Falua: Celebrando três décadas

Falua

O Tejo, todos sabemos, tem paisagem variada e sempre, de uma forma ou outra, moldada pelo rio que lhe dá, não só o nome mas também a originalidade e o carácter. E para os que estão menos recordados do facto, a apresentação da Falua, empresa sediada em Almeirim, não podia ter tido o seu início […]

O Tejo, todos sabemos, tem paisagem variada e sempre, de uma forma ou outra, moldada pelo rio que lhe dá, não só o nome mas também a originalidade e o carácter. E para os que estão menos recordados do facto, a apresentação da Falua, empresa sediada em Almeirim, não podia ter tido o seu início em melhor local – a vinha do Convento -, uma parcela assente em solo de calhau rolado que nos lembra que há 400.000 anos estas terras faziam parte do leito do rio. E quem olhar desprevenido para esta vinha em que, no solo, só se vêem calhaus rolados, quase não acredita que seja possível aqui nascer alguma planta. Esta paisagem existe noutros locais do mundo, mas, em Portugal, só no Tejo se encontra uma área desta dimensão. A vinha do Convento começou por ter 15 há. Após a compra pelo Grupo Roullier, em 2017, plantaram-se mais 30 ha em 2019 e, como nos disse Antonina Barbosa, enóloga e gestora de todos os projectos relacionados com o vinho que o grupo tem em Portugal, a área de vinha irá ser alargada com mais 30 ha. Como reserva, a empresa ainda dispõe de mais 85 ha de terra em zona contígua.

O calhau rolado em terrenos muito pobres, e de fraca retenção de água (como é o caso), funciona como regulador de temperatura e obriga a planta a um sistema radicular mais longo, com evidentes benefícios em termos de complexidade. E, segundo nos confirmou, “esta originalidade é válida não só para tintos como também para brancos. Já o Fernão Pires que daqui sai é bem diferente dos que têm origem noutras zonas do Tejo”.

Desta forma, o mais natural é as celebrações terem começado na vinha onde, ao som do fado e dos petiscos preparados no local pelo Chefe Rodrigo Castelo, do Taberna ao Balcão (1 estrela Michelin, em Santarém), o grupo se inteirou das outras novidades, também apresentadas.

Um dos vinhos icónicos da Falua sempre foi o Conde Vimioso Reserva que, desde a colheita de 2000, é tributário da vinha do Convento. A estrela da noite comemorativa e o vinho mais aguardado era, sem dúvida, o tinto Conde Vimioso, edição que comemora os 30 anos da Falua. O vinho teve origem na colheita de 2005 e, após dois anos de barrica, estagiou 17 anos em garrafa. Foi elaborado com todas as castas da vinha do Convento: Touriga Nacional, Cabernet Sauvignon, Aragonês e Trincadeira Preta, fermentadas e estagiadas em separado. O lote foi feito antes do engarrafamento e produziram-se 1877 garrafas magnum. Ainda segundo Antonina Barbosa, “este é um vinho que se confunde com a história da empresa, é um pedaço da história daquela vinha. Tirámos partido da enorme qualidade do vinho da colheita de 2005 e mantivemos estas garrafas guardadas à espera do momento certo. É agora!”

O grupo Roullier tem presença em inúmeros países e o departamento de vinhos em Portugal iniciou-se com a compra da Falua, a que se seguiu a aquisição da Quinta do Hospital em Monção, as quintas de Mourão e S. José, no Douro. Rui Rosa, administrador em Portugal, recordou que o Grupo Roullier está em Portugal desde 1994, por coincidência o mesmo ano da criação da Falua e que, além dos investimentos acima descritos, a empresa irá dar ao início do plantio de 36 ha de vinha em Vila Verde (região dos Vinhos Verdes). Ao todo, a Falua gere 300 ha de vinhas com mercados dispersos por 30 países.

(Artigo publicado na edição de Janeiro de 2025)

Herdade da Cardeira: Uma revelação confirmada

Herdade da Cardeira

É impossível ficar indiferente à paixão com que Thomas Meier se refere a tudo o que acontece no projeto Herdade da Cardeira, localizado em Borba, que fundou em 2010 com a sua mulher, Erika. Fala-nos dos 100 hectares de terra, e detalha todos os respetivos cantos, descreve-nos com rigor a adega e pormenoriza os 21ha […]

É impossível ficar indiferente à paixão com que Thomas Meier se refere a tudo o que acontece no projeto Herdade da Cardeira, localizado em Borba, que fundou em 2010 com a sua mulher, Erika. Fala-nos dos 100 hectares de terra, e detalha todos os respetivos cantos, descreve-nos com rigor a adega e pormenoriza os 21ha de vinha. Individualiza cada casta, as nacionais e as estrangeiras, e lembra-nos que esteve quase para arrancar a Tinta Caiada, mas, agora, entende que pode vir a ser essencial na produção de vinhos com frescura e, sobretudo, carácter alentejano. É, em suma, o atual projeto de vida de um advogado suíço que já dedicou, no passado, a sua vida à tributação internacional. Agora, mais do que reestruturações financeiras e planeamento fiscal, pretende confecionar tudo o que a terra pode materializar. Coisas palpáveis, diz-nos, é o que mais pretende retirar da sua propriedade.

A conversa com Thomas é cordial, mas feita com precisão helvética. Relembra-nos que a produção com a marca da casa iniciou-se em 2016, já com Filipe Ladeiras como enólogo residente e Paulo Laureano como consultor e diretor. Diz-nos que, atualmente, são um pouco mais de 50 mil garrafas por ano, vendidas para os países cujos mercados melhor Thomas e Erika conhecem, como é o caso da Suíça e Luxemburgo. Mais recente, é a distribuição em Portugal que é, todavia, assumida como uma das prioridades para os próximos anos.

 

O objetivo de Thomas e Erika é só um: fazer mais e melhor a partir da sua terra.

Retorno emotivo

Mas voltemos à propriedade que fica situada em Borba, mais concretamente na freguesia de Orada. Para quem conhece a zona, falamos de uma extensão de terra a 400 metros de altitude, virada a norte, defronte da Serra de São Mamede, com a Serra de Ossa a sul. A sua localização e altitude explicam o vento e nevoeiro matinais, e os solos argilosos com muita influência calcária garantem vinhos com boa acidez.

A produção está em velocidade de cruzeiro, e a crítica tem sido uma grande surpresa. Vencedor, ex-aequo, do Prémio Revelação em 2023, viu, recentemente, o seu Verdelho da colheita de 2022 ganhar o destaque de melhor branco no prémio Escolha da Imprensa. O objetivo de Thomas e Erika é só um: fazer mais e melhor a partir da sua terra. Independentemente dos resultados financeiros, ambicionam um retorno emotivo, dizem-nos com convicção. Pois bem, provados os seus mais recentes vinhos tintos, e um espumante, e a julgar pela emoção que todos são capazes de provocar, temos a certeza de Thomas e Erika estão no caminho certo.

Nota: O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

Artigo publicado na edição de Janeiro de 2025

Fita Preta: Os (muitos) Alentejos de António Maçanita

Fita Preta

É costume dizer-se que o Alentejo é uma região vitivinícola recente. Mas, na realidade, existem zonas nesta região onde a produção de vinho se iniciou há muitos séculos, que entraram nos anais da história como os melhores à época. No fundo, “no Alentejo o local onde se plantava a vinha não era diferente do local […]

É costume dizer-se que o Alentejo é uma região vitivinícola recente. Mas, na realidade, existem zonas nesta região onde a produção de vinho se iniciou há muitos séculos, que entraram nos anais da história como os melhores à época. No fundo, “no Alentejo o local onde se plantava a vinha não era diferente do local onde se vivia – tinha de haver água” – constata o enólogo e produtor António Maçanita, baseando-se nas referências que se encontram nos registos históricos relativos à ribeira da Peramanca e a Enxarrama (do rio Xarrama), nas proximidades de Évora.

 

Fita Preta

 

Pesquisas históricas revelaram que as terras do Paço Morgado de Oliveira incluíam a zona vinícola do Louredo, onde se produzia vinho desde finais do século XIII

 

Regresso às origens

 

O seu primeiro contacto com o Alentejo foi em 2004, quando fundou a Fitapreta Vinhos com David Booth. “Cheguei ao Alentejo contemporâneo, com proliferação de Aragonez, Alicante Bouschet, Syrah, Cabernet Sauvignon, Touriga Nacional… E os primeiros vinhos reflectiram isto. Em 2008 excomunguei o Cabernet Sauvignon e, em 2011, a Touriga Nacional”, conta o produtor. Em 2018 descobriu a vinha Chão dos Eremitas no sopé sul da Serra d’Ossa, plantada nos anos 1969-70 numa espécie de field-blend organizado, ou seja, com várias castas, mas não misturadas. A disponibilidade de água neste sítio é assegurada pelos dois riachos, que trazem as águas das chuvas da Serra D’Ossa, mantendo o nível freático alto e permitindo viticultura de sequeiro.

 

Nesta vinha, António surpreendeu-se com as castas quase desaparecidas hoje, mas que em tempos dominaram a região: Tinta Carvalha, Moreto, Alicante Branco e Trincadeira das Pratas (conhecida no Alentejo como Tamarez), entre outras. Iniciou-se o regresso às origens, ao Alentejo perdido, com pureza, potência e frescura. O branco Os Paulistas do Chão dos Eremitas, um blend de Alicante Branco, Roupeiro, Tamarez e Rabo de Ovelha e os monovarietais tintos provenientes da mesma vinha transparecem este Alentejo genuíno e multifacetado.  

 

Em 2016, com a aquisição do Paço do Morgado de Oliveira, propriedade medieval do século XIV situada a 10 km a sul de Évora, a mente exploradora de António Maçanita encontrou novos estímulos para um levantamento aprofundado das suas origens. Em paralelo com os trabalhos de recuperação do edifício, o produtor envolveu cinco historiadores para investigar o contexto e o desenvolvimento histórico  deste que é o maior paço rural gótico ainda preservado no país. À medida que se iam despindo várias camadas das paredes, revelavam-se verdadeiros tesouros do passado, como uma pintura mural de São Cristóvão na capela-mor, datada de 1567, além de portas e janelas medievais escondidas sob reconstruções e “embelezamentos” de outras épocas.

 

Em 2018 António Naçanita descobriu a vinha Chão dos Eremitas no sopé sul da Serra d’Ossa, plantada nos anos 1969-70 numa espécie de field-blend organizado.

 

Recriando o Enxarrama

 

É preciso ser António Maçanita para conseguir meter uma adega com cubas e barricas dentro desta estrutura monumental. Mas a ideia não foi assim tão disparatada, afinal aqui já se fazia vinho, e era bom! Na actual sala de barricas existe uma antiga lagareta vinária de pedra, com o chamado calcatorium, onde as uvas eram esmagadas com os pés.

 

Pesquisas históricas revelaram que as terras do Paço Morgado de Oliveira incluíam uma zona vinícola do Louredo, outrora muito afamada, onde se produzia vinho desde finais do século XIII. O mais procurado era o Enxarrama, das vinhas plantadas perto do rio chamado hoje Xarrama. Até os mercadores de fora do país vinham comprar este vinho a Évora. Em 1485, D. João II teve de estabelecer um decreto para que a população local não molestasse os mercadores franceses e bretões. Em 1816, o negociante, enólogo e escritor francês, André Jullien, que viajou pelo mundo para elaborar a sua obra “Topografia de todas as vinhas conhecidas”, escreveu, em relação a Enxarrama, que “os vinhos são de muita fama, sabe-se da sua qualidade, mas mal dão para abastecer a população”, citou António Maçanita. Mais tarde, em 1867, o agrónomo e investigador Ferreira Lapa escreveu: De todos os vinhos de Évora, o Enxarrama é o mais apreciado e obtém o melhor preço em Lisboa (…) ele é, mais que nenhum outro de Évora, procurado para a venda a retalho nos armazéns de Lisboa.”

 

Todo este contexto foi mais do que suficiente para António interiorizar a ideia, aliando-a ao vinho que tinha guardado dos anos anteriores. “Entendi que podia ser qualquer coisa acima do que eu tenho feito até agora”. Aqui temos dominante o Alicante Bouschet, com 85%, e também Aragonez, Trincadeira, Castelão e Moreto. O estágio, que soma 10 anos no total, decorreu em barricas de 228 litros durante 36 meses, mais 12 meses em cubas de 500 litros e, por fim, seis anos em garrafa.

 

Não sabendo como era o Enxarrama de antigamente em termos de castas e vinificação, a nota de prova feita, por Ferreira Lapa, em 1867, serviu de pedra basilar para assegurar o perfil. “O vinho do Enxarrama é bastante tinto e encorpado, crystallino, cheiro tartoso, e não suave, de sabor quente e macio, com travo (…) bem pronunciado. Não é um vinho alcoólico, nem aromático, é um vinho forte e bastão, que bem por causa do seu tanino pode tolerar o seu volume em álcool.” É praticamente o que encontrámos no copo. Assim nasceu o primeiro Enxarrama da actualidade. Foram produzidas 1218 garrafas.

 

Ao mesmo tempo foi apresentado um grande branco, feito 100% de Arinto de produção biológica, plantado em 2017 em sequeiro na vinha do Morgado de Oliveira. De vindima manual nocturna, com prensagem direta sem esmagamento, fermentação alcoólica e maloláctica espontâneas em barricas. Estágio 15 meses em borra fina, sem battonage, em barricas de carvalho francês. Foram produzidas 1919 garrafas.

Assim são as diferentes faces do Alentejo, interpretadas por António Maçanita. Os vinhos Chão dos Eremitas são de vinha, “vinhos arqueológicos” como o produtor os apelidou, precisos e genuínos. O Morgado de Oliveira é o vinho de casta, que eleva o Arinto (que é uma grande casta portuguesa, sem dúvida alguma) a um patamar excepcional. Por sua vez, o Enxarrama é um vinho de conceito, inspirado pela história do lugar, sendo praticamente uma homenagem à região.

(Artigo publicado na edição de janeiro de 2025)

PASSARELLA: A hora dos tintos

Casa da Passarella

Já escrevemos, noutras vezes, quanto histórica é a Casa da Passarella. Descrevemos o seu passado resplendor e refletimos a propósito da sua importância na região do Dão. Com efeito, instaladas no sopé da montanha e a muitas centenas de metros de altitude, as vinhas centenárias da Casa da Passarella são, desde há muitos, o berço […]

Já escrevemos, noutras vezes, quanto histórica é a Casa da Passarella. Descrevemos o seu passado resplendor e refletimos a propósito da sua importância na região do Dão. Com efeito, instaladas no sopé da montanha e a muitas centenas de metros de altitude, as vinhas centenárias da Casa da Passarella são, desde há muitos, o berço de vinhos que refletem um património genético ímpar, construído ao longo de vários séculos.

Ora a nova e atual fase desta casa clássica acarreta consigo, talvez, o perfil mais ambicioso de sempre, sendo disso bom exemplo o restauro do casario, a recuperação e reestruturação das muitas vinhas existentes e a extensa gama de vinhos, todos de qualidade inabalável. Sim, o nível geral dos vinhos é excelente de forma transversal, mas verdade seja dita, que os brancos foram os primeiros a destacar-se no mercado. Efetivamente, perante um conjunto cada vez maior de consumidores ávidos por brancos estruturados, mas frescos e minerais, o enólogo Paulo Nunes cedo ofereceu, a partir da Passarella, um leque de vinhos inigualável, com entradas de gama de qualidade inaudita e topos de gama inesquecíveis. Consciente da fama crescente dos seus vinhos brancos, a Casa da Passarella desceu a Lisboa munida com as mais ambiciosas novidades em matéria de tintos, como que a pretender comprovar que, também estes, os tintos, portanto, merecem destaque e atenção cuidada.

Quanto a nós, nunca duvidámos disso, e sempre tivemos por mais do que um tinto da Passarella uma especial devoção. Mas, mesmo assim, não perdemos a oportunidade de provar e comprovar os melhores tintos da casa uma vez mais, agora nas novas colheitas.
Primeiro lado a lado, e depois maridados com as excelentes criações gastronómicas do Chef Rui Silvestre no restaurante Fifty Seconds em Lisboa, foi um evento único. Os cinco tintos apresentados assinalam o regresso das versões tintas de duas gamas, a saber: a marca Villa Oliveira, a primeira a ser criada, há mais de 130 anos, e um dos best-sellers do produtor, e a marca O Fugitivo, centrada no lançamento de vinhos que são projetos especiais, tendencialmente disruptivos e irrepetíveis.

 

O enólogo Paulo Nunes cedo ofereceu, a partir da Passarella, um leque de vinhos inigualável

 

Frescura excelsa

Mas vejamos, mais em pormenor, as novas colheitas e comecemos pelos três novos Villa Oliveira. O Vinha das Pedras Altas nasce de uma vinha com mais de 90 anos, onde constam várias castas autóctones (Baga, Alfrocheiro, Touriga Nacional e Alvarelhão, entre outras) todas elas colhidas à mão. Após uma fermentação espontânea em cuba de cimento com maceração pré e pós-fermentativa, seguiu-se um total de 36 meses de estágio em tonel de madeira de 30 hl, permitindo a estabilização natural deste vinho, excluindo a necessidade de filtração. A edição de 2017 está perfeita na conjugação de fruta encarnada com frescura excelsa. O Villa Oliveira Vinha Centenária Pai D’Aviz também é sujeito ao mesmo protocolo de vinificação e estágio, mas provém de outra vinha, um pouco mais velha até (e, portanto, centenária), igualmente com muitas castas misturadas (Baga, Jaen, Tinta Amarela, Tinta Pinheira, entre outras). Aqui a colheita a lançar é 2018, e o nível é estratosférico! Outro vinho que regressa é um dos mais conhecidos do produtor, o Villa Oliveira Touriga Nacional, desta feita também de 2018. Temos aqui um autêntico clássico, de perfil encorpado, com madeira presente, mas sempre fresco e elegante.

Mas nesta apresentação, os Villa Oliveira não surgiram sozinhos e fizeram-se acompanhar por duas novas colheitas de uma coleção mais irreverente: O Fugitivo Pinot Noir, a revelar que o Dão, em anos frescos como 2021, consegue produzir Pinot Noir delicado e distinto, não sendo de estranhar que a casta seja utilizada na Casa da Passarella há mais de um século. Por outro lado, O Fugitivo Espumante Baga que, em 2018, se apresenta a um nível mais alto do que antecipávamos, um espumante que resulta da recuperação dos ensaios sobre espumantização, realizados nos anos 1930 e 1940, fazendo-se usufruto do método clássico e da Baga. Novidades frescas, novidades a não perder!

Nota: O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

(Artigo publicado na edição de Janeiro de 2025)

Quinta das Chaquedas: Lote 5, do sonho à realidade

Quinta das Chaquedas

Quantos apreciadores de vinhos, mais ou menos exigentes com as suas escolhas, é que nunca pararam para pensar, nem que fosse apenas por um breve momento, na produção e comercialização do próprio vinho? Em boa verdade, quase todos já devem ter sonhados com uma vida mais próxima da natureza, desenvolvida a um ritmo mais lento, […]

Quantos apreciadores de vinhos, mais ou menos exigentes com as suas escolhas, é que nunca pararam para pensar, nem que fosse apenas por um breve momento, na produção e comercialização do próprio vinho? Em boa verdade, quase todos já devem ter sonhados com uma vida mais próxima da natureza, desenvolvida a um ritmo mais lento, capaz de nos fazer apreciar os prazeres verdadeiramente simples da observação da floração ou do processo de coloração dos bagos das uvas, já para não mencionar o momento de autêntica celebração familiar proporcionado pela vindima.

Estas reflexões, verdadeiramente romanceadas do mundo do vinho, esbarram na fria e inquieta realidade dos compromissos diários e dos objetivos anuais que nos fazem esquecer ou adiar para um amanhã, que tarde ou nunca chegará. Resta respirar fundo, suster a respiração e mergulhar na férrea agenda da vida real.
Ainda assim, de vez em quando, há quem persiga o sonho e comute uma existência bem estabelecida e melhor remunerada pela devoradora incerteza do lançamento de um projeto vínico de raiz, capaz de revitalizar uma antiga vontade familiar. Foi exatamente o que aconteceu a Ana Castro, que desenvolvia uma sólida carreira na área da advocacia em Vila Nova de Gaia e ao marido Francisco Narciso, coronel do exército português.

Assim, no ano de 1999, Ana e Francisco embarcaram num sonho comum e compraram a Quinta da Cascalheira, no vale do Rio Torto, com cerca de oito hectares. “Foi o primeiro passo do culminar da vontade familiar de estarmos juntos: marido, mulher e filhos”, referiu Ana Castro no evento de apresentação dos seus vinhos.
A propriedade tinha a particularidade de integrar uma vinha pré-filoxérica denominada Tiroliro, a que se juntou, mais tarde, uma outra designada Ferradura. Eram pouco produtivas e careciam de um acompanhamento especial e continuado. Assim, dois anos depois, Ana Castro e a filha, com cinco anos, mudaram-se de armas e bagagens para a Quinta, para melhor acompanhar os trabalhos aí desenvolvidos.

 

A criação das Chaquedas

Pouco tempo depois, em 2003, fortaleceram o sonho ao comprarem uma nova propriedade em Santa Marta de Penaguião, renomeada Quinta das Chaquedas “em honra ao meu avô, que detinha uma propriedade homónima na histórica praia da Madalena, em Vila Nova de Gaia”, contou Ana Castro.
No decurso dos três anos seguintes o casal reuniu finalmente os cinco elementos familiares e, com ânimo renovado, reconstruiram a casa principal e edificaram uma adega e um espaço para desenvolver enoturismo.

Tal como centenas de famílias na multicentenária região do Douro, as primeiras produções foram vendidas a outras marcas mais sonantes. Neste caso particular foi celebrado um contrato com a Taylor’s “prevendo o acompanhamento na viticultura por um trio de luxo constituído por António Magalhães, David Guimarães e Carlos Rodrigues, que ainda hoje nos acompanham”, disse Ana Castro.Com passar dos anos, o projeto familiar sonhou dar mais um passo, “o lançamento de vinhos de nicho com uma marca própria e imagem distinta”. Assim, o projeto vínico familiar cunhou a marca Chaquedas, em 2010, e lançou no mercado o primeiro vinho tinto, ao qual se juntaram outras referências nos anos subsequentes.
No entanto, como salientou Ana Castro, “o mercado não acolhia facilmente o nome Chaquedas e tivemos de criar, em 2016, uma nova marca capaz de reunir os valores e imagem da família. E assim surgiu o nome Lote 5, que significa a união de uma família de cinco elementos”.
Nesta nova fase do projeto, a família realizou uma aposta ainda mais forte. Manteve o trio de viticultura e juntou o trabalho de Miguel Freitas que, nas palavras de Ana Castro “desenvolveu um trabalho de imagem muito criativo e identificador da família”. Contratou ainda a consultoria do enólogo Jorge Alves, com vasta experiência em projetos durienses.

Nos anos subsequentes, a família ampliou a área de plantação com a compra de 24 hectares dispersos pelo Vale do Rio Torto e outras localizações na sub-região do Cima Corgo, o que permitiu o alargamento do portefólio, com o aparecimento de novas referências, incluindo vinhos tintos, brancos e um rosé. No entanto, como referiu Ana Castro “esta expansão teve sempre a ideia de fazer vinhos de nicho bem feitos e muito acima da média”.
Este projeto familiar, desenvolvido na região do Douro, mostra bem que ainda há lugar para concretizar o velho sonho de produtor de vinhos de qualidade, desde que este esteja num local autêntico, com vinhas únicas e intervenientes relevantes.

(Artigo publicado na edição de Janeiro de 2025)

Torre de Palma: Chegados ao topo

Torre de Palma

É difícil não gostar deste espaço diferente, bem longe do litoral, das grandes cidades. Fica no meio do campo, naquele Alentejo onde a vista quase não tem horizonte, a paisagem acalma e estar lá sabe bem. É isso que se sente quando olhamos lá de cima, após a subida à Torre de Palma, lugar central […]

É difícil não gostar deste espaço diferente, bem longe do litoral, das grandes cidades. Fica no meio do campo, naquele Alentejo onde a vista quase não tem horizonte, a paisagem acalma e estar lá sabe bem. É isso que se sente quando olhamos lá de cima, após a subida à Torre de Palma, lugar central do casario que constitui aquele lugar histórico, um antigo monte recuperado das ruínas por Paulo e Isabel Rebelo. Encantados pelo lugar, foi há 16 anos que ali decidiram investir e fazer, dos 15 hectares que a Tapada da Torre de Palma ocupa, um espaço de turismo que produz vinho e procura oferecer, a quem a visita, aquilo que de melhor aquela zona do Alto Alentejo tem para oferecer.

Presença romana

Tudo começou quando as saudades da região, resultantes talvez das histórias contadas pela sua mãe alentejana, levavam Paulo a ir, uma e outra vez, ao Alentejo com a família, em busca de um espaço, um monte onde pudessem investir como lugar de férias. Foi isso que os levou à Tapada de Torre de Palma pela primeira vez e a apaixonar-se pelo local, logo depois da subida ao seu topo. A aquisição ficou decidida, mas também a necessidade de investir na recuperação das suas ruínas. Não seria um trabalho fácil, porque os edifícios e a propriedade estavam muito deteriorados e, por isso, a compra da tapada, em 2008, deu início a um processo de estudo, que durou quatro anos, até à decisão final sobre o destino a lhe dar.

Farmacêuticos de formação e profissão, estabelecidos em Coimbra, Paulo e Isabel possuem uma farmácia e uma óptica no centro da cidade. Uma oportunidade de negócio e uma vontade e capacidade inatas para empreender, levaram Paulo Rebelo a iniciar, também, uma indústria de produção de medicamentos genéricos, a Bluepharma, há mais de 20 anos. É hoje um grupo farmacêutico com 800 colaboradores, que exporta 89% da sua produção para 40 países.

À medida que foram estudando Torre de Palma, os seus proprietários descobriram que tinha tido, entre outros, presença romana, ainda hoje visível num espaço arqueológico bem perto. Segundo Isabel Rebelo, “a família proprietária, os Basílios, eram produtores de vinho e azeite, criadores de cavalos, tinham termas, como era comum nas famílias abastadas e uma hospedaria”, algo lógico numa região que ficava no trajecto entre Lisboa e Mérida, duas grandes cidades romanas da Península Ibérica.

Depois de quatro anos de muitas visitas, de estudos sobre todas as hipóteses de investimento naquele local, foi decidido produzir vinho e construir um hotel de charme.

Como em qualquer negócio o conhecimento é essencial, e o de Isabel e Paulo Rebelo estava centrado na área de Saúde, a primeira decidiu tirar uma pós-graduação em Gestão Turística e Hoteleira, para aprofundar o seu. E após se terem apercebido da riqueza do sítio, criou “facilmente o conceito de um projecto focado na sustentabilidade”, conta, acrescentando que “o objectivo era não fazer nada igual a algo que já existisse, que respeitasse, ao máximo, a autenticidade da região, para quem visitar o espaço ficar com um conhecimento real do que é aquela zona do Alto Alentejo”.

Edições limitadas e de terroir

Desde o início do projecto, Torre de Palma tem vindo a construir, a partir dos seus sete hectares de vinha, um portefólio com edições limitadas e vinhos de terroir, entre os quais se destaca a gama Reserva da Família. Segundo Paulo Barradas Rebelo, o tinto da colheita de 2017, lançado recentemente durante um jantar no Torre de Palma Wine Hotel, perto de Monforte, “representa a concretização daquilo que foi sempre o nosso sonho, de fazer um grande vinho do Alentejo e de Portugal”.  O topo de gama da empresa resultou de uma seleção de uvas de microparcelas da vinha, implantada sobre solos de origem granítica, argilo-calcária e xistosa, a 310 metros de altitude. Feito com base em uvas das castas Alicante Bouschet, Aragonez, Touriga Nacional e Tinta Miúda, vindimadas em separado e pisadas em lagares de mármore após o desengace, estagiou 24 meses em tonel de carvalho francês e ficou cinco anos em garrafa até ser lançado ao mercado. “Edição exclusiva, limitada a 3273 garrafas numeradas, é um vinho que nos enche de orgulho, pois reflecte a nossa interpretação das castas, da vinha e da região onde nos inserimos.”, refere o enólogo responsável, Duarte de Deus. A prova e apresentação deste e de outros vinhos decorreu na recém inaugurada Enoteca, a sala de provas exclusiva desta adega.

(Artigo publicado na edição de Janeiro de 2024)

 

 

Undated: A magia dos “sem data”

Vinhos undated

Quando se fala aqui em tendências do consumo, é bom que tenhamos em mente que estes vinhos sem data são um mero apontamento num mar de vinhos datados, aqueles que são mais comuns no mercado. Habituámo-nos a falar na data porque não há dois anos iguais e o vinho pode (mas nem sempre) espelhar as […]

Quando se fala aqui em tendências do consumo, é bom que tenhamos em mente que estes vinhos sem data são um mero apontamento num mar de vinhos datados, aqueles que são mais comuns no mercado. Habituámo-nos a falar na data porque não há dois anos iguais e o vinho pode (mas nem sempre) espelhar as características do ano ou da zona onde nasceu. Falamos, por isso, em vinhos (demasiado) maduros nos anos muito quentes, de vinhos frescos quando lhes sopra a brisa marítima, ou ainda de vinhos de elevada acidez decorrentes da altitude ou da exposição. Temos também de ter sempre presente que qualquer vinho, mesmo datado, pode incluir até 15% de vinho de outra colheita. Isto significa que o legislador teve o cuidado de prevenir qualquer situação extrema – climática ou outra – permitindo que o vinho possa ser melhorado e polido, juntando vinho de outra colheita nas percentagens previstas. Assim sendo, a tal “expressão máxima do terroir” só será possível se não houver lote, se o vinho for única e exclusivamente de um só ano. Esta atitude, que pode tomar contornos um pouco radicais se o produtor entrar na fileira dos fundamentalismos, é possível em vinhos de nicho, de muito baixa produção e oriundos de produtores que não têm de se preocupar com as contas. Já os outros, a esmagadora maioria que usufrui das facilidades concedidas pela lei, procura equilibrar os vinhos de um ano com 15% de outros que poderão ajudar na melhoria do lote final. Mas hoje queremos falar dos não datados, aqueles que não querem saber da data da colheita no rótulo. Estão preocupados com outras coisas.

 

Vinhos undated O que a história nos diz

Vinhos datados não são uma modernice. Existem desde o séc. XVIII e também em Portugal, com grande destaque para os vinhos generosos, os mais apreciados e os que chegaram até hoje. Após as demarcações do início do séc. XX e ainda antes de se demarcarem, a partir de 1979, as regiões, tal como as conhecemos hoje, já os vinhos eram datados. Era a época – até aos anos 90 – em que a marca se sobrepunha à região e a qualidade estava muitas vezes conotada com um designativo de qualidade muito apreciado na época: vinhos Garrafeira. E eles existiam em marcas que, todos sabemos, resultavam de lote de vinhos de várias regiões, com a Bairrada e o Dão a serem as mais procuradas.
Mas também existiam vinhos não datados que são os arquétipos daqueles que falamos neste texto. Algumas marcas emblemáticas, que tinham o carimbo da máxima qualidade e mais acarinhadas pelos consumidores, em boa verdade não eram datadas porque…usavam vinhos de várias colheitas. A intenção era, então, idêntica à de hoje: melhorar o lote final, num equilíbrio que seria difícil de encontrar no vinho de uma só colheita. O exemplo paradigmático era a marca José de Sousa Rosado Fernandes, com sede em Reguengos que, nos anos 60 e 70, raramente engarrafava com data: eram vinhos em que o enólogo procurava juntar várias colheitas para obter o estilo que pretendia. Em alguns casos decidia depois que data punha, nas garrafas ou, mais vulgarmente, apenas nas caixas.

Este novo estilo renasceu entre nós com o Branco Especial da Quinta dos Carvalhais, que surgiu no mercado em 2014. Os enólogos (Beatriz Cabral de Almeida e Manuel Vieira) usaram vinhos de três colheitas para, ainda que timidamente, colocarem no mercado um branco que desafiava tudo o que então existia. Por isso fizeram apenas 3000 garrafas quando actualmente, a 7ª edição, e já sem Manuel Vieira, contempla 14 733 exemplares. A evolução do preço é também a demonstração do apreço que o público mostrou: a primeira edição estava tabelada a €30, a actual vai em €70. Não há regra fixa mas, diz Beatriz, “tentamos fazer de dois em dois anos. Actualmente o lote junta vinhos de mais colheitas, e é desde sempre assente em três castas: Encruzado, Gouveio e Sémillon, mais alguma percentagem de parcelas de field blend. Talvez a diferença em relação às primeiras edições é que agora procuramos fazer os vinhos já com a intenção de os conservar longamente em barrica. Só no momento do lote final é que sai tudo da madeira.” A 8ª edição sairá em 2025.

 

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Apenas um pormenor

Como se pode verificar pelo lote de vinhos que aqui sugerimos, existem mais versões em branco do que em tinto. A Wine & Soul lançou, em finais de 2020, um Guru NM, um branco não datado e muito aplaudido pela crítica. Jorge Borges informou-nos que está em preparação uma nova edição, a sair em 2026, mas os vinhos, para já, estão em madeira. Jorge não tem dúvidas: “são vinhos que são originais precisamente por integrarem as características dos vários anos e a produção, em virtude do longo estágio, sai caríssima, o dobro do que custa o normal Guru”. Replicar o modelo em tintos não está nos planos. Manuel Vieira, que integra a equipa de enologia dos Caminhos Cruzados (Dão), diz-nos que não há razão para não se fazer também em tintos. “A minha experiência anterior era com brancos e foi apenas por isso que aqui fizemos o Vinhas da Teixuga, que beneficia da grande qualidade do Encruzado da quinta”. Também o Kaputt é branco, mas o enólogo da empresa (actual Van Zeller Wine Collection), Álvaro Van Zeller, não descura a hipótese de se fazer no futuro um tinto com estas características. Reconhece que este tipo de vinho “será sempre para um nicho do mercado. O vinho final perde a personalidade que lhe adviria do ano em que nasceu e poucas pessoas poderão valorizar isso, tal como vinhos que resultam do lote de regiões diferentes têm de levar selo IVV, o que não é entendido, pelo consumidor, como apenas um pormenor”. Vinhos brancos existem em várias regiões, ou seja, não se trata de um mérito apenas desta ou aquela. É o trabalho de adega e o conceito que o enólogo possa ter que vai determinar a decisão.

Os tintos assumem, por vezes, um lado comemorativo: aconteceu com a 2ª edição do Memórias Alves de Sousa, lançado no mercado em 2024 e que comemora 30 anos de história, com vinhos da segunda década deste século. Comercializado em garrafa normal (a 1ª edição tinha sido apenas em magnum), fizeram-se 4000 exemplares. Domingos Alves de Sousa e o filho, Tiago, procuraram “repetir aqui o que se faz num Porto tawny, juntando vinhos de idades diferentes, uns em casco e outros em cuba. Não temos para já ideia de fazer isto com vinhos brancos; seria outro conceito bem diferente”, diz Domingos. Luís Louro, com o seu Monte Branco XX, está agora a comemorar duas décadas de história; já tinha feito outros com lote de colheitas, mas por razões “administrativas” saíram com data no rótulo.

O perfil comemorativo não é regra: o Falua Undated Cabernet Sauvignon é um tinto acabado de surgir no mercado que junta várias colheitas de vinho com origem na vinha do Convento e é muito surpreendente, porque nada no vinho sugere que não seja um vinho muito jovem. Mérito tripartido – da vinha, da casta e da enologia, a cargo de Antonina Barbosa, que não descarta a ideia de fazer também em branco: “é uma hipótese, mas teremos de lhe retirar o epíteto de Reserva exactamente porque a lei não autoriza designativos em vinhos de lote de várias colheitas”.
Estes são vinhos de experiência e os produtores sabem disso. Pode não ser fácil acertar no modelo à primeira, mas vale a pena experimentar, até porque dos Açores a Monção temos um enorme (!) país para poder surpreender e fazer nascer novos consumidores.

(Artigo publicado na edição de Janeiro de 2025)

 

Adega do Cartaxo: Os novos experimentais Tejo

Adega do Cartaxo

A Adega do Cartaxo lançou recentemente dois vinhos monocasta com a marca Tejo. Inspirada no grande rio da Península Ibérica que atravessa a região onde foram produzidos, a nova referência irá incluir os vinhos mais experimentais desta adega do Tejo, criados sob a batuta de Pedro Gil, o seu enólogo. “Sempre fui adepto da inovação […]

A Adega do Cartaxo lançou recentemente dois vinhos monocasta com a marca Tejo. Inspirada no grande rio da Península Ibérica que atravessa a região onde foram produzidos, a nova referência irá incluir os vinhos mais experimentais desta adega do Tejo, criados sob a batuta de Pedro Gil, o seu enólogo. “Sempre fui adepto da inovação e da procura de produtos diferenciados, algo que é agora possível devido à tecnologia que possuímos”, disse, durante o evento de lançamento, que decorreu no Centro Cultural de Belém.

A nova marca, que procura salientar a importância que o rio Tejo teve, e ainda tem, para a região, inclui, desde já, dois vinhos de nicho. Trata-se de um branco da casta Fernão Pires, produzido com bastante extracção, e um tinto de Castelão, outra das castas mais representativas da região, com pouca extracção. Segundo Pedro Gil, foram produzidos a partir de uvas colhidas na zona do Bairro, da região do Tejo. As que deram origem ao primeiro foram vindimadas à máquina e ficaram a macerar durante três dias, antes de serem fermentadas em barricas de carvalho francês e de o vinho estagiar durante quatro meses sobre borras finas com battonnâge. “É um branco que vai de encontro às tendências do mercado, que os quer mais intensos e com mais extracção”, explicou, o enólogo, durante o evento de apresentação da marca. “A fim de se obter um tinto frutado e fresco, para beber com prazer e sem preocupação, o Castelão foi colhido mais cedo. Seguiu-se uma vinificação menos extrativa, após maceração a frio também durante três dias”, acrescentou.

Adega do Cartaxo
Pedro Gil, enólogo da Adega do cartaxo

 

Vinhos de nicho

Com a nova marca, passará a ser possível ter um Tejo (região e marca) à mesa, referência que inclui vinhos de nicho que resultam do trabalho experimental que está a ser realizado, na Adega do Cartaxo, por Pedro Gil. “É mais um passo do compromisso com a região e uma homenagem ao seu terroir e ao rio que a atravessa”, disse, por seu turno, Fausto Silva, o director comercial da Adega, acrescentando que “o design dos rótulos mostra uma imagem limpa mas marcante, desprovida de elementos gráficos, que destaca o Tejo e o gradientes de cores com que nos brinda ao longo do dia.”.

Tal como aconteceu no Douro, o Tejo teve um papel importante para os vinhos da região que atravessa, e para os da adega do Cartaxo em particular, que eram encaminhados, depois de produzidos, para o grande curso de água para serem transportados, em barcos varinos, até Lisboa e de lá para as ex-colónias. Durante muito tempo, a capital foi alimentada, deste forma com vinhos e outros produtos ribatejanos. É isso que a Adega do Cartaxo procura continuar a fazer, com vinhos mais experimentais e inovadores.