Harmonias: Delícias (muito) doces disponíveis para casar

Harmonias

Tarte de maçã Deve ser o bolo que faço há mais tempo, desde que me comecei a aventurar de forma sistemática na cozinha. Representa, além disso, o produto culinário mais “dás-me a receita” de todos. Não sei que magia vêem as pessoas nas receitas, quando o que mais conta é a volta que se dá, […]

Tarte de maçã
Deve ser o bolo que faço há mais tempo, desde que me comecei a aventurar de forma sistemática na cozinha. Representa, além disso, o produto culinário mais “dás-me a receita” de todos. Não sei que magia vêem as pessoas nas receitas, quando o que mais conta é a volta que se dá, e tem mil variáveis. Agora toda a gente faz a receita da Bimby – que é boa e funciona – como se fosse um salvo conduto para apresentar perante os pares, em jeito de competição. Eu nunca fui competitivo quanto a culinária. É um total desperdício de tempo. Exceptuando a maravilhosa tarte de maçã em massa folhada que se fazia na incrível Machado, em Caldas da Rainha, trata-se de uma tarte com maçã laminada no topo e base massuda de composição variável. Após algumas investidas no assunto harmonização, aponto com alguma segurança o branco de curtimenta – vulgo orange – como campeão. A maçã está muito exposta e a fruta secundária e oxidativa do vinho adora brincar com ela. A melhor experiência foi com Avesso de Baião, corpo e conteúdo a mostrar muito boa adequação.

Pastel de nata
Se a vida dá muitas voltas, a história não faz sequer intervalos. Em 1834, como é sabido, foi decretada a extinção das ordens religiosas, seguindo-se a expropriação e expulsão de religiosos e religiosas. Nos Jerónimos, a pequena ventura que ali grassava e que era a venda dos pequenos pastéis de nata inspirados nos pastéis de leite da Infanta Dona Maria, tornou-se rapidamente sustento da comunidade monástica. Em 1837 viria a nascer a Real Fábrica dos Pastéis de Belém, aproximadamente no mesmo local onde a encontramos hoje. Aspectos técnicos e um concurso de contornos difusos impedem-me de opinar sobre se serão ou não verazes e conforme a receita de então. Mas certo é que se trata de um bolo que perdurou até aos nossos dias. Representa hoje um ícone da diáspora portuguesa em todo o mundo. Sendo a massa folhada da taça que suporta a custarda feita com manteiga e levada a mais de 380ºC, o resultado tem destino marcado com um moscatel de Setúbal com mais de vinte anos. Copioso em açúcar e com uma acidez pronunciada, consegue a um tempo corte e harmonia. Madeira Malvasia poderá ser também hipótese a considerar.

Pão de ló
O pão de ló é um caso muito sério e, tal como o pastel de nata, o original, o primeiro de todos, perde-se nas brumas do tempo. As variantes hoje já incluem o de chocolate e quase todos levam doce ovos ou outra espécie de recheio. O meu padrão é aquele sobre o qual me debruço e é seco, fofo e foi feito em forno de lenha, exactamente como o de Margaride. De receita secular, configura standard forte do grande “sponge cake” português. Desde muito novo é o meu favorito, e com os anos fui fazendo experiências de harmonização com vinho e outras bebidas. Antes de avançar para a maridagem, há que identificar alguns aspectos determinantes para a bondade da ligação entre vinho e comida. O forno de lenha confere complexidade ao bolo pelas notas fumadas e de caruma seca que introduz, e os ovos fazem-se sentir. Além disso, existe um fundo de manteiga neste e na maioria das variantes da receita, o que lhe dá um gosto especial. Não hesito em recomendar a ligação com um estreme novo da casta Chardonnay, pelo património de pastelaria e notas amanteigadas que a casta oferece. Comece as suas experiências com vinhos pouco elaborados e depois vá “complicando”. Esperam-no anos de boas surpresas.

Duchesse
Também conhecido entre nós como duchese, é um bolo que está na linha do famoso Paris-Brest e consta de massa choux recheada com chantilly, decorado com maior ou menor intensidade com fios de ovos. Nas pastelarias tradicionais tem invejável procura e são raros os apreciadores que não os coloquem no topo das suas preferências. Tem tudo para ser comido à mão mas, na verdade, é mais indicado para comer com um garfo, pelos imprevistos que podem surgir. Confesso que é dos bolos que mais me intriga pela popularidade. Os portugueses não são muito dados a lanchar longamente numa pastelaria e vejo muitas vezes um duchese ao lado de um expresso, tanto na mesa como ao balcão. Curiosamente, o café é belíssima companhia, pelo óbvio contraste de texturas e pelo equilíbrio da doçura com os amargos do café. Excelente fica também com um rosé estruturado da região dos vinhos verdes ou de outra região que lhe garanta mineralidade e frescura. A minha melhor experiência aconteceu há pouco tempo, com o transmontano Valle Pradinhos, um rosé pronto para muitos desafios e o duchese é um deles.

Macarron
Estamos na zona da alta pastelaria quando falamos destas delícias de duas metades e recheios diversos. Tudo o que pensava saber sobre o assunto, com experiências diversas em pastelarias famosas pela Europa fora, fui forçado a rever com severidade quando conheci a Marbela, em Esposende. O grande chef pasteleiro Rui Costa tem ali o seu quartel e é de uma criatividade a toda a prova. Passar uma manhã com ele é uma grande instrução, pois trabalha com a maior naturalidade as soluções mais complexas que se possa imaginar e os macarrons são de antologia. Conheci-o há cerca de 15 anos e nunca mais perdi o contacto. Inesquecível a vez em que o assunto foi macarrons. Comparei com muitos outros e os dele tinham duas particularidades: duração e sabor. A massa de amêndoa de que as metades são feitas bate, em resultados, todas as outras e no seu caso coloca o recheio e aromáticos em primeiro plano sempre com crocância irrepreensível. Um Colheita Tardia do Tejo – do Casal Branco – faz uma ligação maravilhosa.

Pudim do Abade de Priscos
Começo pelo detalhe do presunto que, segundo a receita original, tem de ser “gordo, do de Chaves”. O dito presunto difere de todos os outros pelo facto de ser curado enguitado e não pendurado, ficando por isso com gordura entremeada mais rica e forte. Cinquenta gramas dessa gordura é tudo o que o pudim exige, além de 15 gemas de ovo, 500 gramas de açúcar amarelo, vidrado de um limão, pau de canela, um cálice de vinho do Porto e a arte culinária para o fazer na forma perfeita. A proteína animal é determinante e tem o incrível efeito temperador e integrador dos restantes ingredientes. É surpreendente a força e, ao mesmo tempo, a sublimidade do pudim. Quem o provou bem feito nunca mais esquece a experiência feliz. Experimentei com vários tipos de vinho do Porto e a minha preferência vai para o branco velho, o mesmo que gosto de utilizar para fazer o pudim. A ligação é sublime e a recombinação de sabores e aromas é surpreendente à medida que vamos explorando a sobremesa. Apesar de ser tido como altamente calórico, quando é bem feito fica equilibrado e aprecia-se-lhe o recorte elegante, sem excessos.

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Pavlova de morango
A pavlova nasceu na Nova Zelândia há cerca de cem anos, criação do chef pasteleiro do hotel onde ficou hospedada a bailarina russa Ana Pavlova. Em jeito de homenagem à sua leveza, como se perfumasse o ar que graciosamente agitava ao dançar, assim nasceu esta sobremesa, hoje replicada no mundo inteiro e declinada das mais diversas formas. A estrutura merengada de suspiro, associada a frutos frescos, foi a imagem que surgiu na mente do chef de que nunca saberemos o nome. Sobretudo quando a canícula se faz sentir, a dicotomia doce-fruta tem um efeito particularmente refrescante. O suspiro e o morango reagem bem um com o outro e quase se podia dizer que uma outra sobremesa se cria no palato. O resultado é surpreendente pela forte textura sentida. Por outro lado, a acidez dos morangos pronuncia-se e pede complemento copioso. A harmonização correcta passa por um rosé igualmente copioso. Das diversas experiências feitas, a mais clara e acertada foi com o rosé da Quinta do Monte d’Oiro, produzido a partir de uvas da casta Syrah. Equilíbrio perfeito, aniquilação recíproca.

Crista de galo
Os livros de receitas dos conventos estão repletos de notas e mão de obra de pessoas que estavam em funções durante o dia e de tarde e de noite estavam em suas casas. São por isso repositórios de conhecimentos, detalhes e saberes que viviam tanto fora como dentro do complexo monacal. O corolário bom desta itinerância foi a secularização crescente do receituário, o que é em si mesmo já uma explicação para a disseminação rápida das delícias fora de portas. A Casa Lapão em Vila Real tem uma longa história e tem origem no convento de Santa Clara de Vila Real. No início do séc. XX, Miquelina Cramez, amassadeira, casa com Francisco Delfim, de alcunha Lapão por ser atarracado e bochechudo como os naturais da Lapónia. Criaram juntos a padaria Lapão. A costureira que os visitava tinha uma irmã no convento e, extinto este, conservou os segredos da doçaria que ali se praticava. Miquelina dedica-se desde logo à produção das verdadeiras Cristas de Galo e outras delícias que ainda hoje se fazem. A ferramenta com que se cortam tem mais de duzentos anos, e o melhor vinho para as comer é um bom moscatel de Favaios. Excelente acidez e perfil único, especialmente os que a Adega de Favaios está a fazer.

Marron glacé
Pode parecer capricho, mas não é. Somos terra de soutos, o mesmo é dizer de castanheiros e até tonéis e pipas para fazer e armazenar vinho outrora se faziam em castanho. A castanha é, além disso, primordial na nossa alimentação. Há que não esquecer que a batata é assunto recente no Velho Mundo. Tanto assim é que muitos pratos da grande tradição são ainda acompanhados por castanha e batata no mesmo tacho. O marron glacé – castanha glaceada – é a maior homenagem que se pode fazer a essa pérola antiga e ainda continua a ser francamente popular em França e até se vende em caixas como se de bombons se tratasse. Por cá a história é mais tímida, mas não é por isso que deixo de lhe fazer as loas. Há que escolher a variedade certa. É importante que tenham dureza e corpo para aguentar a cozedura ligeira e o tratamento posterior. Nunca consegui fazer de forma satisfatória, mas conheço mãos que as fazem com a maior naturalidade. Podem levar vários banhos em calda de açúcar, em dias sucessivos e o resultado é sublime. Maridagem competente oferece o abafado Five Years da Quinta da Alorna. Impossível comer apenas um.

Torrão real de Portalegre
O convento de São Bernardo em Portalegre foi fundado no início do séc. XVI, pelo Bispo da Guarda, para albergar “jovens sem dote” mas de muita virtude. Desenvolveu-se ali muito receituário, algum ainda por desbravar mesmo após a conversão em monumento nacional, em 1910, e com os livros de receitas devidamente salvaguardados. Conheci Ana Tomás numa hora feliz em pleno estúdio da RTP. Ela havia sido contemplada com um prémio pelo desempenho com os rebuçados de ovo de Portalegre, autêntico trabalho de chinês que aparentemente conseguia fazer na perfeição às centenas. Conheci melhor o seu trabalho em encontros diversos e dei com o seu torrão real, autêntica obra de arte, resultado do talento e de muito estudo e experimentação. Gemas, natas, amêndoa e açúcar estão no coração do torrão real de Portalegre e são vários os que tentam a sorte na produção do dito, mas o melhor para mim permanece o que sai das mãos de Ana Tomás. Pede harmonização valente e viril, e confirma toda a sua glória com um vinho Madeira Bual de 40 Anos.

Manjar branco
Termino o elenco doceiro à procura de casamento feliz com a delícia mais delicada: manjar branco. Juntamente com outra doçaria típica de Portalegre, não leva ovos e a história funde-se com a prática secular da mantença sustentável. O nome não podia estar mais correcto, pois é feito a partir de galinha e respectivo caldo, portanto sobras de cozinhados que em vez de ir para o lixo ganham glória e atingem pináculos de sabor. Entre os ingredientes estão ainda arroz ou farinha de arroz, leite e açúcar. As aparas de galinha são brevemente cozidas para depois se passar por água fria e desfiar fininho. Em lume muito brando, leva-se tudo a cozer mexendo sempre e quando começa a engrossar apaga-se o lume e continua a mexer-se até arrefecer. Coloca-se e serve-se em tacinhas esta maravilha e na hora de servir polvilha-se com açúcar. A versão mais feliz desta receita foi-me proporcionada pela mãe do chef José Júlio Vintém, de enorme talento culinário. Um doce feito a partir de proteína animal que nos leva ao céu. Como ligação vínica, proponho um Arinto de Portalegre com mais de três anos.

(Artigo publicado na edição de Julho de 2024)

Estive lá: Arte e o vinho em terras de Amarante

Estive lá

Há muito que tinha o desejo de rever a obra de Amadeo de Souza-Cardoso, algumas dezenas de anos depois da exposição, na Fundação Gulbenkian, deste pintor único do início do século 20, pela sua criatividade, técnica e sentido estético emocionante. Por isso fiquei um pouco mais feliz quando tive a oportunidade de ver as suas […]

Há muito que tinha o desejo de rever a obra de Amadeo de Souza-Cardoso, algumas dezenas de anos depois da exposição, na Fundação Gulbenkian, deste pintor único do início do século 20, pela sua criatividade, técnica e sentido estético emocionante. Por isso fiquei um pouco mais feliz quando tive a oportunidade de ver as suas obras e rever a sua curta história de vida no pequeno museu dedicado ao artista em Amarante, durante um dos fins de semanas prolongados que gosto de dedicar a conhecer um pouco melhor o meu país. Depois, foi uma pequena passeata pela zona antiga da vila com entrada, de novo, na Igreja de S. Gonçalo e uma paragem para um doce de formato fálico com o mesmo nome, que, ao que parece, homenageia os dotes casamenteiros de um santo, para os locais, e apenas beato, para a igreja, para arranjar maridos para senhoras mais velhas. A um par de cafés, seguiu-se uma passeata de beira rio Tâmega, nesse dia um pouco cheio e belicoso, de tal forma que nos impediu o caminho por já ter estendido as suas águas até ao caminho que iriamos percorrer.

O pôr do sol levou-nos ao Hotel Monverde, propriedade da Quinta da Lixa, para um par de noites que foram tão repousantes e agradáveis, que ficámos com pena de não permanecermos mais um pouco. Os quartos com vista para as vinha, o seu conforto, a ausência de ruído para além dos da natureza e o pequeno quintal à beira da piscina individual, quase nos fizeram perder a vontade de sair, o que me acontece muito raramente quando durmo em hotéis. Mas um espírito irrequieto como o meu não se consegue segurar num quarto, por mais acolhedor que seja, e nesse dia tinha um jantar aprazado com Carlos Teixeira, o enólogo da Quinta da Lixa, empresa proprietária deste hotel, para um repasto com prova dos seus vinhos. Foi sobretudo uma bela conversa, que se prolongou noite dentro, para lá das 12 badaladas. Do repasto destaco, para além da qualidade do serviço os sabores e aromas do Atum braseado com couli de suave de manga e pólen de mel de rosmaninho e do Gambão Argentino flambê, aveludado de ervilha e manteiga branca de açafrão, os dois primeiros pratos do repasto. Entre os vinhos gostei do Alvarinho de entrada, um vinho muito fresco e equilibrado e uma boa opção para pratos de peixe e marisco, e o Quinta da Lixa Alvarinho Reserva 2015, pela sua frescura, volume e complexidade, um vinho que se pode beber agora e durante muito mais tempo.

Estive lá

 

Museu Municipal Amadeo de Souza-Cardoso

Morada: Alameda Teixeira de Pascoaes, Amarante

Tel.: 255 420 282

Site: www.amadeosouza-cardoso.pt

 

Monverde Wine Experience Hotel

Morada: Quinta de Sanguinhedo 166, Castanheiro Redondo, Telões, Amarante

Tel.: 255 143 100

E-mail: geral@monverde.pt

Site: www.monverde.pt

 

 

 

Estive Lá: Vila Real – Os sabores do Chaxoila e da Lapão

estive lá

O tempo estava frio, chuvoso, mas não nos demoveu de uma passeata húmida por terras de Vila Real, cidade onde passei inúmeras vezes, sobretudo a caminho da Região do Douro, mas onde apenas tinha parado para almoçar. Depois de um pequeno-almoço na Casa Lapão, feito de imperdíveis covilhetes, uma espécie de ex-libris da cidade, bem […]

O tempo estava frio, chuvoso, mas não nos demoveu de uma passeata húmida por terras de Vila Real, cidade onde passei inúmeras vezes, sobretudo a caminho da Região do Douro, mas onde apenas tinha parado para almoçar.

Depois de um pequeno-almoço na Casa Lapão, feito de imperdíveis covilhetes, uma espécie de ex-libris da cidade, bem pecaminoso, feito de massa folhada com recheio de carne, e de uma fatia da sua saborosa e bem recheada bôla, a meias, na companhia do indispensável galão de máquina, foi hora de passeio à chuva, com muitas paragens para usufruir da paisagem. Primeiro na pequena zona velha do centro da cidade. Depois, numa descida até ao rio Corgo, que estava cheio de água, ruidoso e bem bravo, para uma longa caminhada pelas suas margens. Foram várias as paragens, como não podia deixar de ser, sobretudo para ver e ouvir as águas a passar em turbilhão e a cair em cascata no meio daquela zona verde, aquilo que mais tarde alguém de lá disse ser o Parque da Cidade.

Quase três horas depois de termos iniciado o percurso, feito com a calma que todos os fins de semana prolongados merecem, estávamos de volta ao carro, de partida para o nosso destino de almoço, a Casa de Pasto Chaxoila, nesse dia para um Naco de carne de Cachena (raça bovina) fatiado com batatas de forno, na companhia de um tinto Terra a Terra reserva de 2021, depois de mais um par de covilhetes, porque são irresistíveis. Para terminar, dois tentadores bolos locais: uma Crista de Galo, que é recheada com doce de ovos, e um Pito de Santa Luzia, que leva, no interior, doce de abóbora e canela, dois dos mais tentadores bolos locais. Excesso de gulodice, eu sei, mas teve de ser, até porque não vamos a Vila Real todos os dias. A oferta da casa é mais vasta, e ainda lá voltámos para petiscar polvo à galega e umas pataniscas que estavam mesmo boas, apenas para reconfortar o corpo antes de voltar para a Casa Agrícola da Levada, um turismo de habitação familiar, com casas e quartos independentes, que fica numa quinta bem cuidada no interior da cidade. Ficámos no lagar, e gostámos.

 

Casa de Pasto Chaxoila

Morada: Estrada Nacional 2, Borralha, Vila Real

Tel.: 259 322 654

Pastelaria Casa Lapão

Morada: R. da Misericórdia 64, Vila Real

Tel.: 259 324 146

Casa Agrícola da Levada Eco Village

Morada: Casa Agrícola da Levada, Vila Real

Tel.: 916 594 404

 

Estive lá: Ostras e mexilhão de fim de semana

estive lá

Se há coisas que gosto sempre de fazer quando de vou de fim de semana até à aldeia de Assentiz, a dos meus sogros, de fim de semana, é um passeio matinal a pé desde a zona das piscinas municipais de Rio Maior até às suas salinas. A pista que costumo percorrer é mais feita […]

Se há coisas que gosto sempre de fazer quando de vou de fim de semana até à aldeia de Assentiz, a dos meus sogros, de fim de semana, é um passeio matinal a pé desde a zona das piscinas municipais de Rio Maior até às suas salinas. A pista que costumo percorrer é mais feita para isso e para quem gosta de correr do que para os amantes de ciclismo.
No percurso passo sempre pelos mesmos campos, a maior parte semeados de courgettes no verão, mas também com alguns pinheiros e oliveiras, ou apenas a natureza liberta. E também pela mesma empresa que vende materiais de construção, a mesma casa de campo murada de alguém e, quase no fim, o mesmo riacho, antes de voltar para o caminho que contorna as salinas por cima, para apreciar, uma e outra vez, a mesma vista de canteiros, aqui e ali, também no tempo quente, com um monte de sal bem branco posto sobre tábuas por mão experientes e com algum sentido estético. Tiro sempre mais umas fotos, porque a vista não me cansa e de vez em quando compro mais um pacote de sal, ou de flor de sal, para juntar aos outros, de outras origens que gosto de ter em casa.

Outra coisa que gosto de fazer, e que faço quase sempre, é ir até à vila da Marmeleira, onde o político e comentador José Pacheco Pereira iniciou a sua vasta biblioteca, com mais de 200 mil obras, que pode ser visitada na Ephemera – Associação Cultural, instalada numa antiga escola primária convertida e adaptada para o efeito. Fica na aldeia ao lado de Assentiz e faz parte da mesma freguesia, e vou lá para petiscar na Tasquinha do Lagar. Inicialmente ia porque as imperiais são bem tiradas e havia sempre tremoços para companhia, para além de outras coisas. Mais recentemente vou também porque oferece dos melhores mexilhões à belga que se podem comer no país. A receita foi trazida pelo seu atual proprietário, Paulo Tomaz, e é uma verdadeira gulodice, na companhia de batata bem frita, que fica muito bem com o Fernão Pirão de 2021 da Quinta da Lapa, a sua companhia mais recente. Mas também porque ele sabe escolher, e abrir, muito bem as ostras que serve, que nunca deixo de pedir, e repetir.

Há, também, outros mariscos, e sempre a oferta de um prato do dia, porque a pequena cozinha não dá para mais, que tanto pode ser Dobrada como Alcatra com fricassé de cogumelos ou Tamboril com molho de açafrão e esparregado, e uma oferta alargada de outros petiscos e bifes inspirados, que vale sempre a pena provar. Um pão da região, sempre saboroso, mais umas azeitonas que como sempre até ao fim, são coisas que vêm sempre para a mesa e são sempre apreciadas. Com todo o tempo do mundo, porque estamos na aldeia.

Tasquinha do Lagar
Morada: Rua Zeferino Simões Ferreira, nº 1 – Vila da Marmeleira
Tel.: 937 716 124
E-mail: tijuca.marmeleira@gmail.com

Salinas de Rio Maior
Morada: Estrada das Salinas 47, 2040-133 Rio Maior
Tel.: 243 991 121

Pedro Lemos é o restaurante do ano

Pedro Lemos

A vocação manifestou-se tardiamente, mas de forma clara. A meio da licenciatura em engenharia na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, o jovem Pedro Lemos tomou a decisão telúrica de mudar radicalmente o rumo da sua vida, para abraçar a profissão de cozinheiro. Os chefs Miguel Castro e Silva e Hélio Loureiro foram instrumentais […]

A vocação manifestou-se tardiamente, mas de forma clara. A meio da licenciatura em engenharia na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, o jovem Pedro Lemos tomou a decisão telúrica de mudar radicalmente o rumo da sua vida, para abraçar a profissão de cozinheiro. Os chefs Miguel Castro e Silva e Hélio Loureiro foram instrumentais na confirmação vocacional e isso levou-o a procurar formação na Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril, rumando a sul sem olhar para trás. Foi então que travou conhecimento com o chef Aimée Barroyer, vindo a oficiar ao seu lado no Pestana Palace. Ganhou experiência e autonomia junto do genial e sábio cozinheiro, que só deixou para voltar para o Norte, assumindo a instalação do ambicioso projecto duriense da Quinta da Romaneira. A abertura em 2009 do restaurante Pedro Lemos na Foz Velha foi, por isso, o culminar de uma caminhada sustentada no talento e brilho de um criador inexcedível em qualidade e originalidade. Tem desde 2014 uma estrela Michelin e a linha criativa está longe de estar esgotada. A arquitectura da ementa do restaurante Pedro Lemos segue a inconfundível matriz que todos devemos a Barroyer, com declinações culinárias que são inteiramente arte de Pedro Lemos. O racional consiste em apresentar em cada prato o produto/proteína principal seguido de um par de ingredientes ou condimentos que, juntos, montam e explicam o sabor e a intensidade da proposta. Encontramos por exemplo “Lírio, nabos e salsifis”, “Foie Gras de pato, pêra e brioche” ou “Lula, ouriço-do-mar e carbonara”. Simplificar junto do cliente pratos de muitos passos e grande complexidade. A exploração à mesa transforma-se numa aventura de texturas e sabores que não tem par em Portugal e, em simultâneo, é farol e luzeiro para toda a alta cozinha nacional. Um menu de degustação é muito mais do que uma simples sequência de pratos, no Pedro Lemos é uma viagem elegante, profunda e sempre com final feliz de digestibilidade garantida. F.M.

Pedro Lemos  (https://www.pedrolemos.net/)                                                                    Pedro Lemos

Rua PadreLuís Cabral, Nº 974 | 4150-459 Porto
Telefone: 220115986  info@pedrolemos.net

Estive lá: À procura dos bons sabores de Serpa

Estive lá Serpa

Se há coisa que gosto de fazer no tempo frio, é pegar no carro e dar uma volta de fim de semana prolongado à descoberta de terras de Portugal. Um deles levou-me até Serpa e às Minas de São Domingos, com direito a belos passeios a pé em dias límpidos e frios, que nos permitiram […]

Se há coisa que gosto de fazer no tempo frio, é pegar no carro e dar uma volta de fim de semana prolongado à descoberta de terras de Portugal. Um deles levou-me até Serpa e às Minas de São Domingos, com direito a belos passeios a pé em dias límpidos e frios, que nos permitiram viver um pouco daquilo que o Alentejo tem de melhor.
Serpa é uma das terras onde não me canso de voltar. Para passear nas suas ruelas de casario muitas vezes branco, que parecem ser sempre diferentes quando volto, para dar mais uma olhadela ao seu aqueduto e subir ao castelo para ver de novo as vistas.

Um pouco abaixo fica o restaurante O Alentejano, o destino do nosso almoço desse dia. Gosto de lá ir porque serve boa comida da região, o serviço é simpático e tem uma boa oferta de vinho, sobretudo alentejano, incluindo a de vários produtores locais.

O queijo, os enchidos e as azeitonas que vieram primeiro eram irresistíveis, e foram sendo saboreados na companhia de pão alentejano, como não podia deixar de ser. Como já tinha algumas saudades de uma boa sopa de cação e ali vale mesmo a pena saboreá-la, foi isso que escolhemos, apenas uma dose, que era farta o suficiente para dois. Para companhia foi-me sugerido, por quem estava a servir à mesa, o branco Encostas de Serpa da casta Antão Vaz e da colheita de 2022, de um produtor local, Monge & Filhas, que foi um bom parceiro do repasto. Uma encharcada a dividir por dois e um par de cafés terminaram um almoço bastante satisfatório, que nos reconfortou para o resto do dia.

Depois foi entrar nas mercearias e lojas da terra que vendem aquilo que melhor se faz por ali, desde o seu queijo de ovelha, único de aromas e sabores, ao seu pão e aos seus azeites e enchidos, que me sabem sempre de forma diferente. Entrámos na Casa Paixão e na Queijaria Tradiserpa para comprar um par de queijos para trazer para casa, e foi hora de pegar no carro para ir até às Minas de S. Domingos, um património mineiro histórico que gostei de visitar. Mas isso fica para outra estória.

Restaurante O Alentejano
Morada: Praça da República 15, 7830-389 Serpa
Telefone: + 351 284 544 335
E-mail: rest.oalentejano.serpa@gmail.com

Casa Paixão
Morada: Praça da República s/n, 7830-389 Serpa
Tel.: + 351 069 345 345
E-mail: casapaixaoserpa@gmail.com

Queijaria Tradiserpa
Morada: Rua dos Canos 6, 7830-412 Serpa
Tel.: 284 549 302
E-mail: tradiserpaqueijos@sapo.pt

Pátio das Caves Cockburn’s recebe primavera com petiscos e cocktails

Cockburn's

Nas Caves da Cockburn’s está tudo a postos para os dias solarengos. Para receber fins de tarde de calor e convívio, o pátio apresenta uma nova selecção de petiscos, acompanhados dos habituais cocktails e catálogo de vinhos, que já podem ser apreciados. As Caves Cockburn’s oferecem aos visitantes a oportunidade de conhecer o legado e […]

Nas Caves da Cockburn’s está tudo a postos para os dias solarengos. Para receber fins de tarde de calor e convívio, o pátio apresenta uma nova selecção de petiscos, acompanhados dos habituais cocktails e catálogo de vinhos, que já podem ser apreciados. As Caves Cockburn’s oferecem aos visitantes a oportunidade de conhecer o legado e a história da família Symington e dos vinhos ali envelhecidos, assim como de descobrir o maior armazém de envelhecimento de vinho do Porto da zona histórica de Vila Nova de Gaia, onde são mantidos milhares de barris, tonéis e balseiros. Os visitantes podem ainda conhecer as diferentes referências da marca através de provas de vinhos, que podem agora ser realizadas na sala de provas ou ao ar livre.

O novo menu de petiscos, que inclui sugestões entre 2 e 15 euros, conta com produtos regionais, resultado de parcerias com produtores nacionais da zona Norte. Um sortido fatiado de Porco Bísaro, uma seleção de queijos e compota ou covilhetes são algumas das opções da “ementa”, que conta também com snacks mais leves como batatas fritas ou uma taça de amêndoas. Para os apreciadores de conservas, é possível escolher entre paté de atum ou bacalhau, sardinhas em posta e ainda atum com feijão frade. E porque os petiscos podem ir além de produtos de origem animal, o menu inclui opções como um paté vegano ou empadas vegetarianas. Além do produto “estrela” do local, também o azeite pode ser apreciado com uma prova acompanhada de pão.

No pátio da Cockburn’s, que está aberto aos visitantes das Caves e a todos os que procuram, simplesmente, um local para conviver e descontrair nos dias de maior calor, é também possível encontrar refrescos, como cocktails de Porto Tónico, Port & Lemon ou ainda Port & Ginger. O espaço sugere ainda a degustação de um sorvete produzido a partir do Special Reserve, havendo ainda uma opção de gelado infantil para que nem os mais pequenos fiquem de fora. Os bombons de chocolate e os pastéis de nata não poderiam faltar para completar a selecção de petiscos ideais para um final de tarde de convívio.

As visitas às Caves Cockburn’s têm uma duração de 1h30 e culminam sempre numa prova de vinhos, com seis opções disponíveis (a partir dos 22 euros). As visitas podem realizar-se no horário das 10h00 às 17h30, até 31 de Outubro. A reserva prévia deve ser efetuada através do site (www.cockburns.com). As provas nas Caves estão disponíveis das 10h00 às 19h00 e a loja encontra-se aberta das 9h30 às 19h30.

Comida Independente: A loja gourmet do ano

Comida Independente

Aberta em Lisboa no início de 2018, esta loja é muito mais do que uma mercearia-charcutaria fina com especialidades como queijo, vinho e azeite. É todo um manifesto, como decorre, desde logo, do nome e do lema assumido: “comida independente, grandes produtos, pequenos produtores”. Nome, lema e conceito, que correspondem ao foco numa clientela que […]

Aberta em Lisboa no início de 2018, esta loja é muito mais do que uma mercearia-charcutaria fina com especialidades como queijo, vinho e azeite. É todo um manifesto, como decorre, desde logo, do nome e do lema assumido: “comida independente, grandes produtos, pequenos produtores”. Nome, lema e conceito, que correspondem ao foco numa clientela que cada vez mais se afasta das grandes superfícies e dos produtos ditos massificados. Há na Comida Independente um lado gregário evidente, sendo disso bom exemplo o merchandising próprio, a organização de um mercado de produtores, e a existência até de um clube de vinhos – nem de propósito identificado como Alcateia – que tende à fidelização. Mal se entra na loja, sita entre a Avenida Dom Carlos I e o Jardim Dom Luis (rigorosamente, junto ao Largo Conde Barão), comprova-se o foco nos artigos de pequenos produtores portugueses o que, de alguma forma, se vê também na secção de vinhos, limitada, mas primorosamente selecionada, com pendor para vinhos biodinâmicos e outros ditos por naturais.

Mal se entra na loja, comprova-se o compromisso arreigado da oferta de artigos de pequenos produtores portugueses.

Apesar do espaço exíguo (menos do que 100m2), a verdade é que a variedade em cada secção é acima da média. Nos queijos por exemplo – falha habitual nas charcutarias clássicas lusitanas –, a oferta é generosa e a responsável Rita Santos lembra-nos que, antes de abrir a loja, passou férias na Serra da Estrela só a provar queijos. Da mesma forma, atesta que já visitou grande parte dos produtores cujas delícias vende todos os dias com simpatia e alegria. Todo o contexto da loja é de uma aparente simplicidade, com bonitos toldos azuis a contrastar com uma fachada branca e azulejos alvos também no interior. Além de vários produtos frescos (pão, fruta e leguminosas) e outros mais habituais em lojas do género (compotas, mel, molhos, enchidos, chocolates e café), podemos encontrar, logo à entrada, um pequeno e informal wine-bar, cuja especialidade é o sanduiche de pastrami (não fica atrás, podemos jurar, da clássica servida há décadas no mítico Katz’s em Nova Iorque). Numa mesa mais ou menos comunitária (dentro ou fora da loja) ou no pequeno balcão também à entrada, e sempre sem reserva, as tábuas de queijo, conservas e enchidos são um sucesso junto da comunidade local, cada vez mais estrangeira por sinal. N.O.G.

Comida Independente:  R. Cais do Tojo 28, 1200-649 Lisboa  

https://comidaindependente.pt/