Enoturismo: AdegaMãe

AdegaMãe

Ao longo das encostas suaves que descem em direção ao Atlântico, a região vitivinícola de Lisboa desenha-se como um corpo vivo que respira tradição, resistência e renovação. Aqui, onde o vento salgado do mar encontra as vinhas que se estendem como veias pela terra, o vinho não é apenas “bebida” – é memória líquida, um […]

Ao longo das encostas suaves que descem em direção ao Atlântico, a região vitivinícola de Lisboa desenha-se como um corpo vivo que respira tradição, resistência e renovação. Aqui, onde o vento salgado do mar encontra as vinhas que se estendem como veias pela terra, o vinho não é apenas “bebida” – é memória líquida, um gesto ancestral que persiste contra o tempo.
A região de Lisboa é uma joia que se revela em silêncios e detalhes. São nove as denominações de origem que compõem o mosaico vitivinícola — de Colares, com as suas vinhas rasteiras fincadas na areia e protegidas dos ventos marítimos por caniçais, a Bucelas, berço dos brancos vibrantes de Arinto, que já encantavam a corte inglesa nos tempos de Shakespeare.

Cada sub-região traz consigo um relato próprio, como se o vinho fosse um conto narrado pela boca da terra. Em Óbidos e Alenquer, o clima ameno e a diversidade de solos dão origem a tintos robustos e aromáticos. Já em Torres Vedras e Lourinhã, o legado se expande para além do vinho, com a produção de aguardente vínica certificada — uma raridade europeia que acrescenta camadas à identidade líquida da região.
Mas talvez o mais fascinante desta região esteja na sua capacidade de se manter fiel à essência, mesmo em tempos de globalização enológica. Há aqui uma filosofia implícita de resistência – preservar castas autóctones como a Ramisco ou a Vital é, ao mesmo tempo, um ato político e poético. Significa acreditar que o terroir — essa aliança mística entre solo, clima e mão humana — carrega uma verdade que não pode ser reproduzida em laboratório.

Ao percorrer as vinhas de Lisboa, o visitante atento não encontrará apenas belas paisagens ou vinhos bem pontuados. Encontrará, antes, um diálogo entre passado e futuro, entre natureza e cultura. Porque fazer vinho, aqui, é escutar o rumor da história que se infiltra no presente. É cultivar o tempo, como escreveu o filósofo Gaston Bachelard, e engarrafá-lo com a paciência de quem sabe que a pressa é inimiga da profundidade.
A região vitivinícola de Lisboa é, portanto, mais do que um território de produção: é um lugar de reflexão. Um espelho onde se pode ver o que somos — um povo que transforma adversidade em arte, que sabe colher beleza do chão árido, e que, entre goles e silêncios, ainda reconhece no vinho uma forma de dizer o indizível.

AdegaMãe

As nove faces de um terroir…

A Região Vitivinícola de Lisboa ergue-se como um corredor de memórias e ventos atlânticos, onde a vinha floresce entre brumas e colinas. Não é apenas um conjunto de nomes geográficos, mas uma constelação de identidades, cada qual com o seu caráter, a sua história, a sua filosofia líquida.
Alenquer, por exemplo, respira um classicismo aristocrático. As vinhas abraçadas pelas encostas da Serra de Montejunto criam tintos encorpados, de taninos firmes e alma quente, quase como se a terra ali tivesse memória de sangue e batalhas. Aqui, o vinho é um discurso sério, uma carta escrita à mão, com tinta escura e caligrafia firme.
Arruda dos Vinhos, mais discreta, é como um poema sussurrado. A sua localização mais interior afasta-a da influência direta do Atlântico, permitindo uma maturação mais calma das uvas. Os vinhos que nascem ali são equilibrados, de estrutura média, como quem sabe contar histórias sem levantar a voz — há uma elegância contida, uma sobriedade que conforta.
Já Bucelas, a norte de Lisboa, é um caso à parte. Conhecida desde os tempos romanos, foi exaltada por Shakespeare e Napoleão. É a terra do Arinto, casta que aqui atinge um fulgor quase metafísico. Os vinhos de Bucelas são como aforismos de Nietzsche: acidez cortante, frescura estonteante, longevidade quase eterna. É o vinho que pensa, que filosofa, que guarda silêncio com densidade.

Carcavelos, uma DOC quase desaparecida, é um suspiro do passado que resiste ao esquecimento. Entre o urbano e o litoral, entre o betão e a brisa, os vinhos fortificados de Carcavelos são feitos com a paciência do tempo. Doce, complexo, enigmático — como um manuscrito antigo resgatado das cinzas da modernidade.
Colares é, talvez, a mais heroica das denominações. As vinhas sobrevivem enterradas na areia, próximas do mar bravo, plantadas em pé franco, como quem desafia a lógica e a filoxera. Os tintos, feitos com Ramisco, são vinhos de tempo e temperamento, austeros e salinos, como um fado gravado em vinil gasto. Os brancos, por sua vez, têm a luz do Atlântico e a alma da resistência. Colares é um manifesto existencial.

AdegaMãe

Encostas d’Aire, partilhada com a região do Centro, é a transição, o limiar. Os vinhos que aqui nascem espelham essa condição: há diversidade, há contrastes, há a beleza dos lugares que não se deixam definir por uma só palavra. São vinhos que nos lembram que a identidade pode ser múltipla sem perder a essência.
Lourinhã, curiosamente, é uma DOC dedicada apenas à aguardente vínica. É uma exceção no país e uma ode à destilação como alquimia. A aguardente de Lourinhã é o espírito depurado da vinha — literal e metaforicamente. É o vapor transformado em ouro, é a filosofia líquida levada ao extremo: essência sem corpo, fogo sem labareda.
Óbidos revela outra face deste mosaico. Com influências atlânticas e uma tradição agrícola viva, os vinhos de Óbidos têm frescura, vivacidade, um certo encanto campestre. Os brancos, em particular, são notas de piano em manhãs de nevoeiro, e os tintos, embora mais contidos, mantêm uma tensão elegante — como quem dança sem querer ser visto.

E por fim Torres Vedras é a força produtiva. Antigamente associada a vinhos de volume, hoje renasce com uma nova consciência. Aqui, o trabalho do homem é visível na reinvenção. A diversidade de castas e solos permite estilos distintos, desde os mais simples até os mais ambiciosos. É o lugar onde a tradição se encontra com o futuro, onde o vinho começa a filosofar sobre si mesmo.

Sabores sentidos … nos livros de História

Na região vitivinícola de Lisboa, a gastronomia tradicional revela-se como um eco do tempo. Entre vinhas que respiram brisas atlânticas e colinas e se entrelaçam com a história, a mesa é sempre um lugar sagrado. Em Alenquer, o cabrito assado dança com tintos robustos; em Bucelas, o Arinto encontra sua harmonia nas caldeiradas delicadas; em Colares, onde o chão de areia resiste ao esquecimento, o peixe fresco e o vinho envelhecido em casco invocam o espírito da resistência. Cada prato é um território e cada copo, um testemunho de culturas que não se apagam, de um saber que é mais do que técnica: é pertença. Num tempo que valoriza a velocidade, estes sabores pedem pausa e contemplação, como quem entende que comer é, também, lembrar-se de onde se vem.

Mas Torres Vedras, onde se localiza a AdegaMãe, não é apenas um nome marcado nos livros de História por batalhas e linhas defensivas — é também território onde a memória se senta à mesa. No ventre da região Oeste, entre colinas suaves e vinhas generosas, a gastronomia tradicional Torreense resiste ao tempo como um prato que nunca esfria. Comer aqui não é apenas nutrir o corpo, é um ato de pertença, uma conversa silenciosa com o passado.
A cozinha de Torres Vedras é feita de gestos herdados. Cada receita, por mais singela, carrega um fragmento de mundo antigo. As feijoadas ricas, os ensopados fumegantes, as sopas espessas e os doces conventuais falam em voz baixa sobre um tempo onde tudo era aproveitado. O bacalhau — presença quase litúrgica na mesa portuguesa — ganha aqui interpretações comedidas, onde a cebola se confunde com azeite até se tornar quase doçura.

Mas é nos sabores da terra que a alma se revela com mais nitidez. O pão ainda nasce dos fornos a lenha, com a crosta marcada pelo fumo e a miolo guardando o calor como um segredo. As couves, batatas e feijões vindos das hortas de quintais humildes não são apenas ingredientes, são testemunhos vivos de uma ligação entre homem e chão que não se deixou quebrar.
E depois há os doces, esse capítulo à parte. Os “pastelinhos de feijão”, herdeiros de tradições conventuais, são exemplo de como o açúcar pode ser uma forma de eternidade. Pequenos bolos de aparência modesta, mas com interior denso, perfumado, quase místico. Em cada dentada, uma monja anónima parece sorrir através dos séculos.
Num mundo onde a cozinha se rende à pressa e ao plástico, a gastronomia tradicional de Torres Vedras é um exercício de resistência filosófica. Ela recusa o efémero e celebra o duradouro. Alimentar-se, aqui, é uma forma de respeitar o tempo. E talvez seja isso que a filosofia da mesa torreense nos sussurra: que o verdadeiro luxo é o que permanece, o que se transmite, o que se partilha com vagar.

Entre o aroma do pão quente e o brilho do vinho local, a tradição gastronómica de Torres Vedras não é apenas algo que se saboreia, é algo que nos saboreia de volta, porque ao degustarmos os seus pratos, somos também degustados pela história. E, de alguma maneira, voltamos a ser inteiros.
Neste quadro quase que idílico passei ao lado da Capital Portuguesa numa “pressa” desenfreada para chegar à AdegaMãe, em Ventosa, Torres Vedras, para ver um edifício que não se impõe, mas que observa e convida a observar.

O Bacalhau foi o mote, o vinho a paixão

No coração da região Vitivinícola de Lisboa, entre os ventos atlânticos e os solos férteis de Torres Vedras, ergue-se a AdegaMãe, não apenas como um edifício de linhas modernas entre colinas ondulantes, mas como uma ideia encarnada: a de que o vinho pode ser um ponto de partida, um ventre simbólico onde tradição e inovação se encontram num mesmo gesto criador.
Fundada em 2011 pela família Alves — também fundadora do grupo Riberalves (o Bacalhau) —, a AdegaMãe nasceu de um sonho antigo de erguer uma adega que celebrasse a herança histórica da região, fortemente marcada pela cultura da vinha e do vinho.

Erguida pela família Alves, fundadora do Grupo Riberalves, a AdegaMãe nasce, também, como homenagem à matriarca, Manuela Alves. E é, ao mesmo tempo, a inspiração para um espaço de nascimento, de criação, no qual se pretende potenciar as melhores uvas e fazer nascer os melhores vinhos.
O nome não é acaso: “Mãe” evoca origem, cuidado, nutrição. Fazer vinho, aqui, é um ato quase maternal, que exige paciência, escuta e entrega. Não se trata apenas de transformar uva em líquido, mas de acompanhar um processo de maturação onde cada decisão — da vinha à cave — carrega o peso do tempo e o eco do futuro.
Desenhada pelo arquiteto Pedro Mateus, ela insere-se na paisagem sem a dominar, como se procurasse dialogar com a natureza ao invés de impor. A AdegaMãe nasce do solo com a mesma humildade que caracteriza as vinhas que a rodeiam. Com linhas retas e volumes depurados, a construção parece prolongar-se no espaço como uma contemplação silenciosa da paisagem. O betão, o vidro e o aço coexistem num equilíbrio discreto, quase monástico, como se a própria arquitetura respirasse ao ritmo das vinhas.

Mais do que um edifício funcional, trata-se de um espaço onde a técnica e a estética dialogam. A adega está orientada segundo os princípios da gravidade, respeitando o percurso natural do vinho, desde a receção da uva até ao estágio em barrica. Mas é no modo como o edifício se abre ao exterior que reside a sua poesia maior. As amplas superfícies envidraçadas revelam o vinhedo em todas as direções, como se a paisagem fosse parte integrante da experiência do visitante, do enólogo, do vinho.
Lá dentro, o silêncio impõe-se com a solenidade de um templo. A cave de barricas, mergulhada numa penumbra quase litúrgica, convida à introspeção. A fermentação, esse milagre da natureza guiado pela mão humana, é aqui tratada com a dignidade de um ritual. Há uma espécie de espiritualidade moderna no modo como a arquitetura da AdegaMãe acolhe os elementos — a luz, o tempo, o vinho.
No topo, a sala de provas abre-se ao infinito. Não há janelas, há molduras. O olhar percorre o vale, toca as serras ao longe, escuta o vento que chega do Atlântico que se perde por entre os corredores de vinha. Aqui, provar um vinho é mais do que um ato sensorial: é uma experiência existencial. Cada copo contém um território, cada aroma evoca uma estação, cada trago é memória e promessa.

A AdegaMãe é, portanto, mais do que um espaço de produção — é um lugar de encontro entre o homem e a terra, entre a técnica e o espírito. A arquitetura não serve apenas o vinho, serve a ideia de que a beleza também pode, e deve, estar presente no gesto produtivo. Que o vinho, sendo cultura, merece um lar que o celebre com a mesma nobreza com que nasce.
No plano técnico, a AdegaMãe representa uma nova geração de vinhos portugueses comprometida com a qualidade e a autenticidade, mas sem medo de experimentar. Aqui combinam-se castas autóctones, como a Touriga Nacional ou a Vital, com variedades internacionais como Chardonnay, Syrah e Pinot Noir, resultando em vinhos que respiram mundo sem perder o sotaque da terra. A influência atlântica, marcada por dias amenos, noites frescas e solos diversos, imprime aos vinhos uma frescura e elegância que os tornam distintos, quase meditativos, sob a orientação do enólogo Diogo Lopes. A arte da enologia atinge uma expressão rara de precisão e sensibilidade. O seu trabalho excecional traduz-se em vinhos que respeitam o território, revelando com elegância a frescura atlântica e a complexidade do terroir desta região. É dele a visão que conduz a AdegaMãe por um caminho de inovação sem desviar da autenticidade — uma alquimia de saber e paixão que se prova em cada copo.

Mas talvez o traço mais filosófico da AdegaMãe esteja na sua postura em relação ao tempo. Num mundo acelerado, ela cultiva a lentidão. Os seus vinhos pedem escuta, não pressa. Pedem presença. Cada garrafa é um convite à contemplação, à pausa, ao retorno a uma forma mais sensível de estar no mundo. Como escreveu Heidegger, “a origem é aquilo que nunca deixa de nascer” — e a cada vindima, a AdegaMãe recomeça esse parto simbólico, lembrando-nos que o essencial se cultiva devagar.
Mais do que um produtor de vinhos, a AdegaMãe é um espaço, um território de pensamento. Um lugar onde a técnica serve ao sentido, e o comércio se curva à cultura. É, sobretudo, um lembrete de que o vinho, quando feito com verdade, é uma forma de dizer aquilo que a linguagem não alcança: o sabor do tempo, o mistério da terra, e o gesto amoroso de quem transforma o fruto em permanência.

O enoturismo… sensorial e contemplativo

Um nome que mais parece sussurro de ancestralidade do que marca comercial. A sua proposta de enoturismo transcende o simples ato de degustar vinho. É uma viagem sensorial e meditativa pelos caminhos do tempo, da terra e da memória.
O enoturismo na AdegaMãe é pensado como uma travessia que conjuga o rigor técnico com uma rara sensibilidade estética. A paisagem que a acolhe é o preâmbulo perfeito para o que se vai viver ali dentro. Ao chegar, o visitante é recebido por uma arquitetura que se funde com o território — linhas modernas em diálogo com a rusticidade das vinhas antigas. Há uma serenidade quase monástica nos percursos propostos, como se cada passo fosse uma oferenda à paciência das videiras, que crescem ao ritmo da natureza e do silêncio.

A visita começa com a paisagem. Diante das vinhas, o olhar perde-se entre linhas de videiras que seguem o ritmo ondulante do solo, marcado pela influência marítima que imprime aos vinhos da região uma frescura identitária. O guia não se limita a descrever castas e técnicas — partilha o espírito do lugar, como se cada cepa fosse uma personagem numa narrativa coletiva, feita de geologia, clima e mãos humanas, metáfora viva da espera, do cuidado e da finitude.

O percurso segue para o interior da adega, onde se acede às áreas de vinificação. O espaço é funcional, mas carregado de simbolismo. Cubas de inox alinham-se como sentinelas silenciosas, onde o vinho começa a tomar forma — não apenas como bebida, mas como expressão sensorial de uma paisagem. Cada fase da produção é apresentada como um rito de passagem: da fermentação ao estágio, da espera ao engarrafamento. Aqui, o tempo não é inimigo, mas cúmplice. É neste espaço que se escuta o murmúrio do vinho a fermentar — um som discreto, mas carregado de promessas. Aqui não se trata o vinho como um produto, mas como um ser em metamorfose – vivo, mutável, sujeito ao capricho das estações e ao gesto do enólogo.

 

AdegaMãe
Bernardo Alves, filho dos fundadores da empresa e Ceo da AdegaMãe

 

Luz contida e aromas lenhosos

Segue-se a sala de barricas, onde a luz é contida e o ar denso de aromas lenhosos. É um lugar que convida ao silêncio e à introspeção. O vinho, encerrado em madeira, parece meditar — ou sonhar. Quem percorre este espaço compreende que fazer vinho é, antes de tudo, um exercício de escuta. Escutar a uva, o ano, a madeira, o silêncio. Escutar, até que o vinho se revele.
A experiência culmina na sala de provas, realizada num espaço que se abre sobre o horizonte, onde a “linha do mar” se insinua entre vales. Cada copo oferece mais do que sabor: oferece um instante de contemplação. Os vinhos da AdegaMãe — brancos minerais, tintos elegantes, rosés subtis — são expressão de um terroir moldado pelo Atlântico, e de uma filosofia que alia ciência e alma. Provar é, aqui, uma forma de pensar. De estar presente.

Por fim, há ainda a loja e o espaço cultural, onde se contemplam garrafas com rótulos poéticos e se promovem eventos que cruzam arte, vinho e filosofia. Visitar este lugar é compreender que o enoturismo pode ser um ato de introspeção — e que beber um vinho, em silêncio, pode ser tão revelador quanto ler um poema ou contemplar a natureza. Provar é, aqui, uma forma de pensar. De estar presente.
Também, é possível almoçar ou jantar no restaurante “Sal na Adega” que combina a tradição culinária com a sofisticação dos vinhos atlânticos, criando uma experiência única para os amantes da boa mesa.

O restaurante destaca-se pela sua localização privilegiada, com uma vista deslumbrante sobre as vinhas que definem a paisagem da região. No menu, o bacalhau, ícone da cozinha portuguesa, assume um papel de destaque, acompanhado por outros produtos sazonais e locais, que refletem a riqueza da terra e do mar. A harmonização com os vinhos da AdegaMãe, conhecidos pela sua frescura e mineralidade, eleva cada prato a um novo patamar de sabor.
Além da experiência gastronómica, o “Sal na Adega” oferece um ambiente requintado e acolhedor, ideal para momentos especiais. O espaço inclui ainda um wine bar, onde os visitantes podem explorar os vinhos produzidos numa adega que não é um destino. É um intervalo no tempo onde o vinho serve de ponte entre o que somos e o que poderíamos ser. Onde o tempo desacelera, e onde o vinho — tal como a Mãe — nutre, guarda e devolve ao mundo algo mais inteiro.

O autor deste texto escreve segundo o novo acordo ortográfico

Caderno de visita

COMODIDADES

– Línguas faladas: português, inglês e espanhol

– Loja de vinhos: Sim

– Restaurante com lugar para 56 pessoas

– Bar com 16 lugares

– Sala de eventos para 120 pessoas

– Duas salas de reuniões

– Diferentes atividades e refeições (sob consulta)

– Parque para automóveis ligeiros: 50 Lugares

– Parque para autocarros

– Posto de carregamento de carros elétricos: Não tem

– Provas comentadas (ver programas)

Wifi gratuito disponível

– Visita às vinhas

– Visita à Adega

 

EVENTOS

Eventos corporativos (sob consulta)

Atividades team building: ações como provas de vinho e atividades como Winemaker for a day, a 80 €.

 

 PROGRAMAS

Horários das visitas (sujeitos a confirmação de disponibilidade): 10h30, 12h00, 14h30, 16h00 e 18h30 (Esta é apenas realizada em dias de jantar).

 Visita sem prova – 10€/pessoa

Duração: 30 a 40 minutos

 Provas

Duração: 30 minutos

 AdegaMãe Bronze – 18€/pessoa

Três vinhos: Dory Branco, Dory Tinto, AdegaMãe Reserva Tinto

AdegaMãe Silver – 25€/pessoa

Seis vinhos: Dory Branco, Dory Tinto, um Monocasta Branco, um Monocasta Tinto, AdegaMãe Reserva Branco, AdegaMãe Reserva Tinto

AdegaMãe Gold – 45€/pessoa

12 vinhos: Dois Dory colheita, um Bio ou Palhete, quatro Monocastas, dois  AdegaMãe Reserva, um Espumante AdegaMãe 221, um Vinho de Parcela

AdegaMãe Special Editions – 65€/pessoa

Seis vinhos: Um Espumante Rosé, três Vinhos de Parcela, dois AdegaMãe Terroir

 

PROVAS GASTRONÓMICAS

(Visita guiada incluída/Mínimo duas pessoas)

 Harmonização petiscos – 60€/pessoa

Seis vinhos e quatro petiscos. Duração: 90 minutos.

 Harmonização Sal na Adega – 85€/pessoa

Seis vinhos e quatro momentos.

 Brunch – 50€/pessoa

Várias iguarias e quatro vinhos. Duração: 90 minutos.

 

CONTACTOS

AdegaMãe

Estrada Municipal 554, Fernandinho

2565-841 Ventosa

Site: www.adegamae.pt

Email: geral@adegamae.pt

Tel.: +351 261 950 100

Restaurante e Enoturismo

Email: enoturismo@adegamae.pt

Tel.: +351 261 950 105

(Artigo publicado na edição de Maio de 2025)

 

Enoturismo: Madeira – Uma oferta com qualidade e diversidade

Concluímos aqui o relato do nosso périplo pelo enoturismo da Madeira, começado na edição de Fevereiro. Se pudéssemos resumir a impressão geral que esta visita de quatro dias nos deixou em três palavras chave, não tenho dúvidas que “surpresa” seria a primeira que me viria à mente, tão inesperado foi o impacto causado pela realidade […]

Concluímos aqui o relato do nosso périplo pelo enoturismo da Madeira, começado na edição de Fevereiro. Se pudéssemos resumir a impressão geral que esta visita de quatro dias nos deixou em três palavras chave, não tenho dúvidas que “surpresa” seria a primeira que me viria à mente, tão inesperado foi o impacto causado pela realidade que observei na ilha, logo seguida pela “diversidade” e “qualidade”. O breve registo, necessariamente telegráfico, das visitas aos restantes cinco empreendimentos visitados, ajuda a perceber esta avaliação.

 Socalco Nature Calheta

Visto de cima, do miradouro do Museu de Arte Contemporânea no Estreito da Calheta, a paisagem é deslumbrante. Em baixo a praia artificial, feita a partir de areias trazidas de longe, surpreende pelo inusitado. Um pouco mais acima, avistam-se socalcos primorosamente compostos, em que as vinhas alinhadas e as casas de traço moderno se abraçam num cenário que deixa antever existir ali algo de muito especial.

Não nos enganámos. E quando demos de frente com o portão do Socalco Nature após uma agradável descida a pé pela encosta, percebemos que nada ali foi deixado ao acaso. Estamos em presença de um Agroturismo inaugurado em plena pandemia, no final de 2020. São apenas 10 quartos mais 10 casinhas, suites premium com kitchenette encaixadas nos socalcos, entre fileiras de vinhas postas como se de um jardim se tratasse, mais um restaurante e uma piscina, com o mar azul brilhante em pano de fundo.

É um projecto de Octávio Freitas, chefe de cozinha com uma estrela Michelin no celebrado Desarma, no Funchal, que aqui ergueu um refúgio onde a sofisticação consegue parecer simples e casual. Dirigida pela sua irmã, Nélia Freitas, o empreendimento aproveitou umas velhas ruínas do século XVI, já inseridas nos socalcos, que a mão competente de um arquitecto transformou numa unidade exemplar. O restaurante Razão tem vida própria e está aberto a não hóspedes, funcionando também para eventos e outras actividades, como ateliers de cozinhas e masterclasses. Com uma cozinha aprimorada, com práticas sustentáveis e adepto da política “zero desperdício” e ingredientes “Km 0”, ganhou, em 2023, o Prémio Nacional de Turismo na categoria de Turismo Gastronómico. Como nos disse Nélia, o conceito é o de um restaurante com quartos. Foi no Razão que tivemos a oportunidade de provar os vinhos da casa, que são o visível orgulho do chef Octávio Freitas, para além de um inspirado almoço preparado pelo chef residente, André Gonçalves. Feitos a partir das uvas das vinhas alinhadas à nossa volta, regadas por uma levada, e de outra vinha, provámos diversas variações em torno das castas Verdelho, Boal, Malvasia Fina e Terrantez.

Foi em 2021 que apareceu o primeiro vinho, Galatrixa, a que se seguiu uma segunda marca em 2022, Cagarra, e mais recentemente, a Massaroco, em 2023, todos vinificados na Adega de São Vicente. O portefólio de Octávio Freitas contempla ainda um rosé e um clarete, feitos a partir de tinta Negra e Merlot. São belos vinhos, com uma personalidade muito própria, plenos de frescura marítima, salinidade e com excelente aptidão gastronómica.

Socalco Nature Calheta

Morada: Caminho do Lombo do Salão, 13, Calheta

Email: info@socalconature.com

Tel.: + 351 291 146 910/925 975 844

Aberto todo o ano. Preço/noite a partir de 125€

 

Quinta do Barbusano

Não é fácil chegar à Quinta do Barbusano, situada no município de São Vicente, na encosta norte da Madeira, estando a propriedade entalada entre montes e vales, como dizia o poeta, e sendo servida por uma estrada sinuosa. Mas para o enófilo ou gastrónomo é um percurso que vale a pena fazer e um pretexto para ter uma experiência gratificante e usufruir de prazeres simples que nos reconciliam com o melhor da vida. O nome Barbusano vem de uma espécie vegetal endémica inserida na Floresta Laurissilva, Património Mundial Natural, reconhecida pela UNESCO. António Oliveira, o proprietário, é hoje, e de longe, o maior possuidor de área de vinha, tendo 25 hectares na ilha da Madeira, 12 dos quais na quinta que visitamos, mais umas parcelas em Ponta Delgada, em São Vicente, na Ribeira da Janela, em Porto Moniz e ainda no conselho de Santana. Não satisfeito, ainda adquiriu três hectares na Ilha de Porto Santo, onde  a casta branca Caracol tem a sua maior expressão. Na Barbusano, as vinhas estão espalhadas pela encosta em socalcos, conduzidas em latada, como é tradicional.

Tudo começou em 2006, com a plantação da primeira vinha, mas António já tinha bastante experiência acumulada em lidar com viticultores, vinhas e uvas mercê da sua actividade anterior, de venda de produtos fitofármacos. Foi aí que nasceu o bichinho que hoje ocupa grande parte do seu tempo e o faz verdadeiramente feliz: produzir os seus próprios vinhos onde, com a ajuda e orientação do enólogo Paulo Laureano, consegue já ter uma mão cheia de referências no mercado.

As castas que trabalha dividem-se entre o Verdelho, que é base dos seus belos brancos, e a Tinta Negra, com que faz um rosé muito interessante. Mas também tem uns poucos hectares de uva Arnsburger, de origem alemã, que usa para temperar os seus lotes. Os seus vinhos tintos são feitos sobretudo a partir da Touriga Nacional e Aragonez. No total, António Oliveira produz hoje mais de 100 mil garrafas por ano de vinho não fortificado, o que é absolutamente notável e inédito na ilha.

O que o visitante pode encontrar na Quinta do Barbusano é a paz e tranquilidade de um passeio pelos socalcos das vinhas, a prova de vinhos que revelam um forte carácter e grande singularidade, para além de uma refeição servida no restaurante com capacidade para 100 comensais. Mas desengane-se quem esperar uma ementa sofisticada. Ali a especialidade que todos querem provar é a espetada madeirense em pau de louro, salpicada com sal grosso e grelhada sobre as brasas que o próprio António maneja como ninguém. O acompanhamento são batatas e salada. O tradicional bolo do caco, barrado a manteiga e alho, previamente servido, já nos tinham acalmado o estômago. Nada mais simples, nada tão autêntico e gratificante.

Quinta do Barbusano

Morada: Caminho Agrícola, 26, São Vicente

Email: geral@barbusano.pt

Tel.: + 351 926 637 730

Visita guiada às vinhas e prova de seis referências: 20€. Visita, prova e almoço: 65€

 

Terrabona Nature & Vineyards

Paz, tranquilidade, silêncio e natureza e respeito absoluto pela sua privacidade, são a garantia que os hóspedes alojados no Terrabona têm como adquirido. O projecto, fundado pelo casal Marco Noronha e Maria João Velosa em 2014, em Boaventura, no concelho de São Vicente, é singular e exclusivo, dirigindo-se a um perfil de clientes particularmente exigentes na sofisticação dos serviços prestados e com alto poder de compra. Não espanta, por isso, que sejam visitantes estrangeiros os quase exclusivos clientes do empreendimento.

O trabalho no sector da banca, no Funchal, permitiu ao casal ter um conhecimento privilegiado de terrenos e propriedades rurais disponíveis nos cantos mais escondidos da ilha. Assim, em 2014 surgiu a oportunidade de adquirir uma propriedade inserida em plena Floresta Laurissilva, na pequena localidade de Boaventura. Inicialmente a ideia era fazer um agroturismo de luxo com sete casas encaixadas nos socalcos. Hoje estão construídas apenas quatro vilas, para além da recepção, mas a produção de vinho próprio passou também a constituir uma prioridade do projecto. As vinhas espalham-se pelos socalcos, rodeando as habitações, cuidadas como um jardim. As variedades passam pela já falada casta branca alemã Arnsburger, obtida do cruzamento de clones de Riesling, trabalho feito nos anos 30 pelas autoridades locais quando se estudava o potencial de castas para a produção do vinho fortificado.

Estava abandonada há mais de 20 anos. Mas foi de Marco e Maria João a ideia peregrina de plantar Loureiro, caso único em toda a ilha, como forma de homenagem à Laurissilva. Em 2016 fazem a primeira experiência de vinificação na adega comunitária de São Vicente. Agradavelmente surpreendidos com o resultado, decidem expandir as vinhas. Introduzem o Terrantez e o Verdelho e começam a produzir em modo biológico, sendo o primeiro produtor com vinhas licenciadas em produção integrada.

Outras experiências incluem o estágio dos vinhos em barrica e em ânforas de terracota, uma originalidade de aromas e sabores que surpreendeu os proprietários e os hóspedes. A boa recepção que os primeiros vinhos tiveram levou a que Marco e Maria João se aventurassem a enviar amostras para concursos como o IWC, e a revistas como a Decanter e Robert Parker, com resultados que superaram as suas expectativas. A integração da cultura do vinho num turismo rural de luxo é hoje uma marca do Terrabona Nature & Vineyards.

Terrabona Nature & Vineyards

Morada: Estrada do Cardo 117, Boaventura

Email: comercial@terrabonawine.com

Tel.: + 315 925 864 904

Alojamento numa das quatro suites a partir de 370€

 

Vinhos Barbeito

Não é hoje possível falar do vinho da Madeira e ignorar o trabalho desenvolvido nos últimos anos nos Vinhos Barbeito, tal como falar em Barbeito sem referir o nome de Ricardo Diogo. Criatividade e inovação são a marca que o neto do fundador, Mário Barbeito, imprimiu aos vinhos produzidos com a sua chancela, desde que tomou conta da enologia da casa em 1991. Com quase 80 anos de actividade, a empresa localizada em Câmara de Lobos conta hoje com cerca de 70 viticultores a quem compra uvas.

O que permite fazer, não só os prestigiados vinhos fortificados, como, desde 2017, vinhos tranquilos. Para a produção dos vinhos da Madeira, as castas nobres tradicionais como o Sercial, Verdelho, Boal e Malvasia constituem a base dos seus Colheitas, a que se juntam a Tinta Negra, aqui submetida ao envelhecimento em canteiro, que dá origem ao Single Harvest, para além do Bastardo. Nos últimos tempos a casa tem lançado novos vinhos, que vão dos Colheitas antigos aos Frasqueiras (com estágio em cascos com um mínimo de 20 anos) e vários monovarietais. Só os vinhos entrada de gama, feitos a partir de Tinta Negra, são submetidos à técnica de estufagem, em que os vinhos são aquecidos em grandes tanques por um período de três meses a temperaturas entre 47 e 50 graus centígrados. Este método de envelhecimento forçado, que permite lançar, no mercado, vinhos a preços muito mais acessíveis que os envelhecidos lentamente pelo método clássico, é comum a todos os produtores de Madeira.

Mas o que lançou verdadeiramente o nome de Barbeito para a atenção dos mercados, das revistas da especialidade e dos consumidores mais exigentes foram os seus notáveis vinhos velhos, de lote, com 40 e 50 anos, vinhos especiais, alguns deles estagiados em garrafões de vidro, lançados em quantidades reduzidas e com preços naturalmente elevados, que aguçam o apetite daqueles para quem o vinho da Madeira é algo de único e inigualável. Todas as vicissitudes deste processo de produção são convenientemente explicadas ao visitante que percorre as recentes instalações da Adega Barbeito, numa visita guiada disponível em várias línguas.

No dia em que estivemos no Barbeito tivemos oportunidade de presenciar alguns passos de uma numerosa excursão de visitantes da Bulgária, onde, num inglês fluente, o guia conseguiu passar a sua mensagem com um entusiasmo contagiante. que se traduziu depois em bastantes compras na loja da Adega. O visitante tem, assim ao seu dispor, visitas guiadas agendadas a diferentes horários conforme as línguas, que terminam na sala de provas com a possibilidade de experimentar vários vinhos. Um prova Gold com um vinho branco tranquilo e três vinhos Madeira tem o preço de 15€, enquanto uma prova Platinum, composta por um branco e seis vinhos Madeira de diferentes idades, custa 28€.

Vinhos Barbeito

Morada: Estrada da Ribeira Garcia, Parque Empresarial da Câmara de Lobos, Lote 8, Câmara de Lobos

Email: info@vinhosbarbeito.com.pt

Tel.: + 351 291 761 829

Visita e provas de vinhos desde 15€ por pessoa. Encerra ao Sábado e Domingo

 

Blandy’s Wine Lodge

A Blandy’s é uma das marcas mais conhecidas entre os vinhos Madeira e integra hoje o universo da Madeira Wine Company, o maior produtor de vinho Madeira. O seu centro de visitas está localizado na baixa do Funchal e é um autêntico museu vivo da história deste fortificado. Os vetustos edifícios que compõem o Lodge são datados dos séculos XVII e XVIII e foram adquiridos pela família Blandy, de origem inglesa, em meados do século XIX.

Em instalações modelares, repletas de história, memórias e objectos que vão desde instrumentos de trabalho, testemunhos de todas as fases do processo produtivo, até documentos raros, onde se pode descobrir, por exemplo, cartas de Winston Churchill, o visitante tem oportunidade de mergulhar a fundo no conhecimento sobre o vinho da Madeira, suas características e diferentes variedades, por entre pipas e cascos que albergam mais de 700.000 litros de vinho. Não pense, contudo, que é apenas esta a quantidade de vinho da Madeira armazenado ou a envelhecer pela Blandy’s. Um novo armazém, construído na zona do Caniçal, perto do aeroporto dispões de quase cinco milhões de litros e permitiu tirar, do centro da cidade, o tráfego pesado e a actividade laboral, libertando as velhas instalações para o seu destino nobre: serem a verdadeira sala de visitas do vinho da Madeira.

Amparados por uma visita guiada, orientada por pessoal muito competente e conhecedor, o visitante facilmente se deslumbra perante a nobreza do que lhe é revelado. No final, na bonita e espaçosa sala de provas, decorada por centenas de estantes com garrafas de todos os anos, o conhecimento sobre os vinhos da Madeira, e também sobre os vinhos tranquilos de que a Blandy’s foi pioneira, é aprofundado com uma prova didática e esclarecedora. Com preços a partir de 10,50€, variando conforme a quantidade e qualidade dos vinhos servidos, todo um universo de aromas inebriantes se desenrola diante dos nossos sentidos. História e cultura viva em movimento!

Blandy’s Wine Lodge

Morada: Avenida Arriaga, 28,Funchal

Email: seclodges@madeirawinecompany.com

Tel.: + 351 291 228 978

Visitas de Segunda a Sábado, disponíveis em cinco línguas

 

Comer na Madeira

Durante a nossa visita de quatro dias, a convite do Turismo da Madeira, tivemos oportunidade de comer em vários restaurantes, o que permitiu perceber que a ilha tem hoje uma farta oferta, com opções de qualidade de vários estilos e tipos de cozinha e para diferentes orçamentos.

Eis aqueles que achámos mais significativos:

Adega do Pomar

Rua Maria Ascensão, Camacha. Tel.: +351 938 799 379

Restaurante de cozinha tradicional, com decoração rústica, onde se pode provar pratos típicos como Sopa de Trigo à Antiga, Açorda Madeirense, Sopa de Tomate e Ovo, Espetada Madeirense, Atum, etc. O restaurante está ligado à produção da Sidra Quinta da Moscadinha, cujas diversas variedades também se posem provar e comprar no local.

Akua by chef Júlio Pereira

Rua das Murças, 6, Funchal; Tel.: + 351 938 034 758

Situado na baixa funchalense, é um restaurante de cozinha de autor em que a oferta predominante se baseia nos peixes e mariscos. Ambiente cosmopolita, desde as entradas aos pratos principais, o sabor e apresentação são cuidados ao pormenor.

Kampo

Rua da Alfândega, 74, Funchal; Tel.: +351 924 438 080

Também na baixa da cidade e do mesmo proprietário e chefe do anterior, este espaço de linhas modernas e atraentes, onde se privilegia o conforto à mesa e a apresentação tentadora das iguarias, é dedicado sobretudo ao universo das carnes e outros sabores campestres.

Audax

Rua Imperatriz Dona Amélia 104, Funchal. Tel.: +351 291 147 850

Define-se a si próprio como “progressive madeiran cuisine” e isso ajuda a perceber que estamos em presença de um restaurante de fine dinning, com interpretações modernas e por vezes ousadas de sabores tradicionais. Tem uma boa carta de vinhos, com possibilidade de provar a copo velhas raridades de vinhos da Madeira, com um serviço apropriado.

Barbusano

Quinta do Barbusano, Caminho Agrícola, 26, São Vicente. Tel.: +351 926 637 730

Aqui não há que enganar. A entrada é bolo do caco e o prato é espetada madeirense grelhada em pau de louro, acompanhada por batatas. Acrescente-se que a carne vem dos Açores, é de excelente qualidade e é grelhada nas brasas pelo proprietário. O espaço é amplo, ruidoso e informal, num ambiente campestre com as vinhas e a montanha em frente a compor o cenário.

 

(Artigo publicado na edição de Abril de 2025)

 

 

 

 

Enoturismo: Casa Ermelinda Freitas

Casa Ermelinda Freitas

Na costa ocidental da Península Ibérica, envolta pela serenidade do Atlântico e pelos braços tranquilos do Rio Sado e do Tejo, encontra-se a fascinante Região Vitivinícola de Setúbal. Este local, onde a natureza se encontra em estado bruto com a engenharia humana das vinhas, conta uma história que transcende gerações e possui uma profundidade filosófica […]

Na costa ocidental da Península Ibérica, envolta pela serenidade do Atlântico e pelos braços tranquilos do Rio Sado e do Tejo, encontra-se a fascinante Região Vitivinícola de Setúbal. Este local, onde a natureza se encontra em estado bruto com a engenharia humana das vinhas, conta uma história que transcende gerações e possui uma profundidade filosófica inigualável.

Dominando a paisagem, a Serra da Arrábida ergue-se imponente com seus relevos calcários, formando um microclima que protege as vinhas dos ventos atlânticos. As encostas ensolaradas da serra oferecem drenagem natural, enquanto os solos pedregosos, ricos em calcário, conferem “mineralidade” às uvas. Essa é a morada de vinhos com estrutura e frescor, marcados pela influência direta do mar.

Ao sul e a leste, as planícies arenosas da Península de Setúbal estendem-se como um manto dourado. Esses solos pobres em nutrientes, mas com excelente capacidade de retenção térmica, favorecem a casta Moscatel, que encontra nesse terroir o segredo de sua doçura e intensidade aromática. Nas áreas mais baixas, solos argilosos e aluviais, enriquecidos pelos rios Sado e Tejo, sustentam vinhas robustas, com produção equilibrada.

A Região Vitivinícola de Setúbal, com sua paisagem única e clima privilegiado, é um verdadeiro santuário para os amantes do vinho, mas também para os que procuram compreender a relação intrínseca entre a terra e o produto que dela surge. O terroir da Península de Setúbal, influenciado pelas brisas frescas do oceano Atlântico e pelas condições climáticas amenas da região, é um espelho da complexidade do seu caráter. Aqui, a terra não é apenas um suporte para as vinhas, é um elemento ativo, capaz de se comunicar com a tradição e a inovação através da viticultura.

Persistência e paixão

Na sua essência, a paisagem de Setúbal é uma ode à persistência e à paixão. As videiras, com raízes que se estendem profundamente na terra rica e fértil, representam a ligação visceral entre o homem e a natureza. Aqui, o ato de vinificação é elevado a uma forma de arte, em que cada cacho de uvas é tratado com um respeito quase reverencial. O trabalho exaustivo dos viticultores, muitas vezes ao ritmo das estações, encapsula uma filosofia de vida onde o tempo é medido não por segundos, mas por colheitas.

A produção de vinhos na região é também um diálogo constante entre a tradição e a inovação. As vinhas antigas, que carregam o peso de séculos de saber acumulado, coexistem harmoniosamente com novas práticas e técnicas que aperfeiçoam e realçam a qualidade dos vinhos. Este equilíbrio delicado reflete a busca humana pelo progresso, enquanto se mantém firme nas suas raízes culturais e históricas.

A região é muito conhecida pelo famoso Moscatel de Setúbal, vinho generoso e doce que é uma prova tangível desta união. Cada gole deste néctar traz consigo, não só os sabores complexos das uvas, mas também as histórias dos que, ao longo de gerações, dedicaram suas vidas à perfeição desta arte. A sua complexidade e profundidade convidam-nos a refletir sobre a própria natureza da criação humana e sobre a forma de extrair a beleza e a harmonia dos elementos mais simples e fundamentais da vida.

O viticultor não apenas extrai da terra, mas também se torna parte de um ciclo contínuo, onde o respeito pela natureza e a preservação da tradição tornam-se princípios fundamentais. Ao mesmo tempo, as inovações nas técnicas de vinificação, a adaptação às mudanças climáticas e a introdução de novas variedades de uvas são desafios constantes que os produtores locais enfrentam, com um diálogo com o tempo que é construído sem perder a alma do que se cultivou nas colinas e encostas ao longo de tantos anos.

Mas a magia da Região Vitivinícola de Setúbal não se limita aos seus vinhos. A região é um microcosmo da diversidade biológica e da beleza natural. A planície, as colinas ondulantes, os vales verdejantes e a proximidade com o mar criam um ecossistema único que se reflete na singularidade dos seus vinhos. Cada elemento da paisagem contribui para a sinfonia de aromas e sabores que os vinhos de Setúbal proporcionam, transformando, cada garrafa, numa expressão pura e autêntica do terroir. É mais do que apenas um local de produção de vinhos. É um espaço de contemplação e conexão. Convida-nos a desacelerar, a apreciar o ritmo natural da vida e a encontrar significado nas tradições e nas práticas que definem a nossa humanidade.

Neste canto especial de Portugal, a vinha e o vinho não são apenas uma indústria, mas uma manifestação filosófica do tempo, do trabalho e da beleza inerente à interação entre o homem e a terra. Desta forma, ao degustarmos um vinho da Região Vitivinícola de Setúbal, participamos numa jornada que transcende a mera experiência sensorial. Tocamos na própria essência do que significa ser Humano: criar, preservar e encontrar significado nas pequenas maravilhas do mundo ao nosso redor.

Sabores sentidos

Entre o azul profundo do Atlântico e as colinas da Arrábida, a Península de Setúbal guarda segredos que se revelam à mesa. Aqui, a gastronomia é mais do que alimento: é memória, é identidade, é poesia em forma de sabor.

O mar conta a sua história em tons prateados: chocos, robalos, e o célebre salmonete, de carne delicada e sabor inconfundível. Mas é o choco frito que conquista corações — simples, dourado, e envolto num aroma que mistura tradição e mar bravio. A cada dentada, sente-se o sal das ondas e o calor das cozinhas que atravessam gerações.

Ao longe, as vinhas que se vislumbram por toda a região estendem-se como um tapete verde banhado pelo sol generoso. Nos campos soalheiros de Palmela e Azeitão, as vinhas tecem lendas. O Moscatel de Setúbal, com sua doçura envolvente e notas de mel e laranja, é um poema à paciência do tempo. Ao lado, os tintos robustos, com aromas de frutos vermelhos e um toque de especiarias, contam histórias de solos generosos e mãos dedicadas. Já os vinhos brancos, frescos e vibrantes, surpreendem com notas cítricas, florais e um leve toque mineral, ecoando a brisa do Atlântico e a pureza das manhãs luminosas da serra.

Nesta região não se vive apenas de pratos e vinhos, vive-se também de encontros. Nas tascas escondidas ou nos restaurantes à beira-mar, o convívio é o verdadeiro ingrediente secreto. É ali, entre risos e partilhas, que o sabor se torna experiência e a comida filosofia, uma celebração do presente com o respeito pelo passado.

E há a serra, cúmplice e silenciosa, que oferece queijos aveludados, mel dourado e ervas aromáticas que perfumam ensopados e caldeiradas. Sabores rústicos, simples, e, por isso mesmo, profundamente humanos.

A harmonia entre a comida e o vinho é filosofia vivida – um convite à contemplação. O queijo de Azeitão, cremoso e intenso, encontra no Moscatel um par perfeito, numa dança de contrastes que se completam. E, sob o céu dourado do entardecer, cada brinde é uma prece ao prazer de existir.

A gastronomia da Península de Setúbal é, assim, um convite à contemplação. Não se resume ao que se come, mas ao que se sente. É prova de que o verdadeiro prazer mora na fusão do paladar com a alma. Pois, como disse o poeta, “comer é uma necessidade, mas saborear… ah, saborear é uma arte!”, cada prato é uma história e cada gole uma promessa. O que se prova à mesa permanece para sempre no coração.

Como sou um eterno apaixonado, a visita à Península de Setúbal enquadra-se na perfeição no périplo que tenho vindo a fazer para encontrar a minha felicidade vínica e gastronómica e partilhar com os nossos leitores… A minha decisão foi obvia e rápida, pois sempre desejei conhecer a Casa Ermelinda de Freitas e a sua história.

À frente do seu tempo

A Casa Ermelinda Freitas fica na aldeia de Fernando Pó, concelho de Palmela, a 25 quilómetros a leste de Setúbal, e é bem visível à distância, pela presença imponente da nova adega, que se ergue no mar de vinhas da planície em seu redor.

É uma adega familiar com uma história que remonta a 1920. Fundada por Leonilde Freitas, continuada pela sua neta, Germana Freitas, e mais tarde pela sua bisneta, Ermelinda Freitas, a quem a Casa Ermelinda Freitas deve o seu nome. Com a morte prematura do seu marido, Manuel João Freitas, Ermelinda Freitas continuou a gerir a empresa com a sua filha, Leonor Freitas, que assumiu o seu comando e consolidou a liderança da casa no feminino, característica da marca. Destacando-se pela dedicação à produção de vinhos de qualidade, a Casa Ermelinda Freitas tornou-se uma referência na região de Palmela, com inúmeras distinções nacionais e internacionais. Sob a liderança de Leonor Freitas, desde 1997, a adega manteve a tradição familiar, investindo em inovação e expandindo a sua presença em mercados globais, sempre com o compromisso de preservar o legado iniciado por Leonilde Freitas. A empresa, que tem sido gerida por mulheres ao longo de quatro gerações, tem o futuro assegurado pela 5ª geração, Joana Freitas.

Sob a direção de Leonor Freitas, a Casa Ermelinda Freitas passou por uma transformação significativa, modernizando as técnicas de viticultura e enologia e expandindo a área de vinha para os atuais 550 hectares. A adega é reconhecida pela produção de vinhos de alta qualidade, tendo recebido inúmeros prémios nacionais e internacionais.

A filosofia da Casa Ermelinda Freitas assenta na combinação da tradição com a inovação. A empresa valoriza as castas autóctones da região, como a Castelão e a Fernão Pires, enquanto incorpora práticas sustentáveis e tecnologia avançada na produção de vinhos. Este equilíbrio entre o respeito pelo legado e a adaptação às exigências contemporâneas reflete uma abordagem consciente e responsável perante a cultura vitivinícola.

A dedicação à qualidade e à autenticidade dos seus vinhos é evidente na diversidade do portefólio da Casa Ermelinda Freitas, que abrange desde vinhos tintos encorpados a brancos frescos e aromáticos, passando por rosés elegantes e espumantes distintos. Esta variedade permite, aos apreciadores de vinho, uma experiência rica e multifacetada, evidenciando o potencial e a versatilidade da região de Palmela.

Hoje, a Casa Ermelinda Freitas é um vasto poema esculpido na terra, com 550 hectares de vinhas que contam histórias em cada casta. Ali, 60% da “alma” brota do Castelão, enquanto 20% dança nas nuances de tintas como Touriga Nacional, Trincadeira, Syrah, Aragonês, Alicante Bouschet, Touriga Franca, Merlot, Petit Verdot, Pinot Noir, Petite Sirah e Carmenère, castas que tingem o tempo com profundidade e mistério.

Nos outros 20%, brilha o reflexo da luz em uvas brancas: Fernão Pires, Chardonnay, Arinto, Verdelho, Sauvignon Blanc, Moscatel de Setúbal, Viosinho, Encruzado, Alvarinho, Pinot Grigio, Viognier, Vermentino e Gewürztraminer. Trinta castas, trinta vozes que entoam, em coro, a essência viva da Casa Ermelinda Freitas, onde a tradição se entrelaça com o sopro eterno da terra, superiormente orquestradas pelo enólogo Jaime Quendera.

A Casa Ermelinda Freitas exemplifica como uma empresa familiar pode prosperar através da harmonização entre tradição e inovação, mantendo um compromisso inabalável com a qualidade e a sustentabilidade. A sua trajetória ilustra a importância de uma liderança visionária e da valorização das raízes culturais na construção de uma marca reconhecida e respeitada no panorama vinícola global.

A Senhora…

Leonor Freitas, proprietária da prestigiada Casa Ermelinda Freitas, é mais do que apenas uma empresária de sucesso. É uma visionária cuja paixão transcende o mundo do vinho que a rodeia, cuja honestidade intelectual e humanidade se refletem em cada garrafa de vinho produzida pela sua adega. Com uma dedicação inabalável à sua terra e às suas gentes, Leonor personifica o espírito da Península de Setúbal, uma região rica em tradição e cultura.

Desde muito jovem, Leonor demonstrou um profundo respeito pelo legado da sua família, com raízes vitivinícolas que remontam a várias gerações. Ao assumir as rédeas da adega, não apenas continuou o trabalho iniciado pelos seus antecessores, mas também trouxe uma nova perspetiva e inovação ao setor. A sua visão era clara: elevar a qualidade dos vinhos portugueses e colocá-los num patamar de reconhecimento global, alicerçada nos seus próprios néctares.

O compromisso de Leonor com o rigor profissional é evidente nas suas práticas de negócio e na forma como gere a sua equipa. Ela acredita que um vinho de excelência nasce do respeito pela terra e pelas pessoas que nela trabalham. Esta filosofia tem sido um pilar fundamental na sua trajetória, garantindo que cada vinho produzido na Casa Ermelinda Freitas reflete a autenticidade e a pureza do terroir. Mas o que realmente distingue Leonor Freitas é o seu caráter humanista. Num mundo cada vez mais dominado pela tecnologia e pela produção em massa, Leonor mantém-se firme nos seus princípios de sustentabilidade e responsabilidade social, investindo na comunidade local, promovendo iniciativas que vão desde a educação até ao apoio a pequenos agricultores, assegurando que todos beneficiem do sucesso da adega.

A paixão de Leonor pela sua terra é palpável. Ela acredita que o vinho não é apenas uma bebida, mas uma expressão da cultura e da história do “seu” povo. Cada garrafa de vinho da Casa Ermelinda Freitas conta uma história – uma história de dedicação, amor e respeito pela natureza. Leonor Freitas é, sem dúvida, uma guardiã do legado vitivinícola português, mas mais do que isso, é uma inspiração para todos os que acreditam que o sucesso deve ser construído com integridade, visão e uma profunda ligação às suas raízes. A sua forma de ser, o seu inconformismo, a sua tenacidade e resiliência só tem reflexo grandioso nos atos de desbravar e defender as suas convicções ao estilo da “Maria da Fonte”. Guerreira e Mulher de família preocupa-se com o desenvolvimento da Terra que a viu nascer criando bases para que a Casa Ermelinda Freitas cumprisse o dever de construir um futuro melhor para as suas “gentes”.

Leonor Freitas, é uma verdadeira embaixadora dos valores humanos e culturais que definem o espírito português. Com cada passo que dá, molda um futuro onde a tradição e a inovação caminham lado a lado, sempre com o coração na sua terra e nas suas gentes. As minhas palavras sentidas em formato de homenagem, com um copo de vinho erguido brindando a uma das Mulheres cuja história e forma de ser e estar mais me impressionou. E se o caro leitor tiver a sorte de a encontrar na sua visita não perca a oportunidade de lhe falar.

O enoturismo… memórias e afetos

É neste quadro de cultura vínica e de história de uma família que nasce o Enoturismo da Casa Ermelinda Freitas. A visita começa na vinha pedagógica, onde a história passada se entrelaça com o presente. Ali, somos confrontados, de forma agradável, com as memórias da casa e da família com realce para as cinco gerações de mulheres que sustentam uma tradição centenária, e cultivaram não apenas uvas, mas uma paixão atemporal pelo vinho. A região vitivinícola revela-se pela voz profissional de quem nos recebe, criando imagens imaginárias das vinhas, com as suas castas autênticas, cada uma delas guardiã de um terroir único. É nesse solo fértil que a Casa Ermelinda Freitas construiu a sua herança, espalhando-se por hectares de pura dedicação à arte do vinho.

Seguimos então para o centro de vinificação, espaço onde a tradição se funde com a inovação. A primeira paragem é na Sala de Ouro, onde os prémios conquistados ao longo dos anos reluzem como testemunhos de excelência. Passamos pelo espaço de vinificação, um templo de transformação onde o néctar das uvas se transforma em poesia líquida, através de um processo meticuloso e cheio de sabedoria ancestral. A caminhada segue até o engarrafamento, momento de selar o trabalho árduo, e passamos pela Cave Secundária, onde o silêncio das barricas parece ecoar os segredos do vinho.

A visita aprofunda-se ainda mais no Espaço de Memórias e Afetos, onde cada imagem, cada texto, nos imerge num mundo de jardins proibidos que a família, graciosa e simpaticamente partilha com quem tem o privilégio de visitar a Ermelinda Freitas. Em cada rótulo, cada vinho, carrega consigo uma história única. Chegados à cave principal confirmamos a grandiosidade deste produtor. Aí dormem os vinhos que perpetuam o sabor, e as barricas que guardam o envelhecimento dos melhores néctares. O processo, com suas quantidades e precisões, é explicado com paixão e orgulho de pertença. A visita termina com uma vontade enorme de impregnar o nosso corpo e a nossa alma com uma prova comentada de vinhos, onde cada gole é uma viagem sensorial, uma imersão nas memórias, nos afetos e nas raízes que tornam aquele vinho um verdadeiro legado.

Visitar a Casa Ermelinda Freitas é mergulhar num oceano de aromas e sabores, onde cada taça conta a história de vinhas banhadas pelo sol, abraçadas pelo tempo. É sentir o calor da tradição em cada canto, ouvir o sussurro das videiras ao vento e brindar à vida com o néctar que dança entre o passado e o presente. É um passeio pela alma de quem transforma uvas em poesia, e momentos em memórias imortais. É caminhar por entre barris que guardam segredos líquidos, enquanto cada gole revela uma ode à terra, ao amor e à arte de bem viver. Portugal no seu melhor.

Caderno de visita

COMODIDADES

– Línguas faladas: inglês, francês, espanhol

– Loja de vinhos

– Varanda para 20 pessoas

– Sala de eventos para 350 pessoas

– Sala de Reuniões

– Diferentes atividades e refeições (sob consulta)

– Sopa “caramela” (sob consulta)

– Parque para automóveis ligeiros e para três autocarros

– Posto de carregamento de carros elétricos

– Provas comentadas (ver programas);

– Wifi gratuito disponível

– Visita às vinhas

– Visita à adega

EVENTOS

Eventos corporativos (sob consulta)

Atividades de team building (sob consulta)

PROGRAMAS

Visita com prova standard

Prova de cinco vinhos acompanhada por apontamento de produtos regionais.

Duração: 1h30

Preço: 10€ por pessoa

Visita com prova de três regiões

Prova de quatro vinhos das três regiões onde a casa produz, Minho, Douro e Península de Setúbal, e de azeite extra-virgem do Douro, acompanhada por produtos regionais.

Duração: 1h30

Preço: 10 € por pessoa

Visita com prova de monovarietais

Prova comentada de cinco vinhos monovarietais, acompanhada de produtos regionais.

Duração: 1h30

Preço: 15 € por pessoa

Visita com prova premium

Prova de brancos tintos e moscatéis topo de gama da casa acompanhada de produtos regionais e de azeite extra-virgem.

Mínimo de quatro pessoas.

Duração: 1h30

Preço: 25 € por pessoa

CONTACTOS

Casa Ermelinda de Freitas

Rua Manuel João de Freitas, Fernando Pó

2965-595 Águas de Moura

Site: www.ermelindafreitas.pt

Email reservas: enoturismo@ermelindafreitas.pt

Email geral: geral@ermelindafreitas.pt

Tel.:  (+351) 915 290 729 / 265 988 000

Nota: O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

Enoturismo: Madeira – Uma pérola cheia de surpresas

Enoturismo Madeira

A ilha da Madeira oferece, aos seus visitantes, uma experiência única e bastante diversificada no que se refere ao turismo vitinícola. Para além de permitir mergulhar a vista em paisagens de sonho e absorver uma cultura vínica ancestral, o seu principal encanto é precisamente a possibilidade de uma vivência de experiências contrastantes, todas elas ricas […]

A ilha da Madeira oferece, aos seus visitantes, uma experiência única e bastante diversificada no que se refere ao turismo vitinícola. Para além de permitir mergulhar a vista em paisagens de sonho e absorver uma cultura vínica ancestral, o seu principal encanto é precisamente a possibilidade de uma vivência de experiências contrastantes, todas elas ricas de histórias e autenticidade.

Estamos em presença de uma nova forma de conhecer a ilha, desfrutando de espaços que oferecem serviços e funcionalidades que podem ir de uma simples visita com prova de vinhos, a actividades recreativas, passando por experiências eno-gastronómicas e alojamentos em sítios idílicos. Há de tudo, para todos os gostos e (quase) todas as bolsas e não faltam bons exemplos de novas abordagens e descobertas inovadoras. Nesta edição trazemos ao leitor a primeira parte de uma visita memorável.

Boneca de Canudo

Foi no meio de uma disputa familiar sobre o destino a dar a uma pequena  parcela de vinha em Santo da Serra, pitoresco vilarejo dividido entre os concelhos de Santa Cruz e Machico, que Elsa Franco, engenheira civil de formação, impôs a sua vontade de se dedicar à produção de vinhos tranquilos e, depois, de vinhos da Madeira. A expressão zombeteira com que foi, na altura, mimoseada – “Lá vem esta boneca de canudo” – serviu de mote e inspiração ao projecto, que hoje lidera com visível orgulho.

Como acontece quase sempre na Madeira, estamos a falar de pequenas áreas de vinha que totalizam 13 hectares, divididas por Santo da Serra, Machico e Ponta do Sol. Tudo começou em 2006, quando Elsa Franco começa a conversão das vinhas para produzir vinhos secos: Touriga Nacional, Merlot e Syrah são as tintas escolhidas. Nas brancas mantém o tradicional Verdelho, mas arrisca a inovação de introduzir o Chenin Blanc. Em 2013 faz a sua primeira vindima e, no ano seguinte, começa a comercialização dos primeiros vinhos produzidos, apenas 500 garrafas. No processo de produção Elsa teve o apoio da Justino’s, mas está em projecto a edificação de um nova adega em Machico, daqui a três anos. Entretanto uma nova experiência, com uvas da casta Caracol vindas da ilha de Porto Santo, permitiu fazer, em 2022, um vinho branco singular que, parafraseando o poeta, “primeiro estranha-se e depois entranha-se”. O próximo passo é a produção de um vinho Madeira nas versões de meio doce e meio seco que tivemos oportunidade de provar. A intenção de crescer é evidente e a distribuição, que até agora tem estado confinada a alguns restaurantes na Madeira, arrisca agora na exportação e no mercado do continente, de que a sua presença na última edição da feira Grandes Escolhas Vinhos & Sabores foi um exemplo de vontade.

Na Boneca de Canudo, o Enoturismo ainda está a dar os primeiros passos. Disponível para já estão as instalações de Santo da Serra, onde estivemos, em que o visitante pode ter uma experiência com visita às vinhas e ao pomar, uma prova de vinhos acompanhada por pão caseiro, queijos, enchidos e frutos secos, para além de chocolates próprios, azeite e mel.

Boneca de Canudo

Morada: Santo da Serra, Machico

E-mail: geral@bonecadecanudo.com

Tel.: + 351 969 237 520

Prova de Essência – Inclui vinhos, queijos, enchidos regionais, pão e frutos secos: 25€

Enoturismo Madeira

A oferta inclui visita às vinhas e ao pomar e prova de vinhos acompanhada por pão caseiro, queijos, enchidos e frutos secos, para além de chocolates próprios, azeite e mel

Quinta de Santa Luzia

Nos arredores do Funchal, dispondo de uma vista soberba sobre a cidade e a baía, a Quinta de Santa Luzia é uma propriedade agrícola na posse da família Blandy há quase 200 anos (adquirida em 1826). Possui uma pequena área de vinha arrendada, de apenas um hectare, num patamar ligeiramente inclinado de rara beleza. As vinhas são destinadas à produção de vinho da Madeira, pelo que as castas plantadas são as tradicionais: Terrantez, Sercial, Boal e Verdelho, sendo que estas duas últimas são as mais adaptadas ao local. Integrada nesta propriedade está a unidade de Agro Turismo denominada Quinta das Malvas, que possui alojamento com seis quartos com nomes de ervas aromáticas e mais uma villa independente com oito quartos. No dia da nossa visita fomos recebidos e guiados, num curto mas interessente passeio, por Emily Blandy, responsável pelo Enoturismo da Madeira Wine Company, de que a Blandy’s faz parte.

A propriedade, vocacionada para o turismo de qualidade, revela uma natureza acolhedora, onde o verde da paisagem e o azul do Atlântico, a majestade das frondosas arvores centenárias, os pitorescos recantos dos seus jardins e a arquitectura inglesa colonial dos vetustos edifícios compõem uma atmosfera singular de charme, convidativa à contemplação e ao lazer.

O empreendimento disponibiliza um conjunto alargado de serviços, que começa na prova clássica de quatro vinhos Madeira Blandy’s 10 anos, Sercial, Verdelho, Boal e Malvasia, com o custo por pessoa de 37,50€, Estão ainda disponíveis outras provas de vinho Madeira, como verticais de Verdelho e Boal com 5, 10 e 15 anos, para além do Colheita de 2011, ao preço de 60€. Pode ainda o turista usufruir de refeições privadas para pequenos grupos, confecionadas pelo chefe Filipe Janeiro, com seis momentos, harmonizadas com os vinhos tranquilos Atlantis, depois de visita guiada à quinta, pelo custo unitário de 195€. Na época própria há ainda possibilidade de programas de vindimas com a duração de quatro horas, almoço incluído. Na mansão Quinta das Malvas, renovada em 2004,  vigora o sistema de bed and breakfast, com utilização opcional de cozinha e outros equipamentos e a possibilidade de marcação de sessões de massagens e yoga.

Quinta de Santa Luzia

Morada: Rua de Santa Luzia, 113, Funchal

Site: www.quintadesantaluzia.com/pt

Tel. : + 351 291 281 663

Programas de provas de vinhos, visitas, refeições, a partir de 37,50€ por pessoa. Estadia na Quinta das Malvas em regime de bed and breakfast a partir de 90€ (época baixa)

 

Nos arredores do Funchal, dispondo de uma vista soberba sobre a cidade e a baía, a Quinta de Santa Luzia é uma propriedade agrícola na posse da família Blandy há quase 200 anos

Quinta das Vinhas

No Estreito da Calheta, encosta sul da ilha, a Quinta das Vinhas é uma propriedade com cerca de quatro hectares, pertença da família Welsh desde o século XVII. Existe documentação que situa o ano de 1675 como aquele em que esta família de ascendência inglesa tomou posse da propriedade. Esteve, desde sempre, ligada à actividade agrícola, primeiro com o cultivo da cana de açúcar e mais tarde com vinha. Nas primeiras décadas do século XX, a quinta esteve alugada ao Instituto do Vinho da Madeira, que ali implantou um campo ampelográfico experimental com a finalidade de estudar adaptação das diversas castas ao terroir da Madeira. Foi este projecto que permitiu a plantação de cerca de 70 castas vínicas e de sobremesa espalhadas por diversas parcelas e pequenos patamares,  que deu justificação ao nome que hoje ostenta. Este contrato durou até 2017, findo o qual as vinhas passaram para o controlo dos donos, que lhe imprimiram uma orientação diferente convertendo-as em biológicas seguindo os princípios da biodinâmica. Na fase actual, segundo explicou Isabel Freitas, responsável pela gestão da propriedade, procura-se um compromisso entre a preservação da herança recebida e a sua exploração, com fortes preocupações ambientais. Isto significa uma avaliação cuidada e permanente da viabilidade das diversas castas, perante condições particulares de humidade entre 60 e 70%, privilegiando, naturalmente, aquelas que demonstram mais aptidão para a produção de vinhos de qualidade.

Em 2021 foi lançado o primeiro vinho fruto da agricultura biológica, um branco Verdelho da marca Fanal, um projecto experimental feito em colaboração com a Justino’s, a que se seguiu, em 2023, um blend de Verdelho e Boal. Em sentido inverso, as castas Terrantez e a Tinta Negra têm sido abandonadas por inaptidão, enquanto aposta recente aponta para o Bastardo e Malvasia Cândida. Comum a estes desenvolvimentos é a preocupação permanente de respeitar o ecossistema e introduzir a biodiversidade, ao mesmo tempo que se adicionam, através de aquisição, novas parcelas de vinhas à propriedade.

Mas a Quinta das Vinhas está hoje longe de se esgotar na sua vertente agrícola. Em 1997, os proprietários procederam à recuperação da Casa Mãe e a receber, a partir daí, os seus primeiros hóspedes. Depois da restauração do edifício principal e de um outro anexo, foram recuperadas ou construídas de raiz novas habitações, chamadas Casinhas Mezanines, com quarto e kitchenette e Apartamentos mais amplos para famílias numerosas, espalhadas pelos socalcos, proporcionando alojamentos familiares independentes que garantem comodidade, mesmo para estadias mais longas, e a privacidade que o perfil dos turistas reclama. Todos os quartos estão virados a sul e têm vista para o jardim e/ou vinha, e os dos pisos superiores têm também vista para o mar. Os quartos do andar térreo da casa principal oferecem, aos hóspedes, acesso direto ao terraço e à área da piscina. No total a quinta pode alojar até 70 hóspedes. Os quartos do anexo têm vistas sobre a vinha e o mar e uma área de estar privada no exterior. Pormenor curioso revelador da filosofia do projecto é a ausência de televisão em todos os quartos. O Restaurante Bago, localizado no topo da quinta, completa a oferta turística da propriedade, oferecendo uma esplanada com vista sobre a vinha até ao mar. Aberto aos jantares, pratica uma cozinha de fusão com toque local. O visitante, além das refeições, pode fazer provas de vinhos produzidos exclusivamente a partir das uvas da quinta.

Quinta das Vinhas

Morada: Estrada Regional 223, 136, Calheta

Tel.: +351 291 824 086

E-mail: infoqdvmadeira.com

Provas de três vinhos a partir de 25€.

Restaurante aberto diariamente a partir das 17:00 horas para chá e bebidas e. a partir das 18:00. para jantares. Alojamentos a partir de 120€

Enoturismo Madeira

No Estreito da Calheta, encosta sul da ilha, a Quinta das Vinhas é uma propriedade com cerca de quatro hectares, pertença da família Welsh desde o século XVII

 HM Borges

Em pleno centro do Funchal situa-se uma das mais conhecidas empresas de produção de vinho da Madeira, a H. M. Borges. Fundada em 1877 por Henrique Meneses Borges, mantém-se, desde essa data, na posse da mesma família. Hoje, na direcção da casa encontram-se duas primas, Helena e Isabel Borges, representantes da quarta geração. O edifício contempla, no mesmo espaço físico, a sede social, o centro de visitas, caves de envelhecimento e uma loja. Está em funcionamento numa das ruas mais movimentadas da cidade desde 1924.

É um local cheio de história e tradição, onde o visitante pode mergulhar no mundo fantástico do vinho da Madeira. A casa não dispõe de vinhas próprias e compra, a mais de 100 viticultores, as uvas necessárias à produção do vinho fortificado. O centro de visitas está preparado para receber, em simultâneo, dezenas de turistas, proporcionando, a todos, um programa que começa com a apresentação da história da casa e do vinho da Madeira, e continua com a visita às caves e uma prova de vinhos no final. É ali que o visitante fica a conhecer os detalhes que fazem, do Madeira, um dos grandes vinhos fortificados do mundo. São pormenores como a condução das vinhas em latadas ou pérgolas, o sistema de condução das videiras típico da ilha, que permite a utilização dos solos por outras culturas, o trabalho dos borracheiros, assim chamados aos homens que transportavam o vinho às costas dentro de um recipiente em pele e, sobretudo, o processo de estufagem indispensável ao seu amadurecimento e envelhecimento.

É impossível esquecer a história do vinho de roda que,  depois de uma longa viagem marítima, cruzando os trópicos, voltava à casa de partida com qualidades em aromas e sabor que não tinha quando embarcava. A estufagem do vinho, em grandes tanques, elevando a sua temperatura a 35ºC durante 90 dias, tenta reproduzir, nas condições das caves, os maus tratos dessa infeliz/feliz viagem, Este processo, utilizado para vinhos de entrada de gama, feitos a partir da casta Tinta Negra até três anos de idade, é substituído, para os vinhos das castas nobres,  com objectivo de maior tempo de envelhecimento, pelo método de canteiro, em que o vinho envelhece natural e lentamente nas barricas colocadas em locais com  exposição ao calor.

A visita à cave, com os seus grande tonéis e pilhas de barricas amontoadas em altura, não deixa de impressionar o visitante que percebe, assim, o trabalho e esforço por detrás do famoso vinho. As provas de estão disponíveis na modalidade Silver (15€) para vinhos de três e 10 anos, Gold (17,50€) para vinhos de cinco e 15 anos e Diamond (34€) para seis vinhos da Madeira desde os cinco anos, chamados Frasqueiras, vinhos com mais de 20 anos de envelhecimento.

H.M. Borges

Rua 31 de Janeiro, 83, Funchal

Site: www.hmborges.com

Tel. : + 351 291 223 247

Visita e provas de vinhos desde 15€

O centro de visitas proporciona um programa que começa com a apresentação da história da casa e do vinho da Madeira, e continua com a visita às caves e uma prova de vinhos no final

 

 

(Artigo publicado na edição de Fevereiro de 2025)

Enoturismo regista o melhor ano de sempre no Alentejo

Em 2024, as unidades de enoturismo do Alentejo receberam 195 mil visitantes, mais 21,6% do que o período equivalente anterior, durante o melhor ano de sempre deste sector para a região, segundo a Comissão Vitivinícola Regional Alentejana (CVRA).

Em 2024, as unidades de enoturismo do Alentejo receberam 195 mil visitantes, mais 21,6% do que o período equivalente anterior, durante o melhor ano de sempre deste sector para a região, segundo a Comissão Vitivinícola Regional Alentejana (CVRA). À imagem do ano anterior, a maior parte dos visitantes foram os portugueses, representando 55% do total, […]

Em 2024, as unidades de enoturismo do Alentejo receberam 195 mil visitantes, mais 21,6% do que o período equivalente anterior, durante o melhor ano de sempre deste sector para a região, segundo a Comissão Vitivinícola Regional Alentejana (CVRA).

À imagem do ano anterior, a maior parte dos visitantes foram os portugueses, representando 55% do total, seguindo-se os brasileiros e os norte-americanos. No entanto, foi a nacionalidade alemã que registou o maior aumento, na ordem dos 22%.

O Canadá, a Argentina, a Austrália, a Áustria e a China foram, também, países que se destacaram, no ano passado, entre os interessados pelos programas vínicos da região do Alentejo.

Quanto às preferências entre os roteiros disponíveis nos três distritos do Alentejo, a Rota Histórica, no distrito de Évora, foi a mais frequentada e a que teve o maior aumento de visitantes face a 2023, um crescimento de 36,25%. O segundo maior aumento, de 3,38%, registou-se na Rota do Guadiana, no distrito de Beja. Em terceiro lugar ficou a Rota de São Mamede, no distrito de Portalegre, com uma percentagem de crescimento correspondente a 2,95%.
No que toca à evolução de turistas nos centros de visitas e de apoio ao enoturismo em 2024, registou-se um aumento de 44,92% face a 2023. Os turistas brasileiros lideraram esta tabela, pois representaram um total de 21,26% de visitantes. Logo a seguir surgem os portugueses, que representaram 16,59% e, em terceiro lugar, estiveram os turistas dos EUA.

No Alentejo há actualmente experiências de enoturismo para todos os gostos: visitas guiadas às vinhas, adegas e caves, provas de vinhos, workshops e cursos vínicos, sessões de vinoterapia e passeios a pé, de bicicleta e até a cavalo pelas vinhas.

Enoturismo: Quinta dos Termos

Quinta dos Termos

O terroir da Beira Interior é um mosaico de riqueza e diversidade. Aqui, solos graníticos convivem com afloramentos xistoso que oferecem as suas particularidades ao néctar dos deuses que nasce das videiras. O clima desafiador, de pluviosidade “errática” e invernos rigorosos, testa a resistência das vinhas mas também as recompensa com um caráter único e […]

O terroir da Beira Interior é um mosaico de riqueza e diversidade. Aqui, solos graníticos convivem com afloramentos xistoso que oferecem as suas particularidades ao néctar dos deuses que nasce das videiras. O clima desafiador, de pluviosidade “errática” e invernos rigorosos, testa a resistência das vinhas mas também as recompensa com um caráter único e autêntico, conferindo-lhes uma acidez viva e aromas intensos. A vinha, moldada pela mão do homem, vive em simbiose com o ambiente. Os solos, ricos em minerais, transmitem aos vinhos a sua mineralidade e complexidade.
Entre as castas tintas que desabrocham neste terroir, destaca-se a Rufete, variedade que traz consigo elegância e robustez em perfeita harmonia. Nas castas brancas, a Síria e a Fonte Cal exibem um esplendor que reflete um equilíbrio quase poético no seu desenvolvimento vegetativo. É neste balanço delicado entre solos, temperatura e clima que os vinhos da Beira Interior encontram sua identidade singular.

A condução da vinha, muitas vezes em socalcos, é testemunho de um saber ancestral. A poda, a vindima e a vinificação são processos que se repetem há séculos, transmitindo, de geração em geração, o conhecimento e a paixão pela terra. As mãos que a trabalham carregam a sabedoria ancestral de gerações. É um conhecimento passado de pais para filhos, num ciclo contínuo de aprendizagem e respeito pela natureza. Cada garrafa de vinho é uma sinfonia de tradição e inovação, um testemunho do esforço humano e da generosidade da terra. É terra abençoada que pertence a uma região que olha para o futuro preservando as suas tradições e investindo em novas tecnologias. Os produtores locais, apaixonados pelo seu trabalho, procuram elaborar vinhos de alta qualidade, que reflitam a identidade da região e sejam apreciados em todo o mundo. Assim, a Beira Interior não é apenas uma região vitivinícola, é um símbolo de resistência e beleza, onde cada cálice de vinho conta uma história de dedicação, paixão e amor pela terra.

Quinta dos Termos

Saberes e os sabores da terra…

Na Beira Interior, a gastronomia é mais do que sustento, é uma ode ao território, onde cada prato carrega o peso da tradição e o sabor da terra. É aqui, entre montanhas imponentes e vales férteis, que o vinho e a culinária se encontram em perfeita harmonia, compondo um cenário que seduz o paladar e aquece a alma.

No coração desta região, o pão de centeio emerge como símbolo de resiliência e partilha. Assado em fornos de lenha, com casca firme e interior macio, é o companheiro fiel das refeições que celebram a autenticidade. As carnes, ricas e intensas, ganham também protagonismo na mesa beirã. O cabrito, assado em forno de lenha, temperado com ervas aromáticas e paciência, é uma experiência que dialoga com os tintos robustos da região, cheios de corpo e história. O borrego, cozinhado em caldeiradas ou grelhado de forma simples, encontra, nos seus vinhos elegantes, um parceiro ideal, onde taninos macios elevam o sabor natural da carne.O porco, com a sua versatilidade, marca presença em pratos como o bucho recheado ou os enchidos fumados, ricos em especiarias e tradição. Acompanhados por um copo de vinho encorpado, com notas de frutos maduros e especiarias, geram uma sinfonia gastronómica que enraíza o comensal no território.

E se a carne é o coração da região, os queijos são a sua alma. O Serra da Estrela, com a sua textura amanteigada e sabor inconfundível, é exaltado ao lado de um vinho branco fresco e mineral, cuja acidez equilibra a sua intensidade e prolonga o prazer de cada fatia. Os queijos de cabra e de mistura, com sabores ora suaves ora pungentes, são companhias perfeitas para os rosés, que lhes conferem leveza e brilho.

Sentar-se à mesa nesta região é viver uma experiência sensorial onde o vinho e a gastronomia se fundem, criando memórias que ultrapassam o momento. É sentir o pulsar da Beira Interior em cada garfada, em cada gole, numa dança perfeita de sabores que evocam as serras, as gentes e o legado de um território que encanta pelo paladar.
É uma cozinha de identidade, onde os saberes antigos encontram espaço na mesa moderna sem perder o sabor da tradição. É poesia que se mastiga e guarda na memória, um convite para retornar sempre. Foi neste quadro bucólico e cheio de mistério que decidi visitar a Beira Interior. E “mergulhei” num território de paisagens deslumbrantes, cultura enraizada e, acima de tudo, de vinhos que falam a língua da terra.

Nesta região de altitude, o vinho é mais do que um produto, é um testemunho vivo da relação entre o homem e a natureza, aprimorado por séculos de história e tradição. Quis viver essa história fazendo parte dela, e sentir as tradições usufruindo delas em toda a sua plenitude.

 

 

A visita à quinta permite provar os seus vinhos e entender o processo artesanal e inovador que os torna únicos.

 

Uma Quinta… geracional

Se há um motivo para escolher a Beira Interior como destino, é o encontro entre autenticidade e sabor. Numa tarde solarenga, dirigi-me à Quinta dos Termos, onde cada vinho é uma celebração da terra, do tempo e do talento. É o local perfeito para quem deseja, mais do que uma degustação, uma experiência inesquecível de qualidade e diversidade, com a alma que apenas as boas histórias podem proporcionar.

A Quinta dos Termos fica em Carvalhal Formoso, Belmonte, e é detida pela João Carvalho Family Estates, empresa de base familiar, produtora de vinhos na região da Beira Interior e no Douro. Possui ainda a Herdade do Lousial, Castelo Branco, na região da Beira Interior, e a Quinta do Pocinho, no Douro Superior.
A história iniciou-se em 1945, quando Alexandre Carvalho adquiriu a Quinta dos Termos. Ciente do seu potencial para a cultura da vinha, em meados da década de cinquenta decide reestruturar grande parte da área vitícola, preservando, ao mesmo tempo, algumas parcelas de vinhas velhas. Toda a produção era vendida nas tabernas da região.

Após um período de aluguer da propriedade, a gestão da Quinta dos Termos regressa novamente para a família em 1993, para as mãos de João Carvalho, filho de Alexandre Carvalho, que resolve dar corpo ao projeto de viticultura atual. Aliando a sua gestão às atividades de empresário têxtil e professor universitário, adquire novas parcelas de vinha e inicia novas plantações, aumentando a sua área até cerca de 60 hectares. Em conjunto com a sua esposa, Lurdes Carvalho, estuda e recupera muitas das castas históricas da Beira Interior, bem adaptadas aos solos graníticos pobres e ao clima agreste da região, para, desta forma, praticar uma viticultura sustentável.

Em meados da década de 2010, o negócio familiar é reforçado com a entrada da 3ª geração, Pedro Carvalho e Miguel Carvalho, que, juntamente com a 2ª, tem trabalhado no desenvolvimento de novos projetos, com forte componente experimentalista. Desta forma, em 2015 o grupo adquire a Herdade do Lousial, em Castelo Branco e, mais tarde, em 2019, faz a sua primeira incursão fora da Beira Interior, ao adquirir a histórica Quinta do Pocinho, em Vila Nova de Foz Côa, na região do Douro Superior. Neste período é ainda potenciado o enoturismo na Quinta dos Termos.

Os valores do grupo da Quinta dos Termos baseiam-se na valorização das castas autóctones e tradicionais de cada local, com um modo de produção orientado pelos princípios da sustentabilidade e da biodiversidade, com vista à criação de valor a longo-prazo para todos os agentes envolvidos, realça João Carvalho, atual proprietário. Atualmente, conta com cerca de 60 hectares de vinhas plantadas em solos graníticos, a uma altitude média de 500 metros. Nela cultivam-se 18 castas tintas, Touriga Nacional, Trincadeira, Rufete, Jaen, Tinta Roriz, Marufo, Tinto Cão, Alfrocheiro, Baga, Syrah, Petit Verdot, Sangiovese, e seis brancas, Fonte Cal, Síria, Arinto, Verdelho e Riesling, cujas uvas são trabalhadas pelo enólogo consultor, Virgílio Loureiro, e a enóloga residente, Ángela Marín. A adega segue técnicas tradicionais e da tecnologia moderna, e a vinha está certificada no modo de produção integrada, um contributo da empresa para a sustentabilidade.
A família Carvalho, movida por uma paixão inigualável pela terra e pelo vinho, iniciou este projeto com profunda reverência pela natureza e um desejo ardente de criar algo que transcendesse gerações. Cada membro trouxe consigo o seu talento e o compromisso único de transformar este sonho em realidade.

Lendas e mistérios…

A história deste lugar mágico começa com a visão audaciosa de transformar as terras da região num santuário de vinhas e vinhos excecionais. A visita à quinta permite provar vinhos de excelência e entender o processo artesanal e inovador que os torna únicos. Cada visita é uma oportunidade de explorar a essência da Quinta dos Termos, seja passeando por vinhas banhadas pelo sol ou ouvindo as histórias de quem faz do vinho uma forma de arte.

A dedicação da família em cada etapa do processo de produção, desde a escolha das castas até o envelhecimento dos vinhos, reflete um respeito profundo pelo terroir. Cada garrafa produzida na Quinta dos Termos não é apenas um vinho, é uma obra de arte líquida, uma expressão tangível da paixão e da tradição que a família defende incondicionalmente.
Foi neste quadro romântico e apaixonante que nasceu o enoturismo da Quinta dos Termos. É um local que transcende a mera visitação e se transforma numa verdadeira experiência de descoberta e contemplação. O atendimento é, aqui, uma arte refinada, onde cada visitante é recebido com uma hospitalidade calorosa e profissional, que faz com que todos se sintam parte da família. O cuidado nos detalhes, a atenção às necessidades individuais e o desejo genuíno de proporcionar uma experiência memorável são traços marcantes deste lugar. Cada encontro, cada conversa, revela uma paixão contagiante pelo vinho e pela terra que o produz.

As paisagens que cercam a Quinta dos Termos são um espetáculo à parte, de vinhas que se estendem por colinas suaves, pontilhadas por oliveiras centenárias e moldadas pela luz dourada do sol. É um cenário que convida à contemplação, onde cada vista, cada brisa, parece sussurrar histórias antigas e segredos guardados pela terra, lendas e mistérios ainda por contar.
A experiência enoturística vai, portanto, muito para além do vinho. É sobre a conexão humana, o respeito pela natureza e a celebração de um legado vinícola que atravessa gerações. E decorre num lugar onde o vinho é, mais do que uma bebida, é uma expressão de cultura, tradição e paixão, que reflete a alma destas terras magníficas.
Visitar este produtor e a sua adega é embarcar numa viagem filosófica e sensorial, onde cada momento é uma ode ao prazer de viver e ao esplendor da criação humana em sintonia com a natureza.

O queijo Serra da Estrela, os enchidos artesanais e o pão de centeio fresco, são algumas das iguarias que acompanham os vinhos desta casa.

Quinta dos Termos

 

Uma imersão nas experiências de turismo

A Quinta dos Termos oferece uma experiência de enoturismo que transcende o simples ato de provar vinhos. Este é um lugar onde a qualidade, a tradição e a autenticidade se unem, proporcionando uma imersão sensorial e cultural prazerosa para os amantes de vinho e da gastronomia. Começa no coração da propriedade, com a visita às vinhas. Estendendo-se entre os 400 e os 600 metros de altitude, as da Quinta dos Termos são cuidadas com rigor, respeitando o equilíbrio que confere às uvas o caráter único da região. Durante o passeio, os visitantes aprendem informações sobre castas autóctones como a Rufete, Síria e Fonte Cal, além das práticas sustentáveis que garantem vinhos de alta qualidade. É uma oportunidade para sentirem a conexão entre o solo, o clima e as vinhas, e compreender como contribuem para os sabores inconfundíveis dos vinhos da Quinta.

Seguindo para a adega, os visitantes têm a oportunidade para desvendar os segredos da vinificação. Na empresa, a tradição e a tecnologia coexistem harmoniosamente, num processo que combina práticas artesanais com inovação, realça Pedro Carvalho, responsável pelo Enoturismo da Quinta dos Termos. Durante o percurso explicam-se cada etapa, desde a fermentação até ao envelhecimento em barricas de carvalho, enquanto os aromas dos vinhos em maturação criam um ambiente irresistível, inebriante, que impele naturalmente a ficar.

O ponto alto da visita é a prova de vinhos, momento que celebra a essência da Quinta dos Termos. Em cada copo, encontra-se o reflexo do terroir da Beira Interior, com tintos robustos e aromáticos, brancos frescos e minerais, e rosés delicados, mas marcantes. Os vinhos são apresentados com paixão e conhecimento, através de histórias que revelam a ligação da quinta com a terra e a cultura local e regional.

Para tornar a experiência ainda mais completa, as provas podem ser harmonizadas com a gastronomia local. O queijo Serra da Estrela, os enchidos artesanais e o pão de centeio fresco são apenas algumas das iguarias que acompanham os vinhos, criando combinações que exaltam os sabores e reforçam a ligação entre o vinho e a tradição gastronómica da Beira Interior.
Na Quinta dos Termos, o enoturismo é muito mais do que uma visita, é uma viagem pelos sentidos e pelas histórias da região, salienta Pedro Carvalho, com um brilho nos olhos de quem adora o que faz. É o lugar onde o vinho se torna ponte entre o passado e o presente, onde a hospitalidade a beirã se traduz em momentos inesquecíveis. Para quem busca qualidade, autenticidade e uma experiência profundamente ligada ao território, a Quinta dos Termos é um destino obrigatório.

Nota: O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

 

 

 

 

 

CADERNO DE VISITA                                                                                                                                Quinta dos Termos

 COMODIDADES

– Línguas faladas: inglês, francês, espanhol

– Loja de vinhos

– Sala de provas com capacidade para 40 pessoas (provas de vinhos e refeições sob consulta)

– Esplanada – 50 pessoas

– Sala de eventos – 200 pessoas

– Diferentes atividades e refeições (sob consulta)

– Parque para automóveis ligeiros e três autocarros

– Provas comentadas (ver programas)

– Refeições (ver programas)

– Wifi gratuito disponível

– Visita às vinhas

– Visita à adega

EVENTOS

Eventos corporativos – sob consulta

Atividades team building – sob consulta

PROGRAMAS

Programa 1

Visita guiada à adega e degustação de três vinhos.

Individual e grupos

Duração: 1h

Preço: 10€

Programa 2

Visita guiada à adega e degustação de cinco vinhos com lanche (pão, queijos, presuntos e enchidos)

Grupos mínimos de 10 pessoas

Duração: 1h30

Preço: 15€

Programa 3

Visita guiada à adega e degustação de cinco vinhos com almoço ou jantar vínico (entrada, prato de carne, sobremesa e café)

Grupos entre 20-50 pessoas

Duração: 2h30h

Preço: 45,00€

CONTACTOS

Quinta dos Termos

Carvalhal Formoso

6250-161 Belmonte

Responsável pelo enoturismo – Pedro Carvalho

Email geral – info@quintadostermos.pt

Tel.: +351 275 471 070

www.quintadostermos.pt

Facebook @quintadostermos

Instagram @quintadostermos

 

(Artigo publicado na edição de Janeiro de 2025)

 

 

 

 

 

 

ENOTURISMO: QUINTA DO CASAL BRANCO

Quinta do Casal Branco

A Região Vitivinícola dos Vinhos do Tejo fica no coração de Portugal e é um dos territórios vitivinícolas mais tradicionais e férteis do país. Desenvolve-se ao longo de um rio que atravessa a região de leste a oeste, tem uma paisagem variada e uma riqueza geoclimática que contribui para a singularidade dos seus vinhos. Com […]

A Região Vitivinícola dos Vinhos do Tejo fica no coração de Portugal e é um dos territórios vitivinícolas mais tradicionais e férteis do país. Desenvolve-se ao longo de um rio que atravessa a região de leste a oeste, tem uma paisagem variada e uma riqueza geoclimática que contribui para a singularidade dos seus vinhos.

Com cerca de 18 mil hectares de vinhas, o Tejo é uma região que alia história, diversidade e qualidade. A experiência sensorial que se tem dos seus vinhos mistura-se com uma profunda reflexão sobre o tempo, a terra e a tradição, porque a região é famosa tanto pela excelência dos seus vinhos quanto pela riqueza histórica e cultural que a envolve. Mais do que uma geografia produtiva, o Tejo é uma fonte inesgotável de narrativas e significados, que evocam um entendimento filosófico da terra e do viver.

 Identidade regional

Desde a antiguidade, as margens férteis do Tejo foram cultivadas por romanos, mouros e, mais tarde, por portugueses que reconheceram o potencial de suas terras. Sob os auspícios da monarquia, especialmente de reis como D. João II, a produção vinícola floresceu, transformando-se num símbolo do poder e do requinte da corte. Os reis e rainhas de Portugal não bebiam apenas o vinho do Tejo. Também compreendiam que representava a união entre a terra e a cultura, algo digno de apreciação e respeito. Ao beberem o vinho, os monarcas não estavam apenas a saborear uma bebida, mas a integrar-se num ciclo mais amplo, em que a terra, o tempo e a tradição se entrelaçam.

Neste deleite do corpo e da alma, as paisagens do Tejo são uma ode à simbiose entre o natural e o humano. Colinas suaves, vinhedos a perder de vista, campos banhados pela luz suave e espelhada pelo rio e os seus lugares históricos são testemunhas silenciosas da forma cuidada como as suas pessoas têm feito as coisas ao longo de séculos.

Cada estação oferece uma nova interpretação dessas paisagens: no inverno, a tranquilidade; na primavera, o renascimento; no verão, o labor e o crescimento e, no outono, a colheita e a celebração. Esse ciclo natural, que influencia a própria vida dos vinhedos, é um lembrete de que o vinho, como nós, é um produto do tempo.

Produzir vinho, nesta região, é um ato quase filosófico, que requer paciência e compreensão do caráter das uvas e do solo. Não se pode apressar a maturação de uma videira, e o cultivo não se rende às urgências do mercado. Segue um ritmo próprio. Aqui, o vinho torna-se numa metáfora para a vida. É necessário esperar, cuidar, observar, e aceitar que cada colheita traz o seu próprio sabor. Esta é uma sabedoria intrínseca ao ofício dos viticultores, para quem o vinho do Tejo é tanto um produto quanto uma expressão da identidade regional. Essa identidade reflete-se também na gastronomia, que se harmoniza com os vinhos da região e exalta os sabores tradicionais. Os pratos são robustos, autênticos, celebrando o que a terra e o rio oferecem. Em cada refeição, a gastronomia une-se ao vinho num convite para uma experiência sensorial completa e autêntica. Por aqui pode-se encontrar uma culinária com produto, história e identidade. A sua teia de histórias e significados vai muito além do copo.

Ao degustarmos um vinho do Tejo, saboreamos a paciência das vinhas, o trabalho dos que cultivam a terra, o poder unificador do rio e a história dos reis que um dia brindaram com vinhos desta terra. A cada gole, há uma viagem ao passado e uma celebração do presente, um momento de reflexão e um convite para entender que, tal como o vinho, a vida tem suas camadas, o seu amadurecimento e o seu sabor único e irrepetível.

O Tejo é mais do que uma região de vinhos: é uma filosofia de ligação entre o homem, a terra e o tempo. É uma celebração da simplicidade e da profundidade, da tradição e da autenticidade, elementos que fazem de cada vinho não apenas uma bebida, mas uma experiência de vida.

As terras da Quinta do Casal Branco fizeram parte da coutada real de Almeirim, zona de caça da família real portuguesa até finais do século XVIII.

O Tejo e a sua magia

A Região dos Vinhos do Tejo integra-se o distrito de Santarém e divide-se em três sub-regiões distintas. O Bairro, localizado a norte do rio Tejo, caracteriza-se por terrenos de encostas e colinas com solos argilosos e calcário. A Charneca, a sul do rio, com solos arenosos, é uma região que sofre maior influência do clima quente e seco. O Campo, uma área plana e aluvial  situada ao longo do próprio rio Tejo, tem solos férteis que beneficiam da humidade e do clima mais moderado trazido pelo rio. A região abrange municípios como Santarém, Almeirim, Cartaxo, Coruche, Alpiarça, Benavente, Golegã, Tomar e Salvaterra de Magos, cada um a contribuir para a diversidade e tipicidade dos vinhos produzidos.

O rio Tejo é mais do que um simples elemento geográfico na paisagem. Representa uma artéria vital para a história e cultura lusitana, simbolizando continuidade e renovação. As suas margens férteis e clima ameno tornaram-se, desde tempos remotos, propícios para o cultivo da vinha.

A presença do rio cria um microclima específico. Aliado à diversidade de solos, que vão desde os terrenos argilosos das planícies até os solos calcários das áreas mais elevadas, contribui para a variedade e características únicas dos vinhos da região, que encantam e desafiam paladares em todo o mundo.

Solos aluviais e arenosos nas margens do rio, favorecendo vinhos leves e frescos. Solos argilosos e calcários nas áreas de Bairro, conferindo estrutura e complexidade aos vinhos.

O clima é mediterrânico, marcado por verões quentes e secos, com temperaturas médias que variam entre 26°C e 30°C no verão, e invernos relativamente suaves, com mínimas entre 5°C e 10°C. A pluviosidade anual média é moderada, situando-se entre 600 e 800 mm, com chuvas concentradas principalmente no inverno e na primavera, o que permite um desenvolvimento equilibrado das videiras ao longo do ano.

A diversidade de castas é uma marca distintiva dos Vinhos do Tejo. Entre as mais utilizadas destacam-se as tintas Castelão, Aragonez, Touriga Nacional, Trincadeira e Alicante Bouschet, as mais tradicionais, sendo também comum o uso de Syrah e Cabernet Sauvignon, que adicionam complexidade e estrutura aos vinhos de lote. Entre as brancas destacam-se as Fernão Pires, Arinto e Trincadeira das Pratas, as mais comuns, para além do Sauvignon Blanc e da Chardonnay, que se adaptaram bem ao terroir da região. Os vinhos tintos do Tejo são conhecidos pela sua estrutura e intensidade aromática, enquanto os brancos destacam-se pela frescura e versatilidade.

A combinação da tradição com práticas modernas de viticultura tem contribuído para que a Região Vitivinícola dos Vinhos do Tejo seja cada vez mais reconhecida, tanto em Portugal como nos mercados internacionais, reforçando o seu papel de destaque no cenário vinícola português.

 

 

Terra de reis e princesas 

A ligação entre o Tejo e a realeza vai além das uvas e vinhos. Historicamente, a região foi favorecida pela corte portuguesa, que incentivou o desenvolvimento das vinhas e se deliciava com os vinhos locais. Reis e rainhas portugueses reconheciam seu potencial de excelência, incentivando práticas de cultivo e produção que garantissem a qualidade e longevidade das vinhas. D. João II, em particular, foi um dos monarcas que mais valorizou a região do Tejo, criando estímulos para a produção local alcançar um nível que sustentasse o orgulho nacional e as exigências da corte.

O vinho sempre foi mais do que uma bebida. Conta uma história, salienta os usos costumes e tradições, realça a sabedoria humana e marca a autenticidade de um povo, de uma região. Nesta em particular, o vinho assume uma conotação ainda mais especial, pois é parte do tecido identitário das pessoas e do lugar. Aqui, é um elo entre gerações, uma ponte que liga o presente ao passado e o futuro. O cultivo da vinha e a produção de vinho exigem paciência, uma virtude filosófica apreciada por grandes pensadores, que, na prática, se reflete no tempo necessário para que uma videira amadureça, para que as uvas atinjam seu ponto ótimo e para que o vinho, finalmente, envelheça e possa ser apreciado.

A tradição vitivinícola no Tejo persiste, sustentada pelas mãos hábeis de viticultores que continuam a cultivar a terra como seus antepassados. Hoje, a região moderniza-se e atrai novos olhares, mas sem perder a conexão com sua essência histórica. Cada garrafa que sai das adegas da Região do Tejo carrega uma parte da história de Portugal, uma memória da época em que reis brindavam com seus vinhos numa lógica de preservação e apreciação do tempo.

Vesti a minha “armadura”, e em cima dos mais de 110 cavalos do meu veículo “cavalguei” até esta região impregnada de histórias de reis, que há muito me atraía para a visitar. Possuidor de alguma informação escolhi a Quinta do Casal Branco para me deliciar com esta nobre aventura.

 

Além da experiência sensorial, o enoturismo da Quinta do Casal Branco oferece uma imersão cultural, apresentando um património arquitetónico e histórico que remonta ao século XVIII, período em que a quinta foi fundada.

 

Uma quinta familiar…

A Quinta do Casal Branco é, desde a sua fundação em 1775, uma casa agrícola alicerçada pelas famílias Braamcamp e da Cruz Sobral. As suas terras fizeram parte da coutada real de Almeirim, zona de caça da família real portuguesa até finais do século XVIII.

Atualmente, é administrada pelo Dr. José Lobo de Vasconcelos, que assumiu a gestão do negócio em 1997, a pedido de sua mãe. A tradição vitivinícola, que chegou até os dias de hoje, resulta do saber partilhado por várias gerações das famílias Braamcamp Sobral e Lobo de Vasconcelos. A propriedade é hoje um testemunho vivo da evolução da viticultura no país, aliando práticas ancestrais com inovações tecnológicas modernas.

A quinta destaca-se pela produção de vinhos que refletem a essência da região, com vinhas plantadas em solos de excelente qualidade e beneficiadas pelo clima temperado do Ribatejo. No entanto, a produção vinícola é apenas uma parte do que define o Casal Branco.

A propriedade é também conhecida pela criação de cavalos lusitanos, tradição que, tal como a produção de vinho, se mantém como parte do seu legado. A paixão pelos cavalos é um dos traços mais marcantes da família. Na quinta, a sua criação é uma arte e uma tradição, acompanhada de rigor e de um profundo conhecimento. Conhecidos pela sua elegância, força e inteligência, os cavalos lusitanos criados na Quinta do Casal Branco são admirados e competem em eventos equestres de renome. Os seus estábulos, com séculos de história, abrigam linhagens cuidadas com amor e respeito, demonstrando a simbiose entre a família e a natureza ao seu redor.

O compromisso com a sustentabilidade e as práticas agrícolas ecológicas tornou-se central à filosofia da propriedade, refere José Lobo de Vasconcelos. Recentemente foi também aberto o seu enoturismo, que convida os visitantes de todo o mundo a conhecerem de perto o ciclo de produção dos vinhos e a história fascinante da quinta.

Com uma combinação singular de tradição e modernidade, a Quinta do Casal Branco é muito mais que uma adega. É uma entidade familiar e cultural que preserva o espírito ribatejano e as raízes de Portugal, ao mesmo tempo que olha para o futuro com o mesmo espírito empreendedor que marcou a sua fundação, salienta, orgulhosamente, o CEO da empresa.

 

Conhecidos pela sua elegância, força e inteligência, os cavalos lusitanos criados na Quinta do Casal Branco são admirados e competem em eventos equestres de renome.

 

Encanto e tradição

A Quinta do Casal Branco é um tesouro vitivinícola que carrega, nas suas vinhas, histórias de gerações que, com devoção, cultivaram e transformaram uvas em néctares que traduzem o caráter fértil da região. Cada colheita é um reflexo fiel do Tejo, rio que dá o nome à região e empresta a sua essência às vinhas do território.

Na exploração desta propriedade do concelho de Almeirim, uma verdadeira joia da região dos Vinhos do Tejo, vê-se as vinhas a surgirem como um tapete verdejante, desenhado com precisão e encanto, onde o passado e o presente se entrelaçam em cada detalhe. Aqui, o tempo parece seguir outro ritmo, compassado pela brisa do rio e pelas estações que pintam as paisagens com tons de verde, dourado e bordô, conforme a época do ciclo das vinhas. Na adega, o aroma do vinho que repousa em barris de carvalho é quase poético, e cada garrafa produzida é como uma carta de amor ao terroir do Tejo, com a sabedoria da enóloga residente, Joana Silva Lopes, e a mestria do Enólogo consultor, Manuel Lobo de Vasconcelos, sobrinho de José Lobo de Vasconcelos.

Os vinhos da Quinta do Casal Branco refletem um romance com a terra, nascendo de castas autóctones que expressam o frescor e a autenticidade da região. Degustá-los é embarcar numa viagem sensorial pelo Tejo, do bouquet floral de um branco leve e perfumado ao caráter profundo e envolvente de um tinto encorpado. A cada gole, um segredo antigo parece ser revelado, um testemunho da paixão que faz desta quinta um lugar onde o vinho é, mais que bebida, uma obra de arte, uma ode ao espírito do Tejo e à natureza que o cerca.

As visitas ao Casal Branco proporcionam uma imersão no terroir único do Tejo, com degustações que celebram as castas locais e o cuidado artesanal no processo de vinificação. Cada copo é um brinde à simplicidade e ao charme rural, trazendo consigo o sabor autêntico da terra e o coração dos que a trabalham. Aqui, as vinhas parecem cantar um fado antigo, ecoando a beleza da vida no campo e o encanto de um Portugal intocado, realça Filomena Justo, responsável pela gestão e operacionalização da atividade de enoturismo na Quinta.

A Quinta do Casal Branco não é apenas um destino, mas um convite à contemplação. Entre vinhas, jardins e vinhos de exceção, sente-se o romantismo de um lugar onde o tempo parece desacelerar, e cada visitante pode viver o privilégio de um momento eterno no coração dos Vinhos do Tejo. Cultura, Tradições, Cavalos (equitação), História de Reis e Princesas, Caça e os Falcões, fazem desta quinta um almanaque de experiências inesquecíveis.

O ponto alto da experiência é a degustação, realizada numa sala especialmente preparada, onde os vinhos da quinta são apresentados em combinações pensadas para valorizar os sabores e aromas característicos de cada colheita.

A visita…

Ao chegar à Quinta do Casal Branco, o visitante é recebido por um ambiente de campo onde se destacam as vinhas que se estendem até perder de vista, numa paisagem que as harmoniza com os olivais. O percurso começa na loja, onde é feita uma explicação sobre a história da Quinta do Casal Branco e a importância desta casa agrícola ao longo de 200 anos. A visita continua pelas instalações de vinificação, onde é possível acompanhar cada etapa da produção dos vinhos. Nos tanques de inox e nas barricas de carvalho os guias dão explicações detalhadas sobre os métodos de fermentação, maturação e envelhecimento que conferem aos vinhos da Quinta do Casal Branco um perfil sofisticado. Esse contato direto com o processo produtivo permite, ao visitante, compreender o rigor e a dedicação envolvidos na criação de cada garrafa.

As visitas às vinhas, algumas delas com cerca de 120 anos, realizam-se a pé ou de carro. Nelas são explicadas as características dos solos, o clima da região e os processos de cultivo das castas tintas Castelão, Merlot, Sousão, Cabernet Sauvignon, Syrah, Touriga Nacional, Aragonês, Touriga Franca, Alicante Bouschet e Petit Verdot, e brancas Fernão Pires, Alvarinho, Sauvignon Blanc, Gouveio, Viognier, Moscatel e Arinto, que ocupam um total de 130 hectares.

O ponto alto da experiência é a degustação, realizada numa sala especialmente preparada, onde os vinhos da quinta são apresentados em combinações pensadas para valorizar os sabores e aromas característicos de cada safra. O visitante pode experimentar desde brancos frescos e leves até tintos encorpados e complexos, sempre acompanhados de explicações que enaltecem a qualidade do terroir. A experiência é complementada pela oportunidade de adquirir os vinhos, com rótulos exclusivos que, muitas vezes, só estão disponíveis para os visitantes.

Por fim, além da experiência sensorial, o enoturismo da Quinta do Casal Branco oferece uma imersão cultural, apresentando um património arquitetónico e histórico que remonta ao século XVIII, período em que a quinta foi fundada. O passeio inclui uma visita à casa principal e aos jardins, que mantêm a elegância e a imponência dos séculos passados. Para os amantes de vinhos e de experiências culturais, a visita à Quinta do Casal Branco é uma experiência rica, onde história, tradição e inovação se unem para proporcionar uma viagem sensorial e cultural única.

Nota: O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico.

Quinta do Casal Branco

CADERNO DE VISITA

 COMODIDADES

– Línguas faladas: inglês, francês

– Loja de vinhos

– Bar de provas com capacidade de duas a 18 pessoas (provas e refeições sob consulta)

– Esplanada com capacidade para 50 pessoas

– Sala da Caldeira com capacidade de 10 a 60 pessoas

– Diferentes atividades e refeições (sob consulta)

– Parque para automóveis ligeiros e 10 autocarros

– Provas comentadas (ver programas);

– Refeições (ver programas)

– Wifi gratuito disponível

– Visita às vinhas

EVENTOS

Eventos corporativos sob consulta

Atividades team building sob consulta

 

PROGRAMAS DE ENOTURISMO

GRANDE ESCOLHA

35€ P/ PESSOA

Visita à adega, coudelaria e jardins históricos da casa da família Lobo de Vasconcelos, prova comentada de cinco vinhos (Quinta do Casal Branco Alvarinho, Falcoaria Vinhas Velhas branco, Falcoaria Clássico branco, Falcoaria Grande Reserva tinto, Falcoaria Colheita Tardia branco) e tábua de queijos & enchidos da região Compotas caseiras com tostas & pão regional

De segunda a sexta. N.º mínimo de participantes: dois

Fins-de-semana e feriados. Nº mínimo de participantes: 25

Sempre sob marcação prévia.

PREMIUM

25€ P/ PESSOA

Visita à adega, coudelaria e jardins históricos da casa da família Lobo de Vasconcelos, prova comentada de três vinhos e tábua de queijos & enchidos da região Compotas caseiras com tostas & pão regional

De segunda a sexta. N.º mínimo de participantes: dois

Fins-de-semana e feriados. Nº mínimo de participantes: 25

Sempre sob marcação prévia.

VINDIMA

98,50€ P/ PESSOA

Aperitivo de boas-vindas com Espumante Monge, visita à coudelaria com batismo equestre ou manhã de vindima e prova de mais quatro vinhos harmonizada com produtos regionais. Almoço na esplanada ou Sala da Caldeira

N.º mínimo de participantes: 35

Sempre sob marcação prévia.

BEBERETE

14,00€ P/ PESSOA

Aperitivo de boas-vindas, visita guiada à adega e prova de dois vinhos harmonizada com produtos regionais

N.º mínimo de participantes: 35

Sempre sob marcação prévia.

 

CONTACTOS

Quinta do Casal Branco

Estrada Nacional 118, quilómetro 69

Almeirim

2080-187 Almeirim

Email reservas: filomenajusto@casalbranco.com

Email geral: info@casalbranco.com

Tel.: +351 243 592412; +351 917 656 683; +351243 592 412

https://www.casalbranco.com/

Facebook @quintadocasalbranco

Instagram @quintadocasalbranco

Responsável pelo enoturismo: Filomena Justo

Enoturismo: Caminhos Cruzados

Caminhos Cruzados

A história do vinho no Dão é mais do que uma simples sucessão de acontecimentos. É um emaranhado intrincado de natureza, cultura e tempo. A vinha, arraigada nas encostas escarpadas e nos planaltos graníticos, é um testemunho vivo da relação ancestral entre o homem e a terra. As raízes que se aprofundam no solo, buscando […]

A história do vinho no Dão é mais do que uma simples sucessão de acontecimentos. É um emaranhado intrincado de natureza, cultura e tempo. A vinha, arraigada nas encostas escarpadas e nos planaltos graníticos, é um testemunho vivo da relação ancestral entre o homem e a terra. As raízes que se aprofundam no solo, buscando a água e os nutrientes, espelham a própria busca do homem por significado e pertencimento.

Mosaico de tradições

A cultura vínica do Dão é um mosaico de tradições transmitidas de geração em geração. As mãos calejadas dos vinhateiros, moldadas pelo trabalho árduo, são a expressão de um saber ancestral, um conhecimento tácito que se perde nas brumas do tempo. A vindima, celebração da colheita, é um rito de passagem que marca o ciclo da vida e da natureza. É nesse momento que a uva, fruto da terra e do sol, se transforma em néctar divino.

As suas paisagens exuberantes e aldeias pitorescas constituem o palco onde a história se desenrola. Os castelos e as quintas, testemunhas silenciosas do passado, guardam os segredos de um tempo em que o vinho era sinónimo de poder e riqueza. As adegas, com suas barricas de madeira e aromas inebriantes, são templos dedicados ao culto de Baco. A vinha, com as suas paisagens exuberantes e a variedade de castas, é a primeira tela do artista vinícola. A escolha do local de cultivo, a orientação das fileiras, a poda e a adubação são decisões que moldam o caráter do vinho. O terroir, conjunto de fatores naturais que influenciam o sabor da uva, é a paleta de cores do artista, oferecendo uma infinidade de nuances e tonalidades.

O vinho do Dão é mais do que uma bebida, é uma expressão da alma da região. Cada garrafa conta uma história, um reflexo do terroir, do clima e do homem que o criou. A diversidade de castas e solos confere, aos vinhos do Dão, uma personalidade única e inconfundível. A cor, o aroma e o sabor são elementos que compõem a sua estética. Um vinho tinto encorpado e complexo pode ser comparado a uma pintura barroca, rica em detalhes e contrastes. Um vinho branco fresco e mineral pode lembrar uma aquarela, leve e delicada.

A filosofia do vinho ensina-nos a apreciar a simplicidade das coisas, a saborear cada momento e a encontrar beleza nas pequenas coisas. O ato de degustar um vinho é uma experiência sensorial e espiritual que nos conecta com a natureza e com a história. É um convite à reflexão sobre a vida e a passagem do tempo.

Na pincelada da minha escrita transborda um sentimento artístico pela felicidade que os vinhos do Dão me proporcionam. Nesta região sinto no vinho uma forma de expressão artística que une a natureza e a cultura.

Ao brindar com um vinho do Dão, celebramos não apenas a excelência de um produto, mas também a riqueza de uma cultura e a beleza de uma região. A vinha, o tempo e a alma do Dão estão inextricavelmente ligados, formando um património único e valioso que devemos preservar para as futuras gerações.

Inovação na tradição…

As minhas viagens pelo mundo do Enoturismo em Portugal têm-me proporcionado momentos inesquecíveis e gratificantes, ao conhecer a história e a tradição das regiões vitivinícolas, ao descobrir vinhos únicos, caminhar por vinhas exuberantes, onde a beleza se une à qualidade dos vinhos, admirar paisagens deslumbrantes e conhecer pessoas apaixonadas por essa arte milenar.

Na minha “árdua” felicidade de conhecer o país enoturístico, numa jornada introspetiva, numa espécie de convite à filosofia, à contemplação da existência e à busca por significados profundos no mundo do Vinho e porque não dizer da Gastronomia, escolhi o Dão para esta viagem.

Nesta região somos convidados a um diálogo íntimo com a natureza. A terra paciente oferece os seus frutos. A videira, símbolo da vida e da renovação, tece uma narrativa milenar, onde cada folha é um capítulo escrito pelo tempo. A cada passo, somos lembrados da nossa própria finitude e da impermanência de todas as coisas. O Dão é isto. É fantasia, é mistério. Obriga-me a viver como se amanhã fosse o último dia da minha vida.

A escolha estava feita – a Quinta da Teixuga e a sua Adega Caminhos Cruzados, encaixa-se “como uma luva“ neste espírito filosófico, na busca interminável do saber e do sabor. Nesta adega o vinho, que é o resultado de um processo alquímico entre a terra, o sol e o trabalho humano, revela-se como uma metáfora da vida. Assim como o vinho amadurece em barricas, transformando-se numa bebida complexa e multifacetada, nós também evoluímos com o tempo, moldados pelas experiências e pelas relações que estabelecemos.

Paixão pelo vinho

A Adega Caminhos Cruzados é mais do que apenas um local de produção de vinho. É um verdadeiro manifesto de paixão pelo vinho e pela sua região. Fica na Quinta da Teixuga, situada em Vilar Seco, concelho de Nelas, no distrito de Viseu, propriedade de 30 hectares no coração do Dão, e destaca-se pela sua arquitetura moderna e arrojada, que se funde perfeitamente com a paisagem circundante, desenhada pelo Arquiteto Nuno Pinto Cardoso

Na chegada à Adega Caminhos Cruzados percebe-se, de imediato, que se entra num espaço com claras preocupações estéticas e integradoras na paisagem rural. De forma natural, cria de imediato uma elevada expectativa do que se vai encontrar. A inovação da arquitetura funde-se com a tradição vínica da Região do Dão, como a de dois amantes num eterno tango, alicerçado num abraço apaixonado. A tradição vitivinícola guia a inovação pelos caminhos da história, enquanto esta, com sua energia vibrante, insufla nova vida nas raízes ancestrais. É nessa dança harmoniosa que a criatividade encontra a sua inspiração, e o futuro a sua essência.

Encontrei o Luis Filipe, coordenador do Enoturismo da Caminhos Cruzados, na empresa desde 2019, que orgulhosamente explica que começou como embaixador/promotor da marca na zona centro do país. Sente-se a sua paixão pelo que faz e representa. A quinta localiza-se em pleno planalto do Dão, em Terras de Senhorim, que são excelentes para a plantação de videiras e produção de uva, salienta. As amplitudes térmicas locais são apropriadas para a boa maturação das uvas e o seu lento amadurecimento dá origem a vinhos de aromas ricos e boa acidez, elegância e estrutura, diz também.

A Caminhos Cruzados surge do amor que a família Santos, natural de Nelas, têm à Região do Dão. É em 2012 que Paulo Santos, empresário têxtil, decide voltar a dar vida a esta tradição e criar uma empresa familiar, dirigida por Lígia Santos, a sua filha, que troca Lisboa e a advocacia pelo vinho e ruma a Nelas para dirigir os destinos do projeto.

Paulo Santos, que fazia vindimas em família e com amigos, desde cedo, produzindo vinho caseiro num pequeno lagar, salienta que, na adega produz vinho de qualidade, com uma vertente de tradição aliada ao modernismo e constante diferenciação que o mercado exige”. Desde o início, que a visão da Caminhos Cruzados foi surgir como “O Novo Dão” e a sua adega emergiu das vinhas da Quinta da Teixuga em 2017. Em algumas delas, cuja idade média é de 50 anos, podemos encontrar as castas tintas Touriga Nacional, Tinta Roriz, Jaen e Alfrocheiro e brancas Malvasia-Fina, Encruzado e Bical. É a partir desta riqueza varietal que são feitos os vinhos na adega. Os caminhos cruzados da vida podem proporcionar algo mágico e fantástico, experiências e vivências diferentes que nos transformam e enriquecem a alma. São como um labirinto cheio de surpresas e desafios, de complexidade e imprevisibilidade. É desta paleta filosófica que surge a ideia de designar a Adega de “Caminhos Cruzados”. “A sua estética inspira-se no logótipo da empresa, duas linhas que se cruzam, e encontra-se perfeitamente integrada no ambiente”, sustenta Luis Filipe com um brilho nos olhos de quem adora o que faz.

Um tesouro escondido

Escondida entre as serras do Caramulo, Montemuro, Buçaco e Estrela, a Quinta da Teixuga é um refúgio para os amantes do vinho que buscam experiências autênticas. Com 42 hectares de vinhas, a propriedade oferece um panorama único da viticultura portuguesa, onde a natureza e a tradição se entrelaçam.

As vinhas, situadas entre os 400 e 700 metros de altitude, beneficiam de um terroir excecional. Os solos xistosos e graníticos, aliados ao clima mediterrâneo influenciado pela altitude, conferem aos vinhos uma mineralidade e complexidade únicas.

Com o objetivo de preservar a alma do Dão, a Quinta da Teixuga investe na recuperação de vinhas velhas, com mais de 50 anos. Essas vinhas, verdadeiros tesouros, guardam um património genético único que se traduz em vinhos com uma identidade própria.

Em paralelo, a Quinta da Teixuga aposta na plantação de novas vinhas, com variedades que complementam as castas tradicionais do Dão, como a Touriga Nacional, Alfrocheiro, Jaen, Tinta Roriz, Encruzado, Bical, Cercial, Malvasia Fina e Verdelho. Consciente da importância da preservação do meio ambiente, a Quinta da Teixuga iniciou, em 2019, um projeto de conversão de uma parcela de vinha para a agricultura biológica.

 

Uma experiência única de Turismo, Gastronomia e Vinhos

Visitar a Quinta da Teixuga e a sua adega é uma viagem no tempo. Ao percorrer as vinhas e a adega, os visitantes podem conhecer de perto o processo de produção dos vinhos e apreciar a beleza da paisagem. Provar os seus vinhos é uma boa oportunidade para descobrir a sua complexidade e elegância.

Na adega Caminhos Cruzados todas as atividades começam com uma visita guiada, uma imersão nas paisagens e processos vitivinícolas da região do Dão. O circuito tem início no exterior, próximo das vinhas, onde os visitantes são contemplados com uma vista panorâmica da Serra do Caramulo. Nesse momento é apresentada a história da empresa, desde sua fundação, em 2012, até os dias atuais, além de uma breve e objetiva explicação sobre os vinhedos, que se estendem para além da Quinta da Teixuga. A visita inclui uma introdução às características geográficas e vitivinícolas da região do Dão.

Em seguida, os visitantes são conduzidos ao setor de produção, localizado no subsolo da adega. Neste espaço é explicada cada etapa do processo, desde a colheita até o processamento das uvas. O tour passa então pelas cubas de inox, onde são abordadas as diferenças entre os tipos de fermentação, destacando as distinções entre as cubas cilíndricas e as troncocónicas.

A visita continua pela área de enchimento e rotulagem, onde os participantes conhecem os processos de finalização do produto e podem observar o laboratório, onde a enóloga Carla Rodrigues realiza análises detalhadas e define os lotes finais dos vinhos.

O ponto alto da visita é a deslumbrante sala das barricas, que impressiona todos os que percorrem o seu interior. Neste espaço, os visitantes são apresentados aos diferentes estágios de envelhecimento em madeira, um processo essencial para a qualidade dos vinhos produzidos na adega. No final, as pessoas são direcionadas para o local onde participarão na atividade escolhida, encerrando uma experiência enriquecedora no mundo do turismo de vinhos.

Viagem gastronómica

A cozinha do restaurante está sob o comando do talentoso chef Miguel Vidal, que combina ingredientes regionais com influências da sua experiência internacional, oferecendo uma verdadeira viagem gastronómica, que destaca a autenticidade dos produtos locais com toques inspirados nas passagens por vários países.

Entre as suas especialidades encontram-se pratos como Bacalhau com broa, Escabeche de truta, Vitela em púcara de barro preto e o tradicional Arroz de carqueja em vinha d’alhos, que encantam pelo sabor e apresentação cuidadosa.

Além do cardápio regular, o chef oferece a possibilidade de se realizar experiências gastronómicas personalizadas. Com reserva prévia, pode criar menus exclusivos, ajustados às preferências e ocasiões específicas dos clientes, seguindo um conceito tailor made que garante um toque único em cada refeição. Para aproveitar esses almoços ou jantares especiais, acompanhados pelos vinhos da adega, é necessário agendar com pelo menos 24 horas de antecedência.

Seja através de uma visita breve ou de uma imersão completa, a Caminhos Cruzados proporciona uma experiência única: a alegria que surge da perfeita harmonia entre o vinho, a natureza e a inovação na tradição.

Caminhos Cruzados
A cozinha do restaurante está sob o comando do talentoso chef Miguel Vidal, que combina ingredientes regionais com influências da sua experiência internacional.

 

CADERNO DE VISITA

 COMODIDADES

– Kids friendly

– Línguas faladas: inglês, espanhol

– Loja de vinhos

– Diversas salas com capacidades máximas de 8 a 40 pessoas para diferentes atividades e refeições

– Parque para automóveis ligeiros e autocarros

– Provas comentadas (ver programas)

– Conceito open kitchen com o chef Miguel Vidal

– Turismo acessível

– Wifi gratuito disponível

– Visita às vinhas

Slow tourism (conceito de receber sem apressar o visitante, com abertura para poder caminhar livremente pela quinta ou apreciar um vinho à lareira, por exemplo)

EVENTOS

Corporativos

Atividades team building

Privados variados, incluindo aniversários, reuniões familiares, despedidas de solteiro (a) e batizados

 

PROGRAMAS DE ENOTURISMO

VISITA À ADEGA & PROVA DE 3 VINHOS

Duração média da experiência: 60 minutos

Horários: 11h/14.30h/16.30h de segunda a sábado

Limite mínimo de visitantes: 2

Limite máximo de visitantes: Não tem

Preço: 15€/Pax

VISITA À ADEGA, VINHA & PROVA DE 3 VINHOS PREMIUM

Tábua de enchidos e queijos. A tábua vegetariana necessita de marcação prévia de 24 h.

Duração média da experiência: 90 minutos

Horários: 11h/14.30h/16.30h de segunda a sábado

Limite mínimo de visitantes: 2

Limite máximo de visitantes: 28 sentados e 40 de pé

Preço: 30€/Pax

WINE AND FOOD

Atividade composta por visita à adega/quinta seguida de almoço vínico. As provas são harmonizadas com a gastronomia local. Opção vegetariana. necessita de marcação prévia de 48h

Duração da visita e almoço: 120-150 min

Horários: 12.30h de segunda a sábado

Limite mínimo de visitantes: 2

Limite máximo de visitantes: 28 sentados e 40 de pé

Preço: Almoço 50€/Pax; Jantar 55€/Pax

ENOLOGIA CRIATIVA

Nesta atividade o visitante poderá criar e engarrafar o seu próprio vinho, loteando e produzindo amostras para chegar ao perfil que gosta mais. No final leva a garrafa, para partilhar a experiência com os amigos ou família.

Duração média da atividade: 120 min

Horários: 11h/15h de segunda a sábado

Limite mínimo de visitantes: 2

Limite máximo de visitantes: 10 (equipas de 2)

Preço: 40€/Pax

PIQUENIQUE NA VINHA

Inclui prova de vinhos, um cesto de piquenique com uma garrafa de vinho, uma garrafa de água, compotas, pão regional, biscoitos, enchidos, queijo e fruta.

Duração da visita: Ilimitada.

Horários: A partir das 10.30h de segunda a sábado

Limite mínimo de visitantes: 2

Limite máximo de visitantes: Não tem

Preço: 40€ (2 Pax)

PROVA VINHO E CHOCOLATE

Nesta experiência, que agradará aos amantes de vinhos e de chocolates, são harmonizados cinco bombons com quatro vinhos.

Duração média: 90 min.

Horários: 11h/14.30h/16h de segunda a sábado

Limite mínimo de visitantes: 2

Limite máximo de visitantes: 20

Preço: 25€/Pax

PEDDY PAPER NA VINHA

O objetivo é passar um momento divertido com familiares e amigos a descobrir pistas no meio de uma vinha, através da leitura e descodificação de um road-book. Após o jogo, recupera-se a energia com a prova de um vinho na adega.

Duração média do jogo: 90 min

Horários: 11h/15h de segunda a sábado

Limite mínimo de visitantes: 2

Limite máximo de visitantes: Não tem

Preço: 20€/Pax

JOGO DOS AROMAS

O Jogo dos Aromas permite, aos jogadores, pôr à prova a sua capacidade de identificar os aromas do vinho, envolvidos em contexto vitícola.

Duração média do jogo: 90 min

Horários: 11h/14.30h/16.30h de segunda a sábado

Limite mínimo de visitantes: 2

Limite máximo de visitantes: 24

Preço: 20€/Pax

WINE SURPRISE

Partilha de o espaço da adega criar e oferecer surpresas aos outros.

WORKSHOPS

Possibilidade de participar em workshops temáticos criados pela Caminhos Cruzados, que são anunciados num futuro próximo.

EVENTOS CORPORATIVOS

Espaço único para eventos especiais, team buildings e formações com possibilidade de conhecer a adega e os seus vinhos.

CONTACTOS

Adega Caminhos Cruzados

Quinta da Teixuga, Estrada Municipal Algeraz – Carvalhal Redondo

3520-011 Nelas – Portugal

Tel.: +351 232 940 195

Email: enoturismo@caminhoscruzados.net

Responsável pelo Enoturismo – Luis Filipe

Notas

Aos domingos e feriados é necessária marcação prévia.

Preços especiais para crianças.

Nota: o autor escreve segundo o novo acordo ortográfico