Adega de Borba celebra “bodas de vinho”

Adega de Borba

Borba, uma das oito sub-regiões do Alentejo vitivinícola, foi, desde sempre, uma região com uma forte relação com a cultura da vinha e do vinho, legado deixado, há cerca de dois mil anos, pelos romanos. A herança persiste e “os habitantes daqui sempre sobreviveram à custa da uva e do vinho, digamos assim”, afirma Óscar […]

Borba, uma das oito sub-regiões do Alentejo vitivinícola, foi, desde sempre, uma região com uma forte relação com a cultura da vinha e do vinho, legado deixado, há cerca de dois mil anos, pelos romanos. A herança persiste e “os habitantes daqui sempre sobreviveram à custa da uva e do vinho, digamos assim”, afirma Óscar Gato, enólogo principal e membro do conselho de administração da Adega de Borba.

Como tal, em tempos idos, em Borba, os pequenos viticultores vendiam as uvas a outros viticultores e estes, por sua vez, faziam o vinho com matéria-prima própria e comprada. Parte da venda do produto ao consumidor final estava nas mãos dos intermediários, que, no fundo, detinham a mais-valia neste negócio. Mas esta ação nem sempre era consolidada, o que acarretava dificuldades aos produtores, as quais eram acrescidas “com o valor residual recebido em troca do vinho”, recorda Óscar Gato. Este cenário, comum em todo o país e, em particular, neste concelho alentejano quase raiano, determinou o surgimento do movimento do associativismo.
Face a esta realidade, em 1955, um grupo de 12 pessoas procedeu à escritura dos estatutos da Adega Cooperativa de Borba, uma das primeiras a ser constituída em Portugal. Cerca de três anos mais tarde, contavam com a participação de 60 viticultores, que, em 1958, entregaram as uvas todas a esta casa. Esse ano foi marcado pela produção de 500 mil litros de vinho e pela venda direta do produto ao consumidor final. Um ano depois, foi feito o primeiro ‘enogarrafonamento’ do vinho, ou seja, em vez da venda a granel, o vinho passou a ser vendido em garrafão, como explica o enólogo principal, relembrando que, à época, os ditos recipientes eram revestidos, no exterior, com palhinha. Como a reutilização estava tão em voga, o revestimento evoluiu para o plástico, para facilitar a higienização do garrafão. O primeiro enchimento em garrafa aconteceu em 1961, “a então famosa garrafa de litro com as cinco estrelas, que também era reutilizável”, relembra Óscar Gato.

Esta nova era incentivou a Junta Nacional da Vinha e do Vinho a promover um concurso de vinhos anual. A participação nestas competições por parte da Adega de Borba valeu-lhe a conquista de diversas distinções para brancos e tintos, como a recebida pelo célebre Reserva 1983. “Estes prémios alavancavam a notoriedade destes vinhos, de forma que chegassem aos grandes centros urbanos, nomeadamente a Lisboa, onde o consumo era muito maior”, frisa Óscar Gato.

 

Do total de 230 produtores de uva, 100 estão certificados no âmbito do Programa de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo e, simultaneamente, representam 85% da área total de vinha. “Destes sócios, a maioria começou, há 20 anos, com o sistema de Proteção Integrada”

 

2003, o ano do novo capítulo

Na década de 80 do século XX, a vinha, vincadamente tradicional, coassociada com oliveiras e árvores de fruta, passou a ter uma abordagem diferente, com a criação, em 1985, da Associação Técnica dos Viticultores do Alentejo (ATEVA). Constituída por engenheiros agrónomos, esta entidade tinha – e ainda tem – como objetivo apoiar os viticultores na transição da vinha tradicional para a vinha extreme. Ou seja, “vinha em contínuo, aramada, arrumada e com maiores condições para a mecanização”, esclarece Óscar Gato. Definir as castas principais, de modo a serem as eleitas na reestruturação da vinha, foi outro dos factores postos em prática pela ATEVA.

Um ano antes, em 1984, a Adega de Borba, tinha estabelecido normas quantitativas e qualitativas inerentes à produção. “Foi como arrumar a casa.” Assim, ficaram estabelecidas as operações que o viticultor tinha de aplicar no terreno com a tónica na qualidade do produto. Esta ação foi apenas o preâmbulo do que veio a acontecer poucos anos depois, o surgimento da Comissão Vitivinícola Regional Alentejana (CVRA) criada em 1989. “O primeiro vinho certificado pela CVR a chegar ao mercado foi um vinho branco da Adega de Borba, da colheita de 1989, um VQPRD Borba”, recorda Óscar Gato.

No começo do século XXI, é feito o investimento em infraestruturas, com a ampliação do edifício da adega, no sentido de dar resposta à crescente produção de vinho associada ao aumento do número de associados, tal como o fizeram décadas antes. Acresce a aquisição de barricas e de equipamento de vinificação e engarrafamento moderno e é dado um passo em frente no âmbito da profissionalização dos quadros da adega, com ênfase na parte económico-financeira, no controlo de qualidade, na enologia, bem como na criação da função de diretor-geral, entre outros cargos. “No fundo, foi feita a repartição de responsabilidades dentro da adega”, reforça o enólogo que, a partir de 2003, integra a equipa da casa. Estava aberto o novo capítulo da Adega de Borba, que passou a adotar um vincado carácter empresarial. Porém, as mudanças não ficaram por aqui.

20 anos de sustentabilidade

À época, contabilizavam-se três centenas de sócios. Hoje, são 230. De acordo com Óscar Gato, esta redução deve-se ao crescimento do escalão etário atual dos viticultores, embora haja “alguns jovens com interesse e/ou herança nesta cultura”. O número de associados traduz-se em 2200 hectares de vinha, dos quais 70% estão ocupados por castas tintas, enquanto os restantes 30% estão reservados às brancas, num total de cerca de 40 variedades de uva distribuídas pelas 1600 parcelas espalhadas pelos concelhos de Borba, Estremoz, Sousel, Terrugem (no concelho de Elvas), Vila Viçosa, Alandroal.

Do total de 230 produtores de uva, 100 estão certificados no âmbito do Programa de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo e, simultaneamente, representam 85% da área total de vinha. “Destes sócios, a maioria começou, há 20 anos, com o sistema de Proteção Integrada e já com cuidados acrescidos na instalação da vinha, na escolha do porta-enxerto mais aconselhado e nas castas que interessam ao viticultor, enquanto produtor de uva, mas também sob o ponto de vista enológico”, elucida Óscar Gato. Do ponto de vista sanitário, o enólogo principal da Adega de Borba destaca a supressão de produtos fitossanitários agressivos para a fauna e a flora, ação assumida desde 2005, na vinha. “Este sistema de Proteção Integrada rapidamente evolui para Produção Integrada, com regras ainda mais exigentes, como o enrelvamento, pelo menos, em linhas intercaladas”, pelo que quando a Adega de Borba passou a fazer parte do Programa de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo “já vinha com muita sustentabilidade”, ou seja, esta responsabilização ambiental começou muito antes, em 2005. Poupança da água e da energia, reciclagem de cartão, plástico e vidro, controlo natural de temperatura e não inclusão dos aparelhos de ar condicionado são algumas das medidas implementadas desde então.
Óscar Gato dá ainda como exemplo a nova adega. Concluído em 2012, este edifício está munido com claraboia, para facilitar a entrada de luz e minimizar o desperdício de eletricidade; um enorme pé direito, com uma caixa de ar que permite o controlo das amplitudes térmicas, sem ter de se recorrer à instalação de aparelhos de ar condicionado; parte do topo tem enrelvamento, com o propósito manter a baixa temperatura no interior; e as paredes exteriores estão revestidas com alvéolos de mármore, que fazem ensombramento, com a finalidade de evitar a incidência direta da luz solar.

Tudo isto permitiu que Borba fosse a primeira adega cooperativa do Alentejo a ser certificada em uva e em vinho, ambos a 100%, a partir da colheita de 2020, no contexto do Programa de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo.

“Sempre se consideraram produtores de uva, para fazer vinho. No fundo, os proprietários da adega são os associados”, enaltece Óscar Gato

 

O solo, o clima e as serras

“Podemos afirmar que estamos numa zona privilegiada, porque basicamente estamos entre duas serras, o que acaba por marcar muito o terroir de Borba. A sul, temos a serra d’Ossa e, a norte, está a serra de Portalegre”, descreve Ricardo Silva, enólogo da Adega de Borba desde 2024 e membro do conselho de administração desta casa. Ou seja, cada uma dista, respetivamente e em linha reta, cinco e 50 quilómetros de Borba.
“Além de estarmos entre estas duas serras e de grande parte das nossas vinhas se situar a uma altitude média de 400 metros – estamos num planalto, que é o eixo dos mármores –, que liga Sousel a Vila Viçosa, temos, essencialmente, dois tipos de solos: os argilo-xistosos e os argilo-calcários”, continua Ricardo Silva. O planalto é um maciço calcário que faz a transição para o xisto, dando origem a solos “mais delgados”, nas palavras de Óscar Gato, a sul, e a argila, mais a norte, convertida em solos mais férteis.

O mais recente enólogo da Adega de Borba foca a importância das grandes amplitudes térmicas: “temos dias com 40 °C e noites de 18, 20 °C.” Realça ainda os benefícios dos nevoeiros matinais quase diários na parte sul, onde há um vale, junto à serra d’Ossa. “Isso permite que a maturação das uvas ocorra de uma forma mais controlada. Conseguimos não ter tanta degradação dos ácidos, a maturação fenólica acaba por acompanhar a maturação alcoólica e isto resulta em vinhos com uma acidez mais natural, uma fruta mais pura, mais expressiva. Não temos uvas excessivamente maduras ou muito desidratadas”, declara Ricardo Silva. Estão, assim, reunidas as condições benéficas para a vinha e para o vinho, em relação ao qual Óscar Gato evidencia a frescura conferida pela acidez natural das uvas.
Em jeito de conclusão, o enólogo principal da Adega de Borba enumera três palavras-chave no que toca aos vinhos da Adega de Borba: equilíbrio, estrutura e elegância.

Vindima de filigrana

Desde há seis anos que Óscar Gato e a sua equipa elucidam cada viticultor para a compra de plantas certificadas, com o propósito de ficar com o registo da casta e do clone associado a cada uma, bem como do porta-enxerto, com o respetivo clone. Esta informação permite abrir caminho a experiências no terreno, no sentido de “perceber a adaptação cultural desta casta com este clone, com este porta-enxerto nos diferentes terroirs”, fundamenta o enólogo principal. Ao fim de cinco anos, já é possível obter a informação necessária acerca de cada clone.
“Por isso, é que nós olhamos para esta adega como uma empresa há muitos anos”, reforça Óscar Gato. Neste contexto, ambos falam sobre quão relevante é informar os sócios nas assembleias gerais, em reuniões e nas ações de formação, através das quais todos também têm acesso à grelha de valorização respeitantes a cada variedade de uva, a qual permite otimizar eficazmente a vinha.

À informação, soma-se a mais-valia de segregar e rastrear. A Adega de Borba detém toda a informação sobre cada garrafa que está à venda, assim como o registo acerca de todas as vinhas dos viticultores, através dos cadernos de campo de cada um. Na etapa final, mais concretamente na fase da maturação das uvas, cada associado dirige-se à Adega de Borba, para deixar amostras dos bagos, para análise. “Consoante o resultado obtido, são informados sobre quando a vindima é recomendável”, diz o enólogo principal.
A minúcia do trabalho realizado na Adega de Borba começa na vinha. E a vindima é o expoente máximo da vida de cada viticultor associado. “Apesar da nossa dimensão, conseguimos fazer vinificações separadas, casta por casta, por tipos de solo, em volumes maiores, em volumes mais pequenos, com grande precisão”, assegura Ricardo Silva.

A responsabilização por parte dos associados não fica por aqui. “Todos os sócios têm de entregar a totalidade da uva à adega. Não podem vender uvas a terceiros. Se o fizerem, não estão a cumprir com os estatutos e podem ser excluídos”, afirma Óscar Gato. Em contrapartida, “mesmo em anos difíceis, a adega não compra vinho a terceiros”, garante.
O enólogo principal da casa assegura ainda que os produtores de uvas encaram a Adega de Borba como muito mais do que o local onde é depositada a matéria-prima. “Sempre se consideraram produtores de uva, para fazer vinho. No fundo, os proprietários da adega são os associados”, enaltece Óscar Gato. A somar à venda da uva, cada associado é embaixador do vinho da Adega de Borba, que não assume apenas o papel de receber as uvas e as transformar em vinho. Há ainda o compromisso do pagamento. “Somos das poucas adegas do país a pagar as uvas a tempo e horas. O viticultor vê o trabalho recompensado através do que recebe pelas uvas e essencialmente por receber o dinheiro atempadamente. Antes de começar a vindima do ano seguinte, tem as uvas do ano interior pagas”, afiança Ricardo Silva.

Afiança Óscar Gato: “nós, neste momento, não temos falta de vinho branco para o mercado. Porquê? Porque estamos regulados com o mercado.”

 

Branco ou tinto?

Segundo Óscar Gato, nos anos 1950, Borba teria sensivelmente 50% de castas brancas e 50% de variedades tintas. “Se recuarmos mais no tempo, é provável que cheguemos à conclusão que teríamos 60% de [castas] brancas e 40% de tintas”, analisa. Certo é que, face ao panorama nacional, o vinho tinto foi conquistando terreno, em consequência das exigências do mercado.
No contexto da Adega de Borba, nas últimas duas décadas, o trabalho efetuado a par com os associados tem servido de pêndulo, com o propósito de regular a quantidade de castas brancas e tintas plantadas nas vinhas, consoante as necessidades da casa septuagenária. Afiança Óscar Gato: “nós, neste momento, não temos falta de vinho branco para o mercado. Porquê? Porque estamos regulados com o mercado.”

O teor alcoólico do vinho, muitas vezes determinado pelas condições climáticas, é outra das questões em debate. Contudo, “dentro do Alentejo, somos um bocadinho privilegiados, porque temos a possibilidade de colher uvas brancas, por exemplo, com 11 ou 11,5 °C e com boa maturação, e isso reflete-se na nossa grelha de valorização”, assevera Ricardo Silva. De acordo com esta tabela, os viticultores que entregarem uva entre os 11 e os 13 °C recebem 100% da valorização, enquanto nos tintos a mesma condição é estabelecida às uvas com grau alcoólico entre 12 e 15 °C. Para a base de espumante, o desafio é apresentado a um associado específico, as uvas podem entrar na Adega de Borba com 10,5 °C. Neste caso, “valorizamos a 100%, porque é uma necessidade nossa”, reforça Ricardo Silva.

Na base dos vinhos brancos constam três variedades autóctones do Alentejo: Roupeiro, Rabo de Ovelha e Antão Vaz. A este trio junta-se a Arinto. A Adega de Borba conta igualmente com outras variedades adaptadas a esta sub-região, como Alvarinho, Loureiro, Gouveio, Verdelho, Encruzado, Riesling e Viognier, que representam 10% a 15% do encepamento. Nos tintos, a Aragonez possui, de longe, a maior representatividade no universo dos associados da Adega de Borba. Seguem-se a Syrah, a Alicante Bouschet, a Trincadeira, a Periquita e a Touriga Nacional.

Diversidade e rejuvenescimento

Ao longo dos últimos anos, a Adega de Borba tem alinhado o perfil dos vinhos com o preço. Nas palavras de Óscar Gato, é dada uma atenção especial à relação qualidade/preço: “temos vindo a oferecer diversidade ao nosso consumidor a um preço justo e o preço justo é o reconhecimento do preço real do mercado do vinho.”

Dentro dos 11 milhões de litros de vinho produzidos, em média, todos os anos, Ricardo Silva avança: “temos os nossos produtos tradicionais, mas também temos de ter capacidade de estar atentos às tendências do mercado.” O borbic – produto, cuja base é o Adega de Borba licoroso branco, ao qual são adicionados água tónica q.b., gelo e hortelã – é um desses exemplos. A este segue-se o lançamento, para breve de, pelo menos, dois outros produtos, a pensar na nova geração de consumidores. O enólogo defende a comunicação dirigida aos jovens, através da produção de “vinhos com menor teor alcoólico e uma imagem mais forte”. A gama Senses, nome atribuído aos monovarietais da Adega de Borba, serve como modelo neste contexto, igualmente graças à nova imagem, “totalmente disruptiva”, segundo Ricardo Silva, apresentada ao mercado no dia 6 de agosto, com a colheita Senses Viognier 2024.
Por outro lado, importa evidenciar as joias da coroa da Adega de Borba, como as cinco aguardentes (três bagaceiras e duas vínicas) ou o Reserva, com o icónico rótulo de cortiça, que, com a passagem do tempo, tem vindo a ser modernizado. “Não é uma inovação, mas sim o rejuvenescimento da tradição”, defende Óscar Gato, referindo-se a esta linha, cuja primeira colheita data de 1964.

Já o vinho de talha, processo ancestral adequado aos novos tempos, sobretudo quando o enfoque está no baixo teor alcoólico, é feito desde 2015, ano da primeira colheita do tinto. “Mas nem todos os anos comercializamos vinhos de talha e sobre a alçada do designativo Vinho de Talha Alentejo, só a partir de 2017” A primeira colheita de branco é de 2021.
Naturalmente, são sempre de evidenciar as edições de vinhos mais raros e especiais, como os recentemente apresentados (e provados na edição de junho desta revista) para comemorar, precisamente, os 70 anos da casa: Havendo Tempo, branco de 2023 e tinto de 2021, e Adega Cooperativa de Borba Edição Especial, branco de 2021 e tinto de 2011, este último recuperando a rotulagem dos primeiros anos de atividade da adega.

E como a comida é parte substancial do vinho, o enólogo principal assegura que a Adega de Borba tem capacidade de resposta. Prova maior está no Restaurante Adega de Borba, meca da gastronomia alentejana e da arte de bem cozinhar, situado paredes meias com a loja de vinhos. Eis duas montras do portefólio vínico da casa, que podem ser degustados in situ ou na sala de provas da adega erguida em 2012, a qual dista aproximadamente 350 metros da original.

Adega de Borba

 

Óscar Gato dá ainda como exemplo a nova adega. Concluído em 2012, este edifício está munido (…) um enorme pé direito, com uma caixa de ar que permite o controlo das amplitudes térmicas, sem ter de se recorrer à instalação de aparelhos de ar condicionado

 

Casa septuagenária de boa saúde

A avaliar pela imagem do novo rótulo da gama Senses e pela integração do jovem enólogo Ricardo Silva no conselho de administração, a análise feita à Adega de Borba é promissora. Embora ocupe o cargo há um ano, já faz parte desta casa há 20 anos. “O meu pai é viticultor associado da Adega de Borba. Sempre o acompanhei e estive sempre muito próximo da adega.”

Para Ricardo Silva, foi como voltar às raízes, acima de tudo pelos valores, destacando o rigor e o profissionalismo do trabalho efetuado dentro da Adega de Borba desde 2003. “Por isso, vejo os próximos 70 anos a serem feitos como os últimos 20: a inovar e a não ter medo de experimentar, mas sempre com o sentido crítico e o rigor em relação à viticultura e à gestão, dois elementos fundamentais para que uma cooperativa tenha sucesso. Tudo o resto tem a ver com o trabalho efetuado pela empresa”

Óscar Gato, a exercer funções na Adega de Borba desde 2003, enfatiza a importância de uma cooperativa ser gerida como uma empresa: “tem de haver custos, receitas, despesas… A distribuição é feita pelos donos da cooperativa, que são os associados.” O enólogo principal salienta ainda a importância de manter o interesse dos mais jovens na atividade vitícola, “porque é necessário manter a paisagem vitícola, para evitar a desertificação e garantir a sustentabilidade social, ou seja, preservar a família e quem trabalha na vinha”. Sem esquecer a questão ambiental, fundamental no contexto da proteção do ecossistema e, em particular, das videiras, nem a parte económica, que assegura a permanência da residência dos locais. “Esta passagem de testemunho para as gerações vindouras é fundamental para manter o negócio da uva e do vinho”, remata.

 

(Artigo publicado na edição de Setembro de 2025)

 

VICENTINO: Vinhas e hortas à beira-mar

Vicentino

As vinhas, ainda que ocupando 60 hectares, parecem ser um parceiro muito discreto neste gigante universo agrícola, muito vocacionado para exportar quase toda a produção. Dizemos discreto, porque a vinha está ali, sossegada no concelho de Odemira, na Costa Vicentina, enquanto o frenesi de chegada e partida de carregamentos em camiões TIR impressiona o visitante. […]

As vinhas, ainda que ocupando 60 hectares, parecem ser um parceiro muito discreto neste gigante universo agrícola, muito vocacionado para exportar quase toda a produção. Dizemos discreto, porque a vinha está ali, sossegada no concelho de Odemira, na Costa Vicentina, enquanto o frenesi de chegada e partida de carregamentos em camiões TIR impressiona o visitante. Falamos da FRUPOR, empresa responsável por alguns alimentos frescos que encontramos no supermercado e muitas das verduras das floristas.

O gosto do vinho era antigo e o norueguês Ole Martin Siem, o proprietário, começou a interessar-se pelas potencialidades daquela zona localizada perto do mar, para gerar vinhos de grande qualidade. Mas, tal como nos confirmou, mais importante do que começar por fazer uma adega state of art, era ter boas uvas e boa maneira de as fazer chegar nas melhores condições à adega. Durante vários anos, tiveram de recorrer a adega alugada (Perescuma), mas, finalmente, a nova adega está a funcionar, “sem ousadias arquitectónicas, uma vez que o mais importante é a câmara de frio para arrefecer as uvas, as boas condições da adega, com cubas de inox e cimento, barricas quantas as necessárias. Tudo funcional”, relembra-nos o produtor. É secundado por Bernardo Cabral, o enólogo responsável pelos vinhos e líder de uma equipa, da qual faz parte Ana Rita Bouça, enóloga, que também assegura os comandos do laboratório e com quem já tinha trabalhado com ele nos Açores, além de Jorge Martins, na viticultura, e Pedro Cavaleiro, na área comercial.

Vicentino
Ole Martin Siem

Contrariamente ao que é habitual, a adega está sobredimensionada, porque há ainda o objectivo de fazer prestação de serviços para terceiros. Não tem um restaurante associado, mas, na loja, podem servir-se petiscos regionais, para acompanhar os vinhos servidos aos visitantes. Foi aí exactamente que fizemos as provas. Ter a adega no meio da vinha tem enormes vantagens. Bernardo Cabral recorda: “como temos boas câmaras de frio podemos ir programando a vindima paulatinamente, parcela por parcela.” A vindima estende-se, assim, por um mês e meio, sem pressas.

Nesta zona de forte influência marítima, os brancos ganham uma enorme importância, nomeadamente os que são feitos a partir da casta Sauvignon Blanc. As neblinas que trazem a maresia para terra fazem toda a diferença, “e quando elas não vêm, os vinhos ficam diferentes e menos ricos”, explica o enólogo. A Sauvignon Blanc tornou-se assim a casta-emblema da casa, produzida pela primeira vez em que 2014, logo seguida, em 2015, pela Pinot Noir, a tal casta difícil, grande apreciadora de climas mais frescos. Era também inevitável que a Alvarinho aportasse, agora que se tornou uma variedade a que todos querem chegar. Para complementar este ramalhete, destacam-se a Chardonnay, variedade procurada por todos, na tentativa de fazer um branco de carácter borgonhês.

O projecto pode ser viável, até porque existe uma amizade pessoal entre o produtor do Vicentino e Henri Boilot, conhecido e famoso produtor da Borgonha. Da sua propriedade foram trazidas varas daquela casta, bem como barricas de segunda utilização, para aqui se fazer um Vicentino de perfil “afrancesado”. O projecto está em curso, o vinho já existe, mas não o incluímos nas notas de prova, uma vez que sugere precisar de tempo em garrafa para afinar; a prova fica para mais tarde. A curiosidade foi Henri Boilot, que marcou presença e provou o vinho produzido com a casta Sauvignon Blanc, ter afirmado: “finalmente, provei um bom Sauvignon Blanc!” À frase é preciso descontar o pouco valor que em França se dá aos vinhos de outra região que não a própria… Fica o comentário elogioso, sem dúvida.

 

A casta Sauvignon Blanc tornou-se a marca-emblema da casa, o vinho foi produzido pela primeira vez em 2014, logo seguido, em 2015, pelo Pinot Noir

 

Sauvignon em destaque

O vinho de Sauvignon Blanc produzido pela Vicentino integra-se na família das Sauvignon de perfil aromático pleno de vegetais verdes, com notas apimentadas, no qual estão ausentes as notas de fruta tropical mais habituais nos vinhos mais gordos e mais maduros, mais característicos do interior do que da costa. A influência do mar, da neblina e a temperatura mais amena são determinantes para o perfil da casta. Os estafados descritores relacionados com o sal podem ser usados com propriedade, já que estamos a escassas centenas de metros do mar, em arribas selvagens e inóspitas, mas, também por isso, tão atractivas.

Aquando da nossa visita, a vinha estava em plena “explosão” vegetativa, com um crescimento “que se vê dia-a-dia”, como nos disse Jorge Martins, também muito satisfeito com o trabalho de reenxertia de algumas castas, a qual se optou por abandonar, como a Fernão Pires. Estar perto do mar tem vantagens, mas é uma dor de cabeça permanente em virtude da propagação das doenças da vinha, como o míldio e o oídio. Optou-se por uma atitude racional e não fundamentalista: quando é preciso intervém-se, com o objectivo último de salvar a produção. As vinhas mais novas têm herbicida nas linhas, porque o entre-cêpas acaba por cortar tudo a eito e a dimensão da vinha não permite um trabalho manual. Já nos espaços entre as filas de videiras, houve o cuidado de permitir o desenvolvimento vegetativo, que possa enriquecer, arejar e vivificar o solo, permitindo uma competição (moderada) com a cêpa.

Se o gosto do consumidor for para vinhos tintos muito estruturados, concentrados e muito ricos, com forte presença de madeira e taninos em evidência, então este não é destino certo. Favorecidos pelo mar, o conceito é outro, mais elegante, mais fino, menos denso. Para sorte (ou não) de Ole Martin Siem, esta é a tendência actual. Provavelmente por isso, as exportações têm cada vez mais significado, quer para a Europa Central, quer para os Estados Unidos e o Brasil. A sorte, como sabemos, dá imenso trabalho e esse, por aqui, não falta.

Da Borgonha trouxeram-se varas e barricas para fazer aqui um Chardonnay de inspiração francesa

 

500 hectares em produção

A vinha onde se colhem as uvas utilizadas na produção do vinho Vicentino está inserida num complexo agrícola de grandes dimensões. É aqui, bem perto da Zambujeira do Mar e a poucas centenas de metros da falésia, onde encontramos a casa outrora pertença de Amália Rodrigues, que ficam os campos agrícolas e as estufas de Ole Martin Siem, há quatro décadas em Portugal. O proprietário recorda-nos: “quando aqui cheguei, eu era o único estrangeiro. Hoje, temos trabalhadores de 15 nacionalidades no nosso projecto”.

A actividade agrícola estende-se desde a produção de couve chinesa e cenouras baby, até fetos, eucaliptos ornamentais e verduras para os ramos de flores que compramos nas floristas. Falamos então de 500 hectares de terra e 400 trabalhadores. A alimentação de tanta gente é assegurada, quer pela cantina fixa, quer pelas cantinas móveis, que se dirigem às zonas mais afastadas onde estão os funcionários da empresa. A actividade e circulação de pessoas é intensa e são diários os camiões TIR que ali carregam caixas com legumes ou verduras, posteriormente exportadas para os Países Baixos e de lá distribuídas para toda a Europa. Ao fim da tarde, chegam vários autocarros de passageiros, que levarão de volta os trabalhadores aos seus aposentos. O complexo funciona de uma forma muito “oleado” e inclui um espaço de turismo rural. Em breve, este alojamento será alargado a um hotel. A vinha ocupa 60 hectares e a selecção de castas foi muito abrangente, incluindo nacionais e de fora. Assim, temos Alvarinho, Arinto, Viosinho, Sauvignon Blanc e Chardonnay, nos brancos e, nos tintos, Touriga Nacional, Aragonez, Pinot Noir, Syrah, Alicante Bouschet e Merlot. Actualmente, são 16 as referências que constam no portfolio, as quais são distribuídas por cinco gamas: Poente, Nascente, Neblina, Luar e Naked (gama de vinhos sem madeira).

(Artigo publicado na edição de Agosto de 2025)

 

DONA DORINDA: Pixie, Qué Será, Será…

Dona Dorinda

“Qué será, será Whatever will be, will be The future’s not ours to see Qué será, será What will be, will be”   O leitor mais atento, que seja igualmente fã de música, não pode ter deixado de trautear o famoso refrão “Qué será, será” celebrizado pela cantora norte-americana Doris Day em 1956, e reinterpretado, […]

“Qué será, será

Whatever will be, will be

The future’s not ours to see

Qué será, será

What will be, will be”

 

O leitor mais atento, que seja igualmente fã de música, não pode ter deixado de trautear o famoso refrão “Qué será, será” celebrizado pela cantora norte-americana Doris Day em 1956, e reinterpretado, décadas mais tarde, pela não menos famosa banda Pixies, tal como eu, fã assumido do quarteto de Boston, Massachussets, fundado em 1986. Na verdade, foi mesmo a primeira coisa em que pensei quando me atribuíram esta cobertura jornalística do vinho Pixie.

Com uma combinação única de energia, melodias pop com estruturas musicais imprevisíveis, letras surrealistas e a famosa dinâmica quiet-loud-quiet, onde as canções alternam entre versos calmos e refrões explosivos, os Pixies deixaram uma marca indelével na história da música, estabelecendo-se como uma das bandas mais icónicas e influentes do rock alternativo, servindo, inclusive, de assumida inspiração a bandas não menos icónicas como Nirvana ou Radiohead. Mas e o que é que os Pixies poderão ter em comum com o vinho Pixie, para além da evidente semelhança do nome?

A propriedade totaliza 60 hectares, sendo apenas 8,5 hectares dedicados à vinha

 

ESTILO INOVADOR

Na verdade, tal como os Pixies, com o seu estilo inovador e dinâmicas contrastantes, ajudaram a moldar o som do rock alternativo dos anos 1990, influenciando toda uma geração de bandas que seguiram o seu exemplo, há 25 anos atrás, na Quinta Nossa Senhora da Conceição, uma pequena propriedade no coração do Alentejo, Évora, de onde os recém-lançados vinhos Pixie são oriundos, foi tomada a decisão de abandonar completamente o uso de pesticidas e herbicidas, bem como de implementar práticas biodinâmicas e biológicas.

Convenhamos que, no Portugal vínico de 1999, os termos agricultura biológica e orgânica, produção biodinâmica, substituição de herbicidas, fungicidas e pesticidas sintéticos por preparados naturais, se calhar soava tão disruptivo como o som dos Pixies.

Chegando de Lisboa, um pouco antes de entrar em Évora, viramos à esquerda e tomamos a estrada para Arraiolos, para passado pouco tempo encontrar a Quinta Nossa Senhora da Conceição, numa localidade chamada Valbom do Rouxinol, ladeada pelo Aqueduto romano e confinando adiante com a Cartuxa.

Mark e Dorinda Winkelman são os proprietários. Um casal norte-americano residente nos Estados Unidos, que adquiririu a propriedade há um quarto de século e vêm ao Alentejo mais para usufruir e sentir as boas energias do sítio, do que propriamente para gerir alguma coisa. Essa parte está (bem) assegurada pelo seu braço direito Vítor Conceição, administrador, e Eduardo Cardeal, enólogo.

Victor Conceição está à frente do projecto desde 2006. Nascido e criado na cidade de Évora, conhece a região e o valor daquela terra como ninguém: “Esta zona de Valbom, também conhecida por Valverde, onde estamos, juntamente com o Convento da Cartuxa e a Fundação Eugénio de Almeida, possuía as hortas e vinhas que abasteciam a cidade romana de Évora e outras cidades do Império”, ou seja, conta com dois mil anos de tradição, pelo menos.

A propriedade totaliza 60 hectares, sendo apenas 8,5 hectares dedicados à vinha, onde se inclui a famosa Vinha Meia-Lua, com 2,5 hectares, plantada em 2005 numa pequena elevação, aproveitando todo o declive orográfico (280 a 295 metros altitude); solos de argila vermelha com algum xisto, grande espaçamento entre as plantas, cordão duplo a boa altura em relação ao solo, de forma a maximizar a ventilação, exposição e minimizar o risco de doenças fúngicas, coberto vegetal de ervas locais, contribuindo para a diversidade de vida nos solos, bem como evitando a erosão nas filas de vinhas que se encontram no cimo da elevação.

Os restantes seis hectares de vinha, mais recente, inserem-se dentro da mesma filosofia de viticultura, isto é, de acordo com os princípios do cultivo biológico e biodinâmico, uma vez que, é bom lembrar, a Dona Dorinda Organic Wines possui certificação quer na Europa, quer nos Estados Unidos.

Infusões, misturas e sprays biodinâmicos são utilizados na vinha desde 2007, numa fase preventiva, e todos os trabalhos são realizados segundo o calendário lunar; a monda de cachos, efectuada anualmente, é realizada com o objetivo claro de criar vinhos concentrados e com grande capacidade de guarda; vindimas nocturnas são regra da casa, para aproveitar a excelente amplitude térmica do terroir Dona Dorinda, sob clara influência da Serra d’Ossa, a pouco mais de 30 km em linha recta.

O resto da propriedade “é um pequeno paraíso” referem Vítor e Eduardo, mais de duas mil árvores plantadas a pensar nas futuras gerações, e toda a quinta é um ecossistema vivo e vibrante, composto por montado típico alentejano, que serve de alimento aos porcos pretos, onde vacas pastam pacificamente e o estrume produzido alimenta as vinhas. Cães Rafeiro Alentejano descansam pelas sombras durante o dia e guardam a propriedade durante a noite, mas existe também toda uma grande diversidade de pequenos animais, aves autóctones, insectos, etc.

Dona Dorinda

SYRAH E VIOGNIER

Quanto à escolha das castas a plantar, foi a decisão mais fácil de tomar, ou não fosse Mark, para além de um grande conhecedor e colecionador de vinhos do mundo, um apaixonado pelo Rhône e, como tal, não podiam ser outras que não fossem Syrah e Viognier. Podemos questionar-nos se serão, ou não, as castas indicadas para o Alentejo de Évora, especialmente a Viognier, casta com uma acidez natural baixa e que rapidamente dispara os açúcares se não for vindimada no momento exacto, sendo até preferível uma vindima ligeiramente precoce, para não correr o risco de obter um vinho chato, mole e sem vida. Mas a minha opinião é que devemos respeitar sempre a decisão do produtor. Ainda para mais quando é tomada com uma forte componente emocional e de paixão, como foi o caso.

A Dona Dorinda Organic Wines apresentou Pixie, a nova gama de entrada da marca: um branco, um rosé e um tinto criados com o propósito de tornar o universo encantado da Dona Dorinda acessível a mais pessoas, sem perder a autenticidade que distingue cada garrafa da casa. Este lançamento só foi possível graças à recente expansão da área de vinha, que passou de 2,5 hectares para 8,5 hectares, permitindo aumentar a produção e dar origem a novos vinhos que reflectem a mesma paixão, mas agora com uma abordagem mais leve, descontraída e inclusiva.

E afinal de contas quem é a Pixie?! A resposta é clara – Dorinda Winkelman, a proprietária da Quinta Nossa Senhora da Conceição e da Dona Dorinda Organic Wines. Com o seu espírito livre, sensibilidade estética e ligação profunda à natureza, sempre foi apelidada carinhosamente entre amigos e família como “Pixie” – palavra inglesa para “fada”, símbolo de encanto, leveza e magia. E é, precisamente, essa energia que a nova gama pretende engarrafar! Por mim, está mais que conseguido!

(Artigo publicado na edição de Julho de 2025)

ADEGA DE BORBA: Havendo tempo serão mais 70

Adega de Borba

A Adega de Borba tem sabido, desde que foi fundada, e ao longo dos últimos 70 anos, investir na melhoria do seu sistema produtivo e comercial e da sua oferta, para sustentar, com sucesso, o seu negócio e prepará-lo para os desafios do futuro. Segundo nos contou Óscar Gato, o enólogo desta adega, um dos […]

A Adega de Borba tem sabido, desde que foi fundada, e ao longo dos últimos 70 anos, investir na melhoria do seu sistema produtivo e comercial e da sua oferta, para sustentar, com sucesso, o seu negócio e prepará-lo para os desafios do futuro. Segundo nos contou Óscar Gato, o enólogo desta adega, um dos factores que contribuiu para que os vitivinicultores da região se associassem, em 1955, foi a dificuldade que tinham para a comercialização dos seus vinhos. O outro foi incentivo estatal dado, na época, pela Junta Nacional do Vinho, ao associativismo no sector, que contribuiu para a constituição desta e de outras adegas no Alentejo. Também foi um empurrão fundamental para o seu desenvolvimento e a base do protagonismo que o sector tem hoje na região, dado que sustentou a organização e equipamento das suas unidades industriais e a implementação dos seus sistemas de comercialização.

Os primeiros vinhos da Adega de Borba foram lançados no final da década de 50. 

 

Os primeiros vinhos

Os primeiros vinhos da Adega de Borba foram lançados no final da década de 50. A partir daí, a área de vinha e o número de sócios da Adega de Borba foi sempre crescendo, à medida que iam decorrendo diversas mudanças na sua estrutura produtiva, até ao modelo actual.
Com o tempo as vinhas deixaram de estar consociadas com o olival, algumas árvores de fruto e outras, e passaram a ser estremes. A chegada dos primeiros fundos europeus, na década de 1980, contribuiu para que todas passassem a estar alinhadas e aramadas. Veio também a separação das variedades tintas e brancas no terreno, a plantação por casta, tal como se vê hoje, e a opção por vender o vinho embalado. Era preciso responder a consumidores cada vez mais informados e exigentes, num mercado global que procurava, cada vez mais, produtos de qualidade.

Em paralelo continuou o crescimento da área de vinha, que se estabilizou nos cerca de 2200 hectares actuais há cerca de 20 anos. Desenvolve-se nos concelhos de Borba e Estremoz, mas também se insinua nos de Vila Viçosa, Elvas, Monforte e Sousel, que os limitam. São sobretudo terras de planalto, solos calcários que ficam sobre o Complexo Vulcano Sedimentar Carbonatado de Estremoz, aquele que origina o mármore distinto de Estremoz, que é Pedra Património Mundial pela Unesco. Mas também se desenvolvem num vale de solos xistosos em direção à Serra de Ossa, que ali fica bem perto, a cerca de cinco quilómetros para sudoeste. É sobre estas duas zonas que ficam as cerca de 1600 parcelas de vinha dos associados da Adega de Borba.

Saber acumulado

No ano em que celebra sete décadas desde a sua fundação, a Adega de Borba lançou o vinho comemorativo Havendo Tempo. “Este vinho nasce do tempo que se respeita e do tempo que se guarda”, disse Óscar Gato, enólogo da Adega de Borba, durante o evento de lançamento, acrescentando que “cada garrafa encerra o saber acumulado de décadas e a atenção que dedicamos a cada detalhe, da vinha até à cave”, para criar “um vinho pensado para quem sabe esperar”. Havendo Tempo presta homenagem à filosofia de vida das gentes alentejanas e ao tempo investido em cada garrafa, ao longo de sete décadas de história.

Disponível nas versões tinto 2021 e branco 2023, esta edição especial reflecte o espírito da região e o saber acumulado ao longo de gerações, dado que é um tributo à forma como se vive e trabalha no Alentejo, com calma, atenção ao detalhe e respeito pelo ritmo da natureza. Produzidas a partir de castas tradicionais da região e sujeitas a estágios prolongados em barrica e garrafa, as colheitas desta gama foram pensadas para serem apreciadas com calma, tempo e em boa companhia. Em paralelo também foram apresentadas as edições especiais tintas e brancas do Adega Cooperativa de Borba, rotuladas com imagem antiga destes vinhos.

(Artigo publicado na edição de Julho de 2025)

Herdade dos Grous: Um Alentejo sustentável

Herdade dos Grous

A produção agrícola da Herdade dos Grous está ligada, de forma indelével, ao trabalho feito por Luis Duarte, 59 anos, gerente e enólogo principal da empresa desde que ali começou a plantar as primeiras vinhas. Sempre com olho no terroir, tem usado tudo o que aprendeu no curso que tirou em Vila Real, nos muitos […]

A produção agrícola da Herdade dos Grous está ligada, de forma indelével, ao trabalho feito por Luis Duarte, 59 anos, gerente e enólogo principal da empresa desde que ali começou a plantar as primeiras vinhas. Sempre com olho no terroir, tem usado tudo o que aprendeu no curso que tirou em Vila Real, nos muitos anos em que esteve no Esporão e desde 2004 até hoje, experimentando e fazendo, para produzir vinhos de qualidade, sem descurar o mercado, e com o seu cunho. E fez isso apostando, desde o início, na sustentabilidade, melhorando os solos da propriedade, usando ovelhas para eliminar as ervas e acrescentar matéria orgânica e criando, entre outros, condições para atrair morcegos, para darem o seu contributo na eliminação de pragas. Tudo isto acreditando que as empresas se gerem melhor com regras estabelecidas, e que as certificações de qualidade, sustentabilidade e outras contribuem para tudo acontecer de forma mais fluída e fácil para fornecedores, colaboradores e clientes. Desde que chegou, a empresa tem dado sempre lucros, apesar dos investimentos que têm sido feitos em terras e noutras áreas de negócio, como a produção de azeite e gado.

Herdade dos Grous

Hoje a Herdade dos Grous vende os seus vinhos sobretudo em Portugal, e 40% da sua produção anual para mais 24 países

 

Vinhos e hotelaria

Luis Duarte começou por ser consultor da empresa em 2002. Naquela altura ainda trabalhava na equipa da enologia da Herdade do Esporão, mas já tinha liberdade para fazer algumas consultorias para produtores, onde se incluíam a Quinta do Mouro, em Estremoz, ou a Herdade Grande, na Vidigueira.
“Comecei por dar aqui um apoio na plantação das vinhas”, conta, acrescentando que foram inicialmente 21 hectares, que foram crescendo, ao longo do tempo, para os 133 hectares actuais.
Em 2004 saiu do Esporão em definitivo e assumiu o projecto. No ano seguinte lançou os primeiros vinhos, um Herdade dos Grous e um Herdade dos Grous Reserva, ambos tintos. O segundo, feito, na altura, com uvas da primeira vinha que plantou, ainda muito nova, ganhou o prémio de Melhor Vinho do Alentejo. Para Luís Duarte, foi sorte e “um bom presságio para o futuro”, que “demonstrou que a qualidade do vinho era boa” e contribuiu para alavancar um projecto que começou “bastante bem” logo desde o início.

Nessa altura a propriedade tinha cerca de 500 hectares e incluía um hotel dividido em dois blocos, tal como acontece hoje. Está integrado nos Hotéis Vila Vita, tal como a unidade de Armação de Pêra, no Algarve e outras que o grupo detém também na Alemanha e Áustria, que oferecem mais de 650 quartos, para além de restaurantes e bares. Apesar de estarem disponíveis para o público em geral, destinam-se sobretudo a incentivos para os mais de 50 mil colaboradores da Deutsche Vermögensberatung, empresa de serviços de consultoria financeira com sede em Frankfurt, na Alemanha. Fundada em 1975 por Reinfried Pohl, este gigante do sector financeiro gere uma carteira de clientes com um valor superior a 250 milhões de euros. Segundo Luís Duarte, esta empresa usa incentivos como períodos de férias nas suas unidades hoteleiras para recompensar quem cumpre objectivos . “Vêm da Alemanha passar férias para a Herdade dos Grous e outros sítios que o grupo tem no mundo inteiro, sempre na companhia de um responsável, um chefe de equipa, que os incentiva em relação à empresa”, conta o gerente.

Foi isso que levou o grupo e comprar espaços com essa função, mas também a organizar cruzeiros para os seus quadros superiores. “Toda a gente sonha ir neles, porque isso demonstra que atingiram os seus objectivos”, salienta Luis Duarte, acrescentando que, ainda hoje, o hotel da Herdade dos Grous é ocupado sobretudo por pessoas da empresa, que voam diretamente para o aeroporto de Beja. “Todos os sábados chegam cerca de 20 pessoas, que passam uma semana aqui e vão depois embora, o que é um descanso para o negócio de turismo da herdade, que está praticamente ocupado a 100% todo o ano”, diz o responsável. Acrescenta que a Herdade dos Grous arrenda o espaço ao Vila Vita do Algarve, que tem um contrato com a empresa mãe alemã que lhe permite receber todas estas pessoas.

Quando se procura ter um negócio agrícola sustentável e duradouro, não é preciso mais nada do que água, matéria orgânica e solo para produzir

 

Pioneira na sustentabilidade

Antes de ser adquirida, a Herdade dos Grous era arrendada sobretudo para pastoreio de gado. Como os solos estavam muito explorados, Luis Duarte apostou, desde o primeiro dia, na inversão da degradação a que tinham sido sujeitos, “fazendo sementeiras directas de prados sem mobilização dos solos, o que não era muito usual na altura, em 2004”, para aumentar a matéria orgânica dos solos. Também foi implementada uma viticultura regenerativa, com cuidados especiais com o solo, incluindo a sua análise microbiológica. “Fomos dos primeiros, que eu saiba, a fazê-lo aos solos na região, para procurar encontrar formas de equilibrar a sua flora e fauna a este nível, ou seja, os seus fungos com as bactérias e os nemátodos, algo contrário ao que me foi transmitido quando estudava enologia, em que havia só um tipo de microorganismos bons e o resto era para eliminar”. Hoje a tendência é procurar que vivam todos em equilíbrio, pois não é necessário matar tudo o que está no solo para produzir uvas, azeitonas ou outro produto agrícola qualquer. Pelo menos quando se procura ter um negócio agrícola sustentável e duradouro, não é preciso mais nada do que água, matéria orgânica e solo para produzir.

Ainda hoje, durante o inverno, andam, na propriedade, mais de duas mil ovelhas, incluindo as dos vizinhos, a pastar. “Só com isso deixei de fazer duas passagens com tractores na vinha e no olival para cortar ervas, poupando no gasóleo, no desgaste das máquinas e diminuindo a poluição ambiental resultante deste trabalho, deixando de ter custos com um trabalho que é feito pelas ovelhas”, explica Luís Duarte. Para além disso, as ovelhas vão estrumando o solo, aumentando os seus níveis de matéria orgânica.

A Herdade dos Grous foi a primeira empresa certificada pelo Programa de Sustentabilidade do Alentejo “e é hoje um exemplo em termos de sustentabilidade, incluindo os pilares ambiental, social e económico, essencial porque isto não teria sentido se não desse dinheiro, já que uma empresa agrícola é um negócio como outro qualquer”. Para além das certificações ambientais, a herdade tem o seu sistema de gestão da qualidade e da segurança alimentar certificados por normas ISO. As certificações obrigam a regras que têm de ser seguidas, algo comum a tudo o que é feito na empresa. “Até as nossas fichas técnicas obedecem a procedimentos escritos”, salienta Luis Duarte, acrescentando que o controlo de todos os documentos lhe permite gerir a empresa de forma tranquila, porque tem pessoas responsáveis que se ocupam das questões como a qualidade ou a sustentabilidade.

Horticultura e azeite

Actualmente trabalham, na Herdade dos Grous e na Quinta de Valbom, propriedade duriense do grupo, que Luis Duarte também gere, um total de 28 colaboradores a tempo inteiro. “Mas, durante o ano, há sempre mais pessoas a trabalhar na vinha, olival, gado e nos 12 hectares que de hortofrutícolas da empresa, cuja produção se destina sobretudo para a sua cantina e a do Vila Vita, no Algarve, onde trabalham 400 pessoas”.
Desde que Luís Duarte assumiu a gestão da Herdade dos Grous, o projecto foi crescendo. Dos 500 hectares iniciais, a propriedade passou para os 1050 hectares actuais. Para além da vinha, também foram plantados 110 hectares de olival, a que se juntaram mais 40 hectares de um olival antigo de uma das propriedades adjacentes que foram sendo compradas. E há ainda áreas de prados permanentes para pastoreio de gado bovino da raça Mertolenga, produção de porco preto e ovinos e está iniciada uma nova plantação de medronheiros, seguindo as curvas de nível do relevo da propriedade, tal como Luis Duarte dispôs a vinha. Para o futuro, quem sabe se vai existir um novo produto na Herdade dos Grous, o medronho, mas é algo que ainda só está na fase de estudo.

Para além da marca própria, o azeite é também vendido a granel, “porque é um negócio mais rentável do que a venda de azeite em garrafa”, explica Luís Duarte, salientando que esta forma de comercialização é essencial para a sustentabilidade do negócio da Herdade dos Grous, porque é dinheiro pago antes da saída do azeite da propriedade. “Não o vendemos de outra forma”, afirma. Actualmente a sua empresa engarrafa entre 40 e 50 mil unidades de meio litro de azeite por ano, que vende a 8,5 euros, com uma margem significativamente inferior ao granel por causa dos custos com o engarrafamento, a garrafa, o rótulo, a cápsula e outros. O azeite tem sido comercializado a granel a 10 euros por litro. “Ou seja, ganho mais dinheiro a vender a granel do que em garrafa, mas tenho de fazer isso para estabelecer a marca no mercado”, defende.

Novas histórias

Os vinhos da Herdade dos Grous são vendidos apenas em garrafa. O seu portefólio é relativamente simples e fácil de entender por quem compra os seus vinhos. “Quando pensei nele achei que não deveria criar muitas coisas para não haver confusão, algo que talvez tenha a ver com a escola que tive no Esporão, onde os volumes de vinho produzidos e comercializados eram relativamente grandes, o que me fez pensar e acreditar que era necessário produzir volume para criar marca”, conta o responsável. Por isso, o portefólio da Herdade dos Grous tem apenas uma, comum a todos as suas referências, incluindo um branco e um tinto colheita, um branco e um tinto reserva, mais um Moon Harvest e um Concrete branco e tinto. Este último veio da necessidade de a empresa criar um produto novo para o mercado. Para a sua produção foi utilizada o depósito Galileu. “Fiz ensaios e gostei muito do efeito do cimento no vinho branco, pois dá-lhe textura, torna-o mais elegante e acrescenta-lhe salinidade”, explica Luís Duarte. Agora já produz também tinto e tem quatro depósitos para fazer este tipo de vinhos. “No fundo, a ideia foi criar, dentro da família da Herdade dos Grous, mais um patamar, que são os vinhos em cimento, para além dos fermentados em aço inoxidável e em barrica, para alargar o portefólio e chamar a atenção para a marca criando também novas histórias”, conta.

Hoje, a Herdade dos Grous vende os seus vinhos sobretudo em Portugal, e 40% da sua produção anual, que anda entre 800 e 900 mil garrafas, para mais 24 países, sobretudo para o Brasil, Luxemburgo, Suíça e Alemanha. As vendas para o grupo andam entre os 7 e os 8%.

(Artigo publicado na edição de Junho de 2025)

25 Anos de Herdade do Sobroso

Herdade do Sobroso

Adquirida em 2000 pelo arquitecto portuense António Ginestal Machado, a Herdade do Sobroso, situada entre as margens do rio Guadiana e a Serra do Mendro, no Alentejo, assinala 25 anos de história em 2025. Com 1600 hectares de montado, floresta e vinha, e uma adega que respeita a arquitetura da região, desenhada por António Ginestal […]

Adquirida em 2000 pelo arquitecto portuense António Ginestal Machado, a Herdade do Sobroso, situada entre as margens do rio Guadiana e a Serra do Mendro, no Alentejo, assinala 25 anos de história em 2025.

Com 1600 hectares de montado, floresta e vinha, e uma adega que respeita a arquitetura da região, desenhada por António Ginestal Machado, é hoje um exemplo da integração tradicional alentejana entre natureza, enologia e hospitalidade. O projeto é liderado actualmente pela sua filha, Sofia Ginestal Machado, e pelo seu genro, o enólogo Filipe Teixeira Pinto, que salienta que “estes primeiros 25 anos de Sobroso foram de criação e descoberta, um período fantástico de desenvolvimento permanente e de preparação do futuro”, com base “num conhecimento crescente das micro-parcelas e do comportamento das diferentes variedades” para produzir os seus vinhos.

Para além dos 60 hectares de vinha, a Herdade do Sobroso é também um destino de enoturismo, com uma oferta que vai dos quartos com acesso à piscina, à gastronomia de uma cozinha liderada pela carismática Dona Josefa e a experiências como passeios de balão, piqueniques junto ao rio ou safaris fotográficos pela propriedade. Para Sofia Ginestal Machado, “a Herdade do Sobroso é a expressão máxima da autenticidade e da calma, um legado que queremos transmitir às próximas gerações”.

Para celebrar os 25 anos, a empresa está a preparar alguns eventos especiais para os próximos meses, e uma surpresa que anunciará mais tarde.

Herdade do Sobroso

Monte da Bica investe 1,5 milhões de euros no Alentejo

O Monte da Bica, adega boutique situada na zona de Montemor-o-Novo, no coração do Alentejo, vai investir mais de 1,5 milhões de euros na construção de um hotel boutique, novos lagares de pisa a pé e uma sala de provas.

O Monte da Bica, adega boutique situada na zona de Montemor-o-Novo, no coração do Alentejo, vai investir mais de 1,5 milhões de euros na construção de um hotel boutique, novos lagares de pisa a pé e uma sala de provas. “Ainda este ano abriremos os dois lagares, pois queremos fazer toda a vinificação em casa, […]

O Monte da Bica, adega boutique situada na zona de Montemor-o-Novo, no coração do Alentejo, vai investir mais de 1,5 milhões de euros na construção de um hotel boutique, novos lagares de pisa a pé e uma sala de provas.

“Ainda este ano abriremos os dois lagares, pois queremos fazer toda a vinificação em casa, e a sala de provas”, revela Manuela Pinto Gouveia, proprietária do Monte da Bica, acrescentando que, em 2027, irá ser construída a unidade hoteleira, concretizando o sonho dos seus pais. Com isso a responsável pretende “recuperar a hospitalidade da casa de família, criar uma experiência imersiva e ajudar a fixar gente e talento na região, criando oportunidades de emprego”.

A herdade, conhecida pela sua longa tradição na produção de cortiça e cereais, pertence à família Pinto Gouveia desde 1919. Com cerca de 350 hectares de terra, utiliza hoje um modelo de gestão sustentável e diversificado, com atividade em áreas como a cortiça, pinhão, eucalipto, mel, sementes e pecuária. Desde 2016 dedica-se também à produção de vinhos, a partir de vinhas plantadas em 2005.

Com uma nova adega e uma adega-galeria na sala das barricas, que acolhe exposições de arte regulares, o Monte da Bica quer afirmar-se não apenas como produtor de vinhos, mas também como destino no Alentejo, que promove a cultura, o terroir e a identidade singular da região.

Cas’Amaro: Perfumes do Alentejo

Cas’Amaro

O lançamento dos tintos da Cas’Amaro do Alentejo, com a marca Implante, decorreu no Casal da Vinha Grande, em Alenquer, a primeira propriedade que Paulo Amaro, o fundador desta casa, empresário com negócios na área do imobiliário e da distribuição de instrumentos médicos e hospitalares, adquiriu. Nesse dia foram apresentados, à imprensa, o Implante Tinto […]

O lançamento dos tintos da Cas’Amaro do Alentejo, com a marca Implante, decorreu no Casal da Vinha Grande, em Alenquer, a primeira propriedade que Paulo Amaro, o fundador desta casa, empresário com negócios na área do imobiliário e da distribuição de instrumentos médicos e hospitalares, adquiriu. Nesse dia foram apresentados, à imprensa, o Implante Tinto de 2023, um monovarietal de Tinta Caiada e o Implante Tinto de 2022, um vinho produzido com uvas das castas Aragonês, Castelão e Trincadeira, todas plantadas na Herdade do Monte do Castelête, no Alentejo, a segunda propriedade que Paulo Amaro adquiriu, após ter decidido investir no sector vitivinícola. Com 70 hectares, dos quais 48 de montado e 22 de vinha com mais de 30 anos, fica perto de Estremoz e tem um monte que a empresa está a transformar numa unidade de enoturismo com alojamento, que deverá estar pronta no final deste ano.

 

 

Aposta no enoturismo

O projecto Cas’Amaro começou a ser construído há nove anos, com a aquisição do Casal da Vinha Grande. Depois foram compradas mais quatro propriedades em outras tantas regiões vitivinícolas portuguesas: Alentejo, Dão, Vinhos Verdes e Douro. “Uma das condicionantes por detrás destas aquisições foi as propriedades terem, para além de vinha, edifícios atractivos com potencialidade para serem reconvertidos em unidades de enoturismo explicou Rui Costa, director geral da Cas’Amaro, durante o evento. Foi essa a filosofia base seguida na aquisição da herdade alentejana, da Quinta da Fontalta, no concelho de Santa Comba Dão, que inclui um solar e 16 hectares de vinha, e também na propriedade da Região dos Vinhos Verdes, com 40 hectares, que integra um solar antigo. No Douro, a Cas’Amaro adquiriu as Quintas de S. João e S. Joaquim, com 18 hectares de vinha e socalcos virados uma para a outra. Apesar de uma das propriedades possuir uma adega, não tinha condições para se vinificar. Por isso, os primeiros vinhos do Douro e Porto produzidos nesta região foram vinificados em Cheleiros. Mas já está a ser pensada a construção de uma adega em Armamar.

Perfil definido

Até hoje, apenas está terminado o projecto de enoturismo da empresa na região de Lisboa, que inclui um restaurante e a unidade de alojamento em Alenquer, com três quartos. E como a empresa só tem adega na região de Lisboa, vinifica em instalações de parceiros nas outras. No Dão, na Adega das Boas Quintas, de Nuno Cancela de Abreu; no Alentejo, na Adega do Monte Branco, de Luís Louro; no Douro, na Adega Dona Matilde, com o apoio do seu enólogo, João Pissarra e, na Região dos Vinhos Verdes, na AB Valley Wines, de António Sousa. “São as mais próximas das nossas vinhas e são geridas por pessoas com quem nos conseguimos identificar, com as quais criámos métodos de trabalho”, explicou o gestor, salientando que, assim, é possível Ricardo Santos, o director de enologia, acompanhar de forma mais próxima de todo o processo, o que é essencial para se produzir, todos os anos, o perfil de vinho definido pela sua equipa para cada região.

(Artigo publicado na edição de Março de 2025)