Concurso Vinhos de Portugal 2023 volta a apurar os melhores do país

Concurso Vinhos Portugal

Serão 1380 as referências avaliadas na décima edição do Concurso Vinhos de Portugal, que acontecerá de 8 a 12 de Maio de 2023. Este número foi revelado pela organizadora do concurso, a ViniPortugal, que avançou também que o Júri Regular — responsável pelas primeiras sessões de prova — será constituído por 135 especialistas da área, […]

Serão 1380 as referências avaliadas na décima edição do Concurso Vinhos de Portugal, que acontecerá de 8 a 12 de Maio de 2023. Este número foi revelado pela organizadora do concurso, a ViniPortugal, que avançou também que o Júri Regular — responsável pelas primeiras sessões de prova — será constituído por 135 especialistas da área, 111 nacionais e 24 internacionais, sobretudo enólogos, sommeliers, jornalistas e wine educators.

Entre os jurados internacionais, destacam-se Bob Paulinski MW e John Lancaster dos EUA; Ewa Starzycka, Wojciech Starzycki e Adam Tomczak da Polónia; Martin Mortensen, da Suécia; Mike Turner, do Reino Unido; Michelle Carlín, do México; Thomas Vaterlaus, da Suíça; Yumi Tanabe, do Japão; Joseph Cho, da Coreia do Sul; Sebastião Vemba, de Angola e Michael Tremblay, do Canadá.

Nos dias 11 e 12 de Maio, o Grande Júri reunirá na CVR Beira Interior, na Guarda, para a segunda fase do concurso, momento em que irá eleger os Grande Ouro e os Melhores no Ano, que serão revelados na Cerimónia de Entrega de Prémios, no dia 12 de Maio, em Pinhel.

Segundo a ViniPortugal, o Concurso Vinhos de Portugal 2023 “distinguirá, pelo décimo ano consecutivo, os melhores vinhos nacionais, pela sua qualidade ímpar, orientando e motivando produtores a lançarem vinhos diferenciadores que contribuam para posicionar Portugal enquanto produtor de referência nos mercados de exportação”. Neste âmbito, e à semelhança das edições anteriores, “a ViniPortugal garantirá ainda a presença dos vencedores das medalhas Grande Ouro e Ouro em eventos internacionais deste ano”.

Quinta d’Amares Alvarinho é o grande vencedor dos “Melhores Verdes 2023”

Melhores Verdes

O concurso “Os Melhores Verdes 2023”, organizado pela Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes (CVRVV), voltou à Alfândega do Porto para entregar os seus prémios, desta vez a 88 vinhos, em 14 categorias diferentes. O Quinta d’Amares Alvarinho branco 2022 foi o grande vencedor desta edição, com Grande Medalha de Ouro. Segundo a […]

O concurso “Os Melhores Verdes 2023”, organizado pela Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes (CVRVV), voltou à Alfândega do Porto para entregar os seus prémios, desta vez a 88 vinhos, em 14 categorias diferentes. O Quinta d’Amares Alvarinho branco 2022 foi o grande vencedor desta edição, com Grande Medalha de Ouro.

Segundo a CVRVV, houve um aumento de 35% nas inscrições face ao ano anterior, totalizando 294 amostras provadas por um júri especializado, composto por profissionais de vária áreas do sector. Destaca-se, ainda, “a tendência crescente de inscrições de colheitas antigas e um acréscimo na categoria Alvarinho”, revela a CVRVV.

“Os vinhos com estágio têm cada vez mais expressão, em resultado da valorização crescente em que trabalhamos, confirmando perfis de vinhos que evoluem com o tempo e que se revelam com um enorme potencial de oferta e de procura. Ao mesmo tempo, é muito gratificante registarmos um recorde de participações que legitima, ano após ano, a importância deste concurso para a região dos Vinhos Verdes, que trabalha conjuntamente para afirmar a qualidade”, destaca Dora Simões, Presidente da CVRVV.

O júri destacou 15 vinhos com medalha de Ouro e 17 de Prata, com 55 referências a receber medalha de Honra. Os premiados foram agrupados nas categorias Vinhos Verdes Brancos, Rosados, Tintos, de Casta, Vinho Verde Branco com estágio, Vinho Verde Alvarinho com estágio, Vinho Verde de Varietal com estágio, Vinho Regional Minho com estágio, Vinhos Verdes Alvarinho, Vinhos Verdes Avesso, Vinhos Vedes Arinto, Vinhos Verdes Loureiro, Espumantes de Vinho Verde e Aguardentes de Vinho Verde.

“Os Melhores Verdes 2023” | Grande Medalha de Ouro:

“Os Melhores Verdes 2023” | Categoria Ouro:

“Os Melhores Verdes 2023” | Categoria Prata:

Editorial: Do vinoso comum à mineralidade

Editorial

O trabalho de Valéria Zeferino, publicado nesta edição, sobre o conceito de “mineralidade”, palavra hoje usada e abusada na descrição de vinhos, suscitou-me alguma reflexão sobre a natureza das notas de prova. Na verdade, entre a austeridade mais espartana e os delírios mais imaginativos, há margem para tudo.   Editorial da edição nrº 72 (Abril 2023) […]

O trabalho de Valéria Zeferino, publicado nesta edição, sobre o conceito de “mineralidade”, palavra hoje usada e abusada na descrição de vinhos, suscitou-me alguma reflexão sobre a natureza das notas de prova. Na verdade, entre a austeridade mais espartana e os delírios mais imaginativos, há margem para tudo.

 

Editorial da edição nrº 72 (Abril 2023)

Descrever um vinho pode ser extremamente complexo. Ou, ao invés, a coisa mais fácil do mundo. Depende, basicamente, do estilo e, se quisermos, da seriedade de quem o faz. O estilo varia imenso de provador para provador, sejam produtores, enólogos ou críticos. De tal forma que, quando lemos centenas ou milhares de notas de prova, acabamos por associar determinados estilos (ou até descritores) a determinados avaliadores. Lembro-me que, quando comecei a escrever sobre vinhos, em 1989, havia um reputado provador profissional que iniciava todas descrições de vinho tinto com “cor rubi de laivos granada, espuma fugaz rosada e aroma vinoso comum”. Do mesmo modo, duas décadas mais tarde, também não precisaria de pensar muito para de imediato identificar o autor de algo como “repleto de energia, de uma mestria de aromas e sabores quase sinfónica, seduz corajosamente pela fruta farta, pela dimensão imensurável, pela alegria tensa de um final explosivo, mas supinamente elegante.” Mais recentemente, o exótico “aroma peitoral” tem também autoria segura.

Mas a verdade é que a adjectivação, quando não demasiado rebuscada, ajuda muito a descrever um vinho: sólido, elegante, gordo, leve, intenso, discreto, exuberante, são descritores que apontam para diferentes perfis de vinho. Mais complexa é a associação a determinados aromas/sabores, pois nem todos são facilmente reconhecíveis pelo provador e, sobretudo, pelo leitor/consumidor. Todos temos memória olfactiva ou gustativa de limão, menta, amora, cereja, avelã, chocolate, apenas para citar alguns exemplos mais simples. Mas ainda assim, o enquadramento geográfico ou cultural de quem lê (ou ouve) a descrição do vinho é fundamental. Quantas pessoas, em Angola, comeram amoras ou cerejas? Ou, para não irmos tão longe, quantos portugueses “da cidade” cheiraram poejos?

Talvez o caso mais típico deste desfasamento cultural seja a tão conhecida (ou desconhecida…) bergamota, quase obrigatoriamente associada à casta Touriga Nacional. Porquê dizer que um vinho cheira a bergamota quando quase ninguém em Portugal (ou no mundo) cheirou ou provou este citrino verde em forma de pêra, oriundo do sul de Itália e que serve, sobretudo, para fazer óleos essenciais? Com a confusão adicional de, na principal região vinícola do Brasil, Rio Grande do Sul, chamarem bergamota à tangerina…

Por outro lado, existem descritores que acabam por se tornar moda, utilizados para quase todos os vinhos supostamente “nobres”. É o caso do famoso “mineral”, foco do artigo que citei na entrada desta peça. Num restaurante de “fine dining”, é raro o sommelier que não enfatize a “mineralidade” do vinho que está a sugerir; do mesmo modo que é raro o “mineral” escapar à nota de prova de um branco ou tinto mais ambicioso. Se tivéssemos presente que os aromas minerais, (casos da pólvora ou do sílex, por exemplo), nada tem a ver com os minérios presentes no solo (ao contrário do que muitos pensam), e que a sensação de mineralidade na boca está sobretudo associada à acidez, talvez fossemos um pouco mais comedidos na utilização deste descritor.

Mas pouco importa. Felizmente, todos nós, profissionais ou consumidores, somos livres de descrever um vinho como muito bem nos apetecer. O vinho é isso mesmo, prazer e liberdade. Uma coisa, porém, posso garantir: se um dia ler que um vinho cheira a “erva recém cortada por carneiro velho na encosta Norte da Serra da Estrela”, vou a correr comprar uma garrafa. Não quero morrer ignorante.

The Macallan: As novidades chegam de Spey

The Macallan

Falar de The Macallan é entrar num mundo à parte no que toca a whisky escocês. A marca foi criada em 1824 e a destilaria localiza-se em Spey, uma das seis zonas “demarcadas” do whisky escocês. Localiza-se no nordeste da Escócia, a zona que concentra um maior número de destilarias. Actualmente, ainda existem mais de […]

Falar de The Macallan é entrar num mundo à parte no que toca a whisky escocês. A marca foi criada em 1824 e a destilaria localiza-se em Spey, uma das seis zonas “demarcadas” do whisky escocês. Localiza-se no nordeste da Escócia, a zona que concentra um maior número de destilarias. Actualmente, ainda existem mais de 120 destilarias, desde as mais pequenas e familiares até gigantes como Glenfiddich e The Glenlivet, provavelmente as duas únicas empresas que estarão à frente da The Macallan (que estará a caminho do 15 milhões de litros/ano) em termos do whisky produzido. O nome “The Macallan” está há muitos anos associado quer a produtos de larga divulgação, como os 12 (entre 70 e 90 euros), 15, 18 e 30 anos, até produções limitadas e datadas que fazem enlouquecer os coleccionadores e tornam os preços verdadeiramente estratosféricos, com garrafas a custar mais de 20 mil euros, à venda em várias garrafeiras de Londres. The Macallan inaugurou em 2018 uma nova destilaria, verdadeira obra de arte, de dimensão gigante e que contempla também uma enorme área de enoturismo, num investimento de perto de 155 milhões de euros.

Os apreciadores de single malt gostam também da forma como é envelhecido, em double cask, com a segunda passagem a ser feita em cascos, ora de Jerez, de Porto ou, mais recentemente, de cascos adquiridos em regiões como Sauternes ou Borgonha. Existe um acordo de cavalheiros para que não seja indicado a origem específica do casco, apenas a região. Este apuramento final dá ao whisky o seu toque particular que vai depois distinguir este de um outro, de outra destilaria, e com outro acabamento. Crê-se que o tipo de vinho que o casco teve (Porto, por exemplo) é mais determinante para o aroma final do que a origem da madeira propriamente dita.

A Empor (distribuidora em Portugal) promoveu a apresentação do The Macallan Harmony Collection. Depois de em 2021 ter apresentado o Rich Cacao, a The Macallan trouxe agora o Intense Arabica, um whisky pensado para ser consumido com café. Para se chegar ao produto final, equilibrado nas notas de whisky e café, estiveram envolvidos produtores, torrefactores, distribuidores, baristas e vendedores. Por curiosidade, é sugerido que se trinquem grãos de café (um a um) e se acompanhe com o whisky. Uma outra ligação clássica é o The Macallan Sherry Oak 12 anos com Roquefort. Uma tentação.

(Artigo publicado na edição de Março de 2023)

Vinhos Adega de Borba com nova imagem

adega de borba imagem

A Adega Cooperativa de Borba aproveitou o lançamento das novas colheitas da gama Adega de Borba, de 2022, para apresentar ao mercado uma nova imagem destes vinhos. A marca, a mais importante do portfólio da Adega de Borba, mantém o distinto “B” na imagem dos rótulos, mas, segundo a empresa, “agora mais jovem e diferenciador […]

A Adega Cooperativa de Borba aproveitou o lançamento das novas colheitas da gama Adega de Borba, de 2022, para apresentar ao mercado uma nova imagem destes vinhos.

A marca, a mais importante do portfólio da Adega de Borba, mantém o distinto “B” na imagem dos rótulos, mas, segundo a empresa, “agora mais jovem e diferenciador e apelando aos valores de sustentabilidade que a empresa vem aprofundando ao longo dos últimos anos, e que foram recentemente reconhecidos com a certificação no Programa de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo“.

Com origem em vinhas cultivadas em modo de Produção Integrada, os vinhos Adega de Borba de 2022 agora apresentados são três — branco, rosé e tinto — e têm um p.v.p. recomendado de €3,99. O branco é um lote de Roupeiro, Arinto e Antão Vaz; o rosé é feito de Aragonez e Syrah; e o tinto junta as castas Aragonez, Syrah e Alicante Bouschet.

Ainda de acordo com o produtor, “este novo ‘B’ remete-nos para a natureza onde as uvas são produzidas, e para o compromisso da Adega de Borba em trabalhar o vinho de uma forma sustentável. Sabemos que a nossa longa história no sector nos responsabiliza ainda mais perante a conservação dos recursos naturais que utilizamos nesta actividade, e queremos sublinhar a vontade de assegurar a perenidade dos mesmos para as gerações futuras. Fazer o melhor vinho só vale a pena se for compatível com melhor ambiente”.

Vídeo português sobre cortiça premiado no WorldMediaFestivals

The Corkologist APCOR

“The Corkologist” é uma produção portuguesa — lançada em Setembro, pela APCOR Associação Portuguesa da Cortiça — que recebeu o prémio Ouro nos WorldMediaFestivals – Television & Corporate Media Awards, na categoria “Marketing and Promotions: Marketing Strategies”. O vídeo sobre cortiça tem, segundo a APCOR, “o objectivo de reforçar o posicionamento da cortiça e dos […]

“The Corkologist” é uma produção portuguesa — lançada em Setembro, pela APCOR Associação Portuguesa da Cortiça — que recebeu o prémio Ouro nos WorldMediaFestivals – Television & Corporate Media Awards, na categoria “Marketing and Promotions: Marketing Strategies”.

O vídeo sobre cortiça tem, segundo a APCOR, “o objectivo de reforçar o posicionamento da cortiça e dos seus produtos à escala internacional, com uma difusão alargada em mercados-chave do sector da cortiça, como os EUA, a França, a Itália, a Espanha e o Reino Unido”.

Através da figura de Sarah Oakson, uma personagem inspirada na árvore sobreiro, o vídeo The Corkologist da APCOR apresenta, de forma inusitada, as características da cortiça enquanto material, as diferentes aplicações e o seu valor como parte de um património natural, económico e social.

O WorldMediaFestivals – Television & Corporate Media Awards, sediado em Hamburgo, na Alemanha, é um festival que visa celebrar a excelência em produções de televisão e cinema corporativo, a nível internacional.

Champagne Nicolas Feuillatte chega a Portugal com a Vinalda

Champagne Nicolas Feuillatte

A distribuidora Vinalda assumiu a representação em Portugal, de forma exclusiva, da marca de Champagne Nicolas Feuillatte, produzida pela Terroirs & Vignerons de Champagne, empresa que defende que “embora o Champagne seja um produto verdadeiramente excepcional, não são só os momentos excepcionais que merecem Champagne”. Segundo a Vinalda, o produtor “está entre os três maiores […]

A distribuidora Vinalda assumiu a representação em Portugal, de forma exclusiva, da marca de Champagne Nicolas Feuillatte, produzida pela Terroirs & Vignerons de Champagne, empresa que defende que “embora o Champagne seja um produto verdadeiramente excepcional, não são só os momentos excepcionais que merecem Champagne”.

Segundo a Vinalda, o produtor “está entre os três maiores operadores de Champagne e funciona num inovador modelo cooperativo, representando 5000 viticultores e 3000 hectares, ou seja, 9% da superfície da Denominação de Origem”.

“Ficamos muito satisfeitos por poder trazer esta marca icónica de Champagne para Portugal. Uma marca com um posicionamento de ‘luxo acessível’ e que tem um modelo económico justo”, afirma José Espírito Santo, director-geral da Vinalda.

No mercado nacional, serão comercializados os Champagne Nicolas Feuillatte Réserve Exclusive Brut; Réserve Exclusive Rosé; Organic Extra Brut e Collection Vintage Brut.

Dom Vicente: Regresso às origens

Dão Dom Vicente

Depois de muitos anos a viver em Angola, onde tem escritório, o advogado Vicente Marques, originário do Dão, decidiu, há quase sete anos, investir na produção de vinhos na sua terra. Hoje tem cerca de 100 hectares, duas adegas e produz também vinhos no Douro e no Algarve. Até agora, investiu cerca de 10 milhões […]

Depois de muitos anos a viver em Angola, onde tem escritório, o advogado Vicente Marques, originário do Dão, decidiu, há quase sete anos, investir na produção de vinhos na sua terra. Hoje tem cerca de 100 hectares, duas adegas e produz também vinhos no Douro e no Algarve. Até agora, investiu cerca de 10 milhões de euros.
Vicente Marques tem 56 anos. Nasceu no extremo oeste do concelho de Carregal do Sal, bem no seio da região do Dão, onde teve contacto com a terra desde tenra idade, numa região que praticava, na altura, principalmente uma agricultura de subsistência.
Vivia então com o avô, Manuel Vicente, já que o seu pai estava em França. “Sendo praticamente analfabeto, era uma pessoa com uma nobreza de caracter muito grande”, diz, acrescentando que ele e a avó são as grandes referências da sua vida. “Tudo o que possa fazer para os homenagear é muito pouco em relação ao que consegui colher dos seus ensinamentos”, explica, salientando que a vida que teve com eles até à adolescência contribuiu para ganhar um grande gosto pela natureza. E defende que, “embora o trabalho agrícola seja penoso e difícil, quando o fazemos com as pessoas certas pode tornar-se num momento de prazer”, acrescentando que era sempre com essa sensação que ficava quando estava com o seu avô. O nome Dom Vicente, que criou para a marca principal da sua empresa vitivinícola, a Artemis, é pois uma homenagem a Manuel Vicente.

Dão Dom Vicente
O espaço de enoturismo da Adega Dom Vicente, na Região do Dão, está inserido no meio das vinhas e do olival de uma propriedade com 25 hectares.

Experienciando o mundo

Esteve ainda, um período curto em França, mas voltou e frequentou o liceu em Carregal do Sal. Foi depois para Coimbra, com o objetivo de estudar Economia no início da década de 80. Mas não foi isso que aconteceu, porque precisava de sair de Portugal. Sentia que “o país estava estagnado” e queria ir para longe, viver noutro continente.
Optou pelo Canadá, onde esteve durante oito anos. Por lá trabalhou na rádio, em televisão (chegou a ser produtor na MTV) e colaborou em alguns jornais. Após algum tempo por terras canadianas, Vicente Marques pensou que tinha de fazer mais qualquer coisa dali para a frente. Ou dava mais um passo na sua carreira, indo até Los Angeles, nos Estados Unidos, para estudar Media e Cinema, ou regressava às origens. Optou por voltar e regressou à universidade, mas para cursar Direito na Universidade de Coimbra, onde se licenciou e fez mestrado, sempre a trabalhar ao mesmo tempo. Pouco depois de perceber, através de conversas com colegas mais velhos, que o país se mantinha num ritmo lento, decidiu ir de novo para fora. Quando surgiu uma oportunidade para dar aulas na Faculdade de Direito da Universidade Agostinho Neto, em Angola, candidatou-se ao concurso público e foi um dos dois dos candidatos selecionados. E assim mudou de novo de continente. “Sempre tive um fascínio por África, apesar de não ter familiares lá e, por isso, queria passar pela experiência de lá viver e trabalhar”, conta.
A vida em Angola não foi fácil, no início, e era só possível numa zona um pouco mais alargada do que a cidade de Luanda, “porque a insegurança era muito grande a partir daí”. A morte de Jonas Savimbi, em fevereiro de 2002, deu origem ao início do processo de paz, e Angola começou depois um novo caminho. Vicente Marques conta que, na altura, “havia grande procura de serviços jurídicos no âmbito da consultoria”, e começou a ser contactado, com frequência, por pessoas que os queriam prestados por profissionais com experiência internacional e conhecimento de línguas. Por isso decidiu abrir a sua empresa de advocacia, que tem hoje escritórios, para além de Angola, em Portugal e Moçambique. Quanto já estava próximo de fazer 50 anos, e depois de muitos anos em África, já com quatro filhos, começou a pensar em fazer algo que fosse disruptivo em relação ao que tinha feito até aí. Queria mudar de novo.

O Dão, de novo

O seu gosto pela natureza, e pela sua região, levou-o a investir na compra de terra no Dão, “para arrancar eucaliptos e plantar vinha, olival, produzir mel e ter alguns animais”. E foi assim, que a Artemis começou, há meia dúzia de anos. Hoje, Vicente Marques possui mais de 100 hectares de terra, que resultaram da junção de várias propriedades, num processo que implicou “muita paciência”. A quinta onde fica a adega da empresa tem, actualmente, 25 hectares. A umas centenas de metros ficam mais 40 e um pouco mais longe, outros 29 ha.
O objetivo da união de parcelas foi juntar terrenos com dimensão suficiente para a vinha, que foi plantando, ser rentabilizada num espaço mais curto de tempo. “Gasta-se quase tanto a montar uma estrutura de rega para dois hectares como para 20”, explica Vicente Marques, salientando, também, que ambas as áreas podem ser trabalhadas por um tractor e que o mesmo enólogo tanto gere dois, 20 ou 200 hectares.
Para o proprietário da Artemis, “há economias de escala que é preciso respeitar para um investimento deste tipo fazer sentido”. A experiência que Vicente Marques tinha adquirido com o trabalho realizado para os seus clientes, ajudou-o a perceber que precisava de fazer um empreendimento com escala, para ter a certeza de que o negócio que iria ter retorno. “Quando se faz uma coisa muito pequena nos vinhos, está-se a investir num hobby semelhante à compra de um iate, por exemplo, onde se tem apenas a certeza que se vai gastar dinheiro”, explica.
Entretanto o empresário tinha comprado, alguns anos antes de investir no vinho, uma quinta na zona próxima do litoral algarvio, entre o Livramento e a Luz de Tavira. E decidiu aproveitar o conhecimento adquirido no Dão para avançar na plantação de 12 hectares de vinha e produção de vinho no Algarve, com a marca Monte da Ria. E, em 2022, entrou também na região duriense, com a aquisição de seis hectares de vinha perto de Nagozelo do Douro, S. João da Pesqueira. E porquê? “Porque quando falamos com potenciais compradores dos nossos vinhos nos dizem, muitas vezes, que o Dão é difícil de vender e que o Douro é que é”, explica Vicente Marques argumentando que essa é a principal razão do investimento. Por agora apenas serão produzidos um tinto de entrada e um Reserva, numa propriedade que tem 14 pipas de benefício. “No futuro, se o negócio de vinhos desta região tiver sucesso, poderei comprar mais propriedades no Douro”, avança o empresário.

Dão Dom Vicente
Hoje o projecto produz 400 mil litros de vinho no Dão e no Algarve, nas duas adegas que esta empresa possui.

Um cunho muito pessoal

O produtor confessa que todos os seus investimentos no sector vitivinícola foram feitos de uma forma muito pessoal. Consultou profissionais, claro, mas muito do que construiu foi feito com base na sua experiência. Foi o que aconteceu quando selecionou as castas para plantar. Escolheu algumas das mais habituais na região, como a Touriga Nacional, Tinta Roriz, Alfrocheiro, Encruzado e Malvasia Fina, que representam 70% do encepamento, mas também a Syrah, porque gosta dos vinhos que origina e “porque se dá bem em qualquer lugar, embora produza vinhos com características diferentes conforme a geografia e os terroirs onde está plantada” e ainda, pelos mesmos motivos, Chardonnay, Sémillon e Pinot Grigio. Há também um hectare de Alicante Bouschet, “para dar cor aos vinhos de lote, quando falta”. Como é evidente, as escolhas foram feitas com o acordo enólogo consultor, António Narciso, um dos profissionais mais conhecidos no Dão.
Entretanto, globalmente, o projecto da Artemis já foi além dos objetivos iniciais: este ano espera-se que ultrapasse os 400 mil litros de vinho. Há que vendê-lo, portanto.
“Inicialmente não estava muito preocupado, porque acreditava, devido ao conhecimento que tenho do mercado angolano, que este país iria absorver mais de 50% da nossa produção”, conta o empresário. Mas a crise de 2015 e a falta de divisas consequente originaram uma crise económica que trocou os planos a Vicente Marques, que teve de se voltar para outros mercados de exportação. Mais recentemente, e à medida que Angola está a retomar a sua capacidade económica, a sua Artemis passou a exportar para este país, “um destino importante para os vinhos portugueses dos segmentos médio e alto”. Outros destinos externos dos seus produtos são a Holanda, Suécia e o Canadá.
Vicente Marques refere que o objectivo do seu projecto é produzir o melhor que puder em cada região onde está presente. Meia dúzia de anos passados, tem todas as razões para ter orgulho no que já alcançou e esperança no que o futuro lhe vai trazer.

(Artigo Publicado na Edição de Março de 2023)