A Baga nas suas oito quintas…

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Com o Rio Mondego a Sul, o Rio Vouga a Norte, o Oceano Atlântico a Este, e as Serras do Caramulo e do Buçaco a Oeste, a Bairrada, região vitivinícola demarcada em 1979, tem hoje características únicas. Com uma predominância de solos argilosos, um clima temperado pelo Oceano Atlântico e o cultivo de castas autóctones […]

Com o Rio Mondego a Sul, o Rio Vouga a Norte, o Oceano Atlântico a Este, e as Serras do Caramulo e do Buçaco a Oeste, a Bairrada, região vitivinícola demarcada em 1979, tem hoje características únicas. Com uma predominância de solos argilosos, um clima temperado pelo Oceano Atlântico e o cultivo de castas autóctones como a Baga, o rio Cértima é a veia da região, que vai da ponta Sul até à maior lagoa natural da Península Ibérica, a Pateira de Fermentelos.

A Baga é a casta tinta, autóctone e predominante, que marca a identidade da região da Bairrada. Plantada em solos argilosos, com uma excelente exposição solar, produz em grande quantidade, cachos pequenos e com uma maturação tardia.
Destaca-se por produzir vinhos ricos em taninos, de elevada acidez, intensos na cor e com uma concentração elevada de aromas, que suportam bem o envelhecimento. É uma casta que dá destaque à região, com a produção de uma diversidade de vinhos, desde base de espumante, a vinhos rosé e, naturalmente, vinhos tintos.

A partilha do sentimento de admiração e paixão pela casta Baga e região da Bairrada, assim como as preocupações quanto ao seu futuro, levaram a que, em 2012, um grupo de produtores unisse forças e criasse os “Baga Friends”. O grupo, hoje constituído pelos oito produtores acima mencionados, mantém-se unido com o propósito de promover e reforçar a visibilidade da casta Baga para o mercado nacional e internacional e de contribuir para o prestígio dos vinhos produzidos na região. É um grupo heterogéneo que se complementa, onde cada um dos produtores cria vinhos diversificados, seguindo diferentes caminhos enológicos, procurando novas versões – mais clássicas ou modernas – mas mantendo sempre a ligação à autenticidade da região, à casta e à expressão da qualidade e seu potencial.
O Dia Internacional da Baga foi criado pelos Baga Friends aquando da celebração dos seus dez anos de existência, em 2022, e celebra-se, todos os anos, no primeiro sábado de Maio.

A Baga é a casta tinta, autóctone e predominante, que marca a identidade da região da Bairrada.

Variações sobre uma casta

Começámos os “trabalhos” cedo, pelo meio da manhã. O Patrão do Vadio, Luís de seu nome, tinha trazido uma novidade: o Finuum, que era nada mais, nada menos, que o vinho branco base do seu belíssimo Espumante Perpetuum, feito a partir de uma Solera iniciada em 2007. Este Finnum é produzido, pois, com algum vinho da colheita de 2021 e envelhecimento parcial biológico com véu-de-flor e estágio em solera. A semelhança com os Finos de Jerez é notória, mas menos intensa, e com os aromas e sabores transmitidos pelo véu de flor menos marcados, mais elegante e mais equilibrado. Será sempre óptima companhia para um saboroso prato de “Jamón de bellota”!

Trouxe mais dois vinhos, o Grande Vadio tinto 2017, que invoca a expressão máxima da Baga na Bairrada, definida pela elegância, frescura e capacidade de envelhecimento. Provém de vinhas de encosta, onde a exposição potencia melhores maturações e a Baga melhor se revela. Cada parcela é vinificada em pequenos depósitos, com remontagens manuais. Após a prensagem, os vinhos novos são transferidos de imediato para barricas usadas de 500 l onde ocorre a fermentação malolática e o estágio mínimo de 12 meses. O engarrafamento é mais precoce que o Vadio, a fim de manter uma maior definição de fruta e textura no tanino. No aroma revelou grande definição na fruta, onde se destacaram os frutos silvestres e notas balsâmicas típicas da Baga. O palato evidenciou grande harmonia e elegância, dominado por taninos delicados e acidez equilibrada. Já o Vadio tinto 2005, por sua vez, respeitando o estilo mais clássico da região da Bairrada, foi fermentado em pequenos lagares e envelheceu durante 18 meses em carvalho usado, e mais 18 meses em garrafa. Anualmente, 10% da produção do Vadio é guardada para um relançamento de uma edição 10 anos, com o objectivo de, segundo Luís Patrão, “poder demonstrar o potencial de envelhecimento dos vinhos produzidos a partir da casta Baga”, coisa que, passados 20 anos sobre este 2005, foi ampla e distintamente demonstrada.

“A Baga é intérprete de um terroir, tal como são o Nebbiolo em Barolo, ou o Pinot Noir na Borgonha. É também vector de promoção, afirmando um património cultural na defesa do bem comum”, diz François Chasans, da Quinta da Vacariça. François é caviste em Paris e, em 1998, provou um vinho da Bairrada que o levou a querer fazer vinho na região, no país de onde é proveniente a sua esposa. A Quinta da Vacariça tem cerca de 3 ha, com alguma zona de vinha velha e outras de plantação recente: 2 ha de vinha em Tamengos 100% Baga, 0,3 ha de vinha de 90 anos com variedade de castas autóctones brancas e tintas e 0,8 ha em Ventosa do Bairro. Francês da região da Normandia, François explora o seu terroir como se houvesse ouro dentro… “Para mim, é claro que o vinho se faz na vinha. Na adega, não uso nenhum produto, mesmo se autorizado em biodinâmica, com excepção de uma dose mínima de sulfitos. A vindima é manual em caixas perfuradas de 18kgs, o enchimento dos lagares e dos tonéis é feito por gravidade, as pigéages e remontagens são curtas e fraccionadas, e os estágios são de dois anos em foudre de carvalho. O engarrafamento é feito sem filtração, e o vinho estagia em garrafa durante 10 anos antes de ser comercializado. Também uso ovos de betão e ânforas de argila. Neste momento, estou a fazer ensaios para um vinho branco sem sulfitos e para um vinho laranja.” O produtor trouxe dois tintos, o Tonel 23 de 2011, e o 2015, que sairá para o mercado nunca antes de 2034 (!!!). Vinhos fantásticos. E “é disto que o meu povo gosta!”, já dizia o saudoso Jorge Perestrelo, nunca pensando, no entanto, que esta sua emblemática expressão pudesse ser aplicada a um vinho. Mas pode. Mesmo.

 

O Dia Internacional da Baga foi criado pelos Baga Friends aquando da celebração dos seus dez anos de existência, em 2022, e celebra-se, todos os anos, no primeiro sábado de Maio

 

Paulo Sousa, neto de Sidónio Sousa, que se iniciou na produção de vinho por volta de 1930, dedica-se a 100% à marca de vinhos que todos conhecemos, criada pelo seu pai em 1990, também Sidónio de seu nome. Hoje, são 12 hectares de vinhas próprias, em expansão, plantadas em solo argilo-calcário, em Ancas, na Bairrada. Provámos o espumante Special Cuvée 2022, feito de Baga, que se apresentou jovem e fresco, numa cor levemente rosada, frutado e com notas frutos secos, na prova teve uma bolha muito fina que se desfez graciosamente, dando muito prazer a beber. Dois tintos, ambos 100% Baga, o Reserva 2017 que apresentou boa acidez, típica da região, grande estrutura, taninos de qualidade, encorpado mas macio, e o Garrafeira 2017, um vinho superlativo em toda a sua extensão, dominado por notas de frutos silvestres e de floresta, extremamente elegantes, com taninos firmes e assertivos mas sem nenhuma aresta, um verdadeiro luxo e muita classe. Vinhas centenárias, repletas de castas autóctones, onde predominam a Baga e a Maria Gomes, plantadas em solos pedregosos e pobres, a matéria-prima é escassa, mas extremamente preciosa. Os solos de natureza calcária, que permitem a elaboração de vinhos únicos e inconfundíveis, ajudam à retenção da acidez natural e, transmitindo frescura e mineralidade, contribuem para a autenticidade, singularidade e complexidade do produto final.

Novos e antigos

E isto pode muito bem ser a definição dos vinhos Giz, de Luís Gomes, o mais recente membro dos Baga Friends. Um projeto empreendedor, que tem como foco principal a recuperação de vinhas antigas e tradicionais (salvando-as do desenraizamento) e a produção de vinhos autênticos em solos de natureza calcária, lembrando giz. Trouxe uma novidade, o seu mais recente espumante, belíssimo por sinal, o Giz Cuvée de Noirs 2018 Late Release, feito de Baga, com 60 meses de estágio, e dois tintos já nossos conhecidos, o Giz Vinhas Velhas 2021 e o Giz Vinha das Cavaleiras 2020, ambos de Baga, ambos de cheios de carácter e sentido de terroir.

O famoso “Mário Sérgio das Bágeiras” não veio desta vez. Veio o seu filho Frederico, e muito bem, diga-se de passagem, pela garantia de continuidade do projecto e do conceito deste produtor, orgulhoso vigneron, que nos vinhos não utiliza outras uvas que não as das suas vinhas, cuidadas com esmero ao longo do ano. Trouxe três vinhos: o já clássico espumante rosé de Baga, engarrafado no ano seguinte à vindima, que neste caso foi 2022, e sendo um Bruto Natural não teve qualquer adição de açúcar no licor de expedição; uma novidade, o Pai Abel rosé 2022, sempre de louvar quando os vinhos rosés são pensados, e feitos, como um “vinho à séria”, perfeitos para acompanhar uma refeição do princípio ao fim, como, por exemplo, uma Alheira do Fiolhoso com grelos salteados; e o já icónico Bágeiras Garrafeira tinto, na sua edição de 2020.

Filipa Pato também trouxe três vinhos, o Roleta Russa rosé 2023, a sua primeira experiência em vinho tranquilo rosé com a casta Baga, ligeira maceração pelicular, envelhecido seis meses em cascos de 500 e 600 litros, apresentou uma cor rosa com laivos alaranjados, aromas cítricos e alguma fruta vermelha, estrutura fina, taninos suaves, e uma alma profundamente mineral dos solos de calcário da era Jurássica. Complexo e refrescante, outro excelente rosé, outro “vinho à séria”, para acompanhar uma refeição de cozinha asiática ou umas tradicionais sardinhas grelhadas. Sem medos. Também veio um tinto, o Post Quercus Baga Bio 2023, sem madeira, feito em ânforas de barro. Um tinto com taninos muito macios, que expressa a pureza da fruta da casta Baga. E um vinho muito singular, o Espírito de Baga, um vinho fortificado, à moda dos vinhos do Porto Vintage, intenso e estruturado, mas sedoso, fresco e muito vivo, graças à acidez natural da casta e da região, e que deu imenso prazer a beber. “Na Bairrada, a Baga é a casta que melhor respeita o local e o Homem que a molda”, diz Filipa Pato

Já Luís Pato, por sua vez, trouxe alguma artilharia pesada, porque, como diz um nosso amigo comum brasileiro, “Festa é coisa séria!”. Vinha Pan e Vinha Barrosa, ambos de 2015, Vinha Pan 2020, e o espumante Vinha Pan 2015. “Não uso herbicidas e pesticidas nas vinhas, e reduzi o uso de produtos à base de cobre, substituindo-o pelo ozono. Alguns vinhos são produzidos sem o uso de sulfitos, sem colagem ou filtragem, e são elaborados exclusivamente com leveduras indígenas, tanto tintos, como brancos, e agora também na produção de espumantes. Os vinhos tintos da casta Baga não ultrapassam um total de sulfitos de 40mg/l …Bem abaixo dos 80mg/L dos vinhos biológicos”, acentua o decano dos Baga Friends. Os tintos apresentaram-se em grande forma, ricos, complexos, joviais até, mas muito sérios e de grande classe, tal como o espumante, feito de Baga, sem sulfuroso nem adição de açúcar, complexo, profundo, com leve oxidativo, grande estrutura e finesse.

Por último, a Quinta de Baixo, do universo Niepoort, brindou-nos com três edições do seu magnífico Poeirinho Garrafeira: 2012, 2015 e 2018. “Fala se muito no terroir: a Bairrada é muito especial, com qualidades únicas. Mas ainda mais especial é a brilhante combinação da Bairrada com a excêntrica e genial casta chamada Baga”, disse um dia Dirk Niepoort, e não podíamos estar mais de acordo.

E não podia faltar a Cuvée Baga Friends como é óbvio, na sua edição 2015, sempre em formato magnum, e onde cada um destes produtores contribui com uma barrica de um vinho seu para compor o lote final. Querem o coração e a alma da Bairrada num copo? Pois aqui está!
E assim demos por finalizados os “trabalhos matinais” e, finalmente, pudemos dedicar-nos aquilo que as gentes do vinho gostam verdadeiramente: sentar à mesa, boas e longas conversas, com boa comida e boas garrafas de vinho! Voilá!

Não seria justo se não escrevesse umas palavras para o local onde decorreu esta prova e almoço: o Parra Wine Bistro, na Rua da Esperança, em Lisboa. As paredes são um misto de tijoleira romana à vista e blocos de mármore rosa de um antigo talho que ali funcionou em tempos, tudo preservado. Frigoríficos repletos de (boas) garrafas de vinho, assegurando as diversas temperaturas de serviço, copos de qualidade, hall of fame das garrafas vazias ali bebidas em redor das paredes, tudo a contribuir para um grande ambiente vínico. E a comida, claro, criações do Chef residente num misto de produtos tradicionais portugueses com influências do mundo, num claro reflexo do ambiente cosmopolita da cidade de Lisboa hoje em dia. Arrisco mesmo dizer, sem nenhum receio, que o Tártaro de vaca com gema de ovo curada e filete de anchova, em pão croissant, um dos ex-libris do Parra Wine Bistro, será presentemente uma das melhores iguarias que se pode comer na cidade. E que bem que combinou com Baga! Brindemos, Pois!

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(Artigo publicado na edição de Maio de 2025)

Baga Friends: Amigos da baga trazem boas novas

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Reunir para agitar as águas, criar o movimento para reabilitar a Baga entre os viticultores e consumidores em Portugal e projectar a nossa casta autóctone lá fora é o objectivo dos Baga Friends, grupo de produtores que se uniram à volta desta variedade. A associação formou-se em 2012 e faz-se notar o renascimento contínuo da […]

Reunir para agitar as águas, criar o movimento para reabilitar a Baga entre os viticultores e consumidores em Portugal e projectar a nossa casta autóctone lá fora é o objectivo dos Baga Friends, grupo de produtores que se uniram à volta desta variedade. A associação formou-se em 2012 e faz-se notar o renascimento contínuo da Baga desde então.
“Quando comecei o projecto em 2001, não havia produtores novos a trabalhar com Baga. Merlot e a Cabernet Sauvignon tinham mais popularidade”, conta a produtora Filipa Pato. Os amigos da Baga são muito diferentes na sua visão. Trabalham cada um à sua maneira, mas todos adoram a Baga e a Bairrada. São um núcleo duro, e mesmo não fazendo muitos eventos, conseguiram fazer uma “pequena revolução” na região. “De norte (Fogueira) até ao sul (Souselas) voltou-se a aderir à Baga. Quem já a tinha retirado dos rótulos, voltou a colocá-la em letra grossa”, repara Mário Sérgio Nuno, da Quinta das Bágeiras, que, juntamente com Filipa Pato, foi impulsionador deste movimento.

Bairradino de gema
E quem são os Baga Friends? Desde logo, o bairradino de gema, Luís Pato, sempre foi o grande defensor e promotor da Baga, mesmo quando a maioria dos produtores dava preferências às castas estrangeiras. À Baga dedicou mais de 40 anos da sua carreira e o melhor argumento a favor da casta eram os seus vinhos que mostraram elegância e longevidade da casta, quando trabalhada com sabedoria. “Baga dura 25 anos certamente, 30 talvez, 40 – quem cá estiver que veja!” –, desafia o Senhor Baga. Mário Sérgio, um bairradino incontornável com ligação à viticultura de forma geracional, respira Baga desde 1989, quando começou o seu projecto familiar da Quinta das Bágeiras, produzindo vinhos de identidade inconfundível. Paulo Sousa, o engenheiro químico com 20 anos de experiência no departamento de qualidade de uma empresa produtora de vinhos na região, dedicou-se ao projecto familiar, iniciado pelo seu pai, Sidónio de Sousa, em 1990.
Uma história de pura paixão pela Baga e Bairrada começou quando o sommelier francês e proprietário de uma garrafeira em Paris, François Chasans, provou um vinho da Bairrada pela primeira vez. Instalou-se em terras bairradinas e na sua Quinta da Vacariça produz vinhos densos e longevos, cheios de carácter. Pratica uma viticultura biodinâmica, “não como argumento de marketing, mas para obter a precisão no resultado final”, diz. Filipa Pato é tão dedicada à Baga como o seu pai, Luís Pato, mas num projecto próprio juntamente com o seu marido, o conhecido sommelier belga William Wouters. Os seus Baga, puros e autênticos, nunca passam despercebidos e mostram o lado mais feminino e delicado da casta. O irreverente e carismático Dirk Niepoort, grande produtor de vinhos do Douro e do Porto, confessa que adora a Baga e a Bairrada. Seguindo esta paixão, há mais de uma década, adquiriu a Quinta de Baixo, com 25 ha de vinha, onde tem parcelas centenárias e de onde vem o Poeirinho, num estilo bem diferente do praticado antes – mais leve, com teor de álcool baixo e acidez vincada. Agora o seu filho Daniel continua a trabalhar com a mesma filosofia. O mais recente membro do grupo é o enólogo Luís Patrão, com o seu projecto Vadio, que teve o início em 2005 com 0,5 ha de vinha da família e cresceu até ao 10 ha actuais.

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Os sete ilustres amigos da Baga juntaram-se para apresentar a segunda edição do vinho feito em conjunto

Tinto para já, espumante para mais tarde
No final de abril, em antecipação ao Dia Internacional da Baga, celebrado a 4 de maio (graças ao esforço dos Baga Friends, que abrem sempre as suas adegas ao público com festa rija e eventos especiais), os sete ilustres amigos da Baga juntaram-se para apresentar a segunda edição do vinho feito em conjunto – Baga Friends 2015, de que se encheram 1135 garrafas. É um blend comunitário, que expressa o carácter de cada produtor, de cada propriedade, através de um bouquet de filosofias distintas com o denominador comum – a Baga. O carácter e a voz de cada vinho são bem fortes e ainda se sentem. Talvez seja preciso mais algum tempo para estas vozes se tornarem um coro, e para os feitios de cada vinho atingirem a integridade plena. Este pormenor também traz uma complexidade adicional. No nariz dominam os Baga mais aromáticos, enquanto na boca fica bem presente a estrutura dos contributos mais tânicos e texturados. A primeira edição do vinho Baga Friends foi da colheita de 2011, já que não têm a intenção de o fazer todos os anos, só nos de excelência. E, já agora, fica o teaser: a próxima edição dos Baga Friends será um espumante de 2023, que já está em estágio e será lançado em 2029 para brindarmos à Baga e à Bairrada. Afinal, somos todos amigos da Baga no sentido mais lato.

(Artigo publicado na edição de Junho de 2024)

Baga Friends com programas especiais no Dia Internacional da Baga

Baga Friends Dia Internacional

No próximo dia 6 de Maio festeja-se, na Bairrada, o Dia Internacional da Baga, criado em 2022 quando do décimo aniversário dos Baga Friends, a associação de produtores da região fundada, em 2012, para promover a casta tinta mais emblemática da Bairrada. Com o lema “A Baga nas suas 7 quintas”, os sete produtores que […]

No próximo dia 6 de Maio festeja-se, na Bairrada, o Dia Internacional da Baga, criado em 2022 quando do décimo aniversário dos Baga Friends, a associação de produtores da região fundada, em 2012, para promover a casta tinta mais emblemática da Bairrada.

Com o lema “A Baga nas suas 7 quintas”, os sete produtores que actualmente integram os Baga Friends — Filipa Pato, Luís Pato, Quinta da Vacariça, Quinta das Bágeiras, Quinta de Baixo, Sidónio de Sousa e Vadio — terão, neste dia, programas especiais nas suas adegas, das 10h00 às 18h00, com provas de vinho, animação e pratos típicos.

Mário Sérgio Nuno, proprietário da Quinta das Bágeiras, comenta: “A Baga é uma casta muito versátil, que tanto produz vinhos espumantes, rosés e tintos jovens como tintos com grande capacidade de guarda. Num país como o nosso, em que a tradição é o lote de castas, a Baga, sozinha, tem a acidez, os taninos e a estrutura aromática para fazer grandes vinhos, sem precisar de outras castas. Por trabalharmos com a Baga há tantos anos, e lhe conhecermos as qualidades e as dificuldades, sabemos que é uma grande casta e que merece ser distinguida e reconhecida no mundo inteiro, e celebrada com um Dia Internacional dedicado”.

Para participar nas actividades dos Baga Friends, no Dia Internacional da Baga, é necessário adquirir um passe que dá acesso às sete adegas. Este tem duas modalidades: o passe “normal”, com um custo de €30; e o passe VIP, de €80, que inclui entrada no jantar final, que decorrerá no restaurante Rei dos Leitões, na Mealhada (limitado a 200 lugares).

Segundo dados da Comissão Vitivinícola da Bairrada, a Baga “representa 4% da área de vinha plantada em Portugal, sendo a sétima mais utilizada na produção de vinho. Dos mais de 8 mil hectares plantados em todo o país, na Bairrada tem o maior peso, na ordem dos 3500 hectares”.

Baga Friends: Unidos pela casta rainha da Bairrada

Os sete amigos da Baga foram, em Setembro passado, anfitriões de mais um evento dedicado à casta e à Bairrada, na Quinta das Lágrimas, em Coimbra. Uma masterclass de luxo, dada pelo grupo, foi o momento alto. TEXTO Mariana Lopes FOTOS João Rico/Baga Friends Os Baga Friends são António Rocha (vinhos Alexandre de Almeida – […]

Os sete amigos da Baga foram, em Setembro passado, anfitriões de mais um evento dedicado à casta e à Bairrada, na Quinta das Lágrimas, em Coimbra. Uma masterclass de luxo, dada pelo grupo, foi o momento alto.

TEXTO Mariana Lopes
FOTOS João Rico/Baga Friends

Os Baga Friends são António Rocha (vinhos Alexandre de Almeida – Hotel Palace do Bussaco), Dirk Niepoort, Filipa Pato, François Chasans (Quinta da Vacariça), Luís Pato, Mário Sérgio Nuno (Quinta das Bágeiras) e Paulo Sousa (Sidónio de Sousa). A missão do grupo é nobre: colocar a Baga nas bocas do mundo, mostrar a sua origem e todas as suas potencialidades, num regime de “juntos somos mais fortes”. E são. Cada um com personalidade muito própria, no vinho e na pessoa, perfazendo um bando cool mas bem organizado, levando a sério o intento.
Para o evento vieram jornalistas estrangeiros, nacionais, sommeliers portugueses e de outros países e vários líderes de opinião de diferentes ofícios. Um dos pontos altos foi a masterclass de abertura, sob o tema Sete Terroirs da Baga, na qual cada produtor apresentou um vinho, explicando os seus “comos” e “porquês”. Luís Pato introduziu: “Queremos mostrar o melhor da Baga e também passar uma imagem de qualidade, consolidada por este grupo. Estamos a trabalhar juntos para mostrar que a Baga é a melhor, de várias maneiras.

Dirk Niepoort começou por uma confissão: “O meu grande amor sempre foi a Bairrada, que é uma região complicada, mas interessante. Em cada pedaço de terra é possível ver variedade”; e deu o mote à apresentação do seu vinho, o Poeirinho 2015, de vinhas situadas em Cantanhede, explicando que “Poeirinho é um clone antigo da Baga, e eu gosto das coisas antigas”. Seguiu-se Filipa Pato, que, em dupla com William Wouters, trouxe o tinto Filipa Pato Território Vivo 2015. “Vindo do mundo dos sommeliers e da comida, tenho de dizer que a Baga vai muito bem com fine cuisine”, disse William. Óis do Bairro, sítio das vinhas de 60 anos de onde vem este vinho, é um dos lugares mais altos da Bairrada, onde o casal mantém uma grande biodiversidade e interacção. Filipa esclareceu: “Como jovem produtor, achamos que é importante manter as tradições e as vinhas velhas, recorrer às pessoas novas e às antigas.”
Depois, Luís Pato deu a provar o seu Vinha Pan 2015, da vinha da Panasqueira, que fica entre São Lourenço do Bairro e São Mateus. O Buçaco Vinha da Mata 2015 foi o que surgiu de seguida, um vinho com 75% de Baga de uma vinha situada em plena Mata do Buçaco e 15% de Touriga Nacional do Dão, uma curiosidade que se destina quase praticamente ao consumo no Hotel Palace do Bussaco. Mário Sérgio Nuno e o filho Frederico Nuno trouxeram o Quinta das Bágeiras Garrafeira 2015, de uma vinha plantada há mais de cem anos, em Ancas. “Fazemos duas colheitas nesta vinha, uma primeira que se destina a espumantes e a segunda para vinho tranquilo”, explicou Mário Sérgio.

O sexto vinho apresentado foi o Sidónio de Sousa Garrafeira 2015, por Paulo Sousa e pelo seu filho Afonso, que contou um pouco da história da empresa: “Começámos há mais de cem anos a produzir para outras casas. Em 1985, a produção passou a ser em nosso nome e com o nosso nome. Sidónio de Sousa, o meu avô, tem 88 anos e ocupa-se da vinha, enquanto que o meu pai está mais na adega.” François Chasans introduziu o Quinta da Vacariça Garrafeira 2015, um tinto pujante nos taninos que, à semelhança das edições anteriores, mostrou que se manterá novo por bastante tempo. Por último, o vinho do grupo, Baga Friends 2015, um lote para o qual todos os elementos contribuíram com 200 litros da sua melhor Baga, o que originou 1.400 garrafas, cem em formato magnum. Um vinho super-interessante e único, não fosse ele feito de sete Bagas de terroirs distintos.
Outro momento de destaque foi a prova livre, onde cada Baga Friend expôs os seus vinhos (da Bairrada), novos, velhos e dos mais variados estilos. Porque a Bairrada, apesar da sua média dimensão, é uma cartola mágica de diversidade vínica, desde as pessoas, aos recantos de terra e a todas as variedades neles plantadas. Mas quem fica é pela Baga, uma viagem sem retorno.

Edição Nº18, Outubro 2018