Estive Lá: Ilha da Armona, mais próximo do paraíso

Assistir ao movimento das marés na barra da Ilha da Armona proporciona uma sensação muito agradável. E não só para mim. Sente-se na forma de estar das pessoas que passam a pé pela beira de água, nas que se banham nela e nas que apenas se sentam a apreciar a vista, como gosto de fazer […]
Assistir ao movimento das marés na barra da Ilha da Armona proporciona uma sensação muito agradável. E não só para mim. Sente-se na forma de estar das pessoas que passam a pé pela beira de água, nas que se banham nela e nas que apenas se sentam a apreciar a vista, como gosto de fazer por vezes. À medida que a maré baixa vários bancos de areia vão surgindo, convidando a um mergulho nas águas límpidas das lagoas que se vão formando ou a apanhar conquilhas e berbigões. Mais uma vez não resisti ao convite aos mergulhos. Quanto às conquilhas, este ano só as encontrei no prato, como se verá adiante.
É pelo prazer que me dá que volto à Armona todos os anos, mesmo que isso me obrigue a dar pelo menos 12 mil passos ida e volta, desde o lugar onde costumo deixar o automóvel até ao cais onde apanho o barco e, depois, pelo interior da ilha até à barra. Tal como é habitual o meu dia começou com uma tosta mista num dos cafés do mercado de Olhão, aquele onde vou sempre, na companhia de um sumo de laranja algarvia bem-apessoado, e de um café para acordar. A verdade é que não há melhor tosta mista para mim, principalmente pelos sabores e aromas irresistíveis e inimitáveis do pão, ligeiramente barrado, por fora, com manteiga, onde se aconchegam molemente o queijo e o fiambre. É impossível deixar de repetir.
Enquanto espero a encomenda, vou sempre ao mercado do peixe porque me sabe bem fazê-lo e me ajuda a manter o olhar treinado. No verão, se se for cedo, há quase sempre sardinha, carapau de todos os tamanhos, safia, dourada e sargo, pescada, robalo, salmonete, chaputa, raia, cação, atum e muitos outros peixes e mariscos. Por isso, vou sempre lá abastecer-me, o melhor que consigo, antes de voltar para Lisboa. Mas se, for sábado, tem de ser cedo, porque, a partir das 10h, a oferta já rareia. A frescura, os sabores e aromas e a relação qualidade/preço valem sempre o investimento.
A ida mais recente à Armona levou-me, na volta, ao Restaurante Grupo Naval de Olhão. Estava a apetecer-me lá voltar e fica mesmo perto do cais de embarque para as ilhas. Foi um lanche ajantarado que se iniciou perto das 4h30 da tarde, na esplanada, composto por ostras da Ria Formosa, como não podia deixar de ser, conquilhas à Bolhão Pato que ainda souberam melhor na companhia do pão fresco, cheiroso e gostoso que só se consegue arranjar no Algarve, tal como a salada de polvo de cores vivas e os carapaus alimados. Tudo na boa companhia do vinho Sebastião, da casta Chardonnay, que seleccionei entre as cerca de duas dezenas de sugestões de uma carta com opções para todos os gostos e bolsas. A sua frescura, a fruta discreta mas presente e o ligeiro toque de madeira e de especiarias contribuíram para que fizesse boa companhia a todos os petiscos. Foi um belo final de tarde de beira ria neste verão.
Restaurante Grupo Naval de Olhão
Morada: Av. 5 de Outubro, Olhão
Tel.: 289 050 543
Mercados de Olhão
Morada: Av. 5 de Outubro, Olhão
Tel.: 289 817 024
Site: www.mercadosdeolhao.pt
Bilheteira Olhão – Ferry para as Ilhas
Morada: Av. 5 de Outubro 2A, Olhão
(Artigo publicado na edição de Setembro de 2024)
Aguardente DOC fest Lourinhã de 15 a 17 de Novembro

O próximo Aguardente DOC fest Lourinhã, organizado pelo município da Lourinhã, irá decorrer, entre os dias 15 e 17 de novembro, no Pavilhão Polidesportivo Municipal e no Auditório da Associação Musical e Artística Lourinhanense. O evento tem, como objectivo, promover a Aguardente DOC Lourinhã e os seus produtores, atraindo novos públicos e servindo de elo […]
O próximo Aguardente DOC fest Lourinhã, organizado pelo município da Lourinhã, irá decorrer, entre os dias 15 e 17 de novembro, no Pavilhão Polidesportivo Municipal e no Auditório da Associação Musical e Artística Lourinhanense.
O evento tem, como objectivo, promover a Aguardente DOC Lourinhã e os seus produtores, atraindo novos públicos e servindo de elo de ligação com produtores de outros destilados, de diferentes pontos do continente e ilhas.
No primeiro dia decorrerá um colóquio com cinco painéis dedicados aos temas: “Região da Lourinhã – A Aguardente DOC Lourinhã”, “Sustentabilidade na produção de aguardentes”, “Aguardentes de diferentes territórios” e “Inovação e tradição na produção de aguardentes”.
No dia seguinte será promovida uma mesa-redonda sob o tema “O enoturismo e o marketing na valorização dos territórios vitícolas”.
Dias 16 e 17 de novembro, o Aguardente DOC fest Lourinhã decorrerá também no Pavilhão Polidesportivo local, onde os visitantes poderão conhecer melhor destilados como a aguardente, gin e o rum, e assistir à preparação de cocktails, showcookings, experiências gastronómicas, música ao vivo e conversas temáticas. Este evento enquadra-se na 13ª edição da Quinzena Gastronómica da Aguardente DOC Lourinhã, que decorre entre 8 e 22 de novembro e conta com a participação de 19 restaurantes da região.
Quinta da Torre: Estórias de uma Casa com história

A região do Minho, situada no noroeste de Portugal, é conhecida pela sua rica herança cultural e histórica, que ao longo dos séculos exerceu influência significativa no país, com uma identidade única, desde a sua geografia e clima até às tradições populares, artesanato, gastronomia e vinhos, cultura e desenvolvimento económico e social. A influência cultural […]
A região do Minho, situada no noroeste de Portugal, é conhecida pela sua rica herança cultural e histórica, que ao longo dos séculos exerceu influência significativa no país, com uma identidade única, desde a sua geografia e clima até às tradições populares, artesanato, gastronomia e vinhos, cultura e desenvolvimento económico e social. A influência cultural e histórica do Minho contribuiu decididamente para a formação da identidade de Portugal e consolidou a sua importância contínua no cenário nacional.
A história da região do Minho remonta à época pré-romana, com vestígios de povoados e fortificações que datam da Idade do Ferro. Durante a ocupação romana, a região foi uma importante produtora de vinho e cereais, beneficiando-se da localização estratégica junto ao rio Minho. No período medieval, o Minho foi palco de várias disputas entre cristãos e mouros, culminando na Reconquista. A região foi então dividida em pequenos condados e senhorios feudais, cada um com sua própria identidade cultural e social. Durante os séculos seguintes, o Minho foi marcado por desenvolvimentos agrícolas e comerciais, e pela influência de diferentes reinados e governantes, moldando sua evolução até os dias de hoje.
Este território caracteriza-se também pela extraordinária oferta de “casas solarengas” com origens na Idade Média, quando as famílias nobres começaram a construir casas fortificadas para se protegerem das invasões. Ao longo dos séculos, essas construções evoluíram para os Solares que conhecemos hoje, com influências arquitetónicas góticas, renascentistas e barrocas. A evolução dos solares no (Alto) Minho está intimamente ligada à ascensão e queda das famílias nobres que os habitavam, refletindo as mudanças políticas e sociais que ocorreram na região ao longo dos séculos. Pode-se, ainda, encontrar em perfeito estado de conservação, outras construções características da arquitetura regional tradicional – as casas abastadas de lavradores e casas agrícolas humildes, localizadas nos espaços rurais e nas aldeias que no Minho abundam, constituindo um quadro perfeito de paisagem, usos, costumes e tradições. Muito deste património, para felicidade do mundo do turismo, encontra-se a funcionar para receber hospedes que aí podem pernoitar e provar o que de melhor tem a região para oferecer em cultura, gastronomia e vinhos.
Numa manhã de sol exuberante que me impelia a sair de casa e a viver a vida, decidi viajar até ao paraíso vínico da sub-Região de Monção e Melgaço e aproveitar o que de melhor o território tinha para me proporcionar, para me fazer feliz. Nunca me canso de fazer um périplo por este destino, também de enoturismo, pelas paisagens, pela história, mas sobretudo pelo Vinho, esse néctar que nos transforma, que nos faz pensar, que nos faz rir e chorar, que nos eleva o ser e a alma. Algo “divino” aconteceu.
O Homem sonhou e a obra nasceu…
Imbuído da missão de me proporcionar felicidade, fui visitar a Quinta da Torre, localizada na freguesia de Moreira, concelho de Monção, propriedade de Anselmo Mendes – um dos mais importantes enólogos deste país, conhecido pelo “Senhor Alvarinho” – e de sua mulher, Fernanda Grilo, responsável por grande parte da gestão da empresa.
Na realidade há Homens cuja importância para o sector e para a região onde gravitam, valem mais que as suas próprias obras. No caso de Anselmo Mendes, o cuidado e a sabedoria que deposita em tudo o que faz é tanta, que acaba por criar uma legião de seguidores e admiradores naturais que o seguem por todo lado, faça o que fizer. Apesar de fazer enologia em vários pontos do país e no estrangeiro, é em Monção que ele se “despe” de corpo e alma e se atira a uma casta, Alvarinho, que domina em toda a sua dimensão.
A Quinta da Torre, nome adotado nos dias de hoje, é um sonho concretizado por Anselmo Mendes, remetendo para as suas recordações de infância, quando vindimava esta terra e acreditava que este era o terroir de excelência, sobretudo, para o icónico Alvarinho.
A Casa da Torre, Paço Quinta da Bemposta (pela boa exposição), como se designava no passado, cheia de estórias e de histórias, foi sendo vivenciada por famílias Nobres. Payo Gomes Pereira e Isabel Soares são os primeiros a habitá-la. Após várias sucessões na família, a partir dos séculos XVII e XVIII, a casa intensificou a produção de vinho, cultivo do milho, do linho, tinha dois moinhos que permitiam elaborar azeite, era um “feudo” agrícola de grande importância para a região. No final da primeira década deste século, Anselmo Mendes começa por tratar os 12 ha de vinhas desta quinta ligeiramente abandonada pelos proprietários da altura. Percebe de imediato que estava perante um terroir (ou vários) que iria permitir elaborar vinhos de grande nível. Entretanto, ao longo dos anos, ainda na modalidade de aluguer, vai plantar mais 30 ha de vinha. Vem a adquirir a Quinta da Torre em 2016. Possui, neste momento, 50 ha de vinha numa dimensão total de 62 ha.
Os solos em aluviões proporcionam vinhos mais florais, mais cheios, mais densos. A vinha do rio (uma delas) proporciona vinhos mais aromáticos, talvez por ter mais matéria orgânica. Os vinhos das parcelas da Rainha e do Olival provêm de solos com mais argila e são mais densos, mais estruturados, apesar de estarem no mesmo vale. Nas vinhas das encostas os vinhos são mais frutados e tensos, salienta orgulhosamente. Esta paleta orgânica que a Quinta da Torre possui permite, a Anselmo Mendes, criar vinhos com enorme capacidade de espera, de guarda, alicerçada na casta Alvarinho. O desafio neste estudo permanente é de elaborar vinhos cada vez mais complexos e diferenciados, permitindo estudar melhor cada uma das parcelas e os vinhos que pode proporcionar, isoladas ou em conjunto.
Na sequência deste mosaico de solos, um dos atrativos é o “Centro de Experiências”, onde se pode aprender tudo sobre a vinificação, estágio em inox por vinha, visionar as diferentes texturas de solos e verificar os estágios em garrafas com vinhos das diferentes parcelas.
No espaço da quinta pode encontrar-se, ainda, nos dias de hoje, corvos, perdizes, faisões, cegonhas, javalis e veados. As oliveiras com mais de mil anos, são, de per si, um atrativo.
A Quinta da Torre, criada para originar vinhos de excelência e proporcionar experiências inesquecíveis na área do enoturismo, localiza-se freguesia de Moreira, concelho de Monção. É fácil de chegar: no local deparamo-nos com um enorme e bonito portão à moda antiga, com o muro típico em granito desta região, onde se pode ler Quinta da Torre.
Entrando, deparamos com um acervo de património cultural construído impressionante, que “transpira” história e se impõe pela beleza e imponência. Existem dois espigueiros e uma eira que nos transportam para os usos, costumes e tradições destas terras, onde o trabalho do milho, do linho, era uma constante, e onde se matava o porco e dele se extraía tudo para se fazer os diversos pratos bem típicos de Monção e do Minho.
Olhando para a esquerda, contigua aos espigueiros, encontra-se uma loja de vinhos contemporânea franqueada com uma enorme esplanada para os vários torrões de vinha que a quinta possui. Uma paisagem de cortar a respiração de tão idílica que é, e de beleza natural que possui. A vontade de pegar num copo e provar um excelente Alvarinho à temperatura correta, provocou em mim pensamentos e devaneios incontroláveis para quem adora esta casta como eu. Por debaixo da loja temos uma sala de provas com capacidade para 25 pessoas, onde se fazem as provas livres e programadas.
Na loja encontram-se devidamente e criteriosamente expostos todos os vinhos que Anselmo Mendes que produz na Região dos Vinhos Verdes, sobretudo na sub-Região de Monção e Melgaço e na Sub-Região do Lima. Em conjunto, o enólogo já faz a gestão de 130 ha de vinha, 50 ha em Monção e mais 70 ha no Lima.
As experiências de turismo e vinhos
A conduzir a visita estava a Sandra Além. Responsável pelo Enoturismo da Quinta, nascida a pouco mais de 700 metros, desperta de imediato a atenção pela sua alegria, simplicidade, genuinidade e profissionalismo. Pode haver a sorte de encontrar o enólogo Anselmo Mendes na Quinta, e ele nunca recusa uma explicação suplementar. Eu tive essa sorte. Todas as provas são acompanhadas com produtos gastronómicos locais e regionais. Na esplanada também se fazem provas. É nesse espaço que a visita começa com uma explicação criteriosa da história da casa e as características da Quinta. O storytelling nunca é o mesmo, pois há muito para dar a conhecer, e a espontaneidade da Sandra, com um sotaque delicioso, rapidamente nos embala para um passado glorioso sem perder o norte da visita, provar vinhos e ter uma experiência turística memorável.
Na visita completa, cerca de hora e meia e “mais uns pozinhos”, calcorreamos a quinta com paragem obrigatória nas oliveiras com mais de mil anos, onde orgulhosamente se realça o histórico e a tradição na produção de azeite na Quinta da Torre, conhecida na terra pelo Paço – Quinta da Bemposta. Os exteriores milimetricamente organizados com um gosto requintado, onde tudo está no sítio certo, remetem-nos para o imaginário do passado onde o tempo durava muito, onde a vida calma e mais prazerosa permitia o disfrute de tal espaço romantizado. Respira-se cultura, natureza, paisagem, que faz-nos sentir em casa e desejar ficar para uns dias de deleite.
Em frente às famosas oliveiras localizam-se cinco suites, num corpo contiguo e construído para o efeito de alojamento turístico, devidamente equipadas, de bom gosto decorativo e qualidade irrepreensível. Nota-se que tudo foi pensado para proporcionar momentos especiais.
Em seguida descemos, perante a fachada sul da casa onde se localizam pormenores arquitetónicos de grande valor, que merecem reflexão, para conhecer o exclusivo e único Centro de Experiências da Região, uma adega de onde, no século XVI, saiam vinhos para Inglaterra e Norte da Europa. Anselmo Mendes guarda todos os anos 1000 litros de vinho por cada uma das oito as parcelas, oito solos diferentes no mesmo vale. Este centro está inteligentemente organizado: o chão mostra a rocha mãe da região – o granito, e dos lados a pedra rolada, 8 cubas em inox com vinhos em estágio por parcela, 16 barricas onde estagiam mais alguns vinhos e uma garrafeira com os vinhos em estágio. Este Centro de Experiências permite constituir também uma mostra do que se faz na Adega que a empresa tem em Melgaço.
Na companhia do Anselmo Mendes, esqueça o tempo porque a conversa flui pelos tempos da história, das castas, da terra, dos usos e costumes e sobretudo das tradições.
No andar acima do Centro de Experiências existe uma biblioteca bem apetrechada de aventuras, factos e ciência, com especial atenção para o vinho, e ainda tem uma suite para uso da família. Contudo, no corpo central encontramos a sala vip que permitirá a realização de eventos mais privados, quer para o produtor quer para quem dela necessita para realizar uma ação mais exclusiva. No andar de cima, o corpo central da casa, existe uma sala de jantar para uso comum e uma cozinha que os hospedes podem de igual forma usar.
Na Torre perto das oliveiras existem três suites para alojamento turístico com todo o conforto digno de espaços celestiais que nos remetem para a história de “príncipes e princesas”, bem localizadas, pois podemos admirar o “mar” calmo das vinhas. Na parte de trás da casa, com a fachada virada para as vinhas, temos um pomar para apreciação e “prova” de alguns frutos tirados diretos da árvore.

Na Quinta da Torre, estão plantados 50 ha de Alvarinho. E, numa propriedade vizinha, mais 7 ha de castas tintas (Alvarelhão, Pedral, Verdelho-Feijão). Mas para completar o conhecimento e refletir as viagens que Anselmo faz pelo mundo vínico, a Quinta possui 1 ha vinha, que constitui um raro “Jardim das Castas Brancas”, para proporcionar, de igual forma, mais conhecimento a quem a visita. Das várias existentes destacam-se variedades brancas internacionais como Chardonnay, Sauvignon Blanc, Riesling, Viognier, Gewurztraminer, Pinot Gris, Assyrtiko, Furmint, Godello, Fiano e, entre as castas nacionais, Encruzado, Viosinho, Azal, Arinto, entre outras.
A quinta possui ainda uma coleção de 400 camélias, que são tratadas com o maior cuidado já que a família adora esta espécie. Este é o cenário ideal para desfrutar de uma prova de vinhos ímpar, repleta de identidade e autenticidade e rodeado pelas vinhas que lhes dão origem, num terroir único, perfeito para a casta rainha da região. A experiência turística é inolvidável.
Os desafios enfrentados, como as mudanças climáticas e as tendências de mercado, têm sido oportunidades para inovar e reafirmar a identidade e notoriedade dos vinhos produzidos nesta quinta. Com várias certificações de qualidade ISO22001 e ISO14001, caminham a passos largos para a obtenção do selo da Certificação de Sustentabilidade do Setor Vitivinícola do IVV. Um espaço de Enoturismo a visitar para ser (muito) feliz.
Nota: o autor escreve segundo o novo acordo ortográfico.
(Artigo publicado na edição de Agosto de 2024)
Louis Roederer: O champanhe em família

A visita foi organizada pela Ramos Pinto. tudo começou com um almoço em Paris, numa brasserie bem perto da torre Eiffel. Momento de abertura das actividades que seriam, durante dois dias, regadas a champanhe, a rosés da Provence e tintos de Bordéus. Pas mal, como diriam os franceses… Quando visitamos a casa da família em […]
A visita foi organizada pela Ramos Pinto. tudo começou com um almoço em Paris, numa brasserie bem perto da torre Eiffel. Momento de abertura das actividades que seriam, durante dois dias, regadas a champanhe, a rosés da Provence e tintos de Bordéus. Pas mal, como diriam os franceses…
Quando visitamos a casa da família em Reims mostram-nos um mapa onde estão localizadas as diferentes parcelas de vinha que entram nos lotes dos vinhos da empresa, que mostra uma manta de retalhos, de numa região bem grande, onde vemos assinaladas, com uma leve cor alaranjada, as parcelas de vinha da casa. Muitas parcelas? Nem por isso. Apenas 420! Um número assim tão elevado coloca-nos de imediato perante uma dúvida séria: como é que se gere esta miríade de parcelas, como é que se faz a vindima no ponto certo em cada parcela, enfim, como é que tudo isto se organiza? A Roederer, que adquiriu, em 2006 o Château Pichon Longueville Comtesse de Lallande, em Bordéus, confronta-se com duas abordagens completamente distintas: em Bordéus temos a área da vinha toda bem delimitada e contínua e, em Champagne, o que mais existem são pequenas parcelas e não vinhas contínuas. Ainda assim falamos de 250 ha de vinhas próprias, com idades que vão até aos 80 anos. Isto corresponde a 70% das necessidades de uva da empresa, o que quer dizer que, na boa tradição local, se mantêm contratos com muitos lavradores da região.
Jean-Baptiste Lécaillon é chef de cave da Louis Roederer e mentor da criação da enorme colecção de clones e variedades da empresa, para assegurar a continuação das inovações para gerações futuras.
Vintages das mesmas parcelas
A história é antiga e remonta a 1776. Mas foi em 1833 que Louis Roederer herdou a gerência da casa. Em 1830, por cada 10 garrafas em cave só duas eram vendidas porque oito, entretanto, explodiam devido à pressão excessiva no interior da garrafa. A solução para este problema foi encontrada por Jean-Baptiste François, farmacêutico de profissão, que inventou, em 1836, o medidor de açúcar que passou a indicar, com precisão, a quantidade de açúcar que se deveria adicionar ao vinho-base, precisamente para evitar que, por excesso de refermentação, as garrafas explodissem.
Comprou, em 1845, muitas parcelas (15 ha) em zonas mais tarde classificadas como Grand Cru. No entanto, tão importante como isso, fez questão de ter as suas próprias vinhas em vez de comprar só as uvas, como era hábito em meados do séc. XIX. O seu herdeiro, Louis Roederer II manteve a política de aquisição de parcelas, partindo da ideia que um grande vinho depende sempre de um grande solo. Desde então todos os vintages da Roederer têm origem em vinhas próprias e, em alguns casos, (como a cuvée Cristal) usam sempre as mesmas parcelas com pelo menos 20 anos de idade, para que as raízes cheguem ao giz. Até atingir essa idade as uvas serão usadas para fazer vin de reserve.
Assim se foi percebendo a diversidade dos Cru, das castas, das parcelas, dos terroirs diferentes e esse estudo não mais parou até hoje. A 1ª edição do branco Cristal data de 1876 e o mercado russo – para onde se tinha iniciado a exportação em 1870 – passou a ser, junto com os Estados Unidos, o principal foco da exportação da casa francesa. Cristal é, desde então, uma cuvée de prestígio reconhecida em todo o mundo.
Por volta de 1920, Léon Olry-Roederer criou um champagne que juntava vinhos de vários anos, com o objectivo de manter o perfil ano após ano. Nasceu assim a cuvée Brut Premier. Quando morreu, a viúva Camille assegurou a gestão, a partir de 1932, numa época especialmente difícil porque a empresa tinha cerca de 25 anos de stocks de vinhos por vender.
A delimitação da região teve lugar em 1927, ou seja, bem antes da grande vaga de criação de Appéllations Contrôlées francesas, levada a cabo no final dos anos 30. O que aconteceu foi que, coincidindo com a delimitação da região, se vivia uma crise tremenda em Champagne: fim do mercado russo, como consequência da Revolução Bolchevique; fim do mercado americano por via da Lei Seca e falta generalizada de dinheiro suscitada pela crise financeira de 1929. Como quadro desanimador não poderia ser pior, mas foi também o momento oportuno de adquirir muitas parcelas, então vendidas a preços irrisórios. A Roederer conseguiu assim adquirir mais vinhas em zonas de excelência na Montagne de Reims, Côte des Blancs e Vallée de la Marne.
Os homens fazem o vinho mas as leveduras é que fazem o Champagne!
Conhecer a terra, palmo a palmo
O neto de Camille, Jean-Claude Rouzaud, enólogo e agrónomo, expandiu e cultivou mais vinhas. Esteve à frente da empresa cerca de 30 anos e ganhou a alcunha de Rei de Champagne, com gestão ponderada, sempre com um pé na vinha e um “tu cá, tu lá” com os fornecedores. Promoveu ainda aquisições meticulosas como a casa de Champagne Deutz e a Ramos Pinto, esta em 1990. Actualmente é Frédéric Rouzaud a 7ª geração à frente da empresa. Além do foco na zona de Champagne, a Roederer tem forte presença na zona francesa da Provence, onde detém o Domaine Ott, com três propriedades que perfazem 300.000 garrafas.
Desde finais do século passado que a agricultura Roederer se pretende biológica e com práticas biodinâmicas. Desde 2000 que a “nova” filosofia, que assenta no cuidado parcela a parcela, trabalhada em função do solo específico, tem dado os seus frutos e, dos 250 ha são já 135 que têm certificação bio. Pratica-se uma agricultura regenerativa e selecção massal das varas para novas plantações. Este trabalho da vinha tem merecido toda a atenção da equipa técnica, onde se destaca Jean-Baptiste Lécaillon, chef de Cave e mentor da criação da enorme colecção de clones e variedades, para assegurar a continuação das inovações para gerações futuras. A selecção massal ganhou muito protagonismo nos finais dos anos 90, com a consequente preocupação com a variabilidade genética. Em todo este trabalho há uma componente, digamos, “espiritual”: uma cruzada pelo gosto, pela perfeição e pela autenticidade.
Todos sabemos que a agricultura bio não é totalmente limpa ou isenta de químicos e que alguns metais pesados como o cobre estão longe de serem amigos do ambiente. Aqui faz-se o possível, com a certeza. “Usamos em tratamentos 3 kg cobre por ano; no tempo dos nossos pais usavam 4 kg em cada tratamento”, dizem-nos. A estatística também ajuda: em agricultura bio perdem anualmente 5 a 10% da produção, em ciclos de 20 anos mas, em anos bons, ganham 15%, sobretudo nas vinhas velhas que entram no Cristal, terras calcárias de giz.
Além das clássicas Chardonnay e Pinot Noir, a empresa tem também entre 3 e 4% de Pinot Meunier que é usado, juntamente com uvas adquiridas a lavradores, nos vinhos de entrada de gama. Quando se torna necessário arrancar uma vinha velha, a terra fica em pousio por quatro anos. Depois planta-se a nova vinha com garfos da colecção da casa e é preciso esperar mais quatro anos para começar a produzir. Um trabalho de paciência. A casa tem três centros espalhados na região onde estão as prensas e, assim, à adega já chega só o mosto.
A Cuvée Cristal nasceu em 1876, mas a versão em rosé só foi produzida na vindima de 1974
Da precisão nasce a excelência
Este cuidado com cada parcela estende-se depois à vinificação, também ela parcelar. As leveduras usadas são o mais neutras possível, por forma a respeitarem a regra de ouro da região: os homens fazem o vinho mas as leveduras é que fazem o Champagne! As uvas – no caso da Pinot Noir estamos a falar de um rendimento de 45 hl/ha – são vinificadas no estado “básico”, ou seja, com as carências ou excessos que a parcela pode gerar, mas que identificam perfeitamente as características da vinha. É depois o blend que tudo vai corrigir. Assim se percebe também a importância capital que a arte do blend tem na produção de champanhe.
Se atendermos a que a Roederer “assina” três milhões de garrafas, podemos perceber a complicação do trabalho de enologia. A minúcia deste trabalho levou ao desenvolvimento de uma técnica chamada de “infusão”. O próprio nome, de reminiscências japónicas, utiliza, com a casta Pinot Noir, o mesmo método que se usa para o chá. Da própria casa chega-nos a explicação: “significa uma imersão a frio dos Pinot Noirs durante 5 a 7 dias sem qualquer extracção mecânica. O resultado é a libertação total dos precursores aromáticos e da textura carnuda contidos nas peles do Pinot Noir, mas uma extracção mínima dos taninos. No final do estágio a frio, adicionamos alguns mostos de Chardonnay para dar frescura e acidez. Esta adição de Chardonnay antes da fermentação alcoólica permite que os aromas se tornem mais precisos e elegantes. Após a fermentação alcoólica, obtém-se um vinho de cor clara, com muitos perfumes de pétalas e uma textura suave e aveludada!” Esta técnica apenas é usada para champanhes millesimé e a cor pode apresentar por isso diferenças em cada edição, em função da infusão, que nunca dá resultados exactamente iguais.
Após 100 anos de Cristal feito com Chardonnay, surgiu o Cristal rosé, criado por Jean-Claude Rouzaud. Nasceu na colheita de 1974, é um lote de Pinot Noir de Aÿ, Chardonnay de Avize e Le Mesnil-sur-Oger e comemora este ano os seus 50 anos. Usa as uvas de vinhas mais velhas, de onde é também possível fazer uma selecção massal. O Cristal rosé é actualmente o produto mais luxuoso da casa. A qualidade é, em nossa opinião, estratosférica e daí a classificação que atribuímos. Lamentando que ela não possa ir além dos 20 valores, na escala usada na Grandes Escolhas…
Recentemente a cuvée Brut Premier foi substituída pela Collection, que incorpora vinhos de muitas colheitas e uvas adquiridas a lavradores. A ideia que presidiu à criação da Collection foi a de adaptar o vinho, em cada ano, em função das alterações climáticas; assim, ao contrário do anterior Brut Premier, este Collection é sempre diferente em cada ano. Daí também a numeração que ajuda a perceber de que lote falamos. No lote aqui provado entram as três castas, com predominância da Chardonnay. É sempre bom recordar que a região é dominada por pequenos lavradores. Cerca de 90% das uvas de toda a região vêm de lavradores; as grandes casas apenas detêm 10% das vinhas. Por outro lado, as inúmeras adegas cooperativas (e muitas delas apenas fazem mosto), representam 20% da produção. O tempo e a História estabeleceram a regra que hoje se mantém: os lavradores cuidam das uvas e fazem a vindima (manual); as empresas fazem o resto! E a Roederer faz três milhões de garrafas/ano que, aos preços que se imaginam, é caso para dizer: é só fazer as contas!
Nos 6 km de caves repousam alguns milhões de garrafas, esperando pacientemente que o tempo faça o seu papel. Mas na Roederer a paciência não falta, “o tempo é o nosso parceiro”, como nos disse Jean-Baptiste Lécaillon.
(Artigo publicado na edição de Agosto de 2024)
Novo hotel Tivoli Kopke Porto Gaia abre no 1º trimestre de 2025

O grupo Sogevinus vai reforçar a sua aposta no enoturismo com a abertura do Tivoli Kopke Porto Gaia Hotel no início de 2025. Localizado na margem sul do rio Douro, em Vila Nova de Gaia, a nova unidade de cinco estrelas tem origem na reabilitação de parte das antigas caves de vinho do Porto da […]
O grupo Sogevinus vai reforçar a sua aposta no enoturismo com a abertura do Tivoli Kopke Porto Gaia Hotel no início de 2025. Localizado na margem sul do rio Douro, em Vila Nova de Gaia, a nova unidade de cinco estrelas tem origem na reabilitação de parte das antigas caves de vinho do Porto da Kopke, já que o resto do edifício continuará a armazenar os vinhos mais icónicos da marca. O projeto representa um investimento de 50 milhões de euros por parte da Sogevinus.
Com vista sobre o Porto, incluindo o Cais da Ribeira e a ponte Luiz I, o novo hotel combinará a arte de receber da cadeia Tivoli com o legado da Kopke, a Casa de Vinho do Porto mais antiga do mundo, fundada em 1638. No interior, todos os detalhes irão prestar homenagem à história da marca.
O hotel terá um total de 150 quartos, dois restaurantes, três bares, duas piscinas, um centro de fitness e um spa, para além de 9.000 m2 de jardins exteriores.
Além desta unidade de cinco estrelas, o grupo Sogevinus tem ainda a The Vine House – inserida no coração da sub-região do Cima Corgo, próxima do Pinhão, que é parte integrante da Quinta de São Luiz. Este projeto tem 11 quartos, um restaurante de autor e uma piscina infinita debruçada sobre o Douro.
Esporão: As novas “cartas” a jogo

Prova Grande, ou seja, dia de provas com o Esporão. Nas magníficas instalações do Salão Nobre do Instituto Superior de Agronomia, muitas linhas de mesas equipadas com copos, o staff do Esporão azafama-se nas últimas preparações. O responsável máximo da empresa, João Roquette começa a sessão salientando que o seu pessoal lhe pediu para repetir […]
Prova Grande, ou seja, dia de provas com o Esporão. Nas magníficas instalações do Salão Nobre do Instituto Superior de Agronomia, muitas linhas de mesas equipadas com copos, o staff do Esporão azafama-se nas últimas preparações. O responsável máximo da empresa, João Roquette começa a sessão salientando que o seu pessoal lhe pediu para repetir uma coisa que tem tido de afirmar todos os dias: “o Esporão não está à venda.” Com isto esclarecido, podemos começar.
João anuncia uma parceria de 30 anos com o ISA, com a renovação de um armazém dentro do campus, onde abrirá um restaurante, escritórios para sediar o Esporão, e ainda um museu. A ideia é manter uma maior proximidade com os centros de investigação com os quais o Esporão vai mantendo colaborações. Depois do almoço visitámos as obras, e o sítio promete, com espaço amplo e arquitectura de traça elegante, antiga.
Base agrícola
Roquette apresentou o Esporão como uma empresa de base agrícola, e diferenciada por isso: mais focada no produto do que no mercado. “O sonho é mais importante do que as tendências.” Um desses sonhos foi a conversão para agricultura biológica, em 2007. Como marca multi-produto e multi-região, o Esporão já não é uma empresa de vinho que faz azeite, é uma marca de vinho e azeite, a tal base agrícola. Também aqui em contracorrente, por usar uma base de olivais antigos, com menor produção do que os modernos olivais intensivos e super-intensivos, que esgotam os terrenos em poucos anos.
Desde o arranque, em 1973, o Esporão alargou a sua influência, com aquisição e reunião de parcelas na propriedade original de Reguengos de Monsaraz, e também as aquisições da Quinta do Ameal, perto de Ponte de Lima, e da Quinta dos Murças, perto de Peso da Régua. Desde 1997 que a propriedade está aberta aos visitantes, com os seus vários motivos de interesse enológico, mas também importantes vestígios arqueológicos e um restaurante premiado com uma estrela e uma estrela verde Michelin.
A prova do tempo
No dia da Prova Grande, veio o chefe de cozinha, Carlos Teixeira, dar-nos uma amostra da sua cozinha inspirada e apoiada na terra e suas épocas. Provámos novos vinhos e algumas raridades da biblioteca, que mostraram como os vinhos aguentam e agradecem a prova do tempo. Depois voltámos a provar esses vinhos à mesa, para mostrar como eles são realmente desenhados para serem bebidos, não apenas provados.
Para além do trabalho, houve o convívio com os enólogos das várias regiões, que já antes tinham apresentado cada um dos respectivos terroirs. A enologia é agora liderada por José Luís Moreira da Silva, com Lourenço Charters como responsável pelos vinhos do Esporão, enquanto Mafalda Magalhães faz os vinhos do Ameal e dos Murças. O Esporão lança, ainda nesta altura, uma nova linha de pequenas vinificações experimentais, chamadas Fio da Navalha, onde os enólogos podem livremente ousar coisas novas. Há um excelente Ameal “Pote”, estagiado em pequenos potes de barro, um alentejano “No Campo”, feito por Teresa Gaspar com 104 castas brancas do campo ampelográfico, um Douro “Curtido”, feito por Lourenço Charters com Verdelho de Penajoia, e um minhoto “Primário”, feito por Lourenço Charters com as castas Paço do Curutelo e Padeiro de Basto. Neste caldo de cultura, que o público pode adquirir nas lojas de enoturismo do Esporão, e de onde possivelmente sairão novos vinhos, sairão certamente novas aprendizagens.
(Artigo publicado na edição de Agosto de 2024)
ACIBEV DESTACA CADEIA DE VALOR DO VINHO

Vitævino é uma iniciativa de cidadãos dedicada à protecção e promoção da cultura do vinho, da sua importância socioeconómica e do seu papel na promoção da moderação e da convivialidade. Ao unir as vozes dos apaixonados pelo vinho, produtores e decisores políticos, pretende garantir que o vinho continua a ser parte apreciada do património europeu. […]
Vitævino é uma iniciativa de cidadãos dedicada à protecção e promoção da cultura do vinho, da sua importância socioeconómica e do seu papel na promoção da moderação e da convivialidade. Ao unir as vozes dos apaixonados pelo vinho, produtores e decisores políticos, pretende garantir que o vinho continua a ser parte apreciada do património europeu.
Para marcar o seu lançamento, a Associação de Vinhos e Espirituosas de Portugal (Acibev) lançou uma série de vídeos de curta duração nas redes sociais sobre a Vitævino, onde destaca a importância desta actividade milenar. Os cinco apresentam factos importantes sobre o emprego rural, a contribuição fiscal, a actividade económica, o enoturismo, o valor das exportações, a contribuição para o Produto Interno Bruto (PIB) e o impacto ao longo de toda a cadeia de valor. “O objectivo da campanha é contribuir para que seja reconhecido o importante papel socioeconómico que o vinho desempenha”, explica Ana Isabel Alves, directora executiva da Acibev. Os vídeos tiveram por base o estudo realizado pela Nova School of Business & Economics, da Universidade Nova de Lisboa, sobre o valor do sector do vinho em Portugal.
Um dos pilares da campanha é a Declaração Vitævino, que prevê a recolha de assinaturas daqueles que apoiam o vinho enquanto símbolo de convívio, a sua cultura milenar, o seu papel na formação da nossa história, da nossa economia, dos nossos terroirs e das nossas comunidades rurais, não esquecendo o lugar do consumo moderado de vinho como parte de um estilo de vida saudável e equilibrado. A Declaração pode ser assinada em www.vitaevino.org
Rozés: Champanhe e Douro pour tout le monde!

O título desta peça não é acidental. A expressão champagne pour tout le monde é usada, em França, no final de uma apresentação ou ocasião determinante, na qual o orador pretende impressionar ou acarinhar uma audiência. A expressão, ampliada e devidamente contextualizada à região duriense, agora usada, poderia facilmente ter sido proferida como corolário da […]
O título desta peça não é acidental. A expressão champagne pour tout le monde é usada, em França, no final de uma apresentação ou ocasião determinante, na qual o orador pretende impressionar ou acarinhar uma audiência. A expressão, ampliada e devidamente contextualizada à região duriense, agora usada, poderia facilmente ter sido proferida como corolário da apresentação vínica que decorreu nas caves de vinhos da Rozès, da zona ribeira de Vila Nova de Gaia, quase junto à margem direita do rio Douro.
O local escolhido, também usado como enoturismo da empresa, serviu inicialmente para apresentar o novíssimo champanhe Pommery Apanage Brut 1874. Trata-se de uma referência dedicada às artes culinárias, criada com o objetivo de traçar uma forte ligação entre a região de Champagne e os melhores restaurantes do mundo. Esta referência tem, como traço característico, o uso de 20% da reserva perpétua da empresa no lote final.
Curiosamente, a data inscrita no rótulo assinala o ano em que Madame Pommery terá cunhado o termo “Brut” e, com isso, revolucionado o seu consumo. Tradicionalmente bebido à sobremesa até então, foi, a partir daí, se transformando na bebida eclética que é hoje, consumida ao longo de todo o dia.
Apetência gastronómica
O momento serviu também para apresentar referências durienses desta empresa do grupo Vranken-Pommery Monopole, que inclui várias casas de Champagne, como a Pommery, e vinhos do Sul de França. Foram três brancos, um tinto e um rosé da gama Terras do Grifo, produzidos com castas autóctones do Douro. Apresentando boa apetência gastronómica a preços ponderados capazes de seduzir uma gama alargada de apreciadores.
No Douro, o património da Rozès está distribuído por nove quintas que contabilizam 230 hectares de superfície: a Quinta do Paço e a do Monte Redondo, ambas em São João da Pesqueira, a Quinta da Estrela de Desejosa, a de Santo Aleixo e a de Ponte de Ferreira, em Tabuaço, a Quinta da Veiga Redonda, a do Grifo e a da Canameira, em Freixo de Espada à Cinta, e a Quinta de Monsul, em Lamego. Por ano, comercializa cerca de 1,5 milhões de garrafas de Vinho do Porto e 350 mil garrafas de vinhos do Douro, com a marca Grifo.
(Artigo publicado na edição de Agosto de 2024)