À CONVERSA COM: EDUARDO CHADWICK – Do Chile para o mundo

Eduardo Chadwick

Já esteve em Portugal? Estive uma vez, faz agora cerca 21 anos, quando visitei o Douro a convite do Dirk Niepoort e dos Douro Boys. É uma região maravilhosa. Não poderia ser mais diferente de Chile… Sim, no Chile trabalhamos com poucas variedades e, no Douro, pelo que soube, há uma imensidão de castas diferentes. […]

Já esteve em Portugal?
Estive uma vez, faz agora cerca 21 anos, quando visitei o Douro a convite do Dirk Niepoort e dos Douro Boys. É uma região maravilhosa.

Não poderia ser mais diferente de Chile…
Sim, no Chile trabalhamos com poucas variedades e, no Douro, pelo que soube, há uma imensidão de castas diferentes. No meu país começámos por trabalhar os vinhos por casta, mas actualmente estamos a trabalhar mais na mistura de castas, nos blends. Actualmente os nossos melhores vinhos são lote de várias castas: Don Maximiliano é um lote bordalês, Seña é uma mistura bordalesa com Carmenère. Esta nova tendência começou há cerca de 20 anos. Continuamos essencialmente a plantar as cepas em pé-franco.

Nos novos perfis de vinhos, crê que a “moda Parker” já faz parte do passado?
A verdade é que algumas empresas ainda estão a fazer vinho com esse estilo, sobretudo as que têm nos Estados Unidos e China os seus principais mercados. O nosso estilo sempre foi o oposto de Parker. Sempre quisemos apostar na elegância e finesse, indo ao encontro do gosto inglês, que sempre foi o nosso principal mercado.

Havia então uma espécie de barreira entre o “estilo Parker” e o gosto inglês…
Sim, nós chegámos a ter uma associação no Chile com a família Mondavi (Califórnia), de que nasceu o vinho Seña. Mas após os problemas que a família teve na Califórnia, resolvemos recomprar a parte deles. Houve, assim, uma ligação ao mercado americano, mas hoje o nosso foco é o mercado inglês.

Nos vinhos chilenos, além da Carmenère que faz um pouco figura de casta-bandeira, que outras variedades melhor representam os vinhos do Chile?
Creio que o Cabernet Sauvignon é a mais representativa e a primeira na exportação. No Chile temos zonas bem distintas, a que chamamos vales, mas ainda não são regiões demarcadas com regras próprias como há na Europa. Ainda precisamos discriminar melhor dentro de cada vale, mas falta consenso entre produtores e instituições. É um desafio que temos ainda pela frente. E há algumas dificuldades, porque muitas empresas têm vinho com uvas que vêm de zonas muito diferentes, e isso choca com a noção de região demarcada. Mas estamos a apostar nos vinhos “single estate” exactamente à procura dos micro terroirs. Também temos Merlot e Syrah, mas esta é difícil de vender. A Malbec está a crescer um pouco.

E nos brancos?
A nossa casta-rainha é a Sauvignon Blanc e, em seguida, a Chardonnay. Depois há um pouco de Viognier, Chenin Blanc, Pinot Gris, Verdejo também um pouco. Alvarinho? Creio que não…

Qual a melhor maneira de introduzir vinhos do Novo Mundo no mercado europeu tão tradicional?
Começámos no Reino Unido, que não produzia… Bem, agora já produz (risos…), e também em outras zonas não produtoras, como Escandinávia e Holanda, com vinhos de boa qualidade e baixo preço. Mas o nosso foco são os vinhos de gama alta e mercados como Suíça e até Portugal que está no TOP 5 europeu.

Além dos clássicos Alma Viva, Clos Apalta e Don Melchor, há actualmente algum outro vinho-ícone no Chile?
Diria que Seña está perto desse grupo. Aliás, foi lançado primeiro que esses, nos anos 90. No entanto o prestígio desses vinhos continua.

Nota: a Grandes Escolhas viajou a convite da Wine + Partners. Os vinhos Chadwick são importados para Portugal pela Luxury Drinks

(Artigo publicado na edição de Maio de 2024)