Magnum Carlos Lucas – Uma história de Dão e Douro

Magnum Carlos Lucas

Completados os 10 anos da Magnum Carlos Lucas Vinhos, com um percurso feito sobretudo no Dão, o produtor inicia agora a sua aventura no Douro, com a Quinta das Herédias. Texto: Mariana Lopes Fotos: Ricardo Palma Veiga  A empresa Magnum Carlos Lucas Vinhos foi fundada a 13 de Setembro de 2011, há 10 anos, mas […]

Completados os 10 anos da Magnum Carlos Lucas Vinhos, com um percurso feito sobretudo no Dão, o produtor inicia agora a sua aventura no Douro, com a Quinta das Herédias.

Texto: Mariana Lopes
Fotos: Ricardo Palma Veiga

 A empresa Magnum Carlos Lucas Vinhos foi fundada a 13 de Setembro de 2011, há 10 anos, mas já bem antes disso o produtor se tinha ligado à Quinta do Ribeiro Santo, em Carregal do Sal, propriedade que sempre foi o coração do projecto (apesar de a Magnum também operar no Alentejo, Douro e Vinhos Verdes). O seu pai comprou-a em 1995, replantou os vinhedos que lá estavam em solo arenoso e remodelou a casa, tendo o primeiro vinho, com o nome da quinta, sido um branco Encruzado de 2000.

No Dão, Carlos Lucas — “coimbrinha” mas desde sempre ligado à terra, formado em Enologia na sua cidade e especializado lá fora — já produz um milhão de garrafas, o que faz dele um dos maiores players da região. Na adega da Quinta do Ribeiro Santo, com 2000 metros quadrados e totalmente equipada, incluindo linha de engarrafamento e uma novíssima sala de provas, vinificam apenas os vinhos de segmento premium, os mais especiais, cerca de 400 mil litros. Falamos de coisas como o Ribeiro Santo Vinha da Neve, Excellence Grande Escolha, Automático, Envelope, E.T., Vinha de Santa Maria, entre outros. Este último vem da quinta com o mesmo nome que Carlos Lucas adquiriu em Cabanas de Viriato, dez hectares de vinhas com mais de 20 anos e, como é usual nestas propriedades antigas do Dão, uma casa senhorial apanhada já em decadência mas com grande potencial de recuperação. Mais recentemente, o produtor adquiriu uma outra, apenas a 600 metros da Quinta do Ribeiro Santo: a Quinta da Bela-Vista, com cinco hectares no total e dois de vinha dos anos 60, também com uma casa que será recuperada para ser um hotel de luxo, no futuro. A foto de capa desta edição da Grandes Escolhas foi, precisamente, tirada numa das varandas deste edifício oitocentista. Os primeiros vinhos daqui provenientes serão lançados no próximo ano, só tintos de parcela e em formato magnum. Com solo franco-arenoso profundo, a quinta (que visitámos com Carlos Lucas e o seu “braço-direito”, o enólogo bairradino Carlos Rodrigues) tem uma vinha velha de ensaio, já com 50 anos, com castas como Bastardo, Alvarelhão, Rabo de Ovelha, Cerceal, Rufete, entre outras. A estas somam-se variedaes como Tinto Cão ou Touriga Nacional, com a placa antiga que identifica a parcela ainda a dizer “Tourigo”, nome que se dava à casta no Dão. Estas três quintas perfazem, grosso-modo, os 30 hectares de vinha que a Magnum Carlos Lucas tem na região.

Duas verticais de luxo

Para conhecer verdadeiramente a evolução do projecto Magnum, nada melhor do que uma (ou duas) prova vertical. Começámos com sete colheitas do Ribeiro Santo Vinha da Neve Encruzado branco. A Vinha da Neve é uma parcela de 1 hectare localizada em frente à casa de Carlos Lucas, virada para a Serra da Estrela, e é por isso que se chama assim. Segundo Carlos, é uma vinha tardia com muito granito, “o que confere o lado bem salino que se sente no vinho”. Originando entre 2500 e 3000 garrafas, este 100% Encruzado começa a fermentação em inox e acaba-a em barrica nova, aí estagiando durante um ano. Ultimamente, a opção tem sido reduzir a tosta das barricas utilizadas. A vertical iniciou com o 2018 (prova no final da reportagem), agora no mercado, notando-se um claro fio-condutor que atravessa a gama, com variações normais de ano para ano, um perfil muito definido. No 2017 (18 pontos) não se nota propriamente, no nariz, mais um ano de envelhecimento do que a nova colheita, o que é sempre bom indicador. Sente-se bastante o lado vegetal mas já traz outras coisas como grafite. Sério na boca, com enorme volume. O 2016 (18) mostra-se bem mineral no nariz, mas na mesma linha dos outros, muito cremoso, sílex, final altamente salino. Já o 2015 (18,5), vinho em que se nota mais a mudança de cor, apresenta-se fechado no nariz, mas apimentado, com espargo branco, pedra molhada, levíssima líchia. Explode na boca, amplitude enorme, nervo e complexidade. O 2014 (18) é um vinho de notas evolutivas mais intensas, frutos secos, fruta branca madura, sempre com rasgo vegetal. A evolução não causa estragos na boca, continua tenso, fresco, complexo. Por sua vez, o 2012 (17,5) embrulha-se um pouco no nariz, guardando tudo para a boca que tem acidez vegetal elevada, amplitude e uma boa secura de conjunto. Por fim, o 2011 (18,5) tem um nariz fantástico e inebriante de sílex, pólvora, verdes frescos, flor margaça, hortelã, ainda a denotar a madeira. Enorme cremosidade, frescura e finesse neste vinho, muito vivo e nervoso, a dar um kick de acidez incrível.

Magnum Carlos Lucas
Carlos Rodrigues à esquerda, trabalha há vários anos com Carlos Lucas, no Dão.

Depois, foi a vez do desfile de Ribeiro Santo Excellence Grande Escolha tinto, um Blend de barricas com “um pouco de tudo”, indica Carlos Lucas, sobretudo Touriga Nacional, Alfrocheiro, Tinta Roriz e Tinto Cão. As cerca de 2000 garrafas são numeradas, sendo que a partir do 2013 foram vinhos lançados sempre 5 anos após a colheita. Este tinto faz maceração prolongada em inox e fermenta com leveduras indígenas. Fica depois em barricas novas de carvalho francês, de 225 litros, durante 14 meses. Começámos mais uma vez no mais recente, o 2016, agora no mercado. Depois, o 2014 (18) mostrou-se mais contido no nariz, com fruta silvestre igualmente pura e pimenta. Rústico, balsâmico, adstringência positiva, quase a lembrar um estilo bairradino. Secura final sempre boa. O 2013 (18,5) marca a mudança de rótulo e a introdução da garrafa areada “mate”. Tem bagas vermelhas, verniz, nota vegetal, pimenta branca. Super elegante, com óptima densidade e envolvimento, muito rico e sumarento. O 2012 (18) é bem expressivo nas notas de bosque, frutos silvestres e mentolados, eucalipto e musgo. Puro e naturalmente fresco, harmonioso, taninos super sedosos. O 2011 (18,5) é de nariz fino, violáceo, vegetal, com pimenta branca, levíssima pirazina. Na boca é que se releva grandioso, elegância, classe, finura, complexidade, polimento. Ainda rústico, para ficar. Já o 2010 (17,5) tem muita expressão de fruta, cereja madura, laivo vegetal, barrica perceptível mas bem integrada. Boca viva, taninos agitados mas elegantes, enorme amplitude e prolongamento. Muito chão de bosque é o apanágio do 2008 (18) levemente iodado, profundo, especiado. Fino e elegante na boca. Conjunto bem harmonioso, vivo. Para finalizar, o 2005 (17,5), que ainda tinha o designativo “Escolha”, apresentou-se profundo no nariz de bagas maceradas, notas terrosas, cogumelo, exótico na sugestão encerada, sândalo. Sedoso mas muito presente e elegante.

Onde o xisto encontra o granito

No início de 2019, a Magnum Carlos Lucas adquiriu a Quinta das Herédias, em Tabuaço, no Cima Corgo do Douro, mas em 2018 a poda já foi feita por esta empresa. Desta quinta fazia parte o Mosteiro de São Pedro das Águias, do século XII, onde os monges de Cister desenvolveram a viticultura. Este edifício faz ainda companhia à Quinta das Herédias, bem como um eremitério do século XI. Não estamos na paisagem duriense mais óbvia: o rio Tabuaço, o maior afluente do rio Douro, está entre a quinta e São João da Pesqueira, e os solos aqui são completamente mistos, de granito e xisto. Escarpas rochosas impressionantes rodeiam a propriedade, num Douro “limpo”, onde não há vislumbre da paisagem urbana menos atractiva. Estas escarpas altíssimas descem até ao rio Távora, e de manhã estão escondidas por um nevoeiro místico, que levanta quando o sol decide marcar presença. A casa, com vários andares e já parcialmente remodelada, encontra-se a 315 metros de altitude, com 10 quartos que serão preparados para receber clientes e amigos, num ambiente intimista. Já a vinha, que totaliza 30 hectares, vai dos 120 aos 400 metros. Quatro desses hectares são de vinhas velhas centenárias (com muitas castas, entre as quais Malvasia Preta, Tinta Francisca, Tinta Pomar, Rufete…) e 20% do encepamento é branco. Em 2020, a Magnum plantou ali quatro hectares com Viosinho, Rabigato e Gouveio. Também há Malvasia Fina, e as tintas Touriga Francesa, Tinta Roriz, Tinta Barroca, Touriga Nacional, Tinta Amarela, Sousão, e outras. Uma das características mais singulares é de facto o solo de transição, com o granito e o xisto a conviver.

Magnum Carlos Lucas
Cave de barricas do Ribeiro Santo.

“A minha intenção é fazer aqui quantidade aliada a qualidade, construir marca. Este ano já comprámos muitas uvas”, explica Carlos Lucas, que tem de alugar a adega cooperativa de Tabuaço, Caves Vale do Rodo, para vinificar, pois não é permitido construir na quinta uma adega de cariz industrial. A ideia, a médio prazo, é fazer uma instalação a 10 quilómetros dali. Na quinta existe uma pequena adega antiga com três lagares — dois lagares e uma lagareta, se quisermos ser mais precisos — e duas prensas tradicionais. Quanto visitámos as Herédias, os dois maiores lagares estavam cheios de garrafas, um com o Vintage 2019 e outro com o topo de gama, que se chamará Quinta das Herédias + Cento e Trinta Anos, que será lançado mais tarde. “Estou muito contente com este projecto, era o meu sonho ter algo assim no Douro, uma quinta com uma adega antiga e lagares”, confessa Carlos. Além da vinha, o laranjal é uma presença forte na quinta, bem como a floresta e o olival, que se estende por uns impressionantes 35 hectares contínuos de oliveiras centenárias, uma área nada comum no Douro, e a uma cota baixa, pouco mais de 100 metros de altitude. Daqui já fazem azeite, extraído a frio.

Magnum Carlos Lucas
Carlos Lucas, Paulo Mota e Bernardo Santos na Quinta das Herédias.

Mas porque ninguém consegue estar em todo o lado ao mesmo tempo, Carlos Lucas é assistido por Bernardo Santos, jovem enólogo de 24 anos que ocupa o seu tempo entre a adega do Dão e o Douro. Durante o início da pandemia, Bernardo esteve, inclusive, confinado na Quinta das Herédias, bastante tempo ainda sem televisão ou internet, a fazer sobretudo intervenções intensivas e necessárias nas vinhas, como retanchas ou rearamações. Porém, é Paulo Mota, enólogo residente em Vila Real, que representa “os olhos” de Carlos Lucas no Douro. Já tinham trabalhado juntos, e com a aquisição da Quinta das Herédias, regressou à empresa. Bernardo explica que tiveram “de fazer um grande trabalho de recuperação, o local estava altamente abandonado e escondido por vegetação, com algum património destruído. As vinhas velhas eram autênticos diamantes em bruto à espera de ser lapidados”. Aqui, Carlos Lucas pretende uma evolução de negócio sustentada. “Estamos a fazer uma marca com pés e cabeça, tentando não cometer erros e sem facilitar nos pormenores. Pegámos em marcas que já existiam e criámos referências novas. Quero também fazer histórico e, no futuro, aparecer com grandes vinhos”, declara, fazendo também referência à marca que já tinha nesta região e que mantém, Baton. O conceito de vinhos é, por agora, muita qualidade situada numa gama média e um ou dois super-premium, que Carlos consideram serem o grande potencial nas Herédias. A produção total ronda as 100 mil garrafas, daquela que é a nova paixão de Carlos Lucas, que se mostra totalmente feliz quando chega à quinta e brinca com o seu Cão de Gado Transmontano, um “bebé gigante” que está ainda a aprender a guardar a propriedade. O projecto está a dar os primeiros passos, mas já mostra, com os vinhos que entram agora no mercado, o que é capaz de fazer.

(Artigo publicado na edição de Novembro de 2021)

Magnum Carlos Lucas
O Baton é o Cão de Gado Transmontano que guarda as Herédias.

 

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Grande Prova – Quando Verde não é uma cor

Grande Prova Verdes

O Vinho Verde não é uma categoria de vinhos. Se antigamente o consumidor ainda tinha desculpa para fazer esta confusão, por falta de conhecimento ou de vinhos com grande impacto, hoje é imperdoável. O Vinho Verde é uma denominação de origem que coincide geograficamente com a região do Minho. E é, sem dúvida, uma grande […]

O Vinho Verde não é uma categoria de vinhos. Se antigamente o consumidor ainda tinha desculpa para fazer esta confusão, por falta de conhecimento ou de vinhos com grande impacto, hoje é imperdoável. O Vinho Verde é uma denominação de origem que coincide geograficamente com a região do Minho. E é, sem dúvida, uma grande região para vinhos brancos no nosso país.

Texto: Valéria Zeferino
Fotos: Ricardo Palma Veiga

A região dos Vinhos Verdes tem o seu perfil diferenciador marcado pelas condições climáticas vincadas e pelas castas pouco ou nada utilizadas noutras regiões do país (com excepção de Arinto). O enorme sucesso de marcas de volume como Casal Garcia, Gazela ou Gatão não podem justificar generalização, impedindo ver o potencial qualitativo e a diversidade da região. Pensar que todos os vinhos daquela zona são simples, levemente doces e gaseificados, é uma visão redutora. Os vinhos com carácter mais sério e ambicioso, sem comprometer o perfil marcadamente fresco da região, representam hoje, segundo o Presidente da Comissão Vitivinícola Regional dos Vinhos Verdes (CVRVV), Manuel Pinheiro, cerca de 20% da produção em termos quantitativos, mas elevam o padrão e a percepção da qualidade e de valor do Vinho Verde, como a expressão do seu território.

Marcos históricos

 A menção mais antiga ao Vinho Verde data de 1606, num documento passado pela Câmara do Porto. Vinho Verde foi uma das primeiras regiões a ser demarcada em 1908 e desde 1929 tem os seus contornos actuais. É uma das maiores regiões de Portugal em termos de área de produção, a seguir ao Douro e Alentejo, ocupando mais de 24 mil hectares (dados estatísticos do IVV a 31 de Julho de 2020). Em termos de produção é a quarta maior região a seguir ao Douro, Alentejo e Lisboa, produzindo 816 396 hl na campanha 2019/2020 o que corresponde a 13% de produção nacional.

Nos últimos quatro anos (sem contar com 2020) a presença no mercado nacional estava a crescer continuamente, atingindo em 2019 quase 21,5 milhões de litros o que corresponde a uma quota do mercado de quase 18%. É a segunda maior em volume a seguir ao Alentejo (com 37,6% do mercado) e em valor fica no terceiro lugar após Alentejo e Douro, ocupando 15,5% do mercado nacional, segundo a Nielsen.

O preço médio também foi crescendo nos últimos 4 anos e em 2019 ficou nos 4,86 euros por litro, ultrapassando regiões como Beiras, Beira Atlântico, Lisboa, Tejo e Península de Setúbal.

96,6% dos vinhos da região são vendidos como DOC e nesta vertente o Vinho Verde lidera no mercado nacional. Mais de 70% é vendido na distribuição, mas também tem uma presença interessante na restauração.

Ao contrário da realidade histórica, na região produz-se muito mais brancos do que tintos.  Segundo os dados estatísticos da CVRVV, em 2020, de vinhos tranquilos (DOC Vinho Verde + Regional Minho) foram produzidos quase 62,5 milhões de litros de vinho branco e apenas um pouco mais de 4 milhões de litros de vinho tinto. Nota-se uma tendência forte na produção de rosés que estão a crescer exponencialmente. Só nos últimos 10 anos o volume de produção aumentou de 1 milhão para mais de 7 milhões de litros.

Os vinhos monovarietais (DOC + Regional) de Loureiro representam uma quantidade significativa de mais de 3 750 000 de litros e de Alvarinho quase 3 150 000 de litros.

Em termos de exportação, os Vinhos Verdes estão presentes em mais de 100 países, dos quais os principais mercados são Estados Unidos, Alemanha, Brasil, Fança, Reino Unido, Polónia e Canadá. Nos últimos 5 anos a exportação subiu em volume e em valor, atingindo 31.173.338 litros e 73.805.245 euros.

Grande Prova VerdeDinâmica da região

 A região do Vinho Verde não só mudou drasticamente nos últimos anos, como está em constante mudança. É uma das regiões mais dinâmicas do país. Para isto existem vários factores, partilhados por Manuel Pinheiro. O principal é a viticultura que melhorou imenso. As formas antigas de condução, quando a vinha era alta, apoiada em tutores (árvores ou postes) e dispersa pelas bordaduras dos campos com outras culturas como o milho, a batata e a forragem para o gado, já não são praticadas. Ainda se podem encontrar vinhas de enforcado com videiras a trepar até 3-6 metros de altura, ou ramadas e latadas – que hoje representam um autêntico museu ao ar aberto. A vinha está a ser restruturada e reconvertida até 500 ha por ano, permitindo ter a matéria prima de óptima qualidade, mesmo em condições desafiantes. As castas mais utilizadas na reconversão são Loureiro, Alvarinho, Arinto e Avesso e entre castas tintas aposta-se mais no Vinhão. Outro factor decisivo tem sido a geração de novos enólogos e produtores que trouxeram uma grande ambição e conhecimento a nível de enologia.

Terceiro factor – atenção ao mercado e antecipação das tendências por parte dos produtores atentes ao feedback dos seus clientes nacionais e internacionais. Assim, em paralelo com vinhos de lote, começaram a produzir com bastante sucesso os vinhos monovarietais que mostram o carácter das castas da região. Os rosés do Vinho Verde são outro objectivo alcançado. A procura é tanta que neste momento não há vinho que chegue para a satisfazer. Segundo Manuel Pinheiro, a maior parte de vinhos produzidos na região, são brancos, representando 86-87%, mas os rosados em 2020 cresceram 32%.

O projecto mais recente promovido pela CVRVV consiste no desenvolvimento de uma estratégia de sustentabilidade que integrará os viticultores e produtores da região. Neste âmbito foi feito um acordo com a Agro.ges para efectuar um estudo de diagnóstico, com base no qual a CVRVV irá fazer acções de formação e apoio aos produtores para melhorarem a sua eficiência no uso de recursos.

Solos e climas

 A região do Vinho Verde situa-se no Noroeste de Portugal, o que se chamava antigamente entre Douro e Minho. A Oeste é naturalmente delimitada pelo oceano Atlântico, a Este confina com contrafortes de um maciço montanhoso constituído pelas Serras da Peneda, Gerês, Cabreira, Alvão, Marão, Montemuro entre outras. O rio Minho marca a sua fronteira Norte e o rio Douro a fronteira Sul. O seu relevo forma um anfiteatro exposto ao mar, recortado pelos vales e rios. Os ventos marítimos acabam por não encontrar grandes obstáculos, penetrando pelos vales orientados de Este para Oeste.

Tirando algumas excepções, quase todo o solo da região é formado pela agregação dos granitos. Em algumas partes o granito mistura-se com xisto e também há zonas de algum aluvião. Tem 9 sub-regiões, sendo Monção e Melgaço, a Nordeste a fazer fronteira com Espanha, a mais protegida da influência atlântica pelas cadeias montanhosas, com maior renome nacional e internacional, onde a casta Alvarinho goza (meritoriamente) um grande protagonismo. A sul de Monção e Melgaço fica a sub-região do Lima, dispondo-se na bacia hidrográfica do rio Lima, e está associada à casta Loureiro. A sub-região Cávado, Ave e Sousa esticam-se à volta dos rios com os mesmos nomes. A sub-região de Paiva ocupa a margem sul do rio Douro. Na parte interior fica a mais montanhosa sub-região de Basto. Mais a Sul continua a sub-região de Amarante, atravessada pelo rio Tâmega (afluente do Douro). Mais perto do Douro localiza-se a sub-região Baião – a terra da casta Avesso.

As alterações climáticas são uma realidade e já se sente o seu efeito na região. Antigamente, as geadas eram frequentes, agora acontecem cada vez menos, mas o excesso de insolação é outro problema. Com as alterações climáticas diminui a acidez e o grau sobe. O excesso de álcool não é positivo para os vinhos da região, que se têm afirmado como vinhos com uma frescura intrínseca e teor alcoólico moderado.

Nos Vinhos Verdes chove mais do que em Bordeux, mas a água é distribuída de maneira diferente. A chuva está concentrada nos meses de Outubro até Maio, chovendo muito pouco em Julho, Agosto e Setembro. As raízes normalmente não ultrapassam os 50-60 cm e nos solos bem porosos e nas encostas, a água vai logo para baixo, deixando as plantas em stress. Em certas zonas até a rega faz sentido, desde que seja feita com cuidado. Encostas franco-arenosas bem drenadas portam-se bem em anos mais chuvosos, mas quando chove pouco, é um problema. E ao contrário, nos anos muito secos o melhor resultado surge nos solos com maior capacidade de retenção de água.

Grande Prova VerdeCastas brancas de valor e personalidade

A casta mais plantada na região é Loureiro. Segundo dados estatísticos da CVRVV, lidera o top 15 de castas, ocupando mais de 4.000 ha. Foi conhecida como Loureira e mencionada pela primeira vez em 1790 em Melgaço e Vila Nova de Cerveira e só em 1875 na Ribeira do Lima, onde mais tarde encontrou a sua zona de eleição. No “Portugal Vinícola” de Cincinato da Costa, de 1900, também é chamada de Dourada e na altura já era cultivada nos concelhos de Arcos de Valdevez, Vila Nova da Cerveira, Ponte do Lima, Ponte da Barca, Melgaço, Monção, Caminha, Vila do Conde e Póvoa de Varzim.

Para além de produtividade elevada, é regular, dá muito rendimento em mosto. Gosta de solos profundos e de média fertilidade. Muito sensível ao sol e à seca, fica melhor mais perto da costa. Por isto adaptou-se bem ao vale do Lima. Sente-se bem em toda zona litoral da região.

É uma casta com elevada presença de compostos terpénicos livres (voláteis e facilmente perceptíveis) responsáveis pelos aromas florais. Os aromas característicos do Loureiro são acácia, flor de laranjeira, tília. Apresenta também aromas citrinos (lima, limão, laranja) e de folha de louro. Pode ter notas de maçã, pêssego e algum fruto tropical. De acordo com alguns estudos, apresenta a sua expressão máxima aromática depois da fermentação, mas também oferece nobreza de evolução. Anselmo Mendes considera que o Loureiro é muito mais aromático do que o Alvarinho e tem uma pureza de acidez a lembrar Riesling.

Segue-se Alvarinho, no segundo lugar, com 2.345 ha plantados. Casta ibérica por excelência, chamada de Albariño do outro lado da fronteira. Era praticamente exclusiva da sub-região Monção e Melgaço, ou seja, podia ser plantada noutras zonas da região, mas um rótulo não podia ostentar ao mesmo tempo o nome da casta Alvarinho e a denominação de origem Vinho Verde. Situação esta que muda definitivamente a partir da colheita deste ano de 2021 – o Vinho Verde Alvarinho pode ser produzido em qualquer parte da região.

Dá muito menos rendimento em mosto do que as outras castas. 65l de mosto de 100 kg de uvas (as outras castas, geralmente, dão 75l de mosto). É menos exuberante do que Loureiro, mas tem uma complexidade aromática extremamente interessante. Os seus aromas podem variar desde marmelo e pêssego, notas de fruta citrina (laranja, tangerina, toranja), fruta tropical (maracujá e por vezes, líchia). Notas florais de laranjeira de frutos secos (avelã, noz) também são comuns, podendo desenvolver nuances de mel com evolução. A sua composição aromática e perfil varia muito com a zona de plantação e abordagem enológica.

Tem uma boa acidez e bastante corpo, originando vinhos de grande longevidade. Anselmo Mendes vê o Alvarinho como uma casta que pode ser austera, mais redonda do que Loureiro.

O Arinto ocupa um pouco menos de 2.250 ha. É uma casta autóctone portuguesa, espalhada e apreciada em várias zonas do país, sendo a terceira mais plantada a nível nacional.

É popular também na região de Vinhos Verdes onde é conhecida como Pedernã, embora tenha muito menos protagonismo a nível varietal do que outras castas da região. Está bem presente em todas as sub-regiões com excepção de Monção e Melgaço, onde reina o Alvarinho.

Produz vinhos marcadamente citrinos, com notas de fruta branca (maçã e pêra) e ainda algumas notas florais a lembrar lantanas. Por vezes, pode desenvolver nuances de maracujá.

Para Anselmo Mendes é uma casta de outro mundo. Fica bem nas sub-regiões de Basto e Baião. Faz óptima parceria com Avesso, pois a acidez do Arinto é menos dura.

A Trajadura ocupa uma área com quase 980 ha. Não é das mais exigentes em termos de viticultura. Por um lado, tolera humidade no ar e no solo, por outro suporta, insolação. Adapta-se bem a qualquer tipo de poda e é bastante produtiva e regular. É utilizada sobretudo para lotes e o seu principal ponto fraco é a baixa acidez que pode levar ao desequilíbrio.

O enólogo e produtor António Sousa não vê a Trajadura numa vertente monovarietal. Se o Azal chega ao Verão com uma frescura fantástica, a Trajadura fica muito plana. Até pode ter aromas frescos, mas não tem frescura na boca. Falta-lhe alma, mas serve para “cortar” alguns Alvarinhos ou Loureiros demasiado intensos.

O Azal é plantado em quase 890 ha. É uma casta antiga mencionada desde 1790. Exclusiva da região Vinho Verde, e mesmo na região restringe-se a sub-regiões do interior, como Basto, Amarante, Baião e Sousa. É de ciclo longo, por isto precisa de solos secos e boa exposição, caso contrário não amadurece bem e fica excessivamente ácida. Anselmo Mendes aponta que é uma casta difícil na viticultura, “rebenta por todo o lado, obrigando fazer muita intervenção em verde”. Menos vista em vinhos varietais, antigamente só se usava em lotes, mas agora já se pode encontrá-la vinificada em estreme. Não tem um aroma muito intenso, mas transmite grande frescura com notas citrinas (limão) e de maçã verde.

Outra casta típica e exclusiva da região dos Vinhos Verdes é o Avesso. Presente em Amarante, Baião, Paiva e Sousa, com predominância na sub-região de Baião. Conhecida localmente como Borral, Bornal ou Borraçal branco, mas não tem sinonímias oficiais. Ocupa só 465 ha, mas é uma casta em ascensão. De viticultura difícil e de gostos contraditórios. Por um lado, tolera ambiente húmido, mas é muito sensível ao míldio, oídio e podridão cinzenta. Por outro, precisa de calor, mas facilmente apanha escaldão. António Sousa conhece viticultores que perderam 90% de produção desta casta por causa de escaldão. O sucesso e equilíbrio depende muito do sítio onde é plantada – precisa de zonas bem ventiladas, exposição a sul e alguma inclinação, terrenos secos e bem drenados. Virado para o Douro é onde se dá melhor, ali goza já um clima mais continental. Sensível a oxidação, não é uma casta intensamente aromática, fornecendo aromas de laranja, pêssego, notas amendoadas e leves florais. Precisa de algum tempo após a vinificação para potenciar os seus aromas.

É uma casta desafiante. Anselmo Mendes refere que o Avesso demonstra uma acidez quase metálica quando pouco maduro. Para António Sousa, Avesso transmite aos vinhos mais estrutura e por vezes, um toque amanteigado.

Algumas castas estrangeiras também estão presentes na região. Chardonnay e Sauvignon Blanc, por exemplo, já fazem parte dos top 15, mas são permitidas apenas para a produção de vinhos regionais.

Lotes e perfis

 Como atrás se disse, embora os varietais de Loureiro e Alvarinho, sobretudo, tenham vindo a crescer, a região dos Vinhos Verdes é feita de blends, misturas de vinhos de diferentes castas, com o objectivo de tirar o máximo partido de cada uma. A nossa Grande Prova deste mês assenta precisamente nesses blends. E estes são os principais:

Alvarinho e Trajadura – O seu casamento com Alvarinho é por conveniência, não é por amor. Quando não amadurece bem, tem muita acidez. Fernando Moura, para o Muralhas de Monção, por exemplo, usa o lote de 85% Alvarinho e 15% Trajadura. Como não é a casta mais aromática (maçã, pêra), neutraliza aromas do Alvarinho e não convém que ultrapasse 20% do lote, a menos que se procure outro estilo.

Alvarinho e Loureiro em proporções variadas, uma parceria de sucesso que alia a personalidade de duas grandes castas.

Alvarinho, Loureiro e Avesso, onde o Alvarinho confere corpo, solidez e estrutura, o Loureiro intensidade aromática e acidez e o Avesso acidez e mineralidade. A união de performance aromática das três castas traz complexidade.

O sucesso de um blend não se deve apenas à presença de Alvarinho. É como Cristiano Ronaldo, não precisa de jogar sempre para a equipa ganhar. O lote de Casa Grande Sant’Ana é de Azal, Avesso, Arinto e Alvarinho. No Singular, 45% do lote são vinhas velhas em conjunto com outras castas como Malvasia Fina, Avesso, Arinto, onde o Alvarinho está em minoria com apenas 8%. No San Joanne Terroir Mineral, o Alvarinho não entra de todo, tendo só Avesso e Loureiro e o Sem Igual é uma belíssima parceria de Azal e Arinto que resultou num vinho com muita personalidade.

A abordagem enológica varia em função da casta. A temperatura de fermentação é outro factor que pode influenciar o perfil do vinho. Para obter aromas imediatos, opta-se para conduzir fermentação alcoólica a baixas temperaturas (12-14ºC). Para potenciar aromas da casta e mais duradouros, as temperaturas preferem-se mais altas. O gás carbónico ainda é visto como um atributo de caracterização dos vinhos da região, mas há produtores que diminuem ou recusam a sua presença no vinho. Por outro lado, os vinhos são cada vez mais secos, sobretudo no mercado nacional. As operações como bâtonnage na cuba, fermentação ou eventualmente estágio em barricas também são feitas quando se procura um determinado perfil. Porque uma região não se resume apenas a um perfil de vinho. E na região dos Verdes, de enorme diversidade e potencial, os vinhos têm todas as cores, aromas e sabores.

Grande Prova Verde

(Artigo publicado na edição de Abril de 2021)

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FAIR’N GREEN é uma certificação de sustentabilidade e a José Maria da Fonseca é a primeira empresa de vinho portuguesa a recebê-la para um dos seus produtos. Esta certificação começou com um projecto para produtores de vinho alemães, em 2013, mas já certificou quase 100 empresas em 7 países.

A primeira referência da José Maria da Fonseca a integrar a certificação FAIR’N GREEN é um dos seus vinhos mais emblemáticos, o Periquita Reserva, cuja produção anual é de cerca de um milhão de litros.

António Soares Franco, presidente da empresa produtora, afirma: “A sustentabilidade faz parte do DNA da José Maria da Fonseca há várias décadas. Por ser uma empresa de sete gerações, vemos a sustentabilidade como a única forma de as próximas gerações da família terem uma empresa viável e gerida com responsabilidade nas áreas de meio ambiente, social e económica. Com base na nossa filosofia, era lógico expandirmos para uma certificação de sustentabilidade holística, que nos ajuda a melhorar sistematicamente ao longo do tempo”.

Por sua vez, Keith Ulrich, fundador e presidente do conselho da associação FAIR’N GREEN, declara: “Damos as boas-vindas ao nosso primeiro membro português. Somos uma rede crescente de produtores de vinho inovadores e dinâmicos que não quer somente esperar pelas decisões políticas para dar os próximos passos, mas que quer ajudar a transformar a viticultura, de forma a que esta se torne mais sustentável a partir de dentro. A beleza de trabalhar com todos os tipos de empresas em várias regiões e países é que podemos realmente criar novos conhecimentos: as pequenas empresas costumam ser altamente inovadoras, as grandes empresas podem trazer inovações em escala. Acreditamos firmemente que a nossa abordagem orientada para consultoria trará os melhores efeitos no longo prazo. Estamos empenhados em contribuir para a mudança no mundo real, não apenas em validar pontos de uma checklist”.

No âmbito das suas políticas e práticas sustentáveis, a José Maria da Fonseca instalou recentemente um sistema solar fotovoltaico para autoconsumo, na Quinta da Bassaqueira, em Vila Nogueira de Azeitão, que, segundo a própria, irá permitir uma poupança energética de 38%. Implementado e gerido pela ENGIE Hemera, “este sistema irá também evitar a emissão de 250 toneladas de CO² por ano, que equivalem a 55 hectares de floresta ou à retirada de 139 carros da estrada por ano”. 

Esporão elege Rui Falcão como responsável de Comunicação e RP

Esporão Rui Falcão

O Departamento de Comunicação e Relações Públicas do Esporão passa agora a ser liderado por Rui Falcão.  Com mais de duas décadas de experiência no sector vínico, Rui Falcão é autor de oito livros dedicados ao vinho, incluindo uma obra sobre a totalidade das regiões portuguesas, dividida em onze edições. Antigo colaborador de várias publicações […]

O Departamento de Comunicação e Relações Públicas do Esporão passa agora a ser liderado por Rui Falcão. 

Com mais de duas décadas de experiência no sector vínico, Rui Falcão é autor de oito livros dedicados ao vinho, incluindo uma obra sobre a totalidade das regiões portuguesas, dividida em onze edições. Antigo colaborador de várias publicações nacionais e internacionais, Rui Falcão é o fundador do evento MUST – Fermenting Ideas, uma conferência internacional que congrega líderes de opinião, media e produtores oriundos de diversos países, num fórum de debate e análise sobre os desafios de curto e médio prazo que se colocam ao mundo do vinho.

Rui Falcão comenta “é com grande satisfação que abraço o desafio de reforçar a equipa do Esporão, passando a assumir a responsabilidade pelo novo departamento de Comunicação e Relações Públicas. A minha vasta experiência no mundo dos vinhos, ao longo de mais de duas décadas, vai contribuir para fortalecer a comunicação do Esporão na área dos vinhos, azeite, cerveja artesanal e enoturismo da Herdade do Esporão, Quinta dos Murças e Quinta do Ameal”.

Os Melhores Vinhos de 2021: Espumante, Branco, Tinto e Fortificado

Como é hábito, escolhemos o melhor tinto, branco, espumante e fortificado apresentados ao longo do ano de 2021. Mas, pela primeira vez, atribuímos nesta edição também o prémio de melhor rosé: a oferta qualitativa desta categoria de vinho já o justifica plenamente. Vértice Douro Espumante Pinot Noir branco 2011 Vinha dos Utras 1os Jeirões Pico […]

Como é hábito, escolhemos o melhor tinto, branco, espumante e fortificado apresentados ao longo do ano de 2021. Mas, pela primeira vez, atribuímos nesta edição também o prémio de melhor rosé: a oferta qualitativa desta categoria de vinho já o justifica plenamente.

Vértice
Douro Espumante
Pinot Noir branco 2011
Vinha dos Utras 1os Jeirões
Pico
branco 2019
Kopke Winemaker’s Collection
Douro Tinto Cão
Reserva rosé 2020
Quinta da Manoella VV
Douro
tinto 2018
Ramos Pinto RP30
Porto Tawny 30 Anos

TOP 30 – Os vinhos de sonho de 2021

Milhares de provas todos os anos e a dificuldade continua a mesma: eleger os 30 melhores dos melhores, no meio de tantos vinhos de excelência. A qualidade aumenta de ano para ano, ao mesmo tempo que vão surgindo novos vinhos e projectos estimulantes no conceito e singularidade. Isso torna esta tarefa ainda mais desafiante, mas […]

Milhares de provas todos os anos e a dificuldade continua a mesma: eleger os 30 melhores dos melhores, no meio de tantos vinhos de excelência. A qualidade aumenta de ano para ano, ao mesmo tempo que vão surgindo novos vinhos e projectos estimulantes no conceito e singularidade. Isso torna esta tarefa ainda mais desafiante, mas enche-nos de orgulho e satisfação.

Estes resultados foram apurados através de votação entre a equipa de provadores residentes da Grandes Escolhas: Valéria Zeferino, Mariana Lopes, João Paulo Martins, Nuno de Oliveira Garcia e Luís Lopes. Como sempre, moveu-nos o sentido de responsabilidade, isenção e rigor.
É uma escolha subjectiva, como todas. Mas, estamos certos, ninguém duvidará da grandeza dos premiados.€50
Vértice
Douro Espumante Pinot Noir branco 2011
Caves Transmontanas[/heading]

Criada em 1989, a empresa Caves Transmontanas conseguiu em poucos anos inserir a marca Vértice na lista restrita dos melhores espumantes nacionais e levá-la até à mesa dos apreciadores mais exigentes. Os vinhos espumantes Vértice têm origem no Douro ou, mais concretamente, no planalto de Alijó, em particular as suas zonas de solos graníticos e de maior altitude. Os enólogos Celso Pereira e Pedro Guedes dão preferência às uvas brancas Gouveio, Malvasia Fina, Rabigato e Viosinho (com a “intromissão” da tinta Touriga Franca) para as referências Vértice Cuvée e Vértice Millésime, mas os seus vinhos de topo, os mais ambiciosos e de preço mais elevado, são de uma só variedade. O trio de luxo é assim composto por um Gouveio, um Chardonnay e, como não podia deixar de ser, um Pinot Noir. O vinho desta casta costuma ser, dos três, o meu preferido, e a edição 2011, com prolongado estágio em garrafa, originou mais uma vez um espumante sublime. L.L.

Degorjado em 2021, é um espumante notável, com os anos de cave a traduzirem-se numa bolha finíssima, as notas de biscoito entrelaçadas na fruta espantosamente jovem. A frescura de boca é cintilante, o vinho é leve mas intenso e cremoso, o sabor prolonga-se com elegante requinte. Soberbo! (12%)

€240
Vinha dos Utras 1os Jeirões
Pico branco 2019
Azores Wine Company

Este branco é o mais recente topo de gama da Azores Wine Company, e provém de uma vinha velha na zona da Criação Velha, o núcleo de vinhas mais antigas da ilha do Pico. Com predominância de Arinto dos Açores e outras castas misturadas (como Verdelho, Malvasia Fina e Boal de Alicante), a Vinha dos Utras foi adquirida em 2018 pela empresa. Tem 60 a 80 anos de idade, está quase encostada ao mar em “chão de lagido”, e recebe mais horas de sol, o que resulta, segundo António Maçanita, numa maior concentração e forte marca marítima. O sítio é muito especial e tudo isto se reflecte na garrafa. Na adega, as uvas são prensadas directamente, com as primeiras prensagens (70%) a ser vinificadas em inox — em cuba deitada para que as borras finas se estendam no fundo e fiquem em contacto com o máximo de área de vinho, protegendo-o — e as segundas em barricas de carvalho francês de terceiro uso, sem bâtonnage, durante 12 meses. M.L.

Vinha com 60/80 anos junto ao mar, sobretudo de Arinto dos Açores. Nariz delicado mas com muita casca de laranja, tangerina, iodo, grafite e leve fumo. Conjunto de extrema elegância e finesse, impactante, extraordinariamente bem envolvido, quase apaziguante para o palato. Um branco maravilhoso. (12%)

€25
Adega Mãe 221
Vinho Alvarinho branco 2017
Adega Mãe

Uma das muitas qualidades da casta Alvarinho é a sua adaptabilidade ao território onde está plantada, desdobrando-se em diferentes matizes que reflectem o solo e o clima que lhe disponibilizaram. Famosa pelos vinhos produzidos no vale do Minho (Monção e Melgaço), está também há várias décadas plantada na Lisboa atlântica. A Adega Mãe tem, naturalmente, um Alvarinho Lisboa na sua linha de varietais, mas com este vinho pretendeu ir mais longe, conjugando os dois enólogos consultores da casa, Anselmo Mendes e Diogo Lopes, e as duas origens. O vinho chama-se, por isso, Adega Mãe 221 – dois enólogos, duas regiões, uma casta. O produto final tem 50% de Alvarinho da Adega Mãe, (clima atlântico, solo argilo-calcário) e 50% de Anselmo Mendes (clima com influência continental, solo de granito). Como é um blend de duas regiões, não pode ter denominação de origem. Mas isso nenhum mérito tira ao grande vinho que está dentro das 2530 garrafas produzidas… L.L.

Tem uma bonita cor dourada e aroma profundo e complexo, dominado por casca de laranja cristalizada, gengibre, marmelo, um toque de mel e fumo. A boca é uma explosão de sabores centrados na laranja e toranja, com leve nota de maresia. Encorpado, fresquíssimo, distinto, brilhante. (12,5%)

€25
Ameal
Vinho Verde Reserva branco 2019
Quinta do Ameal

A Quinta do Ameal é um histórico produtor do vale do Lima, adquirido em 2019 pelo Esporão. Desde então, a empresa tem vindo a reestruturar a vinha (14 hectares), construiu uma nova adega e reposicionou as marcas. Ameal e Loureiro são quase sinónimos, e os Loureiro do Ameal constituem um caso paradigmático de consistência qualitativa e longevidade em garrafa. O Reserva (antigamente denominado Escolha) é o topo de gama da casa e tem origem numa parcela denominada Vinha das Marinhas. O vinho fermenta em inox e faz depois um estágio em barricas de carvalho francês. Com a entrada do Esporão e do enólogo José Luís Moreira da Silva, o peso da madeira neste vinho atenuou-se imenso, utilizando-se agora barricas já usadas, de 500 litros e também foudres de 2000 litros. O 2019 beneficiou já desta reorientação, com a fruta do Loureiro a afirmar-se em toda a sua plenitude. L.L.

Imponente no primeiro impacto aromático, com levíssimo fumado amparando a fruta expressiva, apontamentos de flores silvestres e especiarias. Complexo e requintado, amplo e cremoso, imensa frescura aliada a grande profundidade, delicado e intenso ao mesmo tempo, belíssimo branco, com muita vida pela frente. (11,5%)

€30
Anselmo Mendes Private
Vinho Verde Monção e Melgaço Alvarinho branco 2018
Anselmo Mendes

Este vinho tem origem na nova propriedade que o produtor tem em Monção, a quinta da Torre, onde está plantada a maior área contínua da casta Alvarinho em Portugal. Como a quinta dispõe de várias parcelas bem distintas, Anselmo escolheu aquela onde o solo de granito é mais profundo. Na adega o mosto fermentou em barricas usadas de 400 litros, uma prática cada vez mais presente nos seus vinhos. A opção seguinte foi deixar o vinho sobre as borras totais, durante 9 meses, com bâtonnage. Seguiu-se um estágio de 9 meses em garrafa antes de ser comercializado. Em Anselmo Mendes sempre reconhecemos o espírito inovador mas que assenta num estudo minucioso dos solos, das práticas culturais que usa nas suas propriedades e dos princípios de grande rigor científico que definem a sua enologia. (JPM)

De cor de limão maduro, tem uma bela presença aromática, apontamentos de marmelo, maçã perfumada, laranja, gengibre. O corpo cheio é servido por brilhante acidez citrina, com originais nuances infusão de ervas, cidreira, mas sempre seco, austero, sério. No final, interminável, a tangerina perdura. (12,5%)

€42
Herdade Aldeia de Cima
Alentejo Garrafeira branco 2019
Herdade Aldeia de Cima do Mendro

O novo projecto de Luisa Amorim, na propriedade alentejana da família, contempla naturalmente os vinhos e o conjunto de produtos já apresentados mostra-nos o extremo cuidado que foi posto na produção dos tintos e brancos. Designativo pouco habitual num branco do Alentejo, merece destaque este Garrafeira, dominado pela casta Antão Vaz, a mais representativa da Vidigueira. Acrescentou-se 25% de Alvarinho e 5% de Arinto e tudo fermentou em balseiros de 3000 litros, resultando um branco de grande complexidade e riqueza. Para cumprir o designativo de qualidade, o vinho estagiou 18 meses em garrafa antes da comercialização. Assim se procurou homenagear os antigos brancos da região, cheios, ricos e distintos. J.P.M.

Citrino na cor, muito rico no aroma, com fruta madura e fumados de madeira em pano de fundo. O que sobressai, porém, é a textura da fruta, a gordura e a concentração aliada a elegância. Na prova de boca há uma bela alegria, com fruta de caroço, como alperce, pêssego e um toque de fruto seco, tudo muito rico e servido por acidez perfeita. (14%)

€90
Herdade do Sobroso Élevage
Alentejo branco 2019
Herdade do Sobroso

Vinte anos após a plantação das primeiras vinhas na Herdade do Sobroso, Sofia Machado e Filipe Pinto decidiram que era hora de fazer dois vinhos muito especiais: os Élevage, em branco e tinto. O branco, aqui destacado com um dos melhores 30 de Portugal, é um lote de Antão Vaz e Perrum que estagia em ânfora, mas não nas tradicionais alentejanas que dão origem a Vinho de Talha. Os Élevage não o são, nem nunca o pretenderam ser, e Filipe, enólogo do Sobroso, já explicou que a vontade não era produzir Vinho de Talha, por achar que o estilo não se aplicava ao projecto da Herdade do Sobroso. Assim, após longa procura por algo que se encaixasse nesta específica ideia, o casal adquiriu ânforas produzidas em Itália a partir de argila de elevada pureza, à qual os oleiros aplicaram um processo de cozedura de altas temperaturas. São exemplares mais estreitos e elegantes do que as típicas talhas alentejanas, com uma tampa que permite estágios mais prolongados, como o que fez este Élevage, durante doze meses. Um nome bem escolhido, para um vinho que eleva o Alentejo e a sub-região da Vidigueira. M.L.

Antão Vaz e Perrum, com estágio em ânfora. Bem mineral e pedregoso no nariz sério e bonito, a sugerir nota de barro fresco e húmido. Na boca é ainda mais impressionante, mostra uma pureza de fruta gigante, enorme envolvência, estrutura e precisão. Muito rico no conjunto, invoca umami, um “je-ne-sais-quoi” difícil de descrever. Extremamente longo e cremoso, a acabar com sugestão mentolada fresca. Um grande e sedutor vinho branco. (13%)

€30
Kompassus Private Collection
Bairrada branco 2016
Kompassus Vinhos

Arinto e Cercial é o lote do Kompassus Private Collection branco 2016, o vinho vencedor da última Grande Prova de brancos Bairrada feita na Grandes Escolhas, em Setembro de 2021. O produtor João Póvoa, que admite ter a Cercial como sua paixão, conta que este vinho nasce de vindima manual com escolha de cachos, desengace, e maceração na prensa de 8 a 12 horas. Depois, é feita uma leve prensagem e a casta Arinto faz a primeira fermentação em inox, acabando em barricas novas de 400 litros. Já a Cercial, fermenta totalmente em barrica usada. Ambos os vinhos permanecem 10 meses nas barricas, com bâtonnage, e juntam-se apenas 10 dias antes do engarrafamento. O lote finaliza com estágio de 4 anos em garrafa. Na Kompassus Vinhos, o formato das barricas tem vindo a aumentar nos últimos anos, tendo começado nos 300 litros, depois 400, sendo que, a partir de agora, serão barricas de 600 litros com tosta ligeira a acomodar os vinhos mais preciosos da empresa. Estaremos, num futuro próximo, perante um Private Collection branco ainda melhor do que o 2016? Só o tempo o dirá. M.L.

Arinto e Cercial. Muito complexo no nariz pleno de especiarias, flores brancas secas, ameixa verde, leves fumados e pederneira. Na boca mostra-se um “senhor vinho”, envolvente, sedoso, elegante, com excelente estrutura e presença. Muita classe e finesse, um grandíssimo branco. (12,5%)

€40
Luis Pato Quinta do Ribeirinho
Bairrada Sercialinho branco 2019
Luis Pato

Eis um vinho raríssimo que é difícil de encontrar análogos em Protugal (e já agora, no mundo) – um monovarietal de Sercialinho. O produtor Luis Pato explica que a casta foi plantada por seu pai na Quinta do Ribeirinho nos anos 60 do século passado. Como se verificou com o tempo, o Sercialinho deu-se particularmente bem neste solo arenoso. A casta estava presente em muito poucas vinhas na região vinhas e normalmente entrava em lotes para assegurar a acidez, conferindo longevidade. Sempre foi utilizada no branco Luís Pato Vinhas Velhas, por exemplo. Entretanto, em 2013 foi feita a primeira experiência, numa pipa apenas, para ver como o Sercialinho se comportava a solo. Foi um sucesso que motivou a segunda edição na colheita de 2019 e a terceira de 2020. Para além dos 6 hectares com Sercialinho que detém neste momento, o produtor irá plantar mais dois para assegurar a produção do monovarietal sem prejudicar os lotes. O vinho é feito só de mosto lágrima e estagia em madeira de castanho para não ser marcado pelo tom mais intenso do carvalho. V.Z.

Excelente expressão aromática, com imensa finura, muitas notas citrinas, mas também pedra molhada, sílex, ervas frescas, flores do campo, levíssimo fumado, tudo com grande subtileza e elegância. A boca é de uma notável precisão, com fantástica expressão de casta e imensa frescura. Um enorme branco para a garrafeira. (14%)

€25
Palácio dos Távoras
Trás-os-Montes Grande Reserva branco 2020
Costa Boal Family Estates

A Costa Boal afirmou-se nas regiões de Trás-os-Montes e Douro (expandindo recentemente as suas operações para o Alentejo). A sua presença e impacto em Trás-os-Montes é enorme, onde possui vinhas desde Valpaços até ao Planalto Mirandês. Estamos a falar de mais de 16 ha de vinha em Mirandela com idade superior a 60 anos, aos quais se soma uma pequena parcela de 2 ha em Miranda do Douro, junto a Sendim.

O primeiro Grande Reserva branco de vinhas velhas surge de colheita de 2015, tendo sido afinado de ano para ano, até que na colheita de 2020 aparece no mercado com a maior afinação de sempre, sendo um dos melhores brancos da região e do país. A vindima ocorreu mais cedo do que nas edições anteriores. Seguiu-se uma vinificação cuidada e assertiva com maceração pré-fermentativa durante 48 horas e estágio em barrica de carvalho francês durante 10 meses. As castas não são evidentes, pois como é habitual nas vinhas velhas, trata-se de uma mistura de muitas. V.Z.

Valpaços. Fermentação em inox e estágio de 10 meses em barrica. Amarelo citrino cheio de brilho. Aroma elegante, mais fresco que em anteriores edições, limão maduro, fruto de caroço, caruma, e alguma barrica ao fundo. Prova de boca cheia e com sabor, retendo excelente acidez, com final seco e mineral. A melhor edição deste vinho. (13%)

€80
Quinta da Manoella VV
Douro tinto 2018
Wine & Soul

A Quinta da Manoella é mais do que o lugar de onde provém vinhos fantásticos, é um pequeno e clássico universo duriense, com olival e muita floresta. Por isso, desde a compra da propriedade que se implementou um plano de manutenção e recuperação da quinta, começando pela vinha, com cuidados especiais na identificação de castas (o que permitiu mapear o encepamento e descobrir surpresas, caso da variedade quase desconhecida Touriga Rosa). O restante património existente também não foi esquecido, como sejam estradas, armazéns, casario disperso e os vários muros existentes (cujos trabalhos de restauro já levam mais de dois anos). O gasto tipicamente envolvido nestes investimentos aconselham prudência, e Jorge e Sandra têm a consciência que só de forma progressiva – “ano após ano’ dizem-me – grande parte das infraestruturas vão sendo recuperadas. O Quinta da Manoella VV é um verdadeiro clássico, pisado e fermentado em lagar durante 10 dias. Estagiou depois em barricas, boa parte usadas, durante 20 meses. N.O.G.

O aroma segue o perfil do ano, potenciado pelo terroir silvestre da propriedade: fruto azul elegante, (amora, mirtilo), arbusto e algum sous-bois (chão de floresta), floral maduro muito bonito, discreta barrica luxuosa. Na boca chega rico e com fruto, depois sente-se o tanino perfeito e de grande envolvimento, mineral também, final com notável frescura e raça. Fabuloso! (14,5%)

€32
CH by Chocapalha
Reg. Lisboa Touriga Nacional tinto 2018
Casa Agr. das Mimosas

Na Aldeia Galega, a Quinta de Chocapalha, de que existem notícias desde o séc. XVI, tornou-se o refúgio da família Tavares da Silva. Cresceu, desenvolveu-se e transformou-se numa referência da região. Entre outras castas, aqui medrou a Touriga Nacional, com uma originalidade: as varas foram trazidas directamente do Centro de Estudos de Nelas, no Dão, uma vez que nos anos 90 elas não abundavam ainda nos viveiristas. Vulgarizada posteriormente em muitas outras propriedades, a casta mostrou aqui muito carácter e personalidade. O mosto fermentou em lagares e estagiou 22 meses em barricas, parcialmente novas. Produção pequena mas com uma qualidade muito elevada, pela mão segura da enóloga Sandra Tavares da Silva. J.P.M.

Muita cor e brilho no copo, violeta escuro, denotando concentração. Aroma jovem, em parte fechado ainda, fruto encarnado e negro em camadas, com cereja madura, tudo muito profundo e balsâmico. Boca larga e imponente, mas fresca, graças a belíssima acidez. Imenso sabor, silvestre, longo, cheio e com garra. (15%)

€65
Chryseia
Douro tinto 2019
Prats & Symington

O nome Chryseia é derivado da palavra grega que significa “ouro”. São já 20 anos deste tinto do Douro que se tornou icónico. A parceria entre Bruno Prats, que em tempos dirigiu o Château Cos d’Estournel em Bordeaux, e a família Symington, originou um tinto de grande impacto no mercado nacional e internacional.

O primeiro Chryseia foi de colheita de 2000 e teve logo aprovação e sucesso generalizado. Na viragem da primeira década, com a aquisição pela Prats & Symington da Quinta de Roriz, perto de Ervedosa, os vinhos tiveram um salto qualitativo e passaram a assegurar uma enorme consistência.

O Chryseia 2019 resulta de um ano seco e ameno, mas que graças a um verão fresco teve maturações lentas e perfeitas. A composição varietal mudou ligeiramente ao longo dos anos, resumindo-se ultimamente à imbatível dupla duriense, nesta vindima com 75% de Touriga Franca e 25% de Touriga Nacional, estagiadas durante 14 meses em barricas de 400 litros de carvalho francês. É um excelente herdeiro desta linhagem de 20 anos. V.Z.

Aroma muito bonito e profundo, com frutos pretos e do bosque, ervas aromáticas e especiarias, a adivinhar barrica de grande qualidade, muito tentador. Na boca tem taninos vibrantes, muito sabor, acidez no ponto, corpo robusto, cheio de tensão e vigor, mas também elegância. Final apimentado, longo, rugoso, a prometer um grande futuro. (14,5%)

€140
Duorum O. Leucura
Douro tinto 2015
Duorum Vinhos

O projecto Duorum, sedeado na Quinta de Castelo Melhor, perto de Vila Nova de Foz Côa, é a “extensão duriense” do produtor e enólogo João Portugal Ramos, aqui assessorado na viticultura e enologia por João Perry Vidal. O. Leucura é o vinho de topo da casa. O nome visa acentuar a importância da consciência ambiental na Duorum e, ao mesmo tempo, homenagear o chasco preto, ave muito rara que podemos encontrar nesta quinta. O seu nome científico (Oenanthe leucura) significa, basicamente, “pássaro do vinho, de cauda branca”. O primeiro O. Leucura nasceu na vindima de 2008 e, até hoje, foram lançadas apenas mais três colheitas: 2011, 2012 e 2015. É oriundo de uma vinha de 10 hectares, hoje com 50 anos, orientada e norte e nascente, e tem como base as castas Touriga Nacional e Touriga Franca. O 2015 originou 6.404 garrafas e revela um estilo muito tenso e fresco, algo que que aprecio particularmente. L.L.

Perfeita conjugação entre poder e elegância, com distinta finura aromática, embora ainda fechado, sisudo, parecendo precisar de mais tempo. Mantém o estilo da marca, num perfil clássico, com muita especiaria, esteva, alecrim, fruta madura, tanino sólido muito bem envolvido pelo corpo cheio, belíssima frescura de boca, notável equilíbrio e presença. (14%)

€52,90
Gloria Reynolds
Reg. Alentejano tinto 2011
Reynolds Wine Growers

Nos 40 hectares de vinha da Reynolds Wine Growers, em Arronches, a casta mais presente é Alicante Bouschet, bem como nos vinhos, e isso tem uma explicação: foi o bisavô de Julian Reynolds — fundador e administrador da empresa — e o seu irmão que trouxeram esta uva para o Alentejo, no século XIX. Muito por essa razão, Julian sempre afirmou que a sua vontade é que a Alicante Bouschet seja a identidade dos seus vinhos. Afinal, está-lhe “no sangue”. O tinto Gloria Reynolds é, precisamente, um varietal Alicante Bouschet e o topo de gama da casa, apenas destronado por ele próprio quando, passados vários anos em garrafa, se mostra portentoso e passa a ser comercializado como “Gloria Reynolds Cathedral”. O Alicante aqui usado vem de uma vinha que se situa num cabeço da Herdade da Figueira de Cima, a uma altitude de 400 metros, e faz fermentação maloláctica e estágio de 24 meses em barricas de carvalho francês da tanoaria francesa Séguin Moreau. Depois, estagia prolongadamente em garrafa, sendo que este 2011 saiu para o mercado apenas no final de 2021. Impressionante, tal como o próprio vinho. M.L.

Alicante Bouschet. Impressiona muitíssimo, com cor intensa para a idade, enorme riqueza e complexidade de aroma, misturando bagas maduras, especiarias, balsâmicos, ervas silvestres. A frescura de boca é absolutamente notável, associada a corpo cheio e taninos densos, resultando num tinto de brilhante equilíbrio e carácter, agora no ponto certo para ser apreciado. Sublime. (14,5%)

€85
Júlio B. Bastos
Reg. Alentejano Alicante Bouschet Grande Reserva tinto 2015
Júlio Bastos

A ligação histórica do produtor Júlio Bastos à casta Alicante Bouschet é já bem conhecida, evidente na época em que a sua família detinha a Quinta do Carmo e continuada depois no projecto Dona Maria. Por isso, e apesar de Dona Maria ser hoje uma marca que se estende por uma vasta gama de vinhos, brancos, rosés e tintos feitos a partir de diversas castas, a variedade Alicante Bouschet mantém-se como identitária desta casa de Estremoz. Por falar do local, a casa apalaçada do século XVIII merece, por direito próprio, visita atenta. Voltando ao Alicante Bouschet, e ainda que entre noutros lotes de topo do produtor (como no Grande Reserva onde é apenas metade do blend, sendo o resto Petit Verdot, Syrah e Touriga Nacional), é nesta marca Júlio B. Bastos – homenagem de Júlio ao senhor seu pai – que a casta tintureira mais se destaca pela profundidade e complexidade, com todo o carácter das vinhas mais velhas do produtor plantadas em solos argilo-calcários. As uvas são pisadas e fermentadas em lagares de mármore e o vinho estagia em barrica nova de carvalho francês por período nunca menor a 14 meses. O resultado: fabuloso! N.O.G

Desde há muito um Alicante de referência, nesta edição de 2015 apresenta-se com surpreendente elegância, pouco comum na casta, mantendo toda a sua notável profundidade e complexidade. Notas de terra, bagas, cogumelos, taninos sólidos mas polidos, excelente acidez a dar enorme dimensão. Distinto, brilhante, interminável. (13,5%)

€130
Paço dos Cunhas Vinha do Contador “Grande Júri”
Dão tinto 2013
Paço de Santar

O Paço dos Cunhas é uma das mais antigas propriedades do Dão, cujas vinhas e lindíssimo solar sitos em redor da não menos lindíssima vila de Santar foram há alguns anos recuperados pela Global Wines. Conta atualmente com 20 ha de vinha, em modo biológico desde 2007, sendo que a referência Vinha do Contador é o topo de gama na versão branco e tinto. O conceito por detrás da designação Grande Júri é singular e depende de quase duas dezenas de provadores convidados, de várias nacionalidades. Após a prova de colheitas mais antigas, o júri prova em conjunto o vinho pela primeira vez e atribui uma pontuação de forma anónima. Se a pontuação for acima da prevista nas regras do evento, obterá a designação de Grande Júri. No que ao néctar propriamente dito diz respeito, estamos perante o que melhor a região produz, sobretudo num perfil ambicioso e de algum luxo, sempre com longos estágios em barrica. O enólogo Osvaldo Amado não esconde que todos os pormenores são pensados e que o vinho só é apresentado ao júri quando entende merecer a máxima designação. O facto do lançamento ser em 2021, ou seja quase uma década depois da colheita, é sinal evidente da confiança por trás do vinho N.O.G.

Maioria Touriga Nacional, sendo o remanescente Alfrocheiro e Tinta Roriz. Fermenta em lagar, com 24 meses de estágio em barricas novas e usadas. Aroma jovem apesar dos anos em garrafa, algo preso ainda. Com arejamento sente-se a fruta bonita, encarnada e negra, caruma de pinheiro, leve alcaçuz e trufa, barrica presente. Prova de boca ampla e saborosa, acidez perfeita, bela frescura geral, termina longo, com patine e elegância. (14,5%)

€399
Pêra-Manca
Alentejo tinto 2015
Fundação Eugénio de Almeida

O Pêra-Manca é um dos mais cobiçados vinhos nacionais, um verdadeiro luxo, não apenas pela qualidade e carácter, mas também pelo preço que alcança nas lojas. A Fundação Eugénio de Almeida criou os primeiros Pêra-Manca (branco e tinto) na colheita de 1990, mas o tinto não acontece todos os anos. O 2015, é a décima sexta edição colocada no mercado, com a particularidade, até agora inédita, de ser o terceiro ano consecutivo de Pêra-Manca tinto, o que diz muito da consistência na vinha e na adega alcançada nesta casa liderada pelo enólogo Pedro Baptista. Seguindo a tradição, este clássico foi elaborado a partir das castas Aragonez e Trincadeira, em partes quase iguais. A fermentação ocorreu em grandes balseiros de carvalho francês e o vinho beneficiou depois de um estágio de 18 meses em balseiro e de mais 48 meses em garrafa. É um dos melhores Pêra-Manca de sempre e, adicionalmente, o de maior produção: 44 mil garrafas. L.L.

Mostra impressionante profundidade e complexidade, fruta madura, mato seco, especiarias, tabaco, cacau amargo. Mantém a nota de folha de chá que caracteriza a marca, associada a sólida estrutura de taninos e potenciada por perfeito equilíbrio ácido que traz muita elegância e finura. Respira Alentejo, um clássico entre os clássicos, monumental. (14,5%)

€90
Poeira Vinha da Torre
Douro tinto 2017
Jorge Moreira

Nome incontornável na região do Douro, com trabalho feito em várias casas, Jorge Moreira criou o seu próprio projecto familiar na Quinta do Poeira. Apesar do sucesso ter chegado logo na primeira colheita, de 2001, Jorge não descansou e adquiriu em 2017 uma pequena parcela de 2 ha em Covas do Douro, a Vinha da Torre. A parcela, que tem a bonita idade de 70 anos, tinha a orientação norte que, para Jorge, é perfeita. Assim, segundo o enólogo, consegue-se a frescura e a energia ácida que aprecia nos seus vinhos. A vinha tinha tudo o que era necessário para se fazer ali, como aconteceu, um grande vinho: altitude média, encepamento equilibrado, produção contida, tudo a permitir maturações homogéneas. Nasceu assim um tinto notável, naturalmente diferente do Poeira “clássico”, mas reflectindo inteiramente o terroir e a pessoas que o fez nascer. J.P.M.

O aroma é de notável profundidade e complexidade, pedra molhada, mato, musgo e esteva, especiaria, a fruta belíssima aparece muito subtil e misteriosa. O ambiente é fresco, austero, com amplos e sólidos taninos. Seco, sisudo, excelente acidez e atractivos amargos marcam o final interminável. Um tinto brilhante, tinto de terroir, para várias décadas. (13,5%)

€29
Quinta das Bágeiras
Bairrada Garrafeira tinto 2017
Quinta das Bágeiras

Este vinho será sempre uma das minhas respostas à (quase) impossível e chata pergunta que um jornalista de vinho recebe muitas vezes: “Qual é o teu vinho português favorito”. Com origem em vinhas de idade superior a 90 anos, o Quinta das Bágeiras Garrafeira tinto fermenta em lagar aberto e sem desengace. Depois, a manta é mergulhada com rodos de madeira, várias vezes ao dia. Mais tarde, acaba a fermentação em tonéis de madeira antigos e estagia nos mesmos cerca de 18 meses.

Provavelmente um dos vinhos da Quinta das Bágeiras que esgota mais rapidamente, o Garrafeira tinto faz as delícias dos apreciadores do estilo Bairrada mais clássico. Já que o portefólio da casa já tem dois vinhos com os nomes, e ao estilo, dos patriarcas da primeira e da segunda geração da família nesta empresa — Avô Fausto e Pai Abel — é seguro afirmar que o Garrafeira é o vinho à imagem de Mário Sérgio Nuno: o clássico bairradino e, garantidamente, uma excelente companhia à mesa. M.L.

Sem surpresas, mas a desviar ligeiramente das duas edições anteriores, este Garrafeira volta à profundidade e à potência que já lhe é conhecida. No nariz, as notas terrosas e lenhosas imperam, sentindo-se o engaço e também cogumelo, turfa, pimenta branca, levíssima fruta negra. Adstringente (em bom), texturado e robusto, é muito elegante em simultâneo, com final longo, aveludado e luxuoso. Um grande Baga. (13,5%)

€280
Quinta do Crasto Vinha Maria Teresa
Douro tinto 2018
Quinta do Crasto

O tinto Vinha Maria Teresa é dos mais premiados do Douro, e o seu berço é a lindíssima Quinta do Crasto. Sob a marca Crasto, o primeiro vinho DOC Douro comercializado foi da colheita de 1994, sendo logo 4 anos depois que surgiu a primeira edição deste verdadeiro tinto de parcela topo de gama. A edição de 2018 é a 13ª a ser produzida em quase um quarto de século, exclusividade essa que se soma à escassez de fruta (300g por videira) típica de uma vinha com mais de um século e de menos de 5 hectares. A estes factores acrescem ainda os investimentos que o produtor não tem hesitado em fazer para preservar o património genético da vinha e, num plano diferente, nas instalações enológicas e de estágio na quinta que são do melhor que existe em Portugal e não só. Tudo isto tem um preço, sendo evidente que o vinho não sai barato para o mercado… Em todo o caso, não é o preço, mas sim a enorme qualidade e consistência, que justifica este prémio e, bem assim, o notório sucesso entre consumidores. Com efeito, a par do Vinha da Ponte, outro ex libris da família Roquette e do seu enólogo Manuel Lobo, o Vinha Maria Teresa é um autêntico vinho de culto da região e do país. N.O.G.

Enorme no nariz, extremamente complexo, distinto, requintado, com ervas aromáticas, balsâmicos, muita pimenta rosa, funcho, fruta de enormíssima qualidade. A textura de boca é monumental, com tanino poderoso mas contido, sedoso mas com garra. Um tinto completo, absoluto, de uma elegância extrema. (14,5%)

€40
Quinta da Leda
Douro tinto 2018
Sogrape Vinhos

A Quinta da Leda é uma das mais importantes propriedades que a Sogrape tem no Douro. Plantada de raiz, tem hoje 170 ha de vinhas, tendo agregado a vizinha Quinta da Granja, entretanto adquirida a outra empresa. Após uma primeira experiência, em 1995, com um varietal de Touriga Nacional, em 1997 nasceu o vinho de lote que hoje conhecemos (Touriga Franca, sobretudo, com Touriga Nacional, Tinto Cão e Tinta Roriz) e desde então tem sido um verdadeiro pêndulo de qualidade e consistência e um laboratório de estudo de solos e clones. A enorme segurança que o consumidor tem ao comprar um tinto Quinta da Leda, é o maior prémio para a empresa. Sem facilitar, sem ceder na qualidade e mantendo sempre um elevadíssimo padrão de exigência. Por isso quando se fala de grandes tintos do Douro, o nome Leda é incontornável. J.P.M.

Aroma rico, muito definido na fruta vermelha e no polimento a que nos habituou e onde os frutos negros marcam presença na dose certa sem perder a elegância e o balanço do vinho. Também na boca se revela em grande forma, sem qualquer casta a tomar protagonismo, antes uma enorme harmonia de conjunto. Vigor aliado a muita classe. (14%)

€70
Quinta Vale D. Maria Vinha da Francisca
Douro tinto 2018
Quinta Vale D. Maria

Fundada em 1996 por Cristiano van Zeller, a Quinta Vale Dona Maria, situada junto ao rio Torto, é um dos mais renomados produtores do Douro. Desde 2017, faz parte da Aveleda, da família Guedes, que dois anos antes tinha igualmente adquirido, no Douro Superior, a Quinta Vale do Sabor. A linha de produtos cresceu assim, com as referências Vale D. Maria Douro Superior e Vale D. Maria Vinhas do Sabor, mantendo-se a designação “Quinta” para os vinhos provenientes da propriedade original. É o caso do Vinha da Francisca, oriundo de uma parcela com o mesmo nome, plantada em 2004, quando Francisca van Zeller fez 18 anos. Muitas vezes comparado com o Vinha do Rio, da mesma propriedade, as opiniões dividem-se. Eu, confesso, vejo no “Rio”, vinha bem mais antiga, um perfil do lado Porto (Tinta Barroca obriga…) e no “Francisca” toda a maravilhosa expressão de fruta do Douro, aliada a imensa frescura. O meu favorito, sem dúvida. L.L.

Touriga Franca, Sousão, Rufete e Touriga Nacional. Impressiona muito logo no primeiro impacto, com enorme qualidade e pureza de fruta, mesclada com notas de esteva e especiarias. A textura de taninos é soberba, o equilíbrio de boca perfeito, é um tinto cheio de classe e presença. (14,5%)

€85
Quinta do Vale Meão
Douro tinto 2018
F. Olazabal & Filhos

É surpreendente como um vinho desta grandeza sai todos os anos, alinhado com as condições de colheita, mas sempre num patamar altíssimo de qualidade e personalidade. O produtor explica isto pela aprendizagem e maior conhecimento das suas vinhas ao longo do tempo, que permite tirar o melhor de cada vindima, tendo em conta que a data do seu início é um factor cada vez mais importante. A vindima de 2018, por exemplo, ocorreu 20 dias mais tarde relativamente à de 2017 (que era das mais precoces).

Em 2018 o ano agrícola começou muito seco e frio no inverno, mas a primavera trouxe chuva abundante com os meses de Março e Abril a registar precipitação bem acima da média. Inesperadamente, mesmo no quase desértico Douro Superior, as condições húmidas e de instabilidade atmosférica persistiram durante o verão, com o ciclo vegetativo a atrasar-se. Entretanto, um Agosto e início de Setembro quentes e secos aceleraram as maturações e permitiram uma colheita de fantástica qualidade. V.Z.

Excelente aroma, num registo denso e bem jovem, com muita fruta negra, muita especiaria e madeira de grande qualidade a envolver o conjunto. Muito rico na prova de boca, com bastante corpo mas num registo onde a elegância domina, com taninos finíssimos a marcarem presença. Um Douro enorme de aprumo e talento. (14%)

€40
Ribeiro Santo Excellence
Dão Grande Escolha tinto 2016
Magnum – Carlos Lucas Vinhos

Um produtor relativamente recente, mas cujos 10 anos de existência já são suficientes para se afirmar como um exemplo de qualidade superior do Dão, e o milhão de garrafas que a Magnum – Carlos Lucas Vinhos produz anualmente (com preço médio bem interessante), fazem desta empresa de vinhos de Carregal do Sal uma das mais relevantes da região.

O Ribeiro Santo Excellence — que tal como os outros vinhos da Magnum, é da autoria da dupla de enólogos Carlos Lucas e Carlos Rodrigues — é um blend de barricas com “um pouco de tudo”, como indica Carlos Lucas, sobretudo Touriga Nacional, Alfrocheiro, Tinta Roriz e Tinto Cão. As cerca de 2000 garrafas são numeradas, sendo que a partir do 2013 foram vinhos lançados sempre 5 anos após a colheita. Este tinto faz maceração prolongada em inox e fermenta com leveduras indígenas. Fica depois em barricas novas de carvalho francês, de 225 litros, durante pelo menos 14 meses. Chama-se “Excellence” mas também se poderia chamar “Elegance”, pois é precisamente a característica que mais impressiona neste tinto do Dão. M.L.

Apresenta-se bem especiado no aroma, balsâmico e puro no nariz profundo de fruta silvestre, agulha de pinheiro, cogumelo shiitake. Imensa frescura natural desperta o palato, de textura perfeita e envolvente e taninos com classe. Enorme prolongamento e amplitude, num tinto mastigável, com imenso carácter. (14%)

€44
Villa Oliveira
Dão Touriga Nacional tinto 2016
O Abrigo da Passarela

Fazer um vinho de Touriga Nacional no Dão, é sempre um desafio, porque a expectativa do consumidor-apreciador é grande. Fazer um vinho de Touriga Nacional de vinhas velhas é um desafio maior ainda, porque habitualmente, nas vinhas velhas as castas estão todas misturadas. Isto obriga a uma vindima extremamente selectiva no meio de mais de duas dezenas de castas diferentes.

Em 2009 a Passarela fez o primeiro primeira Villa Oliveira Touriga Nacional que se tornou numa referência da região. O 2016 é a última colheita que está no mercado devido ao estágio prolongado nas instalações do produtor. O vinho fermenta em cubas de cimento (com maceração pré e pós-fermentativa) suavemente, com poucas remontagens, para extrair os taninos de qualidade e a concentração que vem da vinha, sem perturbar o equilíbrio. Depois passa dois invernos em barricas de carvalho francês de 225 litros para uma estabilização natural. Após isto ainda fica em garrafa durante 2-3 anos até ser lançado para o mercado. V.Z.

Aroma elegantíssimo de frutos vermelhos, terra húmida, especiarias doces, mas tudo muito subtil e bem arrumado, para irmos buscar devagarinho. Fresco e macio na boca, sempre contido, com taninos bem firmes, a dar estrutura, final longo, delicado mas impactante. Um grande Tourigo do Dão, cheio de finesse. (13,5%)

€106
Ramos Pinto RP30
Porto 30 anos
Adriano Ramos Pinto

Se existe vinho do Porto em que a palavra alquimia se pode aplicar, é sem dúvida o tawny de categoria superior, envelhecido em pipas de madeira. E quanto mais velho ele for, mais trabalho, sabedoria, paciência e saber se pede ao master blender. Durante décadas a Ramos Pinto não teve um 30 anos no portefólio. Lembro-me das primeiras experiências feitas na sala de provas por João Nicolau de Almeida para a criação da categoria, acompanhado então por Ana Rosas, que depois lhe sucedeu na criação destas obras de arte. A explicação prática de como se faz um 30 anos, workshop a que pudemos assistir, a minúcia dos lotes e a exigência de um nariz de luxo, tudo nos deixa boquiabertos. O RP 30 anos é, porventura, o máximo expoente desta multisecular tradição de misturar vinhos velhos de diferentes idades e origens durienses até atingir a perfeição. É um vinho do outro mundo, um hino ao Vinho do Porto! E a preços de mundo real! J.P.M.

Lindíssima cor ambarina prepara-nos para um aroma de enorme complexidade e riqueza, com traços de amêndoas, nozes, pimentas, figos secos, balsâmicos, madeiras exóticas, tabaco. Na boca, alia concentração e intensidade a sublime frescura e elegância, com leves tostados e notas de café amparando os frutos secos. Um vinho maravilhoso, referência absoluta nesta categoria. (20,5%)

€120
Bacalhôa
Moscatel de Setúbal Superior 30 anos 1985
Bacalhôa Vinhos de Portugal

A Bacalhôa tem uma riquíssima história na produção e envelhecimento de vinhos licorosos feitos a partir das castas Moscatel de Setúbal e Moscatel Roxo. A primeira destas variedades é também conhecida como Moscatel de Alexandria ou Moscatel Graúdo, enquanto a segunda, mais rara, é uma mutação rosada do Muscat à Petits Grains, ou Moscatel Galego. Apesar de pertencerem à mesma família são bem distintas, até na maturação, o Roxo precoce, o Moscatel de Setúbal, tardio. Esse amadurecimento lento proporciona-lhe enorme equilíbrio entre a doçura da vinificação (é um licoroso, não esqueçamos) e a frescura ácida natural. Na Bacalhôa, o envelhecimento dos melhores Moscatéis é feito em barris de carvalho americano, anteriormente usados na maturação de whisky, colocados num armazém com amplitudes térmicas elevadas. O resultado é um vinho extraordinário, um Setúbal de luxo, de enorme impacto sensorial. L.L.

Um Moscatel velho absolutamente notável, com tudo o que é suposto ter um grande Setúbal desta idade: casca de laranja cristalizada, toranja, mel, amêndoas tostadas, tofa, envolvido num corpo imenso e untuoso. Leve nota de vinagrinho confere-lhe enorme frescura, dando ao final uma dimensão absolutamente superior. Grandioso. (19,5%)

€70
Pintas
Porto Vintage 2019
Wine & Soul

Não é de agora que o projeto Wine & Soul nos habitua a grandes vintages. Todavia, não temos dúvidas que os últimos lançamentos – digamos, 2017, 2018 e 2019 – trouxeram o produtor de Vale Mendiz para a primeira liga dos Vinhos do Porto. Com a colheita de 2019 é seguro dizer que o vintage da Wine & Soul foi catapultado para o top 3 dos vintages numa colheita que, arriscamos a dizer, ficará na história pela intensidade e frescura. Trata-se de um vintage com a potência e maturação que se pretende neste tipo de vinhos, mas com um lado mineral e tenso que raramente vislumbramos. Com este feito, Sandra Tavares da Silva e Jorge Serôdio Borges, o casal por detrás da empresa, assolaram dois mitos em simultâneo. Em primeiro lugar, que uma mesma vinha não permite fazer, mais a mais num mesmo ano, excelentes Porto Vintage e DOC Douro. Em segundo lugar, que um produtor relativamente pequeno não consegue apresentar um vintage de uma vinha só que se compare com melhores vintage das casas consagradas em que os vinhos são feitos com recurso a uvas de propriedades diferentes. É precisamente nesta dupla conquista que se encontra a melhor fundamentação para este prémio. N.O.G.

Negro de cor, fechado ainda de aroma, mas ao mesmo muito puro, tenso, com notas de grafite, trufa, a fruta escondida nesta fase. A qualidade dos taninos impressiona, o corpo cheio envolve tudo, dá até uma sensação de secura vinda do notável equilíbrio geral. Novíssimo, imenso, um Vintage para a eternidade. (20%)

€820
Quinta do Noval Nacional
Vinho do Porto Vintage 2019
Quinta do Noval“Noval Nacional” são duas palavras que imediatamente chamam a atenção de um connoisseur. É uma lenda do Douro que continua viva no presente e no seu perfeito estado líquido. Não chega a 2 hectares de vinha plantada em 1924 com castas típicas durienses. Embora naquela altura já se fizesse enxertia, esta pequena parcela manteve-se em “pé franco”. O primeiro Vintage Noval Nacional histórico foi de 1931. Sob a gestão da AXA Millésimes, este mítico Vinho do Porto voltou a ser lançado a partir de 1994 e apenas em anos em que demonstra o seu carácter único e inconfundível, o que nem sempre coincide com o lançamento do Vintage Quinta do Noval. Em 2019 a decisão foi fácil. É o ano que manda. A uva tem que ser vindimada num dia (certo) e vinificada também no mesmo dia. Em 2019 isto aconteceu a 11 de Outubro. Desta edição foram produzidas cerca de 2000 garrafas, mas apenas metade chegou ao mercado, permanecendo a outra parte nas instalações da quinta. V.Z.

Opaco e profundo. Aroma com notas de grafite, para além da fruta que ainda está fechada, delicadas flores campestres, apontamentos de especiaria, tudo ainda por se revelar. Integridade e concentração de outro mundo. A grandeza deste vinho está na amplitude, mas sobretudo na profundidade. Tanino imponente, mas nada de potência bruta, há sempre uma finesse intrínseca que sobressai no meio de concentração, a elegância típica do Noval Nacional. A persistência de boca é infinita. (19,5%)

Editorial: Do que eu não gosto

Editorial da revista nº57, Janeiro 2022 LUÍS LOPES Um recente trabalho de Ricardo Felner no Expresso identificou-me, de certo modo, como “inimigo” dos chamados vinhos “naturais”. Sinceramente, não sou inimigo de nada nem de ninguém. Mas existem, é verdade, comportamentos no sector do vinho que me incomodam. Com 60 anos feitos, 33 dos quais a […]

Editorial da revista nº57, Janeiro 2022

LUÍS LOPES

Um recente trabalho de Ricardo Felner no Expresso identificou-me, de certo modo, como “inimigo” dos chamados vinhos “naturais”. Sinceramente, não sou inimigo de nada nem de ninguém. Mas existem, é verdade, comportamentos no sector do vinho que me incomodam. Com 60 anos feitos, 33 dos quais a escrever sobre vinhos, acho que posso abrir o livro e deixar claro aquilo de que não gosto. Então aí vai.

Não gosto de colocar tudo no mesmo saco: orgânico, biodinâmico, leveduras indígenas, sustentabilidade, filtração, sulfuroso, “natural”. São produtos, práticas e conceitos diferentes e, alguns, até antagónicos. Só o Esporão, por exemplo, tem mais área de vinha orgânica do que todos os “naturais” juntos. Luis Pato faz alguns vinhos e espumantes sem adição de sulfuroso mas não é orgânico. A Casa de Mouraz é mesmo biodinâmica mas protege os seus vinhos com sulfuroso. Mário Sérgio Nuno, da Quinta das Bágeiras, nunca colocou uma levedura nos lagares ou nos toneis de fermentação. E o gigante espanhol Miguel Torres é referência mundial em produção sustentável e protecção ambiental e há muito que abandonou o modelo orgânico.

Não gosto de rótulos, a não ser nas garrafas. “Natural” por oposição a “tecnológico” é ver o mundo a preto e branco. O vinho, é tudo menos isso, é uma paleta infinita de cores, um universo de diversidade, estilos e conceitos, distintas formas de trabalhar e de transformar o fruto da videira numa bebida apaixonante.

Não gosto do primado da diferença sobre a qualidade. É fantástico quando conseguimos associar, num copo, qualidade e diferença. Mas prefiro qualidade sem diferença, do que diferença sem qualidade.

Não gosto de confundir gosto e qualidade. Gosto discute-se, qualidade não. A qualidade é imediatamente reconhecível, mesmo por quem não é especialista ou conhecedor. Se um vinho cheira mal, não há quem me convença de que cheira bem. Uma couve podre é uma couve podre, um guisado queimado é um guisado queimado. Não há volta a dar.

Não gosto de catequismos. Não sou crente, mas respeito todas as crenças. Desde que não insistam em catequizar-me. Quando um sommelier me disser, condescendente, que não aprecio um vinho que cheira e sabe mal apenas porque não estou acostumado a ele, irei responder como Susana Esteban o fez, nas mesmas circunstâncias: “pois não, estou habituado a beber vinhos bons”.

Não gosto da demonização da ciência. Rejeitar a enologia é como rejeitar a medicina. É verdade que alguns o fazem. Mas eu não queria estar na pele deles quando tiverem uma apendicite aguda.

Não gosto do elitismo. O vinho não pode ser algo apenas ao alcance de um grupo de iluminados que se acham superiores. Enquanto produto, o vinho é, e deve continuar a ser, democrático, acessível a todas as bolsas. Para poder ter preços acessíveis tem de ser feito em volumes grandes. Uma vez que estabilizar dois milhões de litros não é o mesmo que cuidar de duas barricas, existem para o efeito produtos enológicos, legalmente autorizados e fiscalizados. Bebo muitas vezes vinhos de €2,49? Raramente. Tal como raramente vou ao McDonald’s. Mas prefiro, de longe, comer um hambúrguer de carne fresca do que um robalo de mar com 15 dias de frigorífico.

Não gosto da publicidade enganosa, das aldrabices, da mentira. Exemplos? Quando se impinge a turvação de um vinho como valorizadora, apenas porque não se esperou o tempo suficiente antes de engarrafar. Quando um produtor “orgânico” apanha com um ataque de míldio e utiliza o que for preciso para salvar as uvas. Quando se inundam as redes sociais de fotos das galinhas e ovelhas nos 2 hectares de vinha biodinâmica e se compram 200 toneladas de uva aos vizinhos que até glifosato usam. Quando se afirma que o espumante é “natural” porque não levou sulfuroso, mas depois leva 7 gramas de açúcar no licor de expedição. Quando dizem “fazer” vinho e não sabem podar uma videira, quando se assumem “vignerons” e não têm vinha. Em boa verdade, há muito mais coisas de que não gosto, mas acho que já chega.

Brancos que falam com o tempo

Brancos falam tempo

Nos anos mais recentes o gosto pelo vinho branco tem sofrido algumas mutações. Hoje há muito mais consumidores interessados em provar coisas diferentes que possam ir além dos aromas e sabores frutados e sem segredos. Recuperou-se assim, agora com mais saber, uma prática que vinha de longe. São os vinhos brancos com longo estágio ou […]

Nos anos mais recentes o gosto pelo vinho branco tem sofrido algumas mutações. Hoje há muito mais consumidores interessados em provar coisas diferentes que possam ir além dos aromas e sabores frutados e sem segredos. Recuperou-se assim, agora com mais saber, uma prática que vinha de longe. São os vinhos brancos com longo estágio ou de lote de várias colheitas.

 

Texto: João Paulo Martins

Fotos: Ricardo Palma Veiga e Adega Mãe         

A ideia para este trabalho nasceu de uma constatação: há cada vez mais produtores a lançarem no mercado, num segmento de gama alta, vinhos brancos que aqui há alguns anos não encontrariam apreciadores. São vinhos que reúnem uma de várias características: têm já muitos anos de garrafa mas só agora foram colocados à disposição do público; são de uma só colheita mas o estágio foi sobretudo feito em barrica durante vários anos e só então engarrafados; correspondem a um lote de vinhos de várias colheitas, em proporções diversas. Têm em comum o facto de serem vinhos fora de moda mas, ao invés de vinhos oxidados e mortos (que tantas vezes encontramos nas provas dos vinhos velhos), aqui temos brancos que, em virtude do muito acompanhados que foram, se mostram em muito boa forma, com invulgar complexidade e personalidade.

Recuar no tempo

A tradição portuguesa do consumo de vinhos brancos nunca os colocou no mesmo patamar dos tintos; sempre se quedaram num nível de menor apreço. Também por esta razão os vinhos brancos foram sempre parentes pobres a que poucos davam atenção. Os vinhos muitas das vezes não evoluíam bem, oxidavam num instante e perdiam interesse e procura por parte dos consumidores. Havia excepções em várias regiões, mas era sobretudo no Dão e na Bairrada que os brancos mais perduravam no tempo. Empresas da Bairrada que negociavam com vinhos do Dão – como é o caso das Caves S. João – tinham no seu portefólio brancos que resistiam muito bem e se mostravam com muita saúde durante muito anos. Também a Vinícola do Vale do Dão, propriedade da Sogrape, engarrafava vinhos brancos que adquiria em adegas cooperativas locais. A marca emblemática era Dão Pipas e são brancos que mostram que a região tinha muitas virtudes e capacidades para gerar vinho longevos. Esse Dão Pipas, marca que se manteve até aos anos 90, serviu um pouco de inspiração para um branco criado na Quinta dos Carvalhais e que, pode dizer-se, foi no Dão o vinho fundador destas novas tendências. Criado pelo enólogo Manuel Vieira, o Colheita Seleccionada ganhou foros de “estrela” pelo apreço que o importador belga mostrou em relação a este branco, tendo sido exportado e esgotado com grande sucesso. As barricas onde fermentava o Encruzado eram depois de novo atestadas para não ficarem em vazio e assim, lembra Manuel Vieira, “íamos juntando 30 a 40 barricas por ano; a certa altura já havia barricas a mais e resolvi fazer um lote e dei a provar à administração. A reacção foi tão entusiástica que logo se decidiu avançar com a produção periódica”. Na reorganização do portefólio dos Carvalhais houve necessidade de criar um branco Reserva – mais fresco e com mais madeira nova – e assim o Colheita Seleccionada deixou de se produzir. Como ainda assim havia muitas barricas nasceu a ideia do Branco Especial, neste caso, lote de várias colheitas.

Também na Quinta da Gaivosa se iniciou na colheita de 2001 produção de um vinho branco com as uvas recolhidas nas vinhas velhas de onde era costume fazer vinho do Porto branco e onde existia maioritariamente a Malvasia Fina. Inicialmente com o apoio enológico de Anselmo Mendes, era um vinho com uma confecção bem diferente dos outros brancos: dois dias de maceração pelicular, fermentação em bica aberta com híper-oxigenação em meias barricas, parcialmente novas. O resultado era um branco inicialmente castanho, quase com cor de café, como nos disse Tiago Alves de Sousa, mas com o tempo de estágio na barrica muitos polifenóis depositam-se e o vinho perde a cor acastanhada. De início o vinho mostrou-se muito austero (mais alcoólico do que nas versões mais recentes) mas exactamente por já ter a questão da oxidação resolvida, são vinhos que ainda hoje dão boa prova. Mas Tiago não tem dúvida que as actuais edições, com menos álcool e mais frescura, irão ainda mais longe, seguramente para lá dos 20 anos após o lançamento. À época foi uma novidade no Douro e depois do 2001 foram feitas edições anualmente até 2006. A partir daí teve edições mais espaçadas: 2008 (ano a partir do qual se vindimou mais cedo e a graduação baixou), 11, 12 e agora, a mais recente, 2015.

Nem sempre vinhos deste perfil que hoje falamos, resultam de uma ideia prévia ou um projecto arquitectado para atingir este fim; não raramente, o acaso tem aqui um papel importante, a lembrar-nos que nem sempre controlamos ou entendemos tudo o que se passa durante a evolução de um vinho. Celso Pereira, enólogo no Douro, conta-nos que o Quanta Terra branco 2012 nasceu torto mas acabou por se revelar uma grande e positiva surpresa. Naquele ano duas barricas de branco foram consideradas não aptas para entrarem no Grande Reserva e só passados alguns anos é que se percebeu que o vinho tinha evoluído muito bem e foi então comercializado. Só a partir de 2015 (que irá ser a próxima colheita comercializada mas pela qual ainda teremos de esperar uns anos) é que se começou a deixar intencionalmente vinho em estágio. O que aconteceu com Celso Pereira acontece com frequência nas adegas quando é preciso seleccionar barricas para um determinado lote. O que fazer ao que fica é a pergunta difícil de responder, mas os brancos actuais estão a sugerir vários caminhos.

Brancos falam tempo
O longo estágio em barrica faz parte da identidade do Quinta de Carvalhais Branco Especial.

Requisitos e exigências

Quando há a intenção de fazer um branco de longa guarda em barrica há que estar a tento às características as uvas. A acidez elevada é um requisito que ajuda muito: castas com acidez moderada ou baixa não podem ser usadas porque originam vinhos que não evoluem bem. Mas só a acidez não basta, é preciso, salienta Manuel Vieira, que os vinhos tenham gordura, volume de boca. Temos então de ter, como primeiro requisito, vinhos estruturados, de boa acidez. Para os vinhos que estagiem na madeira coloca-se sempre a questão da oxidação e por isso o atesto das barricas é fundamental. Há uma ligeira oxidação, controlada, mas essa oxidação é fundamental para que os vinhos resistam depois ao tempo; “os vinhos no futuro ficam inoxidáveis, já oxidaram tudo o que tinham de oxidar”, lembra Manuel Vieira. As meias barricas têm uma capacidade oxidativa maior e são mais manuseáveis e, por isso, funcionam muito bem para estes vinhos, algo que Tiago Alves de Sousa também subscreve. Se estivermos a falar de estágios em barricas já usadas os atestos podem ser mensais porque a barrica usada “bebe” muito menos que a barrica nova. E, para evitar uso excessivo de sulfuroso, é mesmo melhor ter as barricas atestadas.

No caso dos vinhos que juntam colheitas de anos diferentes, a arte do lote ganha toda a importância. É preciso fazer vários ensaios e, como lembra Manuel Vieira, “fazer o teste à mesa; levávamos o vinho para o restaurante e provávamos com a comida; se não funcionava fazíamos novo lote e foi assim que, passo a passo, chegámos ao lote final”. Neste tipo de vinhos pode ter mais peso o gosto pessoal do produtor ou do enólogo. Porquê? Porque é preciso dosear as percentagens de cada ano e, sobretudo, decidir que quantidade de vinho mais novo deverá levar o lote final. Assim, se levar uma percentagem significativa do vinho mais novo poderá não apresentar aquele carácter resinoso e oxidativo que associamos com estes vinhos; ao invés, com pouca percentagem de vinho novo o lote ganha um perfil mais austero e evoluído. São assim possíveis várias nuances. No caso do Branco Especial de Carvalhais, a actual edição no mercado (5000 garrafas), que já é da responsabilidade da enóloga Beatriz Cabral de Almeida, inclui 13 lotes de oito colheitas diferentes, começando em 2004 e acabando em 2018. O trabalho é ainda mais minucioso porque a adega dispõe de cerca de 100 barricas até à colheita de 2015. Além do Encruzado também por lá existe Sémillon e Gouveio. Agora procura-se fazer o Branco Especial com menos graduação, vindimando mais cedo e decidindo à partida o que vai ou não vai para estágio prolongado.

Brancos falam tempo
O Alves de Sousa Pessoal nasceu em 2001.

De Norte a Sul

Este tipo de vinho não é específico de uma região. Pelos exemplares que aqui mostramos até pode parecer que é um privilégio do Douro e Dão, mas de facto o número de amostras é maior nessas regiões do que noutras porque por ali houve mais produtores que se abalançaram nesta aventura. Vendo bem, até foi em Setúbal, com a marca Pasmados, que tudo começou e, como nos disse Domingos Soares Franco, da casa José Maria da Fonseca, “durante muitos anos sempre me criticaram por insistir neste modelo, mas agora dão-me razão, agora há mercado e consumidores para isto. Fermentou metade do mosto – Viosinho, Viognier e Arinto – em barrica e o resto em inox”. Também em Monção e Melgaço estão reunidas as condições para este modelo. Na Quinta do Regueiro juntaram-se vinhos de 2007 até 2010 para este primeiro lote e a próxima edição sairá este ano. A pequena quantidade produzida – 1900 garrafas – não chegou para os pedidos. Na região de Lisboa, a Adega Mãe lançou um branco de idade com Viosinho, Alvarinho e Arinto, castas que Diogo Lopes verificou que mantinham a acidez durante mais tempo, factor tido por fundamental. No Dão, é a casta Encruzado aquela que melhor se adapta a este conceito e os três produtores que aqui apresento foi nela que apostaram. Mas o vinho dos Caminhos Cruzados é o resultado de uma só colheita, neste caso de barricas que não entraram no Teixuga, a marca emblemática da casa. No Douro apresento aqui três vinhos de uma só colheita e outros três de lote de várias colheitas. Pisa a pé das uvas brancas, longas macerações peliculares, oxigenação intensa são algumas das técnicas usadas. Os resultados mostram-se muito bons e, sabemos entretanto, vários outros produtores estão a trabalhar neste modelo. É a vitória dos vinhos brancos!

Brancos falam tempo
Adega Mãe

E à mesa, como é?

Estes vinhos, digamos, difíceis, são muito desafiantes à mesa porque podem ligar muito bem com pratos inesperados, com culinárias diferentes. E o desafio estende-se a vários produtos – peixes, carnes, queijos – e a formas diferentes de confecção. Assim sendo, não adianta muito ter opiniões definitivas sobre os sins e os nãos na ligação com a comida. Por experiência própria já liguei, com um tremendo e inesperado sucesso, o Branco Especial de Carvalhais com uma sopa de peixe picante (tem mesmo a referência caseira de “estupidamente picante…”) mas Tiago Alves de Sousa leva o seu Alves de Sousa Pessoal para zonas menos óbvias como polvo à lagareiro, embora reconheça que “com foie-gras é a ligação preferida”, mas também sugeriu risotto de cogumelos. A ideia é ligar o vinho com pratos de sabores intensos para que assim exista um bom equilíbrio. Cremos que mesmo com cabrito assado ou peixes no forno estes vinhos podem tornar-se um enorme sucesso.

E, regressando às origens, ao tal Colheita Seleccionada da Quinta dos Carvalhais, lembro-me de um jantar num restaurante 3 estrelas Michelin – Oud Sluis – de Sergio Herman, algures na fronteira Holanda/Bélgica em que o vinho do Dão fazia parte do menu degustação e, não por acaso, dizia o importador que desde Janeiro (estávamos em Março) já tinha vendido 200 garrafas daquele vinho.

Estes vinhos têm uma relação inesperada com a música. Aqui os acordes não são Sol e Dó, aquela ligação simples que toda a gente entoa e que é fácil de entrar no ouvido; aqui temos acordes mais ásperos, com quintas diminutas e sétimas aumentadas. Tudo parece estranho até encontrarmos a fórmula de soarem bem. E, quem não gosta de desafios???

(Artigo publicado na edição de Fevereiro de 2021)

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