Herdade dos Grous: Um Alentejo sustentável

A produção agrícola da Herdade dos Grous está ligada, de forma indelével, ao trabalho feito por Luis Duarte, 59 anos, gerente e enólogo principal da empresa desde que ali começou a plantar as primeiras vinhas. Sempre com olho no terroir, tem usado tudo o que aprendeu no curso que tirou em Vila Real, nos muitos […]
A produção agrícola da Herdade dos Grous está ligada, de forma indelével, ao trabalho feito por Luis Duarte, 59 anos, gerente e enólogo principal da empresa desde que ali começou a plantar as primeiras vinhas. Sempre com olho no terroir, tem usado tudo o que aprendeu no curso que tirou em Vila Real, nos muitos anos em que esteve no Esporão e desde 2004 até hoje, experimentando e fazendo, para produzir vinhos de qualidade, sem descurar o mercado, e com o seu cunho. E fez isso apostando, desde o início, na sustentabilidade, melhorando os solos da propriedade, usando ovelhas para eliminar as ervas e acrescentar matéria orgânica e criando, entre outros, condições para atrair morcegos, para darem o seu contributo na eliminação de pragas. Tudo isto acreditando que as empresas se gerem melhor com regras estabelecidas, e que as certificações de qualidade, sustentabilidade e outras contribuem para tudo acontecer de forma mais fluída e fácil para fornecedores, colaboradores e clientes. Desde que chegou, a empresa tem dado sempre lucros, apesar dos investimentos que têm sido feitos em terras e noutras áreas de negócio, como a produção de azeite e gado.
Hoje a Herdade dos Grous vende os seus vinhos sobretudo em Portugal, e 40% da sua produção anual para mais 24 países
Vinhos e hotelaria
Luis Duarte começou por ser consultor da empresa em 2002. Naquela altura ainda trabalhava na equipa da enologia da Herdade do Esporão, mas já tinha liberdade para fazer algumas consultorias para produtores, onde se incluíam a Quinta do Mouro, em Estremoz, ou a Herdade Grande, na Vidigueira.
“Comecei por dar aqui um apoio na plantação das vinhas”, conta, acrescentando que foram inicialmente 21 hectares, que foram crescendo, ao longo do tempo, para os 133 hectares actuais.
Em 2004 saiu do Esporão em definitivo e assumiu o projecto. No ano seguinte lançou os primeiros vinhos, um Herdade dos Grous e um Herdade dos Grous Reserva, ambos tintos. O segundo, feito, na altura, com uvas da primeira vinha que plantou, ainda muito nova, ganhou o prémio de Melhor Vinho do Alentejo. Para Luís Duarte, foi sorte e “um bom presságio para o futuro”, que “demonstrou que a qualidade do vinho era boa” e contribuiu para alavancar um projecto que começou “bastante bem” logo desde o início.
Nessa altura a propriedade tinha cerca de 500 hectares e incluía um hotel dividido em dois blocos, tal como acontece hoje. Está integrado nos Hotéis Vila Vita, tal como a unidade de Armação de Pêra, no Algarve e outras que o grupo detém também na Alemanha e Áustria, que oferecem mais de 650 quartos, para além de restaurantes e bares. Apesar de estarem disponíveis para o público em geral, destinam-se sobretudo a incentivos para os mais de 50 mil colaboradores da Deutsche Vermögensberatung, empresa de serviços de consultoria financeira com sede em Frankfurt, na Alemanha. Fundada em 1975 por Reinfried Pohl, este gigante do sector financeiro gere uma carteira de clientes com um valor superior a 250 milhões de euros. Segundo Luís Duarte, esta empresa usa incentivos como períodos de férias nas suas unidades hoteleiras para recompensar quem cumpre objectivos . “Vêm da Alemanha passar férias para a Herdade dos Grous e outros sítios que o grupo tem no mundo inteiro, sempre na companhia de um responsável, um chefe de equipa, que os incentiva em relação à empresa”, conta o gerente.
Foi isso que levou o grupo e comprar espaços com essa função, mas também a organizar cruzeiros para os seus quadros superiores. “Toda a gente sonha ir neles, porque isso demonstra que atingiram os seus objectivos”, salienta Luis Duarte, acrescentando que, ainda hoje, o hotel da Herdade dos Grous é ocupado sobretudo por pessoas da empresa, que voam diretamente para o aeroporto de Beja. “Todos os sábados chegam cerca de 20 pessoas, que passam uma semana aqui e vão depois embora, o que é um descanso para o negócio de turismo da herdade, que está praticamente ocupado a 100% todo o ano”, diz o responsável. Acrescenta que a Herdade dos Grous arrenda o espaço ao Vila Vita do Algarve, que tem um contrato com a empresa mãe alemã que lhe permite receber todas estas pessoas.
Quando se procura ter um negócio agrícola sustentável e duradouro, não é preciso mais nada do que água, matéria orgânica e solo para produzir
Pioneira na sustentabilidade
Antes de ser adquirida, a Herdade dos Grous era arrendada sobretudo para pastoreio de gado. Como os solos estavam muito explorados, Luis Duarte apostou, desde o primeiro dia, na inversão da degradação a que tinham sido sujeitos, “fazendo sementeiras directas de prados sem mobilização dos solos, o que não era muito usual na altura, em 2004”, para aumentar a matéria orgânica dos solos. Também foi implementada uma viticultura regenerativa, com cuidados especiais com o solo, incluindo a sua análise microbiológica. “Fomos dos primeiros, que eu saiba, a fazê-lo aos solos na região, para procurar encontrar formas de equilibrar a sua flora e fauna a este nível, ou seja, os seus fungos com as bactérias e os nemátodos, algo contrário ao que me foi transmitido quando estudava enologia, em que havia só um tipo de microorganismos bons e o resto era para eliminar”. Hoje a tendência é procurar que vivam todos em equilíbrio, pois não é necessário matar tudo o que está no solo para produzir uvas, azeitonas ou outro produto agrícola qualquer. Pelo menos quando se procura ter um negócio agrícola sustentável e duradouro, não é preciso mais nada do que água, matéria orgânica e solo para produzir.
Ainda hoje, durante o inverno, andam, na propriedade, mais de duas mil ovelhas, incluindo as dos vizinhos, a pastar. “Só com isso deixei de fazer duas passagens com tractores na vinha e no olival para cortar ervas, poupando no gasóleo, no desgaste das máquinas e diminuindo a poluição ambiental resultante deste trabalho, deixando de ter custos com um trabalho que é feito pelas ovelhas”, explica Luís Duarte. Para além disso, as ovelhas vão estrumando o solo, aumentando os seus níveis de matéria orgânica.
A Herdade dos Grous foi a primeira empresa certificada pelo Programa de Sustentabilidade do Alentejo “e é hoje um exemplo em termos de sustentabilidade, incluindo os pilares ambiental, social e económico, essencial porque isto não teria sentido se não desse dinheiro, já que uma empresa agrícola é um negócio como outro qualquer”. Para além das certificações ambientais, a herdade tem o seu sistema de gestão da qualidade e da segurança alimentar certificados por normas ISO. As certificações obrigam a regras que têm de ser seguidas, algo comum a tudo o que é feito na empresa. “Até as nossas fichas técnicas obedecem a procedimentos escritos”, salienta Luis Duarte, acrescentando que o controlo de todos os documentos lhe permite gerir a empresa de forma tranquila, porque tem pessoas responsáveis que se ocupam das questões como a qualidade ou a sustentabilidade.
Horticultura e azeite
Actualmente trabalham, na Herdade dos Grous e na Quinta de Valbom, propriedade duriense do grupo, que Luis Duarte também gere, um total de 28 colaboradores a tempo inteiro. “Mas, durante o ano, há sempre mais pessoas a trabalhar na vinha, olival, gado e nos 12 hectares que de hortofrutícolas da empresa, cuja produção se destina sobretudo para a sua cantina e a do Vila Vita, no Algarve, onde trabalham 400 pessoas”.
Desde que Luís Duarte assumiu a gestão da Herdade dos Grous, o projecto foi crescendo. Dos 500 hectares iniciais, a propriedade passou para os 1050 hectares actuais. Para além da vinha, também foram plantados 110 hectares de olival, a que se juntaram mais 40 hectares de um olival antigo de uma das propriedades adjacentes que foram sendo compradas. E há ainda áreas de prados permanentes para pastoreio de gado bovino da raça Mertolenga, produção de porco preto e ovinos e está iniciada uma nova plantação de medronheiros, seguindo as curvas de nível do relevo da propriedade, tal como Luis Duarte dispôs a vinha. Para o futuro, quem sabe se vai existir um novo produto na Herdade dos Grous, o medronho, mas é algo que ainda só está na fase de estudo.
Para além da marca própria, o azeite é também vendido a granel, “porque é um negócio mais rentável do que a venda de azeite em garrafa”, explica Luís Duarte, salientando que esta forma de comercialização é essencial para a sustentabilidade do negócio da Herdade dos Grous, porque é dinheiro pago antes da saída do azeite da propriedade. “Não o vendemos de outra forma”, afirma. Actualmente a sua empresa engarrafa entre 40 e 50 mil unidades de meio litro de azeite por ano, que vende a 8,5 euros, com uma margem significativamente inferior ao granel por causa dos custos com o engarrafamento, a garrafa, o rótulo, a cápsula e outros. O azeite tem sido comercializado a granel a 10 euros por litro. “Ou seja, ganho mais dinheiro a vender a granel do que em garrafa, mas tenho de fazer isso para estabelecer a marca no mercado”, defende.
Novas histórias
Os vinhos da Herdade dos Grous são vendidos apenas em garrafa. O seu portefólio é relativamente simples e fácil de entender por quem compra os seus vinhos. “Quando pensei nele achei que não deveria criar muitas coisas para não haver confusão, algo que talvez tenha a ver com a escola que tive no Esporão, onde os volumes de vinho produzidos e comercializados eram relativamente grandes, o que me fez pensar e acreditar que era necessário produzir volume para criar marca”, conta o responsável. Por isso, o portefólio da Herdade dos Grous tem apenas uma, comum a todos as suas referências, incluindo um branco e um tinto colheita, um branco e um tinto reserva, mais um Moon Harvest e um Concrete branco e tinto. Este último veio da necessidade de a empresa criar um produto novo para o mercado. Para a sua produção foi utilizada o depósito Galileu. “Fiz ensaios e gostei muito do efeito do cimento no vinho branco, pois dá-lhe textura, torna-o mais elegante e acrescenta-lhe salinidade”, explica Luís Duarte. Agora já produz também tinto e tem quatro depósitos para fazer este tipo de vinhos. “No fundo, a ideia foi criar, dentro da família da Herdade dos Grous, mais um patamar, que são os vinhos em cimento, para além dos fermentados em aço inoxidável e em barrica, para alargar o portefólio e chamar a atenção para a marca criando também novas histórias”, conta.
Hoje, a Herdade dos Grous vende os seus vinhos sobretudo em Portugal, e 40% da sua produção anual, que anda entre 800 e 900 mil garrafas, para mais 24 países, sobretudo para o Brasil, Luxemburgo, Suíça e Alemanha. As vendas para o grupo andam entre os 7 e os 8%.
(Artigo publicado na edição de Junho de 2025)
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Herdade dos Grous
Tinto - 2022 -
Herdade dos Grous Concrete
Tinto - 2023 -
Herdade dos Grous Moon Harvested
Tinto - 2023 -
Herdade dos Grous 23 Barricas
Tinto - 2023 -
Herdade dos Grous
Tinto - 2023 -
Herdade dos Grous
Rosé - 2024 -
Herdade dos Grous Concrete
Branco - 2023 -
Herdade dos Grous
Branco - 2023 -
Herdade dos Grous
Branco - 2024
Milhares de pessoas no Trafaria (Com) Prova

O evento promovido pela Revista Grandes Escolhas reuniu, em três dias, milhares de pessoas no Passeio Ribeirinho da Trafaria, em Almada. Além de provas comentadas e degustações vínicas, houve tapas, petiscos, espaço cultural, exposições e muita animação de rua. O Trafaria Com Prova teve lugar no fim de semana de 4 a 6 de Julho […]
O evento promovido pela Revista Grandes Escolhas reuniu, em três dias, milhares de pessoas no Passeio Ribeirinho da Trafaria, em Almada. Além de provas comentadas e degustações vínicas, houve tapas, petiscos, espaço cultural, exposições e muita animação de rua.
O Trafaria Com Prova teve lugar no fim de semana de 4 a 6 de Julho e juntou 18 adegas produtoras de vinho representativas da produção nacional distribuídas por 20 stands instalados ao longo do Passeio Ribeirinho da Trafaria, à beira do rio Tejo, no concelho de Almada. Ao longo dos três dias, a degustação vínica, acompanhada pela oferta gastronómica dos restaurantes locais e pela doçaria local, registou uma enorme adesão por parte dos visitantes. Já o momento alto ficou marcado pelas duas provas comentadas por Valéria Zeferino, crítica de vinhos da Revista Grandes Escolhas.
Aos melhores vinhos e sabores juntaram-se as visitas guiadas ao centro histórico da cidade, organizadas pelo Centro de Arqueologia de Almada, e os passeios de bicicleta, promovidos pelo Clube de Ciclismo de Almada. As partidas de xadrez e os jogos tradicionais desafiaram os presentes de várias idades. A animação de rua, a cargo da UH!TOPIA, e os ritmos vários, ora de música ambiente , ora de música tradicional, proporcionaram descontração total, a par com as pinturas faciais, feitas por Rita Neves Araújo, que encantaram os mais novos.
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Enoturismo: Romana Vini

Na Região Vitivinícola de Lisboa, entre o Atlântico e os seus murmúrios constantes e a memória calcária dos solos, a Denominação de Origem Controlada (DOC) Óbidos ergue-se como um testemunho enológico da relação íntima entre o homem, a natureza e o vinho. A sua paisagem não se impõe mas insinua-se, subtil, quase tímida. O relevo […]
Na Região Vitivinícola de Lisboa, entre o Atlântico e os seus murmúrios constantes e a memória calcária dos solos, a Denominação de Origem Controlada (DOC) Óbidos ergue-se como um testemunho enológico da relação íntima entre o homem, a natureza e o vinho.
A sua paisagem não se impõe mas insinua-se, subtil, quase tímida. O relevo é marcado por suaves colinas e encostas irregulares, espraiando-se entre os 50 e os 200 metros de altitude, e desempenha um papel decisivo na proteção natural das vinhas e na distribuição das parcelas, num mosaico agrícola que responde, com sensibilidade, à orografia do território.
Entre o vento e a vinha
O clima é atlântico por vocação e identidade. Aqui, a proximidade do oceano não é apenas geográfica, é uma presença constante que sopra de Oeste, moderando temperaturas, prolongando a maturação das uvas e mantendo a humidade elevada. Esta influência oceânica confere aos vinhos de Óbidos uma frescura vibrante, uma acidez natural e um perfil aromático tenso, elegante, muitas vezes mineral.
A pluviosidade, abundante e bem distribuída ao longo do ano, alimenta o solo e desafia o viticultor. O desafio, porém, não é obstáculo, mas condição. A videira, nesse cenário húmido, exige atenção e saber. E os solos, predominantemente argilo-calcários, com boa capacidade de retenção de água e drenagem eficaz, proporcionam um equilíbrio vital entre vigor e restrição, permitindo que a vinha se expresse com autenticidade. Na sua condução predominam os sistemas em cordão bilateral e Guyot, adaptando-se à orografia e às exigências da sanidade num clima de elevada humidade relativa. A gestão do coberto vegetal e a orientação das linhas seguem uma lógica quase filosófica: proteger sem sufocar, expor sem queimar, guiar sem domesticar.
Quanto às castas, Óbidos guarda em si uma paleta de contrastes. Nas tintas, impera a Touriga Nacional com a sua alma floral e vigorosa, acompanhada da Aragonez, da Castelão e da Trincadeira, castas tradicionais que, no contexto climático local, encontram expressão em vinhos de corpo médio, boa acidez e capacidade de envelhecimento discreta, mas promissora.
Nas brancas reina a frescura. A casta Arinto, com sua acidez cortante e longevidade, é a espinha dorsal da produção, ao lado da Fernão Pires, da Vital e da Rabo de Ovelha. Nos últimos anos, novas interpretações da Chardonnay e da Sauvignon Blanc também têm marcado presença, muitas vezes com fermentação em barrica ou estágio sobre borras, revelando o potencial da sub-região para brancos complexos e estruturados.
Mas mais do que um conjunto de dados técnicos, na Denominação de Origem Óbidos é um lugar de encruzilhadas. Aqui, a tradição e a inovação caminham lado a lado, o passado agrícola e o futuro enoturístico dialogam, o rigor técnico e a intuição do viticultor entrelaçam-se. É uma sub-região que, embora discreta perante o brilho de outras denominações nacionais, se afirma com carácter, autenticidade e uma serenidade que só a maturidade da terra pode oferecer. E, ainda assim, cada vindima é uma promessa nova, uma pergunta lançada à natureza e ao saber humano: que vinho será este ano o espelho da terra?
No fundo, a DOC Óbidos não é apenas uma denominação de origem. É uma forma de estar no mundo entre o vento e a vinha, o calcário e o mar, o que foi e o que está por vir. É filosofia líquida embalada em garrafas, memória do Atlântico vertida em cada copo.
Num deambular pela Região de Lisboa, os ventos atlânticos sussurram-me aos ouvidos uma expressão que me deixou curioso – “Romana Vini”.
Em Alguber, no concelho do Cadaval, entre colinas suaves e o “uivo” constante do Atlântico, repousa a Quinta do Porto Nogueira. Integrada na sub-região DOC Óbidos, em plena Região Vitivinícola de Lisboa, esta quinta secular é mais do que um espaço agrícola, é um lugar onde a terra e o pensamento se encontram, onde a vinha se faz expressão de uma filosofia paciente e de um saber transmitido entre gerações.
Onde a terra se serve à mesa
No Concelho de Cadaval, a gastronomia é mais do que sustento. É expressão viva de um território onde o tempo ainda respeita os ciclos da terra e os saberes antigos resistem ao esquecimento. Esta região, aninhada entre vales férteis e a majestade tranquila da Serra de Montejunto, oferece uma riqueza culinária que nasce do diálogo íntimo entre o homem e a natureza.
A Pera Rocha do Oeste DOP, símbolo maior da fruticultura local, é aqui mais do que um produto agrícola, é orgulho coletivo, fruto de gerações que moldaram, com paciência e técnica, um dos sabores mais delicados do país. Cadaval é reconhecida como a “capital” desta pera, cuja textura fina e doçura equilibrada falam tanto do solo que a alimenta como das mãos que a colhem.
Nas mesas cadavalenses, os pratos tradicionais revelam a alma rural do concelho — sabores robustos, enraizados na terra e na partilha. Do cabrito assado no forno de lenha, com aromas de alecrim e alho bravo, à suculência dos enchidos artesanais, ao coelho à aldeia, passando pelas sopas rústicas de feijão e couve, tudo respira autenticidade. O bacalhau à lagareiro e os grelhados ao carvão são mais do que receitas, são narrativas familiares transmitidas de geração em geração, muitas vezes cozinhadas em lume brando e degustadas com tempo e conversa.
A doçaria é outro capítulo de afeto. O pão-de-ló artesanal da Ti Piedade, com a sua textura húmida e alma conventual, é já um ícone local, enquanto o bolo doce de Figueiros traz, à memória, os domingos antigos e os cheiros de forno que atravessavam os quintais.
E da Serra do Montejunto, onde o silêncio é cortado apenas pelo zumbido das abelhas e pelo sopro do vento, chega um mel de características únicas, âmbar e intenso, destilado da flora bravia que cobre os caminhos serranos. É a natureza no seu estado mais puro, transformada em doçura lenta.
No Concelho de Cadaval, comer é um gesto ancestral de gratidão. Cada produto, cada prato, cada doce, carrega consigo a marca da identidade e a beleza de um lugar onde o essencial ainda tem valor. É uma cozinha que não se limita a alimentar. Convida a pertencer.
Regresso às raízes com olhar no futuro
Há histórias que fermentam lentamente, como os grandes vinhos. Crescem em silêncio, de geração em geração, amadurecendo no coração das famílias que sabem escutar a terra. Assim é a história da Casa Romana Vini, projeto familiar nascido de um legado rural profundo e de um reencontro com a vocação que o tempo, por momentos, apenas adormeceu.
Na família Mendes Barreira o amor pela vinha não se aprendeu nos livros, mas no campo, ao lado dos que sabiam ler o ciclo das estações. O avô Manuel Gerardo Barreira foi um desses guardiões da sabedoria rural. Cuidava, com mãos sábias e humildes, pequenas vinhas em terrenos que hoje integram a Quinta do Porto Nogueira, no concelho do Cadaval. Foi ele quem transmitiu ao filho, José Pereira Barreira, não apenas o saber técnico, mas a reverência pela terra. E foi entre os serões da aldeia, ao calor da lareira, que o neto, António Mendes Barreira, escutou — mais do que histórias — uma herança silenciosa, feita de paciência, trabalho e encantamento. Passadas algumas décadas, já depois de percursos empresariais noutros domínios, António Mendes Barreira e esposa, Maria Isabel Policarpo, sentiram renascer esse chamamento.
O campo voltou a falar-lhes com a linguagem que nunca esqueceram. Decidiram, então, investir nos terrenos que herdaram e adquiriram, divididos entre a histórica Quinta do Porto Nogueira, datada do século XVIII, na Região Vitivinícola de Lisboa, e a Quinta da Escusa, na região dos vinhos do Tejo. Plantaram a vinha em 2010, não como quem planta apenas um cultivo, mas como quem semeia um propósito. O objetivo era claro – produzir vinhos de qualidade premium, nos melhores terroirs, a partir de castas nacionais e internacionais, vinificadas com rigor em adega própria.
Assim nasceu a Casa Romana Vini, cuja primeira colheita, 2015, logo deu frutos, dois vinhos galardoados com Grande Ouro no Concurso de Vinhos de Portugal de 2017. Desde então, os prémios sucedem-se, mas é a coerência da filosofia, e não o brilho das medalhas, que continua a orientar o projeto.
Na Romana Vini, o trabalho do enólogo António Ventura é mais do que uma prática técnica, é um exercício de escuta profunda. Escuta da terra, do tempo, da vinha e do silêncio que antecede cada vindima. Reconhecido como um dos nomes maiores da enologia em Portugal, Ventura não impõe estilo, antes interpreta o carácter de cada parcela com a precisão de um artesão e a humildade de um filósofo do vinho.
Este produtor possui 28 referências, somando os vinhos das duas Quintas. Nelas estão cultivadas várias castas brancas, com destaque para o Arinto, Alvarinho, Encruzado, Sauvignon Blanc, Chardonnay e Sémillon e, nas tintas, para o Pinot Noir, Touriga Nacional e Syrah.
Desde 2019, cultivam não apenas a terra, mas também o ideal da agricultura 100% biológica, assumindo um pacto com o tempo e a natureza e recusando as imposições químicas da produtividade desenfreada.
Cada vinho é apresentado como uma narrativa — com corpo, alma e contexto. E cada gole é um convite ao pensamento, à pausa, à escuta do que o vinho tem para dizer
Harmonia com o ecossistema
Mas esta história começou bem antes da certificação. Há muitos anos, abriram mão dos herbicidas e fertilizantes químicos, escolhas que, embora discretas, revelam uma filosofia profunda: a de que a terra só devolve plenitude quando é tratada com respeito.
Hoje, vão mais longe — rejeitam também pesticidas e quaisquer substâncias sintéticas. Não por capricho, mas por convicção. Protegem a biodiversidade não como quem segue uma moda verde, mas como quem escuta o silêncio das raízes e reconhece, na harmonia do ecossistema, uma sabedoria ancestral que não cabe nos frascos da indústria. Num mundo em que a velocidade e o lucro ditam as regras, escolher o caminho da biologia pura é um ato de resistência. E, talvez, de esperança.
Na casa Mendes Barreira, António Ventura encontrou um terreno fértil, não apenas em solos, mas em visão partilhada. Trabalha lado a lado com a natureza, respeitando os ritmos biológicos e buscando sempre a pureza da expressão varietal. Cada vinho da Romana Vini leva, assim, a marca discreta, mas firme da sua mão: equilíbrio, elegância e autenticidade.
Mais do que criar vinhos premiados, António Ventura cultiva narrativas líquidas, onde cada garrafa é um lugar, um ano e uma memória. Porque, para ele, a enologia não é só ciência, é também contemplação, diálogo e arte.
Na visão da família, o enoturismo não é um apêndice do vinho, mas uma extensão natural do seu espírito. Por isso, em 2022, a Quinta do Porto Nogueira passou a acolher o Wine Hotel, unidade que se funde com a paisagem e convida à imersão. Não se trata apenas de oferecer alojamento, mas de criar experiências sensoriais alinhadas com o vinho, o bem-estar e a contemplação do essencial.
Hoje, com o envolvimento dos filhos, Pedro e João Barreira, a Casa Romana Vini e o Wine Hotel assumem-se como duas faces do mesmo projeto de vida. Produzir grandes vinhos e proporcionar experiências autênticas, junto à vinha, no compasso do campo, mantendo sempre o fio condutor: a exigência, a simplicidade e o cuidado. Tudo isto num ambiente onde o luxo não é ostentação, mas a beleza subtil de se estar próximo da terra e, por isso mesmo, mais próximo de si próprio.
É esse o espírito que perdura desde os tempos do avô Manuel. Não se trata apenas de fazer vinho. Trata-se de honrar a terra, a memória e o futuro, com o mesmo respeito silencioso que, geração após geração, sussurra entre as videiras.
Num vale onde o silêncio das vinhas se mistura ao rumor antigo das pedras, ergue-se a Adega Romana Vini, que não é apenas um produtor de vinho, mas um altar onde o tempo é colhido em cachos. A sua existência é mais do que uma resposta ao mercado, é um manifesto. Romana Vini vive como um pensamento sólido vertido em líquido, onde cada garrafa é uma tese embebida de história, um ensaio sobre a terra, o homem e o divino labor da fermentação.
No coração da sua filosofia está uma arqueologia da alma vitivinícola. O nome não é apenas um aceno ao império que civilizou a vinha, mas um compromisso com a memória. A Romana Vini retoma os métodos, o espírito e a solenidade dos romanos, para quem o vinho era mais do que bebida — era linguagem, contrato e culto. Não por acaso, cada estágio de produção ecoa esse espírito: pisa a pé, envelhecimento em ânforas, diálogo entre a tradição e a tecnologia sem que uma suplante a outra.
O enoturismo… um circuito de experiências
Há lugares onde o tempo desacelera, não por inércia, mas por respeito. Na Romana Vini cada passo do visitante é um convite ao reencontro com o essencial: a terra, o silêncio, o gesto lento da vinha, o saber do vinho. O circuito de visitação enoturística criado pela família Mendes Barreira não é apenas uma proposta de lazer, é um itinerário sensorial e filosófico, onde o vinho deixa de ser um produto e se torna linguagem.
Implantado na Quinta do Porto Nogueira, em Alguber, o projeto da Romana Vini alicerça-se em duas ideias fundadoras: autenticidade e cuidado. É a partir destas premissas que nasce um percurso de visita que vai muito além da clássica prova de vinhos. Aqui, cada etapa do circuito da vinha à adega, da cave ao copo, da mesa ao horizonte, é uma celebração do tempo certo das coisas.
A visita começa, como deve ser, na vinha, onde o visitante é convidado a caminhar entre os alinhamentos de Arinto, Alvarinho, Touriga Nacional ou Pinot Noir, sentindo no rosto a brisa atlântica que molda os vinhos da casa. É uma imersão no terroir, uma aproximação física àquilo que normalmente só se saboreia em silêncio num cálice. O guia não é apenas um informador técnico, mas um mediador entre o visitante e o espírito da paisagem. Fala-se de solos argilosos, de conduções em cordão bilateral, de viticultura biológica, mas fala-se sobretudo da relação entre o homem e a terra, entre o fazer e o esperar.
Segue-se a passagem pela adega, moderna, mas discreta, onde a tecnologia respeita a natureza e a intervenção é mínima. Aqui, o enólogo é visto como um tradutor da vinha, e não como um criador absoluto. A cave, com os seus barris silenciosos e o cheiro ancestral de madeira e mosto, conduz inevitavelmente à contemplação. Há uma ética do tempo em cada estágio, uma filosofia da lentidão que nos interpela num mundo apressado.
A prova de vinhos, longe de ser um ritual apressado, é conduzida com a mesma atenção ao detalhe. Em salas envidraçadas com vista para as vinhas, ou em recantos ao ar livre rodeados de oliveiras e silêncio, os visitantes experimentam vinhos que trazem consigo a memória do lugar. A acidez vibrante de uma Arinto, a mineralidade de um Encruzado, a estrutura austera de uma Touriga. Cada vinho é apresentado como uma narrativa — com corpo, alma e contexto. E cada gole é um convite ao pensamento, à pausa, à escuta do que o vinho tem para dizer.
Mas a experiência vai além do vinho. Na Quinta do Porto Nogueira Wine Hotel o visitante pode prolongar o encontro com a terra. O alojamento, discreto e acolhedor, funde-se com a natureza. Há trilhos, piqueniques entre vinhas, jantares vínicos, sessões de meditação ao entardecer, provas horizontais e verticais, experiências sensoriais alinhadas com o ciclo da vinha e com o ciclo interior de cada pessoa.
É um enoturismo que se propõe como caminho — no sentido mais pleno da palavra. Um caminho de regresso ao natural, ao simples, ao que tem substância. Em vez de espetacularidade, há silêncio. Em vez de pressa, há cuidado. Em vez de consumo, há encontro.
Não há excessos nem ostentação, apenas uma elegância silenciosa que se revela em cada detalhe: na decoração sóbria e requintada, nos tecidos que respiram conforto, nas linhas clássicas que acolhem com modernidade contida
Um momento de encontro…
Na Romana Vini, cada visita é desenhada como um momento de encontro com o vinho, o lugar e a história silenciosa que atravessa cada cacho. Quem visita, escolha ou não pernoitar no sereno refúgio do Wine Hotel, é sempre convidado a mergulhar numa experiência vínica que começa muito antes do primeiro gole.
A visita pode é realizada por profissionais com sólida formação. Quando o pedido exige um toque mais íntimo e exclusivo, é feito pelos proprietários da casa. Não são raros os visitantes que desejam escutar a história da Romana Vini da voz de quem a sonhou e aqui, a hospitalidade é tão artesanal quanto os vinhos.
Concluído o passeio, o destino é o Tasting Room, onde o tempo parece abrandar para que os sentidos possam enfim despertar. A prova de vinhos pode incluir entre três e seis referências, consoante a escolha do visitante, numa curadoria que privilegia a diversidade de castas, estilos e terroirs. Mais do que uma degustação técnica, trata-se de uma vivência sensorial e meditativa: cada vinho é apresentado como um capítulo de um livro que se escreve com a terra, o clima e a mão humana.
Na Romana Vini, provar vinho não é apenas apreciar aromas e sabores, é escutar a paisagem que o gerou, sentir o gesto que o cuidou e compreender o tempo que o moldou. Por isso, a experiência, seja qual for o formato escolhido, nunca é genérica. É sempre pessoal. É sempre reveladora.
E talvez seja isso que distingue este lugar. A consciência de que o vinho, quando verdadeiramente vivido, não se limita a ser bebido. É partilhado e compreendido.
A Romana Vini não oferece apenas um circuito de visita. Oferece um modo de estar. E, nesse gesto, recorda-nos algo fundamental, que o vinho é terra transformada, é tempo engarrafado, é cultura líquida. Mas, acima de tudo, é uma ponte entre o que somos e o que podemos ainda vir a ser, se tivermos a coragem de escutar a terra.
Dormir nas nuvens… viver no paraíso
Na serenidade da paisagem de Alguber, no concelho do Cadaval, ergue-se a Quinta do Porto Nogueira – Wine & Charming Countryhouse, um lugar onde o tempo abranda e a beleza encontra o seu lugar natural. Aqui, tudo parece estar, subtil e intencionalmente, no sítio certo. Não há excessos nem ostentação, apenas uma elegância silenciosa que se revela em cada detalhe: na decoração sóbria e requintada, nos tecidos que respiram conforto, nas linhas clássicas que acolhem com modernidade contida.
Com 15 quartos e uma villa privada, todos superiormente decorados com a mestria de Maria Isabel Policarpo, proprietária e anfitriã, a quinta oferece um refúgio onde o luxo se expressa pela harmonia entre o espaço, a luz e o silêncio. Esta tudo no sítio certo. A piscina convida à contemplação mais do que ao movimento, inserida numa envolvência de vinhas e colinas suaves, onde o olhar se perde em verdes compassados.
Mas esta não é apenas uma casa para dormir — é um lugar para viver com intensidade serena. A experiência gastronómica privilegia os sabores da terra e da região, produtos locais, frescos, tratados com respeito e criatividade. Nas provas de vinhos, guiadas com saber e paixão, descobre-se o que a vinha tem para dizer, em cada casta, em cada ano, em cada copo.
A natureza não é apenas cenário, é protagonista. Os hóspedes são convidados a caminhar pelos trilhos, a visitar as vinhas, a respirar fundo. E ao final do dia, quando o sol se despede em tons de ouro e cobre, há um momento que se repete com a delicadeza dos rituais verdadeiros, conversas demoradas ao pôr do sol, com um copo de vinho na mão — ou, para os que celebram a leveza efervescente da vida, um excelente espumante a marcar o compasso do entardecer.
Aos que amam o vinho como quem ama a vida — com vagar, com intensidade e com reverência ao tempo — a Quinta do Porto Nogueira – Wine & Charming Countryhouse oferece mais do que uma estadia, propõe um reencontro. Aqui, onde a vinha respira com a cadência das estações e a mesa celebra os sabores da terra, cada momento é uma oportunidade para habitar o presente com todos os sentidos. É um convite para os apaixonados pelo enoturismo, pela gastronomia e pelo vinho a mergulharem numa experiência imersiva, onde o luxo está na autenticidade, e a beleza nasce do equilíbrio entre o silêncio da paisagem e o tilintar de um copo erguido ao pôr do sol.
Caderno de visita
COMODIDADES
– Línguas faladas: português, inglês, francês, alemão, italiano
– Loja de vinhos: Sim
– Restaurante apenas para hóspedes (20 lugares no inverno e 30 no verão)
– Bar com capacidade para 20 pessoas
– Sala de eventos para 30 pessoas
– Sala de reuniões para 30 pessoas
– Parque para automóveis ligeiros com 30 lugares
– Espaço para parqueamento de três autocarros
– Posto de carregamento de carros elétricos: Sim
– Provas comentadas (ver programas);
– Wifi gratuito disponível: sim
– Visita às vinhas: sim
– Visita à Adega: sim
EVENTOS
Eventos corporativos até 30/40 pessoas
Atividades team building à medida dos interesses do cliente
PROGRAMAS
(Para duas a 30 pessoas)
Visita à Quinta do Porto Nogueira + Prova de três vinhos – 42€/pessoa
Inclui visita às Vinhas, Adega e Sala de Barricas e termina na sala de provas com a visualização de um filme. Segue-se a degustação de três vinhos (colheita, monovarietal e reserva) na companhia de pão, queijos e enchidos.
Duração: 1h30 aprox.
Visita à Quinta do Porto Nogueira + Prova de cinco vinhos – 57€/pessoa
Inclui visita às Vinhas, Adega e Sala de Barricas e termina na sala de provas com a visualização de um filme. Segue-se a degustação de cinco vinhos na companhia de pão, queijos e enchidos.
Duração: 1h30/2h aprox.
Visita à Quinta do Porto Nogueira + Prova de seis vinhos – 70€/pessoa
Inclui visita às Vinhas, Adega e Sala de Barricas e termina na sala de provas com a visualização de um filme. Segue-se a degustação de seis vinhos na companhia de pão, queijos e enchidos, um doce e um café.
Duração: 2h aprox.
Visita à Quinta do Porto Nogueira + Almoço + Prova de cinco vinhos – 95€/pessoa
Inclui visita às Vinhas, Adega e Sala de Barricas e termina na sala de provas com a visualização de um filme. Segue-se uma prova de cinco vinhos e um almoços composto por couvert, prato principal, sobremesa e café.
Duração: 2h30 aprox.
Prova de cinco vinhos com um membro da família – 105€/pessoa
Inclui visita às Vinhas, Adega e Sala de Barricas e termina na sala de provas com a visualização de um filme. Segue-se uma degustação de cinco vinhos na companhia de pão, queijos e enchidos, um doce e um café.
Duração: 2h aprox.
Contactos
Romana Vini
Quinta do Porto Nogueira,
2550-012 Alguber
Cadaval – Portugal
Site: www.romanavini.pt
Email : geral@romanavini.pt
Tel.: (+351) 918 659 092
(Artigo publicado na edição de Junho de 2025)
Um Menin muito especial

Foi preciso pouco tempo para o produtor Menin Wine Company se tornar um nome de peso no que ao Douro diz respeito. A empresa tornou-se realidade em 2018, quando o empresário brasileiro Rubens Menin decidiu investir seriamente na região no Douro. Como começámos por escrever, em pouco tempo passou a ser nome conhecido, quer pelas […]
Foi preciso pouco tempo para o produtor Menin Wine Company se tornar um nome de peso no que ao Douro diz respeito. A empresa tornou-se realidade em 2018, quando o empresário brasileiro Rubens Menin decidiu investir seriamente na região no Douro. Como começámos por escrever, em pouco tempo passou a ser nome conhecido, quer pelas aquisições de vinhas quer pela adega imponente que decidiu construir, inaugurada recentemente. Em 2021, a Menin Wine Company adquire a Horta Osório Wines, conjugando atualmente essa tradicional casa de Santa Marta de Penaguião (Baixo Corgo) com a Quinta da Costa de Cima, Quinta do Sol e Quinta do Caleiro, todas em redor de Gouvinhas (Cima Corgo), onde também fica a referida adega. No total, só destas últimas três propriedades falamos em praticamente 65 hectares. O destaque vai para a magnífica Quinta da Costa de Cima, com os seus 11 hectares de vinhas plantadas há mais de 100 anos, com mais de 50 castas identificadas, sendo considerada a maior área contígua de vinhas velhas na região.
Trabalho de detalhe
Se os investimentos falam por si, a ambição é também expressa nas palavras da diretora geral da empresa, Fásia Braga. O objetivo, segundo Fásia, é produzir vinhos de gama alta, que reflitam o terroir duriense, privilegiando a qualidade em vez da quantidade. A equipa de enologia é formada por Tiago Alves de Sousa e Manuel Saldanha (este o enólogo residente) e ainda por João Rosa Alves, diretor de produção. Em conversa recente com Tiago e Manuel, estes não disfarçaram a alegria da prorrogativa de puderem trabalhar com vinhas centenárias e destacaram a versatilidade e modernidade da adega que lhes permite fazer um trabalho tanto de absoluto detalhe, como experimental e ensaísta. Segundo Tiago, “a enorme responsabilidade que nos foi depositada em fazer vinho nestas vinhas e nesta adega apenas se equipara ao privilégio que é trabalhar nessas vinhas e adega”.
O objetivo desta empresa é produzir vinhos de gama alta, que reflitam o terroir duriense, privilegiando a qualidade em vez da quantidade
Essa conversa teve lugar no restaurante Nunes Marisqueira (Lisboa), aquando do lançamento do vinho Maria Fernanda, um néctar dedicado por Rubens Menin à sua filha, um tinto assente, precisamente, nas vinhas velhas das encostas ingremes da Quinta da Costa. As uvas para este tinto foram selecionadas a partir de duas micro-parcelas voltadas a Nascente, onde a luz da manhã, e a sombra da tarde, permitiram um perfil mais em frescura e elegância, comparativamente com outros tintos do mesmo produtor. Aqui, no Maria Fernanda, encontramos essencialmente precisão e um perfil de concentração moderado, o que muito nos agradou. Segundo os enólogos, este perfil do vinho é marcado essencialmente pelo field blend que o compõe e pela altitude da vinha, mas acreditamos que a recente inclinação do mercado para vinhos menos concentrados também possa ter alguma influência. Seja como for, as vinhas velhas de onde provém as uvas para este vinho têm uma média de idade de 130 anos e contam com mais de 50 castas, que se harmonizam num field blend único onde, a par da Touriga Nacional e da Tinta Amarela, se encontra muita Tinta Barroca. Casta que, curiosamente, neste terroir contribui para uma fruta bonita e definida, longe do perfil de sobrematuração e doçura que aporta na maioria dos terroirs durienses, sobretudo à beira-rio.
Como se imagina, para um vinho desta qualidade e exigência, estão guardados todos os cuidados, seja na apanha à mão, no transporte das uvas em pequenas caixas, seja ainda no armazenamento da fruta em arcas refrigeradas de forma a que todo o processo de entrada na adega se inicie apenas quando a uva está a uma temperatura de 7ºC. Por fim, a qualidade do ano vitícola – climatericamente mais moderado do que 2019, 2020 e 2022 – contribuiu ainda mais para que tenhamos no copo um tinto de grande precisão, de tal forma que poucas dúvidas me restam de que foi o melhor tinto que já provei deste produtor.
* O autor deste texto escreve segundo o novo acordo ortográfico.
(Artigo publicado na edição de Junho de 2025)
Vinhos Borges, 140 anos depois

Gil Frias, 50 anos, presidente da Comissão Executiva do grupo José Maria Vieira e administrador responsável pela Borges, entrou no Grupo José Maria Vieira (JMV) em 1998, no ano da compra da Sociedade dos Vinhos Borges. “Na altura era um distribuidor puro e duro, que tinha também produção e distribuição de café com a marca […]
Gil Frias, 50 anos, presidente da Comissão Executiva do grupo José Maria Vieira e administrador responsável pela Borges, entrou no Grupo José Maria Vieira (JMV) em 1998, no ano da compra da Sociedade dos Vinhos Borges. “Na altura era um distribuidor puro e duro, que tinha também produção e distribuição de café com a marca Torrié”, conta o responsável.
Entretanto o grupo cresceu e é hoje constituído por sete empresas ligadas à produção de café e vinho e distribuição. Para além da fábrica Torrié, em Portugal, e de outra em Espanha, que produz café com a marca Torrelsa, a JMV produz também vinho desde que adquiriu a Sociedade dos Vinhos Borges ao grupo BPI. Integra, ainda, quatro empresas de distribuição directa em Portugal, Espanha, Canadá e Estados Unidos. “Quando entrei na JMV o grupo facturava cerca de 25 milhões de euros e, hoje em dia, quase 75 milhões de euros”, conta Gil Frias.
A Sociedade dos Vinhos Borges foi criada em 1884 pelos irmãos António e Francisco Borges, fundadores do Banco Borges & Irmão, inicialmente para a comercialização de vinho Verde e do Porto em Portugal e para exportação. Mais tarde, no início do século XX, após a entrada de Artur Lello no capital da empresa e na sua gestão, foi impulsionado também o seu negócio produção de vinhos. A partir daí começou um período em que a empresa foi gerida, durante quase todo o século XX, primeiro por Artur Lello e depois por Carlos Lello, o seu filho. Segundo Gil Frias, os anos mais prósperos decorreram desde o final da Segunda Guerra Mundial até ao período da revolução do 25 de Abril de 1974, quando a empresa passou para as mãos do Estado português, em conjunto com o banco Borges & Irmão, quando toda a banca foi nacionalizada. Só voltou para as mãos de privados em 1988, quando este sector voltou a ser privatizado em Portugal, passando a integrar o Grupo BPI.
Uma oportunidade de negócio
“Nós, José Maria Vieira, eramos distribuidores da Borges desde Coimbra até ao norte do país, isto a partir dos anos 70”, conta Gil Frias, acrescentando que a parceria se manteve até que, nos anos 90 do século passado o Grupo BPI decidiu alienar todos os seus activos não financeiros, incluindo a Sociedade dos Vinhos Borges. “A JMV viu aí uma oportunidade de entrar na produção de vinho, não só para verticalizar o negócio, da vinha quase ao copo do consumidor, mas também para estender o negócio de distribuição a todo o Portugal continental e ilhas, e incorporar a carteira de clientes de exportação que a Borges já tinha na altura, um passo na internacionalização do grupo”, explica o gestor. A seguir, foi feito um “trabalho de reconstrução da empresa da base ao telhado”, que está quase a ser terminado.
Desde logo, foi aumentada a área de vinha, para os 330 hectares actuais em produção, detida ou explorada pela empresa em exclusividade. Na Região dos Vinhos Verdes, para além das Quintas do Ôro, de Simaens e de Vilancete, a empresa tem mais 100 fornecedores de uva. Na Região do Dão o património da Borges inclui a Quinta de São Simão da Aguieira, perto de Nelas, com 74 hectares e 62 de vinha, onde fica a adega, mais a Quinta da Roda, que tem seis hectares e “está vocacionada para a produção de vinhos de topo”. Explora ainda 85 hectares de vinha na Quinta do Loureiro, com base num contrato de longa duração.
A primeira propriedade
A Quinta da Soalheira, no Douro, foi a primeira a ser comprada pela empresa, em 1904. Com 340 hectares, dos quais 127 de vinha, estende-se, em altitude, da cota 150 à 650 m. Mais recentemente “foi feito o seu remapeamento, para colocar as melhores castas nas melhores parcelas” e construída uma nova adega na região duriense, em Sabrosa, “melhor equipada tecnologicamente, a nível logístico, na recepção de uva, na forma de trabalhar e na capacidade em inox, mais adequada aos tipos de vinho que queremos fazer, o que nos permitiu ter um salto qualitativo muito grande em termos de vinhos do Douro”, salienta Gil Frias. Até à inauguração da nova unidade, era no Centro de Vinificação da Lixa, da empresa, que eram vinificados e engarrafados todos os vinhos Verdes e do Douro, com excepção dos Porto.
Um dos pilares que sustenta o negócio é, como não poderia deixar de ser, a produção, a viticultura, que está assente numa capacidade produtiva de cerca de 330 hectares e num sector de transformação, estágio e engarrafamento, assente em “adegas equipadas com a melhor tecnologia para produzirmos os nossos vinhos como queremos”, salienta Gil Frias. Outro pilar são os recursos humanos, “pessoas com muita experiência em todas as áreas”. Aqui foi feita uma reestruturação da empresa a partir de Janeiro de 2024, quando Gil Frias passou a administrador, com um director-geral, Miguel Carvalheira, e vários departamentos, incluindo o de enologia e viticultura, liderado pelo enólogo Fábio Maravilha, que trabalha na empresa há quatro anos e inclui, em cada uma das regiões vitivinícolas onde a empresa produz, responsáveis das adegas e de viticultura que o apoiam.
Segundo o enólogo Fábio Maravilha, a forma como se faz viticultura na Borges é definida com base nos vinhos que a empresa quer produzir. “Nós pensamos os vinhos e fazemos a viticultura nesse sentido e com esse objectivo”, explica. É o que acontece, por exemplo, no Douro, onde “cada uma das parcelas é adaptada consoante os vinhos que queremos dentro da empresa”. É um trabalho que não é igual todos os anos, porque depende também da forma como as condições climáticas evoluem, e implica estudo e capacidade de previsão, como aconteceu em 2023, ano em que a equipa da Borges conseguiu antecipar a chegada das primeiras chuvas e “fazer uma boa colheita de uvas” com bons teores alcoólicos nas cotas mais baixas, vindimando as mais altas depois da precipitação. “O ano correu bem, mas é óbvio que nem sempre é possível adaptar a vinha para produzir aquilo que consideramos vinhos óptimos, porque cada ano é um ano e temos de nos adaptar”, conta o enólogo. Uma boa organização, o planeamento adequado e uma equipa profissional, responsável e focada em cada uma das regiões onde a empresa produz faz o resto.
As pequenas jóias
São as melhores condições para produzir os vinhos de um portefólio construído em pirâmide. “Na base estão as gamas de entrada. Lello, na Região do Douro, Gatão, nos Vinhos Verdes, Meia Encosta, no Dão, Fita Azul, nos espumantes e uma gama de entrada nos Porto”, explica Fábio Maravilha. “Com excepção do Gatão rosé, que é vinho de mesa, são todos DOC e estão posicionados entre os quatro e os cinco euros em termos de preço de prateleira, porque o nosso objectivo é que tenham uma relação qualidade/preço imbatível”, conta Gil Frias, acrescentando que, assim, a sua empresa consegue concorrer com os vinhos australianos, chilenos, espanhóis em qualquer mercado e ter um volume de vendas que lhes permite “ter o desafogo para produzirmos coisas diferentes”.
Depois, e a caminho do topo, existe a gama intermédia, com marca e produção 100% de quintas da empresa, como São Simaens, Ôro, Soalheira e São Simão da Aguieira, nas versões de brancos, tintos e rosés, para além de monovarietais. “É uma gama para garrafeiras e restauração, que pretende mostrar o terroir das nossas quintas”, explica o gestor.
Os topos de gama estão todos identificados com a marca Borges e são oriundos das melhores parcelas das quintas, sendo apenas lançados em anos especiais. “Esta gama é constituída por vinhos de lote, com excepção de alguns monovarietais, como o Touriga Nacional do Dão, mas também o Loureiro da Quinta do Ôro, novidade que está a ser lançada agora”, explica Gil Frias.
Para além destes, foram também lançados alguns vinhos de nicho que o gestor considera “ultrapremium”, incluindo um branco do Douro da casta Gouveio, produzido à cota 300, seis mil garrafas por ano com potencial de guarda. “Para além da sua concentração e vigor, estrutura e final de boca, tem uma acidez elevada, que até é estranha nesta quinta”. É claramente um vinho que cresce com o tempo, digo eu depois de ter provado as colheitas de 2024 e 2023, com a primeira ainda a estar bem fechada e, a segunda, a mostrar aromas e sabores que demonstram a sua grande capacidade de dar prazer.
No ano passado foi lançada uma edição comemorativa dos 140 anos da Sociedade dos Vinhos Borges, o TN TN CLX, em garrafa Magnum. “Quisemos fazer um Touriga Nacional, porque é uma casta muito conhecida e das mais acarinhadas pelos portugueses e estrangeiros, e representa um pouco o país.” Foi produzido com base nos melhores vinhos de Touriga Nacional dos últimos cinco anos nas propriedades da Borges no Dão e Douro, para dar origem a um vinho de lote de guarda e de coleccionador. Este ano também vai ser lançado um branco de Touriga Nacional da Quinta da Soalheira neste segmento.
É importante, em qualquer empresa, incluir, no seu portefólio, “pequenas jóias” que a diferenciem da concorrência e perdurem no tempo, na memória das pessoas. Gil Frias defende que a sua empresa está hoje alicerçada para fazer isso. “Queremos mostrar ao mercado que somos uma empresa que produz volume e também referências para os consumidores mais exigentes, porque temos acesso às melhores uvas, às melhores condições tecnológicas para as produzir e às pessoas adequadas para levar o projecto para a frente”, afirma.
No último ano, a empresa vendeu 7,6 milhões de garrafas e facturou 16,7 milhões de euros. “Temos tido uma evolução muito positiva nas vendas, um crescimento superior a 60% nos últimos 10 anos, assente em Portugal, mas também no mercado de exportação”, diz Gil Frias. Para esse resultado tem contribuído a integração da Sociedade dos Vinhos Borges num grupo distribuidor que vende vinhos em 74 mercados, incluindo Portugal. “Eu próprio, como fui director comercial durante 12 anos, gosto de estar próximo dos mercados e conhecer os clientes”, conta Gil Frias. “Conhecer quem compra os nossos vinhos é fundamental”.
(Artigo publicado na edição de Junho de 2025)
Cabrito, borrego e outras primícias

A Natureza continua a marcar o ritmo de forma inexorável. O que é muito bom para todos nós, que continuamos a ser tão susceptíveis e permeáveis a tudo o que é novo só por si. Mas desde o abrolhamento nas vinhas à cobertura de flores pelos campos fora, tudo é sinal de renascimento. É o […]
A Natureza continua a marcar o ritmo de forma inexorável. O que é muito bom para todos nós, que continuamos a ser tão susceptíveis e permeáveis a tudo o que é novo só por si. Mas desde o abrolhamento nas vinhas à cobertura de flores pelos campos fora, tudo é sinal de renascimento. É o momento da afirmação anual da vida e da vontade de viver, e o inevitável toque a reunir das famílias. E de abrir boas garrafas de vinho para a festa da partilha.
Começo pelo mais importante, a nota de pesar relativa ao desaparecimento prematuro de Ana Soeiro, figura marcante e importante no desenrolar da afirmação da produção nacional em toda a sua abrangência. Acompanhei de perto o trabalho fundador que fez com a sua brilhante equipa de colaboradores no Ministério da Agricultura, de levantamento de produtos certificados e em vias de certificação por todo o país. Retenho, com honra e garbo, os magníficos ficheiros a que Ana Soeiro me deu acesso, dando conta dos avanços vagarosos e despretensiosos do colectivo que coordenava. A abrangência do seu labor é colossal, e vai desde a criação de gado à mais particular e subsidiária receita de um prato regional executado a preceito e de forma sistemática. Quando saiu de funções no ministério, fundou a Qualifica, que desde logo se prontificou a tornar visível muito desse trabalho, ao mesmo tempo que estabeleceu ponte inédita com a certificação no espaço europeu. Se hoje vemos as siglas IGP – Indicação Geográfica Protegida – e DOP – Denominação de Origem Protegida – disseminadas entre nós, parte significativa desse trabalho é-lhe devido. Há que ter em conta a capacidade de fazer face à morosidade e complexidade envolvidas normalmente nesses processos. O tempo há de encarregar-se de lhe fazer justiça. Para já, fica a nota necessária e fundamental, em jeito de tributo.
Tenho bem presentes aspectos históricos e patrimoniais que imortalizam o borrego como proteína preferencial. O seu ensopado tem importância fundadora e que perdura até aos dias de hoje.
O cabrito só é feliz a saltarilhar
Dá-nos muitas alegrias à mesa o cabrito que, juntamente com o borrego, tem expressão fundamental e protocolar nos animais sacrificiais que, por esta altura, têm honras de mesa. Para Júlio Lameiras, acérrimo e sábio defensor das raízes beirãs da alimentação, “o cabrito para ser feliz tem de saltarilhar na pedra da serra”. A alimentação à base de ervas espontâneas e frutos de arbusto é suficiente para dar origem a belas e vigorosas crias, mesmo em fase de aleitação materna. Resulta, por isso, na matéria-prima tão do gosto do consumidor português, com a particularidade adicional da consensualidade. Não há quem não goste de um bom cabrito assado. De norte a sul do país, faz-lhe bem as honras o vasto receituário ditado pela cozinha de pastor. É grande o contributo das verduras de vagem que começam a grassar ao mesmo tempo. Ervilhas, favas, leguminosas diversas compõem muito o ramalhete das opções disponíveis. A carne ganha muito com uma marinada de água e limão um dia antes do momento formal do processamento culinário. Tem geralmente pouca gordura e assa muito bem, desde que a temperatura não seja demasiado alta. Uma segunda marinada em vinha de alhos é benéfica e vai assegurar excelência no período de forno ou grelha. Um tinto novo de Trás-os-Montes faz-lhe bem as loas.
Cabrito, borrego, leitão e vitela desempenham na história da nossa alimentação um papel festivo insubstituível. Para marcar momentos importantes, desde sempre utilizamos a prática de abater uma cria e levá-la à mesa inteira. O grau de requinte com que isso era feito depende obviamente da vontade, posses e disposições. Ainda hoje é assim, como nos tempos de outrora. Podemos contudo afirmar que, na perspectiva estrita da criação, abater uma peça primicial implica abdicar de um valor futuro maior, que nunca é despiciendo. Sempre se fez com os olhos postos nos valores futuros e universais, tai como a união de uma família, e criação efectiva e intemporal de riqueza, ou o regresso a casa de um membro da família que estava longe. Todas estas situações configuram a necessidade absoluta de festejar. Independentemente da proteína em jogo, a idade é o dado mais relevante no tocante à harmonização vínica. Tendencialmente, são apostas mais felizes os vinhos com pouca ou nenhuma madeira, a menos de algum pormenor de processamento culinário que faça toda a diferença. Sabemos contudo que não é assim. Desempenha papel importante neste cenário um vinho jovem estreme da casta Castelão sem madeira.
Não há quem não goste de um bom cabrito assado. De norte a sul do país, faz-lhe bem as honras o vasto receituário ditado pela cozinha de pastor.
O borrego e seus muitos encantos
A vida ensinou-me bastante sobre criação de borregos, seu abate e ligações ideais da sua carne com vinho. Se no caso do cabrito a leitura tinha forçosamente de ser nacional, no tocante ao borrego, à excepção do prodigioso cordeiro de Miranda do Douro, a capital é estável e fica no Alentejo. São diversos os factores que apontam para esta evidência. As transumâncias longas e aturadas do gado ovino. A indústria distribuída do queijo. O aproveitamento da lã. E a resistência à intempérie. Isto além de outros factores que apontem claramente o ovino como a proteína mais capaz e vencedora. Tenho bem presentes aspectos históricos e patrimoniais que imortalizam o borrego como proteína preferencial. O seu ensopado tem importância fundadora e que perdura até aos dias de hoje. O desaparecido Manuel Fialho, com quem tive o imenso privilégio de conviver ao longo de vários anos, desenvolveu trabalho teórico de sistematização que jamais esquecerei. Aliás, trata-se mais de inquietações do que de sistematizações propriamente ditas. Quando estamos nos granitos frios do norte alentejano, é frequente encontrarmos património micológico muito relevante na composição do ensopado de borrego. A utilização de batata é intermitente nessas latitudes, sendo bastante frequente a castanha, que ainda hoje se encontra, a par da já mencionada utilização de cogumelos nativos. Descemos na geografia para Évora e damos com um ensopado de borrego que contém normalmente batata e ervilhas e disponibiliza caldo abundante, pelo que é frequentemente consumido com uma colher de sopa. As partes de carne e respectivos ossículos são explorados à mão. Quando chegamos a Serpa, capital da maior transumância ovina nacional, constatamos que não há batata nem ervilhas na composição do ensopado. Estamos perante um caldo rico orlado de bom pão alentejano, selecção rigorosa das peças cortadas para o ensopado e utilização de poejo e hortelã da ribeira como temperos fundamentais. Do ponto de vista da harmonização com vinho, há bondade na aproximação a tintos de Alicante Bouschet encorpados com estágio longo em madeira. O ensopado que situei em Évora constitui, contudo, excepção. Nesse caso, a batata e as ervilhas levam facilmente a que a harmonização ideal seja com um vinho branco jovem de Arinto e Fernão Pires, com algum estágio em madeira.
Há muitas verdades no assunto da ligação de vinho com comida, como todos sabemos e facilmente aceitamos. Trago aqui agora uma curiosidade culinária que para mim se tornou sacramental. Trata-se da perna de borrego assada com dois dentes de cravinho apenas, que aprendi a fazer com o gigante Gabriel Fialho. Vale a pena reconstituir a cena. Estou sentado na sala de entrada do restaurante Fialho, em Évora, onde Gabriel Fialho oficiava à frente da cozinha. A sua personalidade natural era de grande empatia com toda a gente. Quem o conheceu sabe como era assim. De repente, eis que entra na sala onde eu estava, com uma colher de sopa e uma mão por debaixo, em concha. Vem direito a mim e diz-me para abrir a boca. Era um molho, que logo me descreveu como sendo resultante de assar uma perna de borrego apenas com dois dentes de cravinho. Sentou-se à minha frente, sem conseguir esconder a excitação quase infantil que o animava naquele momento. O cravinho era espetado em dois pontos específicos que ele me indicou. Memorizei tudo o que me disse. Estão quase a cumprir-se doze anos desde que deixou a esfera do chão, há-de estar a deleitar os seus pares com as suas muitas perplexidades. A verdade é que nunca mais voltei a assar borrego que não fosse com aquele toque minimalista. Sete horas a 70 graus, a peça totalmente envolta em papel de alumínio. A melhor harmonização a que cheguei foi com Jaen de Oliveira do Conde, da região do Dão, sem qualquer contacto com madeira.
O universo culinário do cabrito, sendo bastante mais linear do que o do borrego, foi contudo o que mais me surpreendeu. Aconteceu numa das muitas deslocações ao Douro, no pino do Verão, a propósito de um evento ibérico. Houve uma prova num hotel perto, a que se seguiu um jantar na Quinta do Panascal. Fomos de barco até lá, e a noite estava igual ao dia que nos tinha calhado. O xisto ardente não deixava a temperatura descer. O meu carro tinha marcado 51ºC nessa tarde. Dois colegas espanhóis foram de urgência para o hospital.
Subimos até à balaustrada superior, que foi onde foi servido o jantar. Soprava uma ligeira aragem. Foi servido um vinho branco e tudo começou a assentar. Eis senão quando é servido o jantar, que era cabrito assado em forno a lenha. Desenhou-se ali mesmo uma espécie de antologia pantagruélica que nada nem ninguém podia ter imaginado. O cabrito e o Douro têm uma longa história conjunta, recheada de curiosidades e perplexidades. Aquele foi o melhor cabrito da minha vida, brilhantemente harmonizado com um estreme de Tinta Amarela do Baixo Corgo. O momento foi de esmagadora sublimidade. Ao mesmo tempo perdura na memória. Tudo o resto se desvaneceu volvidos estão mais de vinte anos. Foi a primeira vez que me dei conta da importância de voltar várias vezes a um mesmo prato para melhor o entender e melhorar. Inclui, naturalmente, o vinho. Foi também essa a primeira vez que verdadeiramente me apercebi da grandeza do cabrito à mesa. Tinha a vitela assada como emblema duriense, passei a dar a posição cimeira ao cabrito.
A importância da criatividade
Numa outra instância calhou-me a função de convidador no encontro anual de amigos na Quinta de Carvalhais, no coração do Dão. Organizado por Manuel Vieira, ainda nos seus tempos de enólogo da Sogrape, desafiava à vez. Depois, o indigitado tratava de reunir o grupo que nesse ano iria protagonizar os “Desafios de Carvalhais”. Convidei o chef Nuno Santos, do restaurante Puttanesca, em Leiria, para tratar do almoço. Com o seu temperamento border line, dado à extravagância culinária mas sempre genial, era difícil fazer uma ideia do que se iria passar. Decidiu fazer o seu cabrito, porventura a mais minimalista forma de cozinhar o dito que até hoje me foi dado provar. Levou também miudezas de cabrito, que transformou com mestria em petiscos deliciosos. O segredo principal daquele almoço esteve na não intervenção, permitindo que sabores originais fossem até ao fim da linha para nosso grande deleite. Memorável foi também a harmonização com Alfrocheiro do Dão com estágio em barrica. Esse almoço ainda hoje é recordado com carinho. Eventos como esse são raros hoje em dia e fazem muita falta pelo poder congregador que representam.
Das muitas graças que a carne de caprino tem, há um prato que venero. É a chanfana, que abunda na Beira Baixa e se faz por todo o país. Sempre que visito um restaurante e há chanfana, é a ela que dedico a maioria da minha atenção. A carne que lhe está na base é de cabra velha, e é cozida em caçoilas de barro. As melhores são as que são feitas com todo o tempo do mundo e “esquecidas” no forno a lenha, ficando de um dia para o outro nas brasas mortiças. Há que selecionar bem as peças que se introduzem no recipiente de cozedura e a banha que se utiliza é crucial. Um tinto de Portalegre com bastante madeira é quase sempre a minha escolha para a assessoria vínica, mas as hipóteses são ilimitadas. Gosto muito de frequentar as criações do chef Ricardo Costa, do Yeatman, no Porto. Fiel às suas raízes, inclui a chanfana em diversas preparações nos seus menus de degustação. Depura-a ao ponto de se tratar de uma criação de alta cozinha, o que significa olhar para aspectos como a digestibilidade e expressão de terroir. A cozinha tradicional portuguesa é sobretudo um matizado de cozinhas regionais e por isso a chanfana está presente em todos os pequenos recantos de Portugal. Espera-se dos chefs de primeira linha que inovem nas preparações de sempre e na cozinha dos seus avós.
(Artigo publicado na edição de Maio de 2025)
BARCOS WINES: Um Loureiro muito especial

Presentes no nosso País desde o século XIX, as acácias foram trazidas para Portugal como espécies ornamentais pela beleza da sua floração, destacando-se pelas suas flores amarelas de tom vivo, assim como pelo valor da madeira e dos taninos da casca, tradicionalmente usados no curtimento de peles. A sua madeira é muito resistente, durável e […]
Presentes no nosso País desde o século XIX, as acácias foram trazidas para Portugal como espécies ornamentais pela beleza da sua floração, destacando-se pelas suas flores amarelas de tom vivo, assim como pelo valor da madeira e dos taninos da casca, tradicionalmente usados no curtimento de peles. A sua madeira é muito resistente, durável e possui elevada quantidade de resina, tendo sido usada por diferentes culturas para produzir vários produto e sendo hoje amplamente utilizada para variadíssimos tipos de propósitos, incluindo mobiliário, utensílios de cozinha, construção de canoas e outros barcos, instrumentos musicais e, claro está, barricas para vinho.
No terroir único da sub-região do Lima, no Alto Minho, região dos Vinhos Verdes, o vale do Rio Lima é o território de excelência para a produção de vinhos brancos da casta Loureiro, situando-se entre os concelhos de Arcos de Valdevez e Ponte da Barca. É uma zona com enorme influência dos ventos marítimos do Atlântico, devido à sua proximidade do mar (cerca de 40 km), com elevados níveis de precipitação durante o período de crescimento e solos graníticos e férteis. As temperaturas elevadas e índices significativos de humidade favorecem a maturação da uva, proporcionando vinhos frutados, de moderada graduação alcoólica, aroma delicado, mineralidade e frescura.
Desde 1963 que a Adega Cooperativa de Ponte da Barca e Arcos de Valdevez cuida de um património único em todo o mundo, localizado no coração da região dos Vinhos Verdes, um território com mais de 2000 anos de história de viticultura. Da junção de dois dos seus nomes resultou “Barcos Wines”, empresa que continua a produzir os seus vinhos num modelo de cooperativa, com forte compromisso com a comunidade e mantendo vivas as raízes e tradições das terras a que pertence. Num território dominado pelo minifúndio, a Adega possui cerca de 800 associados, que representam 900 hectares de vinha em produção de uva, sendo que a média por agricultor não ultrapassa o hectare e meio.
José Antas Oliveira é o enólogo e director geral da Barcos Wines que, nos dias de hoje, representa 6,5 milhões de unidades vendidas, entre vinho engarrafado e Vinho Verde certificado em lata, agora que a região dos Vinhos Verdes entendeu a importância destes novos formatos e criou uma regulamentação específica para os acomodar, numa demonstração de pioneirismo e visão.
No terroir único da sub-região do Lima, no Alto Minho, região dos Vinhos Verdes, o vale do Rio Lima é o território de excelência para a produção de vinhos brancos da casta Loureiro
O Loureiro e a acácia
A Loureiro é uma das castas portuguesas com maior carácter floral. Elegante e aromática, produz vinhos de cor citrina e lembra, muitas vezes, flor de laranjeira, rosas e frésias, fruta citrina, limão principalmente, sempre com excelente acidez. E porquê a madeira de acácia? Neste caso a proveniente de florestas do Norte de França realça a fruta nos vinhos brancos, conferindo-lhes maior cremosidade e redondez, sem os taninos mais marcantes ou as nuances fumadas do carvalho, referiram Bruno Almeida e Patrícia Pereira, director de Marketing e directora de Qualidade da Barcos Wines. Um Loureiro que estagia em carvalho adopta “um perfil elegante, mineral e repleto de sabor, onde as leves notas de carvalho abraçam os aromas cítricos e florais da casta”, e, neste vinho, aporta “delicados aromas de especiarias e eleva a pureza dos aromas florais e cítricos da casta Loureiro, respeitando a sua essência e enriquecendo-a com maior complexidade e elegância”, acentuam. E foi assim que, em Lisboa, no espaço multicultural, charmosamente decadente, da antiga Fábrica de Pólvora do Braço de Prata, nos foi apresentado o vinho Acácia, da Barcos Wines.
Mas as coisas começam-se pelo princípio, ou pelo menos assim deve ser, e, nesse dia, começaram com o espumante Loureiro, feito pelo método Charmat (a segunda fermentação é feita em grandes tanques de aço inox em vez de ser em garrafa, como no método tradicional), um espumante jovial e frutado, de perfil cítrico, bolha fina e mousse suave, com acidez viva, seco e bem saboroso. É de salientar que a categoria espumante representa entre 20 a 30 mil garrafas de venda anual. Um número bastante considerável, portanto.
De seguida percorremos os varietais de Loureiro do universo Barcos Wines, desde o Loureiro Premium 2023, um vinho fresco, tenso e seco, onde a doçura não tem lugar, o Reserva dos Sócios 2018, vívido e envolvente, com elegantes notas da barrica de carvalho, o “vinho do Zé” (Zé Inconformado 25 anos, de 2021), sempre um destaque, um vinho bem estruturado com aromas de fruta de caroço, mel e baunilha, boa mineralidade e acidez, e o Inusitado 2021, um branco de curtimenta fermentado com as películas, seguido de um estágio em madeira de castanho, pleno de identidade, rico, sério e suculento. E eis-nos chegados à nova coqueluche da Adega, o Acácia Loureiro 2022, aquele que “(…) pode muito bem ser o nosso melhor Loureiro de sempre…”!, nas entusiásticas palavras dos seus responsáveis.
Estágio sobre “lias”
O estágio antes do engarrafamento, ou a ausência dele, é sobremaneira decisivo para moldar o perfil final de um vinho. Mais até do que a sua duração, é o material escolhido – madeira, cimento ou inox –, e o formato do recipiente – barrica, ânfora, ovo ou cuba –, assim como o seu tamanho, que, aliados ao terroir de origem, mais impactam e conferem ao vinho a sua identidade única.
Acresce que se o vinho estagiar sobre borras finas, ou, à francesa, sur lies, aumenta a sua complexidade aromática e, sobretudo, a sua estrutura e untuosidade em boca.
As borras finas, para o leitor menos familiarizado com estas terminologias, são agentes naturais do vinho, leveduras que se depositam no fundo da barrica durante o estágio, mas que são regularmente trazidas à suspensão através de diferentes técnicas como revolver o vinho com um bastão, por exemplo, para que as ditas borras finas aumentem o seu contacto com o vinho e, assim, lhe confiram maior complexidade, produzindo um importante melhoramento sensorial através de um aumento de gordura, suavidade e volume.
Já cantava a saudosa Amália Rodrigues para nos deixarmos de francesismos em “Lisboa, não sejas francesa…”, e, desta feita, com a língua de Camões a não ajudar lá muito com a expressão “borras” (finas), optou-se pela inscrição no rótulo do Acácia “Sobre Lias”, afinal a Galiza é logo ali, e é praticamente uma extensão natural de Portugal, e da região do Minho em especial.
E ficou muito bem assim, diga-se.
No Acácia Loureiro, as uvas sofreram maceração pelicular e o vinho acabou de fermentar e depois estagiou 12 meses sobre lias, em barricas novas de madeira de acácia (uma barrica de 225 l de acácia e um barrica de 400 l de carvalho francês com tampos de acácia). Foram engarrafadas 795 garrafas numeradas, que repousaram durante 18 meses antes de serem lançadas para o mercado. Belos tempos, dinâmicos e ousados vive a casta Loureiro lá para as bandas do Minho nestes dias. Brindemos, pois!
(Artigo publicado na edição de Maio de 2025)
Enoturismo: AdegaMãe

Ao longo das encostas suaves que descem em direção ao Atlântico, a região vitivinícola de Lisboa desenha-se como um corpo vivo que respira tradição, resistência e renovação. Aqui, onde o vento salgado do mar encontra as vinhas que se estendem como veias pela terra, o vinho não é apenas “bebida” – é memória líquida, um […]
Ao longo das encostas suaves que descem em direção ao Atlântico, a região vitivinícola de Lisboa desenha-se como um corpo vivo que respira tradição, resistência e renovação. Aqui, onde o vento salgado do mar encontra as vinhas que se estendem como veias pela terra, o vinho não é apenas “bebida” – é memória líquida, um gesto ancestral que persiste contra o tempo.
A região de Lisboa é uma joia que se revela em silêncios e detalhes. São nove as denominações de origem que compõem o mosaico vitivinícola — de Colares, com as suas vinhas rasteiras fincadas na areia e protegidas dos ventos marítimos por caniçais, a Bucelas, berço dos brancos vibrantes de Arinto, que já encantavam a corte inglesa nos tempos de Shakespeare.
Cada sub-região traz consigo um relato próprio, como se o vinho fosse um conto narrado pela boca da terra. Em Óbidos e Alenquer, o clima ameno e a diversidade de solos dão origem a tintos robustos e aromáticos. Já em Torres Vedras e Lourinhã, o legado se expande para além do vinho, com a produção de aguardente vínica certificada — uma raridade europeia que acrescenta camadas à identidade líquida da região.
Mas talvez o mais fascinante desta região esteja na sua capacidade de se manter fiel à essência, mesmo em tempos de globalização enológica. Há aqui uma filosofia implícita de resistência – preservar castas autóctones como a Ramisco ou a Vital é, ao mesmo tempo, um ato político e poético. Significa acreditar que o terroir — essa aliança mística entre solo, clima e mão humana — carrega uma verdade que não pode ser reproduzida em laboratório.
Ao percorrer as vinhas de Lisboa, o visitante atento não encontrará apenas belas paisagens ou vinhos bem pontuados. Encontrará, antes, um diálogo entre passado e futuro, entre natureza e cultura. Porque fazer vinho, aqui, é escutar o rumor da história que se infiltra no presente. É cultivar o tempo, como escreveu o filósofo Gaston Bachelard, e engarrafá-lo com a paciência de quem sabe que a pressa é inimiga da profundidade.
A região vitivinícola de Lisboa é, portanto, mais do que um território de produção: é um lugar de reflexão. Um espelho onde se pode ver o que somos — um povo que transforma adversidade em arte, que sabe colher beleza do chão árido, e que, entre goles e silêncios, ainda reconhece no vinho uma forma de dizer o indizível.
As nove faces de um terroir…
A Região Vitivinícola de Lisboa ergue-se como um corredor de memórias e ventos atlânticos, onde a vinha floresce entre brumas e colinas. Não é apenas um conjunto de nomes geográficos, mas uma constelação de identidades, cada qual com o seu caráter, a sua história, a sua filosofia líquida.
Alenquer, por exemplo, respira um classicismo aristocrático. As vinhas abraçadas pelas encostas da Serra de Montejunto criam tintos encorpados, de taninos firmes e alma quente, quase como se a terra ali tivesse memória de sangue e batalhas. Aqui, o vinho é um discurso sério, uma carta escrita à mão, com tinta escura e caligrafia firme.
Arruda dos Vinhos, mais discreta, é como um poema sussurrado. A sua localização mais interior afasta-a da influência direta do Atlântico, permitindo uma maturação mais calma das uvas. Os vinhos que nascem ali são equilibrados, de estrutura média, como quem sabe contar histórias sem levantar a voz — há uma elegância contida, uma sobriedade que conforta.
Já Bucelas, a norte de Lisboa, é um caso à parte. Conhecida desde os tempos romanos, foi exaltada por Shakespeare e Napoleão. É a terra do Arinto, casta que aqui atinge um fulgor quase metafísico. Os vinhos de Bucelas são como aforismos de Nietzsche: acidez cortante, frescura estonteante, longevidade quase eterna. É o vinho que pensa, que filosofa, que guarda silêncio com densidade.
Carcavelos, uma DOC quase desaparecida, é um suspiro do passado que resiste ao esquecimento. Entre o urbano e o litoral, entre o betão e a brisa, os vinhos fortificados de Carcavelos são feitos com a paciência do tempo. Doce, complexo, enigmático — como um manuscrito antigo resgatado das cinzas da modernidade.
Colares é, talvez, a mais heroica das denominações. As vinhas sobrevivem enterradas na areia, próximas do mar bravo, plantadas em pé franco, como quem desafia a lógica e a filoxera. Os tintos, feitos com Ramisco, são vinhos de tempo e temperamento, austeros e salinos, como um fado gravado em vinil gasto. Os brancos, por sua vez, têm a luz do Atlântico e a alma da resistência. Colares é um manifesto existencial.
Encostas d’Aire, partilhada com a região do Centro, é a transição, o limiar. Os vinhos que aqui nascem espelham essa condição: há diversidade, há contrastes, há a beleza dos lugares que não se deixam definir por uma só palavra. São vinhos que nos lembram que a identidade pode ser múltipla sem perder a essência.
Lourinhã, curiosamente, é uma DOC dedicada apenas à aguardente vínica. É uma exceção no país e uma ode à destilação como alquimia. A aguardente de Lourinhã é o espírito depurado da vinha — literal e metaforicamente. É o vapor transformado em ouro, é a filosofia líquida levada ao extremo: essência sem corpo, fogo sem labareda.
Óbidos revela outra face deste mosaico. Com influências atlânticas e uma tradição agrícola viva, os vinhos de Óbidos têm frescura, vivacidade, um certo encanto campestre. Os brancos, em particular, são notas de piano em manhãs de nevoeiro, e os tintos, embora mais contidos, mantêm uma tensão elegante — como quem dança sem querer ser visto.
E por fim Torres Vedras é a força produtiva. Antigamente associada a vinhos de volume, hoje renasce com uma nova consciência. Aqui, o trabalho do homem é visível na reinvenção. A diversidade de castas e solos permite estilos distintos, desde os mais simples até os mais ambiciosos. É o lugar onde a tradição se encontra com o futuro, onde o vinho começa a filosofar sobre si mesmo.
Sabores sentidos … nos livros de História
Na região vitivinícola de Lisboa, a gastronomia tradicional revela-se como um eco do tempo. Entre vinhas que respiram brisas atlânticas e colinas e se entrelaçam com a história, a mesa é sempre um lugar sagrado. Em Alenquer, o cabrito assado dança com tintos robustos; em Bucelas, o Arinto encontra sua harmonia nas caldeiradas delicadas; em Colares, onde o chão de areia resiste ao esquecimento, o peixe fresco e o vinho envelhecido em casco invocam o espírito da resistência. Cada prato é um território e cada copo, um testemunho de culturas que não se apagam, de um saber que é mais do que técnica: é pertença. Num tempo que valoriza a velocidade, estes sabores pedem pausa e contemplação, como quem entende que comer é, também, lembrar-se de onde se vem.
Mas Torres Vedras, onde se localiza a AdegaMãe, não é apenas um nome marcado nos livros de História por batalhas e linhas defensivas — é também território onde a memória se senta à mesa. No ventre da região Oeste, entre colinas suaves e vinhas generosas, a gastronomia tradicional Torreense resiste ao tempo como um prato que nunca esfria. Comer aqui não é apenas nutrir o corpo, é um ato de pertença, uma conversa silenciosa com o passado.
A cozinha de Torres Vedras é feita de gestos herdados. Cada receita, por mais singela, carrega um fragmento de mundo antigo. As feijoadas ricas, os ensopados fumegantes, as sopas espessas e os doces conventuais falam em voz baixa sobre um tempo onde tudo era aproveitado. O bacalhau — presença quase litúrgica na mesa portuguesa — ganha aqui interpretações comedidas, onde a cebola se confunde com azeite até se tornar quase doçura.
Mas é nos sabores da terra que a alma se revela com mais nitidez. O pão ainda nasce dos fornos a lenha, com a crosta marcada pelo fumo e a miolo guardando o calor como um segredo. As couves, batatas e feijões vindos das hortas de quintais humildes não são apenas ingredientes, são testemunhos vivos de uma ligação entre homem e chão que não se deixou quebrar.
E depois há os doces, esse capítulo à parte. Os “pastelinhos de feijão”, herdeiros de tradições conventuais, são exemplo de como o açúcar pode ser uma forma de eternidade. Pequenos bolos de aparência modesta, mas com interior denso, perfumado, quase místico. Em cada dentada, uma monja anónima parece sorrir através dos séculos.
Num mundo onde a cozinha se rende à pressa e ao plástico, a gastronomia tradicional de Torres Vedras é um exercício de resistência filosófica. Ela recusa o efémero e celebra o duradouro. Alimentar-se, aqui, é uma forma de respeitar o tempo. E talvez seja isso que a filosofia da mesa torreense nos sussurra: que o verdadeiro luxo é o que permanece, o que se transmite, o que se partilha com vagar.
Entre o aroma do pão quente e o brilho do vinho local, a tradição gastronómica de Torres Vedras não é apenas algo que se saboreia, é algo que nos saboreia de volta, porque ao degustarmos os seus pratos, somos também degustados pela história. E, de alguma maneira, voltamos a ser inteiros.
Neste quadro quase que idílico passei ao lado da Capital Portuguesa numa “pressa” desenfreada para chegar à AdegaMãe, em Ventosa, Torres Vedras, para ver um edifício que não se impõe, mas que observa e convida a observar.
O Bacalhau foi o mote, o vinho a paixão
No coração da região Vitivinícola de Lisboa, entre os ventos atlânticos e os solos férteis de Torres Vedras, ergue-se a AdegaMãe, não apenas como um edifício de linhas modernas entre colinas ondulantes, mas como uma ideia encarnada: a de que o vinho pode ser um ponto de partida, um ventre simbólico onde tradição e inovação se encontram num mesmo gesto criador.
Fundada em 2011 pela família Alves — também fundadora do grupo Riberalves (o Bacalhau) —, a AdegaMãe nasceu de um sonho antigo de erguer uma adega que celebrasse a herança histórica da região, fortemente marcada pela cultura da vinha e do vinho.
Erguida pela família Alves, fundadora do Grupo Riberalves, a AdegaMãe nasce, também, como homenagem à matriarca, Manuela Alves. E é, ao mesmo tempo, a inspiração para um espaço de nascimento, de criação, no qual se pretende potenciar as melhores uvas e fazer nascer os melhores vinhos.
O nome não é acaso: “Mãe” evoca origem, cuidado, nutrição. Fazer vinho, aqui, é um ato quase maternal, que exige paciência, escuta e entrega. Não se trata apenas de transformar uva em líquido, mas de acompanhar um processo de maturação onde cada decisão — da vinha à cave — carrega o peso do tempo e o eco do futuro.
Desenhada pelo arquiteto Pedro Mateus, ela insere-se na paisagem sem a dominar, como se procurasse dialogar com a natureza ao invés de impor. A AdegaMãe nasce do solo com a mesma humildade que caracteriza as vinhas que a rodeiam. Com linhas retas e volumes depurados, a construção parece prolongar-se no espaço como uma contemplação silenciosa da paisagem. O betão, o vidro e o aço coexistem num equilíbrio discreto, quase monástico, como se a própria arquitetura respirasse ao ritmo das vinhas.
Mais do que um edifício funcional, trata-se de um espaço onde a técnica e a estética dialogam. A adega está orientada segundo os princípios da gravidade, respeitando o percurso natural do vinho, desde a receção da uva até ao estágio em barrica. Mas é no modo como o edifício se abre ao exterior que reside a sua poesia maior. As amplas superfícies envidraçadas revelam o vinhedo em todas as direções, como se a paisagem fosse parte integrante da experiência do visitante, do enólogo, do vinho.
Lá dentro, o silêncio impõe-se com a solenidade de um templo. A cave de barricas, mergulhada numa penumbra quase litúrgica, convida à introspeção. A fermentação, esse milagre da natureza guiado pela mão humana, é aqui tratada com a dignidade de um ritual. Há uma espécie de espiritualidade moderna no modo como a arquitetura da AdegaMãe acolhe os elementos — a luz, o tempo, o vinho.
No topo, a sala de provas abre-se ao infinito. Não há janelas, há molduras. O olhar percorre o vale, toca as serras ao longe, escuta o vento que chega do Atlântico que se perde por entre os corredores de vinha. Aqui, provar um vinho é mais do que um ato sensorial: é uma experiência existencial. Cada copo contém um território, cada aroma evoca uma estação, cada trago é memória e promessa.
A AdegaMãe é, portanto, mais do que um espaço de produção — é um lugar de encontro entre o homem e a terra, entre a técnica e o espírito. A arquitetura não serve apenas o vinho, serve a ideia de que a beleza também pode, e deve, estar presente no gesto produtivo. Que o vinho, sendo cultura, merece um lar que o celebre com a mesma nobreza com que nasce.
No plano técnico, a AdegaMãe representa uma nova geração de vinhos portugueses comprometida com a qualidade e a autenticidade, mas sem medo de experimentar. Aqui combinam-se castas autóctones, como a Touriga Nacional ou a Vital, com variedades internacionais como Chardonnay, Syrah e Pinot Noir, resultando em vinhos que respiram mundo sem perder o sotaque da terra. A influência atlântica, marcada por dias amenos, noites frescas e solos diversos, imprime aos vinhos uma frescura e elegância que os tornam distintos, quase meditativos, sob a orientação do enólogo Diogo Lopes. A arte da enologia atinge uma expressão rara de precisão e sensibilidade. O seu trabalho excecional traduz-se em vinhos que respeitam o território, revelando com elegância a frescura atlântica e a complexidade do terroir desta região. É dele a visão que conduz a AdegaMãe por um caminho de inovação sem desviar da autenticidade — uma alquimia de saber e paixão que se prova em cada copo.
Mas talvez o traço mais filosófico da AdegaMãe esteja na sua postura em relação ao tempo. Num mundo acelerado, ela cultiva a lentidão. Os seus vinhos pedem escuta, não pressa. Pedem presença. Cada garrafa é um convite à contemplação, à pausa, ao retorno a uma forma mais sensível de estar no mundo. Como escreveu Heidegger, “a origem é aquilo que nunca deixa de nascer” — e a cada vindima, a AdegaMãe recomeça esse parto simbólico, lembrando-nos que o essencial se cultiva devagar.
Mais do que um produtor de vinhos, a AdegaMãe é um espaço, um território de pensamento. Um lugar onde a técnica serve ao sentido, e o comércio se curva à cultura. É, sobretudo, um lembrete de que o vinho, quando feito com verdade, é uma forma de dizer aquilo que a linguagem não alcança: o sabor do tempo, o mistério da terra, e o gesto amoroso de quem transforma o fruto em permanência.
O enoturismo… sensorial e contemplativo
Um nome que mais parece sussurro de ancestralidade do que marca comercial. A sua proposta de enoturismo transcende o simples ato de degustar vinho. É uma viagem sensorial e meditativa pelos caminhos do tempo, da terra e da memória.
O enoturismo na AdegaMãe é pensado como uma travessia que conjuga o rigor técnico com uma rara sensibilidade estética. A paisagem que a acolhe é o preâmbulo perfeito para o que se vai viver ali dentro. Ao chegar, o visitante é recebido por uma arquitetura que se funde com o território — linhas modernas em diálogo com a rusticidade das vinhas antigas. Há uma serenidade quase monástica nos percursos propostos, como se cada passo fosse uma oferenda à paciência das videiras, que crescem ao ritmo da natureza e do silêncio.
A visita começa com a paisagem. Diante das vinhas, o olhar perde-se entre linhas de videiras que seguem o ritmo ondulante do solo, marcado pela influência marítima que imprime aos vinhos da região uma frescura identitária. O guia não se limita a descrever castas e técnicas — partilha o espírito do lugar, como se cada cepa fosse uma personagem numa narrativa coletiva, feita de geologia, clima e mãos humanas, metáfora viva da espera, do cuidado e da finitude.
O percurso segue para o interior da adega, onde se acede às áreas de vinificação. O espaço é funcional, mas carregado de simbolismo. Cubas de inox alinham-se como sentinelas silenciosas, onde o vinho começa a tomar forma — não apenas como bebida, mas como expressão sensorial de uma paisagem. Cada fase da produção é apresentada como um rito de passagem: da fermentação ao estágio, da espera ao engarrafamento. Aqui, o tempo não é inimigo, mas cúmplice. É neste espaço que se escuta o murmúrio do vinho a fermentar — um som discreto, mas carregado de promessas. Aqui não se trata o vinho como um produto, mas como um ser em metamorfose – vivo, mutável, sujeito ao capricho das estações e ao gesto do enólogo.

Luz contida e aromas lenhosos
Segue-se a sala de barricas, onde a luz é contida e o ar denso de aromas lenhosos. É um lugar que convida ao silêncio e à introspeção. O vinho, encerrado em madeira, parece meditar — ou sonhar. Quem percorre este espaço compreende que fazer vinho é, antes de tudo, um exercício de escuta. Escutar a uva, o ano, a madeira, o silêncio. Escutar, até que o vinho se revele.
A experiência culmina na sala de provas, realizada num espaço que se abre sobre o horizonte, onde a “linha do mar” se insinua entre vales. Cada copo oferece mais do que sabor: oferece um instante de contemplação. Os vinhos da AdegaMãe — brancos minerais, tintos elegantes, rosés subtis — são expressão de um terroir moldado pelo Atlântico, e de uma filosofia que alia ciência e alma. Provar é, aqui, uma forma de pensar. De estar presente.
Por fim, há ainda a loja e o espaço cultural, onde se contemplam garrafas com rótulos poéticos e se promovem eventos que cruzam arte, vinho e filosofia. Visitar este lugar é compreender que o enoturismo pode ser um ato de introspeção — e que beber um vinho, em silêncio, pode ser tão revelador quanto ler um poema ou contemplar a natureza. Provar é, aqui, uma forma de pensar. De estar presente.
Também, é possível almoçar ou jantar no restaurante “Sal na Adega” que combina a tradição culinária com a sofisticação dos vinhos atlânticos, criando uma experiência única para os amantes da boa mesa.
O restaurante destaca-se pela sua localização privilegiada, com uma vista deslumbrante sobre as vinhas que definem a paisagem da região. No menu, o bacalhau, ícone da cozinha portuguesa, assume um papel de destaque, acompanhado por outros produtos sazonais e locais, que refletem a riqueza da terra e do mar. A harmonização com os vinhos da AdegaMãe, conhecidos pela sua frescura e mineralidade, eleva cada prato a um novo patamar de sabor.
Além da experiência gastronómica, o “Sal na Adega” oferece um ambiente requintado e acolhedor, ideal para momentos especiais. O espaço inclui ainda um wine bar, onde os visitantes podem explorar os vinhos produzidos numa adega que não é um destino. É um intervalo no tempo onde o vinho serve de ponte entre o que somos e o que poderíamos ser. Onde o tempo desacelera, e onde o vinho — tal como a Mãe — nutre, guarda e devolve ao mundo algo mais inteiro.
O autor deste texto escreve segundo o novo acordo ortográfico
Caderno de visita
COMODIDADES
– Línguas faladas: português, inglês e espanhol
– Loja de vinhos: Sim
– Restaurante com lugar para 56 pessoas
– Bar com 16 lugares
– Sala de eventos para 120 pessoas
– Duas salas de reuniões
– Diferentes atividades e refeições (sob consulta)
– Parque para automóveis ligeiros: 50 Lugares
– Parque para autocarros
– Posto de carregamento de carros elétricos: Não tem
– Provas comentadas (ver programas)
– Wifi gratuito disponível
– Visita às vinhas
– Visita à Adega
EVENTOS
Eventos corporativos (sob consulta)
Atividades team building: ações como provas de vinho e atividades como Winemaker for a day, a 80 €.
PROGRAMAS
Horários das visitas (sujeitos a confirmação de disponibilidade): 10h30, 12h00, 14h30, 16h00 e 18h30 (Esta é apenas realizada em dias de jantar).
Visita sem prova – 10€/pessoa
Duração: 30 a 40 minutos
Provas
Duração: 30 minutos
AdegaMãe Bronze – 18€/pessoa
Três vinhos: Dory Branco, Dory Tinto, AdegaMãe Reserva Tinto
AdegaMãe Silver – 25€/pessoa
Seis vinhos: Dory Branco, Dory Tinto, um Monocasta Branco, um Monocasta Tinto, AdegaMãe Reserva Branco, AdegaMãe Reserva Tinto
AdegaMãe Gold – 45€/pessoa
12 vinhos: Dois Dory colheita, um Bio ou Palhete, quatro Monocastas, dois AdegaMãe Reserva, um Espumante AdegaMãe 221, um Vinho de Parcela
AdegaMãe Special Editions – 65€/pessoa
Seis vinhos: Um Espumante Rosé, três Vinhos de Parcela, dois AdegaMãe Terroir
PROVAS GASTRONÓMICAS
(Visita guiada incluída/Mínimo duas pessoas)
Harmonização petiscos – 60€/pessoa
Seis vinhos e quatro petiscos. Duração: 90 minutos.
Harmonização Sal na Adega – 85€/pessoa
Seis vinhos e quatro momentos.
Brunch – 50€/pessoa
Várias iguarias e quatro vinhos. Duração: 90 minutos.
CONTACTOS
AdegaMãe
Estrada Municipal 554, Fernandinho
2565-841 Ventosa
Site: www.adegamae.pt
Email: geral@adegamae.pt
Tel.: +351 261 950 100
Restaurante e Enoturismo
Email: enoturismo@adegamae.pt
Tel.: +351 261 950 105
(Artigo publicado na edição de Maio de 2025)