James Martin’s: Um escocês só para nós

whisky

Martin’s é nome de whisky da Escócia. Até aqui não parece haver motivo de espanto, tal a proliferação de marcas de destilados que a região produz. Ao passear na zona velha de Edimburgo, deparamo-nos com imensas lojas não só dedicadas ao whisky, mas também aos tecidos de xadrez com que cada clã é identificado. Para […]

Martin’s é nome de whisky da Escócia. Até aqui não parece haver motivo de espanto, tal a proliferação de marcas de destilados que a região produz.

Ao passear na zona velha de Edimburgo, deparamo-nos com imensas lojas não só dedicadas ao whisky, mas também aos tecidos de xadrez com que cada clã é identificado. Para turistas, existe depois a parafernália de acessórios e bugigangas relacionadas com o whisky. E, ao olhar para uma montra carregada de garrafas, apercebemo-nos que mais de metade são marcas que desconhecemos. Nós, os simples apreciadores, sim, já para os coleccionadores o assunto é outro. E foi com coleccionadores que fomos a Edimburgo à apresentação da edição especial do whisky James Martin’s, apenas disponível em Portugal. A razão de ser desta exclusividade prende-se com o facto de a marca só ter sido mantida em virtude do apreço que tinha em Portugal.

Fundada em 1878, pertence hoje à Glenmorangie que, por sua vez, está integrada no universo LVMH. Desde 2013, a James Martin’s teve apenas duas edições – de 32 e 35 anos – exclusivas para Portugal. Sempre num registo de whisky de luxo, o James Martin’s, que actualmente ainda surge com frequência em leilões – conhecida pelo 20 anos e 30 anos mas também por algumas edições datadas -, apresentou agora uma edição exclusiva para Portugal de 498 garrafas com 44 anos. Estas edições limitadas prolongar-se-ão por quatro anos, saindo, em cada ano um deles, uma quantidade limitada e numerada.

Tal como acontece com muitas outras marcas escocesas, também a Martin’s estagia o seu whisky em barricas que anteriormente serviram a xerez oloroso e bourbon. Foi a partir das últimas reservas dos anos 80 que esta edição foi concebida. Trata-se de um single malt, ou seja, um whisky feito de cevada maltada, destilado numa única destilaria, distinguindo-se assim do pure malt, que resulta do lote de whiskies de várias destilarias.

O whisky, por ser uma bebida com longevidade assegurada em garrafa, deu origem ao nascimento de um alargado núcleo de coleccionadores, alguns deles integrados nesta comitiva que se deslocou a Edimburgo. Em todo o mundo estes clubes proliferam e as edições exclusivas são muito disputadas. Algumas garrafas atingem preços astronómicos, de dezenas de milhar de euros. Este 44 anos apenas estará disponível no Corte Inglés, em Lisboa.

(Artigo publicado na edição de Abril de 2025)

CASA DOS ESPÍRITOS: William Hinton, a estrela do rum da Madeira

rum

O rum começou por ser conhecido como aguardente de cana da Madeira e usado para fazer a poncha, a versão local da caipirinha brasileira. Mas, já neste século, tudo mudou. A alteração da designação de aguardente de cana para Rum Agrícola visou tornar a vida mais fácil aos muitos turistas que visitam a ilha e […]

O rum começou por ser conhecido como aguardente de cana da Madeira e usado para fazer a poncha, a versão local da caipirinha brasileira. Mas, já neste século, tudo mudou. A alteração da designação de aguardente de cana para Rum Agrícola visou tornar a vida mais fácil aos muitos turistas que visitam a ilha e a quem aguardente de cana, não só é difícil de pronunciar, como de identificar o produto como o Rum que de facto é. Bares e cocktails agradeceram e a elaboração de produtos distintos e de gama superior ganhou nova dimensão.

A cana-de-açúcar foi introduzida, na ilha, ainda no séc. XV, pouco tempo após a sua descoberta e foi muito importante na economia local, antes ainda do vinho ter assumido um papel de relevo. Dela a plantação do açúcar foi levada para as Antilhas e para o Brasil, onde a técnica foi replicada e onde assumiu um papel de enorme importância. O solo, a exposição, a disponibilidade, quer de água quer de material para os engenhos, foi determinante para o sucesso das plantações.

A primeira referência à produção de aguardente de cana data de 1649. Com o sucesso da produção na América, a produção local declinou (sem desaparecer) e foi aí que o vinho ganhou mais preponderância. A originalidade do rum agrícola e a diferença para um rum vulgar é-nos explicada por Américo Pereira, especialista local de destilados: “cerca de 95% do rum mundial é industrial, feito com restos de cana, melaço (que neste caso é um subproduto da destilação) e, na Madeira, apenas usamos o sumo fresco que depois fermenta durante 48 horas, muitas vezes sem leveduras ou, com frequência, com um pão em massa fresca da padaria, que aqui serve de levedura. No final, a grande diferença em relação ao rum da Venezuela ou Cuba é que o nosso tem mais acidez, é mais puro e tem muito pouco açúcar”.
Existem actualmente seis engenhos activos na ilha, onde se processa a produção de uma miríade de pequenos produtores de cana. A produção tem direito a IGP (Indicação Geográfica Protegida), e é obtida exclusivamente por fermentação alcoólica do sumo de cana-de-açúcar.A destilaria William Hinton foi fundada em 1845. Por volta de 1920, assumindo uma posição dominante na ilha, chegou a processar 600 toneladas de cana-de-açúcar por dia. O negócio interrompeu-se em 1986 e foi retomado em 2006 e a empresa, além do rum com indicação de idade tem também edições especiais, os Single Cask que utilizam cascos de variadas origens, como Madeira, Whisky, Carcavelos, Sauternes, entre outros. Deve ser apreciado a solo, com um cubo de gelo ou um pouco de água mineral e em cocktail, sendo que o mais simples é a adição de uma casca de laranja ao rum. Pode-se, no clássico cocktail Old Fashioned, substituir o whiskey por rum agrícola envelhecido.

(Artigo publicado na edição de Maio de 2024)

Uma aguardente “divinal” da Moldova

aguardente moldova

Nos tempos em que a Moldova fazia parte da União Soviética, qualquer aguardente vínica chamava-se “Cognac”, a ser entendido como um tipo de bebida e não uma denominação de origem. Depois de se tornar num estado independente e à procura de novos mercados, a República da Moldova começou a trabalhar no sentido de respeitar as […]

Nos tempos em que a Moldova fazia parte da União Soviética, qualquer aguardente vínica chamava-se “Cognac”, a ser entendido como um tipo de bebida e não uma denominação de origem. Depois de se tornar num estado independente e à procura de novos mercados, a República da Moldova começou a trabalhar no sentido de respeitar as regras do jogo e juntou-se ao Acordo de Lisboa, que visa assegurar a protecção das denominações de origem, como é o caso do vinho do Porto ou Champagne, por exemplo. Lançou-se, assim, no desafio de arranjar um novo nome para as aguardentes produzidas no país.
A primeira sugestão para substituir o habitual “Cognac” foi “Distvin” juntando as palavras “Distilat de Vin” (destilado de vinho) até que foi proposto um tuning mais sonante, transformando “Distivin” em “Divin”, o que na língua romena/moldava significa “divinal”. E desde 1993, este ficou o termo oficial para aguardente vínica produzida na Moldova. Em 2012 foi assinado o Caderno de Encargos que estabeleceu as regras de elaboração de Divin.
A área geográfica delimitada para a produção de aguardentes vínicas abrange todo o território do país, mas insere-se, praticamente toda, na zona continental localizada nos planaltos dos Cárpatos, no Norte, e inclui a área de Codru, no Centro, e as estepes de Bugeac, no Sul.
Entre as castas autorizadas para a produção de Divin, constam as variedades locais como a Fetească Alba, Alb de Onitcani, Alb de Suruceni, Riton e Luminita; as do Cáucaso como a Rkatsiteli e de países territorialmente próximos da Moldova, como Bianca, Pervenet Magaracea, Suholimanski belii; e castas internacionais, entre elas Chardonnay, Sauvignon Blanc, Riesling, grupo Pinot, Ugni Blanc, Silvaner e Aligote. Para os Divin em prova, foram utilizadas as castas Aligote, Chardonnay, Sauvignon, Fetească e Rkatsiteli.
A destilação é permitida em sistemas contínuos ou descontínuos. O tempo mínimo de estágio é de 3 anos para V.S. (Very Special); 5 anos para V.S.O.P. (Very Super Old Pale); 7 anos para X.O. (Extra Old) e 20 anos para X.X.O. (Extra Extra Old). O teor alcoólico mínimo do produto final deve ser 40%.
A Molddavshii Standart é um dos maiores produtores de aguardentes na Moldova, que iniciou a sua actividade em 1998. A gama de produtos destilados é vasta, entre os quais se destaca “Legenda Moldovei” que significa “Lenda da Moldova”, baseado numa lenda relacionada com a criação do Principado da Moldova no século XIV. Reza a história que o príncipe Dragoș andava à caça nas montanhas. Ao perseguir um bisonte, o seu cão, Molda, caiu nas águas de um rio e não sobreviveu, enquanto a presa foi morta pelas flechas dos caçadores. Em homenagem ao seu cão, o príncipe nomeou o rio de Moldova e o nome extendeu-se ao principado.

(Artigo publicado na edição de Outubro de 2023)