Baga Friends: Amigos da baga trazem boas novas

baga friends

Reunir para agitar as águas, criar o movimento para reabilitar a Baga entre os viticultores e consumidores em Portugal e projectar a nossa casta autóctone lá fora é o objectivo dos Baga Friends, grupo de produtores que se uniram à volta desta variedade. A associação formou-se em 2012 e faz-se notar o renascimento contínuo da […]

Reunir para agitar as águas, criar o movimento para reabilitar a Baga entre os viticultores e consumidores em Portugal e projectar a nossa casta autóctone lá fora é o objectivo dos Baga Friends, grupo de produtores que se uniram à volta desta variedade. A associação formou-se em 2012 e faz-se notar o renascimento contínuo da Baga desde então.
“Quando comecei o projecto em 2001, não havia produtores novos a trabalhar com Baga. Merlot e a Cabernet Sauvignon tinham mais popularidade”, conta a produtora Filipa Pato. Os amigos da Baga são muito diferentes na sua visão. Trabalham cada um à sua maneira, mas todos adoram a Baga e a Bairrada. São um núcleo duro, e mesmo não fazendo muitos eventos, conseguiram fazer uma “pequena revolução” na região. “De norte (Fogueira) até ao sul (Souselas) voltou-se a aderir à Baga. Quem já a tinha retirado dos rótulos, voltou a colocá-la em letra grossa”, repara Mário Sérgio Nuno, da Quinta das Bágeiras, que, juntamente com Filipa Pato, foi impulsionador deste movimento.

Bairradino de gema
E quem são os Baga Friends? Desde logo, o bairradino de gema, Luís Pato, sempre foi o grande defensor e promotor da Baga, mesmo quando a maioria dos produtores dava preferências às castas estrangeiras. À Baga dedicou mais de 40 anos da sua carreira e o melhor argumento a favor da casta eram os seus vinhos que mostraram elegância e longevidade da casta, quando trabalhada com sabedoria. “Baga dura 25 anos certamente, 30 talvez, 40 – quem cá estiver que veja!” –, desafia o Senhor Baga. Mário Sérgio, um bairradino incontornável com ligação à viticultura de forma geracional, respira Baga desde 1989, quando começou o seu projecto familiar da Quinta das Bágeiras, produzindo vinhos de identidade inconfundível. Paulo Sousa, o engenheiro químico com 20 anos de experiência no departamento de qualidade de uma empresa produtora de vinhos na região, dedicou-se ao projecto familiar, iniciado pelo seu pai, Sidónio de Sousa, em 1990.
Uma história de pura paixão pela Baga e Bairrada começou quando o sommelier francês e proprietário de uma garrafeira em Paris, François Chasans, provou um vinho da Bairrada pela primeira vez. Instalou-se em terras bairradinas e na sua Quinta da Vacariça produz vinhos densos e longevos, cheios de carácter. Pratica uma viticultura biodinâmica, “não como argumento de marketing, mas para obter a precisão no resultado final”, diz. Filipa Pato é tão dedicada à Baga como o seu pai, Luís Pato, mas num projecto próprio juntamente com o seu marido, o conhecido sommelier belga William Wouters. Os seus Baga, puros e autênticos, nunca passam despercebidos e mostram o lado mais feminino e delicado da casta. O irreverente e carismático Dirk Niepoort, grande produtor de vinhos do Douro e do Porto, confessa que adora a Baga e a Bairrada. Seguindo esta paixão, há mais de uma década, adquiriu a Quinta de Baixo, com 25 ha de vinha, onde tem parcelas centenárias e de onde vem o Poeirinho, num estilo bem diferente do praticado antes – mais leve, com teor de álcool baixo e acidez vincada. Agora o seu filho Daniel continua a trabalhar com a mesma filosofia. O mais recente membro do grupo é o enólogo Luís Patrão, com o seu projecto Vadio, que teve o início em 2005 com 0,5 ha de vinha da família e cresceu até ao 10 ha actuais.

baga friends

Os sete ilustres amigos da Baga juntaram-se para apresentar a segunda edição do vinho feito em conjunto

Tinto para já, espumante para mais tarde
No final de abril, em antecipação ao Dia Internacional da Baga, celebrado a 4 de maio (graças ao esforço dos Baga Friends, que abrem sempre as suas adegas ao público com festa rija e eventos especiais), os sete ilustres amigos da Baga juntaram-se para apresentar a segunda edição do vinho feito em conjunto – Baga Friends 2015, de que se encheram 1135 garrafas. É um blend comunitário, que expressa o carácter de cada produtor, de cada propriedade, através de um bouquet de filosofias distintas com o denominador comum – a Baga. O carácter e a voz de cada vinho são bem fortes e ainda se sentem. Talvez seja preciso mais algum tempo para estas vozes se tornarem um coro, e para os feitios de cada vinho atingirem a integridade plena. Este pormenor também traz uma complexidade adicional. No nariz dominam os Baga mais aromáticos, enquanto na boca fica bem presente a estrutura dos contributos mais tânicos e texturados. A primeira edição do vinho Baga Friends foi da colheita de 2011, já que não têm a intenção de o fazer todos os anos, só nos de excelência. E, já agora, fica o teaser: a próxima edição dos Baga Friends será um espumante de 2023, que já está em estágio e será lançado em 2029 para brindarmos à Baga e à Bairrada. Afinal, somos todos amigos da Baga no sentido mais lato.

(Artigo publicado na edição de Junho de 2024)

Baga Friends com programas especiais no Dia Internacional da Baga

Baga Friends Dia Internacional

No próximo dia 6 de Maio festeja-se, na Bairrada, o Dia Internacional da Baga, criado em 2022 quando do décimo aniversário dos Baga Friends, a associação de produtores da região fundada, em 2012, para promover a casta tinta mais emblemática da Bairrada. Com o lema “A Baga nas suas 7 quintas”, os sete produtores que […]

No próximo dia 6 de Maio festeja-se, na Bairrada, o Dia Internacional da Baga, criado em 2022 quando do décimo aniversário dos Baga Friends, a associação de produtores da região fundada, em 2012, para promover a casta tinta mais emblemática da Bairrada.

Com o lema “A Baga nas suas 7 quintas”, os sete produtores que actualmente integram os Baga Friends — Filipa Pato, Luís Pato, Quinta da Vacariça, Quinta das Bágeiras, Quinta de Baixo, Sidónio de Sousa e Vadio — terão, neste dia, programas especiais nas suas adegas, das 10h00 às 18h00, com provas de vinho, animação e pratos típicos.

Mário Sérgio Nuno, proprietário da Quinta das Bágeiras, comenta: “A Baga é uma casta muito versátil, que tanto produz vinhos espumantes, rosés e tintos jovens como tintos com grande capacidade de guarda. Num país como o nosso, em que a tradição é o lote de castas, a Baga, sozinha, tem a acidez, os taninos e a estrutura aromática para fazer grandes vinhos, sem precisar de outras castas. Por trabalharmos com a Baga há tantos anos, e lhe conhecermos as qualidades e as dificuldades, sabemos que é uma grande casta e que merece ser distinguida e reconhecida no mundo inteiro, e celebrada com um Dia Internacional dedicado”.

Para participar nas actividades dos Baga Friends, no Dia Internacional da Baga, é necessário adquirir um passe que dá acesso às sete adegas. Este tem duas modalidades: o passe “normal”, com um custo de €30; e o passe VIP, de €80, que inclui entrada no jantar final, que decorrerá no restaurante Rei dos Leitões, na Mealhada (limitado a 200 lugares).

Segundo dados da Comissão Vitivinícola da Bairrada, a Baga “representa 4% da área de vinha plantada em Portugal, sendo a sétima mais utilizada na produção de vinho. Dos mais de 8 mil hectares plantados em todo o país, na Bairrada tem o maior peso, na ordem dos 3500 hectares”.

Baga Friends: Unidos pela casta rainha da Bairrada

Os sete amigos da Baga foram, em Setembro passado, anfitriões de mais um evento dedicado à casta e à Bairrada, na Quinta das Lágrimas, em Coimbra. Uma masterclass de luxo, dada pelo grupo, foi o momento alto. TEXTO Mariana Lopes FOTOS João Rico/Baga Friends Os Baga Friends são António Rocha (vinhos Alexandre de Almeida – […]

Os sete amigos da Baga foram, em Setembro passado, anfitriões de mais um evento dedicado à casta e à Bairrada, na Quinta das Lágrimas, em Coimbra. Uma masterclass de luxo, dada pelo grupo, foi o momento alto.

TEXTO Mariana Lopes
FOTOS João Rico/Baga Friends

Os Baga Friends são António Rocha (vinhos Alexandre de Almeida – Hotel Palace do Bussaco), Dirk Niepoort, Filipa Pato, François Chasans (Quinta da Vacariça), Luís Pato, Mário Sérgio Nuno (Quinta das Bágeiras) e Paulo Sousa (Sidónio de Sousa). A missão do grupo é nobre: colocar a Baga nas bocas do mundo, mostrar a sua origem e todas as suas potencialidades, num regime de “juntos somos mais fortes”. E são. Cada um com personalidade muito própria, no vinho e na pessoa, perfazendo um bando cool mas bem organizado, levando a sério o intento.
Para o evento vieram jornalistas estrangeiros, nacionais, sommeliers portugueses e de outros países e vários líderes de opinião de diferentes ofícios. Um dos pontos altos foi a masterclass de abertura, sob o tema Sete Terroirs da Baga, na qual cada produtor apresentou um vinho, explicando os seus “comos” e “porquês”. Luís Pato introduziu: “Queremos mostrar o melhor da Baga e também passar uma imagem de qualidade, consolidada por este grupo. Estamos a trabalhar juntos para mostrar que a Baga é a melhor, de várias maneiras.

Dirk Niepoort começou por uma confissão: “O meu grande amor sempre foi a Bairrada, que é uma região complicada, mas interessante. Em cada pedaço de terra é possível ver variedade”; e deu o mote à apresentação do seu vinho, o Poeirinho 2015, de vinhas situadas em Cantanhede, explicando que “Poeirinho é um clone antigo da Baga, e eu gosto das coisas antigas”. Seguiu-se Filipa Pato, que, em dupla com William Wouters, trouxe o tinto Filipa Pato Território Vivo 2015. “Vindo do mundo dos sommeliers e da comida, tenho de dizer que a Baga vai muito bem com fine cuisine”, disse William. Óis do Bairro, sítio das vinhas de 60 anos de onde vem este vinho, é um dos lugares mais altos da Bairrada, onde o casal mantém uma grande biodiversidade e interacção. Filipa esclareceu: “Como jovem produtor, achamos que é importante manter as tradições e as vinhas velhas, recorrer às pessoas novas e às antigas.”
Depois, Luís Pato deu a provar o seu Vinha Pan 2015, da vinha da Panasqueira, que fica entre São Lourenço do Bairro e São Mateus. O Buçaco Vinha da Mata 2015 foi o que surgiu de seguida, um vinho com 75% de Baga de uma vinha situada em plena Mata do Buçaco e 15% de Touriga Nacional do Dão, uma curiosidade que se destina quase praticamente ao consumo no Hotel Palace do Bussaco. Mário Sérgio Nuno e o filho Frederico Nuno trouxeram o Quinta das Bágeiras Garrafeira 2015, de uma vinha plantada há mais de cem anos, em Ancas. “Fazemos duas colheitas nesta vinha, uma primeira que se destina a espumantes e a segunda para vinho tranquilo”, explicou Mário Sérgio.

O sexto vinho apresentado foi o Sidónio de Sousa Garrafeira 2015, por Paulo Sousa e pelo seu filho Afonso, que contou um pouco da história da empresa: “Começámos há mais de cem anos a produzir para outras casas. Em 1985, a produção passou a ser em nosso nome e com o nosso nome. Sidónio de Sousa, o meu avô, tem 88 anos e ocupa-se da vinha, enquanto que o meu pai está mais na adega.” François Chasans introduziu o Quinta da Vacariça Garrafeira 2015, um tinto pujante nos taninos que, à semelhança das edições anteriores, mostrou que se manterá novo por bastante tempo. Por último, o vinho do grupo, Baga Friends 2015, um lote para o qual todos os elementos contribuíram com 200 litros da sua melhor Baga, o que originou 1.400 garrafas, cem em formato magnum. Um vinho super-interessante e único, não fosse ele feito de sete Bagas de terroirs distintos.
Outro momento de destaque foi a prova livre, onde cada Baga Friend expôs os seus vinhos (da Bairrada), novos, velhos e dos mais variados estilos. Porque a Bairrada, apesar da sua média dimensão, é uma cartola mágica de diversidade vínica, desde as pessoas, aos recantos de terra e a todas as variedades neles plantadas. Mas quem fica é pela Baga, uma viagem sem retorno.

Edição Nº18, Outubro 2018