Reynolds Wine Growers: O oásis de um homem de paixões
[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]À frente da Reynolds está um empreendedor que não tem mãos a medir, de uma energia invejável. Julian Reynolds sabe bem o quer, desde muito cedo, e isso transparece nos vinhos criados à sua imagem e à […]
[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]À frente da Reynolds está um empreendedor que não tem mãos a medir, de uma energia invejável. Julian Reynolds sabe bem o quer, desde muito cedo, e isso transparece nos vinhos criados à sua imagem e à dos seus antepassados.
TEXTO E NOTAS DE PROVA Mariana Lopes
Estávamos no Monte da Figueira de Cima, em Arronches, e uma das primeiras coisas que Julian Reynolds nos desvendou foi “gosto muito da estética das coisas e de desfrutar delas”. Nota-se, a vinha junto às casas, culminando num monte de sobreiros, é um autêntico jardim de flores e as paredes caiadas a branco, com o friso azul a subir desde a base, estão imaculadas. Não há um canto desarranjado nem um telhado desalinhado. Os bonsais são uma das suas grandes paixões e sabe tudo sobre eles. O interior dos edifícios está recheado de belas obras de arte. Afinal, a formação original de Julian é em Belas Artes (o seu tio Joshua Reynolds fundou The Royal Academy of Arts), passando pelo Cinema (trabalhou seis anos na Columbia Pictures), e também pela Economia, um homem de sete ofícios que já fez de tudo um pouco. Agora, assentou no Alentejo e dedica-se ao vinho, ainda gerindo outros negócios à distância. “Sinto-me responsável pela beleza do Mundo”, disse Julian, com um sorriso sereno, parafraseando o imperador romano Adriano.
O nome Reynolds vem dos seus antecessores ingleses. Tudo começou quando, em 1820, o marinheiro e comerciante Thomas Reynolds chegou a Portugal atraído pelo negócio do vinho e pelas trocas comerciais entre Inglaterra e a Península Ibérica. Em 1838, Thomas e os seus filhos dedicam-se à indústria corticeira em Portugal e Espanha, especificamente em Albuquerque (apenas a 28km, em linha recta, de Arronches), local onde, entretanto, nasceram onze antepassados de Julian. Já em 1850, a família fixa-se em Estremoz. Alguns partiram, depois, para a Nova Zelândia com ovelhas merinas “debaixo do braço”, sem nunca mais voltar. Mas Robert, um dos filhos de Thomas, ficou e, com o mesmo espírito empreendedor que Julian herdou, toma conta dos negócios e cria mais uns tantos, adquirindo novas terras e produzindo ali vinhos de qualidade. Alguns Reynolds depois, nasce Gloria, mãe de Julian e talentosa violinista, e é a ela que este dedica o seu trabalho quando chega ali e compra a propriedade em 1996, criando em 2002 um vinho que leva o seu nome no rótulo: Gloria Reynolds. “Nessa altura, poucos faziam vinho nesta zona, apenas a Adega Cooperativa e a Tapada do Chaves”, contou Julian.[/vc_column_text][divider line_type=”No Line” custom_height=”10″][image_with_animation image_url=”40724″ alignment=”” animation=”Fade In” border_radius=”none” box_shadow=”none” max_width=”100%”][divider line_type=”No Line” custom_height=”10″][vc_column_text]DA SERRA À ADEGA, COM CONVICÇÃO
Como afirmou o produtor, “A História é importante mas o essencial é o que se faz agora, e como se faz”. Não há dúvidas de que estamos num local largamente influenciado pelo microclima da Serra de São Mamede. O vento que sentimos diz-nos isso e é bem-vindo, ajudando as videiras a prevenir-se de doenças. Entre os 200 hectares totais, com gado e plantações diversas, 40 são de vinha, até aos 420 metros de altitude, mais doze na Serra, até aos 600. “Altitude, boa drenagem, solos bastante minerais, excelente exposição e grande amplitude térmica é o que temos aqui, e o que se reflecte nos vinhos”, explicou o proprietário, que também revelou ter comprado aqueles terrenos a conselho do enólogo Francisco Colaço do Rosário. Os solos são xistosos, mas comportam em si muita variedade mineral, incluindo pedras de cariz vulcânico, e Julian lembrou que aquela área tem forte tradição mineira. Para obter mais concentração, reduzem a produção dos vinhedos, onde a casta mais presente é a Alicante Bouschet, bem como nos vinhos, e isso tem uma explicação: foi o bisavô e o seu irmão que trouxeram esta uva para o Alentejo, no século XIX. É caso para dizer “that’s quite a big deal”! Tanto que Julian afirma, e concretiza, “Quero que o Alicante seja a identidade dos nossos vinhos tintos”. Afinal, está-lhe “no sangue”. Mas também outras uvas tintas tradicionais da região marcam presença, como a Trincadeira, o Aragonez e o Cabernet Sauvignon, e brancas como Antão Vaz e Arinto. Quem pega em todas elas e as transforma em vinho são os enólogos Nelson Martins, braço direito de Julian no projecto, e Ana Real. Mas em todos eles se vê a mão do produtor, que sabe muito bem o que quer e transmiti-lo à sua equipa. “Fui criticado por lançar um Arinto, na altura em que estava a começar o projecto, porque me diziam ser uma casta desprezível, que só tinha boa expressão na costa atlântica”, confessou. Estamos a falar de uma casta que, hoje em dia, sabemos ser a branca mais viajável por todo o país, mas é perceptível que um dos grandes segredos do sucesso da Reynolds Wine Growers é a convicção de quem a gere.
O processo de produção está praticamente todo ali, incluindo linha de engarrafamento. A adega está num dos edifícios mais antigos, que outrora foi estábulo de bois, e que agora tem mais de duas dezenas de cubas da tanoaria francesa Seguin Moreau. Debaixo delas, um chão de ardósia com porosidade nula, que ao ser regado mantém a água na superfície e arrefece o ambiente, humidificando-o. Aliás, este é uma das industrias de Julian, a ardósia, e este conhece-a bem. A manutenção destas condições ideais de climatização é muito importante para a Reynolds, que é conhecida por fazer estágios bastante prolongados dos seus vinhos premium, em madeira e em garrafa. “É no campo da excelência e do bom gosto que me sinto confortável”, disse Julian, “e devo tudo à minha equipa, sem eles não faço nada e, aqui, todos ajudam em tudo”. A Reynolds, que produz cerca de 200 mil garrafas por ano, tem três marcas no mercado: Carlos Reynolds (o nome do filho de Julian, entrada de gama), Julian Reynolds e Gloria Reynolds (em anos de “excelente colheita”). Também um licoroso de Alicante Bouschet muito interessante faz parte do portefólio, Robert R. Reynolds, com notas de café e chocolate negro.[/vc_column_text][divider line_type=”No Line” custom_height=”10″][image_with_animation image_url=”40723″ alignment=”” animation=”Fade In” border_radius=”none” box_shadow=”none” max_width=”100%”][divider line_type=”No Line” custom_height=”10″][vc_column_text]SUSTENTABILIDADE DISCRETA
Além do tratamento de águas e reutilização, e da produção da própria electricidade, a Reynolds Wine Growers adopta medidas sustentáveis na viticultura que, actualmente, está em produção integrada. Contam com vários instrumentos tecnológicos, para melhor planificar a estratégia do ano vitivinícola, como estação meteorológica, sondas de humidade de solo, sondas de humidade das folhas e sondas de condutividade do solo. Não fazem tratamentos com nada vindo de fora da Herdade. Para fertilizar o solo produzem, “em casa”, uma massa orgânica composta por restos das podas, coberto vegetal e resíduos de vinificação, como bagaços e borras, juntamente com estrume dos animais. Isto também permite uma maior oxigenação e hidratação do solo. Já durante o desenvolvimento vegetativo, utilizam choques de aminoácidos provenientes das leveduras indígenas. Para conviver com as doenças e as pragas, na vinha, favorecem o aparecimento de predadores naturais. Isso é feito através da construção de abrigos naturais para coelhos, com restos de poda, pois a multiplicação dos coelhos leva ao aparecimento de aves de rapina que, por sua vez, afugentam pequenas aves que consomem as uvas. Utilizam cobre e enxofre de forma muito limitada e, para o evitar, aplicam infusões de plantas. Fazem, também, várias podas em verde para que haja mais arejamento das plantas, eliminando a humidade nas folhas e, consequentemente, evitar o desenvolvimento de fungos. Quanto ao gado, não têm mais do que podem alimentar com a própria plantação.
Julian, que emana uma aura positiva detectável a milhas, declarou: “Hoje, aqui, a fazer o que faço, estou de férias, porque foi pelas fantásticas férias que passava em Portugal, na minha infância, que decidi voltar e ficar. Mas não paro, a minha tarefa é continuar a procurar identidade”.[/vc_column_text][divider line_type=”No Line” custom_height=”10″][vc_text_separator title=”VINHOS EM PROVA”][vc_column_text]
Edição Nº28, Agosto 2019
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Revista Condé Nast considera Alentejo um dos 6 destinos de 2020
A Condé Nast Traveler, revista norte-americana de viagens e lifestyle, publicou um artigo onde classifica a região do Alentejo como um dos seis destinos vinícolas a não perder no próximo ano. A região portuguesa fico ao lado de Lombardia e Sicília em Itália, Western Cape na África do Sul, Vale Willamette no estado de Oregon […]
A Condé Nast Traveler, revista norte-americana de viagens e lifestyle, publicou um artigo onde classifica a região do Alentejo como um dos seis destinos vinícolas a não perder no próximo ano. A região portuguesa fico ao lado de Lombardia e Sicília em Itália, Western Cape na África do Sul, Vale Willamette no estado de Oregon (EUA) e Península do Niágara no Canadá. Cinco dos maiores especialistas em vinho nos Estados Unidos foram questionados sobre onde planeavam estar na sua passagem de ano e o Alentejo foi um dos destinos eleitos. O resultado são seis regiões do mundo com muito para explorar, tanto ao nível do enoturismo, como de toda a sua envolvente.
Laura Ginnatempo, autora do artigo, visitou o Alentejo em 2017 e descreve a região como próxima de Lisboa e do Algarve, cuja principal atracção é o enoturismo. A especialista destaca ainda a oferta heterogénea de excelentes vinhos.
Para Francisco Mateus, Presidente da Comissão Vitivinícola Regional Alentejana, “É um orgulho este reconhecimento de um meio tão reputado, que confirma que o Alentejo continua a encantar e a marcar quem por cá passa. Esta é mais uma importante menção para o turismo do nosso Alentejo e uma prova que estamos a fazer um excelente trabalho”.
Monte Velho ganha edição limitada Altitude
Como o nome sugere, esta nova edição limitada Monte Velho Altitude tinto 2018 provém de vinhas plantadas em cotas altas, até 600 metros, na Serra de São Mamede, em Portalegre, no Alto Alentejo. Segundo a enóloga Sandra Alves, do Esporão, “O Monte Velho Altitude é um vinho mais fresco, elegante e com a marca clara […]
Como o nome sugere, esta nova edição limitada Monte Velho Altitude tinto 2018 provém de vinhas plantadas em cotas altas, até 600 metros, na Serra de São Mamede, em Portalegre, no Alto Alentejo.
Segundo a enóloga Sandra Alves, do Esporão, “O Monte Velho Altitude é um vinho mais fresco, elegante e com a marca clara da viticultura do lugar, marcado por solos predominantemente graníticos e intercalados com manchas de xisto”.
Cada garrafa do Monte Velho Altitude é numerada e a sua venda será exclusiva, estando disponível apenas nas lojas Pingo Doce e nas Lojas do Esporão (Herdade do Esporão, Quinta dos Murças e Esporão no Porto), com um p.v.p. de €5,99.
Santa Vitória inaugura lagar de azeite sustentável
A Santa Vitória, empresa de vinhos e azeites regionais alentejanos pertencente ao grupo Vila Galé, acaba de inaugurar um lagar de azeite no Alentejo, resultante de um investimento de 3,5 milhões de euros. O novo equipamento surge na propriedade de 1.620 hectares localizada perto de Beja, onde o grupo já tem a adega dos vinhos […]
A Santa Vitória, empresa de vinhos e azeites regionais alentejanos pertencente ao grupo Vila Galé, acaba de inaugurar um lagar de azeite no Alentejo, resultante de um investimento de 3,5 milhões de euros.
O novo equipamento surge na propriedade de 1.620 hectares localizada perto de Beja, onde o grupo já tem a adega dos vinhos Santa Vitória e o hotel rural Vila Galé Clube de Campo.
Com esta aposta, e empresa reforça a sua posição na agricultura, sector no qual tem actividade desde 2002, mas também no agro-turismo e enoturismo. Actualmente, o olival da Santa Vitória estende-se por cerca de 200 hectares e entre as variedades de azeitona existentes estão a Galega, Cobrançosa, Cordovil, Picual, Arbequina, Koroneiki e Arbosana. Daqui resulta azeite virgem extra de alta qualidade, comercializado sob a marca Santa Vitória nos hotéis Vila Galé, em grandes superfícies e em lojas especializadas.
Entre as principais características do lagar, destacam-se:
– O pátio de recepção de azeitona cuja linha de limpeza e lavagem pode processar 50 toneladas por hora;
– A sala de extracção com equipamento que pode moer até 10 toneladas de azeitona por hora;
– A sala de depósitos com 35 depósitos de circulares com capacidade entre os 5.000 e os 30 mil litros;
– A linha de engarrafamento, capsulagem e rotulagem com cadência de 1.200 garrafas por hora.
Além da moderna tecnologia e da inovação, as boas práticas ambientais e a sustentabilidade também são preocupações da Santa Vitória. Por exemplo, neste lagar o caroço de azeitona que resulta da produção serve combustível à caldeira de aquecimento de água. Já as águas residuais são encaminhadas para fossas de decantação e depois aproveitadas para uso agrícola.
O novo lagar está aberto ao público e proporciona visitas guiadas e provas de azeite, mediante marcação prévia. O espaço conta ainda com uma sala de provas e área preparada para showcooking aptas a receber grupos, eventos de empresas e demonstrações gastronómicas.
Malhadinha Nova celebrou 18ª vindima com pompa e circunstância
No passado dia 27 de Setembro, a família Soares e toda a equipa da Malhadinha partilharam, com os seus convidados, mais um de final de época da vindima na Herdade da Malhadinha Nova. Este ano, celebrou-se não só a décima oitava vindima como também mais um “ano de sucesso”, como refere em comunicado de imprensa. […]
No passado dia 27 de Setembro, a família Soares e toda a equipa da Malhadinha partilharam, com os seus convidados, mais um de final de época da vindima na Herdade da Malhadinha Nova. Este ano, celebrou-se não só a décima oitava vindima como também mais um “ano de sucesso”, como refere em comunicado de imprensa. Na festa “Natural Wine Party”, que se realizou numa das novas unidades hoteleiras da Herdade, a Casa do Ancoradouro, foi feito um tributo à terracota, produzida com o barro da região.
A Malhadinha brindou os convidados com vinhos lançados já este ano, o Monte de Peceguina rosé e o branco de 2018, bem como monocastas brancos e tintos, entre eles o Antão Vaz, Verdelho e Arinto de 2018, assim como o Aragonez 2016 e o Touriga Nacional 2015. No decorrer do evento, os enólogos Luís Duarte e Nuno Gonzalez apresentaram colheitas antigas como Monte da Peceguina tinto 2013, e gamas superiores, como Pequeno João 2015 e MM da Malhadinha 2013.
Mas há novidades: em 2017 a Malhadinha Nova iniciou um projecto de ampliação da oferta turística com a recuperação de várias ruínas existentes na propriedade. Para além dos 10 quartos que já existiam no Monte da Peceguina (actual Malhadinha Nova Country House & Spa), este ano surgirão mais 20 quartos distribuídos por várias unidades.
Santa Vitória – Belos Vinhos da Planície
[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text] No Baixo Alentejo, entre Beja e o mar, situa-se a Herdade de Santa Vitória, que se assume como unidade agrícola de várias valências. Da fruta ao azeite e ao vinho, e da terra para o consumidor […]
[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]
No Baixo Alentejo, entre Beja e o mar, situa-se a Herdade de Santa Vitória, que se assume como unidade agrícola de várias valências. Da fruta ao azeite e ao vinho, e da terra para o consumidor final. As 32 unidades hoteleiras consomem 30 por cento da produção. E entre Portugal e Brasil escoa-se o milhão de garrafas que ali se produzem anualmente.
Texto João Paulo Martins
Fotos Ricardo Gomez
Estamos em terras alentejanas, lá bem para o sul, mas, ao contrário do que se poderia pensar, aqui não se caça; sorte para lebres e perdizes que por lá existem. Estamos em terras quentes onde se faz sentir o calor forte de Verão, onde o vento do sul, geralmente conhecido por “vento suão”, pode queimar a vinha de uma dia para o outro. Estas agruras do clima obrigam a uma adaptação às condições específicas da região para se poder pensar em produzir vinho. Na verdade, o vinho não tem por aqui história que mereça ser contada e pode mesmo dizer-se que até ao séc. XXI, estas terras alentejanas não estariam vocacionadas para a vinha.
Foi mesmo nestas terras de pequenas elevações e muita planície que nasceu a herdade da Casa de Santa Vitória, projecto agrícola do grupo Vila Galé, que inclui várias valências, desde a vinha, o olival e a produção frutícola – pêra rocha, as nectarinas, damascos e pêssegos – além de montado. A crescer de importância nesta zona, o amendoal vai ser uma aposta de futuro. O azeite ganha cada vez mais preponderância e ainda este ano será inaugurado um lagar que permitirá assim controlar todo o processo. Intensivo, super-intensivo, variedades locais, variedades espanholas e gregas, de tudo se pode encontrar aqui.
O grupo Vila Galé está especialmente vocacionado para a hotelaria e tem presença forte em Portugal e Brasil. São neste momento 32 as unidades hoteleiras e, tal como estava previsto desde o início, também aqui na herdade há um hotel e restaurante com aposta forte na gastronomia regional, como pudemos testemunhar. Com uma área muito grande de terra – 1.620 hectares – dos quais a vinha ocupa 127, a produção vinícola teve sempre a condicionante da água porque cedo se percebeu que dificilmente haveria uma viabilidade do projecto sem a rega da vinha. Esse problema resolveu-se com a água que chega do Alqueva. É assim há já 15 anos, tantos quanto o projecto tem de vida. A rega continua a ser tema de debate entre produtores e enólogos e esse debate estende-se a várias regiões do país. Os adeptos da não-rega sustentam que se a videira não é resistente à seca e à falta de água, então é porque a escolha da casta e do porta-enxerto terá sido mal feita; já os adeptos da rega opinam que sem água (e com as consequentes baixas produções) a actividade vitivinícola não seria viável. Aqui esse debate não chegou sequer a ter lugar, já que a opção pela rega foi clara.
Pelo clima quente que a região tem, a opção mais evidente seria naturalmente a produção de uvas tintas, mas até respondendo às solicitações do mercado, o branco teve aqui um comportamento que justificou a forte aposta, nomeadamente na casta Arinto. A surpresa, a bem dizer, só o será para quem não acredita que esta é a mais original e importante casta branca portuguesa.
Mudanças na viticultura
O técnico Nuno Cancela de Abreu esteve no arranque da aventura vínica do grupo Vila Galé. Mas hoje a orientação técnica está a cargo de Bernardo Cabral e Patrícia Peixoto, que são o rosto enológico da casa. Foi com eles que fizemos uma visita às vinhas, agora em período de crescimento acelerado da vegetação.
A aposta inicial nas castas – à época com a consultoria de Martim Avillez – apontou para as mais tradicionais do Alentejo, aquelas que no início deste século eram apontadas como as mais indicadas para a região – Aragonez, Trincadeira, Alfrocheiro nos tintos e Arinto e Antão Vaz nos brancos. Na verdade, sentiu-se aqui o mesmo problema, ou se se quiser, o mesmo dilema de todas as novas zonas alentejanas até então “virgens de vinha”: o que plantar e como plantar – densidade, compasso, produção por hectare – quando não havia histórico anterior que pudesse ser bom conselheiro. Entende-se assim melhor que algumas das opções dos primeiros plantios tivessem de ser emendadas. Levou-se então a cabo um trabalho de reenxertia de algumas castas – caso do Antão Vaz que se dá mal com estes solos pobres, tal como o Alfrocheiro; no caso do Aragonez foi preciso deslocar de local, em função da maior ou menor produtividade do solo. Esta casta tende a ser excessivamente produtiva e por isso precisa de solos realmente pobres e bem arejados.
Com novas plantações chegaram também novas castas, umas nacionais e outras vindas de fora, num movimento que tem sido muito comum em todas as novas vinhas alentejanas. Nos tintos chegaram Cabernet Sauvignon, Merlot, Touriga Nacional e Syrah; nos brancos, Chardonnay, Sauvignon Blanc, Viosinho e Verdelho.
Com o passar dos anos, uma casta mostrou aqui especiais virtudes, o Arinto, “uma casta excepcional, para não dizer mesmo incrível, tal a capacidade que tem de produzir bem e sempre com qualidade”, diz Bernardo. A vindima desta casta, salienta Patrícia Peixoto, “pode estender-se por três semanas, o que nos permite planear a vindima conforme o tipo de vinho que queremos produzir”. Grande parte da apanha da uva é feita à máquina que, em 8 horas de trabalho, faz o equivalente a 80 vindimadores. Quando se tem 127 ha de vinha, a apanha mecânica é uma enorme ajuda. E, reconhecemos que longe vão os tempos em que as máquinas de vindimar eram olhadas de soslaio por muitos produtores que lhe notavam defeitos vários na qualidade do que colhiam. Actualmente a melhoria técnica já convenceu os mais cépticos.
A agricultura que por aqui se pratica é de protecção integrada, fazem-se entre 7 e 9 tratamentos por ano e a produtividade é média, de cerca de 8 toneladas/ha. Se as geadas e o granizo não são assunto e de míldio pouco se fala, já outras doenças são mais preocupantes, como a Esca (doença de lenho) e a Cicadela (ou Cigarrinha verde, insecto que ataca as folhas da videira). O clima quente é favorável para a não ocorrência de várias moléstias da vinha, mas não todas e por isso aqui não se arrisca e fazem-se os tratamentos necessários.
Uma adega com muitas valências
A adega da Casa Santa Vitória é um puzzle. Uma misturada enorme de barricas de todas as dimensões e de múltiplas origens. Porquê? A resposta veio rápida: “fazemos prestação de serviços para três produtores, desde a Herdade da Bombeira, em Mértola, até à marca Vicentino, cuja herdade fica perto do mar (além de um produtor novo). Isso obriga a equacionar imensas variáveis conforme os requisitos de cada produtor e os que temos são extremamente exigentes”, lembra Bernardo. E acrescenta: “mas isso também tem algo de muito curioso porque passamos da prova de uma barrica do Alentejo mais interior para outra onde temos um vinho atlântico completamente diferente; isso é muito desafiante”. No conjunto, os três produtores a quem a equipa presta assistência, representam meio milhão de garrafas.
Na adega inoculam-se todos os brancos com leveduras. Bernardo diz que “é muito mais seguro”; mas muitos dos tintos não são inoculados, fermentam com as leveduras indígenas. Este continua a ser hoje um tema de debate entre produtores, enólogos e winewriters de todo o mundo, mas por aqui sabe-se que o risco é grande se toda a fermentação não decorrer de forma controlada.
Para Santa Vitória adquirem-se 30 barricas novas/ano, uma quantidade objectivamente pequena, mas agora, que as novas tendências do gosto mudaram, é sobretudo a barrica usada que tem mais uso, em detrimento da barrica nova. Por isso é hoje bem menor o “peso” da barrica nos vinhos, quer nos brancos quer nos tintos.
Novos projectos em carteira
E, quanto a projectos, há novidades. Para já no Douro onde foi adquirida uma quinta (com estadia de alguns quartos), perto da foz do rio Torto e ao lado da Quinta de Nápoles. A quinta dispõe de 22 ha de vinha e onde já se fez a vindima de 2018. Bernardo não se poupa em elogios ao que lá se colheu, “uvas fabulosas, estou convencido que vamos conseguir fazer ali grandes vinhos”. Há vontade de avançar na região dos Vinhos Verdes, mas para já não há decisões. E quanto ao Alentejo, é possível que se avance para um vinho de talha. “Já plantámos Moreto” e, apesar de todos dizerem que é cada vez mais difícil comprar talhas, “esse assunto está controlado”, como nos lembrou Bernardo Cabral. No capítulo dos espumantes é provável que se dê o salto do exclusivo consumo interno do que se produz para uma produção que vise a ida para o mercado. Os vinhos têm mudado de estilo, acompanhando as modas, neste caso as boas modas: tintos com menos grau e menos extracção e brancos com mais frescura e menos barrica nova. O consumidor avisado só pode mesmo aplaudir.
NA FOTO: Bernardo Cabral e Patrícia Peixoto.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]
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Edição Nº26, Junho 2019
A terceira vida do Barrocal
O hotel rural de luxo perto de Reguengos de Monsaraz está a produzir carne, legumes, ervas, compotas — e tudo o que o Alentejo der. TEXTO Ricardo Dias Felner FOTOS São Lourenço do Barrocal/Filipe Lucas Frazão Manuel Calado não é um homem qualquer. Tem a pele dura, um chapéu que lhe ensombra os olhos, beata […]
O hotel rural de luxo perto de Reguengos de Monsaraz está a produzir carne, legumes, ervas, compotas — e tudo o que o Alentejo der.
TEXTO Ricardo Dias Felner
FOTOS São Lourenço do Barrocal/Filipe Lucas Frazão
Manuel Calado não é um homem qualquer. Tem a pele dura, um chapéu que lhe ensombra os olhos, beata na boca, a pose de quem é capaz de sacar de uma pistola e acertar numa lebre atrás de uma oliveira enquanto fala sobre a origem do enorme menir nas suas costas. Manuel Calado, arqueólogo, o Indiana Jones de Borba, está ali para explicar porque é que o Barrocal é uma terra predestinada.
Os montes da herdade foram a terra escolhida por diversas tribos sedentárias do Neolítico, nela se fixando os primeiros agricultores. A selecção terá obedecido a vários critérios de sobrevivência, segurança e alimentação — razões idênticas às que terão estado na origem, sete mil anos depois, do nascimento de São Lourenço do Barrocal.
O arqueólogo do Barrocal conta ainda, no âmbito das caminhadas pela propriedade organizadas pelo hotel do Barrocal, que no século XIX, nos mesmos afloramentos graníticos com vista para Monsaraz, ergueu-se uma pequena aldeia agrícola, detida pela família de que o actual proprietário, José António Uva, é descendente em oitava geração.
Aqui chegaram a produzir-se cereais, vinho, legumes, gado, bem como centros de produção como padaria e matadouro — actividade que obrigava ao alojamento de 50 famílias dentro da herdade. Mas duzentos anos passaram e a propriedade foi definhando, acabou nacionalizada com o 25 de Abril e, lentamente, foi sendo abandonada.
TEMPO DE REABILITAR
Quando José António Uva decidiu reabilitá-la, em 2002, já só a casa do hortelão estava habitável. A ideia era recuperar os tempos gloriosos de antigamente, primeiro como hotel rural de charme, com todos os requintes de um cinco estrelas e o dedo de Eduardo Souto Moura na reabilitação, depois como centro produtor de bens gastronómicos.
É esta faceta que agora se refina — para a terceira vida do Barrocal. Primeiro, apareceu o restaurante a cargo de José Júlio Vintém, o cozinheiro alentejano do Tomba Lobos, em Portalegre. Depois, estenderam-se mesas junto à piscina, com uma carta apropriada ao veraneio, também da autoria de Vintém. Ao mesmo tempo, a enóloga Susana Esteban começou a trabalhar nas vinhas da propriedade e a cultivar outras. E o olival, essencialmente de galega, passou a ser tratado, com as azeitonas a serem espremidas no lagar do vizinho — “e amigo” — Esporão. Decidiu-se que tudo o que ali florescia devia ser aproveitado — das ervas aromáticas aos limoeiros —, que se haveria de voltar a semear a terra, e que os bovinos de raça alentejana cruzados com saler francesa continuariam a pastar por ali, acabando às mãos de José Júlio Vintém, para assados e pratos de tacho.
Neste momento, a produção ainda se faz por tentativa e erro, mas tem o entusiasmo das primeiras coisas, de uma vontade de fazer único e fazer bem.
CRIAR UMA REDE DE PRODUTOS AUTÓCTONES
Para além deste esforço de auto-suficiência, sempre em regime biológico, José António Uva está ainda a criar uma rede de fornecedores locais. Parte dos produtos que ainda é preciso comprar fora, para servir no Barrocal — seja ao pequeno-almoço, ao almoço ou ao jantar — vem de pequenos produtores das redondezas. Há peixes de rio do Alqueva, como o lúcio perca que Vintém aproveita para ceviche, há queijos de ove-lha e cabra, mel, pão do Baldio, enchidos da Montanheira, tudo produtores parceiros do Barrocal.
José António Uva vê assim prestes a concretizar-se a segunda fase do seu sonho. Voltar a tornar a propriedade, não apenas num hotel, mas num lugar de parti¬lha e de produção de comida boa. A história do Barrocal contada por Manuel Calado começou há 7.000 anos. Mas não acaba aqui.
NA FOTO: José Júlio Vintém assegura a restauração do Barrocal.
Edição Nº25, Maio 2019
Morais Rocha Um regresso à Vidigueira
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O que começou em 2006 como forma de matar saudades da terra, toma agora ar de coisa mais séria. Os vinhos da casa Morais Rocha representam um portefólio vasto, com qualidade e carácter regional.
TEXTO E FOTOS Luís Lopes
JJMR, as iniciais que dão nome à sociedade agrícola, significam José Joaquim Morais Rocha. Este empresário nasceu na Vidigueira, de onde sua família é originária, mas muito cedo fez de Lisboa sua residência e da logística portuária e dos trânsitos de importação e exportação o seu modo de vida. À vila foi voltando para descansar nos fins de semana, mas em 2005 recebeu por herança as propriedades familiares e resolveu investir na agricultura, ampliando o património e apostando sobretudo no olival e na vinha.
A estrutura fundiária da Vidigueira pouco tem a ver com a de outras zonas do Alentejo. Aqui impera o minifúndio e as propriedades são muito fragmentadas. Para adquirir áreas com alguma dimensão é preciso comprar a dezenas de proprietários. Foi isso que José Joaquim foi fazendo. Com a terra, as oliveiras e as videiras, nasceu um lagar de azeite, de prensagem a frio, e uma pequena, mas bem equipada adega. A primeira vindima decorreu em 2006, 7.000 garrafas, vendidas para “os amigos”. Com o tempo, o crescimento das propriedades e da produção, aquilo que começou quase como um hobby tornou-se uma coisa muito mais séria. É que hoje são já 100 hectares de olival, que originam 45 mil litros de azeite, parte vendido a granel, parte com a marca Herdade dos Veros. A vinha corresponde a 18 hectares, plantados com as castas tintas Aragonez, Trincadeira, Syrah, Alicante Bouschet, Cabernet Sauvignon e as brancas Antão Vaz, Arinto e Verdelho (Verdejo, no caso). Mas mais 20 hectares serão plantados em breve.
CRESCER COM AJUDA DE PROFISSIONAIS
A profissionalização do projecto de José Joaquim Morais Rocha chegou há três anos, dinamizada pela sua filha Ana, que agora gere o dia a dia da empresa, com o apoio técnico dos enólogos Ariana Ramalho (residente) e Diogo Lopes (consultor), lidando com cerca de 180 mil garrafas/ano, número que obriga já a nova ampliação da adega e armazenagem.
O portefólio da JJMR tem na base de gama a marca Sei Lá, seguindo-se na hierarquia a linha JJ, depois a Herdade dos Veros, e culminando com os topo Morais Rocha, Reserva e Grande Reserva. Este último, que se estreia agora ao mercado com a colheita de 2013, representa bem o carácter mais clássico da Vidigueira, assente nas castas Trincadeira, Aragonez e Alicante Bouschet, e com muito bom equilíbrio ácido a compensar a maturação elevada. Um vinho que vem dar mais “músculo” ao negócio de uma família que viu no regresso às origens e na agricultura uma opção de futuro para as gerações vindouras.
NA FOTO: Ana, José Joaquim e João Morais Rocha.
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Edição Nº25, Maio 2019