Os vinhos do Engenheiro

Edição nº11, Março 2018 Lançamento Singellus. Singelo. Pureza. Uma maneira singela, mas assertiva, de fazer as coisas. Era assim Belmiro de Azevedo e agora assim são, em forma de legado, cinco novos vinhos produzidos na quinta da família. TEXTO Mariana Lopes FOTOS Anabela Trindade “Por, em jovem, ainda me ter dedicado à agricultura, resolvi regressar […]

Edição nº11, Março 2018

Lançamento

Singellus. Singelo. Pureza. Uma maneira singela, mas assertiva, de fazer as coisas. Era assim Belmiro de Azevedo e agora assim são, em forma de legado, cinco novos vinhos produzidos na quinta da família.

TEXTO Mariana Lopes
FOTOS Anabela Trindade

“Por, em jovem, ainda me ter dedicado à agricultura, resolvi regressar para lançar um conceito de porte ambicioso, delegando no verdadeiro mestre a orientação hábil dos vinhos.”

Belmiro Mendes de Azevedo referia-se a Anselmo Mendes nesta declaração. De mestre para mestre. A amizade já existia e a consideração profissional também – por isso, uma parceria deste género nunca seria de estranhar.
“O Engenheiro”, como era conhecido, dentro da Soane, o empresário de Marco de Canavezes, passou os seus últimos anos entre ofícios agrícolas na Quinta de Ambrães, pequena propriedade da família Mendes de Azevedo, nas encostas do Vale do Tâmega. Juntamente com a sua esposa, uma farmacêutica aficionada pela botânica, transformou aquele sítio num jardim vivo, e isso serviu de inspiração para o logo e rótulos Singellus, que mostram uma árvore com cachos de uvas, outros frutos e também flores.
Com o nome da quinta já saíam os vinhos Vale de Ambrães, referências de perfil mais simples com destino às grandes superfícies do grupo Sonae. Belmiro disse, ao “Expresso”, em 1999: “Fiz obras na casa que era dos meus pais e adoro ir para lá com a família toda. A minha mulher fez lá um enorme jardim, metade da quinta são flores e a outra metade é com o meu vinho verde, o Vale de Ambrães (…) Em frente da minha casa há uma montanha verde chamada Montedeiras, eu sento-me ali a ler e a olhar e é tão bom como ouvir Mozart, Chopin ou Beethoven… ou apreciar um quadro naturalista.”
Tendo arrancado há dois anos, o projecto Singellus traz três monocastas com esse nome, Loureiro, Alvarinho e Avesso; dois Singellus Private, um Alvarinho e um Avesso; e ainda o Solto, um entrada de gama e o único cujas uvas provêm dos três hectares de vinha da Quinta de Ambrães (funcionando o resto em contratos de viticultura). A gestão, apesar da incontornável ligação à família, é puramente profissional e cabe à Realejo, uma das empresas da Efanor, a holding que representa a família Azevedo no mundo Sonae.

Anselmo Mendes é o enólogo dos Singellus

Pedro Castro, uma das caras do empreendimento, explicou: “Cientes do desafio que é introduzir uma nova marca de vinhos num mercado cada vez mais competitivo e recheado de boas referências, o projeto Singellus junta a mestria na estratégia e gestão de Belmiro de Azevedo com a perícia de Anselmo Mendes em expressar as melhores características de cada casta, harmonizando-as com habilidade.” A Realejo revelou, ainda, que “estar inserido num grupo agrícola com outras vertentes tem as suas vantagens”: “Na vindima, as uvas vão para as câmaras frias da nossa empresa de quivis, que as consegue baixar à temperatura ideal para a posterior fermentação.”
O Solto é um blend de Alvarinho, Arinto, Loureiro e Trajadura da vinha da Quinta de Ambrães. Essa vinha tem parcelas com quatro e cinco anos e, segundo Pedro e Anselmo, tem maturidade a ganhar antes que as suas uvas possam integrar os outros vinhos. Os três varietais Singellus são vinificados em inox e os dois Private em madeira nova de carvalho francês, tendo sido feitas apenas 1000 garrafas do Alvarinho e 2000 do Avesso. Sobre estas duas edições limitadas, Anselmo Mendes revelou que “o estágio sobre borras totais é essencial e o processo de vinificação é igual para os dois”, e sobre a madeira desvendou: “O meu objectivo é sempre que a madeira passe despercebida, mas no Private Alvarinho sente-se um toque dela; o Avesso portou-se ainda melhor nesse aspecto.” E é verdade: com todos os vinhos a mostrarem uma qualidade inerente à do seu artesão, o Singellus Private Avesso foi o ponto alto da prova.

Quatro novidades e mais histórias das Servas

Ricardo Constantino, André Lourenço Marques, Luis Serrano Mira e Carlos Serrano Mira Edição nº11, Março 2018 Lançamento O começo da nova aventura da família Serrano Mira data de 1998, mas há mais história para trás e estes produtores reclamam para si uma tradição que vem de 13 gerações ligadas ao vinho. Mas, mesmo com esse […]

Ricardo Constantino, André Lourenço Marques, Luis Serrano Mira e Carlos Serrano Mira

Edição nº11, Março 2018

Lançamento

O começo da nova aventura da família Serrano Mira data de 1998, mas há mais história para trás e estes produtores reclamam para si uma tradição que vem de 13 gerações ligadas ao vinho. Mas, mesmo com esse passado, é com um pé no futuro que pretendem estar. Voltaram a Lisboa para trazer quatro novos vinhos, dois em estreia absoluta.

TEXTO João Paulo Martins
FOTOS Cortesia do produtor

Para os leitores da Grandes Escolhas, ouvir falar da Herdade das Servas, e dos novos vinhos que vão colocando no mercado, já se tornou um hábito. Um hábito bom que também nos diz que a família Serrano Mira quer mostrar o que de novo vai produzindo e tem a preocupação de o fazer periodicamente. Entre muitos outros métodos, este é um, bem útil para que o nome Servas continue a fazer parte do quotidiano dos consumidores. Este momento foi agora o escolhido para anunciar que as Servas vão apoiar a edição de um livro onde se irá contar a história da família, recuando até 1667. É essa herança de 13 gerações que querem assumir e a nova inscrição nas garrafas quer dizer isso mesmo: Family Winegrowing Legacy. O momento escolhido foi apenas usado para mostrar quatro novidades.
A Herdade das Servas fica no concelho de Estremoz e ocupa uma área de 350 hectares, com as vinhas espalhadas por oito parcelas, muitas delas plantadas recentemente mas também com algumas a mostrarem a bonita idade de 70 anos. Solos variados, ligeiras diferenças de altitude das parcelas e o clima específico de Estremoz explicam a diversidade dos vinhos produzidos. Os trabalhos de viticultura e enologia, a cargo de Ricardo Constantino e os irmãos Carlos e Luís Mira, abrangem as 11 castas tintas e as 9 brancas plantadas na sua propriedade.
Os novos vinhos agora apresentados incluem a nova edição do branco Reserva, do tinto Vinhas Velhas e, em estreia, dois vinhos licorosos: um branco de Colheita Tardia e um Licoroso tinto. Ambos respondem a novas tendências do consumo. Os licorosos tintos sempre foram produtos escondidos e muito pouco divulgados, tradicionalmente ligados a algumas adegas cooperativas. No entanto, mesmo no Alentejo, havia tradição antiga (caso do Mouchão) de fazer este tipo de vinho, inspirado no Vinho do Porto. Nos anos mais recentes surgiram vários licorosos alentejanos no mercado e há assim campo para a divulgação deste tipo de vinho. São normalmente uma grande surpresa em prova cega. Os colheita tardia são vinhos que estão a interessar produtores um pouco por todo o país e temos vindo a conhecer novas marcas todos os anos. Ambos, embora feitos em quantidades muito pequenas, podem ser produtos bem interessantes e que valorizam o portefólio.


O Reserva branco estagia 9 meses em barrica mas só 50% corresponde a barrica nova. Tem Arinto (50%), com Verdelho e Alvarinho em partes iguais. O vinhas velhas tinto vai na quarta edição, vem de vinha velha com mais de 50 anos implantada em terrenos pedregosos, de baixa produção. Inclui Alicante Bouschet, Trincadeira, Touriga Nacional e Petit Verdot, por ordem de importância no lote. O estágio prolongou-se por 18 meses em carvalho francês e americano, mas, dizem-nos, no futuro será apenas francês.
O licoroso tinto resulta de um conjunto de três castas, o Alicante Bouschet em 60% e depois Trincadeira e Aragonez em partes iguais. São várias as colheitas que entram no lote e por isso não tem data de colheita. Estagiou 24 meses em barricas usadas e mais um ano em inox. É comercializado em meias-garrafas e terá edição anual daqui em diante.
A outra novidade, o colheita tardia, resulta de uvas da castas Sémillon, parcialmente atacadas de botrytis (podridão nobre), a que se juntaram outras apenas desidratadas pelo longo tempo que passaram na vinha. Foram vindimadas ao mesmo tempo. A parcela, plantada em 2007, tem apenas 2ha e é uma vinha não regada. A vindima foi em Outubro. Fermentou e estagiou em inox durante 18 meses. É comercializado em meias-garrafas.

Caves São João comemoram 97

Quase na reta final para o centenário das Caves São João, surge o vinho que assinala os 97 anos desta empresa tão clássica da Bairrada. Caves São João 97 Anos de História tinto 2014 é um Baga estreme muito elegante e leve (12,5% de álcool), de um ano difícil para as uvas tintas da Bairrada, […]

Quase na reta final para o centenário das Caves São João, surge o vinho que assinala os 97 anos desta empresa tão clássica da Bairrada. Caves São João 97 Anos de História tinto 2014 é um Baga estreme muito elegante e leve (12,5% de álcool), de um ano difícil para as uvas tintas da Bairrada, devido ao chuvoso mês de Setembro. José Carvalheira, enólogo da casa, confirmou dizendo que “Só com uma viticultura muito cuidada é que conseguimos fazer este Baga em 2014”. Lembrou, ainda: “Pela primeira vez em alguns anos decidimos criar um vinho que fosse 100% desta casta”. Fermentado em lagar, estagiou 12 meses em carvalho, 18 meses em cubas de cimento e três meses em garrafa.

Da esquerda para a direita: Fátima Flores, Manuel José Costa, Célia Alves, Gonçalo Soares e José Carvalheira

Como já é habitual, o rótulo e a caixa abordam um tema especial e marcante para o Mundo e a Humanidade. Nesta edição, o foco é na preocupação ambiental, com o desenho de uma árvore cujo tronco é uma mão a suportar a copa, numa ideia de protecção. A inspiração, segundo a gestora Célia Alves, remonta à década de 90, à conferência das Nações Unidas conhecida por Eco-92, onde os chefes dos Estados-membros debateram os problemas ambientais mundiais. E, por esta razão, o vinho foi apresentado no centro de um monumento do escultor Armando Martinez, na Mealhada. Um conjunto de sete blocos de pedra com formas petroglíficas, a perfazer um círculo, que simbolizam a ligação “mágica” do Homem à Terra e o agradecimento ao Universo. Seguiu-se uma belíssima refeição, com prova do novo vinho, no restaurante Magnun’s & Co do Chef Gonçalo Soares.

Do 97 Anos de História foram feitas 3908 garrafas e o seu preço na prateleira é €45.

A colecção “Rumo ao Centenário”, um lançamento por ano