25 Anos de Herdade do Sobroso

Adquirida em 2000 pelo arquitecto portuense António Ginestal Machado, a Herdade do Sobroso, situada entre as margens do rio Guadiana e a Serra do Mendro, no Alentejo, assinala 25 anos de história em 2025. Com 1600 hectares de montado, floresta e vinha, e uma adega que respeita a arquitetura da região, desenhada por António Ginestal […]
Adquirida em 2000 pelo arquitecto portuense António Ginestal Machado, a Herdade do Sobroso, situada entre as margens do rio Guadiana e a Serra do Mendro, no Alentejo, assinala 25 anos de história em 2025.
Com 1600 hectares de montado, floresta e vinha, e uma adega que respeita a arquitetura da região, desenhada por António Ginestal Machado, é hoje um exemplo da integração tradicional alentejana entre natureza, enologia e hospitalidade. O projeto é liderado actualmente pela sua filha, Sofia Ginestal Machado, e pelo seu genro, o enólogo Filipe Teixeira Pinto, que salienta que “estes primeiros 25 anos de Sobroso foram de criação e descoberta, um período fantástico de desenvolvimento permanente e de preparação do futuro”, com base “num conhecimento crescente das micro-parcelas e do comportamento das diferentes variedades” para produzir os seus vinhos.
Para além dos 60 hectares de vinha, a Herdade do Sobroso é também um destino de enoturismo, com uma oferta que vai dos quartos com acesso à piscina, à gastronomia de uma cozinha liderada pela carismática Dona Josefa e a experiências como passeios de balão, piqueniques junto ao rio ou safaris fotográficos pela propriedade. Para Sofia Ginestal Machado, “a Herdade do Sobroso é a expressão máxima da autenticidade e da calma, um legado que queremos transmitir às próximas gerações”.
Para celebrar os 25 anos, a empresa está a preparar alguns eventos especiais para os próximos meses, e uma surpresa que anunciará mais tarde.
Monte da Bica investe 1,5 milhões de euros no Alentejo

O Monte da Bica, adega boutique situada na zona de Montemor-o-Novo, no coração do Alentejo, vai investir mais de 1,5 milhões de euros na construção de um hotel boutique, novos lagares de pisa a pé e uma sala de provas. “Ainda este ano abriremos os dois lagares, pois queremos fazer toda a vinificação em casa, […]
O Monte da Bica, adega boutique situada na zona de Montemor-o-Novo, no coração do Alentejo, vai investir mais de 1,5 milhões de euros na construção de um hotel boutique, novos lagares de pisa a pé e uma sala de provas.
“Ainda este ano abriremos os dois lagares, pois queremos fazer toda a vinificação em casa, e a sala de provas”, revela Manuela Pinto Gouveia, proprietária do Monte da Bica, acrescentando que, em 2027, irá ser construída a unidade hoteleira, concretizando o sonho dos seus pais. Com isso a responsável pretende “recuperar a hospitalidade da casa de família, criar uma experiência imersiva e ajudar a fixar gente e talento na região, criando oportunidades de emprego”.
A herdade, conhecida pela sua longa tradição na produção de cortiça e cereais, pertence à família Pinto Gouveia desde 1919. Com cerca de 350 hectares de terra, utiliza hoje um modelo de gestão sustentável e diversificado, com atividade em áreas como a cortiça, pinhão, eucalipto, mel, sementes e pecuária. Desde 2016 dedica-se também à produção de vinhos, a partir de vinhas plantadas em 2005.
Com uma nova adega e uma adega-galeria na sala das barricas, que acolhe exposições de arte regulares, o Monte da Bica quer afirmar-se não apenas como produtor de vinhos, mas também como destino no Alentejo, que promove a cultura, o terroir e a identidade singular da região.
Cas’Amaro: Perfumes do Alentejo

O lançamento dos tintos da Cas’Amaro do Alentejo, com a marca Implante, decorreu no Casal da Vinha Grande, em Alenquer, a primeira propriedade que Paulo Amaro, o fundador desta casa, empresário com negócios na área do imobiliário e da distribuição de instrumentos médicos e hospitalares, adquiriu. Nesse dia foram apresentados, à imprensa, o Implante Tinto […]
O lançamento dos tintos da Cas’Amaro do Alentejo, com a marca Implante, decorreu no Casal da Vinha Grande, em Alenquer, a primeira propriedade que Paulo Amaro, o fundador desta casa, empresário com negócios na área do imobiliário e da distribuição de instrumentos médicos e hospitalares, adquiriu. Nesse dia foram apresentados, à imprensa, o Implante Tinto de 2023, um monovarietal de Tinta Caiada e o Implante Tinto de 2022, um vinho produzido com uvas das castas Aragonês, Castelão e Trincadeira, todas plantadas na Herdade do Monte do Castelête, no Alentejo, a segunda propriedade que Paulo Amaro adquiriu, após ter decidido investir no sector vitivinícola. Com 70 hectares, dos quais 48 de montado e 22 de vinha com mais de 30 anos, fica perto de Estremoz e tem um monte que a empresa está a transformar numa unidade de enoturismo com alojamento, que deverá estar pronta no final deste ano.
Aposta no enoturismo
O projecto Cas’Amaro começou a ser construído há nove anos, com a aquisição do Casal da Vinha Grande. Depois foram compradas mais quatro propriedades em outras tantas regiões vitivinícolas portuguesas: Alentejo, Dão, Vinhos Verdes e Douro. “Uma das condicionantes por detrás destas aquisições foi as propriedades terem, para além de vinha, edifícios atractivos com potencialidade para serem reconvertidos em unidades de enoturismo explicou Rui Costa, director geral da Cas’Amaro, durante o evento. Foi essa a filosofia base seguida na aquisição da herdade alentejana, da Quinta da Fontalta, no concelho de Santa Comba Dão, que inclui um solar e 16 hectares de vinha, e também na propriedade da Região dos Vinhos Verdes, com 40 hectares, que integra um solar antigo. No Douro, a Cas’Amaro adquiriu as Quintas de S. João e S. Joaquim, com 18 hectares de vinha e socalcos virados uma para a outra. Apesar de uma das propriedades possuir uma adega, não tinha condições para se vinificar. Por isso, os primeiros vinhos do Douro e Porto produzidos nesta região foram vinificados em Cheleiros. Mas já está a ser pensada a construção de uma adega em Armamar.
Perfil definido
Até hoje, apenas está terminado o projecto de enoturismo da empresa na região de Lisboa, que inclui um restaurante e a unidade de alojamento em Alenquer, com três quartos. E como a empresa só tem adega na região de Lisboa, vinifica em instalações de parceiros nas outras. No Dão, na Adega das Boas Quintas, de Nuno Cancela de Abreu; no Alentejo, na Adega do Monte Branco, de Luís Louro; no Douro, na Adega Dona Matilde, com o apoio do seu enólogo, João Pissarra e, na Região dos Vinhos Verdes, na AB Valley Wines, de António Sousa. “São as mais próximas das nossas vinhas e são geridas por pessoas com quem nos conseguimos identificar, com as quais criámos métodos de trabalho”, explicou o gestor, salientando que, assim, é possível Ricardo Santos, o director de enologia, acompanhar de forma mais próxima de todo o processo, o que é essencial para se produzir, todos os anos, o perfil de vinho definido pela sua equipa para cada região.
(Artigo publicado na edição de Março de 2025)
Herdade do Freixo: Elegância e longevidade

A Herdade do Freixo nasceu da paixão dos irmãos Pedro e José Luís Vasconcelos e Sousa, de desenvolver um projecto de vinhos diferente na região. Hoje já não estão ligados à empresa, mas foi isso que comunicaram, num jantar de amigos, alguns deles potenciais investidores, proposta que originou o interesse dos comensais. “Acreditava-se que existia, […]
A Herdade do Freixo nasceu da paixão dos irmãos Pedro e José Luís Vasconcelos e Sousa, de desenvolver um projecto de vinhos diferente na região. Hoje já não estão ligados à empresa, mas foi isso que comunicaram, num jantar de amigos, alguns deles potenciais investidores, proposta que originou o interesse dos comensais. “Acreditava-se que existia, ali, um terroir diferenciador”, conta Carolina Tomé, 50 anos, directora de Marketing e Comercial da Herdade do Freixo.
Um toque inovador
O posicionamento da herdade em relação à Serra de Ossa, a localização do vale onde hoje se desenvolvem as vinhas das castas brancas e fica a adega, o monte que fica em frente, com os seus 450 metros de altitude no topo, onde estão plantadas castas tintas “com exposições diferentes que permitem equilibrar a frescura com a concentração, são alguns dos contributos para a existência deste terroir distinto. O mesmo acontece com o seu microclima, que contribui para a ocorrência de maturações mais lentas e vinhos mais frescos, e os seus solos de origem xistosa e granítica. Na sua plantação foram selecionadas, para além de castas tradicionais da região, outras que podiam contribuir, com a tecnologia certa usada na adega, para originar vinhos mais frescos e elegantes, com maior capacidade de evolução positiva em garrafa com o tempo. No fundo, o melhor de dois mundos: a concentração e a alma típica do Alentejo com mais frescura, elegância, longevidade em garrafa e maior apetência gastronómica, algo que o enólogo consultor desta casa, Diogo Lopes, procura fazer reflectir nos vinhos de cada colheita.
Depois de ter sido estudado o local, as vinhas começaram a ser plantadas, a partir de 2010, com esse objectivo, e também com o potencial de dar um toque inovador aos vinhos produzidos pela herdade, alguma diferença em relação ao habitual do Alentejo. Foi, por isso, que foi introduzido o Alvarinho, “que se dá muito bem no Freixo”, mas também Sauvignon Blanc, Chardonnay, Riesling, “que só foi lançado há dois anos”. A casta branca Arinto foi plantada para potenciar longevidade nos brancos. Nas tintas, a base é a Touriga Nacional. Mas também há Cabernet Sauvignon de clones seleccionados para o tipo de solos da propriedade, Alicante Bouschet e Petit Verdot, “para trazer frescura e capacidade evolutiva aos vinhos” e Petite Syrah, da qual foi lançado o primeiro vinho há pouco tempo. “Também plantámos Syrah, que está a ser conduzida no modo biológico, a pensar no lançamento de um futuro vinho biológico da herdade”, diz Carolina, revelando, depois, que toda a vinha está a ser conduzida no modo de protecção integrada. “É evidente que o modo de produção biológico pode ser interessante, mas é essencial garantir a produção de vinhos com um perfil de frescura, concentração e longevidade, estrutura e elegância”, defende. Todos os anos há uvas, e é preciso produzir e vender vinhos que sejam apreciados pelo mercado, ou seja, nenhum negócio persiste sem sustentabilidade económica. Para garantir a sua qualidade e consistência ao longo dos anos, “a vindima é feita no ponto óptimo de maturação”, de forma manual, quando há mão de obra disponível, ou à máquina, quando não há.

Paisagem intocada
A propriedade tem 300 hectares, que estavam intocados, sem terem sido sujeitos a agricultura intensiva, na altura em que o projecto começou a ser desenvolvido “Era e é um eden paisagístico, onde passam e poisam aves migratórias e se podem ver lebres ou raposas, cuja natureza era preciso preservar”, conta Carolina Tomé. Por isso, a adega integra-se quase na perfeição nesta paisagem. Para além de ter condições para potenciar a produção de vinhos com longevidade em garrafa, mais frescos e elegantes, é conceptualmente interessante de visitar, o que incentiva a procura do seu enoturismo e ajuda a promover o seu vinho. “O objetivo é que as pessoas percorram as vinhas, sintam a paisagem e entrem na adega, numa outra realidade que seja uma novidade para os sentidos, para conhecer um pouco do processo de produção, se quiserem, e terminarem a experiência com a prova de vinhos coerentes com as sensações tidas durante a visita”, explica a gestora.
Para a sua construção foi feito um concurso, ganho pelo atelier do arquitecto Frederico Valsassina com a proposta de uma adega totalmente enterrada, qua alberga escritórios, zona de fermentação, estágio em barricas e em inox, armazenamento e laboratórios. Todo o seu interior, que é iluminado com luz natural, pode ser visitado 365 dias por ano sem haver interferências entre os visitantes e a produção.
A adega demorou dois anos e meio a ser construída e o projecto terminou em Outubro de 2015. Assim nasceu um edifício que foi premiado pela publicação especializada ArqDaily, de Nova Iorque, em 2018, um par de anos após ter aberto. Em Maio/Junho foram lançados os primeiros vinhos.
Além de preservar a paisagem rural e permitir o contacto dos visitantes com o vinho, numa experiência sensorial completa, a adega da Herdade do Freixo possibilita o controlo do efeito das amplitudes térmicas do interior do Alentejo, sobretudo as extremas do verão, quando as máximas podem chegar aos 50 ºC, e as mínimas aos 20 ºC. Isso é essencial durante o processo de produção, estágio em barrica ou inox, engarrafamento e repouso das garrafas até irem para os clientes, para a manutenção da frescura e evitar a evolução antecipada dos vinhos.
O desafio do mercado
Desde o início que a Herdade do Freixo privilegia as vendas para a restauração e lojas da especialidade, “porque os nossos produtos têm de se ser apresentados, explicados, e beneficiam quando são provados com comida”, diz Carolina Tomé. Conta também que foi um desafio lançar, no início do trajecto da empresa, vinhos distintos, de nicho, com origem no Alentejo, região conhecida, na altura em que começou a trabalhar, pelas suas marcas de volume. Foi necessário abrir muitas garrafas, fazer a formação das equipas de vendas, muitas masterclasses e muitas conversas pessoais com os clientes para mudar a perspectiva do mercado em relação à sua casa. “Nas primeiras apresentações ouvíamos dizer que os vinhos eram interessantes, frescos, mas não pareciam do Alentejo”, conta, salientando que hoje isso já não acontece, não só porque os vinhos do Freixo já são conhecidos em Portugal e nos mercados para onde a casa exporta, mas também porque surgiram mais produtores com vinhos semelhantes aos seus, mais frescos, longevos e elegantes, com origem no Alentejo. Hoje a Herdade do Freixo exporta 20% dos seus vinhos para a Suíça, “mas também um pouco para a Holanda, Bélgica e Suécia, e Brasil, China e Angola, mais recentemente”, revela ainda a responsável. Em Portugal, para além dos restaurantes e lojas da especialidade, estão disponíveis nos supermercados Apolónia e no El Corte Inglés.
(Artigo publicado na edição de Março de 2025)
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Freixo Family Collection
Tinto - 2019 -
Freixo Special Edition
Tinto - 2020 -
Freixo Reserva
Tinto - 2021 -
Freixo Elementar
Tinto - 2022 -
Freixo Terroir
Tinto - 2020 -
Freixo Special Edition
Rosé - 2023 -
Freixo Reserva
Branco - 2022 -
Freixo Special Edition
Branco - 2021 -
Freixo Terroir
Branco - 2023 -
Freixo
Branco - 2022 -
Freixo
Branco - 2023 -
Freixo
Branco - 2023
Enoturismo regista o melhor ano de sempre no Alentejo

Em 2024, as unidades de enoturismo do Alentejo receberam 195 mil visitantes, mais 21,6% do que o período equivalente anterior, durante o melhor ano de sempre deste sector para a região, segundo a Comissão Vitivinícola Regional Alentejana (CVRA). À imagem do ano anterior, a maior parte dos visitantes foram os portugueses, representando 55% do total, […]
Em 2024, as unidades de enoturismo do Alentejo receberam 195 mil visitantes, mais 21,6% do que o período equivalente anterior, durante o melhor ano de sempre deste sector para a região, segundo a Comissão Vitivinícola Regional Alentejana (CVRA).
À imagem do ano anterior, a maior parte dos visitantes foram os portugueses, representando 55% do total, seguindo-se os brasileiros e os norte-americanos. No entanto, foi a nacionalidade alemã que registou o maior aumento, na ordem dos 22%.
O Canadá, a Argentina, a Austrália, a Áustria e a China foram, também, países que se destacaram, no ano passado, entre os interessados pelos programas vínicos da região do Alentejo.
Quanto às preferências entre os roteiros disponíveis nos três distritos do Alentejo, a Rota Histórica, no distrito de Évora, foi a mais frequentada e a que teve o maior aumento de visitantes face a 2023, um crescimento de 36,25%. O segundo maior aumento, de 3,38%, registou-se na Rota do Guadiana, no distrito de Beja. Em terceiro lugar ficou a Rota de São Mamede, no distrito de Portalegre, com uma percentagem de crescimento correspondente a 2,95%.
No que toca à evolução de turistas nos centros de visitas e de apoio ao enoturismo em 2024, registou-se um aumento de 44,92% face a 2023. Os turistas brasileiros lideraram esta tabela, pois representaram um total de 21,26% de visitantes. Logo a seguir surgem os portugueses, que representaram 16,59% e, em terceiro lugar, estiveram os turistas dos EUA.
No Alentejo há actualmente experiências de enoturismo para todos os gostos: visitas guiadas às vinhas, adegas e caves, provas de vinhos, workshops e cursos vínicos, sessões de vinoterapia e passeios a pé, de bicicleta e até a cavalo pelas vinhas.
Quinta da Plansel: Mostrar as castas através dos vinhos

Dorina Angelica Lindemann, 59 anos, enóloga e gestora da Plansel, empresa produtora de vinhos alentejana, nasceu na Alemanha e vive em Portugal desde 1993. O pai, Hans Jörg (Jorge) Böhm, tem uma grande paixão pelo país desde uma estadia forçada em Lisboa, quando tinha 18 anos, depois de o veleiro que o transportava e mais […]
Dorina Angelica Lindemann, 59 anos, enóloga e gestora da Plansel, empresa produtora de vinhos alentejana, nasceu na Alemanha e vive em Portugal desde 1993.
O pai, Hans Jörg (Jorge) Böhm, tem uma grande paixão pelo país desde uma estadia forçada em Lisboa, quando tinha 18 anos, depois de o veleiro que o transportava e mais alguns amigos se ter afundado perto da capital. A volta ao mundo em perspectiva não foi feita, mas alguns dias de estadia em Portugal sim. Era o início dos anos sessenta, numa altura em que era difícil de sair ou entrar do país sem autorização e documentos como o passaporte, que tinham mergulhado e desaparecido nas águas com a embarcação. Era o tempo da ditadura e ainda existiam fronteiras a dividir toda a Europa, o que dificultava a circulação de pessoas de e para Portugal.
Os primeiros tempos foram dedicados aos viveiros, à selecção das castas, sua plantação e às necessárias microvinificações para avaliar o comportamento dos clones.
“Esse período de tempo levou o meu pai a apaixonar-se pelo país e a querer voltar”, conta Dorina Lindemann. Descendente orgulhosa de uma família que existe há 400 anos e trabalha há cerca de 200 no sector de vinhos na Alemanha, revela que o seu pai, Jörg Böhm, envolveu-se também no negócio e chegou a ser o maior importador de vinhos portugueses para o seu país de origem. “Era uma altura em que não tinham uma qualidade estável, que variava de ano para ano”, mas o pai insistia, devido à atracção que sentia por Portugal. No entanto, aquilo que mais o apaixonava eram as plantas, a inovação e a procura da sustentabilidade no sector vitícola, e foi isso que o fez vender os seus negócios na Alemanha e vir para Portugal. Comprou um terreno em Montemor-o-Novo, “porque achava que a zona tinha um terroir muito especial, com muita mineralidade e muita frescura”, como conta Dorina, com a ideia de estudar as plantas e fazer a selecção de videiras. A filha ainda era muito jovem na altura, mas já tinha também o “bichinho” pela procura de conhecimento sobre a videiras e as suas variedades.
Pioneira num mundo de homens
Quando era uma menina, o negócio da vinha e do vinho ainda estava apenas na mão de homens na Alemanha. Mas Dorina gostava de andar e correr pelas vinhas, participar nas vindimas e cheirar os vinhos desde pequena, ao contrário do irmão, “que não aprecia coisas que têm a ver com o vinho, nem de o beber”. Por isso, foi natural que tivesse optado pela formação em vinha e vinhos, no seu caso dual, em que a primeira parte decorreu num local de trabalho, uma empresa de vinhos, e depois na universidade. Durante a primeira parte trabalhou “naquela que hoje se chama Von Winning, a Dr. Andreas Deinhard, em Deidesheim, Alemanha, uma região muito importante para a produção de vinhos da casta Riesling”, conta, realçando que gostou muito de uma experiência onde, entre outros, aprendeu a guiar um tractor, a cavar e a plantar vinhas novas, numa casa onde era a única mulher a trabalhar. Passados dois anos foi estudar enologia para a universidade de Geisenheim.
Mas como ainda se estava numa época em que, na Alemanha, se considerava que apenas os homens podiam trabalhar no sector de vinhos, teve de ouvir vozes contra esta opção. E quando começou a frequentar o ensino superior, em 1987, “eramos apenas duas mulheres e o resto eram homens, 99”, conta. Mas guarda boas recordações de um curso onde, para além do conhecimento, fez amizades e criou relacionamentos que “têm sido importantes tanto para os negócios como para a vida”. E ainda hoje mantém contactos com Geisenheim, universidade para onde é convidada para falar sobre Portugal e os seus vinhos e vinhas.
A selecção de plantas
Quando terminou o curso “não tinha vinhas nem empresa de vinhos”. Naquela altura era difícil arranjar emprego” no seu país natal, onde demorou algum tempo até as mulheres puderem fazer o seu caminho na área da enologia. Mas como já tinha paixão por Portugal, porque passava cá as férias a ajudar o pai, convenceu o primeiro marido, Thomas Lindemann, e veio em Fevereiro de 1993. Foi numa altura em que “o pai não estava nada feliz”, porque a actividade viveirista, que está sujeita a regras muito apertadas e depende subsídios que variam com os problemas económicos e políticos do país, estava em crise.
Os primeiros tempos foram intensamente dedicados aos viveiros, à selecção das castas, sua plantação e às necessárias microvinificações para avaliar o comportamento dos clones. O trabalho foi feito sob supervisão do Professor Colaço do Rosário que era, na altura, para além de docente da Universidade de Évora, o enólogo da Fundação Eugénio de Almeida. “Ele fazia trabalhos de selecção e observação, em parceria com o meu pai, e as microvinificações das plantas escolhidas”, conta Dorina Lindemann. “Cada vez que encontravam uma que achavam que tinha as condições certas, traziam-na para baixo, para ser plantada numa linha para observações do material no campo”, acrescenta. Foi também nesse período que conheceu o enólogo Paulo Laureano, com quem trabalhou em parceria durante muitos anos.
Entretanto, a paixão por fazer o próprio vinho manteve-se sempre, sobretudo espumantes. Os primeiros que fez, cerca de três mil garrafas, foram da colheita de 1996, engarrafadas de forma manual. “Fui, inclusive, buscar máquinas de colocar e tirar caricas à Alemanha, que um amigo nos emprestou, para fazer o processo e, depois, levámos tudo de volta”, conta. “Foi o início desta aventura”, acrescenta.

Vinhos de castas portuguesas
Dorina Lindemann criou a adega e empresa Quinta da Plansel em 1997, ano em que comprou os primeiros depósitos e lançou o seu primeiro vinho feito nas instalações da Universidade de Évora, com o apoio de Paulo Laureano. “Fizemos aqui a escolha das uvas e lá os trabalhos da adega, de um vinho que já foi engarrafado com a marca Quinta da Plansel”, diz. Nos três anos seguintes lançou apenas esta referência, mas, depois, passou a colocar no mercado mais, entre elas o Dorina Lindemann, o primeiro vinho de topo da casa, feito com uvas da colheita de 2000.
“A ideia foi sempre produzir vinhos a partir das nossas castas selecionadas”, revela a produtora, acrescentando que foi por isso que decidiu lançar, em 2001, monovarietais de Touriga Nacional, Touriga Franca e Tinta Barroca. Mas não os conseguiu vender em Portugal, porque a sua empresa “não era muito conhecida” num país ainda sem apetência suficiente para este tipo de vinhos. A solução foi virar-se para a exportação. Primeiro, para o seu país natal. Depois avançou para a Suíça, Luxemburgo, Polónia e Reino Unido, antes de começar a vender no continente americano e extremo oriente. “A diversificação de mercados é importante para o negócio e também me permitiu continuar a apostar nos monocastas”, explica.
Há cinco/seis anos, a exportação da Quinta da Plansel rondava os 75 a 80%. Hoje essa proporção baixou para 50%, “o que me ajuda muito”, diz. É sabido, o reconhecimento pelo mercado nacional tem reflexos positivos sobre as marcas de vinhos portugueses no mercado externo. “Era algo que eu não me tinha percebido antes, porque só queria fazer vinho, sem pensar muito na parte comercial”, revela a produtora, que confessa que ainda não tem, em Portugal, um responsável pela parte comercial e que, fora do país, esse trabalho é feito por si e agora também pelas suas filhas, Júlia e Luísa Lindemann.
É um trabalho importante, porque as três são as caras desta empresa familiar e o vinho é muito um negócio de pessoas. “É a nossa casa e temos de ser nós, mas é um trabalho muito desgastante”, revela, acrescentando que a importância desse trabalho de ligação com os clientes verifica-se em todas as provas e feiras onde participam. E como são relacionamentos que têm de ser cultivados para serem mantidos, é “um trabalho fundamental que temos de fazer”, salienta a produtora.

Adaptação às mudanças do clima
Hoje a Quinta da Plansel, que produz entre 350 e 400 mil garrafas de vinho por ano, tem uma gama variada onde se inserem também vinhos de lote. Isso talvez tenha facilitado o crescimento das vendas em Portugal, depois de muitos anos de insistência no lançamento de monocastas. “A minha ideia sempre foi mostrar o que Portugal tem de melhor, as suas variedades”, mostrando os vinhos que podem originar.
O nome Plansel, o da empresa, significa planta selecionada, ou seja, que os vinhos da marca têm origem em clones de vinhas da casa, com idades que podem ir até aos 25 anos, para as mais velhas. “Também usamos clones novos, como uma Trincadeira de bago mais pequenino, que não rebenta logo quando chove, que é a base de um monocasta muito interessante, verdadeiro, com notas de cassis, herbáceos”, conta Dorina Lindemann, acrescentando que a sua aposta foi sempre na sustentabilidade, nas plantas, na tipicidade da sua região.
Diz que ainda hoje mantém a procura de novas variedades, mais adaptadas às condições resultantes das mudanças climáticas, pois acredita que serão a salvação do sector vitícola nos próximos 20 a 30 anos. Uma das suas preferidas é a Touriga Nacional.
“Difícil de trabalhar na vinha porque é brava, cresce para todo o lado, tem muitos cachos e, por isso, custa muito dinheiro vindimar”, explica, acrescentando que “é, no entanto, resistente ao escaldão, tem tipicidade, uma grande personalidade e adapta-se a todos os tipos de terrenos, coisas que temos de ter em conta para o futuro”. Salienta também que, “para além disso, dá origem a bons vinhos, sobretudo em solos mais frescos que permitam abrir mais o volume e libertar aromas como as notas de violetas, sem serem doces demais”. Também aprecia, entre outras, a Touriga Franca que “dá origem a vinhos frescos, com grande personalidade”, salientando que tem em casa alguns com 10 anos, “cujas características principais não mudam”.
Hoje Dorina Lindemann tem 55 hectares de vinha dedicados à produção de vinho, sobretudo da casta Touriga Nacional, que representa 25 a 28% do encepamento, porque se porta bem na sua zona. Para além da Touriga Franca, tem Aragonês, Trincadeira, pouco de Tinta Barroca, “porque é atreita ao escaldão” e Alicante Bouschet, porque a sua filha Luisa “gosta muito”. Mas a empresa apenas está a criar agora o clone agora.
Quanto às castas brancas, diz que é fã de Viosinho, “uma casta muito interessante para o futuro, tal como a Loureiro”, gosta dos vinhos que está a fazer de Azal e de Verdelho, e quer experimentar plantar Rabigato e Arinto, “uma casta muito boa no Alentejo”. Já plantou castas que arrancou depois, “porque o clima está a mudar e os produtores têm de o fazer quando as plantas já não se adaptam bem ao local”. Mas mantém sempre a aposta nas castas nacionais, convicta que está de que o “berço das castas ibéricas é Portugal” e afirma ainda que tem “a certeza de que o país poderia ser considerado o melhor produtor de vinhos do mundo se soubesse contar bem a sua história e estórias das suas vinhas e vinhos”.
(Artigo publicado na edição de Fevereiro de 2025)
Vendas de vinhos do Alentejo crescem 8% em 2024

A Comissão Vitivinícola Regional Alentejana (CVRA) anunciou um crescimento de 8% no comércio de vinhos do Alentejo em 2024 para 92,2 milhões de litros de vinho, o que representa cerca de 123 milhões de garrafas, o melhor resultado alcançado nos últimos cinco anos. O aumento corresponde a vendas de mais 6,7 milhões litros de vinho […]
A Comissão Vitivinícola Regional Alentejana (CVRA) anunciou um crescimento de 8% no comércio de vinhos do Alentejo em 2024 para 92,2 milhões de litros de vinho, o que representa cerca de 123 milhões de garrafas, o melhor resultado alcançado nos últimos cinco anos. O aumento corresponde a vendas de mais 6,7 milhões litros de vinho face ao ano anterior.
No ano passado, a venda de vinho com Denominação de Origem Controlada (DOC) Alentejo teve um crescimento de 11%, correspondente a mais 2,1 milhões de litros, enquanto o vinho Regional Alentejano registou um aumento de 7%, pelo acréscimo de vendas de 4,6 milhões de litros de vinho.
O ano de 2024 teve o melhor registo de sempre no que toca aos vinhos brancos e rosés, acompanhando a tendência actual de evolução do perfil de consumo e a boa aceitação destas categorias por parte dos consumidores. Os vinhos brancos cresceram 9,4% e os rosés 2,7% e, em conjunto, representaram 27% do volume de vinhos do Alentejo comercializado. O tinto continuou a liderar as vendas, com 66,8 milhões de litros, mais 7,5% do que no período anterior.
Para Francisco Mateus, presidente da CVRA, “os resultados que a região alcançou em 2024 são muito positivos e encorajadores para o futuro”. O responsável acredita que “2025 pode ser o ano de partida para um ciclo de prosperidade sustentável e ganhos na notoriedade e reputação das marcas coletivas DOC Alentejo e Regional Alentejano”.
O comunicado da CVRA refere ainda que as exportações decresceram 2,4% no ano passado, devido a uma redução nas vendas para os mercados europeus, já que houve crescimento para países terceiros.
Herdade da Cardeira: Uma revelação confirmada

É impossível ficar indiferente à paixão com que Thomas Meier se refere a tudo o que acontece no projeto Herdade da Cardeira, localizado em Borba, que fundou em 2010 com a sua mulher, Erika. Fala-nos dos 100 hectares de terra, e detalha todos os respetivos cantos, descreve-nos com rigor a adega e pormenoriza os 21ha […]
É impossível ficar indiferente à paixão com que Thomas Meier se refere a tudo o que acontece no projeto Herdade da Cardeira, localizado em Borba, que fundou em 2010 com a sua mulher, Erika. Fala-nos dos 100 hectares de terra, e detalha todos os respetivos cantos, descreve-nos com rigor a adega e pormenoriza os 21ha de vinha. Individualiza cada casta, as nacionais e as estrangeiras, e lembra-nos que esteve quase para arrancar a Tinta Caiada, mas, agora, entende que pode vir a ser essencial na produção de vinhos com frescura e, sobretudo, carácter alentejano. É, em suma, o atual projeto de vida de um advogado suíço que já dedicou, no passado, a sua vida à tributação internacional. Agora, mais do que reestruturações financeiras e planeamento fiscal, pretende confecionar tudo o que a terra pode materializar. Coisas palpáveis, diz-nos, é o que mais pretende retirar da sua propriedade.
A conversa com Thomas é cordial, mas feita com precisão helvética. Relembra-nos que a produção com a marca da casa iniciou-se em 2016, já com Filipe Ladeiras como enólogo residente e Paulo Laureano como consultor e diretor. Diz-nos que, atualmente, são um pouco mais de 50 mil garrafas por ano, vendidas para os países cujos mercados melhor Thomas e Erika conhecem, como é o caso da Suíça e Luxemburgo. Mais recente, é a distribuição em Portugal que é, todavia, assumida como uma das prioridades para os próximos anos.
O objetivo de Thomas e Erika é só um: fazer mais e melhor a partir da sua terra.
Retorno emotivo
Mas voltemos à propriedade que fica situada em Borba, mais concretamente na freguesia de Orada. Para quem conhece a zona, falamos de uma extensão de terra a 400 metros de altitude, virada a norte, defronte da Serra de São Mamede, com a Serra de Ossa a sul. A sua localização e altitude explicam o vento e nevoeiro matinais, e os solos argilosos com muita influência calcária garantem vinhos com boa acidez.
A produção está em velocidade de cruzeiro, e a crítica tem sido uma grande surpresa. Vencedor, ex-aequo, do Prémio Revelação em 2023, viu, recentemente, o seu Verdelho da colheita de 2022 ganhar o destaque de melhor branco no prémio Escolha da Imprensa. O objetivo de Thomas e Erika é só um: fazer mais e melhor a partir da sua terra. Independentemente dos resultados financeiros, ambicionam um retorno emotivo, dizem-nos com convicção. Pois bem, provados os seus mais recentes vinhos tintos, e um espumante, e a julgar pela emoção que todos são capazes de provocar, temos a certeza de Thomas e Erika estão no caminho certo.
Nota: O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico
Artigo publicado na edição de Janeiro de 2025