Loureiro & Avesso, Lda

Após largas décadas na sombra da estrela Alvarinho, as castas Loureiro e Avesso começam a ganhar o seu espaço e, sobretudo, o respeito dos apreciadores, que se traduz quase sempre na valorização dos vinhos. Mais uma boa notícia para a região dos Vinhos Verdes, e um reflexo das muitas transformações que ali têm ocorrido.   […]

Após largas décadas na sombra da estrela Alvarinho, as castas Loureiro e Avesso começam a ganhar o seu espaço e, sobretudo, o respeito dos apreciadores, que se traduz quase sempre na valorização dos vinhos. Mais uma boa notícia para a região dos Vinhos Verdes, e um reflexo das muitas transformações que ali têm ocorrido.

 

AQUILO que é uma vantagem pode constituir também um problema. Acontece com os Ver­des: ser frutado, ligeiro, fresco e ter um preço competitivo faz dos vinhos da região os mais exportados de Portugal (Vinho do Porto à parte); mas es­sas mesmas características que ajudam a vender muitos milhões fazem com que poucos levem o Vinho Verde a sério, colando-lhe uma imagem de simples e barato. Re­sultado: vende-se muito, mas vende-se por pouco, ga­nhando-se dinheiro nos volumes mas tornando muito difí­cil introduzir valor na marca genérica Vinho Verde.

Como libertar-se destas amarras? O primeiro passo já foi dado há algum tempo: elevar a qualidade média dos vi­nhos. A região dos Vinhos Verdes é certamente aquela que mais cresceu qualitativamente na última década. Os tais vinhos simples e baratos de hoje, nada se asseme­lham aos seus congéneres de antigamente. Agora são simples, baratos e bons.

Investir na viticultura é determinante para os Vinhos Verdes

Mas isso não chega. A fase seguinte, determinante para o futuro regional, consiste no investimento a sério na vi­ticultura. Nesse contexto de “nova viticultura”, acredito que o caminho para valorizar a marca Vinho Verde pas­sa por vinhos brancos varietais ambiciosos, que possam tornar-se verdadeiros pontas-de-lança da região e posi­cionar-se num patamar de preço superior. E aí emergem, naturalmente, as castas Alvarinho, Loureiro e Avesso. Já muito escrevi sobre Alvarinho, deixem-me dedicar algum espaço às outras duas, cujos vinhos são objeto de prova alargada nesta edição.

Como variedades de uva, não podiam ser mais distintas. A Loureiro, associada sobretudo ao vale do rio Lima, mas dispersa por quase toda a região, é uma uva atlântica, que gosta de verões amenos e solos férteis; a Avesso, ligada quase exclusivamente ao vale do Douro e à zona de Baião, prefere solos mais pobres e mais calor. Além disso, a casta Loureiro tem um histórico de vinhos varietais, desde mea­dos dos anos 80, que a Avesso não possui. Claro, nem sempre o histórico ajuda. Salvo algumas honrosas excep­ções, os Loureiro de então eram vinhos exuberantes nos primeiros seis meses e oxidados nos seguintes. Que dife­rença para os Loureiro de agora! O interesse generalizado pelo Avesso é bem mais recente, mas a casta beneficiou de uma imagem construída com base em bons vinhos, de vi­ticultura moderna. Esse factor, associado à maior raridade, ajuda a que os preços médios dos Avesso sejam inclusive superiores aos dos Loureiro, algo evidente na nossa prova.

Já agora, a propósito de provas e provadores, permi­tam-me dar publicamente as boas vindas ao mais recen­te membro do nosso painel de prova, Valeria Zeferino. Não são só os Verdes que se rejuvenescem e valorizam. A equipa da VINHO Grandes Escolhas também. Só assim se garante o futuro.

Estórias de vinho e gente

OS enófilos ficam por vezes tão envolvidos com os aromas e sabores dos vinhos que facilmente se esquecem das pessoas que os criaram. Pois eu acredito que o factor humano é muito mais importante num grande vinho do que o clima, o solo ou a casta. A segunda edição da VINHO Grandes Escolhas tem por […]

OS enófilos ficam por vezes tão envolvidos com os aromas e sabores dos vinhos que facilmente se esquecem das pessoas que os criaram. Pois eu acredito que o factor humano é muito mais importante num grande vinho do que o clima, o solo ou a casta.

A segunda edição da VINHO Grandes Escolhas tem por isso muito a ver com gente, gente que sonhou uma vinha ou um vinho e os materializou nos nossos copos. Gente como Domingos Alves de Sousa (tema de capa), um pioneiro do Douro moderno e um dos maiores profissionais do vinho que encontrei ao longo da minha vida. A peça de António Falcão descreve o seu percurso, consistente e seguro como poucos.

Nuno Oliveira Garcia fala-nos dos vinhos de Monção e Melgaço e da sua relação com a madeira. E emergem aí visionários como Anselmo Mendes e Luís Cerdeira, que tanto experimentaram (e também erraram, como todos os que se atrevem) até chegarem aos seus grandiosos Alvarinho fermentados em barrica.

As terras de Mértola são o pretexto para João Afonso abordar os seus surpreendentes vinhos. Dos produtores que visitou, tive o privilégio de conhecer um deles, Luís Fiúza, um homem genuíno e intrépido, autêntica força da natureza, impulsionador daquela tão inóspita quanto bela e fascinante parcela do Alentejo.

Mariana Lopes conta-nos os primórdios das singulares caves da Bairrada, das que vingaram e cresceram e das que se perderam pelo caminho. A propósito de uma destas, a Valdarcos, deixem-me contar-lhes uma estória. O período mais interessante desta casa da Malaposta, há muito encerrada, coincidiu com a presença de Rui Moura Alves, enólogo de convicções inabaláveis e apóstolo da tradição, de cujas mãos saíram Bairradas “clássicos” ainda hoje monumentais, como os tintos Garrafeira Valdarcos de 1985, 1988 ou 1989.

O factor humano é mais importante do que o clima, o solo ou a casta.

Entre as suas muitas “teimosias vínicas” conta-se o Valdarcos Espumante Garrafeira 1991, exclusivamente engarrafado em magnum. Voltei a ele recentemente (restavam-me três garrafas, agora duas…) após muitos anos sem o provar. Encontrei um espumante rolhado há mais de duas décadas e ainda cheio de gás e vivacidade, sem traços de oxidação, extremamente complexo, avelanado, cremoso, seco, pleno de sabor e frescura, com final interminável. O vinho base que lhe deu origem foi fermentado em tonéis e sem especiais precauções anti-oxidativas, contrariando todos os preceitos enológicos. Lembro-me de que quando este espumante foi lançado não o apreciei por aí além, era algo rústico, com muitos amargos vegetais, impositivo mas pouco elegante. Hoje mantém o forte carácter mas tornou-se um primor de finura e sofisticação.

Não tenho qualquer explicação para a metamorfose que aqui ocorreu e que já vi acontecer dezenas de vezes em diferentes vinhos. Na verdade, não preciso de explicações para os mistérios dos vinhos, e muito menos as desejo. É precisamente essa ausência de previsibilidade, essa surpresa que pode estar em cada garrafa, que faz com que, após quase 28 anos a fazer das provas profissão, ainda consiga, aqui e ali, olhar maravilhado para um vinho como se fosse a primeira vez. E depois fico a pensar nas pessoas, as pessoas, sempre.

Número 1

GOSTO deste algarismo e dos seus múltiplos significados. Pode querer dizer o primeiro, no sentido qualitativo do termo, mas também início e único. Acredito que todos eles se aplicam à revista que agora apresentamos. VINHO Grandes Escolhas, é o seu nome. Fundei a Revista de Vinhos em Dezembro de 1989 e coube-me conduzir os seus […]

GOSTO deste algarismo e dos seus múltiplos significados. Pode querer dizer o primeiro, no sentido qualitativo do termo, mas também início e único. Acredito que todos eles se aplicam à revista que agora apresentamos. VINHO Grandes Escolhas, é o seu nome.

Fundei a Revista de Vinhos em Dezembro de 1989 e coube-me conduzir os seus destinos desde a primeira edição até Março passado. Foram 328 meses, mais de 27 anos. Acompanhar de muito perto a enorme evolução do vinho português ao longo de quase três décadas foi um privilégio para mim e para a equipa que ao longo dos anos se foi juntando ao projecto. Acredito que demos o nosso pequeno contributo para que o Vinho de Portugal seja o que é hoje. E sei também que nunca teríamos chegado onde chegámos sem o inequívoco apoio e confiança de todos vós, leitores, profissionais da fileira do vinho e da gastronomia, colegas jornalistas e enófilos em geral. Deixo aqui o meu sentido agradecimento a todos.

Essa página de história foi virada e fechada com um misto de mágoa e orgulho. Inicia-se agora uma outra etapa, na qual nos empenhamos com forças renovadas e ambiciosos objectivos. VINHO Grandes Escolhas é uma revista mensal, dedicada sobretudo à temática do vinho, como é óbvio, mas sem esquecer o turismo, a gastronomia, a cultura e outros prazeres da vida. Estamos apostados em informar, divulgar, opinar, avaliar, com a isenção, independência, rigor e profissionalismo que sempre nos regeram. Vamos fazer mais, fazer melhor mas, também, fazer diferente. A equipa editorial desta publicação, com um capital de experiência e conhecimentos que, sem falsa modéstia, classifico como únicos, está a ser enriquecida e renovada com colaboradores que nos trazem outras perspectivas e abrem novos horizontes. Em conjunto, queremos transmitir a nossa paixão àqueles que agora se iniciam neste mundo do vinho, utilizando para tal as ferramentas e linguagens à nossa disposição. Desse modo, a vertente digital e social media, bem como a área de formação (a ACADEMIA Grandes Escolhas), vão ser objecto de forte desenvolvimento através de importantes parcerias estratégicas.

Vamos fazer mais, fazer melhor mas, também, fazer diferente. Estamos mais motivados do que nunca.

Os eventos de vinho e gastronomia com o nosso selo de qualidade, e aos quais empresas e visitantes se fidelizaram, continuarão a realizar-se por todo o país. De entre os muitos já agendados (cujas datas e locais poderá conferir nesta revista) não posso deixar de destacar o maior evento do sector, o Grandes Escolhas | Vinhos&Sabores, que terá lugar em Lisboa na FIL (Parque das Nações) de 27 a 30 de Outubro de 2017. Será certamente um momento inolvidável e marcante para todos os apreciadores.
Falando por esta fantástica equipa editorial e de eventos, com a qual me orgulho de trabalhar, quero dizer-lhes que estamos mais motivados do que nunca. Contem connosco para levar a singularidade e a excelência do Vinho de Portugal a um número crescente de apreciadores, dentro e fora do País. E nós contamos com o que nunca nos faltou: o vosso apoio e confiança.