VINHOS & SABORES BRINDA COM PROVAS ÚNICAS E SABORES EXCLUSIVOS

No coração do evento, o anfiteatro “Prove Connosco” vai transformar-se num palco de partilha e descoberta. Mais de vinte produtores vão conduzir sessões curtas e dinâmicas, com duração de 20 minutos, onde apresentam dois vinhos à escolha. O público pode inscrever-se gratuitamente no local e viver de perto a experiência de ouvir o produtor, conhecer […]
No coração do evento, o anfiteatro “Prove Connosco” vai transformar-se num palco de partilha e descoberta. Mais de vinte produtores vão conduzir sessões curtas e dinâmicas, com duração de 20 minutos, onde apresentam dois vinhos à escolha. O público pode inscrever-se gratuitamente no local e viver de perto a experiência de ouvir o produtor, conhecer a sua história e provar vinhos cuidadosamente selecionados. Um ambiente intimista e envolvente que promete esgotar lugares ao longo dos três dias.
As Provas Especiais são também momentos de grande expectativa. Algumas sessões esgotaram rapidamente, mas ainda é possível reservar lugar em provas de referência, como “Cossart Gordon – Madeira com História”, “J. Portugal Ramos – Alentejo com Classe”, “Anselmo Mendes – Entre Minho e Lima”, “25 anos de Herdade do Sobroso – Beja, a caminho da D.O. Alentejo”, “Sidónio de Sousa – Sabores da Bairrada Antiga”, “Grandes Brancos de Lisboa” e “Quinta da Bacalhôa – O ‘Château’ de Azeitão”. Experiências únicas que permitem mergulhar em diferentes terroirs, estilos e histórias que moldam o vinho português.
A gastronomia também tem lugar de destaque no programa, com o Showcooking Sabores ao Centro, que junta as Comunidades Intermunicipais da região Centro e Oeste para uma viagem pelos produtos e receitas típicas de cada território. Ao longo do fim de semana e da segunda-feira, chefs como Luís Lavrador, Hélio Loureiro, Ricardo Ramos, Diogo Rocha, Sérgio Fernandes, Maria Caldeira de Sousa, Diogo Caetano e Patrícia Borges vão harmonizar pratos regionais com vinhos selecionados, criando experiências de sabor que elevam a tradição à modernidade.
A feira Vinhos & Sabores prolonga-se ainda para além das paredes da FIL, no Parque das Nações. A um grupo alargado de convidados profissionais proporcionou-se a oportunidade de conhecer de perto as regiões produtoras através de visitas de enoturismo especialmente organizadas. Durante três dias, a Região Centro dará a conhecer a diversidade vitivinícola da Bairrada, do Dão e da Beira Interior, em articulação com as respetivas Comissões Vitivinícolas Regionais. Já a Península de Setúbal será palco de uma visita exclusiva, em colaboração com a CVR local e a Rota de Vinhos de Setúbal, que permitirá mergulhar na autenticidade desta região.
Combinando provas comentadas, apresentações exclusivas, momentos gastronómicos de exceção e experiências de enoturismo em território nacional, o programa de Vinhos & Sabores 2025 vai muito além de uma feira: é uma celebração da cultura do vinho e da riqueza gastronómica portuguesa, um convite ao público para provar, descobrir e viver três dias de experiências inesquecíveis.
Consulte o programa AQUI
GRANDE PROVA: BRANCOS DE LISBOA

Conta-se uma adivinha nas aulas de marketing, sobre qual o som que o hipopótamo faz. Alegadamente “dodot-dodot…” e toda a gente se ri. É um exemplo de má passagem de comunicação, já que o hipopótamo estava nas fraldas Ausónia (os mais velhos lembrar-se-ão da canção: “Ausónia elásticos lá lá, sempre seco lá lá lá.”). Também […]
Conta-se uma adivinha nas aulas de marketing, sobre qual o som que o hipopótamo faz. Alegadamente “dodot-dodot…” e toda a gente se ri. É um exemplo de má passagem de comunicação, já que o hipopótamo estava nas fraldas Ausónia (os mais velhos lembrar-se-ão da canção: “Ausónia elásticos lá lá, sempre seco lá lá lá.”). Também Lisboa a cidade branca aporta uma série de referências, que é preciso ir ao google confirmar. “A Cidade Branca” não é um filme de Wim Wenders, esse é o “Lisbon Story”. A Cidade Branca é um filme anterior, um clássico de Alain Tanner, com um jovem Bruno Ganz como estrela. A cidade branca é também uma expressão intrigante para qualquer pessoa que veja Lisboa de longe, por exemplo da Ponte 25 de Abril ao entardecer. As casas esparramam-se sobre as colinas, numa visão realmente deslumbrante. Mas nada parece branco. Procura-se, por entre as clássicas cores rosa e amarelo-ocre, onde estará o branco de cal que terá trazido essa fama à cidade. Mas apenas se encontra a ocasional fachada de pedra calcária. Branco? Nem por isso. Então de onde vem essa ideia? Da luz. A luz da lisboa é branca, entra pelos olhos dentro e faz o habitante local procurar a sombra e cobrir os olhos com a mão. O turista prefere ficar ao sol, é a forma de nos distinguirmos deles. Vê-se logo a separação dos dois grupos.
Mas falemos de vinho: há também uma óbvia separação entre grupos. A velha Lisboa, herdeira da Estremadura, era uma região de tintos. Aliás, dizia-se que Portugal era um país de tintos. “Era” fica bem dito, porque os anos passam, todo o sector trabalhou duro para encaixar a ideia de que temos uma gastronomia e um clima que convidam aos vinhos brancos. Viticultura e enologia juntaram-se, a crítica apoiou, os consumidores ficaram contentes e todos evoluíram. Neste momento, nas minhas notas de prova faço muitas recomendações de pratos de carne com vinho branco, o que me indica que também o velho estilo de branco jovem, fácil, frutado e directo também é só mais uma das opções. Há outros estilos que se vão impondo, e a gama de vinhos brancos que se encontra neste momento país-fora é variada e impressionante.
Esta prova de brancos topos de gama da região de Lisboa foi prova disso. Os produtores enviaram as suas armas pesadas e há uma gama extraordinária de vinhos de grande qualidade, com incrível variedade de castas, seja a solo, seja em lotes, diversas técnicas de vinificação e tipos de estágio, e de certa forma. para minha surpresa, muitas idades: entre 2019 e 2024. So much para outro mito que se vai esboroando, o de que os brancos se têm de beber jovens e que o branco do ano anterior ao último já só serve para temperar as iscas. Not true, e de uma forma bastante definitiva (entra meta-filosofia, para reflexão estival): é já tão evidente que os clientes não pensam assim, que os produtores têm confiança em guardar os seus melhores vinhos, para lançar os topos de gama com vários anos em cima.
Castas várias, lotes diversificados, diferentes idades e evoluções, produtores pequenos e grandes, novos e clássicos, os brancos de Lisboa chegaram à idade adulta e valem a pena
UMA REGIÃO DIVERSA
A região de Lisboa é muito variada e, segundo Carlos João Pereira da Fonseca (Companhia Agrícola do Sanguinhal e Vogal da Direcção da Comissão Vitivinícola da Região de Lisboa) tem uma diversidade única no país. Carlos João explicou-me que a região tem Bucelas, onde se fazem grandes Arintos. Talvez tenha sido Nuno Cancela de Abreu, com o Morgado de Santa Catherina, a fazer o primeiro grande branco com madeira em Portugal. Tem Carcavelos, uma região única com um grande trabalho nos licorosos. Tem Colares, com chão rijo e chão de areia, ambos com características completamente diferenciadoras. Vamos subindo e há a zona de Arruda dos Vinhos até Sobral de Monte Agraço e Alenquer, com muito menos influência atlântica, regiões tradicionalmente de tintos. Lisboa tem as zonas marítimas de Óbidos e Torres Vedras, que sempre foram zonas de brancos. Há ainda as Encostas de Aire e os medievais de Ourém, mais focadas nos tintos. E depois há a Lourinhã, com mais influência marítima, e que faz vinhos mais leves, para a tão conhecida aguardente.
Carlos João Pereira da Fonseca acrescentou ainda que só com grande trabalho na vinha é que se começaram a fazer vinhos tintos do lado do mar. Quando começou a plantar vinhas, nos anos 1980, ampliou a área de tintos, era então apenas 20%. Plantou castas de ciclo mais curto e conseguiu melhorar muito a qualidade dos vinhos sem perder o seu carácter. A região produz muito, é a segunda maior a seguir ao Douro, e a terceira em termos de vendas de vinhos certificados. Recentemente, voltaram a apostar nas brancas, e o encepamento de castas brancas aumentou para os actuais 40%.
A lista de castas autorizadas para vinhos brancos pela CVR é muito extensa e abrange muitas castas autóctones, nacionais e internacionais. Entretive-me a contar as castas mencionadas nas fichas técnicas dos 33 vinhos provados nesta prova. Em 44 castas mencionadas (entre varietais e lotes, apenas num vinho não sei as castas), 17 são Arinto, cinco são Viosinho, quatro são Vital, quatro são Malvasia ou Malvasia de Colares, duas são Viognier, duas são Fernão Pires/Maria Gomes, e as restantes aparecem apenas uma vez: Cercial, Riesling, Jampal, Sercial, Sémillon, Alvarinho e Roussanne. Para mim, a grande surpresa foi o aparecimento repetido da casta Viosinho, uma importação recente, que mostrou grande adaptação ao terroir, e cuja adopção tem crescido. Não é surpresa o Arinto, já que é originário de Bucelas, como não é surpresa que ainda apareça a Vital, uma casta histórica, de grande longevidade e que já há anos atrai atenção, embora tenha escapado por pouco à extinção. Mesmo a Malvasia de Colares está em perigo, mas a determinação das gentes de Colares vai salvá-la. A Chardonnay e o Viognier já têm histórico de algumas décadas na região, e as restantes parecem responder ao objectivo de ter, no mercado, vinhos diferenciados, uma característica que a região abraça com gosto, aproveitando o facto de ter também muitos micro-terroirs valorizados por um público atento.
Tudo o que vejo acontecer na região de Lisboa me entusiasma em crescendo. A quantidade e variedade de vinhos brancos topos de gama e os resultados empolgantes desta prova, tudo me diz que a variedade e a experimentação nos tintos também vai chegar em breve ao topo. Cada vez mais vai valer a pena escolher vinhos de Lisboa e desfrutar desta antiga, mas moderna, região de vinhos. Inshallah.
(Artigo publicado na edição de Setembro de 2025)
-
Quinta de S. Sebastião
Branco - 2020 -
Quinta de Pancas
Branco - 2024 -
Quinta da Folgorosa
Branco - 2020 -
Morgado de Sta. Catherina
Branco - 2023 -
Monte Bluna
Branco - 2022 -
CH by Chocapalha
Branco - 2022 -
Casal Sta. Maria Pêndulo
Branco - 2022 -
Casa das Gaeiras
Branco - 2020 -
Quinta do Monte d’Oiro
Branco - 2022 -
Colares Chitas
Branco - 2020
-
Quinta da Murta
Branco - 2022 -
Morgado de Bucelas Cuvée
Branco - 2023 -
Monstros de Lisboa
Branco - 2024 -
Maria do Carmo
Branco - 2019 -
Madame Pió
Branco - 2023 -
Félix Rocha
Branco - 2021 -
Dona Fátima
Branco - 2022 -
Alma Vitis
Branco - 2021 -
Quinta Vale da Roca
Branco - 2022 -
Quinta do Rol Atlântico
Branco - 2021
-
Quinta do Pinto
Branco - 2021 -
Quinta do Lagar Novo
Branco - 2021 -
Peripécia
Branco - 2022 -
Mosquel
Branco - 2023 -
Mare et Corvus
Branco - 2023 -
Corrieira Juntos
Branco - 2023 -
Adega d’Arrocha
Branco - 2023 -
Vale da Mata
Branco - 2024 -
Quinta do Boição Vinhas Velhas
Branco - 2021 -
Quinta de San Michel
Branco - 2022
Vinhos & Sabores 2025 com provas especiais imperdíveis

São já conhecidos os temas das Provas Especiais no próximo Grandes Escolhas Vinhos & Sabores, o maior evento vínico realizado em Portugal e que, este ano, tem lugar entre os dias 18 e 20 de Outubro, na FIL (Parque das Nações). Tal como habitualmente, as provas serão apresentadas e comentadas por profissionais de referência e […]
São já conhecidos os temas das Provas Especiais no próximo Grandes Escolhas Vinhos & Sabores, o maior evento vínico realizado em Portugal e que, este ano, tem lugar entre os dias 18 e 20 de Outubro, na FIL (Parque das Nações).
Tal como habitualmente, as provas serão apresentadas e comentadas por profissionais de referência e abrangem muitas das mais prestigiadas marcas da actualidade, incluindo grande número de vinhos raros há muito esgotados no mercado.
As reservas podem ser feitas através do link que terá brevemente disponíveis os ingressos para venda: PROVAS ESPECIAIS
Sábado, 18 de Outubro
Sala 2
15:30 – Alves de Sousa, um pioneiro do Douro moderno
De Gaivosa ao Abandonado é feita uma viagem pelas marcas e colheitas mais emblemáticas desta casa duriense.
Por: Domingos e Tiago Alves de Sousa
Sala 1
17:30 – Grandes tintos de 2015
A já clássica prova dos tintos com 10 anos reflecte a excelência e o carácter de uma vindima, de Norte a Sul.
Por: Nuno de Oliveira Garcia
Sala 2
17:30 – Porto Vintage, descobrindo os Clássicos
Os anos “Clássicos” não são todos iguais e os grandes Vintage Taylor’s, Fonseca e Croft revelam as suas nuances.
Por: David Guimaraens
Sala 1
19:30 – Cossart Gordon, Madeira com história
Entre Datados, Colheitas e Frasqueiras, uma das mais históricas marcas da Madeira Wine Company mostra as suas joias.
Por: Francisco Albuquerque
Sala 2
19:30 – J. Portugal Ramos, Alentejo com classe
Nesta casa de Estremoz, a busca pela perfeição é levada ao limite. O resultado são vinhos precisos, sofisticados, inesquecíveis.
Por: João Maria Portugal Ramos
Domingo, 19 de Outubro
Sala 1
15:30 – Anselmo Mendes, entre Minho e Lima
O “senhor Alvarinho” também é Loureiro, Alvarelhão, Pedral. Seus brancos (e tintos!) revolucionam uma região.
Por: Anselmo Mendes
Sala 2
15:30 – 25 anos de Herdade do Sobroso
Parece que foi ontem, mas já passou um quarto de século. De Vidigueira para o mundo, uma marca que se afirma no topo do Alentejo.
Por: Filipe Teixeira Pinto
Sala 1
17:30 – Beja, a caminho da DO Alentejo
Beja e seus arredores têm tudo para ser a nona sub-região do Alentejo. Grous, Malhadinha, Mingorra e Santa Vitória mostram porquê.
Por: Luís Lopes
Sala 2
17:30 – Sidónio de Sousa, sabores da Bairrada antiga
Um dos maiores expoentes do Bairrada clássico, onde Baga, lagares e tonéis revelam os seus tesouros.
Por: Paulo Sousa
Sala 1
19:30 – Grandes brancos de Lisboa
Atlânticos, expressivos, salinos, elegantes, frescos, longevos. Os brancos de Lisboa estão melhores do que nunca.
Por: Luís Antunes
Sala 2
19:30 – Quinta da Bacalhôa, o “château” de Azeitão
Cabernet Sauvignon com pozinhos de Merlot e Petit Verdot. Desde 1979, o tinto mais bordalês de Portugal.
Por: Vasco Penha Garcia
ENOTURISMO: Monverde Wine Experience Hotel

Há uma região no noroeste de Portugal onde a vinha se inclina ao vento como quem escuta um segredo antigo. Ali, entre os verdes ondulantes do Minho e os sussurros do mar, nascem os Vinhos Verdes, nome que não é apenas rótulo, mas metáfora viva de uma paisagem em permanente juventude. Esta é uma terra […]
Há uma região no noroeste de Portugal onde a vinha se inclina ao vento como quem escuta um segredo antigo. Ali, entre os verdes ondulantes do Minho e os sussurros do mar, nascem os Vinhos Verdes, nome que não é apenas rótulo, mas metáfora viva de uma paisagem em permanente juventude. Esta é uma terra onde o vinho não é apenas produto, mas prolongamento do âmago das gentes que o cultivam. Gente boa e genuína.
A Região Vitivinícola dos Vinhos Verdes, fundada em 1908, estende-se desde o rio Minho ao Douro Litoral. Está emoldurada por montes suaves, rios cantantes e uma humidade persistente, que parece impregnar tudo, da terra às palavras. É morada presente da Quinta da Lixa, propriedade vitivinícola localizada em Vila Cova da Lixa, na Lixa, concelho de Felgueiras, e projeto indissociável do Monverde Wine Experience Hotel, unidade de cinco estrelas situada em Telões, concelho de Amarante.
Onde a vinha respira Atlântico
Façamos, primeiro, o retrato da região dos Vinhos Verdes, onde Atlântico, sempre presente, modela o clima. Com a delicadeza feroz da maresia, traz frescura, chuvas abundantes e névoas que velam as manhãs como véus de noiva sobre vinhas inclinadas. A temperatura é moderada, raramente extrema, permitindo que a videira cresça com vagar e vigor, como quem não tem pressa de amadurecer.
Os solos são maioritariamente graníticos, com variações de xisto em certas sub-regiões, geologia que confere aos vinhos uma mineralidade ressonante no palato como uma pedra molhada à beira de um riacho. São solos desafiantes, sábios, que obrigam a vinha a lutar e, por isso mesmo, a exprimir-se com autenticidade.
Falar desta região é escutar nove vozes distintas: Monção e Melgaço, Vale do Lima, Vale do Cávado, Vale do Ave, Basto, Vale do Sousa, Amarante, Baião e Paiva. Mas também é dissertar sobre as castas: a Loureiro, perfumada como um jardim em flor, a Arinto (ou Pedernã), nervosa e precisa, a Avesso, contida e elegante, a Azal, ácida como o orvalho, e, acima de todas, a Alvarinho, que, nas margens do Minho, atinge uma nobreza quase mística. Nas tintas, a Vinhão ainda canta em tons de sangue e terra, lembrando que o verde também pode ser intenso, quase violento, quando fermenta no coração.
As vinhas, que outrora trepavam em ramadas e latadas, para fugir à humidade do solo, agora encontram formas mais baixas, ordenadas e eficientes, como espelhos de uma viticultura que se moderniza sem renegar a memória. A condução em cordão ou em Guyot tornou-se comum, permitindo um melhor controlo da produção e uma expressão mais pura do terroir. Há um compromisso entre o saber antigo e a inovação científica, que, hoje, marca a paisagem. Drones sobrevoam as vinhas modernas e centenárias, análises genéticas cruzam-se com práticas biodinâmicas, mas a mão do homem continua a ser a última a decidir.
Projeto familiar com alma
No coração verdejante do Vale do Sousa, onde a vinha se entranha na paisagem e o tempo se mede em colheitas, nasceu uma história feita de persistência, paixão e visão. A Quinta da Lixa não é apenas o nome de um produtor de vinhos, é, sobretudo, o reflexo de uma família que soube ouvir a terra e transformá-la num legado.
Fundada por Alberto e Óscar Meireles, em 1986, a Quinta da Lixa começou por ser um sonho modesto, cultivado com o labor dos dias e a esperança no amanhã. Ao longo das décadas subsequentes, esse sonho foi ganhando corpo, dimensão e sofisticação, sem nunca perder a essência. Graças à produção rigorosa, à dimensão ajustada ao mercado e à qualidade final dos produtos, produzidos com tecnologia de ponta para a época, a empresa consolidou-se no panorama vínico regional e nacional.
Na raiz de tudo esteve sempre a convicção de que o vinho não é um produto industrial, mas uma expressão sensível de um lugar, de uma cultura e de uma família. A Quinta da Lixa, afirmou-se, assim, como uma das vozes mais autênticas da região dos Vinhos Verdes, fiel à identidade das castas autóctones, mas aberta ao rigor da inovação. Ano após ano, vindima após vindima, construiu-se uma reputação assente na qualidade e na verdade de cada garrafa, porque só o que é verdadeiro permanece.
Porém, a família Meireles foi mais além, ultrapassou os limites do óbvio, traduzindo-se numa inquietação criadora, da qual surgiu o Monverde Wine Experience Hotel, um projeto sonhado e concretizado sob a liderança de Óscar Meireles, um homem com “mundo”, com visão, que soube ler as tendências mundiais do consumo do vinho e da ligação ao turismo.
Hospitalidade, cultura e e terroir
O Monverde Wine Experience Hotel, parte representativa do enoturismo da Quinta da Lixa, também está situado no coração da região dos Vinhos Verdes. Uma das curiosidades deste espaço é que está repartido pelos concelhos de Felgueiras e de Amarante, pelo que é perfeitamente possível dormir em Felgueiras e comer em Amarante sem sair desta unidade de cinco estrelas.
Além de ser uma extensão da Quinta da Lixa, também é o seu reflexo sensível e filosófico. Ali, o vinho deixa de ser um fim em si mesmo, para se tornar experiência e arte de viver. O hotel ergue-se como um espaço de contemplação e celebração, onde o visitante é convidado a provar e sentir o território, a escutar a paisagem, a mergulhar num tempo mais lento e essencial.
Sob o olhar atento de Óscar Meireles e com a cumplicidade fraterna de Alberto Meireles, a unidade de cinco estrelas tornou-se um símbolo de uma nova forma de pensar o enoturismo em Portugal, não apenas como mera montra, mas como vivência plena, onde se cruzam a hospitalidade, a cultura e o respeito absoluto pelo terroir. A filosofia da família rege-se pelo bem-fazer, com tempo e com raízes, até porque este legado já se encontra assegurado pela integração de Diana Meireles, filha de Óscar Meireles, no exercício das funções de enóloga e diretora da qualidade da adega, além de vir a ser a sucessora natural.
No fundo, a história da Quinta da Lixa e do Monverde Wine Experience Hotel é a história de um património que se cultiva como a vinha, com paciência, esmero e a esperança de que cada colheita trará novos frutos. À semelhança do vinho, também essa história se vai apurando com o tempo, tornando-se cada vez mais intensa e mais inesquecível.
Ode a um refúgio báquico
Ali, entre os montes suaves que se aninham entre a sub-região do Vale do Sousa e a sub-região de Amarante, a vinha não é figurante de postal, mas protagonista de uma história longa e sensível. Estende-se como um tecido vivo, costurado por mãos pacientes, bordado com a luz filtrada do Atlântico e o sopro morno do interior. O clima, de transição, guarda em si a frescura húmida do litoral e a doçura soalheira das encostas.
No Vale do Sousa, a videira cresce com humildade. Os solos férteis e o clima chuvoso criam vinhos de perfil delicado, suaves na boca, discretos como um sussurro. É território da Azal, da Arinto, da Loureiro, castas que se oferecem mais pela acidez que pela exuberância. São vinhos que não gritam, mas sustentam, como um pensamento subtil, que permanece muito depois de ter sido revelado.
Já em Amarante, entre as margens do Tâmega e as sombras do Marão, a variedade de uva Avesso encontra morada. É uma casta de corpo e alma, estruturada, firme, mineral. O terroir molda vinhos com tensão, austeridade, quase uma elegância montanhosa. Aqui, a vinha sobe, respira ar mais seco, amadurece devagar, como quem medita. Em cada cacho, há uma memória de vinhas velhas, de famílias que cultivam uvas como quem cuida de um segredo.
A Alvarinho da Quinta da Lixa pertence a essa rara linhagem de vinhos que não se limitam a refrescar, pois interrogam, desafiam e, sobretudo, revelam uma terra. A mineralidade das encostas graníticas, a amplitude térmica entre dias quentes e noites frescas, as pluviosidades marcadas nas vinhas elevadas convergem numa expressão tensa e precisa, onde o perfume é contido, mas nunca tímido.
Com vinhas nos dois lados, em Felgueiras e Amarante, gravitam as castas brancas Alvarinho, Loureiro, Trajadura, Arinto (Pedernã), Avesso e Azal; e as tintas Vinhão, Amaral, Borraçal, Espadeiro, Padeiro e Touriga Nacional (usada apenas na produção de
rosé).
Relação com o território
Durante mais de duas décadas, Carlos Teixeira, diretor de enologia e exportação, é o rosto e a alma da enologia da Quinta da Lixa. Mas o que distingue o seu percurso não é apenas a longevidade, mas também é a forma como soube escutar a terra e traduzi-la em vinho, com uma sensibilidade rara, quase filosófica. Num setor onde o imediatismo pode ser tentador, Carlos Teixeira optou sempre pela via mais exigente: a da autenticidade, da coerência e da profunda ligação ao território.
Na região dos Vinhos Verdes, onde as castas brancas se expressam com frescura e vivacidade, Carlos Teixeira revela a tipicidade de cada variedade e eleva perfil do vinho a novos patamares de reconhecimento. A sua assinatura está presente em cada garrafa como uma nota discreta, mas segura — não impõe, sugere, não domina, conduz. Acredita que o enólogo é, antes de mais, um intérprete, não um autor. Foi assim que construiu um legado, respeitando os ciclos da natureza, valorizando o saber dos viticultores e afirmando o vinho como uma expressão de verdade.
Ao longo desse caminho, tem contado com o apoio fulcral de Diana Meireles, cuja presença trouxe renovação técnica e uma nova sensibilidade geracional ao projeto, já que representa a continuidade visionária da família na enologia, aliando ciência e paixão, através de um olhar meticuloso a respeito a todos os processos. A sua cumplicidade com Carlos Teixeira foi mais do que profissional, foi um encontro de visões na produção de vinhos que expressem, com fidelidade e elegância, o carácter do terroir da região dos Vinhos Verdes.
Sob esta dupla harmoniosa, a Quinta da Lixa consolidou-se como referência de consistência e autenticidade, afirmando-se com firmeza no panorama nacional e internacional. Carlos Teixeira e Diana Meireles, com percursos diferentes, mas valores convergentes, mostraram que o segredo está no detalhe, na escuta atenta da vinha, e na coragem de esperar o tempo certo. Porque fazer vinho é, no fundo, um exercício de humildade diante da natureza e, simultaneamente, uma arte silenciosa de guardar o tempo em garrafa.
Carlos Teixeira está a criar um legado que se mede apenas em prémios ou números, em coerência, memória e respeito, enquanto Diana Meireles percorre esse caminho com a determinação de quem conhece a história e a confiança de quem acredita no futuro. Juntos, moldaram uma enologia que é, antes de mais, um modo de estar comprometida com a verdade do vinho.
Há ainda a inovação. A Quinta da Lixa, que “sustenta” o Monverde Wine Experience Hotel, alia tecnologia à intuição, ciência ao instinto. Das experiências sustentáveis no campo aos ensaios enológicos, denota-se a presença de um pensamento holístico. Afinal, o vinho não nasce só da uva, mas do conjunto formado pela terra, pelo clima, pelas pessoas, pelos gestos, pelo tempo. Está implícita uma inteligência subtil, quase filosófica, que recusa a divisão entre tradição e modernidade.
Ao circular entre as vinhas, clientes e colaboradores, Miguel Ribeiro parece cuidar, porque no Monverde Wine Experience Hotel acolher é um gesto quase poético
Ouvir, sentir e viver o silêncio
O Monverde Wine Experience Hotel, construído com respeito pela paisagem, não interrompe a natureza. Integra-se nela. A arquitetura, de linhas sóbrias e elegantes, e o conceito de hospitalidade surgem aqui como prolongamentos da vinha e da memória agrícola, num gesto de união entre corpo e território, unindo a madeira, a pedra e o silêncio.
Os quartos são amplos, despidos de pretensiosismo, onde a estética contemporânea se coloca ao serviço do conforto, da calma, da intimidade. A sofisticação sussurra, entre texturas naturais e luz filtrada pelas folhas. Abrem-se sobre vinhedos, que mudam de cor com as estações, como se fossem respirações da própria terra. Cada um é espaço de pernoita e, ao mesmo tempo, uma extensão sensível da terra que o rodeia. Dormir não é apenas repousar, é tornar-se cúmplice com a paisagem, é observar, com serenidade, o ritmo lento da vinha e deixar-se atravessar por uma filosofia de habitar enraizada no terroir.
São 46 os quartos – 34 standard, dois Family Suítes e 10 Suítes Wine Experience com jardim e piscina privativa – distribuídos entre o edifício principal e módulos dispersos pela vinha. Na Casa Principal, antiga casa senhorial datada entre 1947 e 1950, pulsa o coração operativo deste projeto, com a receção, o restaurante, o bar, a sala de pequenos-almoços. A história da pedra, agora restaurada, acolhe o presente com discrição e propósito. Ao lado, a sala de eventos e o Spa prolongam a ideia de acolhimento como experiência sensorial completa entre corpo, paisagem e tempo.
A Casa Nascente, voltada ao sol, astro que desperta as videiras, é constituída por quartos onde imperam a pureza e a simplicidade. Aqui, a hospitalidade é também um gesto agrícola, ao qual os castanheiros centenários somam sombra e memória, a horta biológica, cuidada pelo chef Carlos Silva e pela equipa de cozinha, “alimenta” o empratamento, e as uvas, embora não vinificadas, chegam frescas à mesa durante a vindima, ligando o hóspede a este momento alto da vida da vinha e da adega.
A Casa Poente, como o nome indica, acolhe o lusco-fusco e a contemplação. Com vários quartos, incluindo uma suite familiar, adaptada do antigo alpendre, oferece generosas vistas sobre as vinhas e uma experiência de recolhimento.
Por fim, a Casa do Avesso, talvez o núcleo mais filosófico do projeto. Situada no coração das vinhas da casta Avesso, foi concebida para intensificar a imersão vínica. Ali, a adega experimental, o túnel dos aromas e a sala sensorial são mais do que atividades, são rituais. Alguns quartos, com piscina privada e enoteca própria, fazem do vinho uma presença constante, líquida, simbólica, emocional.
Hospitalidade enraizada
O Monverde Wine Experience Hotel oferece mais do que alojamento, oferece vivências. Miguel Ribeiro, diretor deste cinco estrelas, dirige um espaço de enoturismo por meio da orientação fomentada na filosofia de hospitalidade enraizada na terra e nas pessoas. Com uma postura discreta, mas firme, é o rosto visível de uma visão que vai para além da gestão hoteleira, pois transforma o vinho numa experiência existencial, onde o silêncio e o detalhe se encontram. O seu percurso cruza a técnica da hotelaria com uma sensibilidade rara para o território.
Ao circular entre vinhas, clientes e colaboradores, Miguel Ribeiro parece cuidar, porque no Monverde Wine Experience Hotel acolher é um gesto quase poético. Mais do que proporcionar estadias, Miguel Ribeiro cultiva estádios de consciência, onde cada hóspede apreende, sem pressa, a arte de habitar o mundo com mais presença e menos ruído, a viver a natureza com cultura, a saborear ingredientes locais com vinhos que “casam” na perfeição
O restaurante, um verdadeiro laboratório enogastronómico, é comandado por Carlos Silva, chef de cozinha que preserva o ofício e o virtuosismo técnico por uma equipa que conhece a terra e os temperos. Ao mesmo tempo, é palco da harmonia que gravita entre dois polos: a herança popular da cozinha portuguesa e a precisão estética da cozinha contemporânea. Sem descurar os sabores da região. A carta de vinhos é naturalmente centrada na produção da casa, mas também se abre a outras referências da região, num gesto de partilha, enquanto a cozinha valoriza os produtos locais e propõe harmonizações subtis, sem forçar hierarquias entre prato e copo.
O Spa é outro capítulo deste romance. A vinha entra pelas janelas e infiltra-se nos rituais de bem-estar, por meio da vinoterapia, das massagens com óleo de grainha de uva e dos envolvimentos antioxidantes, enquanto o silêncio das colinas trabalha em surdina no restauro do ser.
Há também piscina interior e exterior, sauna, banho turco, ginásio e salas de relaxamento com vista panorâmica. Cada espaço está pensado para ampliar a experiência sensorial, para que o hóspede não venha apenas dormir, mas renascer.
Com provas de vinho orientadas, visitas guiadas à adega, programas vínicos e workshops para iniciantes e conhecedores, o Monverde Wine Experience Hotel propõe tempo para provar o que a natureza sabe dizer quando lhe damos espaço para falar.
Uma viagem ao íntimo
A visita à adega é outro dos pontos altos da experiência, seja para o hóspede do Monverde Wine Experience Hotel, seja para o visitante. Moderna, mas integrada, onde o inox e a madeira dialogam entre tradição e inovação, dispõe de um percurso técnico revelador das etapas da vinificação. Ao observar as cubas, as prensas, as barricas, o visitante compreende que o vinho é também um modo de transformar o tempo em densidade, o mosto em memória. Na cave, cada garrafa repousa como um monge em oração. Há vinho que medita.
As experiências disponíveis multiplicam-se e complementam-se. A prova clássica convida ao reconhecimento dos vinhos da Quinta da Lixa, com especial atenção para as gamas premium e os vinhos de guarda, propostas que desafiam a ideia do Vinho Verde como vinho jovem e efémero. A prova às cegas, realizada numa sala escura, reforça o valor do não-ver, isto é, a ausência de imagem amplia o sabor e torna o vinho um enigma sensorial. É também uma aula de humildade, já que nem sempre o paladar corresponde ao que o preconceito espera.
Uma das experiências mais singulares é a criação de um blend personalizado. Com base em varietais de Alvarinho, Arinto, Loureiro ou Avesso, o visitante é convidado a experimentar combinações, criar equilíbrio, ousar contrastes. A garrafa final, rotulada com o nome do autor, é mais do que uma lembrança, é um espelho líquido da própria intuição. Neste gesto, há algo de profundamente filosófico, como se misturar vinhos fosse um exercício de autoconhecimento.
Paralelamente, oficinas de harmonização enogastronómica, piqueniques entre vinhas e passeios de bicicleta permitem explorar o território com outros ritmos, em trilhos desenhados entre os bosques e os muros de pedra.
Analiticamente, o Monverde Wine Experience Hotel representa um modelo de enoturismo integrado e contemporâneo, que valoriza a qualidade do produto e a profundidade da experiência. É um espaço onde o vinho se revela como metáfora do humano, complexo, frágil, mutável, belo, uma ode à espera, à transformação, ao zelo. No fundo, o Monverde Wine Experience Hotel não se visita, decanta-se. Como os bons vinhos, só se revela a quem tem tempo para o escutar.
Caderno de visita
Comodidades e serviços
– Línguas faladas: português, inglês, francês
– Loja de vinhos
– Serviço de refeições assegurado pelo restaurante principal, o Monverde, com 100 lugares, e o espaço de restauração sazonal Pátio do Arinto, com 28 lugares
– Lugares de prova sentados: 30 lugares
– Sala de eventos: 120 lugares
– Salas de reuniões: Sala Executiva, até 15 pessoas, e Sala de Conferências, até 100 pessoas
– Diferentes atividades e refeições (sob consulta);
– Parque para automóveis ligeiros: 4 parques no interior da propriedade, com capacidade até 120 carros
– Parque para autocarros, com capacidade até 2 autocarros
– Posto de carregamento de carros elétricos: 4 portos de carregamento elétrico instalados no Monverde Wine Experience Hotel, com, respetivamente, 2 postos de 22Kw e 2 postos de 50 Kw
– Provas comentadas (ver programas)
– Wifi gratuito disponível por toda a propriedade
– Visita às vinhas
– Visita à adega
Eventos
Eventos corporativos: dispõe de condições para eventos corporativos até 100 pessoas
Atividades team building: organizadas à medida
Programas
Signature Tasting – 28€/pessoa
Conheça a história da família através da prova de três perfis tradicionais representativos da diversidade dos vinhos produzidos na Quinta da Lixa, com o objetivo de destacar as características únicas proporcionadas pelo terroir
Duração: 60 min
Taste the Vine – 32€/pessoa
Para quem desconhece a região dos Vinhos Verdes, bem como as castas mais tradicionais, fica o convite a embarcar nesta viagem pelos aromas e sabores que identificam cada variedade de uva através de uma prova de cinco vinhos monovarietais
Duração: 75 min
The “Inside-Out” Grape – 40€/pessoa
Esta prova é constituída pela degustação de três referências 100% Avesso de edição limitada, com o intuito de demonstrar o potencial da região para a produção de vinhos de guarda, surpreendendo pela complexidade e elegância
Duração: 60 min
Vine vs. Barrel– 65€/pessoa
Nesta prova, os hóspedes e os visitantes têm a oportunidade de experimentar vinhos extraídos diretamente da barrica, contrastando com as suas versões mais jovens e isentas de envelhecimento em madeira
Duração: 90 min
Premium Tasting – Quinta da Lixa Private Collection – 85€/pessoa
Conheça os vinhos mais exclusivos do portefólio Quinta da Lixa através desta prova de 4 vinhos remium, que exibem um perfil mais moderno e elegante
Duração: 75 min
Blending Experience – 55€/pessoa
Torne-se “enólogo por um dia”, jornada que começa no Sensory Room, o
Túnel dos Aromas, que estimula a sensibilidade e memória olfativas, seguindo-se a Varietal Tasting & Blending, uma prova isolada de cada variedade de uva, seguida do blend das suas castas favoritas, de forma a criar um vinho. Esta expedição culmina com a fase Ready, Cork, Drink!, ou seja, com o engarrafamento do vinho da sua autoria, a colocação da rolha de cortiça, a aplicação da cápsula e a personalização do rótulo
Duração: 90 min
Off-Road Tour – 45€/pessoa
Ideal para explorar as paisagens da região e conhecer as castas utilizadas na produção, enquanto desfruta dos vinhos que o portefólio apresentado pela Quinta da Lixa
Duração: 120 min
Explorer Experience – 45€/pessoa 25€/criança (5 aos 12 anos)
Explorar a propriedade onde o Monverde Wine Experience Hotel se insere e a tenha um contacto mais próximo com a vinha e a envolvente paisagística é o ponto de partida deste desafio, que continua com o Vineyard Trek, etapa que consiste num passeio guiado pela propriedade, durante o qual aprende as características de cada casta aqui plantada. Termina com o Wine & Art, momento em que lhe cabe colocar em prática a sua veia artística na realização de uma pintura de tela com a uva Vinhão, uma casta tintureira da região, a par com o Picnic Box, que permite degustar iguarias tradicionais da região, confecionadas pelo chef, juntamente com vinhos da Quinta da Lixa
Duração (com o técnico): 45 min
The Harvest Experience – 70€/pessoa 33€/criança (5 aos 12 anos)
Desfrute de um dia de vindima
Duração: 5 h
Juice Tasting – 8€/criança (5 aos 18 anos)
Enquanto os adultos desfrutam da prova de vinhos, os mais novos podem provar três sumos
Blending Experience – 16€/pessoa
Para incluir as crianças na experiência, fica o desafio para fazer o próprio blend, após a prova isolada de três sumos, seguindo-se o engarrafamento, a colocação da rolha e a personalização do rótulo, assim como com os adultos.
Condições de Reserva
Todas as experiências desenvolvidas no Monverde Wine Experience Hotel carecem de reserva, para confirmação de disponibilidade de agendamento
Consultar www.monverde.pt das restantes condições de reserva.
Contactos
Monverde Wine Experience Hotel
Quinta de Sanguinhedo 166, Castanheiro Redondo,
4600-761 Telões, Amarante – Portugal
Site: www.monverde.pt
Email: reservas@monverde.pt / geral@monverde.pt
Tel.: (+351) 255 143 100
(Artigo publicado na edição de Agosto de 2025)
QUINTA DO CRASTO: Vertical Vinha da Ponte

A Quinta do Crasto dispensa apresentações, sendo hoje um dos projetos mais consolidados e prestigiosos do Douro. Atualmente com uma gama de vinhos alargada, brancos, rosés e tintos, sem esquecer os Portos, a produção total ascende já a 1 milhão e meio de garrafas. Costumo dizer que na Quinta do Crasto tudo é bom, a […]
A Quinta do Crasto dispensa apresentações, sendo hoje um dos projetos mais consolidados e prestigiosos do Douro. Atualmente com uma gama de vinhos alargada, brancos, rosés e tintos, sem esquecer os Portos, a produção total ascende já a 1 milhão e meio de garrafas. Costumo dizer que na Quinta do Crasto tudo é bom, a vista da magnifica piscina, a comida do enoturismo e, claro está, os seus vinhos e até azeites!
A reputação recente desta casa duriense, sita em Gouvinhas na margem direita do Rio Douro, entre a Régua e o Pinhão, foi sendo construída há mais de 25 anos com base no porta-estandarte Crasto Vinhas Velhas, um neoclássico duriense com preço não especulativo que nunca para de surpreender a cada colheita. Essa reputação estava, evidentemente, assente no facto de a propriedade ser histórica, desde há muito ligada ao vinho do Porto. Entretanto, a quinta começa a ganhar contornos de celebridade com a fama a surgir do aparecimento, em 1998, de dois tintos magníficos. Falamos de dois “vinhos de vinha”, ou seja, provenientes de duas vinhas específicas sem que no lote de cada uma entrassem uvas de outras parcelas da mesma, ou de outra, propriedade. Ora, isto, há mais de 20 anos, não era comum encontrar no Douro. Falamos, claro está, dos tintos Vinha Maria Teresa e Vinha da Ponte, dois vinhos incontornáveis do Douro moderno que conquistaram uma legião de fãs que esgotam cada colheita. Aliás, existe é certo, sempre uma comparação (saudável, neste caso) entre os dois vinhos, comparação que, na generosa colheita de 2015 foi ‘desfeita’ com apresentação (única até à data) de um lote com vinhos das duas vinhas, o limitado e soberbo tinto Honore, engarrafado em 1615 garrafas todas elas em formato magnum.
Sobre o Vinha Maria Teresa já muito escrevemos. Quer dos seus impressionantes 4,7 hectares em socalcos tradicionais virados a nascente, quer das 54 castas que ali se encontram identificadas. E já relatámos que, por tudo o que esse vinho representa, a família Roquette, proprietária da quinta, tudo têm feito para a conhecer melhor, preservar e até multiplicar. Para tal, e depois da geo-referenciação diferencial (com precisão videira à videira), procedeu-se à classificação ampelográfica das videiras culminando na identificação visual das referidas 54 variedades. Por fim, e com base em todo este manancial de informação, foi criado um campo de multiplicação de genótipos na propriedade, uma verdadeira espécie de “viveiro reserva” onde todas estas castas estão representadas, perpetuando o encepamento integral da vinha. Em todo este processo, que começou em 2013, Tiago Nogueira, engenheiro agrícola e viticólogo, teve um papel fundamental, sendo mais recentemente coadjuvado pela sua colega Inês Cabral.
Num futuro próximo, a Quinta do Crasto espera extrapolar este trabalho para as restantes vinhas velhas da propriedade, nomeadamente a igualmente histórica Vinha da Ponte. Mas falemos então da Vinha da Ponte que é a estrela deste texto!
Uma vinha centenária
Igualmente centenária, e plantada na mesma altura do que a Vinha Maria Teresa, a Vinha da Ponte tem um encepamento bastante diferente, mais marcado por castas como Grand Noir e Tinta Roriz, e com menos Tinta Amarela do que a sua vinha irmã. Mais pequena em dimensão, também a orientação da vinha é diferente, essencialmente virada a Nascente – Sul, com uma maior parte da vinha exposta ao sol durante quase todo o dia, e dispõe de uma grande homogeneidade de altitude (180-220 metros). Quanto ao vinho, e após muitas provas ao longo dos anos, não temos dúvidas que o Vinha da Ponte, em comparação com o Vinha Maria Teresa, tem um perfil mais fechado e austero, com uma estrutura mais vincada. Longe de ser menos fresco, o Vinha da Ponte é muitas vezes mais vibrante e compacto, marcado por uma vertente mais silvestre e terrosa, fruto azul e negro em evidência e, arriscamos, denotando um perfil mais selvagem. Mais hermético e menos vivo nos primeiros anos de garrafa, mantém mais facilmente um perfil sério e não poucas vezes é mais longevo que o seu irmão Maria Teresa. Mas mais, atendendo ao perfil do trabalho das muitas (mais de 3000) barricas da Quinta do Crasto — trabalho luxuriantemente presente e marcante nos vinhos — a estrutura do Vinha do Ponte assenta-lhe particularmente bem. Enfim, não posso ser culpado do crime de não ter opinião…
Já na vinificação, e tirando particularidades sempre importantes, existe identidade nos dois topos de gama, ou seja, uvas integralmente (dependendo do ano, mas é essa a regra) pisadas em lagar, seguindo para cuba de inox e estágio de 20 meses em barrica de 225 litros, todas novas. Quanto aos tipos de madeira, aí sim, são diferentes consoante se trata de Vinha da Ponte ou Vinha Maria Teresa.
No que respeita à colheita de 2019 agora lançada, para o enólogo Manuel Lobo foi um ano excecional, caracterizado Primavera e Inverno bastante secos, e que beneficiou de temperaturas relativamente amenas nos meses de Verão e de uma chuva divina que chegou nos dias 21 e 22 de setembro para ajudar na maturação final das castas mais tardias. Depois de uma magnífica versão de 2019 do Vinha Maria Teresa, o Vinha da Ponte do mesmo ano mantém o nível elevadíssimo!
18,5 B
Quinta do Crasto Vinha da Ponte tinto 2012
Cor impecável para a idade. Muito bem no aroma, revela-se expressivo e profundo, complexo com notas de fruto azul, alguma barrica ainda, mas já integrada, tabaco doce e paprika. Saboroso e amplo em boca, acidez média, taninos aveludados. Belíssima evolução, e ainda com muita vida pela frente. (14,5%)
18 B
Quinta do Crasto Vinha da Ponte tinto 2014
Muito boa cor apesar de denotar menor concentração do que a colheita de 2012. Aroma sumptuoso, com fruto encarnado à frente, secundado pela habitual fruta azul silvestre, num perfil fechado ainda. A boca confirma o registo, com tanino apertado, boa percepção de acidez, saboroso, com a barrica mais discreta do que no nariz, e final apimentado. (14,5%)
19,5 A
Quinta do Crasto Vinha da Ponte tinto 2015
Aroma fabuloso, nota clássica com fruta azul e negra, barrica presente e impecável a contribuir com especiarias doces (cardamomo), grafite e leve nota terrosa. Mantém o nível em boca, compacta, mas com bastante frescura, fantástica textura com cremosidade assinalável. Um enorme vinho em grande momento de forma! (14,5%)
18,5 B
Quinta do Crasto Vinha da Ponte tinto 2016
Cor denotando juventude e concentração. Aroma muito vivo e vinoso, profundo e latente, fechado até, com notas fruto azul, tinta-da-china, especiaria fina, chocolate negro e terra molhada. Na boca confirma o perfil, tanino vivo e barrica a pedirem garrafa, boa frescura geral, tem muita garra que só mais alguns anos irão domar. (14%)
19,5 C
Quinta do Crasto Vinha da Ponte tinto 2018
Cor opaca. Aroma muito jovem e fechado, os habituais fruto azul e negro mais em evidência nesta colheita, com a especiaria e o cacau em segundo plano. Muito poderoso em boca, taninos maduros massivos, novamente percepção de juventude, num perfil mais tenso, másculo e preciso do que outros anos. Termina intenso e apimentado. (14%)
(Artigo publicado na edição de Agosto de 2025)
QUINTA DA BADULA: Onde o tempo “manda” no vinho

Os antigos contam que, há 100 anos, a agora chamada Quinta da Badula, localizada em Arrouquelas, no concelho de Rio Maior, tinha vinha e ali se faziam grandes vinhos. Com a passagem do tempo e as demandas do Homem, aquela acabou por extinguir-se. Os octogenários António Filipe e José Diogo são os guardiões desta vetusta […]
Os antigos contam que, há 100 anos, a agora chamada Quinta da Badula, localizada em Arrouquelas, no concelho de Rio Maior, tinha vinha e ali se faziam grandes vinhos. Com a passagem do tempo e as demandas do Homem, aquela acabou por extinguir-se. Os octogenários António Filipe e José Diogo são os guardiões desta vetusta memória outrora partilhada com o amigo José Marques, o detentor desta propriedade vitivinícola inserida na região dos Vinhos do Tejo.
A designação advém do proprietário daquela época, conhecido pela alcunha de Badula. “Como queríamos um nome que fosse fácil de dizer em todas as línguas, porque, desde logo, apostamos na exportação, descobrimos que se trata de uma família de flores. Uma vez que não se via o laranja nos rótulos, e queríamos usar uma cor que chamasse a atenção por sermos novos no mercado, usamos a flor laranja, que é um hibisco, a imagem de marca, e fazer a analogia entre a badula e a espécie de flores”, explica a filha, Élia Marques Vitorino, responsável pelos departamentos administrativo e comercial da Quinta da Badula, negócio familiar, com origem em Rio Maior, no qual, cabem ainda a mulher, Lurdes Marques, e o genro, Emanuel Vitorino.
No início, eram tintos
Mas o que faz o proprietário de uma pequena fábrica de artefactos de cimento, situada em Rio Maior, no mundo do vinho? A pergunta é desmistificada de imediato por José Marques. A paixão pelo vinho foi o ponto de partida para muitas viagens pelo país, nomeadamente pelas regiões do Douro e do Alentejo, o que lhe permitiu reunir conhecimento acerca desta matéria. Tamanha curiosidade determinou ainda as múltiplas idas a Espanha e França, sempre com o objetivo de provar mais e mais vinho.
Destas rotas didáticas cá dentro e d’além fronteiras, resultou a compra gradual da atual propriedade em Arrouquelas, explorada, desde 1999, por José Marques, que ali tinha instalado uma central de lavagem de areia. Contudo, houve a necessidade de corrigir a orografia do terreno, para facilitar o trabalho de campo e, apesar do solo arenoso e consequentemente pobre, típico da zona da charneca da região do Tejo, decidiu avançar, em 2007, com a plantação de quatro variedades de uva tintas: Castelão, Touriga Nacional, Alicante Bouschet e Syrah. “As castas foram escolhidas por mim. Lia as revistas dos vinhos e via de onde saiam os grandes vinhos”, justifica o nosso anfitrião.
Mas quando, em 2009, a época da vindima estava quase à porta, não havia adega nem enólogo. Foi através de um amigo que conseguiu o contacto do enólogo António Ventura, que inicialmente, mostrou alguma relutância, mas quis conhecer o projeto in loco. “Quando passou aqui, provou as uvas e observou o terreno, que, apesar de pobre, denotava potencial para a colheita de matéria-prima de qualidade”, conta o proprietário da Quinta da Badula.
O Quinta da Badula Reserva tinto 2009, feito a partir de Touriga Nacional, Syrah e Alicante Bouschet, foi produzido em lagares, ainda em Rio Maior, e marcou a estreia no portefólio desta empresa familiar. Entra no mercado a 8 de março de 2012, ao mesmo tempo que é apresentado o Quinta da Badula Colheita Selecionada tinto 2010, elaborado com as castas Castelão, Touriga Nacional e Alicante Bouschet, na primeira adega, instalada no espaço agora ocupado pela oficina da propriedade. Conta Élia Marques Vitorino que este último é distinguido, em maio de 2012, com uma medalha de ouro no Concurso Mundial de Bruxelas. “Foi uma notícia inacreditável!” O prémio deu alento à família, para prosseguir com o projeto, à época, com cinco anos.
Em 2012, chegou a vez da seleção das castas brancas, lista preenchida por Arinto, Fernão Pires, Moscatel Graúdo, Alvarinho e Gouveio. Esta nova etapa da Quinta da Badula obrigou o proprietário a avançar para as provas de vinho branco, vinho que não apreciava por aí além… “Neste caso, a escolha foi do engenheiro António Ventura”, confessa José Marques. Dois anos mais tarde, deu-se início ao portefólio de vinhos brancos, com o Quinta da Badula Reserva, feito a partir das variedades Alvarinho e Arinto. Em 2015, ocorreu a estreia do Badula rosé, com Touriga Nacional e Syrah.
A Cabernet Sauvignon e a Chardonnay, respetivamente, tinta e branca, foram as eleitas da última plantação, em 2018. “Quando plantar mais vinha, irei plantar mais Castelão”, garante José Marques, que, ao longo destes 18 anos, contabilizados desde a plantação da vinha, tem vindo a absorver o saber-fazer com o mestre da enologia da casa. No entanto, é António Ventura quem determina o dia da vindima, com base nas análises feitas às uvas em laboratório e prova das uvas no terreno.
Hoje, a vinha ocupa uma área de 25 hectares, estendendo-se numa encosta suave e rodeada maioritariamente por floresta. A parte voltada a nascente ficou reservada às castas tintas, “porque os tintos precisam de mais grau e de mais estrutura”; as videiras das variedades de uva branca estão expostas a norte, uma vez que, segundo o nosso anfitrião, “os brancos não precisam de tanto grau”.
Entreajuda nas vindimas
José Marques marca presença assídua na vinha e faz questão de, entre outros trabalhos, coordenar e colaborar na monda, que entra em ação na fase do pintor. “Chego a tirar 20 cachos de cepa”, diz, e deixa apenas um quando se tratam das parcelas de uvas tintas com potencial para os vinhos Reserva e Grande Reserva.
A minúcia com que se dedica a esta atividade traduz-se numa ação morosa. Esta seleção tem como finalidade diminuir a produção de uva por hectare, para garantir a qualidade da matéria-prima. Caso contrário, “não temos grau, não temos estrutura, não temos nada”, elucida o proprietário da Quinta da Badula, dando como exemplo o comportamento da casta Castelão. Paralelamente, a fertilidade baixa causada pelo solo arenoso, permite, por si só, que esta variedade de uva produza em quantidades reduzidas.
A vinha, situada a cerca de 20 quilómetros do mar, em linha reta e desenhada com base no sistema de condução bilateral, tem cerca de 1,5 metros de altura. O excesso de folhagem é propositado, acima de tudo, no topo e no lado em que a exposição solar é direta. Serve para proteger os cachos, sobretudo à hora em que o termómetro mostra maior risco de calor.
“Gostamos de ver aqui os ninhos dos passarinhos, as lebres, os coelhos e as perdizes, e os meus netos andam por aqui sem qualquer perigo. Por isso, não usamos herbicidas”, assegura. Sem seguir os parâmetros da viticultura biológica, José Marques prefere optar por “produtos menos ofensivos”. É o caso da calda bordalesa e enxofre. “O enxofre é usado contra o oídio e a calda bordalesa é para o míldio”, descreve.
A humidade não é um problema, graças ao vento, que ajuda a secar as videiras, e a exposição favorável a norte. Mesmo assim, há a necessidade de recorrer ao sistema de rega gota a gota, suportada pela charca da propriedade, para manter a humidade do solo durante o verão. “Quando está muito sol, o sol incide nos seixos, vai espelhar e, consequentemente, queimar os cachos. Portanto, a água mantém a humidade, o que impede a acumulação de calor no solo. É dispendioso e dá trabalho, mas compensa na qualidade das uvas.”
Em contrapartida, as noites frescas permitem que os vinhos sejam mais frescos e tenham acidez, característica enaltecida por José Marques. “Foi por isso que escolhemos este terreno, para plantar vinha.” Além disso, são um bom pretexto para iniciar a vindima mais cedo, pelas seis da manhã, de modo a colher as uvas a baixa temperatura.
Uma parte da vindima é feita com o auxílio de uma máquina vinda de França. Os cachos destinados aos Grande Reserva e Reserva tinto, bem como para o Reserva branco e o espumante, são colhidos à mão, mas “como não conseguimos apanhar tudo de noite, colocamos em caixas, dentro do frio, e as uvas só são processadas quando estiverem mesmo frias. Se esmagarmos as uvas quentes, perdemos parte dos aromas que precisamos no vinho”, esclarece José Marques. “O nosso objetivo é produzir vinhos de grande qualidade. Para o efeito, temos de controlar as uvas”, acrescenta Élia Marques Vitorino.
Todos os anos, esta fase da cultura da vinha e do vinho é apoiada pela população de Arrouquelas, que faz questão de participar na colheita das uvas. Entre crianças, jovens e mais velhos, há um enorme espírito de entreajuda, e até há uma espécie de horta comunitária, com uma variedade considerável de hortícolas e fruta. E, claro, os amigos António Filipe e José Diogo não faltam!
José Marques mostra as madeiras de maior qualidade das tanoarias francesa Seguin Moreau e portuguesa J.M.Gonçalves
Tanoaria de topo
Sobre as duas últimas castas plantada na propriedade, aguarda-se a estreia do vinho, cujo lote incluirá a Cabernet Sauvignon, visto que os monovarietais não têm lugar cativo no portefólio da Quinta da Badula. “Talvez um dia…” Já a Chardonnay foi plantada com o pretexto de se fazer espumantes, cuja estreia aconteceu em 2020, com o Quinta da Badula Espumante Reserva Brut Nature. Esta primeira edição inclui 10% de Arinto, enquanto na segunda, de 2022, a percentagem desta casta branca subiu para os 20%. “Só fazemos espumante quando temos uvas de muita qualidade. É feito de uma forma muito especial, em que o cacho vai inteiro para a prensa pneumática, daí que tenha de estar em perfeitas condições”, afirma José Marques.
O proprietário da Quinta da Badula compara a produção do espumante, em que o dégorgement é feito por uma empresa externa, com o vinho maior do portefólio, o Quinta da Badula Grande Reserva tinto, com o registo de apenas três colheitas: 2014, 2015 e 2017. “Temos colheitas de 2017 a 2024. São vinhos de grande qualidade, alguns ainda estão em barrica, mas ainda não decidimos o que vai para Grande Reserva”, revela o nosso anfitrião, ou não fosse a enologia comandada pelo tempo. Some-se o contentor com aproximadamente 600 garrafas de Quinta da Badula Reserva 2016 colocado, em 2021, na charca, o qual gera expectativa aos proprietários.
Com o propósito de aprofundar a diferença entre os tintos, no que ao tempo de estágios diz respeito, José Marques revela que o Grande Reserva permanece por 21 meses em barricas novas e o Reserva é submetido a 12 meses em madeira de segundo ano, enquanto o Colheita Selecionada está nove meses. A par com a aposta em descansos longevos nestes vinhos, o nosso anfitrião enfatiza a importância da pisa a pé, em lagar, nas uvas tintas, “para que o vinho tenha mais extração e estrutura”. A “qualidade de excelência” realçada por Élia Marques Vitorino tem como marco o prémio “Excelência”, na categoria dos tintos, atribuído ao Quinta da Badula Grande Reserva tinto 2017, por ocasião do XV Concurso dos Vinhos do Tejo. “Esteve dois anos em barrica, de onde tiramos, para ir decantando, porque não fazemos colagens nos vinhos, daí que mantenhamos os vinhos por mais tempo na adega. Fazemos uma ligeira filtração de placa aberta, para evitar a passagem de impurezas, mas é o menos filtrado possível, para que não haja interferência na cor e na estrutura do vinho”, fundamenta José Marques.
Nos brancos, o topo de gama é o Quinta da Badula Reserva, com um tempo de estágio de seis meses em barricas novas. Mas nem sempre há colheitas desta referência. Quando não acontece, fica a garantia da produção de um Quinta da Badula Colheita Selecionada, submetido a três meses em madeira usada. Nos dois casos, o vinho estagia em barricas de madeira “topo de gama”.
Na adega da propriedade, concebida em 2012 para trabalhar por gravidade, onde está instalada, a 10 metros de profundidade, a cave das atuais 300 barricas, José Marques mostra as madeiras de maior qualidade das tanoarias francesa Seguin Moreau e portuguesa J.M. Gonçalves. “Cada uma é usada em 50%”, afirma o nosso anfitrião, que distingue ambas da seguinte forma: “a tanoaria portuguesa dá mais estrutura aos vinhos, enquanto a francesa, dá mais elegância.”
Quer nas barricas, quer nos depósitos de inox, os vinhos estão separados por castas. O lote, que difere de ano para ano, é feito no final. Posteriormente, é colocado nas cubas destinadas para o efeito e engarrafado na máquina, também preparada para a rotulagem. “Nós fazemos todo o trabalho internamente. Se corre alguma coisa mal, a responsabilidade é nossa, mas a se a máquina for de fora, nunca saberemos de onde veio o problema”, remata José Marques.
A capacidade de produção anual ultrapassa os 100.000 litros e destina-se às lojas gourmet, garrafeiras e restaurantes. No âmbito da exportação, constam os Países Baixos, considerado o melhor mercado no universo da Quinta da Badula, bem como a Bélgica, a Suíça, a Alemanha, o Brasil e, “esperamos nós”, novamente a China, mercado outrora importante na casa.
Nota: A autora escreve segundo o novo acordo ortográfico.
DONA DORINDA: Pixie, Qué Será, Será…

“Qué será, será Whatever will be, will be The future’s not ours to see Qué será, será What will be, will be” O leitor mais atento, que seja igualmente fã de música, não pode ter deixado de trautear o famoso refrão “Qué será, será” celebrizado pela cantora norte-americana Doris Day em 1956, e reinterpretado, […]
“Qué será, será
Whatever will be, will be
The future’s not ours to see
Qué será, será
What will be, will be”
O leitor mais atento, que seja igualmente fã de música, não pode ter deixado de trautear o famoso refrão “Qué será, será” celebrizado pela cantora norte-americana Doris Day em 1956, e reinterpretado, décadas mais tarde, pela não menos famosa banda Pixies, tal como eu, fã assumido do quarteto de Boston, Massachussets, fundado em 1986. Na verdade, foi mesmo a primeira coisa em que pensei quando me atribuíram esta cobertura jornalística do vinho Pixie.
Com uma combinação única de energia, melodias pop com estruturas musicais imprevisíveis, letras surrealistas e a famosa dinâmica quiet-loud-quiet, onde as canções alternam entre versos calmos e refrões explosivos, os Pixies deixaram uma marca indelével na história da música, estabelecendo-se como uma das bandas mais icónicas e influentes do rock alternativo, servindo, inclusive, de assumida inspiração a bandas não menos icónicas como Nirvana ou Radiohead. Mas e o que é que os Pixies poderão ter em comum com o vinho Pixie, para além da evidente semelhança do nome?
A propriedade totaliza 60 hectares, sendo apenas 8,5 hectares dedicados à vinha
ESTILO INOVADOR
Na verdade, tal como os Pixies, com o seu estilo inovador e dinâmicas contrastantes, ajudaram a moldar o som do rock alternativo dos anos 1990, influenciando toda uma geração de bandas que seguiram o seu exemplo, há 25 anos atrás, na Quinta Nossa Senhora da Conceição, uma pequena propriedade no coração do Alentejo, Évora, de onde os recém-lançados vinhos Pixie são oriundos, foi tomada a decisão de abandonar completamente o uso de pesticidas e herbicidas, bem como de implementar práticas biodinâmicas e biológicas.
Convenhamos que, no Portugal vínico de 1999, os termos agricultura biológica e orgânica, produção biodinâmica, substituição de herbicidas, fungicidas e pesticidas sintéticos por preparados naturais, se calhar soava tão disruptivo como o som dos Pixies.
Chegando de Lisboa, um pouco antes de entrar em Évora, viramos à esquerda e tomamos a estrada para Arraiolos, para passado pouco tempo encontrar a Quinta Nossa Senhora da Conceição, numa localidade chamada Valbom do Rouxinol, ladeada pelo Aqueduto romano e confinando adiante com a Cartuxa.
Mark e Dorinda Winkelman são os proprietários. Um casal norte-americano residente nos Estados Unidos, que adquiririu a propriedade há um quarto de século e vêm ao Alentejo mais para usufruir e sentir as boas energias do sítio, do que propriamente para gerir alguma coisa. Essa parte está (bem) assegurada pelo seu braço direito Vítor Conceição, administrador, e Eduardo Cardeal, enólogo.
Victor Conceição está à frente do projecto desde 2006. Nascido e criado na cidade de Évora, conhece a região e o valor daquela terra como ninguém: “Esta zona de Valbom, também conhecida por Valverde, onde estamos, juntamente com o Convento da Cartuxa e a Fundação Eugénio de Almeida, possuía as hortas e vinhas que abasteciam a cidade romana de Évora e outras cidades do Império”, ou seja, conta com dois mil anos de tradição, pelo menos.
A propriedade totaliza 60 hectares, sendo apenas 8,5 hectares dedicados à vinha, onde se inclui a famosa Vinha Meia-Lua, com 2,5 hectares, plantada em 2005 numa pequena elevação, aproveitando todo o declive orográfico (280 a 295 metros altitude); solos de argila vermelha com algum xisto, grande espaçamento entre as plantas, cordão duplo a boa altura em relação ao solo, de forma a maximizar a ventilação, exposição e minimizar o risco de doenças fúngicas, coberto vegetal de ervas locais, contribuindo para a diversidade de vida nos solos, bem como evitando a erosão nas filas de vinhas que se encontram no cimo da elevação.
Os restantes seis hectares de vinha, mais recente, inserem-se dentro da mesma filosofia de viticultura, isto é, de acordo com os princípios do cultivo biológico e biodinâmico, uma vez que, é bom lembrar, a Dona Dorinda Organic Wines possui certificação quer na Europa, quer nos Estados Unidos.
Infusões, misturas e sprays biodinâmicos são utilizados na vinha desde 2007, numa fase preventiva, e todos os trabalhos são realizados segundo o calendário lunar; a monda de cachos, efectuada anualmente, é realizada com o objetivo claro de criar vinhos concentrados e com grande capacidade de guarda; vindimas nocturnas são regra da casa, para aproveitar a excelente amplitude térmica do terroir Dona Dorinda, sob clara influência da Serra d’Ossa, a pouco mais de 30 km em linha recta.
O resto da propriedade “é um pequeno paraíso” referem Vítor e Eduardo, mais de duas mil árvores plantadas a pensar nas futuras gerações, e toda a quinta é um ecossistema vivo e vibrante, composto por montado típico alentejano, que serve de alimento aos porcos pretos, onde vacas pastam pacificamente e o estrume produzido alimenta as vinhas. Cães Rafeiro Alentejano descansam pelas sombras durante o dia e guardam a propriedade durante a noite, mas existe também toda uma grande diversidade de pequenos animais, aves autóctones, insectos, etc.
SYRAH E VIOGNIER
Quanto à escolha das castas a plantar, foi a decisão mais fácil de tomar, ou não fosse Mark, para além de um grande conhecedor e colecionador de vinhos do mundo, um apaixonado pelo Rhône e, como tal, não podiam ser outras que não fossem Syrah e Viognier. Podemos questionar-nos se serão, ou não, as castas indicadas para o Alentejo de Évora, especialmente a Viognier, casta com uma acidez natural baixa e que rapidamente dispara os açúcares se não for vindimada no momento exacto, sendo até preferível uma vindima ligeiramente precoce, para não correr o risco de obter um vinho chato, mole e sem vida. Mas a minha opinião é que devemos respeitar sempre a decisão do produtor. Ainda para mais quando é tomada com uma forte componente emocional e de paixão, como foi o caso.
A Dona Dorinda Organic Wines apresentou Pixie, a nova gama de entrada da marca: um branco, um rosé e um tinto criados com o propósito de tornar o universo encantado da Dona Dorinda acessível a mais pessoas, sem perder a autenticidade que distingue cada garrafa da casa. Este lançamento só foi possível graças à recente expansão da área de vinha, que passou de 2,5 hectares para 8,5 hectares, permitindo aumentar a produção e dar origem a novos vinhos que reflectem a mesma paixão, mas agora com uma abordagem mais leve, descontraída e inclusiva.
E afinal de contas quem é a Pixie?! A resposta é clara – Dorinda Winkelman, a proprietária da Quinta Nossa Senhora da Conceição e da Dona Dorinda Organic Wines. Com o seu espírito livre, sensibilidade estética e ligação profunda à natureza, sempre foi apelidada carinhosamente entre amigos e família como “Pixie” – palavra inglesa para “fada”, símbolo de encanto, leveza e magia. E é, precisamente, essa energia que a nova gama pretende engarrafar! Por mim, está mais que conseguido!
(Artigo publicado na edição de Julho de 2025)
ADEGA DE BORBA: Havendo tempo serão mais 70

A Adega de Borba tem sabido, desde que foi fundada, e ao longo dos últimos 70 anos, investir na melhoria do seu sistema produtivo e comercial e da sua oferta, para sustentar, com sucesso, o seu negócio e prepará-lo para os desafios do futuro. Segundo nos contou Óscar Gato, o enólogo desta adega, um dos […]
A Adega de Borba tem sabido, desde que foi fundada, e ao longo dos últimos 70 anos, investir na melhoria do seu sistema produtivo e comercial e da sua oferta, para sustentar, com sucesso, o seu negócio e prepará-lo para os desafios do futuro. Segundo nos contou Óscar Gato, o enólogo desta adega, um dos factores que contribuiu para que os vitivinicultores da região se associassem, em 1955, foi a dificuldade que tinham para a comercialização dos seus vinhos. O outro foi incentivo estatal dado, na época, pela Junta Nacional do Vinho, ao associativismo no sector, que contribuiu para a constituição desta e de outras adegas no Alentejo. Também foi um empurrão fundamental para o seu desenvolvimento e a base do protagonismo que o sector tem hoje na região, dado que sustentou a organização e equipamento das suas unidades industriais e a implementação dos seus sistemas de comercialização.
Os primeiros vinhos da Adega de Borba foram lançados no final da década de 50.
Os primeiros vinhos
Os primeiros vinhos da Adega de Borba foram lançados no final da década de 50. A partir daí, a área de vinha e o número de sócios da Adega de Borba foi sempre crescendo, à medida que iam decorrendo diversas mudanças na sua estrutura produtiva, até ao modelo actual.
Com o tempo as vinhas deixaram de estar consociadas com o olival, algumas árvores de fruto e outras, e passaram a ser estremes. A chegada dos primeiros fundos europeus, na década de 1980, contribuiu para que todas passassem a estar alinhadas e aramadas. Veio também a separação das variedades tintas e brancas no terreno, a plantação por casta, tal como se vê hoje, e a opção por vender o vinho embalado. Era preciso responder a consumidores cada vez mais informados e exigentes, num mercado global que procurava, cada vez mais, produtos de qualidade.
Em paralelo continuou o crescimento da área de vinha, que se estabilizou nos cerca de 2200 hectares actuais há cerca de 20 anos. Desenvolve-se nos concelhos de Borba e Estremoz, mas também se insinua nos de Vila Viçosa, Elvas, Monforte e Sousel, que os limitam. São sobretudo terras de planalto, solos calcários que ficam sobre o Complexo Vulcano Sedimentar Carbonatado de Estremoz, aquele que origina o mármore distinto de Estremoz, que é Pedra Património Mundial pela Unesco. Mas também se desenvolvem num vale de solos xistosos em direção à Serra de Ossa, que ali fica bem perto, a cerca de cinco quilómetros para sudoeste. É sobre estas duas zonas que ficam as cerca de 1600 parcelas de vinha dos associados da Adega de Borba.
Saber acumulado
No ano em que celebra sete décadas desde a sua fundação, a Adega de Borba lançou o vinho comemorativo Havendo Tempo. “Este vinho nasce do tempo que se respeita e do tempo que se guarda”, disse Óscar Gato, enólogo da Adega de Borba, durante o evento de lançamento, acrescentando que “cada garrafa encerra o saber acumulado de décadas e a atenção que dedicamos a cada detalhe, da vinha até à cave”, para criar “um vinho pensado para quem sabe esperar”. Havendo Tempo presta homenagem à filosofia de vida das gentes alentejanas e ao tempo investido em cada garrafa, ao longo de sete décadas de história.
Disponível nas versões tinto 2021 e branco 2023, esta edição especial reflecte o espírito da região e o saber acumulado ao longo de gerações, dado que é um tributo à forma como se vive e trabalha no Alentejo, com calma, atenção ao detalhe e respeito pelo ritmo da natureza. Produzidas a partir de castas tradicionais da região e sujeitas a estágios prolongados em barrica e garrafa, as colheitas desta gama foram pensadas para serem apreciadas com calma, tempo e em boa companhia. Em paralelo também foram apresentadas as edições especiais tintas e brancas do Adega Cooperativa de Borba, rotuladas com imagem antiga destes vinhos.
(Artigo publicado na edição de Julho de 2025)