Paulo Coutinho lança azeite exclusivo

Paulo Coutinho lança azeite

TEXTO Luís Lopes Mais exclusivo, de facto, é difícil. Na verdade, são apenas 200 garrafas de 500ml de azeite, que Paulo Coutinho lança através do seu website www.paulocoutinho.wine, a €23,50 cada. O nome do produtor é bem conhecido dos aficionados dos grandes vinhos durienses, já que tem construído uma carreira muito sólida enquanto enólogo da […]

TEXTO Luís Lopes

Mais exclusivo, de facto, é difícil. Na verdade, são apenas 200 garrafas de 500ml de azeite, que Paulo Coutinho lança através do seu website www.paulocoutinho.wine, a €23,50 cada.

O nome do produtor é bem conhecido dos aficionados dos grandes vinhos durienses, já que tem construído uma carreira muito sólida enquanto enólogo da Quinta do Portal. Muitos ignoram, porém, que Paulo tem também um projecto pessoal, enquanto viticultor, a partir de uma pequena parcela de vinha velha, chamada Vinha da Fonte, que trabalha em modo biológico e que originou já o primeiro vinho com o seu nome, da colheita de 2016. Ao lado da Vinha da Fonte, em Celeirós do Douro, num terreno xistoso, assente em patamares suportados por muros de xisto e taludes, está também um minúsculo (0,27 ha) olival centenário, o Olival dos Sumagrais, por ele adquirido em 2020 e que enceta agora igualmente o processo de conversão em agricultura biológica. 

Paulo Coutinho.

As oliveiras ostentam diversas variedades tradicionais do Douro (algumas ainda por identificar) e as azeitonas foram colhidas no dia 26 de outubro de 2020, tendo sido prensadas a frio num lagar com mós de granito. Que mais me falta dizer? Que o azeite se apresenta com a marca Paulo Coutinho Olival dos Sumagrais, que tem a classificação Virgem Extra, que revela na análise 0,12 de acidez (não que isso signifique muita coisa…), que é um produto raro (200 garrafas não vão longe), e que é mesmo muito, muito bom. E também, já agora, que quem achar que pagar vinte e poucos euros por uma garrafa de azeite de olival tradicional é demasiado, é porque não sabe nada de oliveiras nem de azeite.

CVR Beira Interior alarga 2º Concurso de Restaurantes a todo o país

Beira Interior concurso restaurantes

A Comissão Vitivinícola Regional da Beira Interior acaba de anunciar o arranque da segunda edição do concurso de restaurantes Beira Interior Gourmet. Segundo o presidente da CVR da Beira Interior, Rodolfo Queirós, esta edição do concurso de restaurantes abrangerá espaços de todo o país, “dado o êxito da primeira edição, em 2020”. Um júri de […]

A Comissão Vitivinícola Regional da Beira Interior acaba de anunciar o arranque da segunda edição do concurso de restaurantes Beira Interior Gourmet.

Segundo o presidente da CVR da Beira Interior, Rodolfo Queirós, esta edição do concurso de restaurantes abrangerá espaços de todo o país, “dado o êxito da primeira edição, em 2020”. Um júri de especialistas do sector — das áreas da cozinha, turismo, cultura, ensino, jornalismo e enologia — com presidência de Fernando Melo (colaborador da Grandes Escolhas), visitará os restaurantes concorrentes de 28 de Maio a 25 de Julho, e avaliará as criações gastronómicas, bem como a harmonização das mesmas com os vinhos da Beira Interior. “Pretende-se, com esta iniciativa, valorizar os vinhos DO Beira Interior e IG Terras da Beira, e os seus produtores, promovendo a excelência na restauração”, refere Rodolfo Queirós.

O período de inscrição (gratuita) decorre até ao próximo dia 16 de Maio, no qual cada restaurante definirá um menu a preço controlado, que irá estar disponível ao grande público durante os referidos dois meses de avaliação. Veja aqui o regulamento, com instruções para a inscrição. Os prémios serão divulgados e entregues na Gala Vinhos da Beira Interior, com data e local ainda a definir.

As categorias do Concurso Beira Interior Gourmet:

Restaurante “Cozinha Tradicional/ Regional” – restauração com menus de cozinha regional, que utiliza produtos da Beira Interior ou da região onde está inserido, com ambiente típico ou contemporâneo.

Restaurante “Cozinha criativa/Evolutiva” – restauração com cozinha elaborada e serviço especializado, com Chef de Cozinha e com ambiente de algum requinte.

Restaurante “Cozinha Europeia e do Mundo” – restauração com uma cozinha tradicional de outros países ou “fusão”, com ambiente contemporâneo ou clássico.

Azeite Herdade do Rocim tem nova imagem e garrafa

Azeite Herdade do Rocim

Numa edição numerada, o novo azeite da Herdade do Rocim — propriedade localizada na Vidigueira, Baixo Alentejo — tem uma imagem renovada e apresenta-se em dois formatos de garrafa, agora de vidro escuro: 25cl, com um p.v.p. de €7,50; e 50cl, a custar €10. A variedade de azeitona dominante é Cobrançosa, representando 90% do lote. […]

Numa edição numerada, o novo azeite da Herdade do Rocim — propriedade localizada na Vidigueira, Baixo Alentejo — tem uma imagem renovada e apresenta-se em dois formatos de garrafa, agora de vidro escuro: 25cl, com um p.v.p. de €7,50; e 50cl, a custar €10. A variedade de azeitona dominante é Cobrançosa, representando 90% do lote.

O novo rótulo do azeite Herdade do Rocim tem bem presente, à semelhança dos vinhos da mesma gama, a planta Linaria Ricardoi, endémica de Cuba e em perigo de extinção, que pode ser encontrada sobretudo em alguns olivais tradicionais do Baixo Alentejo. “Save Our Linaria”, pode ler-se no selo destacável do topo da garrafa, numa luta que já vem a ser travada pela equipa do Rocim há alguns anos. A referência à Linaria Ricardoi simboliza, segundo o produtor, “a nossa paixão, compromisso e respeito pela terra”.

FICHA TÉCNICA DO PRODUTOR (garrafa 50cl)

REGIÃO: Vidigueira
PRODUTOR: Herdade do Rocim
VARIEDADE: 90% Cobrançosa
PROCESSO DE EXTRAÇÃO: Contínuo, por centrifugação a frio.
NOTAS DE PROVA: Muito frutado, fresco, com ligeiro picante no final.

DECLARAÇÃO NUTRICIONAL (por 100g)

ENERGIA: 3669 kj | 899 kcal
LÍPIDOS TOTAIS: 99,9 g
LÍPIDOS SATURADOS: 18,3 g
LÍPIDOS INSATURADOS: 0,0g
HIDRATOS DE CARBONO: 0,0g
PROTEÍNAS: 0,0g
SAL: 0,0g

Não contém glúten.

Chef Diogo Rocha lança serviço de entregas de luxo em Viseu

Conhecido por liderar o restaurante Mesa de Lemos — em Passos de Silgueiros, no Dão, com uma Estrela Michelin — o chef Diogo Rocha acaba de lançar um serviço de entrega ao domicílio, aos fins-de-semana e no concelho de Viseu, com o nome “Cocotte by Diogo Rocha”.  A ideia é que um prato, para duas […]

Conhecido por liderar o restaurante Mesa de Lemos — em Passos de Silgueiros, no Dão, com uma Estrela Michelin — o chef Diogo Rocha acaba de lançar um serviço de entrega ao domicílio, aos fins-de-semana e no concelho de Viseu, com o nome “Cocotte by Diogo Rocha”. 

A ideia é que um prato, para duas pessoas, chegue ao cliente servido numa cocotte (nome francês para uma caçarola de perfil baixo), preparado para finalizar em casa. A mudar todas as semanas, este prato pode ser, a título de exemplo, salmonete e carabineiro com espargos verdes, caviar, coentros e batata doce. Mas não é apenas a refeição que o cliente “ganha” com este serviço. A própria cocotte está incluída no valor de encomenda (€80), bem como o saco de tecido premium que envolve tudo, da Abyss & Habidecor, marca de têxteis de alta qualidade, produzidos a partir de um algodão exclusivo (algodão do Egipto de Giza). Além disto, a entrega é bem personalizada, feita pela equipa do Mesa de Lemos ou até pelo próprio Chef Diogo Rocha. Também é possível encomendar, o azeite e os vinhos da Quinta de Lemos, para a harmonização ficar completa. O pagamento, por sua vez, pode ser feito por MBWay ou transferência bancária, e as reservas devem ser submetidas até 48 horas de antecedência para o contacto 961158503. A entrega é efectuada até às 13h de sábado e domingo.

“Enquanto os restaurantes não reabrem em Portugal Continental, decidi apresentar uma proposta diferenciada, que pudesse acrescentar algo à oferta existente”, explica Diogo Rocha, que admite alargar o serviço a outros concelhos, assim esta primeira fase corra como esperado.

Já está disponível o novo azeite Esporão Bio Virgem Extra

O terceiro azeite da gama Esporão com certificação biológica está agora no mercado. Produzido no Lagar da Herdade do Esporão, com azeitonas 100% alentejanas, maioritariamente azeitona Galega, este é mais um produto que se insere no grande objectivo actual da empresa, o de aumentar a oferta de referências biológicas. “Este é um azeite com origem […]

O terceiro azeite da gama Esporão com certificação biológica está agora no mercado. Produzido no Lagar da Herdade do Esporão, com azeitonas 100% alentejanas, maioritariamente azeitona Galega, este é mais um produto que se insere no grande objectivo actual da empresa, o de aumentar a oferta de referências biológicas.

“Este é um azeite com origem no Alentejo, proveniente de oliveiras plantadas ao longo dos tempos, oliveiras que tanto nos ensinam e inspiram todos os dias. O sumo que oferecem, repleto de saúde e sabor, traz-nos memória de tantos pratos doces e salgados. E ainda, recorda-nos da simplicidade de alguns momentos como molhar o pão em azeite e saborear”, confessa Ana Carrilho, directora de produção do Esporão.

O Biológico Virgem Extra (p.v.p. €9,49) insere-se, assim, num portefólio já vasto de azeites do grupo, onde também se incluem os Virgem, Virgem Extra, DOP Norte Alentejano VE, Cordovil VE, Galega VE, Selecção VE, Olival dos Arrifes Biológico VE e Quinta dos Murças Biológico Virgem Extra.

E se deseja conhecer mais sobre este azeite, e sobre a sua origem, pode visitar o Lagar da Herdade do Esporão, e até fazer uma prova acompanhada. Basta reservar com o Esporão, através deste e-mail ou do telefone +351266509280.

 

Trufas de licor e de aguardente de medronho? São da Beira Baixa

FOTOS: Quinta das Olelas O Chef Artur Norberto, administrador executivo da Quinta das Olelas — localizada em Retaxo, no concelho de Castelo Branco — criou recentemente duas iguarias originais e muito especiais: Trufas de Licor de Medronho e Trufas de Aguardente de Medronho. Já com “encomendas do Brasil, Itália, Suíça e França”, segundo o próprio, […]

FOTOS: Quinta das Olelas

O Chef Artur Norberto, administrador executivo da Quinta das Olelas — localizada em Retaxo, no concelho de Castelo Branco — criou recentemente duas iguarias originais e muito especiais: Trufas de Licor de Medronho e Trufas de Aguardente de Medronho. Já com “encomendas do Brasil, Itália, Suíça e França”, segundo o próprio, estas trufas de chocolate, harmonizadas com o fruto endógeno da Beira Baixa, “revelaram-se um sucesso”.

A ideia surgiu em plena pandemia, com o negócio de eventos da Quinta das Olelas Parado, enquanto Artur Norberto fazia uma replantação de medronheiros na propriedade. “Estavam completamente desordenados e foi necessário cortar alguns, replantar outros, dar alguma simetria à plantação”, adiantou o Chef. Durante o processo, deparou-se com um ninho caído no chão, com medronhos secos. “Achei piada ao conjunto e pensei que poderia ser muito interessante reproduzi-lo com chocolate”, descortinou. Assim, aproveitou o tempo e o incentivo da família e começou a desenvolver as trufas. “Quis que os bombons carregassem as memórias do que é almoçar na nossa quinta ou, para quem ainda não a conhece, que despertasse o desejo de a conhecer”.

As Trufas de Licor de Medronho e as Trufas de Aguardente de Medronho apresentam-se numas bonitas embalagens de 125 gramas e têm um p.v.p. de €14,50. Estão à venda na loja da Quinta das Olelas (único ponto físico, para já), bem como na loja virtual do Facebook da Quinta, ou ainda através do número de telefone +351 961 431 980.

Restaurante O Frade encanta Dia dos Namorados com menu especial

Para festejar o Dia de São Valentim já neste domingo (14 de Fevereiro), com o restaurante lisboeta de cozinha tradicional portuguesa O Frade, o chef Carlos Afonso sugere um menu especial, disponível por encomenda: couvert, duas ostras ao natural, coelho de coentrada, arroz de pato, mousse de chocolate e frutos vermelhos. A harmonização sugerida passa […]

Para festejar o Dia de São Valentim já neste domingo (14 de Fevereiro), com o restaurante lisboeta de cozinha tradicional portuguesa O Frade, o chef Carlos Afonso sugere um menu especial, disponível por encomenda: couvert, duas ostras ao natural, coelho de coentrada, arroz de pato, mousse de chocolate e frutos vermelhos. A harmonização sugerida passa pelo tinto Dona Alice 2018 — um Aragonez e Trincadeira da ACV Vinhos de Talha (Alentejo) cujo nome é uma homenagem à companheira do produtor Alexandre Frade — ou pelo espumante Sidónio de Sousa Bairrada rosé.

Chef Carlos Afonso.

Com o valor de 75 euros (duas pessoas), este menu está disponível por entrega através das aplicações Volup e Uber Eats, take-away directamente com o restaurante:
@restauranteofrade
Tlf:  939482939
Morada: Calçada da Ajuda, 14 – Belém

Individualmente, o vinho D. Alice tinto 2018 tem o p.v.p. recomendado de 25 euros e pode ser adquirido n’O Frade ou na loja online da ACV Vinhos de Talha.

Restaurante aveirense Salpoente entrega menu de S. Valentim em casa

O restaurante Salpoente — situado em frente à ria de Aveiro, no canal de São Roque — criou um menu especial para o Dia dos Namorados (14 de Fevereiro), para entrega em casa. O “Combo Lovers” inclui várias entradas para partilhar, como nachos, guacamole, ceviche de salmão e sanduíche de frango; um risotto de camarão […]

O restaurante Salpoente — situado em frente à ria de Aveiro, no canal de São Roque — criou um menu especial para o Dia dos Namorados (14 de Fevereiro), para entrega em casa.

O “Combo Lovers” inclui várias entradas para partilhar, como nachos, guacamole, ceviche de salmão e sanduíche de frango; um risotto de camarão com gengibre, coentros e lima como prato principal; e várias sobremesas como maracujá e manga em várias texturas,  1⁄2 litro gelado de morango e chocolate, morangos com molho de chocolate e bolas de caramelo.

O valor do “Combo Lovers”, do Salpoente, é de €120 e a taxa de entrega é gratuita para o concelho de Aveiro. Para outras localidades, deve consultar-se o restaurante.

Contactos Salpoente:
+351 234 382 674 / +351 915 138 619
salpoente@salpoente.pt

As sobremesas do nosso contentamento

Estão presentes nas principais festas de família e sempre que apetece adoçar a boca com as receitas da grande tradição. Quisemos preparar um guião de harmonizações vínicas que resultam, apoiadas na oferta considerável de vinhos de sobremesa que encontramos no mercado. Esperamos que corra pelo melhor a experiência, a surpresa está garantida! TEXTO Fernando Melo […]

Estão presentes nas principais festas de família e sempre que apetece adoçar a boca com as receitas da grande tradição. Quisemos preparar um guião de harmonizações vínicas que resultam, apoiadas na oferta considerável de vinhos de sobremesa que encontramos no mercado. Esperamos que corra pelo melhor a experiência, a surpresa está garantida!

TEXTO Fernando Melo
FOTOS Mário Cerdeira

Arroz-doce

Parece trivial, mas está longe de o ser. Começa pela origem do próprio arroz, que é ancestralmente chinês e nos chegou pela mão dos árabes. Arruzz é o termo árabe da gramínea mais identitária de Portugal, espécie japónica a que chamamos carolino por assim os nossos antepassados o terem baptizado. Era igual ao arroz que vinha do estado norte-americano da Carolina do Sul, relação única de polpa e película, a absorver o caldo e a inchar sem rebentar, desde que manipulado com cuidado. Todo o arroz empapa, até o ‘agulha’, importante é saber o momento de o tirar do lume. Pois o arroz-doce não vive sem o seu grande parceiro carolino e a verdade é que grande parte do seu processamento é feito fora do lume. Balanço muito fino de açúcar, leite e arroz, que só se percebe quando finalmente arrefece. É frio que se aquilata e consome o arroz-doce. No que diz respeito ao vinho, há que fugir dos aromáticos – baunilha, noz-moscada e canela, por exemplo – que são estruturantes na variante espanhola, mas que para o nosso gosto não funcionam. Importante não o lavar antes, a goma faz falta para o combate com o vinho. Desligar sempre o lume muito antes do ponto de cozedura, para manter os grãos intactos e cheios de sabor.

Sugestão: Porto branco 20 Anos

Leite-creme

Esta deve ser a receita mais vezeira nos lares portugueses, especialmente depois de existir a Bimby, que como vai mexendo e aquecendo, não cria grumos e garante a cremosidade tão desejada. No entanto, tem o senão de não cozer a farinha, seja de trigo ou maizena, que é amido/farinha de milho. O sabor conseguido fica por isso aquém do que se gosta, para não falar da dificuldade na harmonização com vinhos. Mantendo uma temperatura de cerca de 80ºC a primeira fervura do leite – gordo, aspecto importante -, açúcar e casca de limão homogeneiza já bem os ingredientes entre si e depois, fora do lume, continuar a bater com as varas até chegar aos 65ºC, quando já se consegue tocar com mão. Pode parecer ainda líquido, mas há que confiar na ciência, que a consolidação da textura só acontece no arrefecimento. Basta fazer dois ao mesmo tempo, um ao lado do outro – com e sem farinha – para ver a profundidade e clareza dos sabores que se consegue, para se concluir que nunca mais se faz com farinha, e que a bondade da ponte com o vinho está de facto naquele que não a tem; a viagem do vinho através da estrutura molecular aberta do leite-creme mais simples corre melhor e tem mais rendimento de sabor.

Sugestão: Tejo Colheita Tardia branco

Pão-de-Ló.

o-de-ló

Com o tempo, ganhou muitas declinações, muitas delas com a massa propositadamente mal cozida, para o coração ficar pastoso e doce. Reza a lenda que o de Alfeizerão nasceu da antecipação da visita do rei D. Carlos quando as monjas não tinham conseguido cozer completamente o pão-de-ló. O monarca terá ficado tão bem impressionado que logo ali decidiu baptizá-lo. Muitos outros lhe seguiram depois as pisadas, mas a receita central é a de Margaride, em que o pão-de-ló é cozido em forno de lenha em vasilhas grandes de barro, com copo – para o buraco – e tampa. É tradição utilizar-se papel almaço, o resultado é bastante diferente quando se usa papel vegetal. A base culinária, essa é como a de todos os outros, ovos caseiros, açúcar, manteiga, farinha e trejeitos secretos que volvidos quase três séculos ainda ninguém lhes chegou. Nem pensar em cortar com faca, o metal destrói o sabor e há que honrar a tradição. A estrutura do bolo é bastante aberta e gosta de vinhos secos.

Sugestão: Porto Tawny 20 Anos

Mousse de chocolate

O trabalho clássico desta sobremesa passa por emulsionar as claras, batendo-as até integrar o máximo de ar, para depois ligar com o chocolate fundido juntamente com manteiga ou não e enriquecido ou não com açúcar. Trabalha-se a uma temperatura média para conseguir a eficiência culinária desejada e a natureza do chocolate dita quase tudo quanto ao resultado final. O chocolate dito de leite tem forte percentagem de manteiga de cacau – para muitos chocolate branco – obtida pela envolvente da fava de cacau. Hervé This, cientista francês fundador da disciplina da cozinha molecular, demonstrou da forma mais simples como uma tablete de chocolate pode dar directamente mousse, desde que se emulsione primeiro a parte da manteiga de cacau que contém. Por isso, em rigor nada mais faz falta, nem sequer o açúcar para conseguir a mousse. O trabalho é mais exigente quando falamos de chocolate negro – com mais de 70% de cacau – pois o jogo de temperaturas tem de ser outro. O vinho gosta muito mais deste tipo de chocolate, tanto pela acidez que apresenta como pelo grupo de amargos que incorpora na sua estrutura. Quem gosta muito de chocolate gosta normalmente muito de chocolate negro, pouco de chocolate de leite e nada de chocolate branco. Mas as regras estão longe ser cartesianas, e gostos não se discutem. Fixemo-nos, contudo, na mousse de chocolate negro, para pensar pontes vínicas.

Sugestão: Porto LBV (Late Bottled Vintage)

Fios de ovos

A doçaria conventual está cheia de segredos e a nossa consagra todo um trabalho empírico de elaboração de pontos de açúcar que mesmo a alta pastelaria tem dificuldade em reproduzir. Nasceu e cresceu nos rigores dos conventos, por mãos essencialmente femininas, mas não necessariamente consagradas. O dote para permanecer como residente era muito elevado, e por isso quem trabalhava nas cozinhas eram seculares não residentes. Isso teve o excelente efeito de os livros de receitas terem ficado em mãos laicas, com o corolário natural de terem passado de mão em mão e permitido que muitas pessoas aprendessem os segredos nucleares da arte. Um dos mais intrigantes é o dos fios de ovos, para os quais se desenvolveu pequenas bombas perfuradas por onde passando-se o doce de ovos quente cai na água fria em fios. Claro que é doce, mas é também fino, menos cansativo para o palato, e é por isso que se utiliza muito como adorno ou enchimento de ocos de bolos. O contacto com o vinho na boca é tangencial, preservando-se sempre a estrutura de fio. Há por isso que alinhar vinhos mais ligeiros e pouco extractivos para que a harmonização corra bem.

Sugestão: Licoroso tinto do Alentejo

Trouxas de ovos

Trabalho misto de produção de placas de doce de ovos e calda bem concentrada de açúcar, com Caldas da Rainha a assumir-se como epicentro. A sobremesa mais famosa, para além das trouxas propriamente ditas, é a lampreia de ovos. A mesa festiva dos portugueses, seja em que altura for, não a dispensa e é normalmente orlada pelos fios de ovos, de que já tratámos. Do ponto de vista formal, a trouxa de ovos é intratável em termos vínicos, por duas razões principais: primeira, o elevado teor de ferro das muitas gemas presentes vai direito aos polifenóis – taninos – do vinho, resultado metálico quando este é vigoroso; segunda, a forma como a calda de imediato inunda palato blinda as nuances do vinho acabam por lhe retirar protagonismo e eliminar a função assessora do doce. Mas nem tudo está perdido, enquanto houver vinhos qual aliam a doçura e untuosidade à acidez, cortando assim a sensação de doce. Gera-se um efeito cooperativo muito interessante e agradável.

Sugestão: Madeira Malvasia 5 Anos

Queijo de figo

Regionalíssimo do Algarve, é curioso como é também intimíssimo das famílias algarvias, Anima-o a tónica de sustentabilidade e aproveitamento integral dos produtos figo seco e amêndoas cruas. Nos lares algarvios há sempre queijo de figo, e o início de Maio é quando é imperativo. Depois vai-se comendo às lascas que se tira com a mão, não se lhe chega faca nem é bolo de fatia. As receitas variam bastante, levando alfarroba ou não, chocolate, especiarias e aguardente de medronho ou outra. O chef José Pinheiro, do restaurante Eira do Mel, em Vila do Bispo, teve a moção genial de fixar receita, formato e embalagem do queijo de figo, e a coragem de lhe defender honras de doce nacional. É consensual e é apelativo a jovens de todas as idades. A trajectória que tem feito é-lhe em grande parte devida, incluindo a sugestão de integração noutras sobremesas, como é o caso do gelado de queijo de figo, verdadeira delícia. Quando a aguardente é pouco pronunciada o trabalho do vinho fica mais fácil.

Sugestão: Moscatel de Setúbal 10 ou 20 anos

Cheesecake.

Cheesecake com frutos vermelhos

Os frutos vermelhos de baga são normalmente apresentados em compotas de framboesa, amoras e mirtilos e configuram a cobertura da tarte. A estrutura desta sobremesa é à base de natas e gelatina e a base é de bolacha desfeita e amassada. A componente láctea é por isso dominante, mas há que contar com o pormenor de a gelatina que se emprega ser habitualmente de base animal O binómio natas-gelatina é muito difícil de abordar correctamente do ponto de vista da harmonização, mas felizmente temos a bolacha como mediadora. No entanto, não é simples a eleição do vinho certo, talvez por isso se tenda mais para vinhos doces. No entanto, o que define um problema é ele ter uma ou mais soluções e claro que há pistas boas para lá chegar.

Sugestão: Porto Vintage novo

Pudim do Abade de Priscos

É uma sobremesa tão fácil de fazer quanto de falhar. Vive essencialmente da proteína animal extraída da parte gorda do presunto tradicional de fumeiro e da construção da calda em ponto de estrada ou espadana, dependendo de quem a faz e da cozedura que se lhe dá. É uma sobremesa para ser feita por cozinheiros e não por pasteleiros, pela variabilidade que tem. É vigorosa nas gemas, o que representa uma cortina forte de ferro na estrutura com que temos de trabalhar na harmonização. Há que insistir e persistir até se encontrar uma solução satisfatória, e depois ir fazendo experiências com tipos diferentes de açúcar, presunto e até ovos. Não há dois pudins iguais e tal como no caso do leite-creme, é quando arrefece que a estrutura se consolida, pelo que é preciso investir paciência nessa fase; nada de pressas.

Sugestão: Madeira Bual com mais de 20 anos

Artigo da edição nº42, Outubro 2020

Bechamelo: A importância de ser restaurador

Estamos em plena era dos chefs, são muito poucos os que na juventude decidem ir formar-se para ser empregados de mesa e quase nenhuns a querer simplesmente ser restauradores, com tudo o que vem com a profissão. É no, entanto, aí que está o ponto fulcral da operação e êxito de um restaurante. Como é […]

Estamos em plena era dos chefs, são muito poucos os que na juventude decidem ir formar-se para ser empregados de mesa e quase nenhuns a querer simplesmente ser restauradores, com tudo o que vem com a profissão. É no, entanto, aí que está o ponto fulcral da operação e êxito de um restaurante. Como é que se inverte esta tendência?

Fernando Melo

Sempre venerei as segundas linhas, assim como sempre me impressionaram mal as ribaltas prematuras. Penso que decorre da natureza de qualquer profissão exercida de corpo e alma, preferir o trabalho à fama, assim como procurar a excelência em todos os detalhes. A profissão de restaurador – o melhor termo que encontrei até hoje – é além do ponto de convergência de todas as funções na operação de um restaurante, a mais importante de todas elas. As atribuições mais importantes são justamente aqueles por que ninguém dá, à excepção de quem tem muitos anos de experiência na área. E essa é a primeira grande razão para a falta de vocações, bem mais grave que a falta de cozinheiros ou empregados de mesa.

Quando se pensa num restaurante a partir do zero, junta-se normalmente uma equipa de especialistas para trabalhar conjuntamente no projecto. Tenho visto e acompanhado alguns desde o início dos inícios, com reuniões em chão de cimento cru e pontos de água e gás a brotar do chão sem perceber exactamente para quê. Há um arquitecto que trata de layouts de sala, iluminação, cores e mobiliário, que trabalha – quase sempre mal – juntamente com um projectista de cozinhas de produção, que juntos vão engendrando um orçamento que nunca se fica pelos números previstos; excede duas ou três vezes o que se pensava. E foi sempre porque não existia a figura do restaurador. Do homem que não espera pelo parecer do arquitecto; antecipa-se-lhe e faz o programa – é assim que se diz – para o espaço. Culpa-se frequentemente o arquitecto pelos desmazelos encontrados na exploração de um restaurante, quando o que aconteceu foi simplesmente o programa não ter sido pensado por alguém com experiência de facto. A pessoa de quem falamos é a única que pensa em tudo, e a quem depois se pede contas de tudo, sobretudo erros. É quem tem o peso da responsabilidade. Quantas vezes aspectos triviais de conforto tais como ruído, som e reverberação só são olhados depois da abertura, com custos brutais acrescidos? E a qualidade do som, quem a pensou? É um de mil pormenores de que invariavelmente todos os envolvidos se demitem, dizendo simplesmente que ninguém lhes disse. É por isso que não só não é fácil ter um restaurante como não querendo entrar por essas especificidades é melhor nunca chegar a ter.

São muito raros os chefs que têm esta percepção global e ao mesmo tempo minuciosa das frentes de operação de um restaurante. Os seus conhecimentos quando muito são úteis na definição inicial da cozinha, copa e espaços adjacentes, e mesmo assim nem sempre têm conhecimentos suficientes para as decisões que tomam. A figura do gestor – restaurador – é muito importante, é uma espécie de timoneiro que sabe sempre para onde está o barco a ir. Fico sempre muito nervoso quando vejo um chef na televisão num daqueles programas que aceitaram fazer, a opinar sobre a luz, o conforto, os equipamentos e até a salubridade, muitas vezes sem saber bem o que estão a dizer. Digo isto porque infelizmente nem os aspectos culinários fundamentais estão bem dominados e às vezes é de deitar as mãos à cabeça, tal a impreparação. De nada adianta encenar – é de encenação que se trata – aberturas dramáticas de câmaras frigoríficas com tudo podre e o chef aos gritos para impressionar, até porque nesse ponto já não há nada a fazer, para além de deitar tudo para o lixo, limpar e repor stocks. Pelo menos tem solução; a falta de cultura de restauração não. E o meu pensamento enquanto estou a ver esses programas vai para os restauradores, proprietários, directores, chamem-lhe o que quiserem, que sustentam a verve e o topete com que os chefs falam em tom de julgamento. Acho que está tudo mal.

O bom restaurador é não só uma pessoa com experiência e solidez de conhecimentos, como também e principalmente um motivador. Enternece-me o carinho que vejo na forma como grandes profissionais da nossa restauração promover os que trabalham consigo. E na operação na sala é muito fácil perceber isso, sobretudo pela coreografia com que se movimentam, mas sobretudo pela empatia que revelam ter. O chef tem de estabelecer os standards de serviço de cada prato e isso tem de ser reavivado todos os dias, talvez até antes de cada serviço, o chef de sala tem de governar o trabalho todo de serviço e fluxos de trabalho, mas mesmo perante as brigadas mais brilhantes, a figura do nosso restaurador é determinante. Não há dois dias iguais e as pessoas não são autómatos; tem de existir o “middleman” para adaptar o serviço à sala, e a cozinha ao serviço. A formação é a um tempo a tábua de salvação de uma casa e a garantia de regeneração. Escolher dois ou três colaboradores e ir com eles a outros restaurantes, chamando-lhes a atenção para pormenores e puxando pelo seu sentido crítico para que vão dizendo o que lhes parece. Viajar é outro aspecto crítico que na medida do orçamento disponível deve ser posto em prática. Não há formação específica nas escolas de hotelaria para esta figura especial que afinal é aquela de quem falamos quando falamos das casas onde nos sentimos bem. Agora já sabemos como se chama: restaurador.

Artigo da edição nº43, Novembro 2020