O vinho Madeira e a ligação à Noruega

O que têm a ver as comemorações do Bicentenário da Travessia do Restauration com a candidatura das Tradições do Vinho Madeira a Património Imaterial da Humanidade da UNESCO? Em 1825, o navio Restauration transportou o primeiro grupo de noruegueses para Nova Iorque. Durante a viagem, a enorme embarcação fez, a 28 de Julho desse ano, […]

O que têm a ver as comemorações do Bicentenário da Travessia do Restauration com a candidatura das Tradições do Vinho Madeira a Património Imaterial da Humanidade da UNESCO?

Em 1825, o navio Restauration transportou o primeiro grupo de noruegueses para Nova Iorque. Durante a viagem, a enorme embarcação fez, a 28 de Julho desse ano, uma paragem no porto do Funchal, na ilha da Madeira, mas antes, e segundo relatos históricos, a tripulação deparou-se com um barril de vinho Madeira a flutuar no oceano. Os passageiros, embriagados, foram recebidos com generosidade pela população local, que lhes ofereceu comida. Duzentos anos depois, a viagem comemorativa do Restauration – de Stavanger a Nova Iorque – torna a incluir a Madeira na rota.

E no âmbito do Bicentenário da Travessia do Restauration, o dia 30 de Julho está marcado por duas mostras gastronómicas, que contemplam as cozinhas madeirense e norueguesa. A primeira decorre às 12:30, no Porto do Funchal, e segunda tem lugar às 19:30, no Colégio dos Jesuítas. As duas acções contam com a participação do chef Bjarte Finne, membro ativo do movimento Slow Food e Embaixador de Bergen – Cidade Criativa da Gastronomia da UNESCO.

Na mesma data, decorrem visitas guiadas às vinhas tradicionais das costas Norte e Sul da ilha. Esta iniciativa assinala o arranque do projecto HeViTOUR MAD, centrado na valorização da viticultura heroica da Madeira, tendo esta candidatado as Tradições do Vinho Madeira à distinção de Património Cultural Imaterial da Humanidade da UNESCO.

Esta acção é promovida pela Universidade da Madeira, em parceria com a Embaixada da Noruega, a Slow Food de Bergen, a Cátedra UNESCO do Património Cultural Imaterial da Universidade de Évora, Instituto do Vinho, do Bordado e do Artesanato da Madeira, Blandys e The Views Hotels, entre outras entidades.

Vinho do Porto e Madeira mencionados em popular publicação de dietas de 1863

Letter on Corpulence, Addressed to the Public (1863), foi um dos primeiros e mais populares livros sobre dietas, escrito pelo londrino William Banting (1797-1878). William era um agente funerário pertencente à classe média-alta, cuja família teve os direitos de enterro da família real britânica durante cinco gerações, até 1928. Além disto, foi também o primeiro a […]

Letter on Corpulence, Addressed to the Public (1863), foi um dos primeiros e mais populares livros sobre dietas, escrito pelo londrino William Banting (1797-1878).

William era um agente funerário pertencente à classe média-alta, cuja família teve os direitos de enterro da família real britânica durante cinco gerações, até 1928. Além disto, foi também o primeiro a popularizar uma dieta baixa em hidratos de carbono e elevada em gorduras, que acabou por ser a base de muitas dietas da época moderna.

Tudo começou quando Banting – homem de estatura baixa que aos 66 anos pesava quase 100 kg – notou que estava a ter graves problemas na sua visão e audição. Depois de procurar opinião e tratamento junto de vários médicos, o agente funerário encontrou um cirurgião auditivo que relacionou a falência de audição com o excesso de gordura de William. Assim, o cirurgião prescreveu-lhe uma dieta que cortava em pão, manteiga, leite, açúcar, cerveja e batatas, e obrigava a fazer quatro refeições por dia, compostas por carne, vegetais, fruta e vinho (seco). Resultado: a dieta funcionou, em apenas alguns meses Banting perdeu cerca de 20 kg e, no total, quase 40 kg, tendo a sua audição melhorado drasticamente. Entusiasmado com o método, William Banting decidiu, em 1863, publicar o seu testemunho, uma espécie de fascículo intitulado Letter on Corpulence, Adressed to the Public, onde documentou a sua alimentação durante o período de restrição e algumas das suas típicas refeições. Num excerto desta publicação, pode ler-se:

“Para jantar, 150 gramas de qualquer peixe excepto salmão, ou qualquer carne excepto porco, qualquer vegetal excepto batata, uma torrada seca, fruta, qualquer tipo de ave, e dois ou três copos de um bom vinho clarete [que para um inglês clássico significa Bordéus], Xerez ou Madeira. Champagne, vinho do Porto e cerveja são proibidos”.

Será seguro assumir que o vinho português é parte importante de uma dieta saudável, desde o século XIX? Aqui anuímos, até prova em contrário.

Mariana Lopes

Vinhos Madeira do século XVIII e XIX vão a leilão

Um lote de raros vinhos Madeira descobertos em Julho do ano passado num museu de New Jersey vai a leilão, em Nova Iorque, a 7 de Dezembro. As cerca de duas dezenas de garrafas e quatro garrafões de cinco galões (18,9 litros) foram datadas de meados do século XIX até finais do século XVIII. Francisco […]

Um lote de raros vinhos Madeira descobertos em Julho do ano passado num museu de New Jersey vai a leilão, em Nova Iorque, a 7 de Dezembro. As cerca de duas dezenas de garrafas e quatro garrafões de cinco galões (18,9 litros) foram datadas de meados do século XIX até finais do século XVIII. Francisco Albuquerque, enólogo da Madeira Wine Company, autenticou e classificou os vinhos, que foram novamente rolhados, com a assistência da Apcor, a Associação Portuguesa da Cortiça.
A notícia da descoberta dos vinhos, encontrados numa sala esquecida do Liberty Hall Museum durante obras de requalificação, foi saudada com grande interesse nos EUA, visto algumas das garrafas serem quase tão antigas como o próprio país (a Declaração de Independência data de 4 de Julho de 1776). E esse interesse ganhou novo fôlego com o anúncio do leilão. O museu, situado no campus da Kean University, guardou uma parte dos achados e vai exibi-los numa área intitulada “História numa Garrafa” – a receita do leilão vai financiar as obras que equiparão o edifício com acessos para pessoas com deficiência.