Grande Reserva: Mealhada tem uma nova garrafeira
Uma “boutique wine shop” com vinhos diferenciadores e de todo o país. Grande Reserva é a garrafeira que acaba de abrir na Mealhada, pelas mãos de Ricardo Barrelas, empreendedor com experiência de uma década em comunicação e estratégia de marcas de vinho. “Temos procurado criar uma oferta ecléctica e não elitista, com vinhos de inquestionável […]
Uma “boutique wine shop” com vinhos diferenciadores e de todo o país. Grande Reserva é a garrafeira que acaba de abrir na Mealhada, pelas mãos de Ricardo Barrelas, empreendedor com experiência de uma década em comunicação e estratégia de marcas de vinho.
“Temos procurado criar uma oferta ecléctica e não elitista, com vinhos de inquestionável qualidade mas acessíveis a qualquer enófilo”, assume o proprietário, que pretende apresentar ao consumidor “vinhos que não estão, na sua esmagadora maioria, disponíveis nas grandes superfícies, assim como nas garrafeiras mais próximas”, construindo, assim, um portefólio único.
O objectivo é, também, proporcionar uma experiência de compra personalizada: “Somos, muitas vezes, o ponto de contacto entre o produtor e o consumidor porque nas grandes superfícies esse trabalho não existe e na restauração ainda existe um caminho longo a percorrer de educação vínica, digamos assim. O ‘storytelling’ de uma marca deve ser feito no ponto de venda e temos esse dever para com o consumidor. Dizer que o vinho cheira a isto ou sabe a isto simplesmente não chega”, defende Ricardo Barrelas.
A garrafeira Grande Reserva está, ainda, a desenhar experiências de enoturismo com um grupo de produtores, alguns dos quais estreantes nesta área, e a criar um clube de vinhos, onde cada membro terá acesso a benefícios exclusivos. Adicionalmente, o espaço é um dos poucos em Portugal que aderiu ao movimento global “Wine in Moderation” que visa promover uma cultura do vinho saudável e positiva.
A Grande Reserva está situada no centro da cidade da Mealhada, na Urbanização Quinta da Nora, Rua Armindo Pêga 49. Possui, igualmente, uma loja online, em grande-reserva.pt.
Domínio do Açor: À procura de Borgonha em terras de granito
A tarefa de procura pelo terroir perfeito coube a Guilherme Correia, um sommelier brasileiro que mora em Portugal, já há alguns anos, e é bem conhecido na comunidade vínica pela sua competência profissional e delicadeza no trato. Trabalha na indústria do vinho há quase 30 anos e foi duas vezes o melhor sommelier do Brasil. […]
A tarefa de procura pelo terroir perfeito coube a Guilherme Correia, um sommelier brasileiro que mora em Portugal, já há alguns anos, e é bem conhecido na comunidade vínica pela sua competência profissional e delicadeza no trato. Trabalha na indústria do vinho há quase 30 anos e foi duas vezes o melhor sommelier do Brasil. Guilherme também é um dos sócios da distribuidora Temple Wines. Descobriu a Quinta Mendes Pereira (que estava à venda) situada junto à vila de Oliveira do Conde, no concelho de Carregal do Sal, rodeada de floresta, com um património fabuloso de vinhas velhas com mais de 60 anos, inseridas num ambiente com forte apelo cultural e histórico, onde ruínas milenares dos celtas e romanos assinalam os nomes das parcelas.
A sub-região Terras de Senhorim, onde a quinta está enquadrada, fica praticamente no meio da região do Dão, entre dois rios (Dão e Mondego), e goza de um mesoclima mais fresco do que nas zonas mais quentes e menos frio e húmido do que na Serra da Estrela. Os solos são de origem granítica, de textura arenosa e franco-arenosa, pobres em matéria orgânica e fraca capacidade de retenção de água, duas características que não induzem grande vigor na planta e naturalmente regulam a produção.
João Costa, enólogo residente, e Luís Lopes, enólogo consultor, partilham da visão de Guilherme Corrêa, um dos proprietários.
Os sócios desta aventura avançaram com aquisição da quinta em Maio de 2021, o ano que deu origem aos primeiros vinhos da Domínio do Açor. O nome do projecto é inspirado no conceito francês de “domaine” — sítio/propriedade com/dedicada à produção de vinho — mais associado à Borgonha, ao qual se junta o nome da Serra do Açor, moderador climático das vinhas daquela zona. A necessidade de ir para além de um “feeling”, motivou os sócios para contratar um dos maiores especialistas em solos, o Mr. Terroir chileno, Pedro Parra.
Como diferem as parcelas entre si? Quais têm o maior potencial? Como devem tratar as uvas de cada parcela na adega? Dos 11 plotes, através do estudo de granulometria e conductividade electromagnética dos solos, Pedro Parra identificou que mais de metade “corresponde” a Grand Cru e Premier Cru, os outros a Village e um não apresenta grande qualidade. Por muito potencial que o terroir tenha, a equipa de enologia tem que ser bem escolhida, partilhar a visão com o produtor e ser capaz de trazer o terroir até ao copo.
Nesta aposta contam com o enólogo consultor Luís Lopes, formado em enologia na UTAD. Estagiou no aclamado Comte Lafon, na Borgonha, e posteriormente no Martinborough Vineyards, na Nova Zelândia. Em Portugal, era enólogo na Quinta da Pellada e apoiou o projecto de António Madeira e da Quinta das Marias. O papel do enólogo residente foi assumido por João Costa, natural do Dão e com ligação à agricultura familiar, que recentemente trabalhou na Quinta da Lomba (Niepoort), no Dão.
O primeiro vinho é um blend de Cerceal-branco, Malvasia Fina e Encruzado, mantido em inox quase um ano com borras finas. Ao lote juntraram-se mais 20% de Encruzado vinificado em barrica de 500 litros. Estágio sem sulfuroso, sobre borras, não passam a limpo, só tocam no vinho quando for para engarrafar, para fixar a tal “redução intelectual”, como lhe chamou Guilherme Correia. Deste vinho foram produzidas 3550 garrafas. O monovarietal de Cerceal foi originado pelas uvas da melhor parcela da vinha Ruína, feito só em inox. Fermentou com leveduras indígenas, pois gostaram mais do resultado final. Um ensaio com leveduras inoculadas não correu bem, “o vinho perdeu drama”, explicou Guilherme Correia. Foram produzidas apenas 230 garrafas magnum.
O monovarietal de Bical provém das vinhas velhas, plantadas nos anos 60 do século passado. Para a vinificação usaram 2 barricas usadas de 228 litros de Chenin Blanc. Demorou 2 meses para acabar a fermentação. Foram produzidas 677 garrafas. O Encruzado foi submetido ao estágio longo sobre borra, sem bâtonnage, em madeira maioritariamente nova mas “invisível”. Foram produzidas 1364 garrafas. O Jaen da melhor parcela fermentou com 30% de engaço no lagar (no granito com mais limo esta uva precisa de engaço). Ao fim de 10 dias prensaram na prensa vertical. A fermentação maloláctica ocorreu em inox e depois o estágio em barrica usada Taransaud de 400 litros. Foram produzidas 511 garrafas.
A Tinta Pinheira queima-se com sol e apodrece com chuva, razão pela qual perdeu a popularidade. É uma casta vegetal, e apesar de estar no solo delgado, não precisa de engaço. Delicada e tem uma presença texturada, precisa de delicadeza na vinificação. Provém só de uma parcela, desengaçada e vinificada em lagar. Pisada à mão… é mais uma infusão do que extração. Fez a fermentação maloláctica em inox, estagiou numa barrica de 500 litros e foi engarrafada sem colagem nem filtração. Foram produzidas 645 garrafas.
Este é um projecção com bom senso. Não só tem pernas para andar, como tem a cabeça para escolher o melhor caminho. A elegância, finesse e precisão dos vinhos são marcantes. Dá para acreditar que os amigos-produtores encontraram a sua Borgonha em terras de granito.
(Artigo publicado na edição de Julho de 2023)
Douro Superior: Uma viagem por três produtores
O que leva alguém no seu perfeito juízo a investir as suas poupanças numa região de agricultura muito pobre e, pior ainda, de clima quase a roçar o “desértico”? Na verdade, a terra de onde somos originários é – e continua a ser – um factor importante. Mas tem de haver muito mais, porque senão […]
O que leva alguém no seu perfeito juízo a investir as suas poupanças numa região de agricultura muito pobre e, pior ainda, de clima quase a roçar o “desértico”? Na verdade, a terra de onde somos originários é – e continua a ser – um factor importante. Mas tem de haver muito mais, porque senão teríamos as vilas e aldeias da sub-região cheias de vitalidade. Na verdade, estão a diminuir de população todos os anos, como acontece, aliás, com praticamente todo o interior. Um factor igualmente importante é a qualidade das uvas que daqui saem. E, claro, do vinho que com elas é feito. Não se estranha assim que a actividade vitivinícola seja das mais importantes nos concelhos pertencentes à sub-região do Douro Superior e em especial em Vila Nova de Foz Côa.
Quinta da Vineadouro
A história desta casa de Numão tem mais de 250 anos. O seu actual proprietário, Carlos Lacerda, pertence à sétima geração e quase foi por causa dele que se teria interrompido o ciclo familiar. De facto, a vida de executivo de topo levou-o a abraçar cargos muito exigentes em Portugal e, mais recentemente, na Malásia. Ou seja, não tinha de todo tempo para explorar o património familiar, composto por floresta, olival e vinha, num total de 140 hectares. Triste, mas pragmático, decide vender.
Numa das últimas visitas — já com agência imobiliária e tudo — a mulher, Teresa, convence-o a não vender. “Eu aligeiro a minha carga horária [Teresa é professora universitária de Gestão] e consigo gerir a propriedade”. Carlos aceita e começa em 2015 o nascimento de um dos mais promissores projectos da região. Aconselham-se com quem sabe, lêem muito, e decidem duas coisas: instalar fibra óptica e começar a recuperar a vinha, parte dela com mais de 120 anos. Mas, ao invés de arrancarem, reenxertam com as mesmas castas que lá existiam antes, planta a planta.
O património inclui as típicas “actuais” do Douro (brancas e tintas) mas também outras como Casculho, Bastardo, Rufete ou Marufo. Há ainda vinha nova, já com rega, apenas para ajudar as plantas jovens. Todas as plantas estão georreferenciadas, pelo que a vindima por castas é tarefa muito facilitada. Uma parte das uvas vai para a cooperativa local, mas o restante passou a ser vinificada em casa. Enquanto a adega da quinta não é recuperada, os vinhos são feitos numa adega vizinha, com o auxílio de dois nomes grandes do ensino da enologia: Manuel Malfeito Ferreira e Virgílio Loureiro. A filosofia de base é, diz-nos Teresa, minimalista, “para deixar falar o lugar”.
Todos os vinhos são da marca Vineadouro, neste momento com referências de brancos, tintos e um Clarete, este numa homenagem aos métodos antigos, onde todas as uvas eram vinificadas em conjunto. Dois dos vinhos são exclusivamente feitos das uvas das parcelas com mais de um século, e ambos têm a designação “Vinhas Velhas”. Na calha está um Marufo (de 2021) e um vinho do Porto, um Tawny 20 Anos. Todos os vinhos estão à venda no site da empresa (vineadouro.com) e Carlos garante que faz entregar em menos de 24 horas.
O casal Lacerda não vai ficar por aqui. A fibra óptica não está aqui por mero capricho de Carlos ou Teresa. Na quinta está a nascer um wine hotel, que Carlos afirma ser “o primeiro EcoTech Resort sustentável do Douro”. Será constituído por pequenas casas, num registo de decoração moderna e muito confortável. Uma das casas já está pronta e, pelo que vimos, o resultado é fenomenal.
Este será, sem dúvida, um dos projectos nacionais a seguir atentamente nos próximos anos. Os vinhos actuais mostram já uma seriedade impressionante, mas apostamos que muita e boas coisas estão ainda por acontecer aqui.
Quinta do Gravançal
Chegar às vinhas deste produtor não é tarefa rápida. Se vier de Foz Côa, tem que atravessar a parede da barragem do Pocinho, sobre o Douro, e virar imediatamente à direita. Depois é seguir uma estrada estreita e muito sinuosa, montanha acima. Nada de novo no Douro, e menos mal que o trânsito é residual. A meio de nada, esperam-nos dois irmãos, Armindo e João Rodrigues. São eles os proprietários das vinhas em encosta que vemos do outro lado do vale, por onde corre o ribeiro do Arroio, um pequeno afluente do Douro. Ao fundo, Vila Nova de Foz Côa.
As vinhas começaram a surgir pela mão do pai, Armindo Rodrigues, que as plantou desde o final da década de 80. Antes, aconselhou-se com amigos, procurando por castas e exposições, entre outras coisas. As primeiras vinhas — com castas misturadas — nasceram assim com exposição predominante a Norte, entre as cotas 150 e 300 metros. Aqui há uma mistura de patamares, nas zonas mais escarpadas, com vinha ao alto, instalada em zonas onde há argila, que segura melhor o solo e assim previne erosões. Com o falecimento do pai, os irmãos continuaram o sonho, mas optaram, em novas plantações, pela separação das castas em talhões.
A restante vinha fica ali próximo e mais acima, em Peredo dos Castelhanos, uma aldeia trasmontana do concelho de Torre de Moncorvo. Aqui há uma mistura de encosta com zonas de planalto, a mais próxima da adega, nascida em 2018. Parte desta área estava, aliás, em preparação do terreno para nova plantação. No total, a exploração tem assim plantas de Touriga Nacional, Touriga Francesa, Tinta Roriz e Tinta Barroca. Nas castas brancas predomina Rabigato, Viosinho e Malvasia-Fina. Ao todo são perto de 12 hectares de vinha, cuidados especialmente por João, que habita em Torre de Moncorvo.
Armindo, residente no Porto, passa por aqui com menos frequência, mais ao fim-de-semana. Apesar de pequena, a adega está bem equipada, não lhe faltando o frio, especialmente usado nas uvas brancas. Só uma parte das uvas é aqui vinificada. No total, entre 15 a 20 mil garrafas por ano. “Mas podemos crescer até às 50 mil”, diz-nos Armindo. A casa estava, à data da visita, à procura de um enólogo residente, que irá receber ajuda do consultor Rui Cunha. No entanto, Armindo tem conhecimentos de enologia, graças a uma formação ministrada na Universidade Católica do Porto.
A marca principal da casa chama-se Mimus, que tem duplo significado: é o nome de um pássaro da região (Mimus Polyglottos) e, ao mesmo tempo, pretende retractar o cuidado colocado nas uvas, na altura da vindima. A marca de topo, contudo, é a Quinta do Gravançal, que alberga dois Grande Reserva de 2019 (branco e tinto). Além do retalho, os vinhos são vendidos no site da empresa, em quintadogravancal.com, e os preços oscilam entre os 8 e os 24 euros. O negócio está a crescer e já existe mesmo uma casa anexa, com três quartos e piscina, onde se faz enoturismo. Tudo muito bem arranjado, com muito mimo.
Mapa
Dentro dos 3 projectos aqui abordados, o dos vinhos Mapa será certamente o mais conhecido. Não que tenha muitos anos, nada disso. Mas sobretudo porque desde cedo atingiu boa notoriedade sobretudo pela qualidade e consistência dos seus vinhos.
No início da história está Pedro Garcias, irrequieto jornalista e cronista no jornal Público. Desde sempre se mostrou amante da boa mesa e do bom vinho, paixão que partilha com a mulher, Cristina, e com alguns amigos, enófilos militantes. Já datam de há muito os famosos jantares de prova de vinhos, em que cada participante levava as suas garrafas. Pedro chegou mesmo a ter um restaurante.
Corria o ano de 1999 e o casal descobria uma quinta à venda junto a Vila Nova de Foz Côa, com cerca de 7 hectares de terra. O preço não era exorbitante e decidiram comprar. Juntaram todos os tostões que possuíam, recorreram a crédito e lançaram-se na aventura. No entanto, os primeiros vinhos só nasceram dez anos depois, em 2009. Os vinhos ganharam o nome Mapa e rapidamente começaram a ter notoriedade. Pedro vai rapidamente ganhando conhecimentos e experiência, especialmente na viticultura. Uma das suas vinhas, uma parcela com cerca de 1 hectare, ao pé de Foz Côa, tem largas décadas de idade. Na parte de cima, uma nova plantação: “Estou a plantar Rabigato no cimo desta vinha… Tinha esta casta noutra vinha, mais alta e virada a Norte, mas o Rabigato, que gosta de calor, tinha dificuldade em amadurecer”.
Já com três filhas, o casal vende a quinta original para adquirir uma nova e maior, em Muxagata. A área de vinha aumentou (e muito), mas a aventura está longe de acabar aqui. Mais recentemente vendeu parte das suas vinhas no Douro Superior e usou o dinheiro para adquirir a Quinta de São Bento, na região de Alijó, de onde Pedro é natural. Com um sorriso nos lábios conta-nos: “Estou a preparar-me para as alterações climáticas”. É aqui que está a sua adega e onde trabalha o seu enólogo, Sérgio Mendes. Pedro não lança novas colheitas para o mercado sem estas passarem, pelo menos, 2 a 3 anos em casa. “Dois Invernos ajudam a estabilizar os vinhos”, garante ele.
A produção de vinho sobe, entretanto, bem acima das 50 mil garrafas, entre branco, tinto, rosé e vinho do Porto. Além dos vinhos, Cristina e Pedro produzem azeite de olivais próprios em modo biológico, em Muxagata. Os vinhos sempre se mostraram sérios, mas os cumes têm sido ocupados pelas edições especiais, com designações como Vinha dos Pais, Vinha Clara ou Vinha dos Altos. Com o alargamento da produção e do portefólio, Cristina e Pedro decidem fazer contracto com um distribuidor. A escolha recaiu na conhecida empresa Garcias, uma feliz coincidência de nomes.
(Artigo publicado na edição de Julho de 2023)
The Fladgate Partnership compra propriedades da Ideal Drinks e entra nos vinhos tranquilos
É, até ao momento, o maior negócio do ano no sector do vinho. Segundo o jornal Expresso, a The Fladgate Partnership — grupo detentor de casas de vinho do Porto como Taylor’s, Fonseca, Croft e Krohn — comprou propriedades da Ideal Drinks (fundada por Carlos Dias), nas regiões Bairrada, Dão, e Vinhos Verdes, entrando assim […]
É, até ao momento, o maior negócio do ano no sector do vinho. Segundo o jornal Expresso, a The Fladgate Partnership — grupo detentor de casas de vinho do Porto como Taylor’s, Fonseca, Croft e Krohn — comprou propriedades da Ideal Drinks (fundada por Carlos Dias), nas regiões Bairrada, Dão, e Vinhos Verdes, entrando assim na esfera dos vinhos não fortificados (tranquilos).
Adrian Bridge, CEO da The Fladgate Partnership, adiantou ao Expresso, sem revelar qualquer valor, que a aquisição foi de 200 hectares, que incluem vinha mas não só, “distribuídos de forma equilibrada” entre a Quinta da Pedra, nos Verdes, Quinta de Bella, no Dão, e Quinta Colinas de S. Lourenço, na Bairrada. O negócio inclui, ainda, contratos de longo prazo no Paço da Palmeira (Vinhos Verdes) e na Quinta da Curia (Bairrada), a compra de todas as marcas de vinho e stocks, e a incorporação de 34 trabalhadores.
Com esta aquisição de peso, a Fladgate pretende aplicar as suas valências na exportação às marcas que agora integra no seu portefólio — como Milagres, Longos Vales, Bella, Colinas ou Principal — e quadruplicar as vendas das mesmas em 2024. Foi também dito ao Expresso que será Raul Riba d’Ave a assumir a liderança do negócio de vinhos tranquilos, pois o grupo comprou, adicionalmente, a distribuidora Direct Wine ao empresário.
Ainda de acordo com o jornal Expresso, o grupo Fladgate não considera, para já, entrar no vinho DOC Douro, por precisar “de todas as uvas para o vinho do Porto”.
Entretanto, em comunicado de imprensa, a The Fladgate Partnership (TFP) declara: “A TFP construiu uma forte presença global, exportando 93% dos seus vinhos para entusiastas de todo o mundo. Em resposta à crescente procura de vinhos tranquilos portugueses, manifestada pelos seus clientes internacionais, a TFP aproveitou a oportunidade para alargar a sua oferta e criar uma divisão especializada focada na elaboração de vinhos tranquilos de exceção. Esta expansão é uma prova do compromisso de ir ao encontro das preferências dos nossos clientes e oferecer um portefólio abrangente de vinhos portugueses premium. Ao expandir para os vinhos tranquilos, com particular ênfase nos Vinhos Verdes, Bairrada e Dão, a empresa demonstra a sua crença inabalável no vasto potencial vitivinícola de Portugal e o seu compromisso em apresentar uma gama abrangente de vinhos portugueses premium”.
Vindimas no Alentejo: 13 programas para participar na colheita de 2023
Rota dos Vinhos do Alentejo, Évora Na Rota dos Vinhos do Alentejo, um espaço com a assinatura da CVRA, é possível, não só fazer uma prova de seis vinhos distintos, como desenhar um roteiro à medida para conhecer a fundo a arte de fazer o vinho na região. Morada: Rua Cinco de Outubro no 88, […]
Rota dos Vinhos do Alentejo, Évora
Na Rota dos Vinhos do Alentejo, um espaço com a assinatura da CVRA, é possível, não só fazer uma prova de seis vinhos distintos, como desenhar um roteiro à medida para conhecer a fundo a arte de fazer o vinho na região.
Morada: Rua Cinco de Outubro no 88, 7000-854 Évora
Preço: €5 por prova
Sem necessidade de reserva
Fita Preta, Évora
A partir de 20 de agosto, a Fita Preta convida a vindimar com a máxima frescura, num programa que tem início bem cedo, ainda de madrugada. Para além da vindima, o convite inclui atividades de enologia na adega e um almoço no Paço Medieval com degustação de cinco vinhos.
Morada: Paço do Morgado de Oliveira, EM527 Km10, Nossa Senhora da Graça do Divor, 7000-016 Évora
Preço: A partir de €125 por pessoa (p.p.)
Reservas: enoturismo@fitapreta.com ou (+351) 918 266 993
Adega José de Sousa, Reguengos de Monsaraz
As atividades na Adega José de Sousa vão estender-se até 3 de setembro, com a possibilidade de escolher entre um programa com ou sem almoço. A visita à Adega Nova e à Adega dos Potes e a prova de três vinhos acompanhados de produtos regionais fazem parte do programa sem almoço. Já a refeição inclui gaspacho, empadas de galinha, queijos e outras iguarias alentejanas.
Morada: Rua de Mourão 1, 7200-291 Reguengos de Monsaraz
Preço: €28 (sem almoço) e €60 (com almoço) p.p.
Reservas: josedesousa@jmfonseca.pt ou (+351) 918 269 569
Tapada de Coelheiros, Arraiolos
De 17 de agosto a 18 de setembro será possível acompanhar e experimentar todas as fases da vindima na Tapada de Coelheiros. A visita inicia-se no campo para compreender os diferentes estados de maturação da uva e perceber quando estão perfeitas para ser colhidas e inclui um tour pela propriedade, onde se poderá observar parte da fauna e flora. Segue-se uma visita à adega e uma prova de cinco vinhos, harmonizada com uma tábua de petiscos e produtos típicos da região.
Morada: Tapada de Coelheiros 7040-202 Igrejinha, Arraiolos
Preço: €70 p.p.
Reservas: enoturismo@coelheiros.pt ou (+351) 266 470 000
Santa Vitória, Beja
Durante duas horas, o produtor de Beja, vai dar a conhecer os vinhos Santa Vitória. A alvorada é pelas 11h00, momento em que são entregues os kits vindima e se avança para um passeio pelas vinhas com direito a explicação e apanha da uva. Mais tarde, os participantes podem contar com uma visita à adega, dirigida pela enóloga Marta Maia e, antes de terminar a manhã, está planeada uma visita à cave das barricas e uma prova de vinhos acompanhada por petiscos regionais.
Morada: Sociedade Agro-Industrial, SA Herdade da Malhada 7800-730 Santa Vitória
Preço: A partir de €35 p.p.
Reservas: campo@vilagale.com ou (+351) 284 970 100
Herdade do Esporão, Reguengos de Monsaraz
Em ano de comemoração dos 50 anos, o Esporão celebra a vindima com um programa que inclui visitas, apanha de uvas, provas de vinho, almoço e kit vindima. A 1 de setembro, a Herdade do Esporão recebe os participantes a partir das 10 horas com um café de boas-vindas e entrega do kit vindima. Segue-se uma visita à vinha com apanha de uva e às adegas e cave. Posteriormente, os participantes têm direito a uma prova de vinhos acompanhada com queijos e enchidos regionais. O programa pode terminar ou continuar com um almoço no Wine Bar.
Morada: Herdade do Esporão 7200-207 Reguengos de Monsaraz
Preço: €60 p.p. (sem almoço) ou €115 p.p. (com almoço)
Reservas: reservas@esporao.com
Mainova, Arraiolos
“Moinante” é aquele que dorme durante o dia, porque esteve a noite toda na farra e é também o nome da experiência de vindima da adega Maionova. A Moinante Experience, disponível nos dias 25 de agosto, 1 e 8 de setembro, propõe uma vindima noturna, com um programa que começa às 22 horas com a receção aos convidados com um welcome drink e kit de boas-vindas. Segue-se uma visita à adega e a preparação dos participantes com coletes refletores, lanternas e tesouras de poda. A vindima dura até à 1 hora, momento em que é servida a ceia com degustação de vinhos.
Morada: Herdade da Fonte Santa Estrada Nacional372-1, 7040-669 Vimieiro, Arraiolos
Preço: €120 p.p.
Reservas: enoturismo@mainova.pt ou (+351) 910732526 (vagas limitadas)
Herdade do Rocim, Cuba
Na Herdade do Rocim há a possibilidade de optar por dois programas. O “Uma bucha na vindima do Rocim” que tem o custo de 35 euros, decorre de terça a sábado durante todo o mês de agosto, e leva o visitante a conhecer o processo de vindima, terminando com uma bucha variada composta por produtos locais. Ou o “Pisa a pé com Embalo” que decorre a 9 de setembro, tem o custo de 65 euros e início às 11 horas com uma prova de vinhos, acompanhados por queijos e enchidos alentejanos, seguindo-se uma visita à vinha para conhecer o processo de vindima. Este programa inclui ainda almoço e termina com a pisa a pé ao som de cante alentejano.
Morada: Estrada Nacional 387 Apartado 64, 7940-909 Cuba
Preço: A partir de €35 p.p.
Reservas: enoturismo@herdadedorocim.com
Torre de Palma, Monforte
Respeitando as raízes romanas em Torre de Palma, celebra-se o vinho na “Lusitânia”, tal como no período romano. A “vinalia rústica” marca o início das vindimas em meados de agosto, bem como o início do programa de vindimas e termina em finais de setembro, celebrando a “meditrinalia”, data em que o mosto é consagrado. O programa inclui as boas-vindas à Torre de Palma, entrega do kit vindima, visita às vinhas e colheita manual da uvas e seleção, prova de mostos, almoço ou jantar no Restaurante Palma com bebidas incluídas.
Morada: Torre de Palma Wine Hotel – Monforte
Preço: €60 p.p.
Reservas: reservas@torredepalma.com ou (+351) 245 038 890
João Portugal Ramos, Estremoz
O Nature’ing with Wine começa com uma visita ao miradouro, onde se observa a extensa planície de vinhas, seguindo-se a ida para a vinha e a apanha da uva. Regressando à adega, o visitante é desafiado a experimentar a tradicional pisa a pé em lagares de mármore. O programa de quatro horas e meia continua com uma visita à adega e às caves e termina com um almoço de vindima com dois menus distintos, harmonizados com vinhos João Portugal Ramos.
Morada: Vila Santa, Estrada Nacional 4, 7100-149 Estremoz
Preço: €80 p.p. (Mínimo quatro pessoas)
Reservas: https://www.jportugalramos.com/pt/natureing-with-wine/
Adega de Vidigueira, Cuba e Alvito, Vidigueira
O programa de seis horas inclui a visita às vinhas dos associados e a descoberta da arte de vindimar. A meio da manhã está agendada uma pausa para a “bucha”, recheada de algumas iguarias da região, como o pão da Vidigueira, paio de porco preto, queijos, azeitonas e torresmos. Depois do petisco é hora de regressar à adega e conhecer de perto o processo de vinificação e a atividade termina com um almoço de degustação na Casa das Talhas.
Morada: Bairro Industrial 7960-305 Vidigueira
Preço: €60 p.p. (Mínimo quatro pessoas)
Reservas: https://adegavidigueira.pt
Adega Mayor, Campo Maior
De 13 de agosto a 18 de setembro, a Adega Mayor promove diferentes programas de enoturismo, dependentes de marcação prévia e com número limitado de 12 participantes por grupo. O programa “Vindima Mayor” tem o custo de 45 euros por pessoa e, além da visita à vinha e à adega, inclui prova de mosto e um workshop com prova de quatro vinhos do produtor.
Morada: Herdade da Argamassas, 7370-171 Campo Maior, Portugal
Preço: €45 p.p.
Reservas: enoturismo@adegamayor.pt
Quinta da Fonte Souto, Portalegre
A Quinta da Fonte Souto tem dois programas distintos. Os “Dias Abertos” que são gratuitos e decorrem nas manhãs de 19 de agosto, 17 de setembro e 22 de outubro. Estes dias com reservas limitadas oferecem a possibilidade de passear pelas vinhas e provar néctares da Quinta da Fonte Souto. Já os programas de vindimas completos, incluem uma visita guiada à quinta, um passeio na vinha, a prova de três vinhos e a participação nas atividades de vindima. O programa pode terminar por aqui e tem o custo de 20 euros ou incluir piquenique e aí terá o valor de 40 euros.
Morada: Estrada de Alegrete, Reguengo e São Julião, 7300-404
Preço: A partir de €20 p.p.
Reservas: reservas@fontesouto.com ou (+351) 910 104 292
Cortiça teve melhor semestre de sempre nas exportações, em valor
Com mais 3,2% em valor do que no mesmo período do ano passado, as exportações portuguesas de cortiça alcançaram um marco histórico no primeiro semestre de 2023, chegando aos 670,435 milhões de euros. Estes dados foram divulgados pela Associação Portuguesa da Cortiça (APCOR), que afirma tratar-se do melhor desempenho de sempre (em valor). Considerando, ainda, […]
Com mais 3,2% em valor do que no mesmo período do ano passado, as exportações portuguesas de cortiça alcançaram um marco histórico no primeiro semestre de 2023, chegando aos 670,435 milhões de euros. Estes dados foram divulgados pela Associação Portuguesa da Cortiça (APCOR), que afirma tratar-se do melhor desempenho de sempre (em valor).
Considerando, ainda, que as quantidades exportadas diminuíram cerca de 15%, a APCOR conclui que este crescimento resulta do valor acrescentado dos produtos exportados.
“O sector conseguiu, num momento difícil em termos de procura, crescer em valor, resultado de uma combinação de factores, desde logo por via de um mix de produtos de maior valor acrescentado, mas também de todo o trabalho que o sector tem feito em prol do incremento da performance técnica dos seus produtos e da promoção internacional da cortiça”, explica João Rui Ferreira, secretário-geral da APCOR.
“Apesar do crescimento, temos vindo a registar uma tendência de abrandamento ao longo do ano, e os dados da conjuntura internacional não nos fazem antever uma alteração deste abrandamento no segundo semestre”, acautela João Rui Ferreira.
Companhia Agrícola do Sanguinhal renova imagem da emblemática marca Cerejeiras
A Companhia Agrícola do Sanguinhal apresentou a nova imagem de uma das suas marcas emblemáticas, Cerejeiras, nas três versões: branco, rosé e tinto. Trata-se de uma marca presente, sobretudo, em grandes superfícies, com preços que podem variar (conforme as promoções) entre €3,49 e €3,99. Este rebranding prescindiu, ainda, dos anteriores designativos, como o Colheita Seleccionada […]
A Companhia Agrícola do Sanguinhal apresentou a nova imagem de uma das suas marcas emblemáticas, Cerejeiras, nas três versões: branco, rosé e tinto. Trata-se de uma marca presente, sobretudo, em grandes superfícies, com preços que podem variar (conforme as promoções) entre €3,49 e €3,99.
Este rebranding prescindiu, ainda, dos anteriores designativos, como o Colheita Seleccionada que agora, em garrafa borgonhesa, apenas se chama Cerejeiras. É uma marca que, no conjunto dos três vinhos, faz cerca de 250 mil garrafas, como disse Carlos João Pereira da Fonseca na apresentação da nova imagem, CEO da empresa e descendente directo de Abel Pereira da Fonseca, uma das figuras de referência dos vinhos portugueses na primeira metade do século passado.
Os vinhos agora lançados, todos da colheita de 2022, incluem as castas Arinto, Sauvignon Blanc, Fernão Pires e Vital (em branco), Castelão, Touriga Nacional, Aragonez e Syrah na versão rosé, e o tinto, além de incorporar as mesmas castas do rosé, ainda tem Cabernet Sauvignon.
A Companhia Agrícola do Sanguinhal, com sede no Bombarral e importante símbolo da Denominação de Origem Óbidos, é também conhecida pelos seus licorosos, aguardentes velhas e a sua marca ícone, Quinta das Cerejeiras, que começou apenas na versão tinto mas que, actualmente, integra também branco e rosé. Além dos vinhos, o enoturismo desta empresa ganha cada vez mais preponderância com a visita às antigas adegas, onde existem as prensas gigantes que tanto impressionam os visitantes.
Rufete ou Tinta Pinheira: A casta das serranias
O mais recente livro de João Afonso, uma obra de grande fôlego dedicada às castas usadas em Portugal, confirma, se tal era preciso, que o universo das variedades usadas por cá é isso mesmo: um universo imenso, confuso, ainda pouco estudado. Mas não nos podemos queixar, já que temos em Portugal equipas que se dedicam […]
O mais recente livro de João Afonso, uma obra de grande fôlego dedicada às castas usadas em Portugal, confirma, se tal era preciso, que o universo das variedades usadas por cá é isso mesmo: um universo imenso, confuso, ainda pouco estudado. Mas não nos podemos queixar, já que temos em Portugal equipas que se dedicam ao estudo científico das castas e à preservação das mesmas para memória futura.
O problema é que elas são tantas e chegaram a ter tão desvairados nomes e sinónimos que não fica facilitado o trabalho da PORVID, a empresa que estuda clones, faz análises genéticas e mantém um enorme campo clonal em Pegões. A casta de que hoje nos ocupamos é a Rufete, que também usa o nome de Tinta Pinheira. Usada sobretudo no Dão e na Beira Interior, presente residualmente no Douro, sobretudo nas vinhas velhas e em alegre convívio com dezenas de outras, a Rufete já esteve na lista das indesejáveis.
Como nos lembra Paulo Nunes, enólogo da Passarela, as fragilidades de outrora são as virtudes de hoje. E explica: até há pouco tempo era considerada uma casta menor porque não tinha cor, porque a componente vegetal se sobrepunha à fruta, porque a fragilidade não permitia uma boa ligação à barrica nova; ora tudo isso se alterou e hoje é apreciada exactamente porque origina vinhos mais elegantes, menos corados, menos alcoólicos e a componente mais vegetal é, agora, especialmente apreciada. Ganhou quem a conservou, porque é uma variedade que mostra muita originalidade e tem tudo para agradar aos novos consumidores.
Os enólogos com quem falámos são unânimes em considerar que o traço mais comum da casta é precisamente a pouca intensidade corante. No entanto, João Afonso conta-nos a história do tinto de Rufete que produziu, em 1995 na zona de Pinhel, e que originou um vinho muito carregado de cor. Duas hipóteses se levantam: ou era outro clone da casta Rufete ou era outra casta. Afonso mantém a dúvida: na altura o classificador “afiançou” que era a mesma casta mas que naquela zona se tinha desenvolvido outro clone.
A dúvida irá permanecer até à análise do ADN comparativo das duas variantes, algo que está por fazer. Mesmo que se tratasse de outro clone, a verdade é que ele não está presente nos vinhos disponíveis no mercado. Iremos continuar a associar a Rufete com este estilo elegante, vegetal e que contribui com notas de pinheiro para o aroma do vinho; podemos até levantar a dúvida sobre se não advirá daí o nome de Tinta Pinheira. Os vinhos que provámos confirmam este perfil.
“Se o ano for quente, surge com um pouco mais de cor, mas em climas mais frescos, como no Dão, a Tinta Pinheira ganha notas vegetais que até lembram Pinot Noir.” – Jorge Moreira
Uma casta feita princesa
Na vinha e na adega, a Rufete é casta caprichosa. Na vinha pode, em virtude da finura da película, ser atreita a míldio e oídio e, como se não bastasse, com golpes de calor desidrata facilmente e com chuva apodrece. Como se vê, tem tudo para ser variedade pouco amiga do agricultor. A pequena quantidade de cepas que existem no Dão “não permite que haja muitos vinhos varietais”, diz-nos Luís Lopes, enólogo na Quinta das Marias e no Domínio do Açor mas, acrescenta, no Açor “estamos a plantar mais umas linhas de Rufete que irão substituir as de Tinta Roriz que lá estavam”.
Sobretudo no Dão, ela sempre foi usada para compor os lotes, dando mais vibração vegetal, nomeadamente à Touriga Nacional. A cor pode variar um pouco em função do clima do ano. Como nos recorda Jorge Moreira, que trabalha a casta no Douro, na Real Companhia Velha, mas também no Dão, “se o ano for quente ela surge com um pouco mais de cor, mas em climas mais frescos, como o Dão, e em anos de menos calor, a Tinta Pinheira surge com umas notas vegetais que até lembram Pinot Noir”, uma ideia que também nos foi confirmada pelo enólogo do Domínio do Açor. O apreço que as castas mais vegetais e menos tintureiras está a ter no mercado, até faz com que aquele comentário possa ser usado para falar de muitas outras variedades.
O perfil mais fino e elegante exige na adega alguns cuidados e os enólogos com quem falámos estão de acordo: se queremos que a casta expresse as suas virtudes, são de evitar fermentações com muita maceração e extracção e também é de evitar o recurso a barricas novas para o estágio; barricas usadas, tonéis ou mesmo depósitos de cimento são os mais aconselháveis para a casta, que tem de resto muita capacidade para se mostrar bem com pouco tempo de estágio. Daqui poder-se-ia inferir que não é variedade para ser conservada em cave.
Era essa a ideia que Jorge Moreira tinha da casta, mas confessa que ficou surpreendido com a evolução dos vinhos em garrafa e hoje acredita que o vinho poderá durar 5 e mais anos. Temos, assim, como balanço, algumas notas a registar: é casta fácil de trabalhar mas exigente na vinha, sobretudo com a escolha do momento certo de ser colhida; na adega exige pouco e dá-se bem com estágios curtos e que permitam exprimir a sua componente vegetal; para lote pode ser indispensável para a Jaen, para segurar a acidez e equilibrar os “excessos” da Touriga Nacional e tem, last but not least, aquele Je ne sais quoi que recolhe a preferência de muitos consumidores.
Os vinhos provados não escondem as virtudes: fáceis de gostar, muito gastronómicos, pertencem ao grupo dos tintos consensuais que agradarão a todos. Como se disse no início do texto, fez-se da fraqueza, força. E a verdade é que temos muitas outras castas que pertencem a este clube, algumas já em fase de recuperação, sobretudo no Douro. Já nas zonas da Dão e Beiras, outras há que esperam a sua vez, como a Alvarelhão, só para citar um exemplo. Estes vinhos são um bom exemplo do que é expectável da Tinta Pinheira/Rufete: elegância, evidente componente vegetal, capacidade para dar prazer na prova, mesmo com tenra idade, e ser excelente companhia para a mesa.
(Artigo publicado na edição de Julho de 2023)
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Quinta dos Termos Talhão da Serra
- 2020 -
Beyra
Tinto - 2018 -
Adega de Penalva
Tinto - 2020 -
Quinta da Ribeira da Pêga
Tinto - 2021 -
Casas do Côro
Rosé - 2019 -
Casas Altas
Tinto - 2020 -
Vieira de Sousa
Tinto - 2021 -
Real Companhia Velha Séries
Tinto - 2018 -
Quinta do Pessegueiro
Tinto - 2020 -
Quinta Dona Sancha
Tinto - 2019 -
Casa da Passarella O Fugitivo
Tinto - 2018 -
Domínio do Açor
Tinto - 2021