equilíbrio entre produção e natureza”.
O Quinta dos Murças Minas 2021, assim chamado por as vinhas estarem sobre minas de água, provém de parcelas plantadas entre 1987 e 2011, com exposição sul e altitude entre os 110 e 300 metros. Já o Quinta dos Murças Margem 2021, nome da vinha vertical situada junto à margem do rio Douro, provém de uma vinha plantada entre 1980 e 1987, em solos xistosos e de baixa altitude, com exposição sul e oeste.
Sobre a nova imagem, António Nascimento, Brand & Market Manager da Quinta dos Murças, comenta: “Quisemos reforçar a identidade da marca e alinhá-la com a nossa visão. Optámos, em parceria com o Studio Eduardo Aires, por seguir um design minimalista, disruptivo, moderno e sóbrio, inspirado nas pessoas de Murças. Juntámos parâmetros como a altitude, área de vinha e anos de plantação ao nome dos vinhos para evidenciar o que os distingue, a sua origem. O contra-rótulo ganhou vida com a arte de João Abel Mota, que desenhou a carvão as vinhas correspondentes a cada vinho. A nova imagem surgiu em simultâneo com o lançamento dos nossos primeiros vinhos biológicos que expressam, sem filtros, o lugar de onde vêm. A história, tradição, pessoas e natureza estão, mais que nunca, espelhadas neste rótulo”.
Andreza: Douro de referência, a preço sensato

Lara Dias, a presidente da Saven, abriu as portas de sua casa, ali bem perto de Aveiro, para a apresentação das novas colheitas Andreza, espelhando, no seio do ambiente familiar, parte do que é o legado de seu pai, Manuel Dias. Empresário dinâmico e criativo, Manuel Dias fundou a Saven no ano de 1988, em […]
Lara Dias, a presidente da Saven, abriu as portas de sua casa, ali bem perto de Aveiro, para a apresentação das novas colheitas Andreza, espelhando, no seio do ambiente familiar, parte do que é o legado de seu pai, Manuel Dias. Empresário dinâmico e criativo, Manuel Dias fundou a Saven no ano de 1988, em Ílhavo, e dedicou-se a exportar para todo o mundo, com enorme sucesso, produtos alimentares portugueses, entre eles o vinho. Como acontece com frequência, o salto da distribuição para a produção ocorreu quase sem se dar por isso. E Manuel Dias encontrou no enólogo Francisco Baptista o parceiro ideal para, em 2009, numa empresa conjunta, a Lua Cheia-Saven, dedicar-se ao vinho enquanto produtor, assentando nas regiões do Douro e dos Vinhos Verdes. Para alcançar o seu sonho transpôs integralmente todos os degraus do processo: compra de uvas a lavradores, construção de adega, aquisição de propriedades, plantação de vinha. Manuel Dias, infelizmente, faleceu demasiado cedo, em 2019, mas deixou importante obra feita. Hoje, a Lua Cheia-Saven possui no Douro, em Vale de Mendiz (por muitos considerado o “filé mignon” da região) a magnífica Quinta do Bronze. São 13 hectares de vinha aos quais se juntam, através de parcerias com diversos viticultores, mais cerca de 100 hectares. A vinificação é feita em adega própria, situada em Alijó, de onde saem marcas como Lua Cheia, Andreza ou Quinta do Bronze. Na região dos Vinhos Verdes, a Lua Cheia-Saven detém 5 hectares de vinha em Melgaço, uma adega em Monção e faz a gestão de mais 20 hectares de vinhedos através de parcerias locais, tendo como marcas principais Maria Bonita, Maria Papoila ou Nostalgia.
Os vinhos agora apresentados por Lara Dias e Francisco Baptista levam ainda mais longe a ambição do fundador, Manuel Dias. Posicionada acima da gama Lua Cheia e abaixo dos “vinhos de vinha” da Quinta do Bronze, a linha Andreza Reserva mostra a região do Douro em todas as suas múltiplas nuances. O Andreza Reserva branco 2021 tem origem em uvas cultivadas nas zonas altas (500 a 600 metros) de Martim e Porrais, localidades do concelho de Murça de onde saem boa parte dos brancos mais ambiciosos do Douro. As castas são as tão tradicionais Viosinho, Gouveio e Rabigato. O mosto das duas últimas variedades fermenta em inox com agitação regular das borras finas. Já o Viosinho vai para barrica usada de carvalho francês, também com bâtonnage após a fermentação. Depois de um ano de estágio, é elaborado o lote final.
Se, para o branco, Francisco Baptista selecionou uvas de uma zona muito concreta, para o Andreza Reserva tinto a opção do enólogo foi outra: traduzir toda a diversidade do Douro, ao nível de climas, solos, altitudes e orientações solares. Assim, a matéria-prima que está na base do Andreza Reserva tinto 2020 tem origem nas três sub-regiões durienses. Segundo Francisco Baptista, o objectivo “é ir buscar a frescura ácida do Baixo Corgo, o equilíbrio e complexidade do Cima Corgo e a fruta madura do Douro Superior”. As diferentes origens possuem outra vantagem: permitem-lhe manter a consistência de qualidade e perfil da marca colheita após colheita. São uvas de vinhas antigas, com várias castas misturadas, mas também de parcelas estremes mais jovens. No lote, encontramos sobretudo Touriga Franca, Touriga Nacional e Tinta Roriz e, em menor percentagem, Alicante Bouschet, Tinto Cão e Sousão. A fermentação decorre em inox, seguindo-se um estágio de cerca de 12 meses em barrica usada.
Já o Andreza Altitude parte de um conceito distinto, estreado na vindima de 2017 e agora recuperado na de 2019. Tal como o nome indica, é feito a partir de uvas de zonas altas, sempre a cotas superiores a 450 metros. No caso, são parcelas selecionadas no concelho de Alijó, assentes em dois solos distintos, xisto e granito. Para Francisco Baptista, “só assim é possível conseguir o perfil que pretende para este tinto, assente numa mistura de elegância, frescura e expressão de fruta”. São vinhas de idade avançada e com castas misturadas, a que se juntou uma parcela estreme de Tinto Cão para reforçar o equilíbrio ácido. Fermentação clássica em inox, maceração pós fermentativa de três semanas (o enólogo segue o modelo “bordalês” de macerações prolongadas), seguindo depois o vinho para estágio de mais de um ano em barrica nova e usada.
No topo da linha Andreza está Grande Reserva tinto, tendo sido apresentada a colheita de 2015. Tal como no Reserva, também aqui as uvas têm origem nas três sub-regiões do Douro. Predominam as vinhas de maior idade e de baixa produção e diversas parcelas com muitas castas plantadas em “field blend”. “É uma forma de obter sólida estrutura, acidez muito equilibrada e também taninos gordos e maduros”, refere Francisco Baptista. “Um Grande Reserva do Douro tem de ser longevo, crescer largos anos em garrafa”, acrescenta. Assim, no lote encontramos, entre muitas outras variedades, uma boa parte de Touriga Franca, Touriga Nacional e Sousão. As uvas são vinificadas em cuba inox, com maceração prolongada após a fermentação. Longo é também o processo de estágio: o 2015 esteve quase 24 meses em barrica nova e depois largos anos em garrafa até o enólogo o dar como pronto para entrar no mercado.
No seu conjunto, esta linha Andreza apresenta fortíssimos argumentos: superior qualidade, vincado carácter Douro e preço sensato. Talvez, mesmo, demasiado sensato para um nível tão elevado…
(Legenda da foto *Francisco Baptista e Lara Dias são sócios no projecto Lua Cheia – Saven)
(Artigo publicado na edição de Abril de 2023)