Niepoort lança concurso de arte para ilustrar vinho Nat Cool

A Niepoort acaba de desafiar todos os artistas e aspirantes, de Portugal e do Mundo, a participar no Nat Cool Art, um concurso que vai originar a nova ilustração do rótulo do vinho Nat Cool. Até 31 de Maio, cada pessoa pode enviar até três propostas de rótulos para o e-mail natcoolart@niepoort.pt, em formato de […]
A Niepoort acaba de desafiar todos os artistas e aspirantes, de Portugal e do Mundo, a participar no Nat Cool Art, um concurso que vai originar a nova ilustração do rótulo do vinho Nat Cool.
Até 31 de Maio, cada pessoa pode enviar até três propostas de rótulos para o e-mail natcoolart@niepoort.pt, em formato de fotografia ou digitalização e em dimensão A4. As regras do concurso podem encontrar-se aqui. À medida que vão sendo submetidas, as propostas serão publicadas nas redes sociais da empresa, com o hashtag #natcoolart. O vencedor receberá 500 euros em vinhos Niepoort, além de ver a sua criação nas futuras garrafas Nat Cool (cerca de 3 mil).
O júri será composto por Dirk Niepoort, proprietário, pelo filho Daniel Niepoort, por Francisco Providência – artista e autor do rótulo original do Nat Cool – por “João Noutel Artist”, e por Tiago Dias da Silva, director-geral da Quinta Maria Izabel, no Douro. Conforme comunicado de imprensa, este júri “deliberará qual dos rótulos traduz melhor o espírito “cool e funky” dos Nat Cool, vinhos naturais, descomprometidos e fáceis de beber”.
Ladeira da Santa: One man (anti) show

[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]Um projecto que começou como escape de fim-de-semana do pai, é agora negócio também do filho. Da ladeira mais solarenga do Dão surgem vinhos cada vez melhores, e a culpa é de um mountain biker incurável. TEXTO […]
[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]Um projecto que começou como escape de fim-de-semana do pai, é agora negócio também do filho. Da ladeira mais solarenga do Dão surgem vinhos cada vez melhores, e a culpa é de um mountain biker incurável.
TEXTO Mariana Lopes
FOTOS Mário Cerdeira
De Coimbra a Tábua, no extremo Sul do Dão, são 60 minutos pelo tenebroso IP3, e é esse o percurso de ida e volta que João Cunha faz praticamente todos os dias. Tem 32 anos e, sendo avesso a toda e qualquer exposição – apesar da cortesia e simpatia que nunca falham – para ele a Ladeira da Santa é, sem sombra de dúvida, o refúgio perfeito. É um “loner”, como se diz em inglês, e mantém o seu grupo de amigos em regime de “poucos e bons”, ao qual se juntou recentemente a cadela Zoumi, uma Border Collie de quatro meses que já é a menina dos seus olhos. João tirou Enologia no Porto e Engenharia Alimentar em Coimbra e, em 2008, fez o seu primeiro vinho na “Ladeira”, como habitualmente chama à propriedade familiar. Quanto à parte “da Santa”, não se sabe bem a razão, apenas que já tinha esse nome quando adquirida pelo seu pai, Arlindo Cunha, nascido em Tábua. Economista e professor da Universidade Católica do Porto, Arlindo Cunha foi Secretário de Estado da Agricultura, Ministro da mesma área e vice-presidente da Comissão Parlamentar da Agricultura, razões mais do que suficientes para que, em 1996, se virasse para a Ladeira da Santa, para “espairecer e largar o stress”: adquiriu o terreno, praticamente todo pinhal, que incluía um hectare do seu sogro e, até 2006 – com ajuda de uma pessoa que tomava conta do sítio, e de um enólogo consultor que lá fez os vinhos até o filho assumir as rédeas – dedicou-se a comprar mais área e a plantar vinha, fazendo vinho “na desportiva” desde 2000. “O bom beirão gosta sempre de ter uma adega”, brincou. Foi então, em 2006, que a família fundou a empresa Ladeira da Santa. Em 2009, João Cunha já lá fazia todos os vinhos da casa, plantando ele próprio cinco hectares de vinha em 2017, através do programa Jovem Agricultor.
Hoje já são dez hectares de videiras, cinco de uvas brancas e cinco de tintas, que se estendem pela encosta abaixo, rodeando a casa e a adega, e por outro terreno, praticamente do outro lado da estrada, que desce no sentido oposto, permitindo a João tomar partido de várias exposições solares. Agora é ele que, a título pessoal, é proprietário e arrendatário de todos os vinhedos, vendendo as uvas à Ladeira da Santa. Os solos, complexos e de transição de granito para xisto, apresentam umas aflorações rochosas aleatoriamente distribuídas pelas vinhas que estão viradas a Sul, rodeadas de altos pinheiros e que encaram as serras do Açor e de Arganil, graciosamente pintadas no horizonte, sempre em plano de fundo. E esses blocos de pedra, a par do declive considerável da ladeira, são elementos fundamentais para João Cunha pôr em prática uma das suas maiores paixões, o BTT, ou “mountain biking”. No local, é fácil de ver os percursos idealizados pelo produtor e os obstáculos naturais do terreno, e de perceber que ali, entre as uvas e a bicicleta, João tem tudo o que precisa. Aliás, quando não está a fazer vinho, está a descer alguma coisa, em cima de alguma coisa, com ou sem rodas. Após uma chamada não atendida, já depois da visita à propriedade, a justificação foi “estava a acabar uma pista”, e isso diz tudo.

Terroir Ladeira
Esta personalidade livre de João Cunha faz dele várias coisas, e uma delas é a de um enólogo e produtor sem concessões, multifacetado, que trata de quase tudo, desde a vinha à rotulagem, passando pelo principal, os vinhos. Na maior parte do tempo, um autêntico “one man show”. Na verdade, e como contou, “isto subsiste muito à base da amizade. São os nossos amigos que vêm ajudar na poda, por exemplo. Na vindima, contratamos cerca de dez pessoas e vêm uns quarenta amigos vindimar também”. As referências são actualmente cinco, dois brancos e três tintos, com uma produção anual de cerca de 26 mil garrafas. “O nosso objectivo é sermos um produtor familiar e tradicional do Dão, de dimensão média”, explicou Arlindo Cunha. E João complementou: “Não nos preocupamos muito em aumentar os números, queremos fazer um crescimento sustentável”.
O Colheita Seleccionada branco 2018 é um lote de Malvasia Fina (40%), Arinto (30%), Gouveio, Encruzado e Bical, um branco sem madeira, super agradável, aromático e equilibrado, fresco e muito bem feito. Por sua vez, o Encruzado Reserva branco 2018, de perfil cremoso e vegetal, fermentou em inox e parte dele estagiou em barricas usadas e novas (10%) de carvalho francês durante seis meses. Nos tintos, o Colheita Seleccionada 2018 faz maceração longa em lagar durante dez dias e tem Tinta Roriz, Touriga Nacional e Alfrocheiro. O estágio é feito por três meses em barrica e dois meses em garrafa, originando um vinho todo ele silvestre e polido, com grande aptidão para a mesa do dia a dia. Quanto ao Touriga Nacional 2015, este também faz maceração em lagar, durante sete dias, e estagia quase 24 meses em barricas com seis anos e um ano e meio em garrafa. Um vinho igual a si mesmo, bem floral e fino. Por fim, o Grande Reserva 2017 fica em lagar oito dias e estagia um ano em barricas usadas (de um a quatro anos de idade) e seis meses em garrafa, resultando num tinto de fruta profunda, com intensidade e muita elegância.
Todos estes vinhos cheiram e sabem a Dão, com o terroir daquele sítio em Tábua muito evidente, onde a assinatura do enólogo está bem presente, mas não se sobrepõe. Já para não falar da excelente relação qualidade-preço. Os brancos bem frescos, florais e minerais, com a típica Encruzado a conferir estrutura e – quando conjugada com madeira – cremosidade, e os tintos com o pinhal que rodeia a Ladeira da Santa a expressar-se, elegantes e com um lado terroso ténue. E João Cunha entra aqui a tratar das uvas como suas amigas, em tudo o que isso implica – com todo o carinho e atenção, mas sem bajulações – e a utilizar as barricas de uma forma muito precisa, a dar aos vinhos não só o que eles precisam delas, mas também um certo “je ne sais quoi” que só ele sabe entregar, fazendo da Ladeira da Santa um projecto cheio de carácter.
[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]
Edição nº 35, Março de 2020
[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row]
A Escolha do Mestre: Syrah, uma casta em ascensão

É, muito provavelmente, a casta estrangeira mais bem sucedida em Portugal, mostrando-se como aquela que reúne amplo consenso entre viticultores, enólogos e consumidores. Muito adaptável a diversos tipos de solo e clima, bastante consistente na qualidade colheita após colheita, a Syrah tem tudo para dar certo. TEXTO Dirceu Vianna Junior MW A Syrah destaca-se com […]
É, muito provavelmente, a casta estrangeira mais bem sucedida em Portugal, mostrando-se como aquela que reúne amplo consenso entre viticultores, enólogos e consumidores. Muito adaptável a diversos tipos de solo e clima, bastante consistente na qualidade colheita após colheita, a Syrah tem tudo para dar certo.
TEXTO Dirceu Vianna Junior MW
A Syrah destaca-se com sucesso em diversas regiões produtoras do mundo. É uma casta fácil de cultivar e possui capacidade de se adaptar a condições distintas. Retém o carácter da varietal e ao mesmo tempo é capaz de expressar as diferenças do terroir. Além de oferecer flexibilidade com relação ao estilo é capaz de atingir alto padrão. Vinhos clássicos como Hermitage fortalecem a associação com vinhos de alta qualidade e servem como fonte de inspiração e referência. O facto de ser uma casta produtiva atende o interesse financeiro do produtor e por originar vinhos frutados, harmoniosos e fáceis de apreciar contribui com o apelo que possui perante ao consumidor. O nome da casta aparece no rótulo como Syrah ou Shiraz, mas também é conhecida como Antourenein noir, Balsamina, Candive, Biône, Entourneréin, Hermitage, Hignin noir, Marsanne Noir, Serine, Sérine, Serinne Sereine, Sérène, Sira, Sirac, Sirah, Syra, Syrac e Schiras.

Lendas românticas e evidências científicas
Existem várias teorias sobre a origem da casta. Uma versão diz que Syrah é proveniente da antiga cidade persa de Shiraz, actual Irão. Outra indica que a civilização Grega poderia ter trazido a uva para a colónia fundada ao redor de Marselha, enquanto alguns acreditam que ela poderia ter sido trazida para a França do Chipre por guerreiros retornando do Oriente Médio após as cruzadas no século XIII. Há especulações de que a variedade foi trazida de Siracusa pelas legiões do imperador romano Probus após o ano 280. Todas essas teorias foram descartadas após o estudo realizado por Carole Meredith, pesquisadora do Departamento de Viticultura e Enologia da Universidade da Califórnia, que através de estudos de DNA concluiu-se que Syrah é descendente de uma varietal tinta chamada Dureza, originária de Ardèche, e uma branca nativa da região de Savoie chamada Mondeuse Blanche. Não há registos de que essas varietais tenham sido cultivadas juntas em outros locais, o que fortalece a hipótese de que o cruzamento tenha de facto ocorrido na região dos Alpes do Ródano. Além disso, o cientista suíço José Vouillamoz descobriu uma relação genética de segundo grau entre Syrah e Pinot Noir. A descoberta dos pais e a ligação com Pinot Noir fortalecem a crença de que a origem da casta seja mesmo francesa.
Fácil de cuidar na vinha
Syrah adapta-se muito bem às encostas ensolaradas e quentes, mas não suporta calor em demasia. Prefere solos não excessivamente férteis e bem drenados, especialmente granito e solos pedregosos. A vinha é vigorosa, mas o porte erecto facilita a condução da parede vegetativa diz Amílcar Salgado, proprietário da Quinta de Arcossó em Trás-os-Montes. A forma de condução varia dependendo das condições edafo-climáticas, mas é recomendável assegurar que a planta esteja bem arejada para evitar doenças de fungos. Na Quinta do Monte d’Oiro, em Alenquer, região de Lisboa, Francisco Bento dos Santos, director geral, explica que Syrah é pouco vulnerável a doenças. Amílcar Salgado concorda e diz que a planta raramente é afectada pelo míldio ou oídio, pelo que dois tratamentos anuais geralmente são suficientes. Em condições mais frias é aconselhável retirar as folhas do lado nascente e expor os cachos para optimizar a acção do sol da manhã, mas deixar as folhas do lado poente para evitar que a fruta sofra escaldão com os raios mais intensos da tarde. Em climas quentes, especialmente em solos que emitem calor durante a noite, é recomendável afastar a fruta da superfície do solo em busca de condições mais frescas. É necessário ter cuidado especial na seleção de porta-enxertos pois Syrah é sensível à clorose. Em solos ricos em cálcio, são preferíveis R110 e SO4. Além disso a Syrah é sensível ao ataque de ácaros e pode sofrer morte prematura devido uma infecção que ocorre na junção entre a planta e o porta enxerto. O facto de Syrah abrolhar tarde diminui o perigo de perdas com geadas, explica Amílcar Salgado. O amadurecimento ocorre no meio período que na Quinta de Arcossó coincide com a maturação da Touriga Nacional, mas a janela de oportunidade para efectuar a colheita é reduzida e os bagos logo tendem a murchar. Por isso, é importante não colher a fruta demasiadamente tarde para evitar sobrematuração e consequentemente vinhos pesados, alcoólicos e sem frescura alerta Manuel Lobo, enólogo chefe da Quinta do Crasto, no Douro. Na Quinta do Monte d’Oiro, Francisco Bento dos Santos diz que estudos feitos inicialmente revelaram semelhanças com as condições com o vale do Ródano. A quinta localizada na freguesia da Ventosa faz lembrar as condições impostas pelo afamado vento Mistral, um dos motivos pelo qual não hesitaram em plantar Syrah e Viognier. O excesso de produção pode resultar em mostos com pouca expressão. Produtores que visam qualidade frequentemente optam em fazer a monda em verde para diminuir o rendimento. Amílcar Salgado explica que o volume de produção ideal para fazer um vinho varietal de Syrah de excelente qualidade na Quinta de Arcossó gira em torno de 1,5 a 2 kg por planta, cerca de 50 hl/ha. Na Quinta do Monte d’Oiro, Francisco Bento dos Santos trabalha com produções baixas, na casa dos 40 hl/ha, para os vinhos de entrada e para os vinhos de topo procura não exceder 20 hl/ha. Manuel Lobo acredita que Syrah não é uma casta difícil de lidar. O segredo para atingir excelência, na Quinta do Crasto, é praticar viticultura de precisão prestando atenção aos pequenos detalhes, principalmente na hora da colheita.

Consistente na adega
O método de vinificação varia de acordo com o estilo desejável, da filosofia do enólogo e condições climáticas. Amílcar Salgado, da Quinta de Arcossó, explica que Syrah oferece muita riqueza fenólica e é de fácil extração. Métodos de vinificação variam entre tradicional e moderno com alguns produtores optando por fazer maceração carbónica parcial buscando vinhos leves e frutados. O uso de engaços está se tornando mais amplamente utilizado pois adiciona estrutura e uma impressão de frescor ao vinho. Temperaturas elevadas, além de acelerar o processo, resultam em maior extracção, mas exageros na hora da vinificação tornam os vinhos duros e agressivos. Por outro lado, temperaturas inferiores e extrações delicadas podem comprometer a cor, plenitude aromática e a estrutura dos vinhos. Na Quinta de Arcossó, Amílcar Salgado prefere vinificar em lagar e a extração é feita à moda antiga, com o pé. Para Francisco Bento dos Santos o segredo, além de controlar o rendimento, é preservar aromas durante a vinificação, vigiar a nutrição das leveduras, controlar a temperatura e prolongar as fermentações. Syrah, é uma casta redutiva e a falta de oxigênio pode comprometer a limpidez e resultar em aromas como borracha queimada ou, em casos extremos, ovo podre. Syrah responde muito bem ao envelhecimento em barricas de carvalho, tanto francês como americano, revelando notas de cravo, baunilha, coco, café e especiarias. Além de responsável por excelentes vinhos varietais a casta é utilizada em lotes. Ajuda a acrescentar cor e corpo a Grenache nos vinhos do sul do Ródano. Pode aparecer também ao lado de Mourvèdre e Cinsault. Na Austrália frequentemente aparece ao lado da Cabernet Sauvignon. A casta responde muito bem quando acompanhada com uma proporção minoritária de Viognier, a qual contribui com notas florais e ajuda melhorar a textura. Além disso a natureza fenólica da Viognier ajuda o Syrah, que é rico em antocianinas, a estabilizar a sua cor. A grande maioria dos vinhos monocastas estão prontos para beber assim que lançados, embora os melhores exemplos envelheçam por décadas desenvolvendo notas de ervas secas, tabaco, fumaça, carne curada, bacon, terra molhada, couro, alcatrão e trufas.
Syrah ou Shiraz?
A casta dá origem a vinhos expressivos e oferece ampla diversidade de perfis, dependendo do clima e do solo onde está cultivada, bem como das decisões tomadas pelo enólogo. Produtores de regiões de clima mais frio, tanto no Velho Mundo quanto no Novo Mundo, tendem a identificar seus vinhos como Syrah. Os vinhos rotulados como tal possuem um perfil semelhante aos estilos clássicos do norte do Ródano. Em geral, esses vinhos possuem cor profunda. No palato tendem a ser esbeltos, exibem acidez viva, níveis moderados de álcool, entre 13 e 14% e estrutura firme. Os aromas elegantes mostram complexidade através de notas de frutas vermelhas e frutas negras, pimenta preta, ervas, fumaça, bacon, notas florais e podem revelar um toque de salinidade.
A casta é capaz de interpretar o terroir revelando características precisas e distintas. Um vinho de Hermitage, por exemplo, é firmemente estruturado, tânico, com caráter mineral, frutas negras e toques animais, de especiarias e torrefação. Côte-Rôtie é um vinho mais esbelto, refinado com notas de pimenta e violetas. Saint Joseph revela um estilo mais leve. Os vinhos de Cornas são mais rústicos enquanto os vinhedos de Crozes-Hermitage, ao redor da denominação de Hermitage, fazem vinhos mais acessíveis e oferecem excelente relação entre custo e benefício.
No sul do Ródano, Syrah é mais frequentemente usada como uma uva de lote para adicionar cor e estrutura aos vinhos de Châteauneuf-du-Pape, Gigondas e Côtes du Rhône. Na França, Syrah também aparece nas denominações de Costières de Nîmes, Corbières, Fitou, Faugères, St-Chinian, Languedoc (Pic St-Loup) e Minervois (La Livinière). Entre os melhores exemplos estão J. Chave, Paul Jaboulet Aîné La Chapelle ou Chapoutier Le Pavillon. No Novo Mundo, esse estilo pode ser encontrado no AVA de Walla Walla nos Estados Unidos, Hawkes Bay na Nova Zelândia e San Antonio, no Chile, para citar apenas alguns.

Quando cultivada em clima quente, a terminologia usada nos rótulos é Shiraz, uma prática que se tornou popular na Austrália. Shiraz tende a descrever um vinho frutado, encorpado e expressa um estilo mais exuberante refletindo um clima mais ensolarado. A cor é tipicamente profunda ou opaca. A expressão aromática inclui amoras, mirtilos, cerejas escuras, ameixas, alcaçuz, hortelã, eucalipto, chocolate amargo e uvas passas.
Na boca oferece boa concentração, textura aveludada e taninos redondos. A acidez é equilibrada e os níveis de álcool facilmente excedem 14% podendo ultrapassar 15%. Algumas das melhores referências desse estilo são encontrados no vale de Barossa, na Austrália. Os vinhos são positivamente untuosos, encorpados, densos, alcoólicos e exibem frutas negras, chocolate e menta. O vale possui alguns dos vinhedos comerciais mais antigos do mundo, como o Langmeil Freedom plantado em 1843 e Turkey Flat plantado em 1847, o que ajuda explicar a excepcional concentração. O clima marítimo de McLaren Vale origina vinhos encorpados, com estrutura mais ampla, frutas negras, chocolate, textura sedosa, mas não deixam de ser potentes. Em Clare Valley, os vinhos combinam intensos sabores de frutas negras e alcaçuz com excelente acidez devido às noites frias que ajudam dar estrutura e assegurar que os vinhos envelheçam bem. Os vinhos de Padthaway e Coonawarra são esbeltos e exibem acidez elevada. Também nas partes mais frias do estado de Victoria, como Mount Langi Ghiran, os vinhos produzidos apresentam excelente frescor e frequentemente é possivel detectar toques de pimenta preta e menta. O clima de Hunter Valley, em New South Wales, é quente mas sem excessos. Os vinhos exibem corpo médio, acidez viva, frutas escuras e tons terrosos. Na parte oeste da Austrália os vinhos mostram boa definição, firmeza e acidez crocante, frutas escuras maduras e sumarentas. Além das diferenças no perfil a casta Syrah demonstra versatilidade devido sua capacidade de originar vinhos rosé, espumantes e fortificados de boa qualidade.
Da ascensão à fama
Syrah ganhou notoriedade através dos vinhos de Côte-Rotie e Hermitage, no norte do Ródano. Como prova uma pequena capela no topo de uma colina, nas margens do rio Rhone, com vista para a cidade de Tain-l’Hermitage, vem atraindo o interesse de enófilos por décadas, mas nem sempre foi assim. Antes das regras das denominações de origem entrarem em vigor, na primeira metade do século XIX, os vinhos de Hermitage eram frequentemente usados em lotes com o objetivo de adicionar cor e estrutura aos vinhos de Bordéus. Durante a primeira metade do século XX, devido a falta de interesse, a varietal perdeu espaço na vinha. Foi apenas nos anos 80 que artigos e avaliações de críticos ajudaram reascender o interesse e a superfície plantada ao redor do mundo aumentou para mais de 140.000 hectares (ha) nas três décadas seguintes. Estima-se que as plantações da Syrah actuais estão na casa dos 186.000 ha. França e Austrália dominam as plantações com 68.600 ha e 42.492 ha, respectivamente. Na Europa os principais plantadores de Syrah são Espanha (19.830 ha) e Itália (6.880 ha). No Novo Mundo os principais produtores são Argentina (12.245 ha), África do Sul (10.117 ha), Estados Unidos (9.308 ha) e Chile (7.994 ha).

Syrah em Portugal
Em Portugal, Syrah aparece principalmente no Alentejo, Lisboa, Tejo e Península de Setúbal. Antes do ano de 1980 apenas 10,82 ha existiam no país. Entre 1981 e 1990 foram adicionados 35,49 ha e mais 309 na década seguinte. O grande impulso veio entre 2001 e 2010 quando foram plantados 2.592 ha. Após 2011 foram somados 2.777 ha levando a área total para 5.725 ha, de acordo com António Lopes, Técnico Superior do Instituto da Vinha e do Vinho. Syrah representa 3% das plantações ocupando a décima colocação no ranking das castas mais plantadas no país. Quinta da Lagoalva de Cima foi uma das primeiras propriedades a apostar na casta, possivelmente por influência de um enólogo francês que por lá passou. A decisão foi propícia pois os solos arenosos, bem drenados e pouco férteis ajudam a controlar a produção. Os dias quentes ajudam as uvas atingir maturação fenólica necessária e ao mesmo tempo as noites frescas protegem estrutura ácida garantindo frescura ao vinho. Tal como o Tejo, a região da Vidigueira no Alentejo, com os seus dias quentes e ensolarados e noites refrescadas pela brisa, criam condições favoráveis para a maturação da casta. O produtor Cortes de Cima foi um dos pioneiros em 1991 quando Syrah ainda não era autorizada na região lançando seu varietal com a marca “Incógnito” em 1998. Apesar de ser pouco difundida no norte do país já existem produtores conceituados como Quinta do Crasto e Quinta do Noval fazendo bom trabalho no Douro. O clima quente e seco assegura maturação mais cedo praticamente no mesmo período que algumas castas brancas.
Análise de prova
Os vinhos degustados aqui representam boa expressão da casta e, de uma forma geral, mostram consistência em relação à qualidade e estilo. Comparando com vinhos de clima frio que originam vinhos mais magros, frescos com toques de pimenta e tons salgados e vinhos mais expressivos, opulentos e frutados provenientes de clima quente, o estilo do Syrah português encaixa-se entre os dois com tendência de apontar marginalmente para o estilo compatível com vinhos de clima mais quente. Ao mesmo tempo, é possível perceber diferenças regionais, através da exuberância dos vinhos do Alentejo, a frescura da Bairrada e um estilo frutado e sumarento aliando com boa acidez encontrado no Tejo. O Syrah português é acessível, fácil de entender e os vinhos estão prontos para beber assim que lançados no mercado, embora os melhores exemplos demonstrem capacidade de envelhecimento. Os produtores revelam habilidade e cuidado para não extrair excessivamente e usar o carvalho judiciosamente. Entretanto, apesar da qualidade, de forma geral, atingir alto padrão, e de haver grande consistência, ainda não chega a atingir o patamar dos grandes clássicos franceses ou melhores exemplos australianos. A prova serviu para demonstrar que potencial existe. Além disso, vinhos como Incógnito de Cortes de Cima e Tributo de Rui Reguinga, excluídos da lista de prova não por falta de mérito, mas para ceder espaço a outros produtores, fortalecem a percepção da afinidade da casta com o terroir português. Syrah adapta-se muito bem e dá bons resultados em solos pobres e terroir hostil com vento, altitude e situações adversas e mais frias. É possível que o melhor terroir essa casta em Portugal ainda não tenha sido descoberto. De qualquer forma é evidente que o Syrah português tem potencial para ir mais longe. É preciso mais ambição.

O futuro da Syrah
A Syrah vem demonstrando a capacidade de atender às necessidades dos consumidores portugueses que procuram vinhos frutados, redondos e exuberantes. Na exportação, a casta poderá cumprir o importante papel de convidar consumidores internacionais, que ainda não descobriram os vinhos portugueses, talvez pela falta de familiaridade com as castas indígenas, a se aventurar. Em termos de custo, a maioria destes vinhos oferecem boa relação entre a qualidade e preço. Além da vantagem económica que a casta oferece ao produtor pelo facto de ser produtiva, a Syrah comprovou ao longo dos últimos anos afinidade com o terroir português. Por isso é muito provável que as plantações continuem a crescer. O facto de boa parte dos vinhedos estarem ultrapassando dez anos de idade ajudará a aprimorar a qualidade, que também será impulsionada a medida que os enólogos acumularem mais experiência e confiança em lidar com a casta. Até onde poderá chegar a qualidade desses vinhos no futuro dependerá da ambição dos produtores e da habilidade de saber equilibrar auto-confiança com humildade de continuar aprimorando-se através de troca de conhecimentos e provas comparativas com Syrah de outras partes do mundo. É indispensável abrir-se mais ao mundo, inovar e não ter medo de arriscar na hora da vinificação. Seria um triunfo conseguir surpreender consumidores e profissionais com a qualidade dos Syrah portugueses em uma prova as cegas em companhia de grandes clássicos mundiais dentro da próxima década. Julgando pela actual qualidade dos vinhos, esse é um objetivo perfeitamente atingível.
Edição nº 35, Março de 2020
Novo serviço gratuito da Unilever aproxima restaurantes da comunidade

My Local Eatz é a nova plataforma, criada pela Unilever Food Solutions, que pretende encorajar os consumidores a apoiar os restaurantes locais. Portugal é o primeiro país a receber este serviço gratuito, que ajuda os portugueses a identificar os restaurantes que estão a servir refeições, em take-away ou entrega ao domicílio, na sua localidade. A […]
My Local Eatz é a nova plataforma, criada pela Unilever Food Solutions, que pretende encorajar os consumidores a apoiar os restaurantes locais. Portugal é o primeiro país a receber este serviço gratuito, que ajuda os portugueses a identificar os restaurantes que estão a servir refeições, em take-away ou entrega ao domicílio, na sua localidade.
A plataforma não tem custos para os restaurantes, nem comissões associadas, o que faz com que em cada encomenda, o restaurante seja beneficiado na totalidade. Aqui, os espaços partilham os seus menus e os detalhes de contacto, e os consumidores podem pesquisar por pratos ou por restaurante.
Porto Protocol começa hoje as “Climate Talks” no YouTube

Hoje, dia 7 de Maio, a Porto Protocol – instituição sem fins lucrativos, fundada pela Taylor’s, cujos membros se unem para mitigar as mudanças climáticas – dá início às Climate Talks, um ciclo de conversas no YouTube que promete levantar questões, apresentar boas práticas e impelir à mudança de comportamentos. Às 17h, no canal da […]
Hoje, dia 7 de Maio, a Porto Protocol – instituição sem fins lucrativos, fundada pela Taylor’s, cujos membros se unem para mitigar as mudanças climáticas – dá início às Climate Talks, um ciclo de conversas no YouTube que promete levantar questões, apresentar boas práticas e impelir à mudança de comportamentos. Às 17h, no canal da Porto Protocol, a primeira conversa será sobre a sustentabilidade das garrafas de vinho.
“‘The Elephant in the Room: Sustainable Packaging’ é o tema da primeira conversa e pretende medir o peso deste elefante na sala – a embalagem. A garrafa é o elemento da indústria do vinho que mais contribui para a pegada de carbono do produto. Ainda assim, este é um dos assuntos menos discutidos e onde têm incidido menos medidas por parte das empresas produtoras”, pode ler-se no comunicado de imprensa.
Os oradores de hoje serão Nicolas Quillé, do Crimson Wine Group (E.U.A.); Santiago Navarro, da Garçon Wines (Reino Unido) e Tiago Moreira da Silva, da BA GLASS Iberia (Portugal). A moderação ficará a cargo de Marta Mendonça, da Porto Protocol.
As conversas digitais estão marcadas para os dias 7, 14, 21 e 28 de Maio, mas prevê-se que continuem com uma periodicidade mensal ou bimensal. Os painéis podem ser conhecidos aqui.
Moscatel de Setúbal: Um tesouro a descobrir

O Moscatel de Setúbal é um dos clássicos generosos portugueses, mas a sua notoriedade junto do consumidor está ainda muito distante da sua grandeza enquanto vinho. Merece bem mais do que o que tem, mais reconhecimento, melhores preços, mais visibilidade. Mas apesar disso, a verdade é que continua a crescer em área de vinha e […]
O Moscatel de Setúbal é um dos clássicos generosos portugueses, mas a sua notoriedade junto do consumidor está ainda muito distante da sua grandeza enquanto vinho. Merece bem mais do que o que tem, mais reconhecimento, melhores preços, mais visibilidade. Mas apesar disso, a verdade é que continua a crescer em área de vinha e produção.
TEXTO João Paulo Martins
FOTOS Mário Cerdeira
Quando se fala da trilogia dos vinhos licorosos portugueses sempre nos lembramos dos três magníficos, Porto, Madeira e Moscatel de Setúbal. É verdade que há outros, como o Moscatel do Douro e o Carcavelos mas nenhum destes dois atingiu o brilho do generoso de Setúbal. Apesar da fama do Setúbal e dos indicadores que são muito optimistas, não só quanto à área de vinha como em relação às quantidades produzidas, a verdade é que os ventos andam contrários. Os tempos, em Portugal e no mundo, não vão de feição para os vinhos doces. Esta verdade é válida não só aqui como também internacionalmente e as regiões que se notabilizaram pela produção de vinhos com elevado teor de açúcar estão a ressentir-se do menor interesse do público. Acontece com o Vinho do Porto tal como acontece com os Sauternes (França), por exemplo. Em alguns casos consegue-se uma melhor rentabilidade pela subida de preços de categorias mais elevadas (caso do Porto) mas as categorias de entrada dos licorosos nacionais (e europeus) tendem a ter preços pouco prestigiantes. O Moscatel de Setúbal consegue ser algo bipolar em termos de segmentação, com preços muito baixos nas gamas de entrada e, depois, vinhos de gama alta vendidos a valores já condizentes com a sua imagem e qualidade.
A região de Setúbal tem conhecido um renovado interesse dos produtores no Moscatel, um generoso com direito a reconhecimento legal como região demarcada desde os inícios do séc. XX. Durante décadas foi a casa José Maria da Fonseca que, quase em exclusivo, manteve o estandarte do generoso Moscatel de Setúbal. A partir dos anos 80 a J.P. Vinhos (mais tarde Bacalhôa Vinhos de Portugal) passou também a incluir o generoso no seu portefólio e de então para cá, sobretudo já neste século, a maioria dos produtores da região assumiu (e bem) que havia como que a “obrigação cívica” de manter, desenvolver e expandir o Moscatel que deu fama à região.
Henrique Soares, Presidente da CVR de Setúbal, confirmou-nos o crescimento sustentado que a área de vinha destinada à produção de moscatel tem tido. Estamos então a falar de 520ha para a produção do Moscatel de Setúbal e 43ha para o Moscatel Roxo de Setúbal. Na versão Roxo verificou-se um crescimento que fez duplicar a área de vinha em cerca de 3 anos e retirou, de vez, a casta do perigo de extinção em que se encontrava nos anos 80 do século passado. A produção global subiu também de forma permanente e situa-se agora (2019) nos 20 000 hectolitros quando, 4 anos antes, era apenas de 15 000 hectolitros.
Para ser Moscatel de Setúbal com direito à Denominação de Origem o vinho deverá incluir 85% da casta embora, ainda segundo Henrique Soares, a maioria dos produtores opte por ter 100% da casta em cada garrafa. Existia também a possibilidade de se fazer um generoso apenas com 2/3 de moscatel e 1/3 com outras castas brancas – tinha então o nome único de Setúbal (e não Moscatel de Setúbal) mas ao que nos informaram essa prática caiu em desuso e já ninguém a utiliza. Pelo facto da Portaria que actualizou as designações relativas ao Moscatel de Setúbal ser de 2014, é possível que se encontrem no mercado vinhos que apenas indicam “Setúbal” em vez de Moscatel de Setúbal e “Roxo” em vez de Moscatel Roxo de Setúbal.
Os segredos do Setúbal
A casta moscatel existe em inúmeros países, desde a bacia do Mediterrâneo até à África do Sul. Contam-se várias estirpes da casta, há nomes variados e perfis diferenciados. Em Portugal conhecemos duas famílias principais: o Moscatel Galego mais presente no Douro e o Moscatel de Alexandria (ou Moscatel Graúdo) em Setúbal. A variedade Moscatel Roxo é uma mutação do Moscatel Galego. Caracteriza-se pela fraca pigmentação tinta do bago, estando aí a origem do nome. Oficialmente, é considerada uma casta rosada, não tinta.
No modo de fabrico segue-se a técnica dos outros generosos, ou seja, a meio da fermentação é adicionada a aguardente que faz com que o processo fermentativo se interrompa e o resultado seja um vinho doce. Esta doçura, no caso dos vinhos com 20 ou mais anos, com concentração através da evaporação em casco, pode chegar aos 340 gramas/litro. Usa-se na região uma aguardente em tudo idêntica à do Vinho do Porto – tem a obrigatoriedade de ser vínica e ter um teor de álcool compreendido entre os 52 e 86% – mas não existem restrições quanto à origem: pode ser nacional (ou não) e alguns produtores, como a José Maria da Fonseca, têm usado aguardente adquirida quer na zona de Cognac quer na de Armagnac, regiões que, como se sabe, são produtores de espirituosos. A variação do teor alcoólico da aguardente prende-se também com o perfil do produto final, já que o Moscatel de Setúbal pode entre 16 e 22% de álcool.
A tradição da região impôs na vinificação uma maceração pós-fermentativa com as películas das uvas (ricas em aromas e sabores) ainda e já com a aguardente adicionada, processo que se estende por vários meses. Durante este “estágio” a cor do vinho pode ganhar tonalidades cada vez mais carregadas, o que também explica as cores “evoluídas” dos moscatéis novos.
No que diz respeito às barricas para o estágio não existem também limitações nem quanto ao volume nem quanto à origem das mesmas. Assim, tanto se podem usar barricas de pequeno volume, onde o envelhecimento tende a ser mais acelerado, como tonéis de grande dimensão. A Bacalhôa tem utilizado barricas onde anteriormente se estagiou whisky e que são colocadas numa estufa sujeita às variações de temperatura entre Verão e Inverno. Para ter direito à Denominação de Origem o vinho é obrigado a um mínimo de 18 meses de estágio.
O tempo, esse grande educador
Tal como acontece com outros generosos, sobretudo com o Porto Tawny e os Madeira, é o estágio prolongado em tonel ou barrica que confere ao vinho toda a complexidade e qualidade que se lhe reconhecem. É também nesse estágio que a tonalidade escurece, ficando com tons acastanhados. Pode, no entanto, parecer estranho que os vinhos novos, apenas com os 18 meses de estágio obrigatórios por lei, tenham já uma tonalidade muito carregada. Filipa Tomaz da Costa, enóloga da Bacalhôa, esclarece: “tenho várias cubas com o moscatel ainda em contacto com as massas (método que segue a tradição da região) e o vinho já apresenta uma tonalidade que sugere uma prolongada oxidação; por isso é normal que mesmo nos vinhos novos surjam tons mais escuros”. A lei permite, de qualquer forma, a utilização do caramelo como corrector de cor.
Depois desta maceração é o tempo em casco que vai, lentamente, operando as modificações que farão surgir um grande generoso, concentrado, por vezes muito doce, mas muito complexo. Também aqui há quem esteja a inovar e o vinho da quinta do Monte Alegre é sobretudo envelhecido em garrafa, um pouco à maneira do Porto Vintage. Ainda é cedo para se perceber se o resultado justifica a prática.
Na Bacalhôa, há muitos anos que o estágio em estufa é praticado. Filipa Tomás da Costa refere: “Usamos este método sobretudo nos primeiros 10 anos do envelhecimento; depois desse tempo trazemos os cascos para dentro do armazém, embora continuem nas zonas altas mais perto do telhado. Como a massa vínica é muito grande dentro da estufa – apesar das pipas serem de 200 litros – há uma forte inércia térmica e no Inverno podemos ter temperaturas exteriores de 4ºC mas no interior da pipa o vinho apenas varia entre os 10 e 15ºC; no Verão, a temperatura no interior da estufa chega facilmente aos 40º mas o vinho apenas oscila entre os 25 e 28ºC”.
A prática de atestar as barricas e passar a limpo nunca se generalizou na região. Na José Maria da Fonseca existiam muito vinhos velhos que já apenas correspondiam a “um fundinho da pipa”, como nos disse Domingos Soares Franco, enólogo da empresa, e tomou-se a decisão (há já alguns anos) de engarrafar todos esses vinhos, tendo-se considerado que apenas estavam a evaporar e que já nada mais havia a esperar do estágio em tonel. Mas, tal como no Vinho do Porto, este estágio pode prolongar-se por mais de 100 anos.
Novas categorias e mais diversidade
A legislação da região permite desde há algum tempo a produção de vinhos com indicação de idade. Assim, no rótulo da garrafa pode vir a indicação 5, 10, 20, 30 e 40 anos. Como muitos operadores ainda não têm vinhos muito velhos a existência de vinhos com as idades 30 e 40 é por enquanto muito limitada.
Pela prova que fizemos verifica-se que a indicação da data da colheita começa a generalizar-se e os vinhos com 5 anos também mostram ser uma categoria que veio para ficar. A designação Superior obriga a um estágio mais prolongado e a uma aprovação como tal na Câmara de Provadores.
Ainda segundo Soares Franco, a aceitação pelo mercado de vinhos com indicação de idade está a ser muito boa, quer em Portugal (que é ainda o principal destinatário) quer no mercado eterno, onde se destacam o Brasil, o Canadá e a Escandinávia.
O grande inimigo do Moscatel de Setúbal é a tendência – que se estende a outros produtos vínicos – de fazer parte dos vinhos que estão permanentemente na mira das grandes superfícies (super e hipermercados) que jogam com os preços cada vez mais baixos, um verdadeiro rolo compressor que não traz nada de bom para a imagem do Moscatel de Setúbal. O futuro da região, muito mais do que vender cada vez mais barato deverá ser vender cada vez melhor, subindo gradualmente os preços, única forma de tornar trabalho rentável, valorizar a uva e o produtor e dignificar o produto de excelência que é o Moscatel de Setúbal.
[
-
Sivipa Moscatel
Fortificado/ Licoroso - 2017 -
Adega de Palmela M Moscatel
Fortificado/ Licoroso - 2016 -
Sivipa Moscatel 10 anos
Fortificado/ Licoroso - -
Quinta do Piloto Moscatel 5 Anos( 1500ml )
Fortificado/ Licoroso - -
Moscatel de Setúbal by Quinta do Monte Alegre Moscatel
Fortificado/ Licoroso - -
Xavier Santana Moscatel
Fortificado/ Licoroso - 2017 -
Quinta do Monte Alegre Moscatel Roxo ( 500 ml )
Fortificado/ Licoroso - 2013 -
Moscatel de Setúbal Moscatel
Fortificado/ Licoroso - 2016 -
Malo Moscatel 5 Anos
Fortificado/ Licoroso - -
Lobo Roxo Moscatel roxo ( 500 ml)
Fortificado/ Licoroso - 2010 -
Filipe Palhoça Moscatel
Fortificado/ Licoroso - 2015 -
Casa Ermelinda Freitas Moscatel
Fortificado/ Licoroso - -
Brejinho da Costa Moscatel Roxo
Fortificado/ Licoroso - 2012 -
Bacalhôa Moscatel
Fortificado/ Licoroso - 2017 -
Xavier Santana Moscatel roxo ( 500 ml )
Fortificado/ Licoroso - 2010 -
Excellent Moscatel roxo
Fortificado/ Licoroso - -
Casa Ermelinda Freitas Moscatel ( 500 ml )
Fortificado/ Licoroso - 2009 -
Brejinho da Costa Moscatel
Fortificado/ Licoroso - 2017 -
Alambre Moscatel roxo 5 Anos
Fortificado/ Licoroso - -
Adega de Palmela Moscatel 10 anos
Fortificado/ Licoroso - -
Malo Moscatel roxo Superior ( 500 ml)
Fortificado/ Licoroso - 2009 -
Bacalhôa Moscatel Roxo 5 Anos
Fortificado/ Licoroso - -
António Saramago Moscatel ( 500 ml)
Fortificado/ Licoroso - 2013 -
Malo Moscatel ( 500 ml)
Fortificado/ Licoroso - 2004 -
António Saramago Moscatel 10 anos ( 500 ml)
Fortificado/ Licoroso - -
Alambre Moscatel 20 anos ( 500 ml)
Fortificado/ Licoroso -
Edição nº 34, Fevereiro de 2020
Aveleda tem nova loja online

Dois meses depois de ter criado um serviço temporário de entregas em casa, nas cidades mais próximas da Quinta da Aveleda, a empresa inaugura a sua Loja Online, com entregas em todo o país. Na oferta disponível, encontram-se os vinhos produzidos pela Aveleda em várias regiões, queijos da Queijaria da Aveleda, compotas artesanais, chocolates, e […]
Dois meses depois de ter criado um serviço temporário de entregas em casa, nas cidades mais próximas da Quinta da Aveleda, a empresa inaugura a sua Loja Online, com entregas em todo o país.
Na oferta disponível, encontram-se os vinhos produzidos pela Aveleda em várias regiões, queijos da Queijaria da Aveleda, compotas artesanais, chocolates, e outros produtos que já fazem parte das lojas físicas do produtor.
Também no mesmo site, estarão disponíveis lançamentos de novos vinhos, ofertas especiais, e cabazes desenvolvidos para harmonizações.
Para encomendas superiores a €50, os portes de envio são gratuitos.
Projecto solidário Eu Apoio a Produção Nacional está cada vez maior

A plataforma Eu Apoio a Produção Nacional – que doa 10% das suas vendas aos hospitais públicos Santa Maria (em Lisboa) e São João (no Porto) – conta já com perto de 50 marcas portuguesas. Desde a moda aos vinhos, passando pela decoração, cerveja artesanal, gin, utilitários e produtos regionais, são muitos os produtores que […]
A plataforma Eu Apoio a Produção Nacional – que doa 10% das suas vendas aos hospitais públicos Santa Maria (em Lisboa) e São João (no Porto) – conta já com perto de 50 marcas portuguesas.
Desde a moda aos vinhos, passando pela decoração, cerveja artesanal, gin, utilitários e produtos regionais, são muitos os produtores que se unem neste projecto que pretende, além da componente solidária, contribuir para manter activas as empresas nacionais.
Na vasta lista, figuram nomes como Sogrape, Oliveira da Serra, José Maria da Fonseca, Licor Beirão, Boas Quintas, Quinta do Paral ou A&D Wines.
Lista de produtores:
- A Indústria
- A&D Wines
- Back to Basics
- Black Pig Gin
- Boas Quintas
- Catarina Martins Shoes
- Cerveja Letra
- Cerveja Mecânica
- Cerveja Quinas
- Chulé
- Companhia das Cestas
- CottonCityLisbon
- DARKSIDE Eyewear
- Ferral
- Gravityº Dance Goods
- HLC
- HUPA Shoes
- Impetus
- Isto.
- Joana Mota Capitão Jewellery
- José Maria da Fonseca
- Krv Kurva
- Letra
- Licor Beirão
- Licor Orangea
- Maria Góis
- Martine Love
- Missus
- Noogmi
- Oliveira da Serra
- Orikomi
- Plus351
- Praceta Lisboa
- PURE beloved by nature
- Quinta do Paral
- Sabores Altaneiros
- Sanjo
- Sofia Simões Jewellery
- Sogrape
- Sovina
- Sul
- Susana Barbosa Jewellery
- Tomaz Design
- Topázio 1874
- Victória Handmade