Morais Rocha Um regresso à Vidigueira

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O que começou em 2006 como forma de matar saudades da terra, toma agora ar de coisa mais séria. Os vinhos da casa Morais Rocha representam um portefólio vasto, com qualidade e carácter regional.

TEXTO E FOTOS Luís Lopes

JJMR, as iniciais que dão nome à sociedade agrícola, significam José Joaquim Morais Rocha. Este empresário nasceu na Vidigueira, de onde sua família é originária, mas muito cedo fez de Lisboa sua residência e da logística portuária e dos trânsitos de importação e exportação o seu modo de vida. À vila foi voltando para descansar nos fins de semana, mas em 2005 recebeu por herança as propriedades familiares e resolveu investir na agricultura, ampliando o património e apostando sobretudo no olival e na vinha.

A estrutura fundiária da Vidigueira pouco tem a ver com a de outras zonas do Alentejo. Aqui impera o minifúndio e as propriedades são muito fragmentadas. Para adquirir áreas com alguma dimensão é preciso comprar a dezenas de proprietários. Foi isso que José Joaquim foi fazendo. Com a terra, as oliveiras e as videiras, nasceu um lagar de azeite, de prensagem a frio, e uma pequena, mas bem equipada adega. A primeira vindima decorreu em 2006, 7.000 garrafas, vendidas para “os amigos”. Com o tempo, o crescimento das propriedades e da produção, aquilo que começou quase como um hobby tornou-se uma coisa muito mais séria. É que hoje são já 100 hectares de olival, que originam 45 mil litros de azeite, parte vendido a granel, parte com a marca Herdade dos Veros. A vinha corresponde a 18 hectares, plantados com as castas tintas Aragonez, Trincadeira, Syrah, Alicante Bouschet, Cabernet Sauvignon e as brancas Antão Vaz, Arinto e Verdelho (Verdejo, no caso). Mas mais 20 hectares serão plantados em breve.

CRESCER COM AJUDA DE PROFISSIONAIS

A profissionalização do projecto de José Joaquim Morais Rocha chegou há três anos, dinamizada pela sua filha Ana, que agora gere o dia a dia da empresa, com o apoio técnico dos enólogos Ariana Ramalho (residente) e Diogo Lopes (consultor), lidando com cerca de 180 mil garrafas/ano, número que obriga já a nova ampliação da adega e armazenagem.

O portefólio da JJMR tem na base de gama a marca Sei Lá, seguindo-se na hierarquia a linha JJ, depois a Herdade dos Veros, e culminando com os topo Morais Rocha, Reserva e Grande Reserva. Este último, que se estreia agora ao mercado com a colheita de 2013, representa bem o carácter mais clássico da Vidigueira, assente nas castas Trincadeira, Aragonez e Alicante Bouschet, e com muito bom equilíbrio ácido a compensar a maturação elevada. Um vinho que vem dar mais “músculo” ao negócio de uma família que viu no regresso às origens e na agricultura uma opção de futuro para as gerações vindouras.

NA FOTO: Ana, José Joaquim e João Morais Rocha.

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Edição Nº25, Maio 2019

Os topos de gama do Quetzal

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Chama-se Quetzal Família e enche de orgulho o proprietário, o milionário holandês Cees de Bruin. Até agora só tinha saído um branco, de 2012. Desta vez saíram dois vinhos, mais um branco e um tinto, com uma coisa em comum: apenas estão disponíveis em garrafas magnum, de 1,5 litros.

TEXTO António Falcão

NOTAS DE PROVA Mariana Lopes

FOTO Quinta do Quetzal

São de facto os vinhos mais caprichados da casa Quetzal, localizada junto a Vila de Frades, Vidigueira. De tal maneira que apenas são produzidos em anos que a qualidade foi muito acima da média e apenas são engarrafados em garrafa de litro e meio, vulgarmente chamado de magnum. Cees de Bruin, o proprietário da Quinta do Quetzal, estava radiante. “Estou orgulhoso de apresentar os vinhos da família. Quando comecei a produzir, não acreditava que fosse possível atingir esta qualidade”. O orgulho é justificado, porque os dois vinhos apresentados são de facto muitíssimo bons. Foram introduzidos por Rui Reguinga, o enólogo consultor, que explicou como foram conseguidos: “já temos um histórico das vinhas e escolhemos as melhores uvas das melhores parcelas para os vinhos Família”. A grande parte deste trabalho recaiu nas mãos de José Portela, o responsável de viticultura e enólogo residente.

Portela está desde o início do projecto na Quinta do Quetzal (2003) e conhece por isso cada palmo dos 49 hectares de vinha aí existentes.
O branco, da colheita de 2014, foi feito com uvas de Antão Vaz, de uma parcela adquirida há alguns anos a um vizinho, coronel de profissão, e por isso a vinha ficou com o nome de Vinha do Coronel. Tem quase 40 anos e está localizada na zona mais alta da quinta. O Antão Vaz daqui é por isso mais concentrado, mas também mais fresco. O mosto foi a fermentar com leveduras indígenas em barricas de 500 litros. Por ali ficou 18 meses, com bâtonnage semanal. Depois foi a engarrafar e por lá ficou dois anos.

Quanto ao tinto, da colheita de 2013, foi feito com uvas de Alicante Bouschet e Syrah. Rui Reguinga achou que o Alicante por si só não seria suficiente para fazer um grande vinho. Daí o Syrah, que trouxe notas de chocolate e especiarias. A vinha escolhida foi a que a equipa chama das Pedras, ao pé da adega. É uma terra pobre, muito pedregosa, e a vinha produz pouco, mas com excelente qualidade. Na adega, Rui Reguinga optou mais uma vez pelo minimalismo, a começar pelas leveduras indígenas e macerações longas (6 semanas). O vinho estagiou dois anos em barricas de 500 litros. Ambos os vinhos custam 65 euros a garrafa.

A apresentação decorreu na mesma altura em que o Quetzal festejou outra faceta importante do seu proprietário: a arte. A exposição “Mitos da Caverna – Espeleologia infinita)” foi inaugurada na mesma altura em que os Família foram oficialmente lançados. A exposição está patente no Quetzal e pode ser visitada até ao final de Março do próximo ano. Aproveite e almoce (ou jante, na sexta e sábado) no restaurante da quinta, dirigido pelo chef alentejano João Mourato. Pode fazer as suas reservas pelo site da casa: quintadoquetzal.com.

NA FOTO: Pedro Mendes (chef consultor do restaurante), Rui Reguinga (enólogo consultor), Reto Jorg (gestor do Quetzal), João Mourato (chefe do restaurante), Carla Caramba (brand ambassador Quetzal) e José Portela (responsável de produção).[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]

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Edição Nº25, Maio 2019

Os “single vineyard” de João Portugal Ramos

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João Portugal Ramos é produtor multifacetado, com projectos espalhados por várias regiões. Mas é em Estremoz, no Alto Alentejo, que estão as suas origens vitivinícolas e a sua principal adega, de onde nos últimos anos têm saído grandes novidades, como estes dois tintos.

TEXTO Nuno de Oliveira Garcia

FOTOS J. Portugal Ramos

Vinha de São Lázaro.

João Ramos tem vindo a concentrar a sua atenção no Alentejo, com investimentos na adega e na vinha, bem como em ‘rebranding’ e nova imagem. Por outro lado, os seus vinhos da região dos Vinhos Verdes conservam um nível alto (Alvarinho, Loureiro, Alvarinho Reserva e espumante Alvarinho) e os clássicos da Quinta de Foz de Arouce (branco, tinto e Vinhas Velhas de Santa Maria) estão consolidados num nicho de mercado. No Douro, a parceria com José Maria Soares Franco – Duorum Vinhos – é cada vez mais um referencial na região.

Ao mesmo tempo que se ocupa da ‘passagem geracional’ – o produtor tem dois dos seus filhos a trabalhar com ele –, João Ramos não pretende parar no que respeita a lançamentos de novos vinhos. Na verdade, foi o seu filho João Maria, que entrou na empresa em 2014 e cada vez mais se encarrega da área de enologia (e que também já tinha desenvolvido a gama Pouca Roupa), a identificar dois vinhos de parcelas e a convencer o pai em engarrafá-los separadamente. Nasceram assim, de solo alentejano, dois vinhos novos de duas vinhas – o Vinha de São Lázaro e o Vinha do Jeremias, esta última mesmo ao lado da casa da quinta em Estremoz. O primeiro provém de uvas de Touriga Nacional a partir de solos de origem calcária, e o segundo maioritariamente de Syrah de solos xistosos, ambos fermentados em lagares de mármore, com pisa a pé e estágio em barrica.

Destaque para o Vinha do Jeremias que é uma bonita homenagem a um funcionário da empresa com esse nome, falecido em 2017, e que sempre se dedicou à viticultura, tendo trabalhado ao lado de João Ramos durante décadas, e que sempre gostou muito da vinha de onde este tinto nasceu. O vinho agora lançado é de 2015 mas João Ramos já anunciou que não haverá edição de 2016. No entanto, tudo indica que será reeditado na colheita de 2017.

Vinha do Jeremias.

O conceito de ambos os tintos remete para a concepção de ‘single vineyard’ ou, como acontece no nosso país vizinho, para os ‘viños de pago’ (se bem

que estes não se confundem necessariamente com vinhos de uma vinha só). A ideia é apresentar ao público (mais) um vinho de grande qualidade, com uma identidade muito própria e, neste caso, monocasta. A própria imagem dos vinhos (rótulos, entenda-se) inspira-se num ambiente ibérico, o que se deve também à proximidade de Estremoz com a fronteira, com algo de, simultaneamente, barroco e másculo. Os vinhos podem ser adquiridos numa bonita caixa cinzenta com duas garrafas e preço irá situar-se na mesma fasquia que a gama bivarietal Quinta da Viçosa – ou seja, cerca de 25€. Será privilegiado o canal horeca (hotéis e restauração), uma vez que as quantidades não são generosas (entre 3.000 a 4.000 garrafas). A qualidade de ambos os tintos é inquestionável, e o perfil é intenso e capitoso, um pouco à margem das tendências mais modernas que privilegiam néctares menos concentrados mas que, sem dúvida, serão do agrado generalizado do público. O ano de 2015 foi tendencialmente quente e ajudou no desenho de vinhos com muito fruto e taninos completa¬mente maduros. São assim ambos os vinhos agora lançados, com o Syrah (e um pouco de Viognier, incluindo as películas da uva, como é habitual em Côtes du Rhône) a revelar-se intenso e capitoso, e o Touriga Nacional ligeiramente mais elegante. Tudo somado, temos mais duas excelentes criações de João Portugal Ramos – e família –, com a vantagem de terem um preço que, não sendo barato, é perfeitamente ajustado.

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Edição Nº25, Maio 2019

O Legado de um Homem

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Mais do que um lançamento, uma homenagem. O Legado tinto 2014, sétima edição do seu género, chegou como celebração de Fernando Guedes, o seu criador.

TEXTO Mariana Lopes

Quinta do Caêdo.

Para todos os que aqui estão, este é o seu legado e foi ele que nos reuniu à volta desta mesa”, foi a premissa deixada por Fernando Cunha Guedes (à direita, na foto), actual presidente da Sogrape e filho de Fernando Guedes, o sonhador do vinho a que chamou Legado. “Isto foi o que ele deixou para os que vêm a seguir. Um homem que era a nossa fonte de inspiração e motivação, que era o nosso grande amigo”, rematou.

Quando em 2006 o patriarca desafiou o enólogo Luís Sottomayor (à esquerda, na foto) para fazer este tinto, fêlo porque a vinha o despertou para tal. Na Quinta do Caêdo, em Ervedosa do Douro, a vinha centenária de oito hectares dispõe-se em socalcos num cenário deslumbrante, um anfiteatro esculpido solo abaixo que, pela sua idade e imponência, só poderia ser inspirador de algo maior. Com produções muito baixas (apenas um ou dois cachos por videira), esta vinha pré-filoxérica é trabalhada apenas à mão e com a ajuda de um macho, o que já dá uma ideia da especificidade do local e do equilíbrio natural que a Sogrape pretende manter. Todas estas características, juntamente com uma exposição a Poente e sol generoso, contribuem para o ADN do Legado, fazendo dele um vinho que é espelho da sua origem e da vinha que lhe dá matéria.

Vinificado na adega da Quinta da Leda, no Douro Superior, e estagiado durante 24 meses, em barrica nova, nas caves de Vila Nova de Gaia, o Legado tinto 2014 tem Touriga Franca, Touriga Nacional, Donzelinho, Tinta Roriz, Tinta da Barca, Rufete, Tinta Amarela, Tinta Bar¬roca, e outras em quantidade residual. Luís Sottomayor confessou: “Falar sobre este vinho é muito fácil, porque não há nada de artificial nele. A única preocupação que temos é vindimar, que é a única alteração à natureza que fazemos. O que o marca é a personalidade e o carácter, apenas divergindo o ano de colheita. Não há segredo nenhum”. E é verdade, ao Legado o que não falta é carácter, pois só um vinho assim consegue este fantástico equilíbrio com a barrica nova. Sobre o ano que foi tudo menos típico e fácil, Luís explicou que se contornaram os efeitos das adversidades neste vinho fazendo-se três vindimas, tendo sido duas delas executadas antes das chuvas de meados de Setembro que afectaram a colheita das uvas tintas em quase todas as regiões. O resultado é um tinto superelegante e fino, mas pleno de personalidade e complexidade.

“É o primeiro Legado que apresento sem a presença de um homem que, tal como este vinho, tem personalidade, carácter, elegância e presença”, disse Sottomayor. “Faz jus ao Sr. Fernando Guedes”.

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Edição Nº25, Maio 2019

Symington Vintage 2017 – Para quebrar a tradição

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[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]

Depois de 2016, que deu origem a Porto Vintage de grande categoria, veio a colheita de 2017, vindima quente, mas que proporcionou excelentes vinhos generosos na região duriense, eventualmente até melhores, no dizer de alguns, do que os do ano anterior. Duas declarações Vintage consecutivas, algo absolutamente inédito na família Symington que agora apresentou os seus 2017.

TEXTO João Afonso

FOTOS D.R.

É bem verdade que os anos de Verão quente e seco normalmente produzem excelentes vinhos do Porto. E esta década já vamos com três anos de excelente qualidade (2011, 2016, 2017), ou melhor, 4 anos de excelente qualidade para a produção de Porto se incluirmos, como penso que poderá acontecer, o ano de 2018. Aguardo com curiosidade o modo como o sector vai gerir stocks e declarações no meio de tanta fartura de excelentes Porto Vintage.

O clima (alterado, segundo tantos asseguram) está de tal modo de feição para a produção de vinhos do Porto que a Família Symington acaba de declarar pela primeira vez em toda a sua história duas vindimas consecutivas. Declarou 2016 e agora declara os 2007. Como dizia Charles Symington (na foto) “não seria lógico com vinhos desta qualidade não fazer a declaração. Nos meus vinte e cinco anos como enólogo na nossa empresa familiar, nunca vi um ano como este. As produções foram muito baixas, mas a intensidade, a concentração e estrutura foram de cortar a respiração. Produzimos vinhos muito bons.”
Segundo os vários elementos da família – onde há que destacar a presença do jovem Rob Symington (o representante dos seis elementos da quinta geração da família que se encontram já a trabalhar na empresa) – estamos perante uma das melhores colheitas de sempre. E climatericamente falando é, segundo resumo apresentado pela empresa, em tudo semelhante aquela que foi talvez a melhor colheita do século passado – 1945 – a colheita que comemora o final da 2ª Grande Guerra com grandes vinhos por toda Europa. Estes dois anos tiveram ciclos de vinha muito semelhante no que diz respeito a temperaturas, precipitação, produções e cronologia.

E tal como em 1945, em 2017 as videiras pareceram adivinhar a secura do ano, desenvolvendo copas vegetativas me¬nos exuberantes (para poupar consumo de água?) e criação de cachos mais pequenos e mais compactos que resultaram num sabor de uva muito fora do comum. O tempo seco permitiu menos tratamentos e uma sanidade de fruta irrepreensível. A produção total (2.815 kg/ha) andou 20% abaixo da média dos últimos 10 anos e esta situação também explica o aumento da qualidade.

Falando dos vinhos Symington 2017 estamos perante um grupo de sete Vintage de enorme, ou melhor, fantástica, qualidade. Cada qual no seu estilo, cada qual com os seus argumentos de persuasão. Um elegantíssimo e fresco Warre’s, o musculado e denso Dow’s, o sofisticado e lindíssimo Graham’s, o vigoroso e tão personalizado Vesúvio e os insondáveis e muito provavelmente inultrapassáveis Capela e The Stone Terraces. Ainda que estes dois últimos sejam mais uma espécie de Vintage para colecionador do que propriamente Vintages para consumir, pelo menos nos anos mais próximos….
Declaração generalizada ou não, percebe-se perfeitamente a razão pela qual a Família Symington faz pela primeira vez na sua história uma declaração consecutiva. Como refere Johnny Symington, chairman da Symington Family Estates, “poucas regiões de vinhos do Mundo restringem as produções de vinhos de topo com o mesmo grau de exigência que seguimos no Douro, e a decisão de declarar Porto Vintage em dois anos consecutivos não foi tomada de ânimo leve. Contudo, estes dois anos excecionais produziram vinhos de qualidade tão elevada que nos sentimos justificados nesta decisão histórico”. Como apreciador, só posso aplaudir a decisão.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]

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Edição Nº25, Maio 2019

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Diz-me a quem compras

Mais de metade do valor de qualquer empresa está na sua rede de fornecedores e um restaurante é visceralmente dependente dela. As etiquetas das toalhas de mesa, as marcas dos copos, os talheres e a parafernália de alfaias e utensílios têm marca. Tarda a hora da transparência sobre o que se processa na cozinha. Fazia […]

Mais de metade do valor de qualquer empresa está na sua rede de fornecedores e um restaurante é visceralmente dependente dela. As etiquetas das toalhas de mesa, as marcas dos copos, os talheres e a parafernália de alfaias e utensílios têm marca. Tarda a hora da transparência sobre o que se processa na cozinha. Fazia toda a diferença.

TEXTO Fernando Melo

Começo por onde devia terminar, por outro lado sei que assim o texto termina bem. Numa mesma casa de sushi, felizmente encerrada por falência há mais de três anos e de que também felizmente nunca mais se ouviu falar, deram-me vieiras estragadas a comer, na forma de sashimi. Duas vezes, em dias diferentes. Não fiz queixa a ninguém, confrontei-os apenas na segunda vez, e na resposta mais cândida recebi ali mesmo a explicação. Para eliminar a parte amarela – palavras deles – tinham uma escova muito forte e mesmo assim às vezes aparava a com a faca, mas que não me preocupasse porque eram fresquíssimas. Abençoado lança-chamas que mentalmente levo sempre na mala do carro para tratar destes assuntos! Além de tresandar a podre a da derradeira vez, estava viscosa e em decomposição, deitei fora logo no primeiro contacto com a língua. Caso perdido, resolvido e ultrapassado, mas era muito mais fácil se me mostrassem o que pedi, a quem compraram aquelas vieiras. Solução mais simples não há, e de facto a maravilhosa arte da cozedura pela lâmina que é o sashimi transforma-se rapidamente em pesadelo. Devo ao chef Paulo Morais – actualmente no Kanazawa – a primeiríssima chamada de atenção para o aspecto crucial do fornecimento de peixe e marisco para diferenciar as ofertas de sushi. Foi há vários anos, na sequência de uma lista dos melhores do ano que fiz com um amigo correlegionário. Disse-lhe então que duvidava que nos dessem essa informação, mas ele respondeu da melhor forma, se não derem, isso mesmo é já uma resposta. Toda a razão. Quando há cerca de cinco anos publicámos o grande guia de restaurantes, já só atribuímos a pontuação máxima aos restaurantes que nos revelassem os seus fornecedores principais, independentemente da categoria. Alguns caíram pela base, outros recusaram-se a dar a informação pedida, outros ainda mereceram mais uma visita, pela excelência e transparência demonstradas e acabaram por subir no quadro geral. A excelência deve ser premiada e não há melhor restaurante do que aquele que exige excelência a quem o fornece.

Arnaldo Lopes gere no Porto juntamente com o seu sogro o talho Europa que à excelência que sempre teve juntou agora uma das mais excepcionais ofertas algumas vez montadas no serviço carniceiro em todo o país. A partir de cortes menos nobres, por exemplo, produz material excelente para a grelha, de suculência que ele próprio explica às casas com quem trabalha. É por aqui que se avança em conhecimento, comunicação íntima entre quem todos os dias tem clientes exigentes para satisfazer e quem vive concentrado em seleccionar o melhor. A excelência, no fundo, está na cadeia de valor, desde a criação ao prato. O célebre e aclamado leitão assado à Bairrada vive do cruzamento de raças na criação, alimentação adequada e abate no momento certo. De nada adianta estar a levar nos famosos espetos o requinho à assadura se essa primeira etapa não for cumprida. Sem véus nem disfarces, foi pela mão de Vidal Agostinho Ferreira que eu próprio vi e dei conta nestas páginas a criação entre bísaro e duroc que perto do lugar sacrificial do fogo acontece. Ele e o irmão são ambos filhos do famoso Vidal que originou o restaurante do mesmo nome, permanecendo sócios e empenha¬dos cada um da sua forma na excelência no processamento e serviço do leitão assado. Na Marisqueira de Matosinhos, no Relento em Algés e na Nunes Real Marisqueira em Belém tenho momentos de grande bondade e mesmo emoção, pelo produto extraordinário que nos é proposto. Quando pergunto donde vem nem pestanejam, é com orgulho nos seus fornecedores que os revelam. Hoje em dia não há segredo que dure mais de um dia, por isso transparência é tudo. É que depois de garantir bons produtos na cozinha, ainda há toda a arte culinária da preparação e transformação. Cada um de sua forma e salva-guardadas as diferenças entre si, os que se relacionam com a peixaria Veloso, no Mercado 31 de Janeiro, em Lisboa fazem parte da prodigiosa cadeia de excelência gerada pela pequenina gigante Açucena Veloso, que nos deixou há um ano mas deixa descendência real e espiritual e continua a atrair os melhores ao mercado junto ao Saldanha. Quando há muito tempo o sushi começou a conhecer declinações de grande talante. Açucena quis saber mais sobre aquilo de que precisavam os mestres para o seu ofício. Aprendeu a preparar os peixes como queriam e pediam, cada um com o seu preceito e feitio. Excelência, mesmo num campo totalmente virgem e para que não tinha sido treinada. O mesmo vale para o serviço clássico de peixe de bitolas maiores para os restaurantes de primeira linha, quando indagamos e tomamos nota, ressoa o nome Veloso como marca e garantia de qualidade. A data de 31 de Janeiro, que dá nome ao mercado lisboeta é importante no calendário revolucionário e marca uma das primeiras, se¬não a primeira, revolta anti-regime, e aconteceu no Porto. No Porto, sim, não em Lisboa. Aquele mercado do Saldanha é o mercado da Açucena Veloso e é esse o nome que devia ter. Não se trata de alterar toponímia alguma, as ruas de Lisboa têm a sua organização própria. A melhor homenagem que se pode fazer é rebaptizar o templo peixeiro com o nome de Açucena Veloso, a maior revolucionária de sempre, sem ela a nossa vida era infinitamente mais pobre. Mas isso já disse muitas vezes.

Vinhas Velhas ou Vinhas Antigas?

Julgo que nunca os rótulos e contra-rótulos das garrafas falaram tanto de vinha velha como hoje. Intensamente arrancadas nas últimas décadas, as vinhas velhas são agora uma espécie de pequeno “luxo” para quem procura estatuto e preço. TEXTO: João Afonso Um dos tópicos mais interessantes da vitivinicultura, e por inerência, no comércio de vinho que […]

Julgo que nunca os rótulos e contra-rótulos das garrafas falaram tanto de vinha velha como hoje. Intensamente arrancadas nas últimas décadas, as vinhas velhas são agora uma espécie de pequeno “luxo” para quem procura estatuto e preço.

TEXTO: João Afonso

Um dos tópicos mais interessantes da vitivinicultura, e por inerência, no comércio de vinho que lhe está ligado, é o conceito de “vinha velha”.
Interessante porque, em primeiro lugar, a maioria das pessoas atribui este conceito à unidade “tempo de existência” da vinha; e em segundo lugar porque os conceitos regionais deste pressuposto se confundem. Por exemplo, na sub-região de Monção e Melgaço, assim como no Alentejo, o conceito tem um valor, enquanto no Douro ou no Dão tem um valor totalmente diferente. Um vinha com 30 anos será uma vinha velha nas primeiras regiões e apenas uma vinha adulta nas segundas. Mas, apesar desta ambiguidade, nos rótulos o termo “vinha velha” procura chamar a atenção do consumidor para algo raro e especial que produz um vinho também ele especial e raro.

É também curioso observar como evolui o pensamento vitícola e as modas de consumo que o repercutem. Até aos anos 80, a “vinha velha” era um conceito pouco ou nada explorado pela vitivinicultura nacional. Normalmente, uma vinha velha era sinónimo de pouca produção e, portanto, de prejuízo para quem dela tentava colher o “pão” que punha à mesa. A partir da década de 90 foram as vinhas modernas, a maioria delas, se não mesmo a totalidade, já regada, com (poucas) castas de clones selecionados, plantadas por talhão, que deslumbrou todo sector vitícola e enológico nacional, assim como os enófilos fiéis e praticantes. Agora passadas quase duas décadas do virar do século e de mais de 3 décadas de modernidade, sugere-se, pela quantidade de rótulos com o termo “Vinha Velha” (no singular ou no plural) que o vinho de maior valorização vem da tal vinha velha que muitos desprezaram antes de todo o movimento renovador.

Escrevo em Abril de 2019. E nesta data ainda me é possível definir com alguma precisão (cultural e não temporal) o que eu entendo ser uma vinha velha. Mas não sei se em Abril de 2069, se alguém decidir escrever sobre o tema, o poderá fazer nas mesmas condições. No Douro ainda existem cerca de 15.000 hectares de vinhas ditas “velhas”. Na Beira de Pinhel, nos Trás-os-Montes de Bouça (Mirandela) a Rebordelo, na Serra de S. Mamede, na Bairrada e Dão, ainda podemos encontrar vinhas velhas (aqui não existem dados cadastrais) mas daqui a 50 anos o panorama será obrigatoriamente diferente e o conceito de “Vinha Velha” poderá ser ou será bastante diferente daquele que hoje defendo. Tudo dependerá do modo com as presentes gerações protegerem a diversidade ampelográfica e genética recolhida e construída pelas gerações que nos antecederam. Se não o fizermos, o meu colega jornalista de 2069 escreverá sobre vinhas velhas de um modo bem diferente do meu. E muito provavelmente é o que acontecerá! “Tudo tende a desaparecer” como dizia muito bem, o realizador Wim Wenders numa entrevista recente sobre cultura portuguesa.

Defendo para este conceito uma identidade portuguesa com fundamento histórico. Mas existem exceções em Portugal de vinhas velhas com castas estrangeiras. Vinhas com mais de 50 anos (se aceitarmos que 50 anos é uma idade “velha” para uma vinha) das castas francesas Syrah e Cabernet Sauvignon. E num conceito simples e restrito de “tempo” temos de aceitar que estas vinhas são velhas. Aliás até há muita vinhas de Syrah com envelhecimento precoce (perdoem a ironia) um pouco por todo o mundo, mas adiante, que este é outro assunto um pouco mais alarmante.

Se nos cingirmos ao conceito de “tempo”, o conceito de vinha velha é muito discutível e não possui, na minha opinião, suficiente robustez. Temos de o tornar mais completo, mais rico, para lhe darmos solidez e o tornarmos realmente único e especial. Será que há mais valia de “tempo” e “história” num vinho de Touriga Nacional vindo de uma vinha de 30 anos, regada, com clones selecionados, que o proprietário assegura que é “velha” porque foi plantada há 30 anos?

A “Vinha Velha” que aqui tento apresentar e defender é, como referi, uma “Vinha Velha Portuguesa”, ou será que devo escrever “Vinha Velha Mediterrânica” porque não é só em Portugal que ainda existem vinhas multifacetadas com uma incrível diversidade de castas brancas e tintas dentro do seu (por vezes muito pequeno) perímetro, numa coleção varietal selecionada “empiricamente” pelos nossos avós e bisavós, e por vezes mesmo, pelo acaso dos garfos que estavam mais “à mão” do enxertador que enxertava o “pau” (garfo) de videira europeia no cavalo americano.

Estas vinhas, de condução em taça, não aramadas, não regadas, sem clones selecionados, normalmente muito baixas (para não puxarem muito pela “bomba” de fluidos da planta) eram a maioria das vezes, acompanhadas de outras culturas, normal¬mente oliveiras, por vezes mais algumas árvores de fruto como macieira, pereira, ou no caso de vinhas de altitude, cerejeira e castanheiro.

Note-se que na consociação com olival a combinação é perfeita pois as raízes superficiais da oliveira não competem com as raízes profundas da videira. E era feita uma ocupação de solo com duas das três principais culturas mediterrânicas (vinha, olival, e trigo). Brilhante estratagema dos antigos viticultores.

Estas “Vinhas Antigas”, termo que prefiro a “Vinha Velha”, eram custosas de trabalhar. Tudo feito à mão, pulverizações com o pulverizador às costas, erva gadanhada e dada ao gado assim que o calor a fazia crescer (ainda no começo do ciclo vegetativo da videira), e mais tarde, antes calor a sério, vinha lavrada com homem, arado e macho; e nalguns casos de vinhas desordenadas ou não alinhadas, mais alguém à frente a conduzir o macho ou mula, entre o aperto das videiras, para que os flancos deste não batessem ou arrancassem os tenros rebentos primaveris. Estas vinhas consociadas, tinham também a grande vantagem, nas regiões do interior com maior insolação e mais expostas às altas temperaturas de Verão, de usufruírem da sombra das oliveiras nas horas de maior aperto de calor.

De um pequeno pedaço de terra tirava-se alguma fruta, azeito¬na, azeite, vinho e aguardente (depois de destilado o bagaço). É este modo de vitivinicultura (ou melhor dizendo, policultura), que terminou com a implantação da agro-indústria nos anos 50 do século passado, que no meu entender melhor se enquadra no conceito de “vinha velha”; sempre sinónimo de vinha multi varie¬tal, à partida não aramada, mas sempre de sequeiro, sem clones seleccionados e de preferência consociada com outras culturas.

Provar vinhos destas vinhas é sempre muito estimulante. Cada vinha tem uma coleção de castas diferente que contribui com um carácter diferente para o vinho que dela se faz. Não é que as vinhas novas não façam vinhos diferentes, claro que sim! Mas os vinhos tirados de vinhas realmente velhas (ou melhor, de vinhas antigas) têm um carácter único, especial, mais insondável e obviamente menos focado no tantas vezes cansativo e banal “fruto”!
Os vinhos de Vinhas Velhas ou de Vinhas Antigas, são vinhos que espelham a fantástica expressão de terroir mediterrânico, que nada tem a ver com o mais famoso e caro terroir francófono, mas que em nada lhe fica atrás.

Defendo inclusivamente um futuro com certificações especiais para este tipo de vinhas e de vinhos. São património nacional. Devem ser protegidos!

Brett, esse defeito indesejável

Também chamado ‘suor de cavalo’ – ou estrebaria – o brett será talvez o defeito mais perniciosos do vinho contemporâneo, o qual, na maioria dos casos, já não apresenta defeitos maiores no fabrico. Castas como a Touriga Nacional e o Cabernet Sauvignon são particularmente sensíveis à levedura Brettanomyces / Dekkera. TEXTO João Afonso Brett é […]

Também chamado ‘suor de cavalo’ – ou estrebaria – o brett será talvez o defeito mais perniciosos do vinho contemporâneo, o qual, na maioria dos casos, já não apresenta defeitos maiores no fabrico. Castas como a Touriga Nacional e o Cabernet Sauvignon são particularmente sensíveis à levedura Brettanomyces / Dekkera.

TEXTO João Afonso

Brett é o nome comum do género de leveduras Brettanomyces / Dekkera bruxellensis. Podem-se encontrar na uva, mas o seu ambiente preferido é a barrica, onde ataca sobretudo o vinho tinto em estágio (quase não se manifesta no vinho branco). Insta¬la-se durante o estágio, nas borras finas, aumen¬tando lenta e progressivamente a sua produção de etilfenóis, que se dividem de duas formas: em 4-etilfenol, que dá aromas mais depreciativos de couro e suor de cavalo; nos piores casos os vinhos cheiram a pocilga ou estrebaria. Quando os etil¬fenóis se dividem em 4-etilguaiacol, surgem aromas queimados e medicinais. Os etilfenóis são um grande problema da enologia moderna.

Modos de combate

O Dióxido de enxofre é um forte inibidor da multiplicação e atuação da B. bruxellensis. Usa-se também Quitosano (quitina), um polímero natural, biodegradável e biofuncional que possui propriedade antimicrobianas e antifúngicas. Refira-se que o grau alcoólico acima de 13% limita a produção de etilfenóis. No engarrafamento é por vezes usado DMDC (dimetildicarbonato) ou filtração esterilizante para limitar ou evitar a presença desta levedura em garrafa. Mas é crucial o controlo periódico no vinho da presença e desenvolvimento desta levedura.

A opinião de Carlos Silva, enólogo

Uma dor de cabeça, é uma levedura de “fundo de corredor”, está sempre à espreita. Degrada o ácido para-cumárico e produz etilfenóis. Analiso os meus vinhos e vejo se têm ou não leveduras viáveis e decido atuação em face dessa análise. O limiar de perceção humana anda pelos 400 microgramas/litro mas há quem detete a 200 ou menos microgramas. A quantidade e a manifestação do etilfenol também depende do tinto: se for estruturado, aguenta mais do que se for delgado. Para lá de tudo isto temos duas escolas. A francesa que diz que a Brett é couro russo do melhor, e a australiana que por vezes com doses muito mais pequenas diz que o vinho está sujo e tem defeito. A Brett é também uma questão cultural.

Edição Nº25, Maio 2019

Gifts4Wine – No mundos dos acessórios

Quando se fala de acessórios para o vinho, a Gifts4Wine é um ponto de encontro obrigatório. Não é uma empresa, mas uma marca, com vários produtos a apelar aos enófilos. TEXTO António Falcão FOTOS Ricardo Gomez São poucas as empresas em Portugal que têm capacidade para fornecer toda a espécie de produtos na área dos […]

Quando se fala de acessórios para o vinho, a Gifts4Wine é um ponto de encontro obrigatório. Não é uma empresa, mas uma marca, com vários produtos a apelar aos enófilos.

TEXTO António Falcão

FOTOS Ricardo Gomez

São poucas as empresas em Portugal que têm capacidade para fornecer toda a espécie de produtos na área dos brindes comerciais. Uma dessas empresas é a Enterprom, com sede em Almada. A empresa é propriedade de Ricardo Almeida, que a fundou há cerca de uma dúzia de anos. Começou com um pequeno stock mas rapidamente a Enterprom foi crescendo e hoje tem um portefólio de produtos que supera as 20.000 referências. O leque é assim gigantesco, indo do simples lápis ou esferográfica, com preço unitário de apenas alguns cêntimos, até à mala de pele a custar mais de uma centena de euros. Pelo meio existe toda uma parafernálias de produtos, desde têxteis mais variados, coisas para crianças, ferramentas e tecnologia, produtos para escritório e lazer, para casa, etc, etc. Se quiser dar uma olhada, dê um pulo ao site da casa (em brindespromocionais.com.pt) mas prepare-se para passar umas horas a ver todo o portefólio existente.
A grande vantagem deste tipo de empresas de brindes promocionais é que podem (e usualmente o fazem) personalizar os produtos com a marca e o logótipo de uma empresa, por exemplo. Ou os produtos já vêm assim de fábrica, ou então existem impressoras que conseguem imprimir em vários materiais, incluindo pele, tecido, madeira e mesmo metal, por exemplo. Na verdade, todo o objecto manejável que puder ser personalizado, a Enterprom tem.

NASCE A GIFTS4WINE

Há alguns anos, um grande cliente da área dos vinhos pediu cotações para um conjunto de produtos que queria oferecer aos seus próprios clientes, na área da restauração e hotelaria. Uma parte era constituída por brindes, mas outra incluía acessórios, como saca-rolhas.
Artur Jorge Pereira, comercial na Enterprom, decidiu investigar melhor e descobriu vários fabricantes/produtos que correspondiam ao que era pedido e a Enterprom acabou por ganhar o negócio, que englobava saca-rolhas, mangas refrigeradoras ou discos anti-pingos, mais conhecidos como dropstops.
Na verdade, Artur descobriu muito mais do que isso. Descobriu, por exemplo, que o mundo dos acessórios para vinho é muito mais vasto do que ele pensava. E desafiou o patrão da Enterprom, Ricardo Almeida, a começar a investir nesta área de negócio. E assim aconteceu, nascendo a marca Gifts4Wine, que funciona um pouco como um departamento da Enterprom. O projecto foi criado em 2012, mas só arrancou a sério em 2013. Os primeiros tempos não foram fáceis, mas, diz-nos Susana Almeida, “com muito esforço e dedicação, a casa foi singrando”. Susana é a segunda pessoa na Gifts, e, tal como Artur Jorge, é uma polivalente.
Existe uma terceira pessoa, na área logística. Todas as questões administrativas ficam na Enterprom, onde estão Ricardo Almeida e a sua mulher, Maria João.

UM ENORME PORTEFÓLIO DE PRODUTOS

Com o tempo, a Gifts foi-se solidificando e criou algumas parceria importantes. A mais conhecida será com a Coutale, a marca francesa de saca-rolhas. Distribuidora exclusiva, a Gifts já vendeu milhares de referências por esse país fora e não estaremos muito longe da verdade se dissermos que está no top de vendas a nível nacional neste tipo de produto, de muito boa qualidade e a preços bastante interessantes. Outra parceria importante é com a Drop Stop, o fabricante original dos discos anti-pingos e que hoje são universalmente usados pelos enófilos. Altamente personalizáveis, estes discos têm também sido um sucesso de vendas. Tal como os frapês e as mangas refrigeradoras, de que a Gifts possui vários modelos diferentes.
Estes quatro tipos de produtos têm constituído o núcleo duro das vendas, mas com alguma saturação no mercado, está na altura de afinar estratégias. A Gifts possui muito mais e, na verdade são cerca de 400 referências diferentes. Dos pequenos acessórios para o vinho até às garrafeiras climatizadas, com capacidade para até quase 300 garrafas. Pelo meio existem produtos pouco comuns, como copos de vinho feitos de Tritan, um material mais perto do plástico que do vidro e preparados para o consumo no exterior. É especialmente indicado para festas em jardins ou na via pública, onde o vidro está proibido.

CHEGAR AOS RESTAURANTES E AOS ENÓFILOS

Sete ano depois da fundação, Ricardo Almeida acha que chegou o tempo de fazer afinamentos na estratégia da Gifts. Em primeiro lugar vai explorar o mundo da restauração, especialmente os estabelecimentos mais clássicos. Diz ele que “queremos equipar os restaurantes com artigos personalizados, dos têxteis aos copos”. De facto, muitos restaurantes até têm acessórios que foram oferecidos pelo distribuidor de vinhos, ou pelo fornecedor disto ou daqui¬lo. Mas não fazem publicidade ao restaurante, que é de facto o que interessa ao seu proprietário.
A outra direcção estratégica acaba por ser um reforço mais empenhado do que já existia. “Chegou a altura de a Gifts4Wine se virar decididamente para o consumidor final”, considera Artur Jorge Pereira. Não é que o enófilo tenha sido esquecido nestes últimos anos, nada disso. Mas é preciso ser mais pro-activo nesta matéria. Porque, se virmos bem, existe o portefólio e a loja online já lá está. Qualquer enófilo pode ir ao site (gifts4wine.com) e fazer as suas compras, sem haver quantidades mínimas a adquirir. Melhor ainda, os preços já incluem o envio da mercadoria.
O futuro mais próximo irá encarregar-se de validar esta nova estratégia, mas os responsáveis da Gifts4Wine fizeram os seus cálculos e estudos antes de mudar agulhas. Basta agora estarem atentos ao caminho.

NA FOTO: Maria João Almeida, Susana Almeida, Artur Jorge Pereira e Ricardo Almeida.

 

Edição Nº25, Maio 2019

Vinhas mal dormidas

O repouso vegetativo, tal como o nosso sono, tem uma função para as plantas. Conhecemos bem os efeitos de uma noite mal dormida ou da privação continuada do sono por um longo período. Na vinha não conhecemos tão bem. Importará estarmos atentos neste ciclo vegetativo e tentar não importunar muito. A vinha, claro. TEXTO João […]

O repouso vegetativo, tal como o nosso sono, tem uma função para as plantas. Conhecemos bem os efeitos de uma noite mal dormida ou da privação continuada do sono por um longo período. Na vinha não conhecemos tão bem. Importará estarmos atentos neste ciclo vegetativo e tentar não importunar muito. A vinha, claro.

TEXTO João Vila Maior

Trabalho em viticultura desde 1996. Portanto, já lá vão mais de vinte anos e não tardará muito o quarto de século. E garanto-vos que passei muitas noites de sono mal dormidas por preocupações vitícolas. Especialmente quando tive a meu cargo algumas centenas de hectares.
Por isso sei bem do que falo e respeito muito quem continua, a cada dia, a ter a seu cargo vinhas e mais vinhas, controlando o que pode controlar e mitigando os problemas que não pode controlar. Durante este quase quarto de século, asseguro-vos, nunca vi dois anos iguais, dois anos em que fosse possível controlar tudo e, cada vez mais, louvo o saber popular que institui a expressão “até ao lavar dos cestos vai a vindima”.
Num ano dito normal, a vinha arranca com o abrolhamento na primavera ou ligeiramente antes, e experimenta uma forte expansão vegetativa com o aumento (não extremo) das temperaturas, especialmente enquanto goza dum conforto hídrico. Normalmente, com a chegada do verão, a dinâmica de crescimento diminui, o stress hídrico e as temperaturas mais extremas encarregam-se de frenar a expansão vegetativa. Algumas folhas acusam o desgaste, secam de muito fotossintetisar, por falta de água ou queimadas por golpes de calor. Estamos então no verão durante o qual, algumas castas e em algumas regiões, tem lugar a vindima. No outono vindimam-se as castas mais tardias e acentua-se o abrandamento da actividade vegetativa e a senescência foliar, muito ajudada pela diminuição das temperaturas e das geadas outonais. Isto é a preparação para a dormência, do merecido descanso, pois para o ano haverá mais.

DEITAR TARDE, ACORDAR CEDO…

No ano de 2018, do abrolhamento até julho, houve muita chuva que fez com que a temperatura do solo nunca fosse tão elevada. Também as temperaturas do ar foram menos
elevadas relativamente à norma. Consequentemente, as vinhas foram-se desenvolvendo com um atraso vegetativo assinalável. Depois, no início de agosto, tivemos uma onda de calor que durou 4 dias, que bateu recordes e que, em muitos casos, dizimou a produção com um escaldão de má memória. Por muito que não se diga, para jornalista não escrever e consumidor não ouvir… houve muitas maturações desequilibradas, pelo que a evolução dos vinhos é uma incógnita. Com tudo isto, as vindimas foram, como não tenho memória, mais tardias. Por sorte não choveu, fruto dum verão que entrou pelo outono dentro. As folhas tardaram a cair e penso que não exagerarei em afirmar que o ciclo acabou cerca de um mês mais tarde do que a média dos anos anteriores.
O outono e inverno vieram secos. Com o solo seco, a temperatura do solo subiu com facilidade fruto das temperaturas mais elevadas do final de fevereiro e março deste ano de 2019. Como consequência, as raízes iniciaram a sua atividade e o abrolhamento teve lugar uns quinze dias mais cedo do que o habitual.
Contas feitas, as vinhas terão entrado em dormência cerca de uns mês mais tarde do que o habitual e abrolharam uns 15 dias mais cedo, ou seja, terão tido menos um mês e meio de dormência. Estarão, certamente cansadas, intolerantes e irritadiças. Vamos ver as consequências que isto terá para a qualidade dos vinhos e para a perenidade das vinhas.

Edição Nº25, Maio 2019