José Maria Vieira representa a Boann Distillery

A empresa de distribuição nacional reforça o portefólio de bebidas espirituosas com a representação exclusiva, em Portugal, da prestigiada destilaria irlandesa. O acordo entre a José Maria Vieira Distribuição e a Boann Distillery assinala a entrada exclusiva de uma gama de três destilados premium irlandeses no mercado nacional. São eles: o single malt The Whistler […]
A empresa de distribuição nacional reforça o portefólio de bebidas espirituosas com a representação exclusiva, em Portugal, da prestigiada destilaria irlandesa.
O acordo entre a José Maria Vieira Distribuição e a Boann Distillery assinala a entrada exclusiva de uma gama de três destilados premium irlandeses no mercado nacional. São eles: o single malt The Whistler “P.X. I Love You” produzido segundo a tradição irlandesa, com tripla destilação e cujo processo de envelhecimento ocorre em duas fases: a primeira em barricas previamente usadas para bourbon e a segunda por nove meses, em barricas de Xerez Pedro Ximénez; o The Whistler Triple Oak, whiskey resultante de um blend que combina Pot Still (mistura de cevada e outros cereais), Single Malt (cevada 100% maltada) e Single Grain (mistura de cevada maltada e não maltada); e é submetido a um estágio feito em cascos de bourbon, Xerez Oloroso (produzido com a casta Palomino) e Xerez Pedro Ximénez; e o Merrys Irish Cream, um licor cremoso baseado na combinação do melhor do whiskey irlandês de tripla destilação com o creme de leite.
Este trio de referências da Boann Distillery, destilaria familiar localizada em Drogheda, na Irlanda, reforça a aposta da empresa na autenticidade, qualidade e sofisticação dos produtos que oferece, está disponível na JMV Loja Online.
Valle Pradinhos: Estórias e vinhos de um canto perdido em Portugal

É um lugar único, perdido num canto de Portugal. Mas, como muitos sítios do nosso país, vale a pena a visita. Foi lá que fui descobrir a história por detrás de um dos primeiros vinhos sobre o qual eu escrevi, há pouco mais de 30 anos, Valle Pradinhos tinto, numa altura em que os selecionava […]
É um lugar único, perdido num canto de Portugal. Mas, como muitos sítios do nosso país, vale a pena a visita. Foi lá que fui descobrir a história por detrás de um dos primeiros vinhos sobre o qual eu escrevi, há pouco mais de 30 anos, Valle Pradinhos tinto, numa altura em que os selecionava nas prateleiras e escrevia sobre os que gostava, apenas uma vez, na revista Exame.
Mas é muito melhor apreciá-los quando se conhece a sua história e as estórias de quem os produz, porque o vinho é, sobretudo, um produto da natureza feito por pessoas e para pessoas. Uma delas, Maria Antónia Mascarenhas, 73 anos, a proprietária do Casal de Valle Pradinhos, quinta que está na sua família há mais de 100 anos, o outro, o enólogo Rui Cunha, 53 anos, na casa há quase 30 vindimas.
Maria Antónia estudou em Lausanne, na Suíça, onde vivia com a família e frequentou e terminou o ensino liceal. Herdou Valle Pradinhos da avó, Maria da Conceição Pinto de Azevedo, há 30 anos. Na época só lá havia homens a trabalhar, o que lhe trouxe alguns desafios iniciais acrescidos, numa sociedade ainda predominantemente machista. Como exemplo conta que, a dada altura, alguém que lhe veio pedir emprego, apenas falou para o “engenheiro” que estava a seu lado e trabalhava para si. Mas salienta, no entanto, que isso já mudou, para melhor, nos dias de hoje.
Todo o Trás-os-Montes é um diamante em bruto e Valle Pradinhos uma jóia, onde ainda há muito por fazer, e onde já se fez muito nos últimos 30 anos
Estabelecer bases para crescer
Outro dos seus desafios foi assumir a propriedade sem perceber nada de agricultura. O Casal de Valle Pradinhos tinha sido comprado pelo bisavô, Manuel Pinho de Azevedo, um empresário do início do século 20. Era, à época, um grande industrial sobretudo na área de fabricação de tecidos, um homem de negócios que investiu em muitas áreas, como o jornal Primeiro de Janeiro, por exemplo. Como gostava muito de caçar e ia para Trás-os-Montes para o fazer, decidiu construir um hotel em Macedo de Cavaleiros, a Estalagem do Caçador, agora fechada, para receber e onde ficava a dormir com os amigos.
“Uma vez alguém lhe disse que estava à venda um quinta muito gira”, conta Maria Antónia. Ele foi vê-la, gostou e comprou o Casal de Valle Pradinhos. Com o tempo foi-lhe aumentando a área através da compra de mais terra. A propriedade “já teve mais de 500 hectares, mas hoje tem pouco mais de 450 porque a minha avó deu cerca de 80 hectares a antigos empregados, para construírem as suas casas e hortas e fez bem”, conta a actual proprietária.
Quando Maria Antónia Azevedo assumiu a gestão do Casal de Valle Pradinhos já havia sobreiros, oliveiras e vinha, entre 12 a 14 hectares que estavam plantados sobretudo em zonas baixas, com muita humidade, onde as plantas são mais atreitas a doenças. “Tive de as arrancar”, conta, acrescentando que não foi por saber de agricultura para tomar a decisão, mas porque tinha, na equipa, tal como hoje, especialistas, “engenheiros” que sabiam o que faziam e a aconselharam a isso. Como não se deu muito bem com o que herdou da avó, contratou depois outro agrónomo, “um homem que percebe muito de vinha” e já está na empresa há 13 ou 14 anos. “Preciso de gente que saiba de certas coisas melhor do que eu, que não vivo aqui o ano todo”, explica, acrescentando que já fez muitos investimentos na sua Valle Pradinhos desde que chegou. No aumento da área de olival e vinha, que ocupa hoje 50 hectares de terra, mas também na sua renovação e na compra de equipamentos agrícolas para as operações necessárias a fazer ao longo do ano.
“Arrisquei na plantação de mais vinha, apesar de, no início, não vendermos muito vinho, porque é preciso estabelecer bases para crescer”, revela, acrescentando que Valle Pradinhos não poderia ser sustentável em termos económicos com base apenas no aparelho produtivo que herdou. Antes disso, a sua família apenas usava as suas propriedades para férias “e, por isso, pagavam tudo do bolso, porque tinham fábricas e outros negócios que lhes permitiam dispor do dinheiro para isso”. Agora a propriedade é rentável.
Os importadores dos mercados de exportação querem muito mais vinhos de castas portuguesas do que internacionais, ou mistura das duas
Um diamante em bruto
Para Rui Cunha, 53 anos, “responsável pelos vinhos de Valle Pradinhos há 29 vindimas, todo o Trás-os-Montes é um diamante em Bruto e Valle Pradinhos uma jóia, onde ainda há muito por fazer, e onde já se fez muito nos últimos 30 anos”, como a mudança para uma agricultura mais responsável, incluindo algumas práticas de agricultura regenerativa, já que a biológica/orgânica só o mantém.
Já começaram a ser feitos os ensaios de arrelvamento necessários para escolher e comprar as alfaias necessárias para as operações. “Estamos este ano a testar essas operações numa pequena parcela, para treinar a equipa”, conta, salientando que ainda hoje se pratica ali a vindima manual na empresa. “Toda a uva que cá chega passa pelas mãos de uma equipa dirigida, comandada por Valle Pradinhos”, realça o enólogo, salientando que a operação “inclui uma primeira selecção e triagem das uvas”. Mas as novas plantações já estão a ser pensadas para serem vindimadas com uma máquina “mais pequena, capaz de o fazer”.
O maneio das vinhas externas a Valle Pradinhos é feita pelos parceiros. “Ou seja, não somos responsáveis pela viticultura, mas podemos sempre aconselhar, até sobre a plantação de novas vinhas, como já aconteceu, para os informar sobre as castas que nos fazem falta, por exemplo”, conta Rui Cunha.
Quando começou a trabalhar na empresa, mais ou menos na mesma altura em que Maria Antónia assumiu a sua gestão, havia dois tintos, “o Porta Velha, entrada de gama, e o Valle Pradinhos, e ia saindo um branco que caiu, de repente, nas graças do mundo”. Trata-se de um lote invulgar para a região, por ser da casta Riesling, alemã, Gewürztraminer, da Alsácia (Alemanha e França) e Malvasia Fina, uma casta portuguesa que existe também em Trás-os-Montes. “É a combinação invulgar das três castas que faz com que este branco seja muito apetecível, muito mais no mercado nacional do que no internacional”, salienta Rui Cunha, explicando que os importadores dos mercados de exportação querem muito mais vinhos de castas portuguesas do que internacionais, ou mistura das duas.
Lugar à mesa
Entretanto o Porta Velha acabou, “porque era um vinho onde perdíamos dinheiro, que tinha de ser feito muito rápido e era cada vez menos bom, porque não tínhamos capacidade de investimento para o fazer”, conta o enólogo. Hoje a empresa produz e comercializa anualmente acima de 100 mil garrafas de Valle Pradinhos, um tinto transmontano que está nas grandes superfícies a um PVP acima de 15 euros, e “roda nas prateleiras porque as pessoas”. Com isto, “estamos a demonstrar que os vinhos de Trás-os-Montes conseguem ter uma boa venda, a um preço elevado para uma grande superfície”, comenta o enólogo, defendendo, no entanto, que é importante, para a região se posicionar e valorizar, que não haja apenas uma estrela. “Tem de haver mais”, defende.
Conta, também, que o trabalho feito em parceria com a distribuidora Viborel em Portugal, que inclui muitas visitas e acções de degustação nos pontos de venda, tem estado a correr muito bem. Mas “infelizmente, as cartas de vinhos dos restaurantes estão dispostas por regiões, em Portugal e no mundo”, lamenta Rui Cunha, explicando que, por isso, Valle Pradinhos é muitas vezes o último, ou um dos últimos vinhos dos menus, enquadrado nas “Outras regiões”, em listas onde o Douro e o Alentejo, as regiões mais mediáticas portuguesas se destacam. “Por isso as pessoas não pedem o nosso vinho, a não ser quando reconhecem a garrafa e a escolhem porque conhecem o produto e a sua qualidade”, salienta o enólogo, acrescentando que, “por tudo isso, é que a região precisa de mais produtores conhecidos, como Valle Pradinhos, no mercado”.
Há alguns anos, esta empresa transmontana começou também a produzir um vinho rosé, “porque sentimos que tem um lugar à mesa”, explica Rui Cunha. Fazê-lo foi um passo dado de forma pensada e calma, em conjunto com a distribuidora, até ser desenhado um rosé produzido com base nas uvas das castas Touriga Nacional e Tinta Roriz, “com um perfil frutado, macio, com boa acidez, seco, para ser bebido como aperitivo ou a acompanhar uma boa refeição”. Para além da criação deste rosé, a empresa também subiu o patamar de qualidade de vinhos com a introdução, no mercado, de um Grande Reserva, que “implica um cuidado muito maior na selecção da uva, das parcelas e das castas” em relação ao Reserva. Neste tinto entram uvas de Cabernet Sauvignon, a casta tinta que diferenciava Valle Pradinhos no passado, mais Touriga Nacional.
Há uns anos foi lançado um varietal de Touriga Nacional, e este ano, é a estreia de um vinho de Tinta Gorda, “uma casta um pouco esquecida do Planalto Mirandês”, sobre a qual pouco se sabe, a não ser que foi trazida de Espanha, e que também se chama Juan Garcia, ao que parece o nome de quem a trouxe do país vizinho para o planalto transmontano.
Hoje a empresa produz e comercializa anualmente acima de 100 mil garrafas de Valle Pradinhos, um tinto transmontano que está nas grandes superfícies a um PVP acima de 15 euros
As modas e os novos vinhos
Porque o vinho é moda, quer se goste quer não, primeiro aconteceu a dos tintos e até havia gente que dizia que branco não era vinho. Mas é, e depois começou a beber-se cada vez mais branco, à medida que a sua qualidade foi melhorando e foram surgindo vinhos com características diferenciadas em todas as regiões do país, com opções para todos os momentos à mesa. Mais recentemente, os espumantes deixaram de ser bebidos apenas em festas de aniversário e de final do ano, para o serem também noutras alturas e momentos da refeição, fruto, com certeza também, da melhoria da sua qualidade. O rosé, que nem se provava, já surge na mesa dos portugueses, e há agora quem goste de tintos menos alcoólicos, um bocadinho mais abertos, ao estilo dos vinhos produzidos com a Pinot Noir. “Foi à procura de criar um vinho com este estilo, mais leve e ácido, menos extraído, diferente do Pinot Noir, que criámos um vinho da casta Tinta Gorda”, explica Rui Cunha.
Nos brancos foi também lançado um Grande Reserva, maioritariamente de Riesling, a casta dominante nos brancos da casa e uma pequena edição do Lost Corner tinto feito apenas com castas portuguesas, que surgiu para festejar os 100 anos de Valle Pradinhos, casa que começou em 1912.
Foram escolhidas as castas Tinta Amarela, Tinta Roriz e Touriga Nacional, para um vinho que ainda não tinha nome até que Maria Antónia, a proprietária, sugeriu primeiro que se chamasse Le Coin Perdu. Era o nome de uma marca que o personagem principal do filme “Um bom ano”, do realizador Ridley Scott, baseado no livro homónimo, encontra depois de entrar na cave de uma propriedade que herda em França.
Interpretado pelo actor neo-zelandês Russel Crowe e pela actriz francesa Marion Cotillard, esta ficção foi filmada sobretudo no Chateau La Canorgue, antigo feudo erigido pelo papa Bento XIV e hoje empresa familiar dedicada à produção de vinhos da denominação de Luberon, do Vale do Ródano. Le Coin Perdu, a designação francesa do vinho estava registada, mas The Lost Corner, em inglês, não, e ficou para Valle Pradinhos. O tinto era “um vinho que o protagonista tinha na memória, por ter provado muitas vezes com o tio, e era oriundo de uma vinha a que o caseiro da casa, um velho resmungão francês, chamava Le Coin Perdu, conta Rui Cunha, salientando que é isso que é Valle Pradinhos em Portugal e no mundo, porque quase “ninguém sabe onde está”. O rótulo tem a foto de um mapa antigo, e um dedo a apontar para a localização da propriedade. “Mantemos apenas edições especiais deste vinho, duas a três em cada dez anos, porque nem sempre temos colheitas com qualidade e perfil suficientes para o fazer”, explica o enólogo. Valle Pradinhos vende quase tudo o que produz em Portugal. A exportação é residual, e quase toda para Paris e apenas Paris. Mas porquê? Segundo Rui Cunha, isso deve-se a haver, na cidade, muito português de segunda geração, pessoas com o palato educado à francesa, “que gostam de beber um vinho português bem feito”.
(Artigo publicado na edição de Julho de 2025)
Sardinhas: A delícia marinha mais popular

Enquanto não chega a primavera, o português vive inquieto e suspira junto ao mar pela sua muito amada sardinha. O necessário e obrigatório defeso termina em Abril, e a grande corrida começa. A abundância varia de ano para ano, e a festa dura até ao Outono. Preparemos, então, as grelhas e as brasas, que elas […]
Enquanto não chega a primavera, o português vive inquieto e suspira junto ao mar pela sua muito amada sardinha. O necessário e obrigatório defeso termina em Abril, e a grande corrida começa. A abundância varia de ano para ano, e a festa dura até ao Outono. Preparemos, então, as grelhas e as brasas, que elas aí vêm.
Todo o peixe tem a sua época ideal de captura e consumo e na costa portuguesa continental a reprodução ocorre numa janela temporal bastante alargada. É entre Outubro e Abril que acontece, o que coincide com o defeso decretado sobre a espécie “Sardina pilchardus”, que é a nossa.
Cerca de um ano depois, a sardinha atinge a fase adulta, pronta a dar-nos muitas alegrias. É essa que nos é oferecida por esta altura do ano, e é com essa que somos muito felizes. Apresenta-se com cerca de quinze centímetros de comprimento e forte conteúdo de ácidos gordos do tipo ómega-3, estruturante na alimentação humana.
A pescaria dá-se sobretudo no Atlântico norte e nenhuma sardinha é mais saborosa que a nossa. A atestá-lo estão a fecundidade e os nutrientes do nosso maravilhoso oceano. São, além disso, muitas as espécies marinhas e aves especiais que se alimentam da amiga sardinha. De certa forma, o frágil equilíbrio do planeta seria ainda mais complexo se não existisse o irrequieto e vigoroso peixe. A abundância, contudo, faz-nos acreditar que há sempre sardinhas. Pesca-se através da arte do cerco, afectando-se uma área grande e profundidade suficiente para que os pequenos peixes fiquem retidos e a pescaria abranja peixes semelhantes. Cavala, sarda, biqueirão, carapau e petinga são confinados nas redes e a segunda arte consiste em devolver ao mar o que não pertence na altura capturar. Pequenos crustáceos, por exemplo, essenciais na alimentação da própria sardinha, vêm frequentemente para cima, juntamente com o peixe.
Dá gosto assistir à chegada à lota para ver e sentir a tremenda azáfama dos enérgicos peixes quando as caixas começam a levar destino
Vinhão e… vinho Madeira da casta Malvasia
Valorizamo-la mais quando a canícula aperta e os santos populares despertam, mas pode não ser essa a melhor altura para a comer. Uma fatia de pão com uma sardinha assada em cima é festa bastante para o português, e come-se com batata cozida e pimentos assados nas brasas. Quanto ao vinho, precisamos geralmente de treinar. Estamos perante um peixe gordo, pelo que o vinho deve ter acidez pronunciada para cumprir correctamente a sua missão de neutralizar pelo corte da acidez fixa.
Um verde tinto da casta Vinhão pode ser o indicado, mas há sempre opções a considerar. Na prova pública que me coube organizar, aquando da eleição das sete maravilhas da cozinha portuguesa, foram servidas sardinhas com dois vinhos. Vinhão e… vinho Madeira da casta Malvasia. E todos preferiram a maridagem com o Madeira. Não pela doçura, mas pela acidez do vinho, que conseguiu destruir o núcleo gordo do peixe, tornando-o mais digerível. Foi um momento feliz, há que dizê-lo. Os dogmas só fazem sentido quando são interrogados e postos em causa. A prova aconteceu em 2011 e deixou algumas marcas profundas.
A sardinha desperta em nós a sensação de abundância. No nosso entendimento, há sempre sardinhas. Mas nós queremo-las gordas e ovadas. E sobretudo baratas, que a vida não está para excessos. O que acontece é que acabamos por facilitar e contemporizar com as pequenas adversidades com que deparamos. A irrequieta sardinha está sempre a ginasticar-se e gosta da vida de cardume. Dá gosto assistir à chegada à lota para ver e sentir a tremenda azáfama dos enérgicos peixes quando as caixas começam a levar destino. Ficamos logo mais enérgicos só de ver a energia disponível que têm. E no fundo a reacção é real. A sardinha faz bem ao corpo e à alma.
Uma fatia de pão com uma sardinha assada em cima é festa bastante para o português, e come-se com batata cozida e pimentos assados nas brasas
As sardinhas congelam e conservam bem
Se encontrar na praça sardinhas que lhe agradam muito, não hesite, congele! Desde que ao descongelar respeite a integridade do paixe, vai correr bem. Respeitar a integridade significa aqui manter o peixe inteiro e intacto, como se de um peixe de bitola maior se tratasse. Há que embalar muito bem, para evitar propagação do cheiro. O facto de estarmos a temperaturas de 15 graus negativos não impede que o cheiro povoe o congelador. O ideal é utilizar sacos de congelação individuais e herméticos, feitos por um bom fabricante. Depois deixe na parte mais baixa do frigorífico de um dia para o outro, e no dia seguinte vai ter belas sardinhas para cozinhar ou transformar como mais gosta. Trata-se de um peixe rico em ácidos gordos e só por isso é já capaz de preservar melhor as características e propriedades originais. Se há vontade e arte, pode optar por filetar e depois congelar. Em preparações do tipo tempura, vai fritar muito bem e ficar cheia de sabor. As boas peixarias fazem esse trabalho por si e em casa vai poder dar asas à sua criatividade.
Chegamos a um momento chave da exploração da sardinha enquanto alimento de elevado valor nutritivo: a conserva. Para muitos, trata-se de uma opção menor, mas não há qualquer razão para assim acontecer. Uma boa lata de sardinhas contém peixe de elevadíssimo gabarito, que podemos e devemos trabalhar para os mais elevados fins. Sabemos que é staple food, mas isso não significa que seja encarada como comida de emergência. É notável o que a indústria conserveira moderna evoluiu, e o que tem feito para dignificar ao mais alto nível o produto dos nossos mares. Temos hoje petinga – a sardinha mais pequena – que facilmente integramos em saladas frias e legumes e que podem bem constituir refeição completa. Ovo cozido, feijão-frade e pimentos assados, por exemplo, dão uma salada fria maravilhosa. Falando de maridagens de sucesso, o resultado pode ser brilhante com um Alvarinho jovem da região dos vinhos verdes, especialmente se a salada incluir frutos tropicais. Seja como for, há glória em cada pequenina lata de sardinhas, glória essa que contém muita história.
Nos santos populares e não só
A sardinha assada nas brasas estala nos santos populares. Mas até pelo que atrás se disse nessa altura não está no seu zénite. Há que a deixar engordar para estar no seu melhor de textura e rendimento de sabor. O momento é excelente para dar a conhecer as maravilhosas festas de Santa Bebiana, que ocorrem em pleno Inverno em Belmonte e Caria. Trata-se de uma festa pagã que promove sempre o casamento entre São Martinho e Santa Bebiana. Importante é que se beba a rodos. Curiosamente, há uma irmandade que, ano após ano, garante a continuidade das festas. Em Caria festeja-se no dia dois de Dezembro, já dia de São Martinho aconteceu e a água-pé já se produziu, a seguir às pisas nos lagares. Se eu não tivesse assistido, ainda hoje não acreditaria.
Cumpridos vários rituais, que incluíram, por exemplo, a confissão de que tínhamos falhado porque estivemos sóbrios na maioria do ano, a procissão termina num largo, com as competentes e rubras brasas à espera das sardinhas geladas, e o povo vai soltando glosas como “Santa Bebiana, senhora de muita Graça, não tem capela mas tem o Largo da Praça”. E é neste largo, com uma multidão a postos, que se leva as sardinhas à grelha. Estamos em contraciclo total com os santos populares, mas a devoção popular é impressionante. Está prestes, de resto, a ser classificado como património imaterial pela Unesco. É mais que bem vindo um vinho tinto da casta Rufete. Mineralidade a toda a prova, taninos presentes sem dominar, e muito sabor. Viajar é mesmo ganhar. A sardinha representa bem a portugalidade.
Em plena Expo’98, coube-me acolher e acompanhar um dos grandes empresários do Japão, accionista principal de uma grande empresa americana. As coisas não correram muito bem na véspera, quando fui recebê-lo ao aeroporto de Lisboa. Estendi-lhe a mão para o cumprimentar, o que vim a saber mais tarde nunca devia ter feito. Não se pode olhar nos olhos nem tocar num shogun. Já na exposição universal, visitámos o pavilhão do Japão, de onde saiu irritado por assistir ao vídeo em português, para mais com a música “Vamos fazer um farol”. A desgraça anunciava-se. Seguimos para jantar no pavilhão dos EUA, buffet tipicamente americano, convenientemente harmonizado com excelentes Cabernet Sauvignons e Merlots de Napa Valley. Gostou muito dos vinhos, odiou a comida. “Aqui não há nada para eu comer, quero ir para o hotel”. Lindo serviço, e eu com vontade de perder a cabeça com os maus modos do japonês poderoso. Combinámos almoçar no dia seguinte.
Ele estava mais calmo e pediu-me que o almoço fosse de peixe. Assim foi. Fomos ao Mercado do Peixe, no Caramão da Ajuda. Ao contrário do sucedido na véspera, estava muito bem disposto, até contou duas anedotas no caminho para o restaurante. Fui-lhe explicando que iria escolher o peixe e que o mesmo iria ser cozinhado como ele determinasse. Deu uma gargalhada grande e aproveitou para dizer que não me preocupasse, que ele iria gostar. Confesso que temi o pior, face à sua boa disposição. Chegámos e tínhamos a nossa mesa reservada num espaço relativamente reservado. Propus-lhe um Arinto fresco de Bucelas para a empreitada gastronómica, que de novo com maus modos rejeitou liminarmente. Escolheu um Cabernet Sauvignon da Península de Setúbal. Tinto, portanto. Fomos até ao expositor de peixe, para escolher o conteúdo do apaziguador almoço que forçosamente teríamos de conseguir realizar. Fui-lhe descrevendo os diferentes peixes do expositor, e como poderíamos cozinhar cada um.
De repente, apontou para as sardinhas e começou a bater palmas. Não cabia em si de felicidade. E começou a conversar directamente com o cozinheiro, dando-lhe indicações de como queria o peixe. Grelhado fechado, como nós grelhamos as sardinhas, servido sobre uma fatia grossa de pão, salada de pimentos grelhados ao lado. Fiquei de boca aberta, nunca podia ter imaginado que a catástrofe da véspera podia ter sido evitada de forma tão simples. Foi notável a sua desenvoltura na exploração das sardinhas grelhadas sobre a fatia de pão, directamente com as mãos.
Uma boa lata de sardinhas contém peixe de elevadíssimo gabarito, que podemos e devemos trabalhar para os mais elevados fins
Gostamos de arraiais
Qualquer dia de festa com amigos, em casa ou restaurante, vira arraial, e o assunto invariavelmente vai ter às sardinhas. Dei-me conta, há poucos meses, de uma verdade insofismável. O português sabe acender o lume certo com carvão e acendalhas em três tempos. Tenho convivido ao longo da vida com argentinos e absorvi este facto notável: aprende-se na escola primária da Argentina a grelhar carne. Com algumas varas de lenha, até num lavatório de casa de banho conseguem criar condições para grelhar uma peça de carne. Tive acesso a preciosa e ricamente ilustrada literatura argentina que faz parte o programa de ensino básico. Consta, por exemplo, o repto de jamais passar demasiado a carne, com desenhos das fibras a suar e sofrer pelo excesso de calor. Passar o ponto ideal de cozedura é para os argentinos carbonizar a carne.
A conversa mais recente sobre o assunto aconteceu justamente em casa de amigos da Argentina. Mas eles têm a casta Malbec, que o tempo e a tradição depuraram até chegar à harmonização ideal. Claro que fico enciumado e claro que já experimentei com as nossas sardinhas nas brasas. Não funciona. Curiosamente, com um bom Tinta Roriz jovem sem estágio em madeira consegue-se excelentes resultados com grelhados no carvão. Se nunca experimentou, não hesite em fazer o teste no seu jardim ou varanda. Sardinhas em sal grosso, pimentos, batatas, melancia, e está montado o arraial da nossa satisfação. Não há português que não adore um bom arraial, mas geralmente o comportamento em relação ao vinho é entre o incerto e o incorrecto. Triunfa normalmente a sangria. Os amigos espanhóis têm o “Tinto de Verano”, que é vinho traçado com gasosa e cumpre a missão importante de afastar a canícula da mesa. Conseguimos, com um bom Roriz servido frio, o mesmo efeito. Fica aqui a confissão.
O piquenique perfeito e a sardinha
Uma das experiências vínicas que gosto muito de fazer acontece com a bôla de sardinha de Lamego. Perto de São João de Tarouca, onde hoje encontramos algumas casas produtoras de excelentes espumantes, foi onde outrora os monges de Cister instalaram e cuidaram a casta Malvasia Fina. Que é também provavelmente a primeira casta importada para Portugal. Juntando as peças todas como num puzzle, por que não fazer uma prova de vinho do Porto branco com bôla de sardinha? Melhor ainda, por que não fazer essa experiência sentados no chão de uma vinha dessa casta? As interrogações sucedem-se, assim como as inquietações. Temos de ser ousados e não ter receio de enveredar por caminhos menos usados. Na dúvida, sigamos a sardinha!
(Artigo publicado na edição de Julho de 2025)
Rosés para as férias: As nossas melhores sugestões

Outrora considerados vinhos “menores”, os rosés têm conquistado os favores dos consumidores e revelam-se uma boa aposta para os tempos mais quentes e para acompanhar pratos mais leves. Aperitivos, saladas, pizzas, massas, cozinhas orientais dão-se muito bem com vinhos rosés. Há-os agora para todos os gostos e carteiras. Desde os mais simples que se bebem […]
Outrora considerados vinhos “menores”, os rosés têm conquistado os favores dos consumidores e revelam-se uma boa aposta para os tempos mais quentes e para acompanhar pratos mais leves. Aperitivos, saladas, pizzas, massas, cozinhas orientais dão-se muito bem com vinhos rosés.
Há-os agora para todos os gostos e carteiras. Desde os mais simples que se bebem descontraidamente na praia ou à borda da piscina, aos mais sérios que pedem mais atenção.
Entre estes 10 rosés que escolhemos para si, há-se haver um que lhe enche as medidas!
Quinta do Noval: Para além do Porto Vintage…

A Quinta do Noval é uma das mais icónicas e respeitadas propriedades vitivinícolas da região do Douro, com uma história que remonta ao século XVIII. Localizada em Vale de Mendiz, no coração da região demarcada do Douro, beneficia de um terroir único, caracterizado por solos de xisto e uma exposição solar privilegiada, que conferem, aos […]
A Quinta do Noval é uma das mais icónicas e respeitadas propriedades vitivinícolas da região do Douro, com uma história que remonta ao século XVIII. Localizada em Vale de Mendiz, no coração da região demarcada do Douro, beneficia de um terroir único, caracterizado por solos de xisto e uma exposição solar privilegiada, que conferem, aos seus vinhos, uma identidade distinta. No ano de 1993 entrou numa nova fase da sua história, quando foi adquirida pelo grupo francês AXA Millésimes. Esta integração, liderada por Christian Seely, marcou o início de um período de forte investimento, renovação e reafirmação da identidade da Quinta do Noval como referência de qualidade e inovação no setor vitivinícola.
A casa tornou-se particularmente célebre pelo seu lendário Porto Vintage Nacional, um vinho raro produzido a partir de uma pequena parcela de vinhas velhas não enxertadas. “Desde 2011 que declaramos todos os anos um Porto Vintage Quinta de Noval, apenas e só porque tivemos a oportunidade de, em cada ano, fazer pelo menos uma pequena quantidade de vinho que teve a qualidade necessária para ser declarada como tal. Estamos perfeitamente sensíveis e muito conscientes do privilégio e responsabilidade de gestão da Quinta do Noval. Já no caso do Vintage Quinta do Noval Nacional só sai mesmo nos anos em que o consideramos monumental, como é o caso do 2023 que vamos provar hoje”, contou Christian Seely no dia do lançamento. Para além dos vinhos do Porto e da aposta crescente nos vinhos Douro, a Quinta do Noval também produz azeite de elevada qualidade, proveniente de seis hectares de olival cultivados com as variedades tradicionais portuguesas: Cordovil, Verdeal e Madural.
O azeite é produzido a partir de azeitonas colhidas manualmente e prensadas a frio, garantindo a preservação dos aromas e sabores naturais da fruta e um produto de excelência. Em 2019, a Quinta do Noval deu um passo estratégico importante ao adquirir a Quinta do Passadouro, propriedade vizinha situada também em Vale de Mendiz. A aquisição da Quinta do Passadouro permitiu à Quinta do Noval expandir a sua área de vinha de 145 para 181 hectares, consolidando-se como uma das maiores propriedades da região.
A aposta forte nos Douro
Num dia fresco de primavera fomos recebidos na lindíssima propriedade da Quinta do Noval pelo enólogo Carlos Agrellos, o CEO Christian Seeley e a Brand Embassador Ana Carvalho. A ocasião revelava-se de festa por dois momentos muito especiais. Por um lado, a apresentação dos novos Portos Vintage 2023, incluindo o lendário Noval Nacional. Por outro e não menos importante, o lançamento e prova de vários vinhos brancos e tintos, fruto de uma estratégia recente de forte aposta na produção de vinhos Douro, com a construção de uma adega com capacidade para umas impressionantes 1100 barricas que tivemos o privilégio de visitar. “Estávamos muito focados nos vinhos do Porto e o mercado, maioritariamente o premium onde nos posicionamos, pedia-nos vinhos de mesa, sobretudo brancos, dos quais tem aumentado significativamente a procura nos últimos anos. Com a construção deste armazém para armazenamento e envelhecimento de vinhos de mesa, contamos chegar às 400 mil garrafas produzidas”, refere Carlos Agrellos.
A diversidade e quantidade de barricas e a vinificação por castas, na sua maioria, permite criar o perfil desejado em cada vinho. Nota-se também, nos novos vinhos provados que daremos destaque nesta peça, uma menor extração, sem perder o caráter único do terroir e a capacidade inegável de evolução que os vinhos possuem em garrafa. Após a visita e antes de um almoço que foi acompanhado por diversas preciosidades da garrafeira particular de Christian Seely, as entradas foram servidas sob a sombra do majestoso Cedro da Quinta do Noval. Com sua imponente estatura, esta árvore centenária domina a paisagem da propriedade, guardião silencioso da história da quinta, testemunha de muitas gerações que trabalharam ali e cuidaram da terra com dedicação. E foi neste cenário que provámos alguns dos brancos de colheitas anteriores, para atestarmos a sua evolução positiva. E que bem que estavam!
Nota: O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico
(Artigo publicado na edição de Julho de 2025)
Grande Prova: Monção e Melgaço – O expoente do Alvarinho

Se fossem necessárias algumas razões, bastariam duas para justificar o presente trabalho: por um lado, a fama secular dos vinhos desta sub-região e, por outro, a sua originalidade centrada na casta Alvarinho que ganhou, e bem, um lugar especial nos consumidores nacionais e estrangeiros. Mas voltemos atrás para recordarmos o nosso colega João Paulo Martins […]
Se fossem necessárias algumas razões, bastariam duas para justificar o presente trabalho: por um lado, a fama secular dos vinhos desta sub-região e, por outro, a sua originalidade centrada na casta Alvarinho que ganhou, e bem, um lugar especial nos consumidores nacionais e estrangeiros. Mas voltemos atrás para recordarmos o nosso colega João Paulo Martins quando este referia, nas edições do seu Guia de Vinhos de Portugal nos finais dos anos 90, que existiam Vinhos Verdes e, depois, existiam os Alvarinhos, numa clara alusão ao elevado padrão qualitativo destes últimos, e sempre com destaque para os provenientes de Monção e Melgaço. Claro está que os Verdes de hoje nada têm a ver com os dos anos 90, numa evolução que acompanhou a da generalidade dos brancos nacionais. Mas os vinhos de Monção e Melgaço continuam a ser algo de muito especial, diferente em todos os sentidos, com uma notoriedade histórica onde, já naquela altura, pontificavam marcas como Cêpa Velha, Deu-la-Deu ou Palácio da Brejoeira, todas elas verdadeiros marcadores de um perfil de Alvarinho proveniente de um território de excelência.
Solos e altitudes
Mas afinal que território é este? Protegido por montanhas, com um microclima mais continental do que a média da restante região dos Vinhos Verdes (ou seja, com maior amplitude térmica), Monção e Melgaço caracteriza-se climatericamente por invernos frios e chuvosos e verões que se podem qualificar como quentes. Tanto assim é que, no verão, entre Caminha no litoral e Monção, separada do mar por uma cadeia montanhosa, a diferença de temperatura pode chegar aos 15ºC apesar da mera distância ser de 35 quilómetros. Tal como sucede um pouco pelo país, existem em Monção e Melgaço diferenças de solos e altitudes, sendo que tanto o Alvarinho como as suas declinações de perfil são mais moldadas pela importância dos primeiros. Com efeito, mais do que a altitude, é o tipo de solo de origem granítica (terraços fluviais, com ou sem calhau rolado, aluviões ou franco-arenosos) que melhor determina o resultado de cada néctar. Da mesma forma, é considerando cada tipo de solo que se deve privilegiar o uso de barrica, nova ou usada sendo que, por regra, é nos solos franco-arenosos aqueles em que as barricas de segundo ano dão melhores resultados, originando alguns dos melhores vinhos da sub-região e do país.
Reconhecido há quase um século, em 1929 (vinte anos depois da demarcação da Região dos Vinhos Verdes), este território já foi terra de tinto, com grande sucesso na exportação no final do século XIX, quer pela sua qualidade, quer pela crise na produção europeia que se seguiu à filoxera. Conhecida desde o século XVII como “a terra dos vinhos”, Monção tem fama desde a Idade Média e, como todas as vetustas regiões de vinho no mundo, foi-se adaptando. Mas foi preciso chegar a meados do século XX para o Alvarinho se começar, aos poucos, a impôr. Com referências desde o século XVIII, só a partir da segunda metade do século passado se começa a comprovar que o Alvarinho, em Monção e Melgaço, é especial. Nos anos 60 começam os relatos dos bons resultados da casta e, já nos anos 70 surgem, ainda que timidamente, marcas que engarrafam um branco com base em Alvarinho de perfil tendencialmente seco e delicado (em garrafa escura para não oxidar…), longe das versões mais ácidas e desequilibradas que se encontravam em restaurantes e pensões por todo o norte do país.
O Alvarinho e a barrica
Saltando vários anos em diante, encontramos dois outros marcadores essenciais do tempo para este sub-região. Um primeiro, em 1974 e 1982, respetivamente a data da plantação da primeira vinha contínua de Alvarinho e a data da criação da primeira marca de Alvarinho de Melgaço, ambas pela conhecida Quinta de Soalheiro. Depois, em 1987, quando Anselmo Mendes começa os seus ensaios de Alvarinho fermentado em barrica. A escolha do carvalho e da floresta, das tostas, a dimensão da barrica, o aperfeiçoamento da bâttonage (considerando que o bago do Alvarinho é pequeno, originando mostos intensos à partida) e o controlo da oxidação, tudo são técnicas que vários produtores da sub-região vão abraçar e que Anselmo Mendes preconizou com antecipação. De tal forma que, já no presente século, encontramos quase duas dezenas de Alvarinhos de Monção e Melgaço fermentados e/ou estagiados em barrica, muitos deles num patamar altíssimo de qualidade.
A par de Anselmo Mendes e da Quinta do Soalheiro (sobretudo na referência Reserva) já referidos, há vários anos que encontramos produtores a usar parcial, ou totalmente, barricas, casos da Quinta do Regueiro, Quinta de Santiago, Quintas de Melgaço, sem esquecer a Provam ou a Adega Cooperativa de Monção, João Portugal Ramos, entre outras referências. Na prova que relatamos abaixo, e a par dos nomes já referidos, também os produtores Márcio Lopes, Casa de Paços, Constantino Ramos e, bem assim, as marcas Milagres, Barão do Hospital e Nostalgia usam barrica parcial ou totalmente.
Não espanta, assim, que a área de vinha em Monção e Melgaço não tenha parado de crescer, sinal de vitalidade da área. O número de hectares aproxima-se dos 2000 (grandíssima parte plantados com Alvarinho), sendo a zona de Melgaço a que mais cresce. A notoriedade da casta e da sub-região está consolidada a nível nacional, os vinhos são procurados sobretudo nos restaurantes, e o preço médio é claramente mais alto comparado com o restante Vinho Verde e com muitos dos brancos do país. Para tudo isto também contribuiu o bom trabalho das respetivas cooperativas. Falta, talvez, uma maior projeção internacional, havendo caminho a percorrer na especificação e destaque de Monção e Melgaço relativamente à região dos Vinhos Verdes, já de si bastante internacionalizada e procurada, mas muito centrada em gamas de entrada. Nota final para uma nova vaga de produtores na região, alguns deles enólogos noutras parte do país, caso de Luís Seabra, Márcio Lopes, Constantino Ramos, David Baverstock e António Braga. Isto para não falar de players de mercado que não querem perder a oportunidade de ter uma operação em Monção e Melgaço, casos de João Portugal Ramos e, mais recentemente, da Symington Family Estates. Esta circunstância de atratividade de excelentes profissionais espelha bem o potencial da região e os vinhos em prova, cujas notas deixamos abaixo, confirmam plenamente.
(Artigo publicado na edição de Julho 2025)
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Via Latina
Branco - 2024 -

Quinta das Pereirinhas Supremo
Branco - 2024 -

Quinta do Mascanho
Branco - 2024 -

Encosta da Capela
Branco - 2024 -

Deu la Deu
Branco - 2024 -

Vale dos Ares
Branco - 2024 -

Santos da Casa
Branco - 2023 -

Reguengo de Melgaço
Branco - 2024 -

Cícero
Branco - 2023 -

Soalheiro Granit
Branco - 2024
Costa Boal: Apostar na diferença

A Costa Boal Family Estates é uma empresa produtora de vinhos nas regiões do Douro, Trás-os-Montes e, desde 2020, em Estremoz, no Alentejo. A tradição da vinha e do vinho na família de António Boal, 45 anos, o seu fundador, remonta a 1857 e tem origem numa das aldeias da região duriense, Cabêda, no planalto […]
A Costa Boal Family Estates é uma empresa produtora de vinhos nas regiões do Douro, Trás-os-Montes e, desde 2020, em Estremoz, no Alentejo. A tradição da vinha e do vinho na família de António Boal, 45 anos, o seu fundador, remonta a 1857 e tem origem numa das aldeias da região duriense, Cabêda, no planalto de Alijó. Com foco nas vinhas e apoiada numa equipa coesa, a Costa Boal tem apostado na valorização do seu património vitivinícola para construir um projeto de vinhos consistente e de qualidade. Os seus autores são o próprio António Boal, e Paulo Nunes, enólogo há muito tempo ligado a este projecto.
O património vitícola e de terroirs da Costa Boal permite-lhe produzir uma diversidade de estilos de vinhos cuja qualidade e distinção lhe tem permitido crescer e solidificar o seu posicionamento nos mercados onde está presente. E não vai parar por aqui, já que António Boal está sempre a pensar em novos investimentos, feito com base numa procura de novos terroirs, onde existam, de preferência, vinhas velhas, a partir dos quais possa produzir, e oferecer ao mercado, vinhos distintos.
A Herdade dos Cardeais fica numa zona mais fresca do Alentejo e os seus solos têm origem numa faixa de transição entre xistos e os mármores de Estremoz
Oportunidade no Alentejo
António Boal, 45 anos, é também natural de Cabêda. Desde muito novo, acompanhou o pai nos trabalhos agrícolas da família, ajudando a fazer a vindima, as podas, os tratamentos e até a plantação de vinha. Com o falecimento do progenitor, tinha então 19 anos, tomou nos braços o negócio herdado, depois de já ter adquirido algum conhecimento no curso técnico de Gestão Agrícola da Escola Profissional de Desenvolvimento Rural de Rodo, na Régua. Mais tarde fez também o curso de Engenharia Alimentar no Instituto Piaget, em Mirandela.
Aos 24 anos começou a desenhar os primeiros vinhos para o mercado regional. Mais tarde, aventurou-se no mercado nacional e depois na exportação, sempre com muita atenção a cada passo dado, e vontade de adquirir conhecimento que lhe permitisse ir mais longe. Foi esse que o fez decidir crescer investindo noutras regiões para além da sua de origem, o Douro.
Já foi com o actual sistema de distribuição, baseado em distribuidores regionais em Portugal e distribuidores locais nos mercados externos onde está presente, já montado, que avançou, primeiro para Trás-os-Montes e, mais recentemente, para o Alentejo.
Comprou a Herdade dos Cardeais após alguns anos à procura de oportunidade de investimento na região. “Mas tudo o que me aparecia eram sempre projectos demasiado grandes, com mais de 70 hectares de vinha, o que exigiria uma estrutura enorme e a construção de uma força de vendas muito grande, o que não era o meu objectivo”, conta António Boal. Até que surgiu a oportunidade de comprar a Herdade dos Cardeais, que foi adquirida em 2020.
Nessa altura tinha 10 hectares de vinha, uma adega e um stock de vinhos de 140 mil litros. Para além disso, o encepamento era composto por vinhas com cerca de 20 anos das castas tintas Aragonez, Syrah, Cabernet Sauvignon, Petit Verdot e Alicante Bouschet e brancas Antão Vaz, Roupeiro e Arinto, este plantado em 2014, o que agradou ao enólogo da empresa, Paulo Nunes, já que havia o potencial para produzir os vinhos mais frescos que pretendia fazer no Alentejo.
“O objectivo da nossa empresa, desde o início, é fazer pequenos volumes com valor acrescentado, e foi por isso que comprámos a Herdade dos Cardeais, pois fica numa zona mais fresca do Alentejo e os seus solos têm origem numa faixa de transição entre xistos e os mármores de Estremoz”, explicou o proprietário da Costa Boal Family Estates durante o evento de lançamento.
Vinhos com assinatura
Foi a partir do que havia em stock que foram lançadas as primeiras referências da Quinta dos Cardeais, da colheita de 2019, em 2023. Mas os dois tintos de 2020, um Reserva e um Grande Reserva, e os dois brancos apresentados à imprensa, e ao mercado, foram totalmente produzidos pela equipa da casa.
“A grande diferença entre os vinhos da colheita de 2019 e os que estamos a lançar agora é que foram pensados na vinha”, o que implicou que “o maneio e a condução das plantas foram readaptados para produzir os vinhos que pretendemos”, explicou Paulo Nunes no almoço de lançamento das novas colheitas, que decorreu no restaurante Plano, em Lisboa. Ou seja, houve redução da carga de cachos por planta, e diminuição do volume de rega, o que deu origem a uma produção significativamente menor e contribuiu, com a “enologia minimalista” usada na adega, para que os vinhos “expressem toda a identidade da região”.
Um vinho é sempre melhor com uma boa história por detrás. E se esta não existir, “nós acabamos por ser mais um dos muitos que estão no mercado”, o que tornaria o negócio da sua empresa mais difícil de gerir e António Boal não quer. Foi, por isso, que só avançou para o Alentejo nesta década. “Se fosse apenas uma marca, engarrafava e até podia fazer o melhor vinho do mundo, mas não tinha a história, a adega, a terra, as castas, o perfil que idealizamos”, defende. Em 2025 lançou os primeiros vinhos das colheitas de 2021 em diante da Quinta dos Cardeais, “produzidos com a nossa viticultura e enologia”, salienta.
A filosofia do projecto da Costa Boal Family Estates é fazer vinhos a partir de pequenas quintas, com 10 a 12 hectares de vinha até agora, com controlo total da produção nas regiões onde está activa, “para não depender de terceiros”, onde tem, em cada uma delas, uma adega. “Esta forma de estar e agir no negócio é mais dispendiosa, mas permite-nos adquirir um conhecimento essencial para fazer vinhos diferenciados, cujas características variam com as condições de cada ano”, explica. Mas é preciso vendê-los e António Boal já sabe, hoje, a melhor forma de o fazer.
Um negócio de amizades
“O negócio do vinho passa pela proximidade”, pelo estabelecimento de amizades, explica, salientando que foi isso que lhe aconteceu muitas vezes ao longo do tempo. “Hoje tenho clientes que foram, primeiro, amigos”, revela dizendo que não basta chegar a um restaurante, apresentar um vinho e deixar a garrafa.
“Sem um relacionamento estabelecido não se vende vinho, porque é um negócio que tem, como base, relacionamentos e amizades que o tornam sustentável”, pelo menos nas empresas de pequena e média dimensão, que não têm grandes equipas de vendas com acesso a toda a rede de clientes. “É, por isso, que quando vou a qualquer parte do país, faço questão de visitar sempre vários clientes, os restaurantes que conheço, para cumprimentar as pessoas, saber como está a correr a venda de vinhos e o que precisam de nós. É parte essencial dos projectos”, defende.
António começou por ser agricultor e, depois, produtor de vinho. Mas isto não basta para gerir um negócio onde é essencial saber comunicar, vender e cobrar e garantir a sustentabilidade económica de forma duradoura. As bases para isso foram-lhe comunicadas pelo pai através de uma frase que este lhe dizia muitas vezes: juntar dinheiro custa, mas gastar é rápido. “No fundo, o que tenho feito é usar essa frase sábia colocando-a em prática, mantendo uma racionalização de custos que nos tem permitido aumentar o nosso património cada vez mais, e acrescentar valor nos produtos que colocamos no mercado”, explica o proprietário da Costa Boal Family Estates. “E não vamos ficar por aqui, já que projectamos avançar para mais regiões”.
Hoje a Costa Boal está presente em três regiões, Douro, Trás-os-Montes e Alentejo, a partir das quais engarrafa cerca de 400 mil garrafas de vinho. Neste momento é uma empresa estável, que já está a apostar no enoturismo, projecto que deverá arrancar com base numa quinta de 1932, que fica em Favaios. Nela vai ser desenvolvido um hotel e um restaurante. Mas não vai ficar por aqui, porque prepara-se para entrar noutras sub-regiões em breve. No ano passado adquiriu mais 10 hectares de vinha velha em Trás-os-Montes, o que faz, da Costa Boal Family Estates, um dos principais produtores com vinhas velhas nesta região. “Tanto eu, como o enólogo e o responsável de viticultura gostamos de desafios e o nosso limite é o céu”, diz ainda António Boal.
As regiões e quintas da Costa Boal
Douro
No berço duriense da Costa Boal, na aldeia de Cabêda, está instalada a antiga adega da família, datada de 1857. Mantém os lagares tradicionais de granito, nos quais se faz ainda a pisa a pé as uvas. É a casa onde repousam, entre outros, os Vinhos do Porto velhos e muitos velhos da Costa Boal, que aqui produz as referências Costa Boal e Flor do Côa.
Nesta região, a Costa Boal possui a Quinta dos Tojais (Cabêda, Alijó), Quinta do Sobredo (Vilar de Maçada, Alijó), Quinta Vale de Mouro (Vila Nova de Foz Côa), Quinta da Pia (Porrais, Murça) e a recém adquirida Quinta de Arufe, em Favaios, onde se vai desenvolver o primeiro projecto da marca na área do enoturismo. A empresa produz também azeite a partir de oliveiras centenárias das variedades Madural, Verdeal e Cobrançosa nesta região.
Trás-os-Montes
É das vinhas velhas da Quinta dos Távoras, em Mirandela, uma das propriedades da Costa Boal na região transmontana, que são colhidas as uvas para os vinhos Flor do Tua, Quinta dos Távoras e Palácio dos Távoras. A Costa Boal detém nesta região uma vinha histórica centenária, em Miranda do Douro, nas arribas do rio, mesmo junto à fonteira com Espanha.
A aquisição de mais 10 hectares de uma vinha velha, com mais de 67 anos, fez crescer a área explorada pela empresa para os 22 hectares, reforçando o seu posicionamento como produtor de vinhos de vinhas velhas.
Alentejo
A Costa Boal Family Estates chegou em 2020 ao concelho de Estremoz, sub-região do Alentejo, uma propriedade com 10 hectares de vinha, com a compra da Quinta dos Cardeais. É a partir dela que são produzidas as gamas Quinta dos Cardeais e Monte dos Cardeais. Em 2025 foram lançados os primeiros vinhos.
(Artigo publicado na edição de Julho de 2025)
Editorial: Nº 100

Editorial da edição nrº 100 (Agosto de 2025) 100 meses, 100 edições. Um número bem redondinho que assinala um percurso bonito, iniciado em maio de 2017, recheado de desafios (um covid 19 pelo meio, parece que foi há um século…) e superações. Foram também 100 editoriais, publicados nesta página. Revisito aqui alguns deles, abrindo […]
Editorial da edição nrº 100 (Agosto de 2025)
100 meses, 100 edições. Um número bem redondinho que assinala um percurso bonito, iniciado em maio de 2017, recheado de desafios (um covid 19 pelo meio, parece que foi há um século…) e superações. Foram também 100 editoriais, publicados nesta página. Revisito aqui alguns deles, abrindo uma cápsula do tempo de memórias vínicas destes quase oito anos e meio.
“Número 1. Gosto deste algarismo e dos seus múltiplos significados. Pode querer dizer o primeiro, no sentido qualitativo do termo, mas também início e único. Acredito que todos eles se aplicam à revista que agora apresentamos. V Grandes Escolhas, é o seu nome.” (Maio 2017)
“A viticultura sustentável não é uma moda ou uma tendência, antes uma necessidade. E uma necessidade de que muitos produtores estão conscientes, sobretudo aqueles que querem deixar algo para as gerações vindouras (as suas e as dos outros).” (Dezembro 2017)
“Fico zangado com a rolha quando esta me deixa ficar mal, quando frustra as minhas expectativas, quando mata um vinho que acarinhei durante anos para um momento de glória que afinal não foi. Mais do que arruinar o vinho, o TCA destrói o momento.” (Dezembro 2018)
“A Touriga Nacional é a minha casta favorita? Não, de todo. Mas é a melhor que temos e a mais bem colocada para representar a grandeza vinícola de Portugal. É exuberante, vaidosa, impositiva, egocêntrica? Sim, claro. O Cristiano Ronaldo também.” (Maio 2019)
“Existem muitas definições para o chamado factor X. Aquela de que mais gosto explica-o desta forma: “Uma variável, numa dada situação, que pode vir a ter o impacto mais significativo no resultado”. No caso do vinho, não tenho qualquer dúvida: a variável principal, o factor X, é o factor humano.” (Setembro 2019)
“O salto digital foi gigantesco para todos. Veio para ficar? Vai ser assim de agora em diante? Vai substituir a conversa cara a cara, o aperto de mão, o abraço, o tocar dos copos? O take-away e a venda online não salva restaurantes, lojistas e produtores, tal como o WhatsApp não resolve as saudades da família e dos amigos. É um compromisso pífio e frustrante. Mas ajuda.” (Maio 2020)
“Só quem sabe muito de viticultura e enologia se pode dar ao luxo de abdicar da segurança e correr riscos. Mas só correndo riscos se criam vinhos que nos seduzem e impressionam pela sua qualidade, originalidade, personalidade. E mesmo com todo o conhecimento, talento e atenção, quem caminha na linha vermelha, sabe que, por vezes, as coisas correm mal.” (Fevereiro 2021)
“Gosto discute-se, qualidade não. A qualidade é imediatamente reconhecível, mesmo por quem não é especialista ou conhecedor. Se um vinho cheira mal, não há quem me convença de que cheira bem. Uma couve podre é uma couve podre, um guisado queimado é um guisado queimado. Não há volta a dar.” (Janeiro 2022)
“Agora que toda a gente sabe o que é Vinho de Talha Alentejo, seria bom não esquecermos os amadores (no verdadeiro sentido da palavra, ‘aqueles que amam’) que, teimosamente, ao longo das últimas décadas, mantiveram vivos não apenas a tradição como o conhecimento, o saber fazer.” (Julho 2023)
“Aqueles que se intitulam ‘fora da caixa’ (sem perceberem que assim se inserem, desde logo, numa caixa e num rótulo) são, frequentemente, os que mais se esforçam por colocar todos os outros vinhos e produtores em caixinhas muito bem fechadas, catalogadas e arrumadas num canto, de preferência escuro e longínquo. Como se o mundo do vinho se resumisse a ‘nós’ e ‘outros’.” (Dezembro 2023)
“Quantas vezes assisti, em sessões de prova, ao arrasar de um vinho com o singular argumento de que se ‘sente a madeira’. (…) Curiosamente, quem diaboliza a mais leve sugestão de fumado ou especiaria da barrica, é capaz de acolher embevecido e lacrimejante de prazer o aroma a pez da talha ou o sabor taninoso do engaço verde no lagar.” (Junho 2024)”
“Melhores vinhos. De todos os ‘prognósticos’ para 2025, este é o que podemos tomar como garantido. A cada ano que passa, nascem em Portugal melhores vinhos, brancos, rosados e tintos. Não sei quando o mundo vai verdadeiramente reconhecer (e pagar) a grandeza destes vinhos. Mas pouco importa, eu sei onde os encontrar.” (Janeiro 2025) L.L.




























































