Comissão Vitivinícola da Bairrada preocupada com Linha de Alta Velocidade

Bairrada Linha Alta Velocidade

A Comissão Vitivinícola da Bairrada (CVB) deu o seu parecer, partilhado em comunicado de imprensa, na sequência da consulta pública promovida pela Agência Portuguesa do Ambiente, no âmbito do procedimento de Avaliação de Impacto Ambiental para o estudo prévio da Linha Ferroviária de Alta Velocidade (LAV) entre o Porto e Lisboa, mostrando-se preocupada com as […]

A Comissão Vitivinícola da Bairrada (CVB) deu o seu parecer, partilhado em comunicado de imprensa, na sequência da consulta pública promovida pela Agência Portuguesa do Ambiente, no âmbito do procedimento de Avaliação de Impacto Ambiental para o estudo prévio da Linha Ferroviária de Alta Velocidade (LAV) entre o Porto e Lisboa, mostrando-se preocupada com as propostas apresentadas para os troços de Porto/Soure e Soure/Aveiro.

“A decisão política de se avançar com a construção da LAV vai ter um impacto bastante negativo nesta região vitivinícola do Centro de Portugal, na medida em que há troços que atravessam aquele que é o território vitivinícola da Indicação Geográfica Beira Atlântico, onde se insere a Região Demarcada da Bairrada. A construção da LAV, tal como é apresentada, destrói uma mancha que, ao longo dos últimos anos, tem sido um dos maiores cartões-postais da região vitivinícola da Bairrada e um dos seus mais eficientes embaixadores. A sua singularidade e identidade vão, desta forma, ser irremediavelmente afectadas”, introduz a Comissão Vitivinícola da Bairrada.

Pedro Soares, presidente da CVB e seu porta-voz, desenvolve: “A noção de importância colectiva nacional do projecto que nos é apresentado, nomeadamente através dos documentos disponíveis no sítio participa.pt, os seus eventuais benefícios em relação a questões como a diminuição do tempo de viagem de comboio entre Lisboa e Porto, o aumento da competitividade, a descarbonização do sector dos transportes ou a redução da sinistralidade rodoviária não nos impede de ter uma posição crítica em relação ao projeto apresentado, pelo facto de, também nós, os que produzimos os vinhos da Bairrada, sermos uma parte desse mesmo Portugal. É importante relembrar que a região é já dividida por outras vias de comunicação existentes, que, em benefício coletivo, causam danos irreparáveis à nossa região”.

Pedro Soares, presidente da Comissão Vitivinícola da Bairrada. ©CVB/Gonçalo Villaverde

Ainda no mesmo comunicado, a CVB refere que “os traçados que são do conhecimento público são extremamente penalizadores para a região da Bairrada. O cultivo da vinha é uma atividade económica com enorme importância social e cultural, mas também económica. Através das Denominações de Origem é possível valorizar uma actividade não deslocalizável (produção de uvas), fixar população, contribuir de forma decisiva para a economia local e tornar mais sustentável todo um território. Uma vinha é, em si, um ativo tão único e importante que, em muitos casos, dá origem a vinhos que levam aos quatro cantos do mundo o nome dessa mesma vinha, da região e de Portugal.

Os solos, a sua biodiversidade, as linhas de água existentes e as pessoas – que cuidam, no dia-a-dia, as suas vinhas, contribuindo assim para melhorar também a sustentabilidade ambiental – vão, todos eles, sofrer prejuízos incalculáveis e irreparáveis. As obras necessárias, os taludes a efetuar, os transportes durante a fase de construção e um conjunto de condicionantes associados a este tipo de projectos vão, em muitos casos, alterar de forma irrecuperável boa parte da região bairradina.

Ao longo dos últimos anos, vários foram os investimentos efetuados na recuperação e plantio de vinha, na adaptação, manutenção e construção de adegas que viabilizem não só a produção de vinhos e espumantes, mas se tornem activos colectivos da Região, na criação de caminhos e percursos que permitam intensificar o enoturismo (atividade que o Turismo de Portugal assume, nos dias de hoje, como uma ferramenta fundamental do sector do turismo), na criação de rotas, na valorização da paisagem natural. A Bairrada possui uma associação específica para o enoturismo, por reconhecer esta actividade como de importância decisiva para o sector”.

Pedro Soares questiona também sobre “quem se responsabilizará por tantos danos, materiais e imateriais, que o avanço desta obra trará para a nossa região?”, afirmando que a Comissão Vitivinícola da Bairrada “não é contra a Linha Ferroviária de Alta Velocidade em Portugal, mas não podemos concordar e aceitar os traçados propostos, pois são demasiado penalizadores para uma região de passado, presente e futuro, como é a Bairrada”.

Tintos de Verão: Enfrentar o calor em tons carmesim

tintos de verão

Há, cada vez menos, um padrão entre os tintos sobre os quais acabamos a dizer que ficariam mesmo bem a acompanhar umas sardinhas ou uma pizza. A relação do vinho com uma temperatura de serviço mais baixa, a expressão da fruta, a estrutura e os taninos são alguns dos elementos que entram na equação quando […]

Há, cada vez menos, um padrão entre os tintos sobre os quais acabamos a dizer que ficariam mesmo bem a acompanhar umas sardinhas ou uma pizza. A relação do vinho com uma temperatura de serviço mais baixa, a expressão da fruta, a estrutura e os taninos são alguns dos elementos que entram na equação quando o assunto é beber tinto em tempos quentes.

Mas então, o que pode ser, no copo, um tinto de Verão? Em linhas gerais, um vinho que a nível de corpo se encontre entre o leve e o médio, no qual a relação entre boa acidez e estrutura resulte em frescura natural (ou seja, numa aparente frescura ainda antes de lhe baixarmos a temperatura), que tenha aromas expressivos e taninos suaves.

E na produção, como é que isto se consegue? Resumindo, pode depender de vários factores, conjugados ou não, sendo os mais comuns as castas (ou casta) utilizadas, que originem, só por si, tintos mais leves e com menos cor; a localização da vinha a uma maior altitude; ou uma vinificação menos extractiva. Voltando ao resultado no copo, a boa estrutura é muito importante porque, se não existir, quando refrescarmos o vinho, este vai saber a pouco, como aconteceu no início da febre dos Pinot Noir portugueses, há uns 7 ou 8 anos atrás, em que muitos deles pareciam uma água tingida a vermelho com acidez. Felizmente, isso rapidamente mudou e hoje fazem-se belíssimos Pinot Noir em Portugal, sobretudo nas zonas litorais e com mais influência atlântica.

AdegaMãe (Torres Vedras), Casal Sta. Maria (Colares) ou Vicentino (Zambujeira do Mar), são alguns dos produtores portugueses com Pinot Noir deste perfil mais leve, e muito bem executados. Mas nem só de Pinot Noir se fazem tintos bons para a estação estival. Nos últimos anos, alguns enólogos com raízes minhotas têm vindo a recuperar um perfil tradicional (em bom…) de vinho tinto da região dos Vinhos Verdes, como é o caso de Anselmo Mendes, Constantino Ramos ou Márcio Lopes. Estes tintos são feitos de castas antigas ou já raras, algumas encontradas em vinhas velhas em ramada, como Alvarelhão, Borraçal (Cainho tinto), Doçal, Pedral, Verdelho Feijão (Verdelho tinto) ou Vinhão.

Já no Douro, um tinto de Verão é, acima de tudo, proveniente de zonas altas ou fruto de uma menor extracção. Exemplo da primeira realidade é o Andreza Altitude, que nasce no planalto de Alijó, em vinhas localizadas acima dos 450 metros. Já o Poças Fora da Série Vinho da Roga é produto de uma menor extracção e maceração.

Não adstritos a uma região específica, também os tintos claretes merecem aqui menção, obtidos através da mistura de castas tintas e brancas, com regras que diferem de região para região. Do Tejo, o Quinta da Lapa Retro é um lote de Castelão e Fernão Pires, fermentados em conjunto, com as películas. Da Bairrada, o Luís Pato Vinhas Velhas é mais uma demonstração da versatilidade da Baga, aqui numa personalidade silvestre, fresca e suave.

Temperatura é chave

A temperatura a que se deve servir um tinto de Verão, ou no Verão, depende do perfil do vinho, mas a regra geral é “refrescar sempre”, não só para o efeito directo de frescura ao beber, mas também para que possamos diminuir a percepção alcoólica do vinho e tensionar-lhe a estrutura, dando-lhe aquele “grip” que (quase) nos mata a sede. A vantagem é que não há como errar, porque um tinto que esteve demasiado tempo no frio, aquecerá rapidamente no copo nesta altura do ano. Numa faixa dos 11º aos 16ºC, mais coisa, menos coisa, e de forma simplificada e facilmente compreensível, puxamos os mais translúcidos e expressivos para baixo e os mais escuros e complexos para cima, mas sempre jogando com o nosso gosto pessoal. Para quem gosta de fazer a olho, (como eu, na verdade) num frigorífico comum, 30 a 45 minutos antes de servir (aqui depende do estilo do tinto mas também da grossura do vidro da garrafa), será óptimo.

No fim de contas, tudo isto são apenas directivas para potencialmente melhorar a experiência. Esta é a magia do vinho: a regra dentro da ausência da regra. Porque um bom vinho para um determinado momento, é o vinho que nós quisermos e, sobretudo, aquele que nos souber bem.

(Artigo publicado na edição de Julho de 2023)

Portugal WOWtêntico: World of Wine celebra a cultura do país em festival

Portugal WOWtêntico

De 10 a 15 de Agosto, o World of Wine (WOW) — quarteirão cultural de Vila Nova de Gaia com sete museus, vários restaurantes, lojas e uma escola de vinho — será palco do Portugal “WOWtêntico”, um festival que celebra a cultura, as artes, os ofícios, a gastronomia e a música do país. No dia […]

De 10 a 15 de Agosto, o World of Wine (WOW) — quarteirão cultural de Vila Nova de Gaia com sete museus, vários restaurantes, lojas e uma escola de vinho — será palco do Portugal “WOWtêntico”, um festival que celebra a cultura, as artes, os ofícios, a gastronomia e a música do país.

No dia 10, o Museu do Vinho vai presentear os visitantes com vinhos de várias regiões vitivinícolas de Portugal: Aveleda da região dos Vinhos Verdes, Picotes de Trás-os-Montes, Quinta Vale do Bragão e Quinta do Crasto do Douro, Quinta da Aguieira da Bairrada, Alameda de Santar do Dão, Infinitude de Lisboa, Cartuxa e Reynolds do Alentejo, Atlantis da Madeira e Pico Wines dos Açores.

Já no dia 11, o Museu da Cortiça terá, entre outras iniciativas, uma prova de pão e azeites alentejanos e uma aula de yoga. No dia 12, haverá jogo da malha dentro do Pink Palace, e também fado. No dia 13, a prova será de chocolates, no Museu do Chocolate, e no dia 14, a animação histórica no The Bridge Collection vai contar com parceiros, como o Município de Santo Tirso. Este trará a representação de um Monge Beneditino, que dará a provar o licor “Singeverga”. No dia 15, no Museu da Região do Porto, a Portugal Manual proporcionará uma série de workshops, entre eles pintura de azulejos com a artesã Maria Marques.

Para além da programação no interior dos museus, quase todos os espaços do World of Wine, exteriores e interiores, terão pontos de interesse no âmbito do Portugal WOWtêntico. Na Lemon Plaza, um mercado com sabores de Portugal, de norte a sul e ilhas. São vários os municípios envolvidos, bem como confrarias gastronómicas e marcas de doçaria tradicional portuguesa.

No Street Market, as artes e os ofícios estarão em destaque, com muitas demonstrações ao vivo: das mãos que trabalham o barro, às que tricotam e bordam as camisolas poveiras, de quem trabalha a madeira à cerâmica, passando ainda pela afamada arte da filigrana e pelas flores.

Na Galeria da praça central, terá lugar uma exposição de arte colectiva. Subordinada ao tema do vinho, a exposição junta o talento de Gilberto Gaspar, artista plástico; Cláudia Marina Telheiro, ceramista; Pedro Sadio, fotógrafo; Rita Costa, artista visual; e Ivone Gaipi, escultora. A abertura da exposição acontece já dia 9, às 18h30, com a presença dos artistas.

Portugal WOWtêntico
Babel Bloom Floral Studio

Junto à bilheteira principal e durante o evento, o estúdio floral Babel Bloom estará a fazer uma instalação, naquilo que é a interpretação de Sara Oliveira — fundadora da Babel Bloom e autora de criações florais inspiradas na antiga arte japonesa Ikebana — de um coração tradicional em ponto grande e com flores preservadas. O objectivo de Sara, nascida e criada em Gondomar (cidade da filigrana) é homenagear esta arte dos fios de ouro, o artesanato e a cultura portuguesa.

A música vai ser também um elemento constante durante todo o festival. Vão marcar presença os Pauliteiros de Miranda, os Bombos de Viana do Castelo, ranchos folclóricos, entre outros grupos tradicionais. O encerramento do Portugal WOWtêntico acontecerá no dia 15 de Agosto, às 20h, com a música de Rita Rocha.

O bilhete geral, que custa €45, dá acesso a toda a programação do Portugal WOWtêntico, incluindo a entrada nos museus, todos os workshops, espectáculos e concertos. O bilhete diário custa €20 e proporciona todas as actividades do dia, bem como entrada e saída do museu, as vezes que o visitante pretender.

A programação completa do Portugal WOWtêntico pode ser consultada na página do evento.

Luísa Amorim: “O primeiro passo para ter enoturismo é abrir a porta”

Luísa Amorim

Como é que a família Amorim entrou no vinho? Foi em 1999, com a compra da Burmester, que detinha a Quinta Nova. Já havia a vontade de entrar no vinho, estando nós na cortiça, em concreto no vinho do Porto e Douro, porque já se percebia que era uma região de futuro. Sempre se respeitou […]

Como é que a família Amorim entrou no vinho?

Foi em 1999, com a compra da Burmester, que detinha a Quinta Nova. Já havia a vontade de entrar no vinho, estando nós na cortiça, em concreto no vinho do Porto e Douro, porque já se percebia que era uma região de futuro. Sempre se respeitou e gostou muito do vinho do Porto nesta família, mas rapidamente se percebeu que o mercado, em dinâmica, não estava tão aberto ao vinho do Porto como estava ao vinho DOC Douro. Por isso, houve uma aposta cada vez maior no vinho do Douro.

Onde estava a Luísa nessa altura?

Nos Estados Unidos, a estudar Marketing. Mas acabei por entrar para a Burmester em 2000, para fazer reorganização internacional dos canais de distribuição e marketing. Entretanto, fiz ainda outras coisas no grupo Amorim, e mais tarde, em 2005, decidimos vender a Burmester e ficar com a Quinta Nova, incluindo os stocks de Vintage da quinta.

Foram pioneiros do enoturismo “à séria” no Douro. O que vos fez investir nessa componente do vinho, numa altura em que pouco se falava disso?

O nosso projecto de enoturismo começou precisamente em 2005. Foi vender e nascer. Tive oportunidade de fazer um grande tour pelo Mundo, porque comecei a trabalhar muito nova, com 21 anos. Conheci muita gente do sector do vinho e visitei muitas adegas lá fora. Depois de visitar algumas vezes os Estados Unidos, reparei que claramente havia um movimento muito forte, sobretudo em Napa Valley, mas também em Stellenbosch, na África do Sul. Olhava também muito para o modelo das caves de vinho do Porto. Neste campo, tenho de fazer justiça ao George Sandeman, que viveu muitos anos nos EUA e trouxe um conceito de sucesso para as caves em Gaia. Eu, por exemplo, aprendi muito a trabalhar no mundo do vinho do Porto, ainda nos tempos da Burmester, porque há uma coisa que as empresas de vinho do Porto têm como ninguém, que é o estilo da casa.
No grupo Amorim, sempre recebemos muitos clientes e eu cresci até a receber clientes em casa. Por tudo isto, e não só, começámos então a desenvolver na Quinta Nova o conceito de turismo rural, com hotel, e todo o enoturismo, na verdade, as experiências.

Luísa Amorim
Mas nessa altura não havia ainda muita gente a ir ao Douro…

Pois não, era dificílimo. Foi uma aposta um bocado cega, passavam-se dias e dias sem ninguém vir aqui. Começámos com uma estagiária de turismo, uma senhora que fazia a comida e uma pequeníssima equipa de limpeza, tudo pessoas de cá. Todos os anos crescíamos um bocadinho. Hoje temos mais de 40 funcionários só no enoturismo, e podemos dizer, com muito gosto, que somos uma escola. Mas o primeiro passo para ter enoturismo é abrir a porta, e foi o que nós fizemos. Tínhamos a porta aberta sempre, sete dias por semana. Isto foi uma das nossas mais valias, porque nessa altura as outras quintas fechavam quase todas ao fim-de-semana. Eu tinha amigos que me perguntavam, “gostava de ir ao Douro, o que posso fazer aí?”, e eu tinha imensa dificuldade, tinha de falar com os donos de empresas de vinho que conhecia e pedir para fazerem um programa especial. Também não havia empresas de barcos. E não dava para fazer parcerias, porque se tínhamos vinhos eramos concorrentes de outros produtores, se tínhamos hotel eramos concorrentes de outros hotéis e de restaurantes. Com o tempo, começámos a entrar em guias internacionais, nalguns clubes de enoturismo da altura, os distribuidores também iam falando lá fora, recebemos alguns jornalistas, por isso a palavra passou. Entretanto, quando a Ryanair abriu no Porto, a cidade explodiu e consequentemente o Douro. Mas só há uns 5 ou 6 anos é que as grandes empresas de vinho do Porto apostam à séria no Douro e a região começa a ser vista como um destino turístico. Notou-se quando as pessoas começaram a passar mais do que uma noite no Douro, por haver já mais coisas para fazer e sítios para ir. E o enoturismo é um sucesso garantido, porque é um tipo de turismo muito descontraído e que ajuda a descomprimir. Quem é que não gosta de comer e beber?

 

Não me desafio nada com coisas já feitas. O que me move é fazer, é a parte de que eu mais gosto, desenvolver, criar.

 

Mas ainda falta muita infra-estrutura ao Douro…

Falta imenso alojamento, restauração e oferta cultural. Falta muita coisa. Um turista pode ter muita capacidade económica, mas se passar quatro dias a visitar quintas, às vezes mais do que uma num dia, e a provar vinhos, cansa-se. No entanto, também há bastantes turistas que vêm para não fazer nada… apenas para se sentar com um copo de vinho e descansar. E embora tenhamos uma oferta grande de experiências, também incentivamos essa parte, e é por isso que muitos dos nossos clientes dizem que aqui se sentem em casa. No fundo, é pensarmos no que nós próprios queremos quando somos hóspedes ou clientes.

Quem é a Luísa Amorim, a pessoa fora do trabalho?

Sou uma pessoa de família, extremamente ligada às minhas filhas e ao meu marido. Sou uma pessoa de trabalho, gosto imenso de trabalhar. Sou extremamente criativa, estou sempre a “inventar” e a criar novos projectos. Sou de portugalidade, adoro Portugal e de viajar dentro do país e fora dele. Gosto de me sentar numa esplanada e observar as pessoas e o seu comportamento, de perceber as tendências e como as pessoas estão a evoluir no Mundo.

Como se equilibra uma vida profissional tão exigente e consumidora de tempo, com a pessoal?

Há uma frase que é fundamental para isso, que é “ter os pés na terra”, em vários sentidos. E isto é válido para o que é de mais e para o menos. Equilibra-nos. E eu gosto mais de pôr os pés na relva do que na areia, sinto que a energia fica muito mais tempo comigo. Não é fácil equilibrar tudo, mas temos de fazer por isso e por sermos felizes. A felicidade não é como uma árvore de onde simplesmente caem frutos. E temos de agradecer, darmos graças pelo que temos, e perceber que as adversidades vão sempre existir, mas que nos tornam mais fortes. A vida é um caminho de pequenas conquistas… Não está escrito em lado nenhum o que vamos sentir em determinadas fases marcantes da vida: os nossos pais envelhecem, os nossos filhos saem de casa, alguns amigos vão deixando de cá estar. E é nestes momentos que nos temos de reequilibrar. Tudo isto nos coloca em perspectiva.

Já mencionou algumas vezes a relação próxima que tem com as suas filhas adolescentes. Como é essa relação?

Sou, acima de tudo, muito amiga das minhas filhas. Sempre tentei dar-lhes mundo, desde pequenas que viajam, e formá-las para um Mundo difícil, que não é tão fácil como foi o meu. Não acredito que os filhos se conquistam com a materialidade, pelo contrário, acho que temos de lhes dar experiências e temos de os formar para serem mais rijos, trabalharem o sacrifício e a disciplina. Porque nada na vida se consegue sem esforço, e faço-as perceber que isto tanto é válido para mim como para elas. Hoje, a sociedade está um bocadinho “em falta”, e para termos sucesso e sermos felizes, temos de ser muito resilientes. Tento passar-lhes isso porque eu sou, e é fundamental na formação. Mas passo também alegria, métodos para resolver momentos da vida, e muito carinho, que é fundamental. Por vezes não é o tempo que se dá, mas a qualidade do tempo que se dá. Temos de estar lá quando os filhos mais precisam, e estar atentos e ter abertura para virem ter connosco em qualquer adversidade, porque é isto que mexe com a segurança e a auto-estima deles.

O projecto alentejano Aldeia de Cima é ainda mais pessoal, seu e do seu marido Francisco. Liga-se talvez a essa necessidade de “pé na relva” e na terra…

O Alentejo tem uma coisa que é a imensidão. Uma pessoa passa dois dias no Alentejo e fica lavada mentalmente. É lá que temos uma casa nossa, onde recebemos amigos. É um escape para mim, muito importante.

Luísa Amorim

De onde vem essa ligação ao Alentejo, e porquê ali, na serra do Mendro?

A Herdade Aldeia de Cima era do meu pai, e eu sempre fui para o Alentejo em miúda, nas férias e não só. Ele tinha várias propriedades ali, mas esta foi onde plantou mais sobreiros. Sempre adorei os alentejanos e a cozinha alentejana. Quando chegaram os confinamentos do Covid, foi para lá que fomos, e tivemos mais tempo para absorver a cultura alentejana. O Alentejo tem uma identidade muito própria, extremamente forte. É uma região onde as mulheres têm um papel muito, muito importante. A mulher é um símbolo alentejano.
Todo este envolvimento teve também a ver com a fase em que o meu pai estava, no final da sua vida. Eu pensava muito, e às vezes falava com ele sobre isso, que quando fosse mais velha, mais para a altura da reforma, faria uma vinha no Alentejo. Mas a pensar que seria mesmo muito mais tarde. Acabei por querer fazer mais cedo. Mas com que dimensão? O Alentejo já tem tanta coisa, onde é que nós nos vamos encaixar? Quais as castas que iriamos usar? Obviamente que fomos para as locais e tradicionais, nunca uso castas “estrangeiras” nos meus projectos. E sabia que não queria usar Touriga Nacional, porque embora seja uma excelente casta, mascara as outras e iguala os lotes. Mas encarei este projecto muito como “se der, dá, se não der, paciência, tentei”. Acabou por dar, e fiz pequenino, como eu queria, para usufruir.

 

Todos temos o nosso papel, e todos os modelos de negócio são válidos, desde que dêem dinheiro. Se não, não são bons negócios.

 

Porquê fazer a vinha em patamares no Alentejo?

Como estamos ali na Serra do Mendro, com aquela altitude, e tivemos de escolher os pedaços de terra onde não havia sobreiros, naquele sítio foi o que se adequou mais. Pouco terreno ali era plano. O meu marido perguntava-me, “mas onde é que tu vais plantar vinha?!”, e eu respondia-lhe, “eu acho que dá… um bocadinho aqui, outro ali…” [risos].

A Taboadella, no Dão, representou um grande desafio para si e para a equipa técnica, sair da zona de conforto e ir de encontro ao desconhecido. Porquê o Dão?

Nós e as nossas equipas sempre visitámos outras regiões vitivinícolas, e houve um dia, em 2008, que fomos ao Dão. Houve duas ou três coisas que me saltaram à vista: uma, foi o Alfrocheiro, que me encantou imenso. Outra, foi o preço baixo dos vinhos. E a terceira, o potencial da região, ali estava tudo por fazer. A região estava adormecida. E eu tenho de dizer: eu acho que anda toda a gente distraída em relação ao Dão. Não entendo a falta de investimento na região. Lá fora, todos a conhecem, os vinhos são fabulosos, brancos e tintos. Sustentável por natureza, porque produz bem, e na Taboadella não temos um pingo de rega. Mais mão-de-obra do que nas outras. Há licenças para plantar e muitas pequenas parcelas que podem produzir vinhos fabulosos, por vezes em sítios que ninguém imagina. Está rodeada por cinco montanhas. Está a menos de hora e meia do Porto. Por tudo isto, eu não compreendo a falta de investimento no Dão.

É isso que a move? Estar tudo por fazer?

Sim. Não me desafio nada com coisas já feitas. O que me move é fazer, é a parte de que eu mais gosto, desenvolver, criar. E aquela quinta, onde agora é a Taboadella, estava quase em hasta pública quando a fomos ver. Quando lá chegámos, adorámos o que vimos. Estava a precisar de muita coisa, mas era forte, tinha uma energia… E havia lá umas cubas de inox, com vinho tinto. Provámo-lo e pensámos, “se isto está assim, com estas condições… com melhores…”, e foi isto que nos fez, na verdade, comprar a quinta. E desde o início que soubemos que o nosso projecto seria para um segmento superior, de aposta no Encruzado e na Touriga Nacional, claro, mas também de fazer vinhos com outras não tão utilizadas, até porque, sobretudo no que toca ao Encruzado, o encepamento desta casta não é infinito, por isso achamos importante fazer vinhos com outras castas do Dão. Por isso também replantámos uma parte da quinta, sobretudo para termos mais brancos, acima de tudo, Encruzado.
Talvez o maior desafio no Dão seja vender os topos de gama. Há poucos produtores a produzi-los de forma consistente, como noutras regiões. E eu volto a dizer: estão todos distraídos. Andam todos a olhar para outras coisas, que são importantes, mas o Dão, no futuro, tem todas as condições para ser importantíssima em Portugal. Quem não gosta de vinhos do Dão? Mesmo lá fora, outros produtores de grandes regiões, todos os adoram.

 

 Talvez o maior desafio no Dão seja vender os topos de gama. Há poucos produtores a produzi-los de forma consistente, como noutras regiões.

 

Como foi ser um “estrangeiro” no Dão, com ambições de criar um projecto vitivinícola desta envergadura?

Correu muito bem, fomos acarinhados por todos, mas também porque entrámos com respeito, e com um bom propósito, que era o de investir na região. Depois, sempre estivemos abertos a receber as pessoas do Dão e elas perceberam isso. Não fizemos nada de diferente na íntegra, porque também acreditamos no trabalho que está a ser feito nos vinhos da região. O que fizemos de diferente foi introduzir mais métodos de vinificação e tecnologia, para nós o cimento era obrigatório. percebemos que os vinhos do Dão não precisam de muita madeira, e é uma pena quando têm demasiada. E criámos um portefólio com bastantes vinhos, e isso foi logo um grande desafio. De repente chegámos ao mercado com 8 vinhos do Dão, e isso pode ter chocado um bocado.
Nós temos de pensar que ao fazermos um projecto, ele tem de viver o local. Temos de ter a identidade. Temos de estudar, ir as raízes, a história, falar com as pessoas da região e de perto, para nos inspirarmos. Não é só inspirar no estético, no belo, mas também nas pessoas e no vinho. Tem de haver uma inspiração, uma matriz. Uma gama tem de respirar uma quinta. Por isso é que os nossos projectos são muito diferentes uns dos outros.

Os projectos vitivinícolas com “assinatura” Luísa Amorim têm todos um standard de qualidade muito alto, desde a viticultura às garrafas, passando pelo no turismo, pela adega e até pela própria arquitectura e decoração dos espaços. Esta exigência vem de onde?

Vem da cultura da minha família, do que nos foi incutido a todos, e da sorte de eu gostar muito de fazer desta forma. Nós, para nos metermos num projecto, numa nova quinta, tem de ser bom. porque “mais ou menos” não é linguagem para nós. Temos de acreditar no que vemos. Eu não sei trabalhar por trabalhar. Mas é tão válido um trabalho de baixo preço como de alto preço, são duas especialidades diferentes. E eu não sei trabalhar no baixo preço, não sei mesmo. A minha especialidade é trabalhar este conceito premium, pelo desafio, sobretudo. Eu não sou especialista em negociação de preço, mas sim na criatividade, na inovação, no contexto. Todos temos o nosso papel, e todos os modelos de negócio são válidos, desde que dêem dinheiro. Se não, não são bons negócios.

Luísa Amorim

A pior coisa que se pode fazer é adormecer no sucesso. Quando não se sente necessidade de evoluir, está o caldo entornado...

 

A Luísa fundou a IPSS Bagos d’Ouro. O que deu origem a esse “chamamento” social ligado à região?

Quem mais me cativou para fundar a Bagos d’Ouro foi o meu marido. Ele via que eu poderia fazer alguma coisa neste sentido, no Douro, pelo que eu via aqui na região e conversava em casa. Um dia decidi avançar, e o meu amigo Padre Amadeu aceitou fazê-lo comigo. Decidimos trabalhar com crianças, porque serão elas o futuro da região. Começámos pequenos, com garrafas Quinta Nova solidárias e jantares solidários. Quando consegui juntar fundos suficientes, contratámos duas pessoas, especialistas na parte técnica social. A partir daí, fomos crescendo, já são 13 anos e é um trabalho muito bonito, maravilhoso. Precisamos sempre de juntar fundos, porque temos zero dependência do Estado. É uma Associação que presta contas, mas à sociedade, e a mais ninguém. Mas é assustador ao mesmo tempo, porque agora não podemos falhar, somos responsáveis por muitos jovens e crianças, e não as podemos desiludir.
Temos o sonho de fazer algo no Alentejo, não exactamente a mesma coisa, mas algo que achamos que ainda falta na região. Mas ainda vai demorar…

Ao longo de todos destes 23 anos no mundo do vinho, fazem-se muitos amigos?

Acho que sim, houve muita gente que me deu a mão, e que tem a minha mão. É um mundo de mais amigos do que inimigos. Sobretudo porque todos sabemos que é um trabalho difícil, onde o sucesso é difícil de alcançar. Sabemos que temos de nos proteger uns aos outros, no que toca às relações governamentais, comerciais, humanas… temos de ser abertos no know-how e na passagem dele. Se não partilharmos, não crescemos. O mundo do vinho está sempre a evoluir: a garrafa é a mesma, mas o vinho não é o mesmo. A gastronomia está sempre a mudar. Se o que se come muda, o que se bebe também. Parece mentira, mas há 30 anos era difícil encontrar uma bolonhesa em Portugal. Comia-se massa, sim, mas não era à bolonhesa. Há muito menos anos do que isso, qual era o português que comia sushi? Todos nós evoluímos, e o mundo do vinho tem isso, estamos sempre a ser desafiados e incentivados a melhorar. Uma pessoa acaba de engarrafar um vinho, e já está a pensar que no próximo fará diferente. A pior coisa que se pode fazer é adormecer no sucesso. Quando não se sente necessidade de evoluir, está o caldo entornado…

 

Enquanto acharem que uma empresa pode produzir de tudo, do baixo ao alto, a região não vai crescer em preço.

 

O que é que ainda falta fazer, a nível profissional? Qual o próximo passo? Expandir o negócio do vinho para mais regiões?

Não gosto muito desta pergunta, até porque eu sou uma pessoa que, apesar de gostar muito de criar e de fazer, não pensa muito no futuro. Porque por vezes aparecem coisas de que não estávamos à espera, ou não temos oportunidade de fazer aquelas que pensámos fazer. Se me perguntarem o que falta fazer no que já tenho, aqui na Quinta Nova falta muita coisa. Por ser a nossa mais antiga, está no ponto de rebuçado para refazer. O estatuto e a marca que tem, também o exige.

E na região do Douro, o que falta?

Falta imenso. Temos um preço médio muito baixo, temos de o subir, é um preço-médio irreal. É urgente fazê-lo. Acho que é preciso as empresas perceberem que, no mercado, ou têm uma oferta, ou outra. Porque enquanto acharem que uma empresa pode produzir de tudo, do baixo ao alto, a região não vai crescer em preço. Porque o cliente vai querer sempre o preço mais barato. Temos de assumir se somos de nicho ou não. E acho que é por isso que o Douro não se assume mais, internacionalmente. Porque não se organiza, temos de querer mais, reformular as adegas, e dizer “não, eu isto não faço”.
Mesmo as pessoas que no Douro já estão orientadas no mercado, orientadas com a sua marca, com as suas contas confortáveis, têm de estar disponíveis para investir novamente. O investimento no Douro ainda não acabou… de todo. Há a ideia de que “Portugal tem tão bons vinhos, nem precisa de exportação”. Portugal tem bons vinhos, como todo o mundo tem. Desculpem-me, sou portuguesa e amo o meu país, mas não nos chega ter bons vinhos. Qualquer pessoa com vontade e um bom pedaço de terra, faz vinho. Mas falta mais do que isso. Porque fazer um grande vinho, sem investimento, só se faz uma vez. Nós não podemos pensar o vinho como pensávamos há 20 anos atrás, nem a vinificação, nem a parte comercial. Produtores novos surgem todos os dias, temos de ser mais aguerridos. Reforço que não podemos abdicar do preço. É muito duro, é difícil. Mas é um caminho que temos de definir. O produtor de nicho não pode estar em todos os canais, como o produtor de massas. Em Itália, na Toscânia, o “Super Toscano” foi um fenómeno que demorou 40 anos a construir. O Douro merecia algo assim, algo que nos levasse a mais notoriedade no mercado externo.

 

Luísa Amorim

 

Gostava que me perguntassem, que perguntassem aos produtores de vinho do Douro, o que acham que o vinho do Porto poderia fazer para vender mais, e vice-versa.

 

Porto ou Douro, ou ambos?

Há até quem ache que a região deveria ser só para o vinho do Porto, o que é totalmente errado. As uvas para vinho DOC Douro têm vindo a subir o preço, e o mercado pede-o tanto, que provavelmente haverá um problema de matéria-prima no futuro. E tirando aqueles vinhos do Porto muito envelhecidos, os preços não são assim tão diferentes… os topos de gama do Douro estão a 150 e 250 euros. Quantos Porto Vintage estão a estes preços à primeira? A DOC Douro, apesar de não comercializar vinhos velhos, como tawnies velhos e colheitas antigas, tem um preço médio apenas 13,5% abaixo do vinho do Porto.
Na verdade, para mim o Douro é duas regiões, a de vinho do Porto e a de vinho DOC Douro. Sou produtora de vinho do Douro e tenho de dizer que não faço mais vinho do Porto porque não vendo. O Douro tem de separar bem as coisas, homogeneizar a legislação para um lado e para o outro. Fala-se muito de um lado, mas não se fala do outro. E eu quero dizer aqui que nas grandes notícias sobre a estratégia para a região, são sempre os grandes senhores do vinho do Porto, e ninguém do vinho Douro fala. Porque não há voz, não há instituições, não há isto e não há aquilo. Não se pode negar que os vinhos Douro são estruturantes para a região.
Dizem que o Douro tem muita vinha. Isso é mentira. Se pegarmos na produção de vinho do Douro e de vinho do Porto, como dois sectores, vemos que afinal não é tanto. Na verdade, a vinha disponível para cada tipo de produto é de cerca de 20 mil ha. E quantidade de vinha que tem vindo a ser abandonada, e a que está cadastrada, mas abandonada…
Não há uma voz igualitária, nem os dois são ouvidos da mesma maneira. Não se está a tentar consertar o melhor caminho entre os dois lados. Ninguém pergunta a um produtor de vinho do Douro o que pensa da região, ou que estratégias é que se poderiam tomar. Isto é um assunto que me preocupa muito. Gostava que me perguntassem, que perguntassem aos produtores de vinho do Douro, o que acham que o vinho do Porto poderia fazer para vender mais, e vice-versa.

Se lhe perguntassem isso, qual seria a resposta?

Uma das minhas “teimosias”, é que não deveria haver stock mínimo de vinho do Porto. Hoje, uma pessoa jovem tem de pensar duas, três, quatro, oito vezes, antes de produzir vinho do Porto. E não se produz mais vinho do Porto por causa destas coisas. Não tenho nada contra a lei do terço, tenho contra não haver liberdade. Se fizermos as contas a 75 mil litros de vinho parado… as pipas, o armazém, o líquido parado. Mas alguém tem dinheiro para isto? É um luxo arábico. Algum jovem vai ser burro ao ponto de se meter nisto? E já falei várias vezes para o sector, “vocês não vêem o que estão a fazer, a matar o sector do vinho do Porto?”. Daqui a 15 anos vai-se precisar de mais enólogos de vinho do Porto, e as empresas vão ver-se aflitas para os arranjar… Ter este peso, de que é um sector super-estruturado e super-legislado, que não se pode mudar, não vai ser bom para ninguém. Tem de haver mais gente a fazer e vender vinho do Porto porque, mesmo com 2 séculos de história, este perde quota nos últimos 20 anos para o DOC Douro, que não pára de crescer. Segundo o Ranking de 2022, a região do Douro tinha 535 empresas a comercializar DOC Douro e apenas 133 empresas a comercializar Porto. Mas é interessante que, apesar de tudo, haja jovens empresas com vontade de oferecer ao mercado vinho do Porto, mesmo não sendo fácil de vender.
Por isso, acho que temos de ser livres, não acho que faça sentido ter de pedir uma licença para vinho do Porto e outra para vinho do Douro. Eu tenho de ser livre para das minhas uvas fazer um produto ou o outro. Mas, quem tem a vinha abandonada no Douro, não pode nem deve ter licenças. A fiscalização deve estar aqui, a intervir. Os vinhos do Douro são os que têm dado notoriedade ao nome “Douro”. Em 20 anos, já fizemos o mais difícil. Mas onde nos queremos posicionar? E o que temos de fazer para isso? Também não podemos estar mais 20 anos neste cenário, temos de progredir. Mas não estamos todos a remar para o mesmo lado. Se queremos apanhar o próximo comboio, o vinho do Porto e o vinho do Douro têm de estar juntos, de mãos dadas.

 

Luísa Amorim

Se queremos apanhar o próximo comboio, o vinho do Porto e o vinho do Douro têm de estar juntos, de mãos dadas.

 

Um conselho para os jovens empreendedores, que queiram fazer vida profissional no mundo do vinho.

Estudar bem o mercado. Não chega ser criativo. Temos de ser humildes, respeitar o que já lá está, e perceber onde nos podemos diferenciar. Se quero entrar, tenho de acrescentar. Depois, ter capacidade de trabalho, e dar muita importância à área comercial e ao marketing, fazer o mercado. Para vender um vinho, tenho de vender um contexto. E atenção às adegas! Aconselho a não fazer logo uma adega de início ou, a fazer, uma mais pequena e simples. Por último, nunca desistir. O mundo do vinho demora muitos anos, talvez dez, no mínimo, e vinte para ter sucesso…

 

(Artigo publicado na edição de Julho de 2023)

Quinta do Paral integra Programa de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo

Quinta Paral Programa Sustentabilidade

O Programa de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo (PSVA), desenvolvido pela Comissão Vitivinícola Regional Alentejana (CVRA), continua a integrar cada vez mais produtores de vinho da região, sendo a Quinta do Paral a 14ª adega a ver certificadas as suas práticas sustentáveis de viticultura e vinificação. O PSVA, que analisa as empresas em 3 sectores […]

O Programa de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo (PSVA), desenvolvido pela Comissão Vitivinícola Regional Alentejana (CVRA), continua a integrar cada vez mais produtores de vinho da região, sendo a Quinta do Paral a 14ª adega a ver certificadas as suas práticas sustentáveis de viticultura e vinificação.

O PSVA, que analisa as empresas em 3 sectores — Viticultura, Adega, Viticultura & Adega — avaliou a Quinta do Paral quanto à Viticultura & Adega.

“Este certificado só veio comprovar as diversas práticas sustentáveis que temos vindo a implementar desde sempre, na nossa área vitivinícola. Um exemplo disso é o cuidado que temos tido com a conservação das nossas vinhas, a redução do uso de fitofármacos que permitiu a melhoria do ecossistema, levando a uma recuperação da fauna e da flora envolvente, como refletido nas nossas Vinhas Velhas”, comenta Luís Leão, responsável de enologia da Quinta do Paral.

Em relação ao Programa de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo, a CVRA declara: “O sector vitivinícola tem uma dependência total dos recursos naturais, da energia solar, de condições climatéricas apropriadas, água limpa e potável, e de solos saudáveis, devendo haver uma integração bem-sucedida destes elementos de forma ecologicamente sã. A CVRA considera ser uma prioridade a protecção e valorização destes activos naturais através de práticas sustentáveis exercidas por colaboradores altamente qualificados”.

Certificação e exportação de vinhos do Tejo continuam a aumentar

Vinhos Tejo certificação

No panorama dos vinhos do Tejo, o primeiro semestre de 2023 volta a trazer boas notícias. A Comissão Vitivinícola Regional dos Vinhos do Tejo (CVR Tejo) anunciou um aumento significativo na certificação de vinhos da região, na ordem dos 11,5%, entre os meses de Janeiro e Junho deste ano. Isto traduz-se em 16,8 milhões de […]

No panorama dos vinhos do Tejo, o primeiro semestre de 2023 volta a trazer boas notícias. A Comissão Vitivinícola Regional dos Vinhos do Tejo (CVR Tejo) anunciou um aumento significativo na certificação de vinhos da região, na ordem dos 11,5%, entre os meses de Janeiro e Junho deste ano. Isto traduz-se em 16,8 milhões de litros de vinho certificados durante este período.

Uma análise mais detalhada da CVR Tejo revela, também, que desse volume certificado, 5 milhões de litros se destinaram à exportação, sobretudo para países da União Europeia, com destaque para a Suécia e a Polónia. Comparativamente a 2022, trata-se de um aumento de 50% na exportação dos vinhos do Tejo certificados.
Ainda segundo a CVR Tejo, quando se comparam os números do primeiro semestre de 2023 com os de 2018 — ano em que a certificação de Janeiro-Junho foi de 6,8 milhões de litros, menos 10 milhões do que este ano — regista-se um notável aumento de 149%.

Vinhos Tejo certificação
Luís de Castro, presidente da CVR Tejo.

Outra boa notícia é o aumento do consumo de vinhos do Tejo no canal HoReCa (Hotéis, Restaurantes e Cafés). “Uma maior apetência na restauração capitaliza em vinhos diferenciadores e de valor mais elevado, o que é uma mais-valia para a construção de marca e notoriedade da região”, declara a comissão vitivinícola.

Luís de Castro, presidente da CVR Tejo, considera que “a região vai continuar a crescer e a conquistar, cada vez mais, quota de mercado nacional e internacional. Estes resultados são fruto do grande trabalho feito pelos produtores, com o incentivo da CVR Tejo, no que toca à valorização do território, do produto e da marca Vinhos do Tejo”.

Caminhos Cruzados com chef residente que serve em toda a adega

Caminhos Cruzados chef

Já é possível saborear os pratos de Miguel Vidal na adega da Caminhos Cruzados, chef que passa a estar em permanência nas instalações da empresa produtora de Nelas, no Dão. Quase todos os locais da adega podem ser palco das refeições criadas por este chef, que valoriza os produtos endógenos e utiliza a experiência adquirida […]

Já é possível saborear os pratos de Miguel Vidal na adega da Caminhos Cruzados, chef que passa a estar em permanência nas instalações da empresa produtora de Nelas, no Dão.

Quase todos os locais da adega podem ser palco das refeições criadas por este chef, que valoriza os produtos endógenos e utiliza a experiência adquirida em vários países do mundo, e os harmoniza com os vinhos da casa.

Escabeche de truta, bacalhau com broa, vitela em púcara de barro preto ou arroz de carqueja com vinha d’alhos são algumas das especialidades que se podem degustar em sítios como a sala de estágio dos vinhos Caminhos Cruzados, a varanda com vista para as vinhas, a sala de provas ou o pátio exterior.

Em alternativa, Miguel Vidal está disponível para proporcionar experiências personalizadas na adega, desde que requeridas com antecedência.

Os almoços ou jantares na adega da Caminhos Cruzados (mínimo 2 pessoas), são de marcação obrigatória (enoturismo@caminhoscruzados.net; 232 940 195) e têm um preço médio que ronda os 50 euros por pessoa, incluindo vinhos.

Festa do Tomate Coração de Boi do Douro está de regresso

Festa Tomate Coração Boi

A tão aguardada Festa do Tomate Coração de Boi do Douro está de volta. Os melhores tomates Coração de Boi das tradicionais hortas da região estão prontos para serem provados e levados a concurso, uma competição que, nesta edição, terá lugar na Quinta do Seixo, propriedade da Sogrape, no próximo dia 25 de Agosto. O […]

A tão aguardada Festa do Tomate Coração de Boi do Douro está de volta. Os melhores tomates Coração de Boi das tradicionais hortas da região estão prontos para serem provados e levados a concurso, uma competição que, nesta edição, terá lugar na Quinta do Seixo, propriedade da Sogrape, no próximo dia 25 de Agosto.

O júri do concurso será composto por vários especialistas, incluindo chefs de cozinha renomados, enólogos, jornalistas e outros profissionais da gastronomia. A tarefa consiste em eleger o melhor tomate da temporada, considerando características como textura, sabor e suculência. Além da competição, o evento mantém o espírito festivo, culminando num jantar volante que reunirá produtores de vinho durienses e visitantes, numa mesa onde o tomate e os vinhos das empresas concorrentes serão protagonistas. Este jantar está com inscrições abertas, com obrigatoriedade de reserva e pagamento prévio (€50, via greengrape@greengrape.pt).

Festa Tomate Coração Boi

Já na sua VIII edição, a Festa do Tomate Coração de Boi — fundada por Celeste Pereira, proprietária da empresa de comunicação Greengrape, Edgardo Pacheco, jornalista e curador do evento, e o produtor de vinhos Abílio Tavares da Silva, da Quinta de Foz Torto — não se limita apenas ao concurso. Os restaurantes de referência da região incorporam, durante todo o mês de Agosto, o tomate Coração de Boi nas suas ementas, criando pratos inspirados no fruto. Entre os restaurantes participantes estão nomes como DOC, do chef Rui Paula, Seixo by Vasco Coelho Santos, Bonfim 1896 by Pedro Lemos e muitos outros.

Festa Tomate Coração Boi

Adicionalmente, numa parceria com o Projeto Capella, haverá uma prova de tomate na capela barroca da aldeia de Arroios, em Vila Real, no dia 26 de Agosto. Esta prova, coordenada pelo presidente do júri do concurso, Francisco Pavão, permitirá explorar diferentes combinações de tomate Coração de Boi com vários perfis de azeite, e contará com a presença de alguns chefs de cozinha e de Jorge Raiado, da empresa algarvia Salmarim, de sal marinho. Na aldeia será, ainda, possível comprar tomate Coração de Boi local e muitos outros produtos regionais, no XIII Mercadinho da Capella, que terá também música e petiscos. A participação na prova é gratuita, mas aconselha-se reserva para greengrape@greengrape.pt.