Maria de Lourdes Modesto: O adeus a uma grande senhora

Créditos de foto: Monocle / Rodrigo Cardoso Apesar da idade avançada, a morte de Maria de Lourdes Modesto apanhou-me de surpresa. É sempre triste quando parte alguém com quem tivemos uma relação de amizade. Como tantos outros aficionados, conheci a Maria de Lourdes Modesto pelos seus programas de TV e sobretudo pelos seus livros. Fiquei […]
Créditos de foto: Monocle / Rodrigo Cardoso
Apesar da idade avançada, a morte de Maria de Lourdes Modesto apanhou-me de surpresa. É sempre triste quando parte alguém com quem tivemos uma relação de amizade. Como tantos outros aficionados, conheci a Maria de Lourdes Modesto pelos seus programas de TV e sobretudo pelos seus livros. Fiquei muito contente quando, em anos recentes, tivemos oportunidade de privar bons momentos, em sua casa, à volta de um chá e do bolo que sempre preparava para acompanhar o lanche. Sempre curiosa e atenta, nunca deixou que a idade lhe retirasse o gosto pelos livros, pelas coisas boas e novas que a culinária moderna foi trazendo. Gostava com entusiasmo mas, quando entendia, criticava as modernices sem sentido a que assistia e a mistura de conceitos que grassavam nos críticos de formação apressada que com ela se foram cruzando. Sempre disponível para participar em eventos e acções de promoção da gastronomia, sempre atenta ao que faziam os novos Chefes que, diga-se, lhe reconheciam a inspiração e a amizade sempre renovada. Foi a grande senhora da gastronomia portuguesa e serão poucas todas as homenagens que lhe forem prestadas. Fica a herança, o saber e a inspiração.
Obrigado Maria de Lourdes, foi para mim uma honra ter privado consigo tão agradáveis momentos. Até sempre!
João Paulo Martins
Grande Prova: Beira Interior 2.0

Brancos e tintos desafiantes A Beira Interior está em constante mudança, com o solidificar e desenvolver de projectos clássicos e bem-sucedidos e o surgir de outros que vêm trazer ainda mais dinamismo e competitividade. Nesta prova, percorremos os brancos e tintos bem diferenciadores de uma região com antigas tradições de vinha e de vinho, onde […]
Brancos e tintos desafiantes
A Beira Interior está em constante mudança, com o solidificar e desenvolver de projectos clássicos e bem-sucedidos e o surgir de outros que vêm trazer ainda mais dinamismo e competitividade. Nesta prova, percorremos os brancos e tintos bem diferenciadores de uma região com antigas tradições de vinha e de vinho, onde o carácter, a frescura e a elegância são denominador comum.
Texto: Valéria Zeferino
Fotos: Ricardo Palma Veiga
A tradição vitivinícola antiga na Beira Interior remonta à época romana, sendo oficialmente demarcada em 1999. Há alguns anos falámos no despertar da Beira Interior, quando surgiram projectos novos a inspirados pelos entusiastas, alguns com raízes na região, outros vindos de fora dela. Enólogos conhecidos, como Virgílio Loureiro, Anselmo Mendes, Rui Madeira, Rui Reguinga ou Patrícia Santos, trouxeram o seu conhecimento, elevaram a qualidade dos vinhos e deram credibilidade à região. O consumidor também despertou, (re)descobrindo uma região antiga na sua versão 2.0 com identidade própria que privilegia frescura e elegância.
Hoje, a região produz mais de 3 milhões de garrafas, apostando cada vez mais na exportação. Nos últimos dois anos a exportação duplicou chegando a 40% de produção. Os principais mercados neste momento são Brasil, Letónia, USA, Canadá, Dinamarca, Bélgica e Holanda, de acordo com os dados da CVRBI. Esta entidade certificadora também assume um papel de promotora da região, apostando fortemente no enoturismo e na internacionalização dos seus vinhos, trazendo potenciais importadores à região através das missões inversas. Nos últimos dois anos foi criada a Rota dos Vinhos da Beira Interior que pretende atrair cada vez mais pessoas ao interior. Até porque a oferta enogastronómica e cultural dentro da região é grande. E não podemos esquecer que das 12 aldeias históricas de Portugal, 11 ficam na Beira Interior.
Identidade geográfica
A altitude, a continentalidade e os solos pobres moldam as condições edafo-climáticas da Beira Interior. A região estende-se do vale do Douro e Trás-os-Montes no norte ao rio Tejo no sul. Faz fronteira com a Espanha e é separada da Beira Litoral pelas várias formações montanhosas: Serra da Estrela, do Açor, Gardunha e Lousã, que cortam a influência atlântica, deixando o clima mais seco, com maior amplitude térmica diária e anual.
A continentalidade manifesta-se pelos invernos rigorosos e frios, temperaturas negativas e neve frequente e pelos verões curtos, mas quentes e secos, com muitas horas de sol. A amplitude também ameniza os extremos de temperatura no pico de Verão. As noites frescas criam condições importantes para maturações mais homogéneas e retenção da acidez que mais tarde se traduz na frescura dos vinhos produzidos.
As montanhas e planaltos elevam as vinhas à altitude de 300 a 700 metros, amenizando as temperaturas médias, pois a temperatura baixa 0,6˚C por cada 100 metros.
Os solos são pobres em matéria orgânica e bem drenados, de origem maioritariamente granítica, mas também xistosa em zonas de transição para o Douro, com filões de quartzo e alguma ascendência arenosa.
Existem três sub-regiões, que antes da criação de denominação de origem em 1999, eram três regiões separadas: Pinhel, Castelo Rodrigo e Cova da Beira.
A sub-região de Pinhel com altitude média de 650 metros fica a norte da Guarda e estende-se até Mêda e à serra da Marofa. A sub-região do Castelo Rodrigo está praticamente colada à de Pinhel, tendo como a linha de separação o rio Côa e uma estrutura montanhosa. Caracteriza-se pelos planaltos a 600 e 750 m de altitude. Ambas as sub-regiões são secas, com precipitação anual raramente a ultrapassar os 500 mm e com grandes amplitudes térmicas.
A Cova da Beira situa-se na zona sul da região, sendo limitada, a Norte, pelas serras da Estrela, Gardunha e Malcata e a sul, pela bacia hidrográfica do Tejo, onde o clima já tem alguma influência mediterrânica. É a sub-região mais extensa da Beira Interior, onde dá para distinguir duas zonas com características um pouco diferentes. Uma mais a Norte, entre as Serras da Gardunha e da Serra, à volta do Fundão e da Covilhã, com a precipitação a variar muito (de 600 a 1.800 mm por ano) em função do relevo. Outra, a Sul da Serra da Gardunha, com temperaturas mais elevadas e de precipitação a rondar os 500-700 mm. Aqui o clima apresenta semelhanças com o Alentejo.
A vindima entre a Cova da Beira e Pinhel pode começar com três semanas de diferença. As geadas de primavera são problemáticas na maior parte da região. Como diz Pedro Carvalho, da Quinta dos Termos, “geada há sempre, a dúvida é se será muita ou pouca”. Por isto as podas são mais tardias, às vezes são feitas em Abril para os abrolhamentos serem mais tarde, não prejudicando a produção em caso de geada.
Castas com carácter
De acordo com os dados do IVV, houve uma diminuição em termos de área plantada nos últimos anos (de 15110 ha para 13874 ha), provavelmente devido ao abandono da vinha e a algum arranque para plantação de outras culturas. Mesmo que 75% da vinha não tenha DOP/IGP, a área de vinha para vinhos certificados como DOP e IGP aumentou bastante, o que é uma dinâmica muito positiva.
As castas mais plantadas na Beira Interior, segundo o IVV, são Rufete e Siria representando 16,2% e 15,6% da área plantada, respectivamente. O Aragonez também tem uma grande presença na região ocupando 14,5% da vinha.
As primeiras duas castas existiam antes da filoxera, variando um pouco entre as zonas, e expressam mais a região, mas na maior parte dos vinhos entram em lotes. Outras castas antigas são Fonte Cal, Malvasia, Gouveio, Rabigato e Folgasão, nas brancas e Marufo, Bastardo, Tinta Francisca, Donzelinho, entre castas tintas. Com o passar do tempo e novas tendências o encepamento mudou e hoje encontramos na região as castas nacionais de outras regiões (Touriga Nacional, Tinta Roriz, Touriga Franca, por exemplo) e estrangeiras como a Chardonnay, Cabernet Sauvignon, Syrah e Merlot. Até Sangiovese e Nebbiolo foram plantadas pela Quinta dos Termos a título de experiência.
A casta Rufete, também é conhecida como Tinta Pinheira no Dão e encontra-se em pouca quantidade noutras regiões, ocupando 2% de encepamento do país. Produz imenso, diz o produtor José Afonso, das Casas Altas. Tirando isto, na sua opinião, é bem amiga do viticultor. Antigamente, quando chovia mais no Outono, verificavam-se problemas de podridão a que a casta é sensível, ultimamente nem isto. Na adega tem tendência para aromas um pouco reduzidos, pelo que convém transfegar logo quando acaba a fermentação.
Pela sua grande produtividade, o Rufete ganhou alcunha de “pai dos pobres”. Nas adegas cooperativas chegava a produzir até 20 tn/ha, perdendo completamente a sua identidade e imagem, e nos anos 80-90 acabou por ser renegada na sua terra natal. O proprietário da Quinta dos Termos, João Carvalho, contou uma vez que em algumas adegas cooperativas até nem se aceitavam novos sócios com muito Rufete, dando preferência a outras castas.
O Rufete origina vinhos de grau alcoólico contido, com pouco tanino, cor aberta e acidez média. Plantada nos sítios certos, em solos pobres, com produções controladas a não ultrapassar 6-7 tn/ha, produz vinhos sérios, mas delicados, com frescura e carácter próprio.
A enóloga e produtora Patrícia Santos (Rosa da Mata), refere que, em termos aromáticos, Rufete tem bastante fruta, mas é delicada, nada de excessos. Tem bastante acidez e evolui bem em barrica.
É sempre uma óptima alternativa a vinhos mais extraídos, carnudos e tánicos que são cada vez mais apreciados pelos enófilos, mas nem sempre a cor mais aberta do Rufete é entendida pelo consumidor geral. José Afonso explica que vende os vinhos de Rufete mais aos conhecedores e hotelaria de luxo do que ao consumidor menos informado, embora as pessoas mais antigas da região, que entendiam o vinho como parte da alimentação, aceitassem bem a cor menos intensa.
A casta Síria no nosso país responde por muitos nomes: Roupeiro no Alentejo e Códega no Douro, são os sinónimos oficiais. Para além disto é conhecida como Alvadourão ou Alvadurão no Dão, Malvasia Grossa e Dona Branca em Bucelas e Crato Branco no Algarve. Até na Beira Interior, na zona de Belmonte, e em Portalegre, usava o sinónimo de Alva. Como vemos é bastante comum em várias regiões e ocupa 3% do encepamento nacional. Mas é na Beira Interior que a casta se destaca pela maior frescura e aromas menos terpênicos, mais delicados e focados, mas que duram mais tempo no envelhecimento em garrafa. Segundo Patrícia Santos, a Síria é uma casta muito versátil e expressa de forma identificativa não só a região da Beira Interior, como também cada sub-região. Na zona de Castelo Branco demonstra mais perfume, mas consegue manter a frescura; na zona de Pinhel é mais discreta, mais selecta; na zona de Figueira é um compromisso entre as outras duas.
A Fonte Cal é uma casta originária da zona de Pinhel e praticamente só existe na Beira Interior, sobretudo nos encepamentos antigos. Representa menos de 1% do encepamento da região, mas encontra-se principalmente em vinhas velhas onde existe uma mistura de muitas castas e por isto não se encontra identificada pelo IVV como Fonte Cal. É uma casta vigorosa, mas não muito produtiva. Precisa de mais tempo para amadurecer do que a Síria, mas perde rapidamente a acidez, pelo que a janela de vindima é muito pequena. Por esta razão entrava sempre nos lotes com Síria ou Arinto com mais nervo.
Patrícia Santos refere que na adega a Fonte Cal também não é fácil. Tem tendência para oxidar e perde aromas rapidamente. Como se não bastasse, apresenta instabilidade em termos de tartaratos de cálcio e tem tendência para o pinking (um fenómeno oxidativo do vinho branco, dando origem a uma evolução da cor para um tom cinzento-rosado). A verdade é que continuam a existir muito poucos vinhos monovarietais de Fonte Cal.
Algumas castas antigas da região são pouco conhecidas hoje em dia e trazem alguma polémica quanto à sua origem. E o caso da Callum, vinificada em extreme pela Quinta dos Termos. As opiniões dividem-se e nem os especialistas chegam a um consenso: uns dizem que é uma das castas antigas na zona que era chamada Pinhal Interior, enquanto existe possibilidade de ser a mesma casta chamada Batoca na região de Vinhos Verdes. Também foi referenciada nos distritos de Aveiro, Leiria, Vila Real e Bragança, com os nomes de Sedouro ou Alvaraça. Mas independentemente da sua origem, não há dúvidas que a casta teve sempre presença naquela zona da Beira Interior. Antes da filoxera entrava nos encepamentos de Sertã, Covilhã e Belmonte. O produtor e enólogo Pedro Carvalho conta que Callum já era autorizada para produção de vinhos na antiga Cova da Beira ainda antes de criação da denominação de origem.
Tudo começou quando a Quinta dos Termos adquiriu em 2015 outra propriedade – Herdade de Lousial, onde plantou nos cerca de 2 hectares 92 clones de Callum, provenientes de zonas distintas do pais, incluindo o Minho. Fizeram-se cerca de 1200 garrafas de um vinho único desta casta em 2020 e a experiência foi repetida em 2021, com mais de 3 mil garrafas.
A casta Fernão Pires não é muito associada à Beira Interior, ocupando cerca de 1% de vinha, mas tem na zona de Pinhel uma expressão bem interessante. Patrícia Santos ficou fascinada pela performance da casta que em Pinhel mostra uma quase salinidade inexplicável. Compara com vinhos de Sancerre, que, feitos de uma casta aromática, naquela região revelam uma personalidade diferente. No final de fermentação o vinho passa para as pipas de 500 litros, onde permanece pelo menos um ano. A produtora gosta de vinhos com madeira para dar outra dimensão ao vinho, desde que não seja exagerada. Deste vinho produz apenas 1500 litros, mas faz um vinho de que gosta e que reflecte o terroir.
Na zona de transição para a região do Douro, os solos são xistosos e nota-se grande presença das castas durienses. As vinhas da Casas do Côro, na aldeia histórica de Marialva a poucos quilometros de Mêda, são velhas com quase 100 anos, com produções baixíssimas de 1500 kg/ha e ficam numa altitude de 600 metros. Entre as castas tintas predominam Mourisco e Touriga Franca e nas brancas Rabigato e Códega, aos quais se juntam uvas de Rabigato, Verdelho da Madeira e Donzelinho, provenientes da primeira vinha plantada em 2009.
Projectos novos e antigos
Na Beira Interior nota-se um movimento em direcção à qualidade e valorização da região. Já há produtores de renome, marcas associadas aos vinhos de autor, com personalidade vincada, que começam a ficar emblemáticas para a região, como a Casas de Côro, Biaia, Quinta dos Termos (também é uma das mais antigas) e Rui Madeira, entre outros.
E quase todos os anos aparecem projectos novos de grande dedicação e com propósito. Podem não ter ainda dimensão, mas contribuem para o nível qualitativo da região. Um dos mais interessantes é o de Miss Vitis Wines com marca Bal da Madre. Gil Taveira conta que o projecto começou no Douro pelo seu avó e com ele teve continuação. Há poucos anos resolveu apostar na Beira Interior para fazer vinhos de agricultura biológica, já que a região reúne as condições para isso. Em conjunto com produtores de azeite e mel, entre outros produtos, exportam para o Reino Unido, transportando a mercadoria em veleiros (para reduzir a pegada ecológica). O nome Bal da Madre significa “Vale da Mãe” em língua mirandesa e presta homenagem à mulher e à videira, onde tudo começa. A primeira colheita foi de 2017. O perfil dos vinhos é muito limpo, delicado, com uma simplicidade cativante.
A notoriedade constrói-se com resiliência e dedicação e pequenos projectos por vezes seguem conceitos bem sucedidos, são rapidamente captados pelos radares dos enófilos e propagados, valorizando a imagem global da região.
(Artigo publicado na edição de Junho de 2022)
-
Souvall
- 2018 -
Pinhel D. Manuel I
Tinto - 2018 -
Marquez de Castelo Rodrigo
Tinto - 2018 -
Entre Vinhas
Tinto - 2019 -
Quinta dos Currais
Tinto - 2015 -
Quinta das Senhoras
Tinto - 2014 -
Pombo Bravo
Tinto - 2016 -
Marquês D’Almeida
Tinto - 2017 -
Bodas Reais
Tinto - 2017 -
Almeida Garret
Tinto - 2015 -
Terras do Burel
Tinto - 2016 -
Dois Ponto Cinco Vinhas Velhas
Tinto - 2015 -
Bal da Madre Biológico
Tinto - 2019 -
Adega 23
Tinto - 2018 -
1808 Field Blend
Tinto - 2018 -
Quinta dos Termos Talhão da Serra
Tinto - 2019 -
Quinta da Caldeirinha Vinha Velha
Tinto - 2016 -
Casas Altas
Tinto - 2018 -
Quinta da Biaia Fonte da Vila Single Vineyard
Tinto - 2015 -
Beyra
Tinto - 2020 -
Casas do Côro
Tinto - 2018 -
7 Capelas
Branco - 2018 -
Quinta das Senhoras
Branco - 2019 -
Pinhel
Branco - 2021 -
Bodas Reais
Branco - 2019 -
D’Alcaria
Branco - 2020 -
1808 Biológico
Branco - 2020 -
Quinta dos Currais
Branco - 2019
Trafaria (com) Prova com mais de 7000 visitantes

Depois de dois anos de ausência devido à pandemia, a Trafaria voltou a viver momentos intensos com o festival Trafaria (com) Prova que decorreu entre 8 e 10 de Julho numa organização do Município de Almada e produção da Grandes Escolhas. Com a presença de 20 expositores de vinhos, representado várias regiões vinícolas do país […]
Depois de dois anos de ausência devido à pandemia, a Trafaria voltou a viver momentos intensos com o festival Trafaria (com) Prova que decorreu entre 8 e 10 de Julho numa organização do Município de Almada e produção da Grandes Escolhas.
Com a presença de 20 expositores de vinhos, representado várias regiões vinícolas do país e uma presença internacional dos vinhos da Moldávia, a que se juntaram os deliciosos petiscos locais de oito restaurantes participantes e de quatro pastelarias, o evento atraiu muitos visitantes que puderam disfrutar de bons momentos à beira Tejo.
O imenso calor que se fez sentir no fim de semana não desencorajou os participantes e foram muitos os que aproveitaram as condições únicas do Passeio Ribeirinho da Trafaria para passar momentos descontraídos. Para os consumidores mais exigentes as provas de vinho comentadas pelo critico Luís Antunes foram um momento alto e muito participado. Actividades para crianças, actuação de bandas e tunas musicais, teatro de rua e DJs, completaram a oferta de uma festa que foi concebida para agradar a toda a família.
Séries RCV- A engarrafar o futuro

Tudo começou com um Rufete de 2010, e hoje são já 13 varietais. O projecto Séries, da Real Companhia Velha, tem sido um autêntico esboço do presente e do futuro dos vinhos não fortificados da empresa. Um estudo aprofundado do potencial vitícola e enológico de cada casta antiga do Douro. Texto: Mariana Lopes Fotos: Real […]
Tudo começou com um Rufete de 2010, e hoje são já 13 varietais. O projecto Séries, da Real Companhia Velha, tem sido um autêntico esboço do presente e do futuro dos vinhos não fortificados da empresa. Um estudo aprofundado do potencial vitícola e enológico de cada casta antiga do Douro.
Texto: Mariana Lopes
Fotos: Real Companhia Velha
No Douro, estão reconhecidas cerca de 150 castas autóctones autorizadas para produção de vinho. Só nas vinhas velhas, encontram-se várias dezenas de variedades diferentes, umas mais populares e amplamente utilizadas nos vinhos de hoje, e outras já consideradas raras, existentes em pouca quantidade, algumas com excelentes aptidões na adega. Isto é mais do que razão para se tirar partido prático desta riqueza varietal, e é mesmo isso que a Real Companhia Velha está a fazer com o projecto Séries. “A grande vantagem das vinhas velhas do Douro não é apenas a idade, é, precisamente, a diversidade de castas que lá encontramos, como as familiares Touriga Franca, Tinta Roriz, Tinta Amarela, naturalmente a Touriga Nacional, mas também outras muito interessantes como Tinta da Barca, Cornifesto, Malvasia Preta, Donzelinho Branco, Donzelinho Tinto… castas estas que produzem, e que se mostram adaptáveis às condições austeras do Douro”, sublinhou Pedro O. Silva Reis, Fine Wine Manager da empresa com sede em Vila Nova de Gaia, na apresentação dos novos Séries. Na verdade, foi esta diversidade que inspirou o nascimento desta gama de ensaios, onde se exploram diferentes técnicas na adega, castas e abordagens: em 2002, depois de várias visitas a campos ampelográficos do Douro, a equipa técnica da Real Companhia Velha inspirou-se e iniciou a aposta na recuperação de mais de 30 variedades autóctones.
Na Quinta do Casal da Granja, em Alijó, estão as brancas Alvarelhão Branco, Alvaraça, Branco Gouvães (ou Touriga Branca), Esgana Cão, Donzelinho Branco, Moscatel Ottonel, e Samarrinho. Já as tintas Bastardo, Donzelinho Tinto, Malvasia Preta, Preto Martinho, Cornifesto, Rufete, Tinta da Barca, Tinta Francisca e Tinto Cão, são da Quinta das Carvalhas, junto ao Pinhão. Quase todas foram plantadas pela empresa em parcelas estremes com área mínima de um hectare, para serem estudadas quanto ao comportamento agronómico e avaliado o seu potencial em vinhos varietais. Como explicou Jorge Moreira, responsável de enologia da Real Companhia Velha, foram “também às vinhas velhas à procura das castas mais antigas, para as vinificar separadamente”.
Famosa pelos seus vinhos do Porto, a Real Companhia Velha arrancou com o seu projecto de vinhos não fortificados — chamado Fine Wine Division — em 1996, ano em que resolveu “apostar na produção de grandes vinhos do Douro”, referiu o enólogo. “Começámos a melhorar a forma como tratávamos da vinha para termos uvas de qualidade, e a apostar em novas técnicas de vinificação, mais cuidadas e precisas. Sentimos necessidade de perceber, entre a enorme panóplia de castas que tínhamos, o que é que cada uma representava”, desenvolveu. Assim, ainda no final dos anos 90 e já com o “bichinho” dos estudos varietais, a empresa começou a engarrafar vinhos monocasta com as marcas Porca de Murça e Quinta de Cidrô, como Tinta Roriz, Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Barroca, Chardonnay, ou Cabernet Sauvignon. “Poucos se mantiveram, mas foram importantíssimos para percebermos as nuances de cada uma das castas na vinha e na adega, e permitiu-nos das um grande salto qualitativo”, explicou Jorge Moreira.
Com primeiro lançamento em 2012, de um Rufete 2010, as Séries contam já com 13 referências, algumas com mais de uma edição, o que totaliza mais de 30 vinhos, incluindo brancos, tintos e espumante. No recentemente inaugurado The Editory Riverside Hotel, em Santa Apolónia, foram lançadas as mais recentes colheitas dos Donzelinho Branco, Bastardo, Rufete, Malvasia Preta e Cornifesto; e também a novidade absoluta, um Tinta Amarela, cujas uvas têm origem na Quinta dos Aciprestes. Como “teaser” do que sairá em breve, provou-se um Samarrinho de 2019 e um Branco Gouvães de 2018.
“Isto é algo que teve um grande impacto na Real Companhia Velha. Os Séries marcaram muito a nossa forma de produzir vinho, criaram-se técnicas na adega muito a pensar nas uvas que estamos a vinificar, como uso ou não de engaço, maior ou menor extracção, remontagens… no fundo, aprendemos muito com este projecto”, afirmou Pedro Silva Reis, e Jorge Moreira rematou: “O que se passa aqui são as bases do futuro da Real Companhia Velha. Estamos entusiasmados, nunca fizemos vinhos tão bons, e falo de nós e do Douro em geral. Os Séries são, hoje, as sementes para fazer mais tarde vinhos ainda melhores. São lições que aprendemos, de conhecimento e de prazer”. Para “adoçar a boca”, a dupla revelou ainda que, na calha, está um Tinta da Barca e um Moreto…
(Artigo publicado na edição de Maio 2022)
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Dora Simões é a nova presidente da direcção da CVR dos Vinhos Verdes

Duas mulheres eleitas para a liderança no mandato 2022-2025 Dora Simões acaba de ser eleita para o cargo de Presidente da Direcção da Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes (CVRVV) para o triénio 2022-2025, contando com Óscar Meireles e Rui Pinto como Vogais, em representação do Comércio e da Produção, respectivamente. Natural do […]
Duas mulheres eleitas para a liderança no mandato 2022-2025
Dora Simões acaba de ser eleita para o cargo de Presidente da Direcção da Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes (CVRVV) para o triénio 2022-2025, contando com Óscar Meireles e Rui Pinto como Vogais, em representação do Comércio e da Produção, respectivamente.
Natural do Porto e licenciada em English for International Business pela University of Central Lancashire, no Reino Unido, Dora Simões conta com um percurso profissional de mais de 25 anos em que se destacam funções de relevo no sector dos vinhos, desde gestão de Marketing na Europa Central da Ernest & Julio Gallo Winery, à Direcção-Geral da ViniPortugal ou a Presidência da Direcção da Comissão Vitivinícola Regional Alentejana (CVRA), onde lançou e desenvolveu o Plano de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo (PSVA) que constitui uma referência a nível nacional e internacional. Dora Simões foi eleita por unanimidade para suceder a Manuel Pinheiro, Presidente da Direcção da CVRVV durante cerca de duas décadas, na qual assumiu 7 mandatos.
Pela primeira vez, a CVRVV conta com duas mulheres na liderança da Região, com Celeste do Patrocínio a assumir a Presidência do Conselho Geral, numa instituição em que historicamente a Direcção dos Departamentos é maioritariamente assumida no feminino.
“É um enorme orgulho e uma grande responsabilidade assumir a liderança de uma Região que se posiciona com diferenciação pela qualidade e que tem sido um exemplo a nível nacional e na promoção da marca Vinho Verde em mais de uma centena de mercados externos. Esta Direcção tem como missão manter esse crescimento nas exportações e no mercado nacional, reforçando o papel pioneiro que a CVRVV tem tido no desenvolvimento de ferramentas de apoio aos viticultores, na promoção do trabalho de produtores e engarrafadores e no aumento da base de consumidores dos vinhos desta Região única no Mundo”, destaca Dora Simões, Presidente da Direcção da CVRVV.
Lindeborg Wines- Como ser grande em pequena escala

Lindeborg Wines é um projecto recente, ambicioso e com grandes planos para o futuro. Neste momento agrega três quintas em produção – a Quinta da Folgorosa e Cortém na Região de Lisboa e a Quinta Vale do Armo no Tejo. O grupo ainda integra uma distribuidora, garrafeira e wine bar “111 Vinhos” com presença em […]
Lindeborg Wines é um projecto recente, ambicioso e com grandes planos para o futuro. Neste momento agrega três quintas em produção – a Quinta da Folgorosa e Cortém na Região de Lisboa e a Quinta Vale do Armo no Tejo. O grupo ainda integra uma distribuidora, garrafeira e wine bar “111 Vinhos” com presença em Lisboa e Cascais. No futuro mais próximo cabe o desenvolvimento da propriedade adquirida no Alentejo.
Texto: Valéria Zeferino
Fotos: Lindeborg Wines
Thomas Lindeborg, o empresário sueco com negócios na área de investimento imobiliário em vários países do mundo, de Europa a Ásia, partiu para uma nova aventura, agora no sector do vinho, com os pés bem assentes na terra. Literalmente. Thomas não compra vinho a granel para engarrafar e vender milhões de litros. Tem uma abordagem diferente – investe em terras, vinhas e quintas. Quer vender vinho de qualidade a preço razoável, em vez de entrar na guerra de preços baixos.
Não vê o vinho apenas como um hobby. Está disposto a e tem capacidade de investir sem esperar por lucros imediatos. A sua visão é a longo prazo, assenta na construção de uma imagem sólida e operações sustentáveis. Como impresário, percebe que o negócio tem que ser suficientemente grande para beneficiar de economia de escala e criar volume para entrar nos mercados de exportação, mas prefere atingir estes objectivos por via de complementaridade de várias propriedades de pequena/média dimensão. Esta abordagem permite preservar a autenticidade, evitando uniformização de grandes produções, e ao mesmo tempo ter uma oferta diversificada “in authentic small scale way” com brancos frescos de Lisboa, tintos aromáticos do Tejo, encorpados e redondos do Alentejo para além de vinhos biológicos e uma linha de vinhos vegan – para satisfazer todos os gostos. “Quero mostrar nos mercados internacionais que o vinho português não é só industrial” – afirma Thomas e sublinha “seja como for, eu não investi em vão, investi em imobiliário”.
Em vez de jogar golf, prefere podar a vinha. “Como passo muito tempo à frente do computador e ao telefone, o trabalho físico na vinha relaxa-me” – explica Thomas. As pessoas locais quando o viram pela primeira vez, pensavam que era algum turista alemão. Depois habituaram-se.
Como tudo começou
Thomas Lindeborg visitou Portugal pela primeira vez em 1984, quando fez uma viagem a São Martinho do Porto com a sua esposa. “Era a viagem mais barata que consegui” – sorrindo lembra-se Thomas. Foi aí que se apaixonou pelo nosso país. Por razões de negócio viveu em Londres, mas desde 2008 teve uma segunda casa na costa Oeste. Em 2017, o Brexit impulsionou a sua mudança definitiva para Portugal.
O vinho sempre lhe despertou o interesse, servindo de motivação para investir nesta área. Em 2019 Thomas adquiriu a Quinta da Folgorosa com 46 hectares de vinha. No final do mesmo ano fez um negócio com um casal estrangeiro e ficou com a Cortém, uma pequena propriedade com apenas 6 hectares de vinha em produção biológica. Para ser autosustentável o negócio precisava de escalar, e em 2020 surgiu uma oportunidade no Tejo de aquisição da Quinta Vale do Armo com 94 hectares de vinha. No final do ano passado realizou-se mais um investimento, agora no Alentejo – a Herdade de Cabeceira com 50 hectares e possibilidade de plantar mais 40. Os primeiros vinhos desta propriedade só serão lançados em 2023.
Visão estratégica
Depois de aquisição das propriedades, investiu-se nas vinhas, nas instalações e no equipamento para assegurar a qualidade de produção, e só agora chegou a vez da área comercial para alargar as vendas. Antes tinham e continuam a ter clientes privados em Portugal e fora.
Sustentabilidade é um conceito profundamente enraizado na Lindeborg Wines. Utilizam vidro mais leve, as caixas fecham-se sem utilização de cola ou plástico. Estão a estudar a possibilidade de substituir as cápsulas convencionais por outras de materiais alternativos sustentáveis que permitem a sua reciclagem ou cuja produção reduz significativamente a pegada de carbono. O papel para os rótulos é feito de massa a partir de grainha de uva. Estas medidas levam ao aumento de custos de produção, mas são mais sustentáveis de ponto de vista ambiental.
Sendo um líder por natureza, Thomas sabe que é na equipa que se deve apostar para alcançar o resultado pretendido. Sabe motivar as pessoas e dar-lhes oportunidades. “Não se preocupem com a parte financeira, esta preocupação é minha. A vossa é fazer vinhos de alta qualidade” – esta é a mensagem de Thomas para os seus colaboradores.
Pessoa chave na equipa é Diogo Pereira, o responsável de enologia do grupo. Entrou em 2009 na Quinta da Folgorosa e já tem mais de 10 anos de aprendizagem sobre as suas condições, pois as diferenças entre as regiões são grandes. Antes trabalhou no Alentejo, onde os taninos são naturalmente mais maduros e redondos. Na região de Lisboa encontrou taninos mais reactivos e agressivos e no Tejo teve que aprender a lidar com taninos secos. À sua responsabilidade fica a definição de gamas das quintas todas e a abordagem geral de produção.
Quinta da Folgorosa – frescura atlântica
A Quinta da Folgorosa fica perto de Sobral de Monte Agraço no concelho de Torres Vedras. É uma propriedade muito antiga com morgadio desde 1711 e antes das guerras napoleónicas já tinha vinhas. A parte mais alta da vinha fica a uma altitude de cerca de 300 metros, as ondulações do terreno não são acentuadas. Algumas parcelas são vindimadas à mão, outras, onde as condições de terreno e a dimenção da vinha permitem, vindimam-se à máquina.
No meio da vinha fica um velho moinho que acaba por servir de miradouro natural e dar um traço pitoresco à propriedade. Também é retratado nos rótulos.
A idade dos vinhedos anda pelos 12 a 18 anos mas, ao contrário do habitual na região, as produções por hectare são muito baixas, apenas 2-3 toneladas, derivado da falta de investimento em anos anteriores. As vinhas estão quase decrépitas, situação que está a ser corrigida agora. Aliás, os primeiros investimentos foram feitos precisamente na vinha e na adega logo depois da aquisição. O investimento na promoção e na área comercial só se verifica a partir de agora.
A grande parte de vinhos era vendida a granel, prática com a qual Thomas acabou. E também baniu completamente a adição de açúcar e pasteurização mesmo nas gamas de entrada.” O vinho tem que ser honesto, ou não vale a pena fazê-lo”, diz. A partir da colheita 2021 os vinhos vão ser certificados como DOC Torres Vedras. Os sete vinhos do portefólio são apropriados para vegans, ou seja, na sua produção, não são utilizados produtos de origem animal.
A proximidade atlântica traz frescura necessária para fazer brancos com frescura e carácter. O Arinto representa 60% do encepamento, é a base dos lotes. Diogo prefere apanhar o Arinto com o máximo de 12,5% de álcool provável, “pois quando atinge mais de 13%, começa a transmitir aromas que lembram maçã raineta e laranja confitada”, refere.
O Moscatel foi plantado como tempero para integrar nos lotes. Em 2020 fizeram o primeiro monovarietal, ainda com o objectivo de lotear. Sobrou cerca de 1000 litros e era muito bom. Foi para barrica durante 3 meses e chegaram à conclusão que vale a pena dar protagonismo à casta na gama Quinta da Folgorosa.
Plantou-se mais Moscatel e Alvarinho. Sauvignon Blanc também tem uma expressão interessante e vão apostar num monovarietal dentro da gama Quinta da Folgorosa. O Fernão Pires é bom para fazer lotes aos quais confere volume, mas não representa uma grande aposta a solo.
Está previsto também ter dois monovarietais tintos: de Touriga Nacional e provavelmente de Castelão. Futuramente vai haver um espumante e talvez uma aguardente. Em tempos, a quinta esteve ligada à aguardente CR&F, o que é sempre bom augúrio…
Cortém – vinhos biológicos
Esta pequena propriedade rústica com uma adega bastante artesanal, também fica na região de Lisboa, situada em Caldas da Rainha. Apenas o chão e o tecto da casa original foram alvos de renovação, mantendo o traço original e todo o encanto de uma pequena quinta.
A apenas 15 km da costa em linha recta, o clima apresenta forte influência atlântica, ainda mais pronunciada do que na Quinta da Folgorosa. A vinha, inicialmente com 6 hectares e mais 3 adquiridos mais tarde, é plantada em dois vales – vale de Cortém, mais húmido e vale dos Mosteiros, mais seco. Os nevoeiros aparecem sempre de manhã e mantêm-se até às 11-12 horas, e depois acumulam-se novamente a partir das 5-6 horas da tarde.
Os antigos proprietários, o casal Price, apostaram na viticultura orgânica, o que tem sido um enorme desafio nesta zona pela humidade e a carga de doenças. A produção é baixíssima, não ultrapassa 3-4 tn/ha e em anos mais chuvosos a colheita fica fortemente comprometida. De acordo com a filosofia anterior, os vinhos passavam 2 anos em depósitos e ainda mais 2 anos em garrafa.
Quinta Vale do Armo – a expressão do Tejo
Mudámos para a região do Tejo. A Quinta Vale do Armo encontra-se perto da pequena vila de Sardoal no concelho de Santarém, conhecida como Vila Jardim por ter muitas plantas e flores na decoração das casas. O rio Tejo fica a 6 km a norte da quinta.
Começou em 2004 com apenas 9 ha e cresceu até mais de 90 ha. Tiago Alves, responsável pela viticultura, foi encarregado de adquirir vinhas na zona para aumentar a área de plantação. Na conservatória onde se registava a passagem dos direitos, já toda a gente o conhecia, depois do registo de 42 cadernetas!
A colecção de castas tintas inclui Touriga Nacional, Touriga Franca, Aragonez, Trincadeira (não muito boa), Syrah, Petit Verdot, Merlot, Cabernet Sauvignon, Alicante Bouschet e algumas vinhas velhas. Para brancos têm Alvarinho, Viosinho, Arinto, Verdelho e Sauvignon Blanc. As castas brancas são plantadas nas zonas mais baixas com um pouco mais de fertilidade do solo; as tintas nas zonas mais altas com alguma encosta. As geadas representam aqui um problema grande. Há anos que há “zero Verdelho ou Touriga Nacional”, conta Tiago Alves.
Tiago considera Aragonez e Syrah duas castas estruturais. Touriga Franca, na sua opinião, é a casta de futuro nesta mudança climática. Para amadurecer e quebrar o tanino seco precisa de calor e aguenta-o muito bem. Não sofreu nada no famoso escaldão de 2018, não dá problemas fitossanitários e potencia os lotes.
Os solos nesta zona são muito pobres, explica Tiago, é difícil produzir mais de 6 tn/ha. Noutro polo de vinhas que ocupa 65 ha conseguem produzir cerca de 9 tn/ha, o que está muito longe das produções médias do Tejo. Por ano, produzem cerca de 500 000 litros de vinho, dos quais 70 000 são de brancos.
Embora a zona se aproxime territorialmente à Beira Interior e ao Alentejo, Tiago aponta diferenças essenciais nas condições climatéricas. As temperaturas no Tejo e no Alentejo são semelhantes, facilmente chegam aos 40˚C com a diferença que no Alentejo esta temperatura é atingida muito mais cedo e dura mais horas durante o dia do que no Tejo.
Se na Quinta da Folgorosa não precisam de rega, aqui é inevitável. Os solos são franco-limosos e argilo-calcários, com uma boa drenagem, mas não retém água por muito tempo. Para a rega têm dois depósitos de água: um de 150 mil litros com a captação de um furo e outro de 300 mil litros com captação do rio Tejo.
A colheita de 2021 já foi vinificada pela nova equipa a 100% e com a filosofia e abordagem enológica do grupo. Provei alguns ensaios muito interessantes que ainda estão em cubas e em barricas. A próxima colheita promete! Embora cada quinta tenha a sua própria adega, as instalações da Quinta Vale do Armo irão tornar-se num hub logístico e de engarrafamento da Lindeborg Wines.
O próximo passo é solidificar e harmonizar a imagem dos vinhos feitos em cada quinta com identidade do grupo e redefinir os portfólios. Como diz Thomas, e bem, “Portugal transmite paixão e felicidade aos quais eu junto estrutura e foco para um futuro de sucesso.”
(Artigo publicado na edição de Maio 2022)
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Alijó celebrou os vinhos e sabores dos “Altos”

Pelo 3º ano, mas com dois de intervalo devido à pandemia, Alijó celebrou a especificidade dos vinhos do planalto de Alijó e Favaios. Desta vez no espaço agradável e mais fresco do Parque da Vila, 30 expositores de vinhos e um dezena de sabores regionais expuseram durante três dias os seus produtos aos milhares de […]
Pelo 3º ano, mas com dois de intervalo devido à pandemia, Alijó celebrou a especificidade dos vinhos do planalto de Alijó e Favaios. Desta vez no espaço agradável e mais fresco do Parque da Vila, 30 expositores de vinhos e um dezena de sabores regionais expuseram durante três dias os seus produtos aos milhares de visitantes que ali acorreram.
Numa organização do Município de Alijó e com produção da Grandes Escolhas, a Feira de Vinhos e Sabores dos Altos procura evidenciar e divulgar as características únicas dos vinhos produzidos nas zonas mais elevadas do Douro, plenos de elegância e frescura. Isso mesmo foi evidenciado durante as provas de vinhos comentadas pelos especialistas da Grandes Escolhas, Fernando Melo, Valéria Zeferino e Luis Antunes. Paralelamente decorreu um concurso de vinhos muito participado com mais de 60 vinhos em prova que foram avaliados por um painel qualificado de 14 jurados. Fazendo jus à qualidade evidenciada, o júri atribuiu 25 medalhas, entre Ouro, Prata, e Melhores Vinhos em cada uma das categorias consideradas: Brancos, tintos e vinhos fortificados.


Os grandes vencedores foram Família Silva Branco 2019 na categoria vinhos brancos, da Branco Wines Family, Costureiro 2016, da Foz do Tua, nos vinhos tintos, e Fragulho Moscatel do Douro Reserva 2011, da Casa dos Lagares na categoria Vinhos Fortificados.
Portugal Vineyards – Vinhos de Portugal para o mundo

A Portugal Vineyards começou como loja online de vinhos portugueses na internet, para vender e entregar na casa dos consumidores de países da União Europeia. Sete anos depois de abrir portas, alargou a oferta a mais de nove mil referências e tem clientes em todos os continentes. A principal diferença: o serviço prestado a cada […]
A Portugal Vineyards começou como loja online de vinhos portugueses na internet, para vender e entregar na casa dos consumidores de países da União Europeia. Sete anos depois de abrir portas, alargou a oferta a mais de nove mil referências e tem clientes em todos os continentes. A principal diferença: o serviço prestado a cada um deles
Texto: José Miguel Dentinho
Fotos: Portugal Vineyards
Quando se começa, é tudo ainda experimental. Ao longo do tempo vai-se evoluindo, procurando disponibilizar o melhor serviço possível, aquele que faz os clientes de uma empresa comercial repetirem as compras e contar a sua experiência aos conhecidos e amigos. “Mais do que vender vinho, é isso que faz os clientes procurarem-nos”, diz Miguel Almeida Diniz, proprietário e CEO da Portugal Vineyards.
Quando se mudou para o Porto, em 2013, já pensava em investir numa empresa comercial e de logística ligada ao sector de vinhos, projecto que imaginara e desenhara muitos anos antes, mas que não avançara ainda devido ao seu envolvimento noutros negócios. Em 2014 abriu a empresa. No ano seguinte já tinha um volume de negócios superior a 500 mil euros, valor que cresceu até aos cerca de 10 milhões de euros em 2021.
Segundo Miguel Almeida, são precisos muitos anos para lá chegar. Numa loja tem-se porta aberta para a rua e os passantes entram atraídos, por exemplo, pela forma como está decorada e por aquilo que está em exposição na montra. “Ao final de algum tempo, e se a experiência for boa, ganha-se reputação e as pessoas voltam ao local”, explica.
Já no negócio online é preciso comunicar que a empresa existe, o que faz, e as vantagens de quem opta por lá comprar, ou seja, “é necessário investir muito em marketing online, em todos os formatos, para ganhar reputação suficiente para que as pessoas comecem a procurar a loja”, diz o gestor. “É preciso ter paciência, saber esperar, porque não há certeza de que as vendas expludam apenas um par de anos depois de se abrir a empresa”, adianta. Isto significa que é preciso capacidade financeira e resiliência para abrir um negócio como este.
Serviço premium
Claro que o serviço oferecido é essencial para garantir que os clientes se mantêm satisfeitos e voltem a comprar. Para o comércio online, isso significa que, depois de fazerem a encomenda, recebem o produto que pediram, com as características e qualidade anunciada no site, no período de tempo e no prazo acordado.
Para além de ter criado embalagens próprias para assegurar que o produto chega intacto aos destinos, a Portugal Vineyards usa os serviços de três transportadoras internacionais conceituadas no mercado, a UPS, a Fedex e a DHL, nas opções de transporte terrestre e aéreo. Mas é preciso que, antes, os clientes façam as suas encomendas.
Como é evidente, a experiência que as pessoas têm deve ser aliciante e o mais fácil possível. Por isso, Miguel Almeida Diniz procurou implementar as melhores práticas de venda online. Logo na primeira página existe uma montra de tudo o que está disponível para venda, de vinhos aos produtos gourmet. Há produtos novos, promoções, e por aí adiante e os vinhos podem ser pesquisados por tipo, produtor, região de origem, preço, produtos mais vendidos, recomendações, formatos especiais e em leilão.
A Portugal Vineyards vende vinhos, cervejas, destilados e produtos gourmet nacionais para países onde consegue entregar mercadoria, porque os seus parceiros garantem a qualidade da entrega e não há constrangimentos à entrada de produtos. “Não faz sentido ter clientes em países como o Afeganistão, porque não consigo lá entrar”, explica Miguel Almeida Diniz. Conta que começou o seu negócio vendendo inicialmente a países da União Europeia, e foi avançando para outros depois de saber tudo o que era necessário para estar presente nesses mercados.
Actualmente, a União Europeia representa cerca de 60% das vendas em valor. Para além disso, a empresa vende sobretudo para o Reino Unido e Suíça, para além da Albânia, Israel, Noruega, Islândia. O resto da Europa totaliza cerca de 30% das suas vendas em valor. Hoje, também vende para países do continente americano, África do Sul, Austrália e Nova Zelândia.
O mercado asiático é constituído essencialmente pela Coreia do Sul e Hong Kong, apesar de a empresa vender para outros destinos. Como a Portugal Vineyards não conseguiria gerir diretamente as redes sociais nesses países, devido à dificuldade em entender as suas línguas, contratou uma agência de comunicação quando iniciou a sua actividade na região, também “para contactar wine influencers, escanções que escrevem e fazem cursos e formações sobre vinhos, para fazerem o mesmo com os nossos”, explica Miguel Almeida. Acrescenta que, hoje, a empresa tem uma rede com este tipo de contactos em todos os mercados onde está presente.
A travessia do Brexit
Às 23h00 do dia 31 de janeiro de 2020, o Reino Unido deixou de ser um Estado-Membro da União Europeia. Nesse momento entrou em vigor o Acordo de Saída, garantindo uma partida ordenada desse país da União Europeia, e iniciou-se um período transitório, que terminou no dia 31 de dezembro de 2020. Nos últimos meses do ano, a Portugal Vineyards estava a despachar, para o país, entre 10 e 15 paletes de Porta 6, um vinho da Vidigal Wines, por semana. “Chegavam a ser 120 garrafas por encomenda, numa altura em que os britânicos estavam a acumular vinhos antes do Brexit”, conta Miguel Almeida Diniz. Depois, no início de janeiro de 2021, a sua empresa cessou a sua atividade no país, para estudar as novas contingências do mercado. No final do mês reabriram de novo. “Nesse período registámo-nos nas Finanças do país, e tratámos de realizar todos os processos necessários para garantir que tudo o que era preciso ia nas facturas e restantes documentações das encomendas e evitar, assim, devoluções por não conformidades com a legislação do Reino Unido, diz o gestor.
Quando a Portugal Vineyards entrou no mercado da Coreia do Sul, sabia que os seus cidadãos escolhiam as marcas que compravam pela forma como estas os inspiravam. Eram sobretudo tawnies velhos, de marcas históricas como a Graham’s e a Taylor’s. “As pessoas optavam por este tipo de produtos porque sentiam que lhes davam estatuto”, conta o administrador. A partir do trabalho feito com o apoio dos wine influencers, começaram por experimentar outros tipos de vinhos do Porto, vinhos Madeira e, agora, “já compram um pouco de tudo”. Segundo o gestor, este país, Hong Kong e restantes mercados asiáticos representam, hoje, cerca de 600 a 800 mil euros de facturação, mas este valor deverá aumentar ainda mais, dado que as vendas para estes mercados estão a crescer 50% ao ano.
E Portugal?
A Portugal Vineyards não começou logo a sua actividade pelo seu país, porque teria de concorrer, entre outros, com as empresas da Distribuição Moderna, e as margens baixas que teria de praticar poderiam prejudicar o seu negócio. “Como iriámos ser entendidos, pelos portugueses, como mais caros que as grandes superfícies ou as garrafeiras físicas que também vendem online, pensámos que seriamos pouco interessantes para o mercado nacional, pelo menos numa fase inicial, quando não eramos conhecidos”, explica Miguel Almeida Diniz, defendendo que “tem de se ganhar dinheiro para se poder investir e crescer, vendendo muito com margens pequenas, ou pouco com margens maiores”. Por isso, lançou-se primeiro lá fora, dado que “os mercados externos estavam preparados para pagar o nosso preço porque, para além do produto, os seus consumidores querem ter, como parceiros, empresas de confiança que lhes entreguem os produtos com qualidade e a tempo e horas”, defende mais uma vez. Para além disso, os consumidores desses mercados não compram nas grandes superfícies.

Passados alguns anos, a Portugal Vineyards começou a ter procura por parte de estrangeiros que pretendiam vir cá. Muitos são clientes que fazem férias em Portugal. Hoje, o nosso país é um mercado que está a crescer.
Os investimentos em comunicação nos canais online, que a Portugal Vineyards está atualmente a fazer, deverão contribuir para a intensificação das vendas da empresa em território nacional. Mas essa evolução não será feita à conta da diminuição das margens, já que Miguel Almeida não pretende abdicar das que coloca nos vinhos, sempre as mesmas, independentemente dos mercados onde vende. “Apesar de sermos caros em relação a alguns vinhos mais correntes, provavelmente somos baratos noutros, porque não faço especulação”, diz, acrescentando, no entanto, que há algumas excepções, como a marca Barca Velha por exemplo, “porque as empresas pedem para não o fazer, já que não produzem mais do que um número restrito de garrafas em cada colheita”.
Oito anos após o início da actividade, que começou com a oferta de vinhos e se alargou para os destilados, cervejas e produtos gourmet, inclui, hoje, também leilões online de produtos raros e distintos, a Portugal Vineyards está já a preparar e irá lançar mais uma área de negócio até ao final do ano, que ainda está em segredo. A ver vamos.