Kranemann Wine Estates inaugura enoturismo

Kranemann Enoturismo

A  Quinta do Convento de São Pedro das Águias, com raízes no Séc. XII, passa a receber experiências em torno da vinha e do vinho. Visitas e provas incluem uma “Masterclass” com a enóloga Susete Melo e estão disponíveis por marcação. Propriedade icónica do Douro, a Quinta do Convento de São Pedro das Águias foi […]

A  Quinta do Convento de São Pedro das Águias, com raízes no Séc. XII, passa a receber experiências em torno da vinha e do vinho. Visitas e provas incluem uma “Masterclass” com a enóloga Susete Melo e estão disponíveis por marcação.

Propriedade icónica do Douro, a Quinta do Convento de São Pedro das Águias foi adquirida em 2018 pelo enófilo Christoph Kranemann, que descobriu em Portugal os vinhos nacionais e, mais tarde, esta quinta no Vale do Távora. “Existe sítio mais perfeito do que este? As vinhas, o rio, toda esta paisagem fantástica… A arquitetura… Tenho raízes alemãs e sempre me interessei muito por arquitetura e história. Então este convento do século XII, com estes claustros e toda esta memória, é uma espécie de sítio perfeito, que reúne aquilo de que mais gosto. É um sítio mágico!, afirma Christoph Kranemann, lembrando o porquê da sua escolha.

O projeto vitivinícola arrancou em 2018, com a enologia a cargo de Maria Susete Melo e Diogo Lopes, trazendo ao mercado vinhos DOC Douro e Porto diferenciadores, bem como um azeite, produtos marcados pelo terroir de altitude onde surge a propriedade. A produção de vinho esteve sempre presente, desde o séc. XII, quando os monges da Ordem de Císter se estabeleceram, introduziram a prática agrícola e as bases do convento que hoje existe. E é este mesmo convento, um miradouro que se ergue perante o vale, conhecido pelos seus claustros e antiga capela, que acolhe as experiências de enoturismo agora disponíveis.

Consulte toda a informação e programação AQUI.

As marcações e esclarecimentos fazem-se através do email info@kranemannestates.com e do telefone 254782070.

 

Novos Andreza: muita qualidade, excelente preço

Andreza

A Lua Cheia-Saven, projecto da empresária Lara Dias e do enólogo Francisco Baptista, apresentou no passado dia 24 de Fevereiro de 2023, as mais recentes colheitas da linha premium e super premium Andreza. O branco Reserva agora lançado nasceu na vindima de 2021, enquanto o tinto Reserva é de 2020. Já o Andreza Altitude mostra […]

A Lua Cheia-Saven, projecto da empresária Lara Dias e do enólogo Francisco Baptista, apresentou no passado dia 24 de Fevereiro de 2023, as mais recentes colheitas da linha premium e super premium Andreza.

O branco Reserva agora lançado nasceu na vindima de 2021, enquanto o tinto Reserva é de 2020. Já o Andreza Altitude mostra toda a frescura da vindima de 2019 e das cotas altas do vale duriense, enquanto o topo, Grande Reserva, criado em 2015, ostenta a complexidade e polimento do longo estágio em garrafa. Em comum, estes quatro vinhos evidenciam a genuína origem Douro, forte carácter e excelente relação qualidade/preço.

AndrezaOs Andreza Reserva branco e tinto custam €8,20 no mercado, o Altitude aponta aos €13,60 e o Grande Reserva é comercializado a €22. Os vinhos da Lua-Cheia Saven são produzidos a partir de uva própria (Quinta do Bronze, em Vale de Mendiz) e uvas adquiridas a viticultores, sendo vinificados na adega da empresa situada em Martim, Murça. L.L.

Reportagem completa numa das próximas edições da revista Grandes Escolhas.

David Guimaraens é conhecido no Douro, em jeito de brincadeira, como o “Ayatollah do vinho do Porto”, mas também é o homem que se emocionou quando viu os trabalhadores da vindima entrar no lagar, pela primeira vez depois do início da pandemia. Nasceu no Porto, a 13 de Outubro de 1965, e representa a sexta geração de uma família inglesa dedicada exclusivamente a este negócio, sendo hoje director técnico, enólogo e master blender do grupo The Fladgate Partnership (Taylor’s, Croft, Fonseca Guimaraens, Krohn…). Uma conversa sobre o ano vitivinícola de 2022 acabou por desaguar em temas mais fracturantes e controversos, como a sustentabilidade social e económica da região, e David terminou a denunciar os calcanhares de Aquiles do Douro.

 Texto: Mariana Lopes   Fotos: The Fladgate Partnership

Numa visita por algumas das propriedades durienses do grupo The Fladgate Partnership — que resultou, em edição anterior, numa peça sobre as inovações tecnológicas da empresa — acabámos sentados com David Guimaraens, na Quinta da Roêda, a conversar sobre “o estado da nação”. Primeiro, o clima, as vinhas e a vindima de 2022, num ano que, para quem produz vinho no Douro, segundo o enólogo, não foi dos melhores. Estávamos em finais de Setembro.

David Guimaraens“As vinhas estão acastanhadas, com ar cansado”, começou por dizer. “Normalmente, no fim da vindima estão mais verdes, mas este ano castigou-as e ficou marcado por falta de chuva, com um Inverno muito seco. Aqui, na Roêda, choveram 75 milímetros, o que é muito pouco face aos normais 300. Em Março, ainda vieram 70 milímetros que foram importantes, mas de modo geral, todo o ano foi muito seco. Paralelamente, tivemos várias vagas de calor. Usualmente, temos no Douro a ‘queima de São João’, no final de Junho, altura em que o tempo muda radicalmente. Este ano tivemos aquilo a que chamámos ‘queima de Santo António’, porque o calor forte veio no início de Junho. Daqui para a frente, houve muitos dias acima dos 40ºC, e Julho foi dos mais quentes que registámos. Por cima dos solos com pouquíssima água, estas vagas de calor só vieram agravar tudo”, explicou, com a calma e boa disposição que já lhe é característica.

Esta declaração levou à pergunta óbvia que, traduzida “para miúdos”, não é mais do que “isso significa que os vinhos vão ser maus?”, ao que David respondeu: “Não. O que foi extraordinário, foi que, quando eu vim de férias em meados de Agosto, esperava encontrar as uvas numa desgraça total. Mas, como elas nasceram já com sede, criaram uma resistência extraordinária. Bagos pequenos, como é característico, mas nenhuma uva passa, ao contrário de 2017. Tivemos sim, aquilo que acontece quando está muito calor, que é os ácidos muito, muito baixos. Mas isso não é tão dramático no vinho do Porto. Porque um dos segredos deste tipo de vinho é que a aguardente vem equilibrar tudo. Nos vinhos não fortificados, não há aguardente para equilibrar. Não fosse esta uma região de vinho do Porto…”, afirmou, cautelosamente, já a abrir caminho para um tema que lhe diz muito. Assim, nas propriedades da Fladgate iniciou-se a vindima de 2022, pelas vinhas que estavam, como diz David Guimaraens, pela “hora da morte”, em zonas mais quentes.

Mas como se lida com uma situação destas, quais os mecanismos? Para David, não há dúvidas: “Uma das riquezas do Douro é exactamente o que temos aqui, uma viticultura de montanha, com três grandes factores para trabalhar. As sub-regiões, desde o Baixo Corgo que é menos árido, ao Douro Superior, que é mais, sendo que nos anos secos a primeira aguenta melhor esta aridez; depois, a altitude, quanto maior é, menos temperatura e maior pluviosidade; e a orientação, ou exposição solar, porque dentro da mesma quinta, as vinhas têm exposições diferentes. Tudo isto, conjugado com as grandes castas que temos no Douro, é um puzzle que podemos fazer a nosso favor. Em anos extremos como este, para o lado da aridez, haverá bastantes variações de quinta para quinta, e de produtor para produtor, no resultado dos vinhos”, desenvolveu o director técnico. Portanto, antes da vindima, o ano estava desanimador, assumimos. Ao que David replicou, seguro de si: “Os vinhos do início da vindima eram pouco entusiasmantes. Se não se deve dizer isto, e dizer que é tudo mágico? Alguns preferem, mas eu não”.

Mais tarde, houve dois episódios de chuva no Douro. “Aqui na Roêda, tivemos 5 milímetros no dia 6 de Setembro — um primeiro borrifo bom para aliviar — e depois, a 13 e 14 de Setembro, vieram 30 milímetros. Num ano ‘normal’, isto seria muito, mas os solos estavam tão sequiosos que absorveram tudo, e funcionou como uma rega. Eu sou a favor de rega, mas somente de rega pluvial, que é a da chuva. Esta água veio ajudar as uvas a refinar, e incentivar as vinhas a terminar a sua maturação”, adiantou David Guimaraens, que acabou por tornar o cenário mais animador: “O ano de 2022 é o ano do rio Pinhão. Nós temos muita área de vinha no vale do Pinhão, que sofreu no início da vindima pelo que já falámos, mas acabou por haver uvas fabulosas. Fizemos, nesta zona, muitos investimentos nos últimos tempos, com compra de propriedades, por exemplo. Este é, na verdade, o centro do Douro, e tem muitas quintas, também de outros produtores, que sempre foram extraordinárias”, admitiu.

Quanto ao comportamento das castas, o enólogo desvendou que as que melhor se aguentaram no início conturbado da vindima foram a Tinta Roriz e a Touriga Nacional. A Touriga Francesa também mereceu destaque pela positiva, mas demorou mais tempo a amadurecer e a libertar a cor. Uma das que mais sofreram este ano foi, a título de exemplo, a Tinta Amarela. “Mas no vinho do Porto esta é outra vantagem, dá-se menos ênfase à casta e mais ao local, porque, e é aquilo que já se faz no Douro desde sempre, usam-se várias castas, que se complementam”, sublinhou David. “Os viticultores que têm andado a investir menos na vinha, e que as têm com menos vigor, são os mais afectados, porque estas vinhas se ressentem muito mais, e também por isto há tanta variação por local. Naturalmente que, quanto mais velha a vinha, mais resiste. Eu costumo comparar uma videira velha a um homem velho: já não produz tanto, mas o que produz é com mais sabedoria…”.

David Guimaraens

Um problema de estrutura

Perante a exposição de David Guimaraens sobre o ano vitivinícola de 2022, e os pontos mais gerais em que tocou sobre o clima, impôs-se a questão das alterações climáticas. O enólogo retorquiu com veemência: “As alterações climáticas são desculpa para muita incompetência. Neste momento, está-se a pôr debaixo das alterações climáticas muitas asneiras que têm sido feitas. Não digo, com isto, que elas não existam, pelo contrário, são muito reais. Mas por exemplo, a região do Douro tinha, antigamente, uma viticultura assente no field blend (mistura das castas) e em densidade de plantação, onde cada unidade produzia pouco, mas a soma das unidades produzia quantidade satisfatória. Além disso, o porta enxerto utilizado era o Rupestris, que é menos produtivo mas muito resistente à secura. O lote de castas que utilizávamos era também muito maior do que o que ficou depois do ‘afunilamento’ das décadas de 70/80. E quando veio a obsessão, que ainda temos hoje, a obsessão triste da mecanização, alterou-se o equilíbrio. A mecanização é uma necessidade, mas se a estamos a utilizar para baixar os custos, não estamos a ir pelo caminho certo. A nossa obsessão deve ser criar valor. A mecanização é uma evolução natural para se ir fazendo. A região está há 50 anos obcecada pela mecanização, e andamos aqui todos a chorar porque vendemos o vinho do Porto e os vinhos DOC Douro baratos, e vendemos mais barato do que regiões planas com 3 vezes mais produção. E isto leva-nos, naturalmente, ao problema da mão-de-obra”. Por esta altura da conversa, David Guimaraens, embora sempre sorridente, começava a agravar a voz, e sabíamos que o desabafo não tardava. “Nós só temos problema de mão-de-obra porque não temos dinheiro para a pagar. Os portugueses não emigram para França por gostarem de foie gras. Vão embora porque ganham mais dinheiro fora. No sector, temos visões muito deturpadas das coisas. E depois vem-se com chavões, a falar das alterações climáticas, para justificar tudo e permitir tudo. Elas são problemáticas, sobretudo ao nível dos acontecimentos extremos. Podemos dizer que o ano vitícola de 2022 foi efeito das alterações climáticas, mas se é para assumir, então, que vai ser sempre assim daqui para a frente, mais vale fechar as portas e ir embora. Temos de aprender a viver com elas. É uma chatice, há-que sermos criativos, mas já o fomos noutros momentos. Aliás, num determinado ano menos bom, em vez de ser a Quinta da Roêda a fazer um grande Vintage, será a quinta de outro produtor. Acredito vivamente que o Douro pode ser um exemplo, a nível mundial, na reacção às alterações climáticas, pela experiência que temos aqui. Podemos reconsiderar as nossas vinhas de preferência, consoante as condições. Não estou de acordo, por exemplo, que a forma de reagir seja regar a vinha”, referiu David. Mas este tema da rega daria outro almoço…

A controvérsia

No seguimento das dicas que David nos foi dando sobre as vantagens da produção de vinho do Porto, tendo em conta as adversidades climáticas, tivemos de perguntar… “é contra a existência da DOC Douro?”. O enólogo respondeu com murros na mesa: “Não, não e não. Não tem nada que ver com ser contra ou a favor. A minha visão é simples, um Vintage é engarrafado quando temos um conjunto perfeito de vinhos que reflectem um ano e um lugar, mas quando os vinhos não são perfeitos, lidamos com isso através do envelhecimento em cascos de carvalho. Estes estilos de vinho do Porto são ambos fabulosos, e são uma grande forma de nos adaptarmos às condições do nosso clima, porque somos uma região de clima mais extremado por natureza, que amadurece as uvas para álcool mais elevado. No vinho do Porto, isso não é um problema, porque adicionamos aguardente no processo. Para os produtores de DOC Douro, só não é um problema porque fazem ‘vinho do Porto para diabéticos’, que é o que eu costumo chamar, em tom de brincadeira, aos vinhos ‘de mesa’ [não-fortificados] com muito álcool e sem açúcar”, riu-se.

E foi aqui que, no semblante de David Guimaraens, o vento mudou de direcção. “O vinho do Porto é um grande exemplo de sustentabilidade, e alguns vinhos do Douro também. Mas o grande tema que eu quero trazer para a mesa vai colocar-me em apuros, e quando falo nele todos se zangam: desafio os portugueses com sentido de moralidade a denunciar que esta região é uma vergonha. Estamos numa região extraordinária, e nunca se vendeu tanto vinho do Porto de qualidade como se vende hoje. Basta olhar para o número de projectos novos de famílias ligadas ao Douro, que hoje produzem vinhos do Porto de qualidade. Falo de Vieira de Sousa, Domingos Alves de Sousa, Wine&Soul, e muitos outros. Se não estamos a vender tanto volume, é porque o consumidor bebe menos mas bebe melhor. Não vamos confundir o vinho do Porto com um estilo de vinho que está condenado à morte, mas sim que se tem de adaptar ao mercado. O vinho DOC Douro é um grande vinho, que está a ganhar cada vez mais nome pelo Mundo fora, e é muito importante para a região a longo prazo. Está a dar muito dinheiro. O turismo, por sua vez, tem trazido muita riqueza, com os centros de visita, alojamentos, programas de enoturismo… mas quem sustenta isto tudo, e toda esta paisagem, está nas ruas da amargura: é o viticultor”, confessou, finalmente. “É muito triste, porque a razão é sermos todos uma cambada de incompetentes. Empresas de vinho do Porto, empresas de DOC Douro, Estado e viticultores. O viticultor do Douro, que produz e vende ao quilo, está a falir, porque o sector é imoral. Estou farto de assistir a isto. Este ano, mais um viticultor “meu” vendeu as vinhas por não ter viabilidade económica. Uma das razões pelas quais não temos pessoas, é ser difícil o trabalho da vinha e não dar dinheiro. Esta vergonha está por denunciar: nós temos vinhas, e estas vinhas e o Douro têm um conjunto de regras que foram desenhadas quando a região só tinha uma Denominação de Origem (D.O.), que era Porto. Há 20 e poucos anos atrás, nasceu uma segunda D.O., Douro. Eu falo mal dos vinhos DOC Douro não pela qualidade — até porque quem os faz são meus amigos, de quem gosto muito — mas não tivemos a competência, ou interesse, em alterar as regras. Cerca de três quartos das videiras da região, hoje (as que têm licença para produzir Porto) podem originar duas D.O., Porto e Douro, independentemente se têm ‘benefício’ ou não. Numa videira com 4 cachos, dois podem originar vinho do Douro, e os outros dois, Porto. O vinho do Porto paga €1,50 por quilo, e o do Douro paga €0,60”, disse, visivelmente zangado, enquanto batia com os punhos na mesa. E continuou. “Esta é a realidade. Duas D.O., dois preços diferentes. E a maior mentira, que ninguém reconhece, é esta: nunca uma vinha é vindimada primeiro para vinho do Porto e depois, uma segunda vez, para DOC Douro. Nós alimentamos uma mentira no Douro, porque não temos capacidade colectiva de actualizar as regras para reflectir a nova realidade. É imoral e, acima de tudo, uma mentira. É imoral porque eu vou a uma vinha, e pelas uvas até à cota de produção pago €1,50 por quilo, e a DOC Douro compra as outras, já a pagar bem, a €0,60 ou €0,70, abaixo do custo de produção. Isto só existe porque, para o vinho do Porto, há uma cota de produção, que é o chamado ‘benefício’, que limita a oferta e a procura, tudo o resto, e como a região é excedentária em produção, é mercado livre”, esmiuçou David. “Temos duas regras, para duas D.O., na mesma videira. Mas que grande mentira! E a incompetência de todos está no seguinte: nós, empresas de vinho do Porto, ou não nos entendemos para mudar as regras, ou juntamo-nos aos outros e passamos a fazer DOC Douro e tiramos partido dela. Os viticultores não se conseguem organizar para exigir alteração. O Estado, também não muda nada, não está ‘nem aí’. E às empresas de DOC Douro não lhes interessa, porque estão a comprar matéria-prima barata. Isto é uma tragédia, é muito errado”. Ao proferir estas palavras, estava à vista de todos que David se preocupa realmente com o problema, e os seus olhos pediam por alguém se se juntasse à causa. “Sozinho, não consigo mudar nada…”.

David GuimaraensA possível solução

“Como se pode solucionar o problema?”, questionámos. David tinha a resposta na ponta da língua: “Eu só peço uma simples alteração: todos terem de optar, parcela a parcela, se fazem vinho do Porto ou Douro. Se fizerem Porto, têm o ‘benefício’, e só as uvas que sobram é que vão para não-fortificado. Se fizerem Douro, não podem receber ‘benefício’. Assim, obrigamos a região a ser honesta, porque quando vindimamos, sabemos bem que uvas vão para uma D.O. ou para outra. Agora, esta incompetência colectiva está a levar à destruição da actividade de viticultor, que é o que eu digo há vários anos. Por tudo isto, eu apelo ao boicote do vinho DOC Douro, até a região mudar as regras!” lança, revoltado. “Vamos ser honestos, decentes… Está na hora de reconhecer que as regras estão desactualizadas e que estamos a fazer o viticultor, que vive de vender uva ao quilo, definhar. Não culpo nem aponto o dedo a um ou outro, porque não é assim que se resolvem as coisas. Eu afirmo que o sistema está mal, e que todos nós sabemos que está mal, um sistema em que uns enriquecem erradamente e outros empobrecem cada vez mais”, atirou David Guimaraens. “Esta é a razão principal pela qual o David não faz vinhos DOC Douro?”. “É”. “E se as regras mudassem e ficassem mais justas, ponderaria fazer?”. Sim”.

(Artigo publicado na edição de Janeiro de 2023)

Adega Quanta Terra recebe exposição da artista Leni van Lopik

Quanta Terra Leni Lopik

A ligação do projecto duriense Quanta Terra — fundado em 1999 por Celso Pereira e Jorge Alves — ao mundo artístico, começou com uma exposição de Joana Vasconcelos em 2022. Agora, é a vez da artista plástica holandesa Leni van Lopik expor as suas criações na adega Quanta Terra, em Favaios, uma mostra denominada “Cor […]

A ligação do projecto duriense Quanta Terra — fundado em 1999 por Celso Pereira e Jorge Alves — ao mundo artístico, começou com uma exposição de Joana Vasconcelos em 2022. Agora, é a vez da artista plástica holandesa Leni van Lopik expor as suas criações na adega Quanta Terra, em Favaios, uma mostra denominada “Cor do Douro” que já começou e que durará até 31 de Outubro. Leni van Lopik reside em Portugal há 23 anos, e já venceu o prémio Best of Wine Tourism 2023, na categoria Arte e Cultura.

Todas as peças, das 11 obras expostas, são produzidas a partir de materiais naturais ou orgânicos, como folhas de eucalipto, bugalhos e pedras, quase sempre recolhidos durante as caminhadas da artista pelos socalcos durienses.

“O processo de reabilitação e recuperação da Quanta Terra mostrou-nos um espaço demasiado valioso para ficar circunscrito a visitas e provas de vinhos. Entendemos, desde logo, que a arte teria aqui uma simbiose perfeita com o nosso negócio de produção de vinhos e que uma com o outro reflectiriam aquilo que colocamos todos os dias no nosso trabalho: fazer vinhos únicos e diferenciadores, para serem apreciados e desfrutados”, explica Celso Pereira. Jorge Alves acrescenta: “Estamos plenamente convencidos que esta exposição será uma mais-valia enorme para o turismo na região”.

Nesta exposição, Leni van Lopik apresenta, entre outras propostas, videiras na sala das barricas, de forma a mostrar a junção perfeita entre o material e o vinho, e as quatro “Donas” de cápsulas nas cubas onde era armazenada a aguardente. A estes exemplos, junta-se ainda a instalação “Rio Douro”, elaborada através de cápsulas de garrafas de vinho.

“Cor no Douro” pode ser visitada de quarta-feira a domingo, das 10h00 às 17h30. A visita inclui uma prova de vinhos. O produtor aconselha reserva prévia, para o e-mail reservas@quantaterradouro.com, ou para o número 935907557.

Está para breve: Casa Ferreirinha confirma lançamento do Reserva Especial 2014

Reserva Especial 2014

É a 18ª edição de um dos vinhos mais cobiçados da duriense Casa Ferreirinha. O tinto Reserva Especial 2014 tem lançamento confirmado para Junho de 2023, e vem saciar a sede dos consumidores que procuram vinhos mais raros e exclusivos. Luís Sottomayor, enólogo da casa do grupo Sogrape, declara: “O ano de 2014 foi de […]

É a 18ª edição de um dos vinhos mais cobiçados da duriense Casa Ferreirinha. O tinto Reserva Especial 2014 tem lançamento confirmado para Junho de 2023, e vem saciar a sede dos consumidores que procuram vinhos mais raros e exclusivos.

Luís Sottomayor, enólogo da casa do grupo Sogrape, declara: “O ano de 2014 foi de maturação equilibrada, com alguma chuva no Inverno e uma onda de calor em Junho, mas harmonioso. Estas características reflectiram-se no vinho, dotado também de uma complexidade assinalável. E a excelente capacidade de envelhecimento comprovada ao longo destes nove anos que se passaram, tornaram este vinho digno de Reserva Especial”.

Reserva Especial 2014
Reserva Especial 2009, a colheita que antecedeu o 2014.

Produzido há seis décadas, o Reserva Especial existiu nas edições de 1960, 1962, 1974, 1977, 1980, 1984, 1986, 1989, 1990, 1992, 1994, 1996, 1997 2001, 2003, 2007, 2009 e agora 2014.

Lavradores de Feitoria: Casa nova, vinhos novos

lavradores de feitoria

Fundada em 2000 por 15 viticultores durienses, a Lavradores de Feitoria é um projecto inovador a diversos níveis. Agrupando 20 propriedades, dispersas pelas três sub-regiões do Douro, num total de mais de 600 hectares de vinha, conta desde 2021 com uma nova sede e adega e, desde abril do ano passado, com um centro de […]

Fundada em 2000 por 15 viticultores durienses, a Lavradores de Feitoria é um projecto inovador a diversos níveis. Agrupando 20 propriedades, dispersas pelas três sub-regiões do Douro, num total de mais de 600 hectares de vinha, conta desde 2021 com uma nova sede e adega e, desde abril do ano passado, com um centro de enoturismo. No meio de tanta novidade cabem, claro, novos vinhos e colheitas.

Texto: Luís Lopes       Fotos: Lavradores de Feitoria

O associativismo no sector do vinho é fenómeno raro e, quando acontece, normalmente não dura muito. O projecto Lavradores de Feitoria merece, por isso, forte aplauso, pela longevidade (quase 23 anos!), dimensão (são hoje 53 accionistas, dos quais 16 proprietários de quintas), conceito (lógica de sustentabilidade social, económica e ambiental) e solidez, reforçada pela aquisição da quinta do Medronheiro, em Sabrosa, e a construção da nova sede e adega no local.

Lavradores de Feitoria
A nova adega é também sede e centro de enoturismo.

Na base de tudo isto está um enorme capital de confiança gerada entre todos os intervenientes e que a administração da Lavradores de Feitoria, cujo rosto mais visível é a CEO Olga Martins, procura retribuir. Um exemplo, é o valor base de remuneração das uvas aos produtores associados, sempre acima da média praticada na região, garantindo que cobre o custo de produção, numa lógica de “fairtrade”. A Lavradores de Feitoria tem um sistema de pagamentos assente em três patamares – base, superior e extra (que chega a valer mais do dobro do valor base), como forma de valorizar a qualidade das uvas e, por conseguinte, dos vinhos. O pagamento aos fornecedores 30 dias após a emissão da factura é igualmente um ponto de honra da casa.

Mas falemos de vinhas, adegas e vinhos. E aqui é incontornável o nome de Paulo Ruão, director de enologia da Lavradores de Feitoria desde a vindima de 2005. Para construir uma gama de vinhos segmentada e criteriosa, que abarca lotes, monocastas e vinhos de quinta, a partir de 20 propriedades e 600 hectares, é preciso estar familiarizado com cada um destes terroirs e suas particularidades. Paulo conhece bem as quintas dos sócios da empresa. Para além do acompanhamento periódico anual, visita cada uma das vinhas duas vezes antes da vindima, para fazer controle de maturação e escolher as parcelas que pretende, podendo estas variar de ano para ano.

Quando a empresa nasceu, em 2000, a coisa era muito mais simples: cada quinta fazia o seu vinho e a sua marca. Rapidamente se verificou, porém, a insustentabilidade enológica e comercial do modelo. Hoje, estas propriedades dispersas pelo Baixo Corgo, Cima Corgo e Douro Superior, com uvas de castas bastantes diversas, cepas de todas as idades, plantadas a múltiplas altitudes, com diferentes exposições, numa enorme heterogeneidade de solos, originam apenas duas linhas de vinhos, identificadas como “vinhos de lote”, onde estão as marcas Lavradores de Feitoria e Três Bagos, e “vinhos de vinha”, onde se inserem os clássicos Meruge, branco e tinto, Quinta da Costa das Aguaneiras e, a grande novidade de 2022, Vinha do Sobreiro.

Depois da fase “naif” inicial, a vinificação comum passou a estar concentrada numa adega montada na zona industrial de Paços, em Sabrosa. A ambição de Olga Martins e Paulo Ruão, porém, era outra. Numa empresa assente em quintas e vinhas, fazia sentido ter “uma adega no meio das videiras”. O sonho levou tempo a concretizar. Primeiro, em 2008, foi preciso adquirir, com capitais próprios, a Quinta do Medronheiro. Com 8 hectares de área total, entre os 540 e 580 metros de altitude e exposição sul, 6,5 hectares são de vinha, exclusivamente uvas brancas, Viosinho, Gouveio e Boal, em modo de produção biológica. Depois, houve que ganhar músculo financeiro para construir a adega, inaugurada somente 13 anos depois, em 2021.

Lavradores de Feitoria
O espaço de enoturismo foi inaugurado em abril de 2022.

O projecto, da autoria do arquitecto Belém Lima, assenta numa estrutura e paredes exteriores em betão armado pré-fabricado, com um padrão texturado onde impera a cor do xisto. Os painéis isolados e de grande eficiência térmica, associados à produção de energia através de painéis fotovoltaicos e ao tratamento de águas, avolumam a vertente de sustentabilidade da empresa. A adega possui todo o equipamento moderno expectável numa instalação destas. Porém, a pisa a pés em lagar de granito, que Paulo Ruão exige para alguns vinhos de topo, continua a ser feita nas quintas dos produtores accionistas. Para além da parte produtiva, o edifício comporta ainda os escritórios da empresa e a área dedicada ao enoturismo, inaugurado em abril de 2022. Também aqui, a Lavradores de Feitoria procura fazer diferente, privilegiando as visitas personalizadas, a cargo de Eduardo Ferreira, exímio contador da história do Douro e das estórias dos vinhos e das gentes…

(Artigo publicado na edição de Janeiro de 2023)

 

Cristiano e Francisca van Zeller mostram novos Vintage e LBV da Van Zellers & Co

Van Zellers vintage

Decorreu em Lisboa, no dia 10 de Fevereiro, a apresentação de novidades Van Zellers & Co, empresa familiar que trouxe agora os seus novos vinhos do Porto. O momento foi também aproveitado para prova de algumas colheitas anteriores. Assim, do LBV foram provados os 2014, 2015 e 2017 (este a novidade); e dos Vintage começou-se […]

Decorreu em Lisboa, no dia 10 de Fevereiro, a apresentação de novidades Van Zellers & Co, empresa familiar que trouxe agora os seus novos vinhos do Porto. O momento foi também aproveitado para prova de algumas colheitas anteriores.
Van Zellers vintage
Francisca e Cristiano van Zeller, na apresentação dos novos vinhos. ©João Paulo Martins
Assim, do LBV foram provados os 2014, 2015 e 2017 (este a novidade); e dos Vintage começou-se também com o 2014, seguindo-se as edições de 2015 e 2017, acabando no 2020. Este novo Vintage 2020 será agora sugerido ao mercado “en primeur” com um desconto de 30% sobre o preço final, que mais tarde rondará os €120. J.P.M.
Mais sobre estes vinhos numa das próximas edições da revista Grandes Escolhas

Lançamento: Os Calços da Dona Matilde

Dona Matilde

São calços e são largos. Foram criados após a filoxera e mantiveram-se até hoje. Correspondem a uma forma de implantação da vinha ainda hoje muito vulgar no Douro e que veio permitir plantar mais cepas com menor presença dos patamares e respectivos muros. Nasceu assim o tinto Vinha dos Calços Largos. Texto: João Paulo Martins  […]

São calços e são largos. Foram criados após a filoxera e mantiveram-se até hoje. Correspondem a uma forma de implantação da vinha ainda hoje muito vulgar no Douro e que veio permitir plantar mais cepas com menor presença dos patamares e respectivos muros. Nasceu assim o tinto Vinha dos Calços Largos.

Texto: João Paulo Martins      Fotos: Quinta Dona Matilde

Dona Matilde

A quinta Dona Matilde é uma propriedade histórica, já centenária e localizada no coração do Douro, entre a Régua e o Pinhão. É nas velhas quintas que encontramos as vinhas mais antigas da região, muitas delas seculares. Hoje, ao contrário da “voragem arrancativa” dos anos 80 e 90, em que substituíram muitas vinhas velhas para plantar segundo novos moldes, hoje dizia, há uma tendência para conservar estas vinhas antigas e tirar delas o melhor proveito, nomeadamente em termos de preço de venda. Hoje todos sabemos que um vinho de vinha velha só é mesmo bom se a vinha for mesmo boa, bem localizada e se foi sendo bem tratada ao longo das décadas de vida. Na quinta Dona Matilde elas também existem, a par de vinhas mais recentes, e foi daqui, desses bardos das vinhas velhas em calços que nasceu o tinto ora apresentado.

Dona Matilde
Filipe Barros

Foi com as uvas destes calços que o produtor resolveu engarrafar pela segunda vez um tinto exactamente com esse nome, Vinha dos Calços Largos. A originalidade deste tinto assenta em dois planos: por um lado estamos a falar de vinhas muito velhas e, por outro, o vinho não teve estágio em madeira, o que é raro num vinho de topo ou que pretende mostrar as qualidades das vinhas muito antigas. Para o enólogo João Pissarra é desta forma que melhor se podem perceber as pequenas nuances que, de ano para ano, os vinhos vão tendo. Pouca intervenção na vinificação (pouca extracção, leveduras indígenas) e ausência de madeira são então os trunfos. O enólogo salientou ainda que “o equilíbrio da matéria-prima é muito mais evidente nas vinhas velhas e acho, por isso, que as vinhas velhas vão vencer a guerra das alterações climáticas”. Manuel Ângelo Barros neto do fundador e durante 30 anos administrador da empresa Barros Almeida, esteve de novo presente no evento, também para apresentar o Porto Colheita, um vinho que lhe diz muito, ele que toda a vida esteve ligado à produção e prova de vinhos do Porto. Filipe Barros, seu filho, assegura a continuidade familiar do projecto. A quinta, com uma localização espectacular e vista para o rio, tem 93 ha mas uma boa parte é de mata mediterrânica. Além da vinha possui olival, horta e pomar e tem instalações de enoturismo. Para lá do tinto agora apresentado a quinta tem outro tinto de destaque, o Vinha do Pinto, a que acrescem dois tintos e dois brancos, ente colheitas e reservas.