Harmonias: O fabuloso mundo dos azeites

Nada satisfaz mais o português que a ideia de abundância à mesa. O azeite é uma gordura muito especial por isso mesmo e não há melhor recompensa que uma nódoa do ouro líquido na camisa ou na gravata. A técnica mudou muito, mas a glória permanece e faz-se sentir nas grandes e pequenas declinações culinárias. […]

Nada satisfaz mais o português que a ideia de abundância à mesa. O azeite é uma gordura muito especial por isso mesmo e não há melhor recompensa que uma nódoa do ouro líquido na camisa ou na gravata. A técnica mudou muito, mas a glória permanece e faz-se sentir nas grandes e pequenas declinações culinárias. O tempo e o modo pedem azeite novo e em troca obtemos as maiores alegrias.

 

Das gorduras utilizadas pelo mundo na cozinha, o azeite é porventura a mais sofisticada, pelo simples facto de que intervém, com toda a sua personalidade, tanto no gosto como no aroma.

Não é uma gordura neutra e altera as suas características com o tempo, dois factores a ter em conta em qualquer utilização que se faça. Mas há mais. A cor do azeite não tem qualquer significado quanto a origem, qualidade ou acidez. Isto vale para os que vêem virtude nos azeites de uma certa cor, preterindo uns em relação a outros. É tanto assim quanto a prova de azeite é normalmente feita em gobelês de vidro azul, para que a coloração do conteúdo não influencie o juízo que se está a tentar fazer.

Outra falácia bastante comum é a presunção da acidez a partir da prova em boca. Um erro que se encontra muitas vezes entre os provadores de vinhos, referindo-se à acidez titulada em ácido tartárico ou sulfúrico. Acontece que a acidez do azeite se refere ao teor de ácido oleico, que o nosso sistema gustativo não consegue julgar. Há que não confundir com os amargos de certo azeite, que comunicam informação semelhante mas sem qualquer relação possível entre uma coisa e outra. Já o mesmo não se pode dizer dos aromas, que podemos e devemos julgar livremente com os receptores que utilizamos no quotidiano. É de resto nesta etapa da degustação que avaliamos defeitos nos azeites, caso por exemplo da tulha, ranço e mofo. A tulha tem origem no armazenamento precário e amontoado das azeitonas, que fermentaram por isso mesmo. Já o ranço é devido à oxidação da matéria-prima, e o mofo tem a ver com humidade residual, contaminando e condenando o estado da fruta antes do processo extractivo que origina o azeite. Um azeite defeituoso nunca melhora e vai arruinar todo e qualquer cozinhado que se faça com ele.

harmonias azeite

A prova de azeite é normalmente feita em gobelês de vidro azul, para que a coloração do conteúdo não influencie o juízo que se está a tentar fazer

Pelas virtudes é que vamos

A prova de azeites é completamente diferente da prova de vinhos e exige prática recorrente. Recomendo um caminho na exploração dos aspectos positivos, mais do que dos negativos de cada azeite. Tal como no vinho, detemo-nos nos aromas primeiro, e procuramos destrinçar as notas de fruta verde, como noz e maçã, das sensações mais maduras como ameixa  e dióspiro. Depois temos de colocar no tabuleiro variáveis como especiarias, flores e notas balsâmicas, tal como fazemos com o vinho numa prova. Talvez não seja de imediato, mas em três tempos vai tornar-se especialista e aprender a explorar sem ajuda o fabuloso mundo dos azeites. Desde que seja virgem extra, o sentido de descoberta instala-se rapidamente, para nunca mais nos deixar.

Como tempero de saladas, utilizamos abundantemente um bom azeite e logo os componentes individualizados se manifestam como um instrumento musical numa orquestra. O mesmo acontece com o vinagre, e não é à toa que azeite e vinagre entram juntos à mesa, quase com o mesmo valor de sabor, pois no equilíbrio é que está o ganho. A fritura é manifestação feliz dos pontos positivos de uma gordura na cozinha, ajudando a conservar os alimentos e, ao mesmo tempo, conferindo-lhes a crocância que tanto apreciamos numa boa tempura. O azeite pode, neste caso, ser uma boa influência. Mas, na maioria das situações, um óleo alimentar de origem vegetal consegue melhores resultados. Face aos alimentos crus que estamos a trabalhar, adornados por gorduras abundantes, o conselho de harmonização recai inevitavelmente sobre um Loureiro sem madeira, da região dos Vinhos Verdes. A acidez fixa elevada resolve, o sabor consola. Se acrescentar frutos secos como amêndoas ou nozes, o acréscimo na textura vai encontrar contraponto de luxo no vinho da casta rainha de Ponte de Lima.

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A variante lagareiro

A primeira declinação culinária que nos vem à mente, no tocante a azeite e proteína, é a posta de bacalhau assada no forno, bem regada e orlada com bastante alho. Sabores que estão incrustados na nossa alma desde que nascemos, com os quais crescemos bem nutridos e felizes, passando o testemunho para as gerações seguintes. Seja bacalhau, polvo, lulas ou outro ingrediente principal, encontramos esta solução culinária sob a designação “lagareiro”, justamente por ter o azeite como condutor do calor para o cozinhado. Em casa, dizemos apenas que é assado em azeite, mas, de facto, justifica-se alguma reflexão, porque não é exactamente assim.

Aproveito para introduzir alguma entropia – leia-se agitação – no assunto, indo aos postulados que reconhecemos como fundadores do processamento lagareiro. Um Vinhão do Minho ou um Cabernet Sauvignon do Tejo fazem as loas ao assado magistral, conferindo-lhe realeza e novos matizes de sabor. Ultimamente tenho feito experiências com vinhos Chardonnay do Tejo com madeira, exactamente com esta preparação de bacalhau com azeite, e quase sempre resultou. Há que experimentar e provar com persistência. Por muito que se evoque a tradição, sabemos que é coisa incriada e sempre aberta a novos processamentos.

Em tempos idos, enquanto se extraía o azeite novo nos lagares, aproveitava-se para ir lascando, respeitando o colagénio existente em abundância na posta. Em termos de temperatura, estava-se longe da fervura, que, como todos sabemos, é prejudicial à saúde do bacalhau, correndo o risco de secar e encortiçar. Era como se a posta soltasse pétalas de extremo sabor e tenrura. Entretanto, sobre as brasas mortiças repousavam batatas rachadas que, no momento de consumir, se juntava e regavam com o azeite novo e morno. Esta história ficcionada tem um fundo autêntico e situa-se nas Beiras, onde tem raízes a epopeia do bacalhau na mesa portuguesa. Fica maravilhosamente bem com um branco de Fonte Cal da Beira Interior, aliás como qualquer perfil de bacalhau. Gosto de fazer o paralelo com o torricado do Ribatejo. As incisões numa fatia de pão velho em diagonais cruzadas, o alho esfregado e o azeite acabado de fazer, depois enriquecido com pedaços de proteínas diversas, são iguaria digna dos deuses. Talvez nestas circunstâncias devamos orientar-nos para um Fernão Pires de Almeirim, copioso e não muito frio, para que a alquimia de boca se cumpra. Não se deixe intimidar pela eventual desconfiança no bacalhau congelado, em pratos que queremos executar rapidamente pode mesmo ser a solução indicada. Eu tenho, por hábito, demolhar bacalhau seco para depois demolhar a preceito e congelar. Para mim o sal deve pronunciar-se sobre a goma e a única forma de o conseguir é com esta abordagem. Mas há produtos cortados e corrigidos que vão ao encontro dos nossos gostos e bolsas, que dão rendimento muito apreciável em termos de sabor e integração em pratos de forno. Importante é que se cumpra o desígnio inicial, que é ter sempre bom bacalhau na mesa.

harmonias azeite

As variantes da variante

Em tempos que já lá vão reinou entre nós uma das sérias figuras da alta cozinha, chamado Aimé Barroyer. A cozinha do Pestana Palace, em Lisboa, vibrou e ficou ao rubro diversas vezes, com as criações do grande chef francês. Inesquecível a forma cândida com que Barroyer assumiu a sua perplexidade ante jóias da nossa cozinha, como a massa de pastel de bacalhau. Provei mais de uma dúzia de pratos feitos com a dita massa, a que confesso que nunca havia dado a atenção que o genial chef deu. Talvez a mais incrível de todas tenha sido a sua bola de massa de pastel de bacalhau em cama de percebes. No fundo, tratava-se de uma bola de massa próxima da brandade, que ia a fritar com batata palha à laia de raios de sol e vinha servida em cama de percebes. A experiência vínica mais fascinante que fiz com esta maravilha aconteceu com um Sauvignon Blanc do Douro, talvez mesmo a mais notável das experiências que me foi dado fazer com a casta.

Cebola, azeite e bacalhau são capazes de nos surpreender quando menos esperamos. A preparação dita à moda de Braga é exemplar. Posta de bacalhau frita com cebolada em azeite, batata frita às rodelas, tudo levado ao forno quente por pouco tempo, é uma das formas de perceber as mais valias que a cebola pode ter junto de bom azeite. O Bacalhau à Narcisa preenche praticamente os mesmos requisitos e, na verdade, muitos outros bacalhaus tradicionais bebem todos da mesma fonte sábia e ancestral. A cebola adora vinho branco, se lho soubermos dar, e a maravilha do bacalhau à minhota – outra designação possível do prato – acontece com um Arinto velho. Se for da Bairrada, tanto melhor, pois temos mineralidade forte e desempenho genial com azeite fervido em termos de sabor.

As incisões numa fatia de pão velho em diagonais cruzadas, o alho esfregado e o azeite acabado de fazer, depois enriquecido com pedaços de proteínas diversas, são iguaria digna dos deuses.

E não esqueçamos o galego Brás, que oficiava outrora na sóbola empena que vinha do Tejo e ia até ao céu sempre que houvesse interessados na jornada. Das muitas figuras do meu relicário gastronómico, é de longe aquele a quem mais impus a minha própria fantasia. Nos parcos e tíbios cursos que ministrei, o bacalhau à Brás pontifica, é eterno em nós e é do povo, não admitindo qualquer tipo de discriminação. Peguemos então numa aba fina de bacalhau seco. Esfiapamo-la com pressão da unha do polegar contra a do indicador. Fibra a fibra, vamos libertando os fios do fiel e vamos reparando que o sal vai saindo também. Terminada a empreitada, temos um montinho de sal, que deitamos fora. O passo seguinte é o corte de batatas em juliana fina, que reservamos após passadas por várias águas. Finalmente cortamos cebolas segundo o veio em bitola semelhante à da juliana de batata, que colocamos em sertã grande, mais larga que funda, em azeite virgem extra, lume no mínimo. Quando a cebola amolece, juntamos-lhe a batata, devidamente escorrida. Com a colher de pau, envolvemos ambos os legumes. Entretanto passamos por água corrente abundante, no fio da torneira, o bacalhau esfiapado da etapa inicial. Enxaguamos, e secamos com um pano. Levantamos um pouco o lume, até atingir fervura ligeira, às batatas e à cebola, que nesta altura devem estar chochas e mortiças. Integramos então o bacalhau, envolvendo sempre. Logo que volta a atingir fervura, apaga-se o lume. Deita-se uma gema batida por pessoa, mexendo sempre, deita-se coentros picados e azeitonas pretas e está pronto a servir. Há muitos caminhos para chegar ao objectivo final na cozinha portuguesa. Acompanhe com Bical do Dão com alguma madeira.

Artigo publicado na edição de Dezembro de 2024

WineStone com os olhos no topo: Alentejo, Douro, Verdes, Lisboa…

Ligada ao grupo José de Mello, o Winestone Group integra, no seu portfolio, as marcas Ravasqueira (Alentejo), Quinta de Pancas (Lisboa), Paço de Teixeiró (Verdes), Quinta do Côtto (Douro) e Krohn (Vinho do Porto). Foi num ambiente de celebração que fomos recebidos na Quinta do Retiro Novo, onde pontificam os lendários tonéis dos vinhos do […]

Ligada ao grupo José de Mello, o Winestone Group integra, no seu portfolio, as marcas Ravasqueira (Alentejo), Quinta de Pancas (Lisboa), Paço de Teixeiró (Verdes), Quinta do Côtto (Douro) e Krohn (Vinho do Porto). Foi num ambiente de celebração que fomos recebidos na Quinta do Retiro Novo, onde pontificam os lendários tonéis dos vinhos do Porto Krohn e que “em breve fruto da modernização das instalações em curso produzirá também vinhos Douro”. Para o CEO da empresa, Pedro Pereira Gonçalves, “celebrar o primeiro ano da Winestone e podermos partilhar e dar a provar os novos vinhos, é um motivo de enorme satisfação. Queremos estar nas regiões mais importantes de Portugal, criando bases sólidas para o futuro, ambicionando figurar, a curto/médio prazo, no top três do setor dos vinhos, sendo um agente ativo também na promoção além-fronteiras. É o nosso primeiro evento neste local e de comemoração.”
Uma das grandes diretrizes do grupo é a de manter e honrar o legado, inovar e potenciar, sempre com o respeito pelas gerações, preservando o sentido de lugar de cada casa e a identidade de cada quinta, transportando assim a sua autenticidade. Para isso, conta com uma jovem equipa de enologia, local, coordenada a nível nacional pelo experiente David Baverstock.
Com os olhos postos em 2025, a empresa apostará na continuidade da “reorganização de portefólio, reestruturação do património vitivinícola e capacitação de recursos humanos”, e prepara um “investimento relevante” na Quinta do Retiro Novo (Douro) e na Quinta de Pancas (Lisboa).

O kick-off na Ravasqueira

Foi na Ravasqueira onde tudo começou, ou não tivesse sido esta a primeira propriedade adquirida pelo grupo José de Mello. Só este ano o investimento foi de seis milhões “na capacitação das infraestruturas produtivas, espaço e equipamento”, entre outros “em linhas de engarrafamento” no centro de vinificação, uma fatia de um investimento global de 30 milhões de euros em aquisições e recapacitação de ativos, salienta Pedro Pereira Gonçalves. Os vinhos estão cada vez mais afinados e num patamar de qualidade superior, em resultado do trabalho de precisão da enóloga residente, Ana Pereira. Destaque, na prova efetuada, para o sofisticado Ravasqueira Espumante de 2015, produzido exclusivamente da casta Alfrocheiro, o Ravasqueira Alvarinho, fresco e citrino, com complexidade pouco comum fora de Monção e Melgaço ou o tinto 100% Touriga Franca, com uma fruta muito pura e gulosa. Entre outros vinhos naturalmente, como por exemplo os “clássicos” Vinha das Romãs. Qualidade inegável.

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Foi na Ravasqueira onde tudo começou, ou não tivesse sido esta a primeira propriedade adquirida pelo grupo José de Mello

 

Paço de Teixeiró e Quinta do Côtto

Pertencentes anteriormente ao grupo Champalimaud e hoje no seio da Winestone, ambos são projetos com muita tradição e identidade. Sob a batuta da enóloga Mafalda Machado, ganham novo fôlego, a recuperação de referências clássicas e a criação de novas.
A Quinta do Côtto, situada entre Mesão Frio e Peso da Régua, possui uma localização privilegiada com vinhas ancestrais, muitas delas com mais de 100 anos, plantadas entre os 120 e os 430m de altitude. Um terroir onde se produzem há mais de 50 anos alguns dos vinhos mais icónicos da região, repletos de elegância e frescura, o que se veio a comprovar na prova efetuada, onde, nos tintos, se mantém a aposta nos monovarietais Bastardo e Sousão – vinhos realmente especiais e nos lendários Grande Escolha e Vinha do Dote – tintos arrebatadores. Mas é nos brancos que reside a maior novidade, com o regresso dos Côtto Branco e Côtto Reserva branco para completar o portfolio.
O Paço de Teixeiró é a casa da casta Avesso. Situado em Baião, este terroir único está localizado em solos xistosos, ao contrário da maioria dos produtores de Vinho Verde. É o local perfeito para produzir vinhos brancos minerais e de acidez crocante, principalmente a partir das castas Avesso, Loureiro e Alvarinho. A criação da nova gama Teixeiró (blend, Avesso e Alvarinho), com uvas adquiridas a produtores locais, dá origem a “vinhos leves, frescos e acessíveis”, enquanto a gama Paço de Teixeiró acrescenta, ao já seu carismático Avesso, um outro vinho feito exclusivamente da casta Loureiro “permitindo, assim, exprimir as castas por si só, num terroir de eleição”, salienta Mafalda. Mas a grande novidade é a criação, pela primeira vez, de um vinho branco de parcela, o Paço de Teixeiró Vinha de Sousais, um branco delicioso e que dará seguramente que falar, mostrando, na plenitude, a parcela especial que lhe deu origem

Winestone

Quinta de Pancas, legado de Lisboa

Fundada em 1945, a Quinta de Pancas fica uma propriedade histórica que remonta ao século XV. Com uma área total de 75 hectares, tem mais de 60 hectares de vinhas situadas em Alenquer, a 35 quilómetros a leste do Oceano Atlântico. As vinhas estão plantadas numa paisagem protegida pela Serra de Montejunto. Com Vasco Costa à frente da enologia, o objetivo passa por resgatar o legado de “um terroir único, que produz alguns dos melhores Cabernet Sauvignon e Chardonnay de Portugal”. Para já assistimos a uma imagem mais clean e renovada da marca, onde pontificam branco, tinto e rosé, todos reserva, com enorme frescura e equilíbrio, e os monovarietais Chardonnay e Cabernet Sauvignon, num recomeço auspicioso. Ainda em projeto está a construção de uma nova adega, que nascerá de uma intervenção nos edifícios contíguos aos utilizados atualmente. “Queremos dar, à Quinta de Pancas, uma adega como ela nunca teve e transformá-la numa marca de referência da região de Lisboa.”, salienta Pedro Pereira Gonçalves.

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A magia dos Vintage da Krohn

Para fim de festa estava destinado o ponto alto do dia, com a prova dos Vintage Krohn numa viagem de mais de 60 anos, entre 1960 e 2022. Se a Krohn é sobejamente conhecida pela qualidade dos seu Porto Colheita, ficou claro que, nos Vintage, a magia também está presente. Vintages deliciosos, em que o equilíbrio doçura/acidez foi notório em toda a prova. Assim, tivemos oportunidade de apreciar o 2022, ainda em amostra de cuba, naturalmente nesta fase bastante exuberante nas notas de fruta vermelha e preta, mas com frescura e elegância, a prometer muito. O Krohn Vintage 2017, de um ano clássico, tem fruta de muita qualidade, notas de esteva e perfumes florais, taninos lineares, saboroso expressivo, com a profundidade e intensidade desta vindima (18,5 pontos). Já o Vintage de 2003 revela cor negra bem carregada, aromas concentrados de fruta madura e algum fruto seco, num registo encorpado e carnudo (17,5). Em grande forma o 1970, muito complexo, fruto seco, café, notas de farmácia e vinagrinho a engrandecer um conjunto de final extremamente longo (19). A prova terminou em beleza com o Krohn Vintage 1960. Seis décadas em garrafa num Vintage delicado e etéreo, que exibe discretas notas de especiarias sobre um fundo de aroma de caramelo e noz, e algum vinagrinho. Mais morno que o 1970, mas igualmente esplendoroso (19).
No conjunto, a Winestone pode hoje orgulhar-se de deter cinco marcas de prestígio que correspondem a outras tantas denominações de origem espalhadas pelo país vinícola. E, tendo em conta o objetivo anunciado de chegar ao top três nacional em volume e faturação, certamente não vai ficar por aqui…

Nota: O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

Artigo publicado na edição de Dezembro de 2024

Editorial Janeiro: O que podemos esperar

Editorial

Editorial da edição nrº 93 (Janeiro de 2025) O ano de 2024 já era, deixando pistas sobre o que esperar do que agora se inicia. Acentuaram-se os desequilíbrios entre a oferta e a procura, e a conjuntura complexa que o sector do vinho atravessa passou dos meios profissionais para a opinião pública, merecendo abertura de […]

Editorial da edição nrº 93 (Janeiro de 2025)

O ano de 2024 já era, deixando pistas sobre o que esperar do que agora se inicia. Acentuaram-se os desequilíbrios entre a oferta e a procura, e a conjuntura complexa que o sector do vinho atravessa passou dos meios profissionais para a opinião pública, merecendo abertura de telejornais na época de vindima, com a exploração mediática a deixar um retrato menos positivo (e tantas vezes injusto) dos vinhos de Portugal. Bater no fundo, no entanto, também tem coisas boas: questiona vícios antigos e obriga a agir. Estou por isso convencido que 2024 foi um marco de viragem, impulsionando toda uma fileira para fazer mais e melhor. O que podemos, então, esperar de 2025?

Menos vinho. O mundo está a beber menos vinho e Portugal não é excepção, por muito animadores que sejam os números “oficiais”, pouco condizentes com aquilo que sentem os produtores, distribuidores, restaurantes. O objectivo estratégico das empresas vai, necessariamente, passar de vender mais para vender melhor.

Mais fiscalização/regulamentação. É fundamental recuperar a confiança do consumidor. Irão acabar os rótulos com nomes associados a locais e patrimónios portugueses em embalagens com vinhos nascidos noutras geografias. E os chamados Vinhos da UE (absolutamente legais, note-se!) serão muito mais claramente identificados na rotulagem.  A fiscalização vai aumentar, mas é preciso ir além dos vinhos baratos ou de volume. Também os segmentos de nicho, como os orgânicos ou biodinâmicos, por exemplo, necessitam de muito maior rigor, sobretudo para detectar utilização de produtos proibidos e mistura de uvas ou vinhos que não cumprem a certificação.

Mais aquisições/fusões. O tempo dos amadores passou. Num mercado internacional tão competitivo, vão prosperar os grandes, com estruturas profissionalizadas e uma gestão de recursos optimizada e eficaz; e os pequenos, que com poucos custos oferecem vinhos de origem, diferenciadores e de valor acrescentado. O meio da ponte é o pior local para se estar.

Menos álcool. A tendência é clara: um pouco por todo o mundo, os apreciadores de vinho querem-no com menos álcool. Um desafio para quem trabalha na vinha e na adega, sobretudo enfrentando uma sequência de anos quentes. Há que fazer vinhos intensos, saborosos, complexos, mas com menos 1 ou 1,5% de álcool. E, mais difícil ainda, sem colocar em causa o sentido de lugar e sem atalhos fáceis, como vindimar uvas verdes: não vejo que interesse possa ter um tinto do Douro ou do Alentejo com 11%: é apenas água, álcool e acidez, a origem perdeu-se.

Mais bebidas de vinho. Digo “bebidas” de propósito, pois legalmente não podemos chamar-lhes vinho. Mas o mercado internacional está cada vez mais aberto a bases de vinho coloridas, aromatizadas ou total ou parcialmente desalcoolizadas. E quando há procura, a oferta aparece.

Mais brancos. É uma evidência incontornável: em Portugal e no mundo cai o consumo de tintos e aumenta o de brancos. No Dão, por exemplo, Encruzado transformou-se numa categoria de vinho, e não há uva que chegue para as encomendas. Em regiões onde a uva tinta é claramente excedentária, a sua vinificação em branco vai passar de “brincadeira” a obrigação.

Mais diferença. Seja na vinha (castas raras, videiras centenárias, altitude…), seja na adega (brancos de curtimenta, pet nat, ânforas, cimento, foudres…) surgem cada vez mais vinhos orientados para consumidores que valorizam o que é diferente. Nem sempre o que é diferente, é bom. Mas sempre que adicionamos carácter e diferença à qualidade, criamos um produto mais refinado.

Melhores vinhos. De todos os “prognósticos” para 2025, este é o que podemos tomar como garantido. A cada ano que passa, nascem em Portugal melhores vinhos, brancos, rosados e tintos. Não sei quando o mundo vai verdadeiramente reconhecer (e pagar) a grandeza destes vinhos. Mas pouco importa, eu sei onde os encontrar.

Estive Lá: Amassa – Um toque de Itália na velha Santarém

Estive Lá

O objectivo de repasto era visitar, de novo, o restaurante Amassa, espaço de cozinha de inspiração e bons produtos italianos, com um toque internacional inspirador que origina pratos bem mais apelativos, e saborosos, do que a maior parte dos restaurantes de cozinha transalpina que abundam em Portugal. Foi no final do dia de um fim […]

O objectivo de repasto era visitar, de novo, o restaurante Amassa, espaço de cozinha de inspiração e bons produtos italianos, com um toque internacional inspirador que origina pratos bem mais apelativos, e saborosos, do que a maior parte dos restaurantes de cozinha transalpina que abundam em Portugal.

Foi no final do dia de um fim de semana qualquer, em que me apeteceu, de novo, fazer a rota de miradouros de Santarém sobre o rio Tejo e a Lezíria. Primeiro o de S. Bento, por detrás da Escola Secundária Sá da Bandeira, e depois, já na zona velha da cidade, o das Portas do Sol, onde nunca me canso de olhar a paisagem que se espraia à volta. Não sei porquê, relembra-me, por vezes, a  história de Gaibéus, de Alves Redol, escritor neorrealista que tão bem contou a vida das gentes ribatejanas e beirãs que trabalhavam nas mondas e ceifas da lezíria durante o verão e partiam por vezes para África, ou Brasil, em busca de uma vida melhor. Mas lembra-me, quase sempre, que o futuro tem probabilidades tão infinitas como as que estão para lá da linha do horizonte.

Depois de espreitar as vistas, foi hora de dar uma volta à zona velha de Santarém, que continua sedutora e vetusta como sempre, apesar de algum do seu casario mais antigo precisar de obras de recuperação. E o tempo foi passando durante um percurso feito bem devagar e entrecortado por boa conversa, enquanto esperávamos pela abertura de portas do restaurante para o jantar.

Um toque exótico

Como a temperatura estava amena, escolhemos uma mesa do lado de fora, na esplanada do Amassa, espaço bem decorado e iluminado por luzes quentes. Já ia lá com vontade de repetir o Rabo de boi desfiado com papardelle e legumes, prato bem apelativo para o meu gosto, e escolhemos também, para saborear  antes, o Brioche de atum picado com wasabi fresco e sementes de kimchi, para dar um toque mais exótico ao repasto e a Burrata com compota de tomate e pesto, mais o Risotto de pêra bêbeda em vinho tinto, com queijo gorgonzola e nozes. Um serviço atencioso, simpático e profissional ajudou a uma refeição comida devagar, na companhia de um Lagoalva Reserva Arinto/Chardonnay branco ribatejano, um branco com volume, frescura e textura, escolhido numa carta alargada, com muitas referências da região, que fez boa companhia aos sabores e aromas muito variados dos pratos.

 

Restaurante Amassa

Morada: R. Elias Garcia 6B, 2000-054 Santarém

Tel.: 910 485 558

Enoturismo: Quinta do Paral

Quinta do paral

Estar ali, naquela mesa de madeira de beira de piscina, manhã cedo, pelo menos para um dia de férias, de lazer, a olhar aquela paisagem de árvores, jardins e vinha, enquanto se escuta o som dos pássaros, origina uma sensação de paz reconfortante. Foi assim que me senti, privilegiado, enquanto saboreava distraidamente a fatia de […]

Estar ali, naquela mesa de madeira de beira de piscina, manhã cedo, pelo menos para um dia de férias, de lazer, a olhar aquela paisagem de árvores, jardins e vinha, enquanto se escuta o som dos pássaros, origina uma sensação de paz reconfortante. Foi assim que me senti, privilegiado, enquanto saboreava distraidamente a fatia de pão com cheiro a Alentejo que escolhera, nesse dia apenas ornamentada com fiambre e manteiga que me foi trazida à mesa. Era o que me estava a apetecer naquele momento, a seguir ao par de figos, fruta da época que comi primeiro, na companhia de uma pequena fatia de salmão fumado porque é algo que me tenta sempre.

Enquanto esperava pelos ovos mexidos que, no Wine Hotel da Quinta do Paral, são feitos à medida dos desejos dos clientes, tal como outras coisas de comer, pensava que aquele sítio era perfeito para estar a ler um dos muitos livros que gosto que me façam companhia na minha mesa de cabeceira, ou mesmo para talvez começar a escrever mais um. E eis que chegaram, à mesa onde estava sozinho por ser bem cedo de manhã, uns ovos mexidos com ar bem mais estéticos que os meus, mas igualmente saborosos e com a textura certa. Fui apreciando tudo devagar, como sempre na companhia de leite com café, neste caso da variedade arábica com torra feita na casa. Senti-me bem, um pouco sem vontade de partir em direcção a Lisboa, onde o trabalho me esperava. Mas tive de ir…, com vontade de voltar.

 

Casa histórica é hotel temático

Conheço o Luís Leão, director geral e enólogo da Quinta do Paral, onde se integra este Wine Hotel, ou seja, hotel temático de vinho, já há alguns anos. E lembro-me de visitar a propriedade ainda muito no início do projecto, quando os alicerces se estavam a levantar e o hotel ainda era um sonho em início de concretização.

A grande casa, histórica, hoje com um cunho mais alentejano e um ar elegante, já existia. Mas foi impossível imaginar que se iria tornar naquele edifício de charme equilibrado, com ar de que esteve sempre ali, escondido da estrada por muro branco ornado, por cima, a telha e tijoleira. Uma casa de alguém que gosta de receber.

É verdade que os quartos espaçosos, confortáveis e com vista para as vinhas, como não podia deixar de ser num hotel vínico, são aquilo que se poderia esperar de um hotel de cinco estrelas, ali ou num lugar qualquer. Mas, no seu interior, há pequenas coisas que são diferentes, na forma como o cimento surge nas paredes como fosse pedra, na leveza das portas que separam o quarto da casa de banho e roupeiro, no estilo discreto dos móveis e tudo o que é iluminação eléctrica já que, de dia, basta deixar entrar a luz exterior para ver tudo o que lá está e apreciar os pormenores.

A dormida tinha sido boa, apesar de os bons sabores do jantar de inspiração alentejana me tivessem levado a abusar um pouco da comida, porque foi difícil resistir.

Tudo tinha começado pela manhã do dia anterior, após ter cruzado o portão da quinta por onde entram os automóveis dos hóspedes. Às boas vindas dos porteiros, ou trintanários, sucedeu-se o convite para deixar a viatura a seu cargo com as malas, com a mensagem que eles iriam tratar de tudo: de arrumar o carro, apanhar as bagagens e levá-las para o quarto onde iria ficar.

Fiquei um pouco surpreendido pelo inesperado, mas o sorriso do meu interlocutor e o ar de que aquilo era habitual por ali convenceram-me a entregar as chaves do meu Honda, e a embarcar num buggy semelhante aos usados nos campos de golfe, aqui chamado de club car, para ir com ele até ao edifício principal da propriedade, onde ficam a maioria dos quartos, percorrendo um túnel de estrutura metálica, ornamentado por vinhas de mesa, sobretudo de uva moscatel, dir-me-ia ele pelo caminho. “A partir da próxima vindima, os hóspedes até poderão ir colhendo algumas para saborear pelo caminho”, foi-me explicando. E eu aceitei a coisa como certa, pela convicção demonstrada. E até me lembrei que comer, hoje, uvas frescas de Moscatel era coisa rara, já que vai tudo, ou quase tudo, para a produção de vinho.

 

 

Quinta do paral
Luís Leão, 53 anos, enólogo e director geral da Quinta do Paral.

Por causa das vinhas velhas

A distância não era muita, mas o veículo foi andando devagar, com a calma suficiente para poder ir dando pela paisagem de relvados, pequenos lagos e árvores, dispostos de forma equilibrada, e pela aproximação da casa principal, aquela que tinha albergado a residência de verão da Condessa de Santar antes de ser vendida em 2017 ao seu actual proprietário, o empresário alemão Dieter Morszeck, 72 anos. Ex-presidente e neto do fundador da marca de malas de luxo Rimowa, entretanto vendida, divide o seu tempo entre a fundação que criou em 2016, os seus negócios na Suíça e Estados Unidos e a produção de vinhos na Vidigueira. Na altura da aquisição, e como contou Luís Leão, 53 anos, enólogo e director geral da Quinta do Paral, tinha o intuito de vinificar algumas parcelas de uvas de vinha velha que tinha comprado na zona de Vila de Frades. “Foi no dia da aquisição que nos conhecemos”, disse, salientando que a quinta, de 85 hectares, tinha 30 de vinha. Depois da visita que fizeram à propriedade, foi logo decidido aproveitar toda a sua parte rústica, o edifício que é hoje o bloco principal do hotel. Em 2017, a Quinta do Paral não tinha stocks de vinho, e o portefólio foi logo delineado na altura, com base naquilo que Dieter Morszeck e o seu filho, Thomas, 40 anos, agrónomo de formação, gostavam. “Mas não foi esquecido o terroir da Vidigueira, com as suas castas autóctones e os perfis de vinhos que origina”, salienta Luis Leão.

A aposta nas vinhas velhas, que inicialmente ocupavam apenas 1,5 hectares, mantém-se. “Hoje, a empresa dispõe de 15 ha de um total de 23 ha de vinhas velhas plantadas na Vidigueira antes de 1962”, revela o enólogo, acrescentando que a sua produção vai sobretudo para o Quinta do Paral Vinhas Velhas, um dos ex-libris do actual portefólio da casa, que integra mais de uma dezenas de marcas, incluindo espumantes e licorosos.  “Também são feitos para serem consumidos, no hotel vínico, pelos seus clientes que, com certeza, também o procuram porque gostam de vinhos e deste tipo de ambiente”, defende Luis Leão, acrescentando que muitos vão até aquele lugar, que fica bem perto da Vidigueira, para estar retirados e terem uma vida calma, de férias ou pausas prolongadas de fim de semana. “Foi a pensar nisso que o projecto do hotel foi desenhado, porque aquilo que queremos é que se sintam, cá, como se tivessem sido convidados para visitar a nossa casa, a Quinta do Paral”, explica o director geral do projecto. Era assim que me sentia na manhã do dia seguinte à entrevista, depois de ter saboreado a gastronomia de inspiração alentejana criada, para o Wine Hotel, pelo chef José Júlio Vintém, proprietário do restaurante Tomba Lobos, em Portalegre, e consultor da Quinta do Paral.

Alentejo no prato e no copo

Já tinha tido o prazer de saborear vários petiscos e pratos da cozinha deste grande conhecedor do Alentejo e da sua gastronomia, e nunca mais me esqueci do seu Rabo de boi com puré de castanhas e da sua inigualável Sopa de peixe do rio, coisa que só me acontece quando a comida é mesmo muito boa. Segundo me contou, a ideia que lhe foi transmitida por Dieter, a sua mulher, Lily, e Luis Leão, na primeira conversa que tiveram, é que as pessoas chegassem às mesas do hotel e identificassem, na carta, a cozinha alentejana. Mas também queriam “que houvesse um pouco de internacionalização na oferta”. Na primeira, o pão é elemento preponderante, tal como o azeite, na produção de sopas, ensopados, alguns guisados e migas. Mas também há escabeches, cozidos e outros guisados, cozinha de tacho sempre bem temperada, muitas vezes também com uma ou mais ervas de cheiro em que a região é rica. Para chegar à segunda, a cozinha internacional, José Júlio optou por oferecer, aos hóspedes, opções com menos gordura do que as tradicionais e apresentar os pratos sem as espinhas e ossos habituais numa Sopa de Cação ou num Guisado de Borrego, por exemplo.

Segundo Luís Leão, “a gastronomia do hotel foi simples de definir, porque as três unidades de restauração do hotel, o bar de apoio à piscina, o restaurante e a loja da adega, têm uma oferta pensada sobretudo para acompanhar vinhos alentejanos”. É feita com base nos produtos da época, como o borrego, os cogumelos, os espargos, aproveitando também aquilo que a Vidigueira tem de bom, como os queijos ou o pão. Ou seja, é gastronomia regional com algum apontamento ou outro que podem ser encontrados noutros lados. Isso garante que os vários restaurantes desta unidade “ofereçam várias experiências ligadas à cozinha e gastronomia alentejana”, salienta Sofia Moreira, directora do hotel garantindo que “tanto se pode fazer um jantar um pouco mais formal, como ir para as vinhas e fazer um fogo de chão, uma comida de tacho, como um cozido de grão”.

Os produtos usados, esses, são de preferência de bem perto, das hortas e pomares a pouco quilómetros do hotel, para além da carne e do peixe de rio e de mar, o pão, queijo, enchidos e presuntos que complementam a riqueza da oferta gastronómica alentejana. A carta de abertura é de Primavera/Verão. Mas José Júlio Vintém e a sua equipa já estão a trabalhar na carta de Outono/Inverno. “O objectivo, na Quinta do Paral, é que todos os pratos servidos sejam parceiros perfeitos dos vinhos da Quinta do Paral, porque este é um Wine Restaurant de um Wine Hotel, e não há uma boa refeição sem um bom vinho”, defende o chef.

Paz e tranquilidade

Quem tem procurado o Wine Hotel da Quinta do Paral tem origem internacional, mas também portuguesa. Sofia Moreira, a sua directora, salienta que os clientes, para além de gostarem da tranquilidade que o espaço lhes oferece, também apreciam a sua comida e vinhos e procuram conhecer os costumes locais, “as gentes de cá”. E foi a pensar também nisso, que a equipa selecionada para cuidar dos hóspedes é maioritariamente da zona e tem formação em turismo e restauração. “Aqueles que não a têm foram sendo formados em casa, já que começámos a contratar as pessoas bastante cedo e temos elementos da equipa há quase um ano connosco”.

Já tiveram tempo para aprender o objectivo do projecto e a sua filosofia, para além dos padrões de funcionamento da Leading Hotels of The World, cadeia ao qual esta unidade alentejana está associada. Tem uma série de standards que têm de ser cumpridos pelos hotéis independentes que têm esta chancela, “sobretudo porque muitos dos clientes do mercado norte-americano principalmente, nos chegam por esta via”, explica a responsável.

 

O hotel é o destino

“A ideia central deste projecto é a propriedade seja um lugar de retiro, onde se pode sentir a paz e tranquilidade alentejana”, defende Sofia Moreira. “De tal forma, que quem está não sente necessidade de sair”, acrescenta, resumindo aquilo que oferece o seu hotel. “É evidente que há a possibilidade de fazer actividades fora, tal como visitas às Minas de São Cucufate, ao Museu interpretativo do Vinho de Talha em Vila de Frades, ou ir até Évora”, diz, Mas salienta que a experiência que ela e a sua equipa têm tido é que o cliente que procura o Wine Hotel da Quinta do Paral quer sobretudo descansar, e procura a tranquilidade que se sente quando lá está, sem ter necessidade de se deslocar para fazer nada, porque encontra tudo o que precisa dentro de portas.

 

Quinta do paral

CADERNO DE VISITA

 ENOTURISMO

 COMODIDADES

– Carregamento para carros elétricos

– Línguas faladas: português e inglês

– Loja de vinhos

– Sala de provas com capacidade para 10 pessoas na adega

– Sala para eventos no hotel com capacidade para 100 pessoas

– Parque para automóveis

– Provas comentadas

– Turismo acessível

– Wifi na Adega

– Wifi geral e por quarto no Hotel

– Visitas à Adega

– Menu de enoturismo para todos os clientes

– Menu experiência para os hóspedes do hotel

– Visitas às vinhas por marcação

 

EVENTOS

– Possibilidade de criar o próprio evento, mediante pedido antecipado

– Possibilidade de fazer eventos para empresas no hotel

– Possibilidade de fazer provas cegas a pedido

PROVAS

De segunda a sábado, por marcação. As visitas à adega são gratuitas, mediante disponibilidade e têm a duração de 35 minutos.

 Prova de vinhos I: Estate Bottled  – €15/pax (30 minutos)

Degustação de três vinhos Quinta do Paral Estate Bottled: branco, tinto e rosé.

Prova de vinhos II: Brancos – €25/pax (30 minutos)

Degustação de três vinhos: Quinta do Paral Estate Bottled branco, Quinta do Paral Superior branco e Quinta do Paral Reserva branco.

Prova de vinhos III: Tintos – €25/pax (30 minutos)

Degustação de três vinhos:  Quinta do Paral Estate Bottled tinto, Quinta do Paral Superior tinto e Quinta do Paral Reserva tinto.

 

VINHOS E SABORES

Prova Clássica – €30/pax (mínimo 2 pessoas, 35 minutos)

Degustação de cinco vinhos: Quinta do Paral Estate Bottled branco, Quinta do Paral Estate Bottled rosé, Quinta do Paral Estate Bottled tinto, Quinta do Paral Superior branco e Quinta do Paral Superior tinto, mais produtos regionais.

Prova Premium – €45/pax (mínimo 2 pessoas, 50 minutos)

Degustação de sete vinhos: Quinta do Paral Estate Bottled branco, Quinta do Paral Estate Bottled rosé, Quinta do Paral Estate Bottled tinto, Quinta do Paral Superior branco, Quinta do Paral Superior tinto, Quinta do Paral Reserva branco e Quinta do Paral Reserva tinto, mais produtos regionais.

Prova Signature €55/pax (mínimo 2 pessoas, 60 minutos)

Degustação de nove vinhos: Quinta do Paral Estate Bottled branco, Quinta do Paral Estate Bottled rosé, Quinta do Paral Estate Bottled tinto, Quinta do Paral Superior branco, Quinta do Paral Superior tinto, Quinta do Paral Reserva branco, Quinta do Paral Reserva tinto, Quinta do Paral Vinhas Velhas branco e Quinta do Paral Vinhas Velhas tinto, mais produtos regionais.

Prova Origem €100/pax (mínimo 4 pessoas, 90 minutos)

Degustação de cinco vinhos: Quinta do Paral Vinhas Velhas branco, Quinta do Paral Vinhas Velhas tinto; Quinta do Paral Origem Antão Vaz, Quinta do Paral Origem Perrum e Quinta do Paral Vinho de Talha tinto, mais produtos regionais.

 

HORÁRIO GERAL

Loja:

HORÁRIOS DE VISITA COM PROVA

Por marcação. No momento, por disponibilidade.

 

HOTEL

Menu de experiências para hóspedes do hotel, todos os dias, por marcação, sujeito a disponibilidade

Prova Clássica (mínimo duas pessoas, 75 minutos)

Visita à adega e prova de quatro vinhos da coleção Quinta do Paral, acompanhada por uma seleção de queijos e enchidos alentejanos.

Jantar Privado (mínimo duas pessoas, 90 a 120 minutos)

Jantar privado com menu de degustação exclusivo e harmonização de vinhos Quinta do Paral nos espaços interiores ou exteriores do hotel, incluindo a preparação do jantar e decoração exterior à luz das velas, se solicitado.

Oficina da Cozinha (mínimo duas pessoas, 90 a 120 minutos)

Para descobrir os mistérios da cozinha alentejana com os chefs da casa, incluindo a preparação e degustação de um menu com três petiscos portugueses e um prato principal, com harmonização selecionada de vinhos Quinta do Paral. Inclui um passeio sensorial no jardim de aromáticas do hotel.

Amantes de Vinho (mínimo duas pessoas, 60 a 90 minutos)

Esta experiência inclui a visita à adega e a degustação de seis dos vinhos mais exclusivos da casa na companhia de uma selecção de petiscos tradicionais.

Piquenique no campo (mínimo duas pessoas, das 12:00 às 16:00)

Uma refeição com uma coleção de sabores locais, servidos nas vinhas da propriedade ou num espaço do jardim, com tudo o que é necessário para um piquenique inesquecível, sobre uma manta alentejana e com vista para a paisagem da quinta.

Contemplando o céu noturno (mínimo duas pessoas, 60 a 90 minutos, de maio a setembro)

Uma refeição gourmet sobre idílica cama balinesa no meio das vinhas, para observar o céu noturno e contemplar as estrelas.

Passeio a cavalo pelas vinhas (mínimo duas pessoas 60 a 90 minutos)

Passeio a cavalo pelas vinhas da propriedade com guia equestre.

Évora Cidade Museu (duas a seis pessoas)

Passeio privado à descoberta dos segredos do centro histórico da cidade, Património Mundial da Unesco. Inclui transfer privado e visita guiada a pé, se solicitada.

Descobrindo o Alqueva

Passeio privado à medida para descobrir o maior lago artificial da Europa. Esta Experiência inclui transfer ida e volta. Passeios de barco, piqueniques e outros serviços disponíveis a pedido.

 

QUARTOS*

A Quinta do Paral disponibiliza seis tipos de alojamentos, equipados com todo o tipo de comodidades, incluindo um minibar com seleção de iguarias do Alentejo, oferta de chá com infusão exclusiva e máquina de café com lote produção própria.

Superior Room (€450)

Com cerca de 24m2, estes quartos localizam-se no piso superior do pátio, na ala histórica da propriedade e oferecem amplas vistas panorâmicas sobre os jardins e as vinhas.

Deluxe Terrace Room (€500)

Com cerca de 30m2, estes quartos localizam-se no piso térreo, na ala histórica da propriedade e têm um terraço que dá para os seus jardins.

Privilege Junior Suite (€550)

Suites em open space, com cerca de 80 m2, localizadas no átrio central da propriedade. Inspiradas nos traçados arquitetónicos alentejanos, com imponentes arcos em tijolo rústico, oferecem todas as comodidades de um apartamento.

Signature Terrace Suite (€800)

Suites em open space com cerca de 100 m2, de arquitetura com majestosas estruturas em celósia de composição artesanal. Oferecem vistas diferenciadas para os jardins ou para o horizonte de vinhas.

Charm Apartment (€1000)

Alojamento composto por três unidades, com áreas entre 30 a 50m2, e quartos que se distinguem pelos seus arcos e abóbadas de inspiração romana. Todos os quartos remetem para uma atmosfera intimista que lembra a visita a uma sala de barricas.

Manor House (€2000)

Renovada casa de famílias nobres do século XIX, em tempos propriedade da Condessa de Santar, este espaço exclusivo é composto por quatro quartos, uma cozinha, sala de estar e de jantar.

* Preços aproximados por dia e alojamento

 

BARES E RESTAURANTES

A Quinta do Paral dispõe de três espaços distintos para se desfrutar a gastronomia e cultura vinícola da Vidigueira e do Alentejo: o The Wine Restaurant, onde se pode desfrutar de uma refeição confecionada com produtos locais na companhia dos vinhos da Quinta do Paral, o The Estate Lounge, onde se podem saborear refeições ligeiras ou gourmet, no interior ou à beira da piscina, e o The Grape Rooftop, espaço privilegiado do piso superior do restaurante, com vista para as vinhas e oeste, onde se pode assistir ao pôr do sol na companhia de uma bebida.

MORADA

Quinta do Paral, Vidigueira

Tel.: 284 441 620

Site: www.quintadoparal.com

E-mail: loja@quintadoparal.com / reservations@quintadoparal.com

Facebook: @quintadoparal

Instagram: @quintadoparal_portugal

 

12 vinhos para celebrar o Novo Ano…por menos de €20

2025

Celebrar o Novo Ano com grandes vinhos, não implica despedir-se do “Velho” de bolsos vazios. Aqui deixamos 12 opções, entre espumantes, rosados, brancos e tintos, para festejar 2025 com estilo e a preços sensatos.  

Celebrar o Novo Ano com grandes vinhos, não implica despedir-se do “Velho” de bolsos vazios.

Aqui deixamos 12 opções, entre espumantes, rosados, brancos e tintos, para festejar 2025 com estilo e a preços sensatos.

 

Sovibor: Mamoré de primeira grandeza

Sovibor

A sede da Sovibor fica no centro de Borba, em instalações com mais de dois séculos e foi estabelecida em 1968, em resultado da fusão de dois negócios de vinhos de famílias diferentes. Produz vinhos a partir de 80 hectares de vinhas próprias, mais 120 de parceiros, uma parte significativa das quais de vinha velha. […]

A sede da Sovibor fica no centro de Borba, em instalações com mais de dois séculos e foi estabelecida em 1968, em resultado da fusão de dois negócios de vinhos de famílias diferentes. Produz vinhos a partir de 80 hectares de vinhas próprias, mais 120 de parceiros, uma parte significativa das quais de vinha velha.
Chegou a ser uma das maiores empresas da região, mas, com o tempo, foi perdendo relevância e o seu negócio entrou em decadência até ser adquirido, em 2014, pelo empresário Fernando Tavares, proprietário da distribuidora Sotavinhos, que opera a nível nacional. Depois dessa data foram feitos investimentos na melhoria das instalações, e do processo de vinificação e engarrafamento da adega, que permitiram, à empresa, seguir novos padrões de qualidade e criar novas marcas de vinho. “A Mamoré de Borba, criada em 2015, é a nossa referência premium”, conta Rita Tavares, filha de Fernando Tavares e enóloga residente da empresa. Inclui uma gama alargada de vinhos e vinhos de talha, bagaceiras e aguardentes vínicas.
A apresentação da nova colheita do topo de gama tinto, o Mamoré de Borba Grande Reserva 2020, decorreu no restaurante Magano, em Lisboa, um lugar de sabores e aromas apropriado para um evento deste tipo, como se notou na parceria de dois dos petiscos que vieram para a mesa no início com o novo Mamoré de Borba Reserva branco 2023, as saladas de bacalhau com grão e de polvo, que se equilibraram muito bem com a sua textura, volume e frescura de boca, ou os sabores e aromas do cabrito assado no forno, que fizeram grande parceria com o Mamoré de Borba Grande Reserva 2020.

 

“A marca Mamoré de Borba, criada em 2015, é a nossa referência premium”, diz Rita Tavares, enóloga residente da empresa

 

Sovibor

O conforto das vinhas velhas

Trata-se somente da segunda colheita desta referência, o topo de gama da Sovibor, produzido a partir das vinhas velhas de sequeiro desta casa. Segundo António Ventura, enólogo consultor da empresa, estão situadas numa zona caracterizada por uma precipitação superior à média do resto do Alentejo, a uma altitude de 420 metros, onde existem sobretudo solos xistosos e argilo-calcários. “As vinhas velhas em causa vegetam sobre xistos castanhos, que são porosos, o que contribui para que se sintam confortáveis, porque têm grande capacidade de retenção da água”. Após a vindima, as uvas destinadas a produzir o Mamoré de Borba Grande Reserva 2020 são refrigeradas em camião frigorífico, pisadas a pé em lagar de mármore duas vezes por dia, com maceração pré e durante a fermentação que decorrer durante 48 e 72 horas. O estágio em madeira durou 18 meses, em barricas de carvalho francês de Allier e de Vosges de 300 e 500 litros, de primeira e segunda utilização, antes do engarrafamento. É um tinto que se pode beber agora ou durante muito mais tempo e merece as honras de figurar como estrela de primeira grandeza, não apenas do portefólio Sovibor, mas entre os vinhos do Alentejo.

(Artigo publicado na edição de Novembro de 2024)

Vinha das Penicas: A colocar Sicó no mapa

Vinha das Penicas

A sub-região das Terras de Sicó, localizada na Beira Atlântico, possui uma rica história vitivinícola que remonta a séculos. Esta área, que inclui partes dos concelhos de Condeixa-a-Nova, Penela, Alvaiázere, Ansião, Pombal e Soure, é conhecida pelas suas vinhas antigas e pelo cultivo de castas tradicionais. Durante a era romana, a viticultura já era uma […]

A sub-região das Terras de Sicó, localizada na Beira Atlântico, possui uma rica história vitivinícola que remonta a séculos. Esta área, que inclui partes dos concelhos de Condeixa-a-Nova, Penela, Alvaiázere, Ansião, Pombal e Soure, é conhecida pelas suas vinhas antigas e pelo cultivo de castas tradicionais.
Durante a era romana, a viticultura já era uma atividade próspera na região, em redor de Conímbriga, uma das maiores cidades romanas de Portugal, situada no coração das Terras de Sicó. O cultivo da videira e a produção de vinho sempre estiveram profundamente enraizados na economia familiar destas comunidades. No entanto, ao longo do tempo, as dificuldades económicas e a migração das populações para as cidades levaram ao abandono de muitas vinhas.

A região é marcada por um relevo cheio de encostas e vales. A Serra da Lousã, a leste, contribui para as suas amplitudes térmicas, com altas temperaturas de dia e noites frescas. A Serra de Sicó, embora seja de altitude mais baixa, oferece alguma protecção dos ventos atlânticos e cria diferentes exposições solares. De um modo geral, o clima é menos atlântico e chuvoso nas Terras de Sicó do que na Bairrada. Os solos são essencialmente argilo-calcários com afloramentos de xisto. Estes calcários, formados em antigos ambientes marinhos durante o período Jurássico e Cretácico, quando a Serra de Sicó estava submersa, são ricos em conchas fossilizadas que muitas vezes se encontram nas vinhas.

Paixão pela casta Baga

Terras de Sicó foi delimitada, em 1993, como sub-região da região das Beiras que, na altura, também enquadrava a Beira Alta e a Beira Litoral. Na reorganização institucional do sector, em 2011, passou a fazer parte da IG Beira Atlântico. Nos últimos cinco anos nota-se uma dinâmica nesta sub-região e já existem 15 produtores certificados. É esta a terra de Alberto Almeida, nascido numa pequena aldeia no concelho de Coimbra, onde desde cedo teve contacto com as práticas agrícolas. O seu pai e avô produziam vinho para consumo familiar, e foi nas vinhas que Alberto passou uma boa parte de sua infância, nos anos 70, brincando e participando nas actividades do campo. Naquela época, achava o trabalho na terra muito duro e, assim que pôde, rumou para a cidade em busca de uma vida diferente.
Alberto trabalha na área de saúde mental. É psicodramatista e conduz sessões de terapia em grupo. No entanto, ao aproximar-se dos 30 anos de idade começou a sentir uma nostalgia crescente do campo e da cultura da terra, que “já não era vista apenas na perspectiva de dureza, mas também de magia”. Essa saudade levou-o a juntar-se aos grupos de provas e visitar eventos vínicos, o que lhe ajudou a desenvolver o gosto próprio pelos vinhos elegantes e frescos. Foi neste contexto que descobriu a casta Baga, pela qual se apaixonou.

Em 1997, Alberto decidiu voltar às suas raízes e mudou-se para Podentes, onde descobriu vinhas centenárias que despertaram a sua vontade de reviver o património vinícola da região. Começou por comprar duas parcelas de vinha e agora já tem cinco, de dimensões variadas, de 0,5 até 1 ha. O minifúndio era uma realidade naquele território, e as vinhas suportavam a economia familiar outrora. As castas que tem são as da Bairrada antiga (antes de entrada de castas estrangeiras) e de uma parte do Dão, excluindo a Touriga Nacional. Normalmente estão misturadas, algumas com metade de variedades brancas misturadas com tintas, outras com 90% de castas tintas, onde predomina a Baga. Curiosamente, a Grand Noir está bastante presente nos encepamentos. Presumivelmente “terá sido trazida na altura de construção de caminhos de ferro, há 120-130 anos”, supõe Alberto.

Castas antigas predominam

Como as Terras de Sicó nunca tiveram uma grande expansão comercial, a sub-região ficou imune ao boom de castas estrangeiras, que se sentiu noutras regiões do país. Alberto valoriza muito este facto e, para preservar o seu encepamento histórico, está a fazer a enxertia com o matérial genético das próprias vinhas.
Antigamente, na época da produção familiar, era comum os pisos térreos servirem de adegas. É numa casa destas que, em 2006, começou as primeiras microvinificações. Autodidata e experimentalista, o ainda jovem produtor percebeu que “não é possível fazer vinho sem entender absolutamente nada”. Foi colhendo algum conhecimento técnico através das formações organizadas pela Estação Vitivinícola da Bairrada, para além da muita conversa com os enólogos e produtores. Experimentando diferentes métodos de extracção, tempos de cuba e de estágio, tipos de carvalho (testou, por exemplo o carvalho americano, que não o convenceu), construiu um perfil de vinhos com que se identificou.

Os processos são rudimentares, com improvisos técnicos e investimento limitado. Devido à idade avançada das vinhas não aramadas, a mecanização não é possível e muito trabalho no terreno é feito pelo próprio. A vinificação ocorre em lagar com leveduras indígenas, para o estágio usa barricas de carvalho francês usadas. O seu objetivo “não é criar vinhos excêntricos, mas sim transmitir emoção e desafiar sensações”.

Com pouca pressa e muita paciência, Alberto fez o seu percurso de mais de uma década a experimentar e ensaiar, sem perder de vista o objectivo de lançar um dia o seu próprio vinho certificado. As primeiras colheitas lançadas para o mercado foram um branco e um tinto de 2017 e um espumante de 2018. Agora também tem um branco de curtimenta que chama “À moda antiga”, com 12 dias de fermentação em lagar com películas.
O espumante resulta de uma primeira monda de todas as parcelas. As uvas para o curtimenta são vindimadas uma semana depois nas mesmas parcelas, e um pouco mais tarde colhe uvas para o vinho branco, que tem um contacto pelicular de dois dias em lagar e um estágio posterior em barricas usadas e deposito de cimento.

O projecto tem muito a ver com o seu criador, desde o perfil dos vinhos até à imagem dos rótulos singela, quase naïf, com umas conchas que parece terem saído de um livro para crianças. “Eu brincava com estas conchas na minha infância, na vinha do meu pai. O rótulo é pessoal e tem muito significado para mim. Toda a construção de imagem é pessoal”, explica Alberto.
A produção resume-se a 10 mil garrafas e, este ano, Alberto Almeida estima chegar aos 15 mil. “Não acredito ter condições para crescer pela quantidade de garrafas, o que me obrigava a ir aos limites físicos e de estrutura. Não consigo expandir a adega. Prefiro ir pelo caminho de valorização da marca. Sei que é um jogo de paciência.”
“É demasiado grande para ser um hobby e demasiado pequeno para ser um negócio”, diz o produtor na brincadeira, enquanto procura, não só alcançar os objectivos pessoais, mas também contribuir para colocar a sub-região Terras de Sicó nos mapas vitivinícolas de Portugal, sobretudo no imaginário do consumidor.

(Artigo publicado na edição de Novembro de 2024)