Quinta do Noval: Cada vez mais Douro, sem deixar o Porto

Quinta do Noval

Tal como muitas outras empresas da região, a Quinta do Noval começou por apenas produzir vinhos do Porto. Mas o apetite por vinhos DOC Douro levou a empresa, que hoje pertence à AXA Millésimes (Ch. Pichon Baron, Ch. Suduiraut, Ch. Pibran, entre outros) a interessar-se, inicialmente pelos tintos e mais recentemente pelos brancos. Foi assim […]

Tal como muitas outras empresas da região, a Quinta do Noval começou por apenas produzir vinhos do Porto. Mas o apetite por vinhos DOC Douro levou a empresa, que hoje pertence à AXA Millésimes (Ch. Pichon Baron, Ch. Suduiraut, Ch. Pibran, entre outros) a interessar-se, inicialmente pelos tintos e mais recentemente pelos brancos. Foi assim que começámos por conhecer uma primeira marca DOC Douro – Quinta do Noval – e logo de seguida uma segunda marca – Cedro do Noval – também ela inicialmente apenas tinto, mas agora muito forte também nos brancos. O interesse nos tintos estendeu-se também a vinhos varietais de castas portuguesas – Touriga Nacional e Tinto Cão – e de fora, como a Syrah, a Petit Verdot ou Cabernet Sauvignon. Mas a grande surpresa, como nos confessou Carlos Agrellos, que lidera a enologia da quinta “é a procura de brancos que nos vai levar a plantar mais área de vinha com castas brancas (e reenxertar outras), porque na quinta só temos 5,6 ha de uva branca. A procura estendeu-se também aos vinhos do Porto brancos, especialmente o Dry que está a crescer, ao contrário o Porto Lágrima (mais doce) cuja procura tem vindo a diminuir”. A Quinta do Noval tornou-se mundialmente conhecida pelos seus vinhos do Porto mas, reconhece Christian Seely, o CEO da empresa, “os tempos não correm de feição para os vinhos doces e mesmo em Sauternes, o Ch. Suduiraut está hoje a fazer mais vinhos secos do que doces com Botrytis (o clássico Sauternes); é triste dizer mas estamos agora a ganhar mais dinheiro com os brancos secos do que com os Sauternes!”
O Noval alargou a sua área com a inclusão da Quinta do Passadouro, adquirida em 2019, e cujas uvas podem entrar nos vinhos da quinta, considerada como é uma parcela do Noval. No entanto, do Passadouro continuaremos a ter quer vinhos DOC Douro quer vinhos do Porto.
Este momento foi aproveitado para dar a conhecer uma boa parte do portefólio da empresa. Juntaram-se aqui as novidades, com a forte aposta nos brancos, os vinhos da colecção Terroir Series e os novos vintages, todos da edição de 2022: Quinta do Passadouro, Quinta do Noval e Quinta do Noval Nacional.
Recordemo-nos que a empresa Quinta do Noval está intencionalmente fora da clássica dicotomia (desde sempre conotada com as empresas inglesas) entre Vintage Clássico e Vintage Single Quinta. A quinta do Noval tem declarado Vintage quase todos os anos, seja ou não o ano considerado como clássico por outros operadores. O ex-libris da casa continua, naturalmente, a ser o Vintage Quinta do Noval Nacional, um vinho original e raro, envolto numa aura de mistério que, na realidade, ninguém quer mesmo desvendar. É raro, faz-se em pequena quantidade e é muito caro. Neste ano de 2022 agora provado, não houve dúvidas: como a escala só tem até 20…não pudemos dar uma nota mais alta.

 

Quinta do Noval
O Noval alargou a sua área com a inclusão da Quinta do Passadouro, adquirida em 2019.

 

Seguem-se algumas indicações sobre a origem e vinificação dos vinhos provados:

Passadouro branco 2023 – prensagem cacho inteiro, solo de xisto; a casta Códega do Larinho entra aqui em 35%, é uma variedade pouco usada noutros vinhos, o que acontece também com a Fernão Pires e Gouveio.
Cedro do Noval branco 2023 – O lote inclui Códega do Larinho, Viosinho, Gouveio, Arinto e Rabigato. A Rabigato é uma casta tardia, tal como a Arinto e foram plantadas em zonas mais quentes para se poderem vindimar mais cedo; a Viosinho resiste muito bem à madeira nova não ficando muito marcada e por isso aqui esta casta fermenta em casco. As barricas estão sobre esferas para facilitar a bâtonnage sem abrir a barrica – durante um mês a bâtonnage é diária e depois passa a semanal – e decorrem sete meses desde a fermentação até ao engarrafamento. Neste vinho, em consequência da procura, a produção passou de 6.000 para quase 50.000 garrafas.
Cedro do Noval Reserva branco 2023 – Uvas compradas em Alijó. Aqui usa-se barrica da Borgonha e Bordéus para fermentar parte do mosto. Agrellos recorda que “sempre que o Viosinho se portar bem, como em 2023, teremos Cedro do Noval Reserva branco”. 14 500 garrafas produzidas
Quinta do Noval Reserva branco 2023 – Estas uvas vêm de uma vinha situada na cota mais alta da quinta; o mosto é 100% fermentado em barrica. Na totalidade, o vinho entre fermentação e estágio fica seis meses na madeira. Este branco é também a resposta à procura crescente de brancos secos, “a categoria que mais cresce no Douro”, diz Carlos Agrellos.
Passadouro Reserva tinto 2020 – Uvas desengaçadas e fermentação em cuba. Como nos recordou o enólogo: “este ano a Touriga Francesa foi muito precoce e ficou em passa logo no início da vindima, não se sabe porquê. A casta era a espinha dorsal do vinho e deixou de ser por causa disso. Já no caso das vinhas velhas, elas estão sempre bem, faça chuva ou faça sol”. O vinho esteve 12 meses em meias barricas, 90% novas.
Quinta do Noval Reserva tinto 2020 – Neste tinto Quinta do Noval, cerca de 40% dos encepamentos são Touriga Nacional e 9% são vinhas velhas. Este tinto, após fermentação em inox, esteve um ano em barricas de 225 litros, 40% novas e 60% de segundo ano.
Terroir Series Vinhas da Marka tinto 2020 – Esta é uma colecção especial; como nos informam “aqui mandam as vinhas velhas de castas misturadas, mas nada impede que possa haver um dia um vinho desta colecção que seja varietal, quer branco quer tinto, assim surja uma parcela especial”. Esta vinha foi plantada em 1930, tem um rendimento de 15 hl/ha. A exposição da vinha é curiosa: fica em frente à Vinha Maria Teresa (Quinta do Crasto) e apesar de ter orientação sul/poente, a meio da tarde deixa de ter sol directo, o que favorece a maturação mais lenta. Esta é a 2ª edição deste tinto. Feito em inox e estagiado em barrica (80% nova).
Terroir Series Vinhas do Passadouro tinto 2020 – Vinhas com orientação NW com 5500 pés por ha e uma produção de 12 hl/ha. O momento certo da vindima “é um feeling”, refere Agrellos. Este vem de uma parcela de menos de um hectare, plantada nos anos 30. Tem todas as castas das vinhas velhas antigas, aqui são cerca de 20. Desengaçado, fermenta em cubas troncocónicas, estagia um ano em meias barricas, 90% novas.

Quinta do Noval
A Quinta do Noval tornou-se mundialmente conhecida pelos seus vinhos do Porto.

 

Os Vintage, sempre
No caso dos vinhos do Porto, a empresa irá manter as marcas Passadouro e Quinta do Noval. Mas a marca Silval, que abandonaram em 2015, não voltará ser editada. Para a elaboração dos vinhos do Porto são adquiridos três a quatro lotes diferentes de aguardente e, depois, aqui fazem o lote conforme o tipo de Porto. Os Vintage agora apresentados foram de 2022, “um ano semelhante ao 2017, o mesmo calor e secura, mas os vinhos surpreenderam pela frescura apesar do calor”. Com muita regularidade têm também declarado o Noval Nacional: de 2017 a 2022 declararam todos os anos com a excepção do 2018 por causa da granizada de Maio.
Passadouro vintage 2022 – O ano 22 foi muito seco, choveu metade do que choveu em 2021. Ano seco – cachos pequenos – pouca produção – ano vintage! Esta é a sequência clássica. No entanto o classicismo choca com as alterações climáticas. “Já estávamos a fazer vinhos do Porto em finais de Agosto, não estes, mas isso é o reflexo do calor do ano”, refere o enólogo, acrescentando que “choveu a 12, 13 e 14 de Setembro, parámos a vindima e a recta final correu bem com boa maturação fenólica mas é preciso correr riscos”. Este Passadouro foi feito com pisa a pé nos lagares e estagiou 18 meses em toneis.
Quinta do Noval Vintage 2020 – O normal é começar a vindimar para Vintage em meados de Setembro e estender a vindima até Outubro. Este vintage corresponde a 6% da produção da quinta. “Seria possível fazer cinco vezes mais, mas não queremos aumentar”, afirma Christian Seely.
Quinta do Noval Nacional 2022 – A quinta tem viveiros de cepas da vinha do Nacional (uma pequena parcela em pé-franco) mas demoram vários anos a enraizar. Replantam 20 a 30 pés por ano. A vinha de pé franco demora 7 anos a dar os primeiros cachos; “fazemos uma autêntica jardinagem na vinha e na vindima pára tudo no dia x, dia em que se vindima tudo de seguida”. Pisado a pé num lagar pequeno e envelhece sempre no tonel antigo de carvalho e castanho com 2500 litros de capacidade.

(Artigo publicado na edição de Julho de 2024)

Vieira de Sousa: Dois “novos” Portos Colheita com 20 e 30 anos

Vieira de Sousa

O evento decorreu na OCCA – Oficina do Olival Contemporary Arts, em Lisboa, o local escolhido por Luísa e Maria Vieira de Sousa, co-proprietárias e rostos do projeto Vieira de Sousa, para o lançamento de duas novas referências no mercado de vinho do Porto Colheita, o Vieira de Sousa Porto Colheita 1994 e o Vieira […]

O evento decorreu na OCCA – Oficina do Olival Contemporary Arts, em Lisboa, o local escolhido por Luísa e Maria Vieira de Sousa, co-proprietárias e rostos do projeto Vieira de Sousa, para o lançamento de duas novas referências no mercado de vinho do Porto Colheita, o Vieira de Sousa Porto Colheita 1994 e o Vieira de Sousa Porto Colheita 2004.
A Vieira de Sousa é uma empresa produtora de vinhos do Douro e do Porto, proprietária de cerca de 70 hectares de vinhas espalhadas por quatro quintas, localizadas na sub-região do Cima Corgo. A Quinta da Água Alta, que reúne as quintas do Bom Dia e do Espinhal fica no Ferrão, em Gouvinhas. A Quinta da Fonte, em Celeirós do Douro. A Quinta do Fojo Velho, em Vale de Mendiz e a Quinta do Roncão Pequeno, em Vilarinho de Cotas.
As uvas usadas para a produção dos vinhos do Porto Colheita agora lançados têm origem em dois terroirs distintos, que se complementam entre si. O primeiro, o da Quinta da Água Alta, tem sobretudo exposição a sul, e vinhas com altitudes que vão dos 120 aos 412 metros de altitude. O segundo fica na Quinta do Fojo Velho, e está encaixado no vale do rio Pinhão. Tem exposição a poente, numa zona protegida do calor escaldante tradicional da região duriense durante o verão.
O encepamento é semelhante nas duas propriedades e é dominado casta Tinta Roriz, “que é determinante no envelhecimento fresco dos nossos tawnies”, contou Luisa Vieira de Sousa durante a apresentação dos Portos. A ela juntam-se, entre outras, a Touriga Francesa e a Tinta Amarela. Após a vindima, as uvas são pisadas pé e fermentam em lagares antigos de granito, nas adegas de cada uma das duas quintas até à paragem da fermentação, o que aconteceu para os dois vinhos lançados.

As uvas usadas para a produção dos vinhos do Porto Colheita agora lançados têm origem em dois terroirs distintos

Condições ideais
O da colheita de 1994 teve origem num ano que foi declarado para vintage clássico. O ciclo no campo iniciou-se com muita chuva e humidade, que originou rendimentos baixos na vinha. Mas, no período restante, as temperaturas nunca excederam os 38ºC e o clima manteve-se predominantemente seco, apenas entremeado com algumas chuvas oportunas. As vindimas decorreram em condições ideais, com as uvas no melhor estado sanitário e de maturação possível. Após a vinificação, foram escolhidos os lotes para o engarrafamento de Porto Vintage e, além destes, António Vieira de Sousa Borges, pai de Luísa e Maria, fez um outro que destinou para o envelhecimento a longo prazo em pipas, que foram sempre atestadas com vinhos de 1994. O lote do Porto Colheita deste ano teve origem nelas.
As uvas que originaram o Porto Colheita de 2004 também foram produzidas num ano particularmente favorável. No verão, as vinhas estavam em boas condições, mas já perto do stress hídrico. Mas decorreu alguma precipitação, num período de temperaturas relativamente baixas que originou uma maturação lenta. A vindima foi realizada sem chuva, nas melhores condições possíveis para o final do ciclo e do ano de trabalho na vinha. Após um inverno de estabilização e afinamento, António Vieira de Sousa Borges seleccionou também um lote para ser envelhecido em tonel, para guarda de longo prazo, que deu origem ao Porto Colheita 2004 agora lançado.

(Artigo publicado na edição de Junho de 2024)

Grande Prova: Douro de Ouro …por menos de €15

Prova Douro

Se calhar sou eu que sou velho e os tempos mudaram a mil-à-hora, mas lembro-me de anos (1980s, 1990s) em que a inflação era alta a sério e os vinhos não aumentavam assim tão depressa. Então, aconteceram outras coisas, e não têm a ver com a inflação apenas. Em vez disso, penso que o que […]

Se calhar sou eu que sou velho e os tempos mudaram a mil-à-hora, mas lembro-me de anos (1980s, 1990s) em que a inflação era alta a sério e os vinhos não aumentavam assim tão depressa. Então, aconteceram outras coisas, e não têm a ver com a inflação apenas. Em vez disso, penso que o que aconteceu foi uma mudança nos padrões de consumo. Já se sabe que os apreciadores que procuram vinhos com interesse acrescido fogem das categorias de entrada de gama, que ocupam bem mais de 90% do consumo de vinho em Portugal. É para esses que escrevo, mas não é fácil obter as estatísticas (sou matemático) que reforcem estas opiniões. As médias escondem as verdades. Então vamos pela via do diálogo.

Frescura natural
Fiquei muito impressionado pelo estilo do Crasto, e falei com o enólogo Manuel Lobo de Vasconcellos sobre o vinho. Lembro, como se fosse preciso, que este senhor confeccionou o melhor tinto do país em 2023, vindo da Vinha Maria Teresa. Falamos de “a different beast”, mas nem por isso menos impressionante. É que este Crasto tem apenas 15% de madeira, e mesmo assim tem uma dinâmica em boca impressionante, com suavidade e profundidade. Então, o Manuel disse-me que este vinho é pensado não só como um cartão de visita da Quinta do Crasto, mas também como um cartão de visita dos tintos do Douro. Tendo bem presente a prova de 30 tintos que tinha acabado de fazer, não posso deixar de concordar. O Douro afirma uma identidade e uma qualidade ímpares, mesmo nesta gama, que se já não é de entrada, é a gama de entrada para os consumidores mais interessados, como confirmei mais tarde com Patrícia Santos. Já lá vamos. Segundo Manuel, esta suavidade e profundidade não aparecem por acaso. Cada vez há um trabalho mais cuidado com as madeiras, as vinhas entretanto envelheceram e estão a fornecer uvas com mais qualidade todos os anos, a enologia evoluiu para perceber melhor o seu terroir e ir cada vez mais ao encontro dos desejos dos seus clientes. Esses desejos são cada vez mais vinhos frescos, macios e bebíveis, já se sabe que poucos vinhos serão guardados para um consumo mais tardio. Em especial nesta gama.

E a gama acaba por ser a de entrada. Segundo Manuel Lobo, do Crasto já se fazem 500 a 600 mil garrafas por ano. O vinho na gama abaixo, Flor de Crasto, nem é vendido em Portugal. Uma outra observação que Manuel me fez é que o vinho já não se chama “Quinta do Crasto,” mas apenas “Crasto.” O que significa isto: é óbvio, nem todas as uvas provêm da quinta, algumas vêm da quinta da família no Douro Superior, a Cabreira, onde a altitude assegura uma frescura natural suave e integrada. Mão de mestre na arte dos lotes, e temos cada vez mais vinhos que vão ao encontro dos nossos anseios à mesa. Isto mesmo fui validar falando com quem encara diariamente o consumidor. Patrícia Santos (“filha do Boss” — mítico Arlindo Santos — da Garrafeira de Campo de Ourique) confirmou que esta é uma categoria muito forte nos dias de hoje. São os novos vinhos baratos. Por vezes, se for uma grande quantidade, por exemplo para um casamento, podem lá procurar vinhos abaixo de €10. Já se for um vinho para oferta, os clientes procuram preços mais altos, de €20 ou €30 para cima. Mesmo que para o dia-a-dia os clientes procurem vinhos mais baratos, fazem-no nos supermercados, não procuram o comércio especializado. Neste ponto de preços, o Douro é a região mais forte. O Dão compete com vinhos de grande qualidade por volta de €10, enquanto Lisboa mantém este nível de preços mas oferece um outro estilo, mais leve, para pessoas que procuram diferença. Já no Alentejo, os vinhos de qualidade estão mais caros, e o cliente facilmente gasta mais de €20.

 

O Douro afirma uma identidade e uma qualidade ímpares, mesmo nesta, que é a gama de entrada para os consumidores mais interessados.

Cultura de vinho
Quem visita o Douro compreende porque é que esta região se tornou, em poucas décadas, tão forte comercialmente em Portugal e com um impacto impressionante na imagem dos vinhos portugueses no mundo. Começou logo por beber da fama dos vinhos do Porto, um dos nossos vinhos tradicionalmente mais conhecidos e uma das nossas marcas mais fortes. A seguir vem o facto de a região, sendo pequena, ter uma impressionante área de mais de 40 mil hectares de vinha. Praticamente é uma mono-cultura, e isso transvasa para as pessoas que habitam no Douro. Há ali verdadeira cultura de vinha e de vinho, onde cada duriense é um guardião do seu terroir, que acaba por ser o seu tesouro.
Acertando as agulhas com a enologia, com a fortíssima aposta em formação universitária que as últimas décadas viram, com os holofotes do país e do mundo para ali voltados, com produtores-estrelas a atrair as atenções de todos, com as casas mais fortes do sector do vinho do Porto cada vez mais apostadas em comprar propriedades para controlar a produção das uvas desde a origem, a qualidade acabou por ser o padrão e a exigência de toda uma região. Temos muita sorte, como consumidores, em ter um tal farol a liderar o sector. Mas esta é uma liderança partilhada, porque temos outras regiões que também fizeram o mesmo, galgando passos nos casos em que a cultura de vinho não era tão tradicional, ou porfiando em recuperar o tempo nos casos em que as estratégias eram orientadas para outros critérios.

Hoje vemos, em muitas regiões, fortíssimas apostas em qualidade, e produtores independentes a procurar caminhos alternativos para recuperar estilos antigos ou experimentar caminhos novos. Isso também se vê no Douro, e um dos vencedores deste painel afirma claramente essa diferença. Vou ser claro, este foi um painel muito fácil, porque todos os vinhos tinham belíssima qualidade. Mas também foi muito difícil, porque o estilo era quase sempre muito parecido. Binómio Touriga Nacional e Touriga Franca, com acompanhamento e/ou tempero das outras castas usuais, maturação e extracção elevadas, embora mantendo boa frescura ácida e taninos civilizados, trabalho ajuizado com a madeira, para amaciar e temperar o vinho sem o marcar com doçuras ou especiarias demasiado óbvias. Descrevi 95% do painel. As diferenças de classificação prendem-se com detalhes, seja a integração, seja a maciez, seja o apelo guloso, seja, raras vezes, uma questão de estilo e preferência pessoal. Pormenores. Convido o leitor a experimentar todos estes vinhos, faça o seu próprio painel com qualquer subconjunto deles. Vai deleitar-se, em particular, se no fim da prova da cozinha sair um assado fumegante e acabar à mesa em festa.

(Artigo publicado na edição de Junho de 2024)

Menin Douro Estates inaugura adega

Desenhada por um coletivo de arquitetos portugueses e brasileiros, é um edifício de estilo industrial, construído de forma a integrar-se totalmente na paisagem do Douro vinhateiro.

A Menin Douro Estates, empresa produtora de vinhos do Douro e do Porto, inaugurou recentemente a sua adega, que é também sala de visitas para quem quer conhecer melhor os vinhos da empresa. Desenhada por um colectivo de arquitectos portugueses e brasileiros, é um edifício de estilo industrial, construído de forma a integrar-se totalmente na […]

A Menin Douro Estates, empresa produtora de vinhos do Douro e do Porto, inaugurou recentemente a sua adega, que é também sala de visitas para quem quer conhecer melhor os vinhos da empresa.

Desenhada por um colectivo de arquitectos portugueses e brasileiros, é um edifício de estilo industrial, construído de forma a integrar-se totalmente na paisagem do Douro vinhateiro. A preocupação com o ambiente não se revela apenas na integração na paisagem, mas também no método de reciclagem de água, no uso de painéis fotovoltaicos, que suprem quase todas as necessidades energéticas da adega e o recurso a um tecto verde.

Entre os materiais usados, destacam-se as paredes em xisto, o betão, pintado, no interior, num tom que remete para a cor do vinho, e o inox. Todos os quatro andares estão ligados por uma escada em elipse, um dos elementos arquitectónicos em destaque em todo o espaço.

A sala de visitas da Menin Douro Estates inclui, além de uma sala de provas com vista para a de barricas, uma loja. Este espaço funciona como ponto de partida e chegada dos vários programas de enoturismo disponíveis na propriedade. São quatro packs, que se distinguem entre si pela duração do percurso e pela selecção de vinhos à prova.

Além de um passeio pelas vinhas e pela adega, com explicação do processo de produção, é possível visitar a casa do século XVIII, entretanto totalmente restaurada, e a capela. Fundamental também é a passagem pelo Jardim das Castas, uma espécie de laboratório vivo onde todas as 54 variedades de vinhas velhas encontradas na propriedade foram plantadas e estão a ser estudadas.

Real Companhia Velha: São 268 anos, but who’s counting?

Real Companhia Velha

1960: a família Silva Reis assume o controlo da Real Companhia Velha (RCV), com 60% do seu capital. Outros 35% pertencem à Casa do Douro e o resto está disperso. Já há vários anos que a direcção está a cargo de Pedro Silva Reis. Os seus filhos foram entrando pouco a pouco no negócio. Pedro […]

1960: a família Silva Reis assume o controlo da Real Companhia Velha (RCV), com 60% do seu capital. Outros 35% pertencem à Casa do Douro e o resto está disperso. Já há vários anos que a direcção está a cargo de Pedro Silva Reis. Os seus filhos foram entrando pouco a pouco no negócio. Pedro é enólogo e tem responsabilidades nos vinhos de mesa, Tiago é enólogo e blender de vinhos do Porto. Há muitos anos que o enólogo principal da casa é Jorge Moreira, e a viticultura está na mão de Álvaro Martinho Lopes. Hoje banalizou-se chamar paixão a tudo, mas é impossível ouvir Álvaro falar do Douro e não sentir que é essa a única palavra para o descrever.

A vida do Douro

Em evento recente no Hotel Bairro Alto em Lisboa, Álvaro Martinho Lopes explicou apaixonadamente (lá está) a vida do Douro. A vida das plantas, neste caso, e como elas influenciam e são influenciadas pelo homem. Álvaro é um homem da terra, do Douro, e faz compreender tudo muito bem. Quem já foi ao Douro sabe do que ele está a falar. Embevecido, relembra as suas memórias dessa incrível região de vinho. Quem não foi, fica imediatamente com vontade de ir. Vejamos algumas headlines: “uma vinha com 40 anos é jovem”, “o Douro tem um clima óptimo, mas as plantas têm de lutar, o solo é selectivo”, “O Douro é uma equação grande, com muitas variáveis: altitude, castas, exposição, vinhas velhas, vinhas novas. As Carvalhas são uma quinta igual às outras, o que difere são as pessoas.” Jorge Moreira interveio depois e confirmou isto tudo, enfatizando que, com as variações dentro da própria vinha, e tendo como objectivos os estilos de vinho pretendidos para cada parcela ou cada combinação de parcelas, o factor mais importante, quando chega a hora, é a data de vindima.
Quando Jorge Moreira chegou à RCV, em 2010, as Carvalhas estavam dedicadas ao vinho do Porto. Com 500ha, 150ha são de vinha, dos quais 50 são vinhas tradicionais, e nas outras há várias exposições solares, várias altitudes, várias pendências, inclusive algumas parcelas com caraterísticas que obrigam a trabalho com tracção animal. Jorge Moreira afirmou: “Com esta localização única, a quinta tem de tudo e tudo em grande escala, uma conjugação de factores que permite e obriga a fazer vários tipos de vinho. Há várias gerações que faz vinhos incríveis, e esta diversidade inclui pessoas, gente com sabedoria, com cultura de vinho, entre os quais proprietários apaixonados pelo Douro. E tem o Álvaro. Hoje vamos provar cinco vinhos que demonstram variedade. Mas poderíamos mostrar 10 ou 12.”
Uma outra questão interessante que Jorge Moreira abordou foi o terroir dos vinhos. Parece haver a convicção de que há zonas separadas para tawny, para vintage, para branco. Jorge não acredita muito nisso, e provou-o fazendo um branco da Serra de Galgas, a 450m de altitude e com menos 3ºC de média de temperatura e 1h20m diários de luz, ou melhor, tem luz mas não exposição directa ao Sol. Com exposição Norte, esta parcela de Gouveio tem uma fotossíntese gradual e é sempre a última a ser vindimada. O vinho completa-se com Viosinho da parcela Cruz, por cima da estrada interior da quinta, com altitude mais baixa.

“Há várias gerações que a Real Companhia Velha faz vinhos incríveis, e esta diversidade inclui pessoas, gente com sabedoria, com cultura de vinho, entre os quais proprietários apaixonados pelo Douro” – Jorge Moreira

 

56 castas vinificadas em separado…

A Quinta das Carvalhas presta-se a experimentação com castas, e tem grande sucesso nos seus varietais de castas raras. Talvez tanto sucesso que algumas deixem de ser raras. A Tinta Francisca resiste muito bem ao calor sem água. É uma casta nativa do Douro, logo melhor preparada para fazer o seu percurso fisiológico o mais eficientemente possível. Ou seja, amadurecer as sementes. Eficiente é fazer tudo com pouco. Sem desperdício. Segundo nos contou Álvaro Martinho Lopes, estas experiências nem sempre têm sucesso, e o pior é que demoram anos a ter resultados e representam investimentos significativos. A má experiência com o Donzelinho tinto foi uma boa lição, mas saiu cara. Segundo Pedro Silva Reis (filho), em 2023 fizeram na Real 287 vinificações, incluindo 56 castas separadas.
O Vinha do Eirol é a menina dos olhos de Pedro. Vem de uma parcela de vinhas velhas com a habitual mistura de castas, com exposição Poente, a 380m de altitude. A vinificação pouco interventiva assegurou pouca extracção e um perfil elegante, ligeiro e guloso. Um vinho à moda antiga, mas uma moda que regressa para alegria dos apreciadores de “vins de soif”.
Esta masterclass teve muita adesão da imprensa, influencers (?) e escanções. Uma sala cheia que provou depois uma nova referência, o Quinta das Carvalhas Reserva tinto. Este vinho pretende ocupar um lugar vago na gama das Carvalhas, com um perfil clássico, de Douro tradicional, assegurado por um lote de vinhos provenientes de parcelas com exposição Norte e outras de exposição Sul, e incluindo vinhas velhas, as Tourigas e o Sousão.
Em seguida, a apoteose com o Vinhas Velhas de 2020, um ano muito quente, mas de onde vem este vinho contido, mestria da viticultura e enologia da RCV, e seu conhecimento da quinta. Três parcelas específicas, cada vez mais as mesmas para este vinho, uma das quais teve direito a duas vindimas, uma precoce e outra tardia. Raposeira entra parcialmente para dar volume e maturação, Costa da Barca e Cartola garantem acidez e taninos vigorosos. Parece simples, mas representa muita sabedoria e o resultado é espantoso. Para confirmar que isto não é um acaso da Natureza, provámos um VV 2011, cuja elegância e juventude me impressionaram vivamente. Já com a Tinta Francisca tinha vindo uma testemunha de 2012, que fresco e vibrante mostrou uma suavidade que acrescenta garantias de prazeres futuros a todos estes vinhos.

Estilo leve e vibrante

Começa a faltar-me o espaço, mas não o fôlego. Gostei muito deste evento, onde ouvi falar com conhecimento e paixão dos lugares, terroirs, pessoas, vinhos, provei as novidades e suas testemunhas antigas. Em seguida houve um almoço ligeiro de finger food, onde pude ver o desempenho destes vinhos com comida, não esqueçamos que é esse o seu destino. O Hotel Bairro Alto teve recentemente Nuno Mendes como director criativo, que deixou os traços da sua genialidade na oferta gastronómica. Depois do almoço relaxado, numa sala ao lado podiam-se provar as múltiplas referências da empresa, com o bónus de ter a excelente equipa da Real a explicar cada vinho. Valem muito a pena os velhos vinhos do Porto, que a Real cultiva com um estilo leve e vibrante. Também aprecio muito o seu trabalho com castas minoritárias. É das poucas empresas onde se podem provar vinhos de Rufete ou Cornifesto. Tenho a certeza de que esta aposta vai dar frutos, e que mais vinhas serão plantadas com estas castas, para as salvar e preservar o estilo de vinhos que elas oferecem. A Real Companhia Velha é uma das empresas mais influentes do Douro, e eu agradeço-lhes a teimosia.

(Artigo publicado na edição de Abril de 2024)

Roquette & Cazes: Xisto, Douro de traço bordalês

Roquette & Cazes

O evento teve lugar no Porto e destinou-se a mostrar a nova edição do tinto Xisto, um vinho com origem na quinta do Meco (Douro Superior), uma propriedade que pertence à família Cazes e que se situa ao lado da quinta da Cabreira, que pertence à Quinta do Crasto. A ideia desta colaboração é muito […]

O evento teve lugar no Porto e destinou-se a mostrar a nova edição do tinto Xisto, um vinho com origem na quinta do Meco (Douro Superior), uma propriedade que pertence à família Cazes e que se situa ao lado da quinta da Cabreira, que pertence à Quinta do Crasto. A ideia desta colaboração é muito antiga. A família Cazes tem uma relação familiar com Portugal, uma vez que o patriarca Jean-Michel, recentemente falecido, casou com uma portuguesa de Moçambique. Embora sempre a viver em Bordéus, a verdade é que, em casa dos Cazes, a conversa entre os filhos e os visitantes se desenrola em português.

A ideia do projecto nasceu em 2002, mas o primeiro tinto Xisto a entrar no mercado foi da colheita de 2003, quando se entendeu que o vinho tinha o perfil e qualidade desejada. Uma segunda marca – Roquette & Cazes – surgiu em 2006. Mais do que ser um rótulo que surge em anos que não há Xisto, esta marca, com um PVP bem convidativo, poderá ter sempre edição, beneficiando da boa produção da quinta do Douro Superior. Neste momento atinge as 85 000 garrafas, mas Tomás Roquette, que conduziu esta apresentação, não deixou de salientar que em breve poderá chegar às 100 000 garrafas. A empresa, para além da quinta, não tem, como lembrou Tomás, “nada de nada. Nem adega nem equipa própria, nem armazém de barricas, nem estrutura comercial: tudo é alugado ou sub-contratado à quinta do Crasto”. No final, metade do stock é comercializado cá e o resto pela família Cazes.

Selecção exigente

A frequência de saída do tinto Xisto não acompanha a outra marca. “Ainda não conseguimos fazer todos os anos” e desde 2003 não teve edição em 2006, 06, 08, 10, 14, 16 e 17. A seguir a este, agora apresentado (2019), é certo que vai haver um hiato. Temos então dois tintos feitos com castas portuguesas, de vinhas do Douro mas com a expertise da enologia de Bordéus. Daniel Llose, consultor de enologia da família Cazes, e que está neste projecto desde o início, não deixou margem para dúvidas: “é preciso ser capaz de dizer não, quando não estamos 100% seguros da excelência. Por isso, creio que a seguir a este 2019, o que se vislumbra como próxima edição, poderá ser o 2023”. Seguro mesmo é que, nos anos em que não há Xisto, é o Roquette & Cazes que vê a sua quantidade aumentar. Mas Daniel ainda não tem todas as certezas, quando lembra que “após 48 vindimas, a única coisa que sei é que não sei tudo e há que continuar a estar atento. Não se pode fazer copy paste de Bordéus para o Douro”. Também não deixou de ser curiosa a sua tese de que, nos anos abundantes, a vinha está mais equilibrada e, por isso, não é dado adquirido que pouca produção seja sinónimo de qualidade.

Manuel Lobo, enólogo da quinta do Crasto e da Roquette & Cazes, salientou que as vinificações se fazem por casta (nos lotes entram Touriga Nacional, Franca e Tinta Roriz) e por parcela, o que permite uma maior atenção a todos os detalhes, acrescentando que não pára de se “surpreender com a qualidade que se obtém naquela vinha, bem diferente da Cabreira que fica mesmo ao lado.” Coisas do terroir, diríamos nós… O estágio do Xisto em barrica requer um acompanhamento permanente, porque quer a casta quer a barrica podem ter comportamentos imprevisíveis e as provas periódicas destinam-se a despistar desvios.
O momento foi também aproveitado para provar o Xisto 2012, que revelou estar em muito boa forma. Os vinhos são agora distribuídos pela Heritage Wines. Desta edição de Xisto fizeram-se 7412 garrafas e 203 magnuns. O tinto Roquette & Cazes está agora a entrar no mercado.

(Artigo publicado na edição de Abril de 2024)

Sogevinus: As novas pepitas da Boavista

sogevinus

A Quinta da Boavista, com uma área de 80 ha, dos quais 36 ha de vinha, está localizada estrategicamente na margem direita do Douro, entre a Régua e o Pinhão. Orgulha-se do seu passado e tem presenteado os enófilos com vinhos DOC Douro de enorme classe. A existência de vinhas velhas na quinta, em particular […]

A Quinta da Boavista, com uma área de 80 ha, dos quais 36 ha de vinha, está localizada estrategicamente na margem direita do Douro, entre a Régua e o Pinhão. Orgulha-se do seu passado e tem presenteado os enófilos com vinhos DOC Douro de enorme classe.
A existência de vinhas velhas na quinta, em particular nas vinhas do Oratório e do Ujo e a intenção de as preservar, levou a Sogevinus a optar pela geolocalização das suas videiras, trabalho que tem tanto de tecnologia avançada (localização por satélite) como de saber empírico acumulado, que hoje só alguns classificadores, já de idade avançada e com trabalho feito na Casa do Douro, são capazes de levar a cabo. Ao que nos disseram, os classificadores não tiveram dúvida alguma na identificação das castas das duas vinhas emblemáticas. Essa tarefa está concluída. Todas as cepas foram identificadas e o resultado é espantoso: 56 castas diferentes na vinha do Oratório e 28 na vinha do Ujo. Este trabalho de minúcia só é possível numa época especial do ano porque, para a identificação das castas, é preciso que as videiras tenham folhas e cachos, os dois elementos que formam o cartão de identidade da casta. A conservação deste património e respectiva variabilidade genética estão assim asseguradas.

 

A Quinta da Boavista irá editar sempre alguns varietais, dependendo do comportamento das castas da propriedade, susceptíveis de serem vinificadas e comercializadas separadamente.

 

Anos quentes e secos

Os vinhos apresentados foram das colheitas de 2020 e 2021, dois anos diferentes, mas com um denominador comum: anos secos e quentes. No caso de 2020, o tempo seco manteve-se durante todo o ciclo e também durante a vindima, com uma (repentina e inexplicável, ao que nos dizem…) desidratação da Touriga Franca, o que ocorreu em Setembro. Já o ano de 2021, ainda que seco, teve chuva na Primavera e permitiu uma maturação lenta. O Verão foi ameno, algo sempre de grande valia, sobretudo para os vinhos brancos. Como resultado das mais recentes alterações climáticas e o gosto do consumidor por brancos com mais frescura e acidez, tudo isso justifica a precocidade das vindimas dos brancos que, aqui, aconteceram ainda em Agosto. Os temores do futuro próximo são óbvios: a precocidade da época da vindima “choca” com hábitos e tradições das pessoas da terra, interfere com as festas das aldeias e pode mesmo levar a que falte mão de obra para tarefas tão indispensáveis como pulverizações de “socorro” a pragas como a cicadela, algo que se verificou na passada vindima.

Para além dos vinhos que já fazem o corpo principal das propostas anuais, a Boavista irá editar sempre alguns varietais, dependendo do comportamento das castas da quinta, susceptíveis de serem vinificadas e comercializadas separadamente. Este ano foi a casta Donzelinho tinto, mas outras estarão na calha.
O branco da Vinha do Levante conheceu agora a segunda edição. As uvas foram vindimadas a meio de Agosto, de vinhas situadas nas cotas altas e viradas a nascente, localização favorável para vinhos brancos. Primeiro a Viosinho, que corresponde a 30% do lote, casta com uma janela de vindima muito apertada e, mais tarde, a Arinto. A fermentação da Viosinho decorreu em barrica nova e usada, a Arinto fez maceração pelicular e fermentou em inox.

Castas antigas

A Donzelinho, que teve a primeira edição em 2017, foi feita exclusivamente em inox, o que acontece com outras castas antigas. É depois da fermentação e estágio que se decide se vai sair como varietal ou se irá integrar lotes com outras castas. O enólogo Ricardo Macedo refere que a casta “tem tudo menos cor”, característica que hoje é aplaudida, mas há 20 anos era altamente penalizadora. A casta fermentou durante duas semanas com as películas mas, mesmo assim, não se consegue outro resultado. “Ela deu tudo o que tinha para dar”. Mas tem a vantagem de ser resistente ao calor, conservando aromas e acidez, factores muito positivos.

No caso do Reserva tinto, a fermentação decorreu em inox e parte em barrica de 500 litros. O estágio em madeira (40% nova) prolongou-se por 18 meses. Ficou dois anos na garrafa antes da comercialização.

Falando dos ícones da empresa, a vindima na Vinha do Oratório foi feita terraço a terraço. Apesar de ter 56 castas diferentes, é de notar que tem sempre cerca de 30% de Touriga Francesa. Fermentado em lagar, teve 18 meses de barrica, 40% nova. A vinha do Ujo tem uma exposição norte e nascente e estende-se por altitude variada, com a vindima a começar de cima para baixo. Fermenta em barrica de 500 litros e estagia na madeira durante dois anos e outros dois em garrafa. Jean-Claude Berrouet, ex-enólogo do Château Pétrus, continua a ser o consultor da Boavista e está sempre presente nas principais decisões enológicas.

(Artigo publicado na edição de Abril de 2024)

 

2015 é ano de Barca-Velha

Barca - Velha

A mais recente edição de Barca-Velha, um dos vinhos mais icónicos de Portugal, irá chegar ao mercado em Junho próximo. Desde 1952, até hoje, apenas foram lançadas 21 referências, de um tinto que é o expoente máximo da Casa Ferreirinha. “Graciosidade, carácter e persistência” são alguns dos adjetivos que o enólogo Luís de Sottomayor utiliza […]

A mais recente edição de Barca-Velha, um dos vinhos mais icónicos de Portugal, irá chegar ao mercado em Junho próximo. Desde 1952, até hoje, apenas foram lançadas 21 referências, de um tinto que é o expoente máximo da Casa Ferreirinha.

“Graciosidade, carácter e persistência” são alguns dos adjetivos que o enólogo Luís de Sottomayor utiliza para descrever um vinho que destaca pela sua “impressionante capacidade de guarda”. Foi isso que ditou a decisão final de lançamento do Barca-Velha 2015.

Declarado apenas em anos verdadeiramente excecionais, o Barca-Velha é, desde a sua criação, produzido a partir de uvas selecionadas em diferentes altitudes no Douro Superior. A Quinta da Leda, com 170 hectares de vinha, dá atualmente origem à maior parte do lote, que é composto por castas tradicionais da região.

“O anúncio de um novo Barca-Velha é sempre um momento muito especial e de enorme alegria”, salienta Fernando da Cunha Guedes, presidente da Sogrape, acrescentando que “por um lado, há o orgulho de ver nascer um dos mais emblemáticos e reconhecidos vinhos nacionais e, por outro, a consciência do cuidado imprescindível para escrever um novo capítulo, nesta história sem igual no setor vitivinícola”.