Um Menin muito especial

Foi preciso pouco tempo para o produtor Menin Wine Company se tornar um nome de peso no que ao Douro diz respeito. A empresa tornou-se realidade em 2018, quando o empresário brasileiro Rubens Menin decidiu investir seriamente na região no Douro. Como começámos por escrever, em pouco tempo passou a ser nome conhecido, quer pelas […]
Foi preciso pouco tempo para o produtor Menin Wine Company se tornar um nome de peso no que ao Douro diz respeito. A empresa tornou-se realidade em 2018, quando o empresário brasileiro Rubens Menin decidiu investir seriamente na região no Douro. Como começámos por escrever, em pouco tempo passou a ser nome conhecido, quer pelas aquisições de vinhas quer pela adega imponente que decidiu construir, inaugurada recentemente. Em 2021, a Menin Wine Company adquire a Horta Osório Wines, conjugando atualmente essa tradicional casa de Santa Marta de Penaguião (Baixo Corgo) com a Quinta da Costa de Cima, Quinta do Sol e Quinta do Caleiro, todas em redor de Gouvinhas (Cima Corgo), onde também fica a referida adega. No total, só destas últimas três propriedades falamos em praticamente 65 hectares. O destaque vai para a magnífica Quinta da Costa de Cima, com os seus 11 hectares de vinhas plantadas há mais de 100 anos, com mais de 50 castas identificadas, sendo considerada a maior área contígua de vinhas velhas na região.
Trabalho de detalhe
Se os investimentos falam por si, a ambição é também expressa nas palavras da diretora geral da empresa, Fásia Braga. O objetivo, segundo Fásia, é produzir vinhos de gama alta, que reflitam o terroir duriense, privilegiando a qualidade em vez da quantidade. A equipa de enologia é formada por Tiago Alves de Sousa e Manuel Saldanha (este o enólogo residente) e ainda por João Rosa Alves, diretor de produção. Em conversa recente com Tiago e Manuel, estes não disfarçaram a alegria da prorrogativa de puderem trabalhar com vinhas centenárias e destacaram a versatilidade e modernidade da adega que lhes permite fazer um trabalho tanto de absoluto detalhe, como experimental e ensaísta. Segundo Tiago, “a enorme responsabilidade que nos foi depositada em fazer vinho nestas vinhas e nesta adega apenas se equipara ao privilégio que é trabalhar nessas vinhas e adega”.
O objetivo desta empresa é produzir vinhos de gama alta, que reflitam o terroir duriense, privilegiando a qualidade em vez da quantidade
Essa conversa teve lugar no restaurante Nunes Marisqueira (Lisboa), aquando do lançamento do vinho Maria Fernanda, um néctar dedicado por Rubens Menin à sua filha, um tinto assente, precisamente, nas vinhas velhas das encostas ingremes da Quinta da Costa. As uvas para este tinto foram selecionadas a partir de duas micro-parcelas voltadas a Nascente, onde a luz da manhã, e a sombra da tarde, permitiram um perfil mais em frescura e elegância, comparativamente com outros tintos do mesmo produtor. Aqui, no Maria Fernanda, encontramos essencialmente precisão e um perfil de concentração moderado, o que muito nos agradou. Segundo os enólogos, este perfil do vinho é marcado essencialmente pelo field blend que o compõe e pela altitude da vinha, mas acreditamos que a recente inclinação do mercado para vinhos menos concentrados também possa ter alguma influência. Seja como for, as vinhas velhas de onde provém as uvas para este vinho têm uma média de idade de 130 anos e contam com mais de 50 castas, que se harmonizam num field blend único onde, a par da Touriga Nacional e da Tinta Amarela, se encontra muita Tinta Barroca. Casta que, curiosamente, neste terroir contribui para uma fruta bonita e definida, longe do perfil de sobrematuração e doçura que aporta na maioria dos terroirs durienses, sobretudo à beira-rio.
Como se imagina, para um vinho desta qualidade e exigência, estão guardados todos os cuidados, seja na apanha à mão, no transporte das uvas em pequenas caixas, seja ainda no armazenamento da fruta em arcas refrigeradas de forma a que todo o processo de entrada na adega se inicie apenas quando a uva está a uma temperatura de 7ºC. Por fim, a qualidade do ano vitícola – climatericamente mais moderado do que 2019, 2020 e 2022 – contribuiu ainda mais para que tenhamos no copo um tinto de grande precisão, de tal forma que poucas dúvidas me restam de que foi o melhor tinto que já provei deste produtor.
* O autor deste texto escreve segundo o novo acordo ortográfico.
(Artigo publicado na edição de Junho de 2025)
Chefe David Jesus junta-se à Quinta do Vallado

O chefe de cozinha David Jesus juntou-se à Quinta do Vallado para liderar novo projeto gastronómico na Ribeira do Porto e renovar proposta dos hotéis de enoturismo. A parceria entre a Quinta do Vallado e David Jesus origina um novo capítulo na vertente gastronómica da Quinta do Vallado, que inclui os hotéis da Régua e […]
O chefe de cozinha David Jesus juntou-se à Quinta do Vallado para liderar novo projeto gastronómico na Ribeira do Porto e renovar proposta dos hotéis de enoturismo.
A parceria entre a Quinta do Vallado e David Jesus origina um novo capítulo na vertente gastronómica da Quinta do Vallado, que inclui os hotéis da Régua e de Foz Côa e o mais recente projeto na Ribeira do Porto.
O chefe português, actualmente chef e proprietário do restaurante Seiva, em Leça da Palmeira, conhecido pela sua cozinha vegetariana e sustentável, irá assinar a carta do Wine Bar e Restaurante do novo projeto da Quinta do Vallado, além de renovar as cartas dos dois hotéis com criações que respeitam as raízes do Douro, mas com uma identidade inovadora.
No coração da Ribeira do Porto, o novo espaço da Quinta do Vallado inclui uma loja de vinhos e sala de provas. Trata-se de um projeto assinado pelo arquitecto Francisco Vieira de Campos, que irá ocupar quatro pisos de um edifício histórico do século XVIII, restaurado em 2024.
Com vista privilegiada sobre o Douro e traços arquitetónicos originais, como arcadas em pedra, vitrais, tectos trabalhados e azulejos históricos, o novo projeto pretende ser um tributo ao Douro e à sua identidade.
20 anos de Quinta Nova Vinha Centenária

Recordo-me bem, corria o início de verão de 2007, de chegar pela primeira vez à Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo. A propriedade, que até dois anos antes fazia parte do portefólio da J.W. Burmester, era uma típica quinta do Douro produtora de Vinho do Porto. Totalmente típica não…, pois a sua dimensão numa […]
Recordo-me bem, corria o início de verão de 2007, de chegar pela primeira vez à Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo. A propriedade, que até dois anos antes fazia parte do portefólio da J.W. Burmester, era uma típica quinta do Douro produtora de Vinho do Porto. Totalmente típica não…, pois a sua dimensão numa das melhores zonas no Cima Corgo – 120 hectares ao longo de 1,5 km de rio – era bem superior ao habitual na região. À frente da quinta estreava-se Luísa Amorim e, já nesse tempo, bastavam pouco minutos de conversa para concluir que muita coisa iria mudar na propriedade. E mudou!
A propriedade combina agora uma imaculada adega topo de gama e uma unidade de turismo de luxo com 11 quartos
Referenciada desde a primeira demarcação pombalina, em 1756, a Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo foi propriedade da Casa Real Portuguesa até 1725, e tornou-se uma “quinta nova” pela junção de duas quintas (o que explica a sua dimensão). Durante os séculos XVIII e XIX, viveram na quinta várias famílias portuguesas que mantiveram vivas a produção de uva e vinho, fruta e azeite. Mais recentemente, já no século XX, produzia exclusivamente uvas para Vinho do Porto. Quase vinte anos volvidos da primeira vez que lá fomos, basta olhar de cima, na estrada que serpenteia e circunda a propriedade, para notar que muito mudou na Quinta Nova. Desde logo, no que respeita ao edificado, principescamente restaurado, e albergando um dos melhores hotéis da região do Douro, inserido na prestigiada insígnia Relais & Châteaux. A propriedade, que era exclusivamente agrícola e vitícola até chegar às mãos de Luísa, combina agora uma imaculada adega topo de gama e uma unidade de turismo de luxo com 11 quartos (para a qual há um projeto de expansão, mas que, por enquanto, está no segredo dos Deuses) e um restaurante. Antes de chegarmos à casa senhorial que alberga o hotel, encontramos um conjunto de edifícios tradicionais com largas portas de madeira por onde, no passado, passavam as pipas de Vinho do Porto para os carros de bois. Hoje, esse espaço acolhe um wine bar lindíssimo, com os melhores copos disponíveis no mercado. Foi aí que tivemos a oportunidade de percorrer a prova vertical dos dois topos de gama batizados de Vinha Centenária.
Mas voltemos alguns anos atrás, regressando a 2007. Foi nesse início de verão que provei vários lotes dos primeiros vinhos DOC desta quinta, na altura quase todos da colheita de 2005. Provei-os numa adega bem diferente e mais modesta que a atual. Logo no início, após a separação da quinta da marca Burmester, quem começou na enologia foi Rui Cunha, apesar do pouco tempo disponível que as suas consultadorias lhe permitiam. Nesse ano de 2007, foi já Francisco Montenegro, enólogo da quinta até 2010, quem nos deu a provar o Grande Reserva 2005, um tinto magnífico com Touriga Nacional e alguma vinha velha, um vinho que, provado agora em vertical, continua em grande forma. Entretanto a área de vinha aumentou e, atualmente, já após replantações, a quinta tem uma mancha única de 85 hectares de vinha, toda ela tinta. Hoje, a produção ascende a 650 mil garrafas, grande parte centrada na gama premium, num posicionamento propositalmente alto e ambicioso, diz-nos Luísa Amorim.
Mudança e evolução são uma constante nos projetos chefiados por Luísa Amorim. Mas uma coisa mantém-se, ainda que se ajustando à passagem do tempo: os icónicos Vinha Centenária
As vinhas antigas
Aos comandos da enologia desde a colheita de 2011 e até março de 2025, tem estado Jorge Alves, que tem contado com a preciosa ajuda de Duarte Costa e Sónia Pereira. Como acima dissemos, muito, muito mesmo, mudou nesta magnifica propriedade da margem direita do Douro. Dir-se-ia até que mudança e evolução são uma constante nos projetos chefiados por Luísa Amorim. Mas uma coisa mantém-se, ainda que se ajustando à passagem do tempo: os icónicos Vinha Centenária.
Com efeito, se algo não mudou foram as vinhas mais antigas da propriedade que, sendo um património invulgar, foi preservado pelos cuidados da viticóloga Ana Mota, que conhece a propriedade e as vinhas como ninguém. Algumas dessas vinhas remontam da primeira plantação monovarietal na região do Douro, que resultou de um estudo realizado entre 1979 e 1981, em conjunto com o Ministério da Agricultura. À época, foram selecionadas três parcelas em patamares com as melhores exposições solares para a plantação de três grandes castas tradicionais, Touriga Nacional, Touriga Franca e Tinta Roriz. É, pois, desta iniciativa pioneira que nascem as duas referências ícones, primeiro denominadas de Grande Reserva e, desde a colheita de 2018, de Vinha Centenária. A primeira colheita foi em 2005 a partir de Touriga Nacional. A versão com base em Tinta Roriz surgiu em 2008. Existem outros topos de gama da propriedade – caso do Aeternus (homenagem familiar ao empresário Américo Amorim) e do Mirabilis – mas são os Vinha Centenária que continuam a ser o retrato do terroir que os viu nascer e acomodam, em si, a história da modernização do Douro e todo o passado da Quinta Nova.
Sucintamente, o Vinha Centenária Ref P29/P21 provém, como o nome indica, da Parcela 29 plantada com Touriga Nacional entre os 170 e os 205 metros de altitude, e da centenária Parcela 21. Já o Vinha Centenária Ref P28/P21 resulta da Parcela 28 plantada com Tinta Roriz entre os 205 e os 210 metros, e novamente a vinha centenária Parcela 21. As parcelas 29 e 28 são muito pequenas – 1,65 e 1,96 hectares, respetivamente – e a vinha velha, em co-plantação com Donzelinho Tinto, não ultrapassa os 3,5 hectares. Com produções médias entre 2500 e 2700kg por hectares não admira que no mercado não sejam lançadas mais do que 5000 garrafas de cada vinho. As uvas sempre foram 100% desengaçadas para ambos os vinhos, estagiando numa média de 12 meses em barricas novas de carvalho francês. Nota final para a enorme qualidade de ambos os vinhos na edição de 2021, comprovando a qualidade do ano (mais fresco que o habitual) e uma enologia cada vez mais de precisão e contenção.
Nota: O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico
Vertical: Quinta Nova Grande Reserva/Vinha Centenária Ref.ª P29/P21
18,5 A
Quinta Nova Grande Reserva tinto 2005
Muito fruto negro e encarnado, sente-se o ano quente com notas de compota, profundo, floral maduro e tabaco doce. Cremoso em boca, alcaçuz, tanino vivo, firme, madeira harmoniosa. Dá grande prova, mas tem ainda alguns anos pela frente. (14%)
19 B
Quinta Nova Grande Reserva tinto 2007
Aroma jovem e intenso, com muito brilho na cor. Revela no nariz muito fruto, negro e azul, barrica de qualidade, tudo ainda a evoluir bem. Muito intenso em boca, fruta em camadas, leve chocolate sedutor, termina capitoso e muito jovem. (15%)
18,5 A
Quinta Nova Grande Reserva tinto 2008
Aroma plenamente silvestre com notas a floresta e chão de bosque, fruto azul, turfa. Sente-se a frescura do não em boca, floral aberto, fruto encarnado, mas já bastante redondo e sedutor, talvez no seu ponto ótimo para ser bebido. (14,5%)
19 A
Quinta Nova Grande Reserva tinto 2012
Muito bem no aroma, latente, sério, ameixa fresca, urze, grande integração e equilíbrio. A prova de boca segue o mesmo perfil, saboroso e redondo, muito especiado e complexo. Ótima fase de consumo, está agora no seu melhor! (14%)
18,5 B
Quinta Nova Grande Reserva tinto 2013
A cor e o aroma denotam juventude. Fechado e misterioso no nariz, levemente químico, abre para notas balsâmico e alcaçuz. Muito tanino em boca, intenso e espigado, cheio de garra, meio-corpo em boca, mas com alguma frescura e muitos anos pela frente. (14%)
18,5 A
Quinta Nova Grande Reserva tinto 2015
Aroma jovem, com a barrica a sentir-se na frente, secundada por fruto maduro em camadas, floral aberto, grafite, e chocolate preto. Muito bem em boca, largo e lácteo, com muito sabor, longo. Vai continuar a evoluir, mas a dar já grande prova. (14%)
18,5 B
Quinta Nova Grande Reserva tinto 2017
Aroma fantástico, com muita fruta encarnada, barrica impecável, especiados vários, e perceção de frescura. Muito intenso em boca, tanino maduro robusto, granulado e longo, é um vinho de porte aristocrático com futuro pela frente. (14%)
18,5 B
Quinta Nova Vinha Centenária Ref.ª P29/P21 tinto 2018
Aroma muito bonito, com fruto azul (mirtilo e amora), perceção frescura, profundo e balsâmico. Muito sabor em boca, revela-se jovem e com garra, ligeiramente menos concentrado, com a Touriga Nacional a marcar o conjunto magnífico. (14,5%)
19 B
Quinta Nova Vinha Centenária Ref.ª P29/P21 tinto 2019
Muito bem no aroma, todo jovem e profundo, químico (tinta-da-china), fruto negro, leve grafite. Prova de boca com muito sabor e potência, intenso com notas de alcaçuz e alcatrão, termina já longo, apesar de ter muito para crescer. (14,5%)
18,5 B
Quinta Nova Vinha Centenária Ref.ª P29/P21 tinto 2020
Fechado aromaticamente nesta fase, abre para notas latentes de fruta e barrica, algumas notas de chá e bergamota. Prova de boca em linha, diálogo entre a fruta e a barrica, tudo num perfil jovem e enérgico. (14,5%)
(Artigo publicado na edição de Maio de 2025)
Vinilourenço: Pai Horácio 1945, De filho para pai… a celebração do legado

Foi sem dúvida um dia de emoções fortes, uma cerimónia preparada pela família, com a presença dos amigos de sempre e todos os colaboradores da empresa que o “Pai Horácio” criou, impulsionou e que o filho Jorge fez crescer. E não faltaram à mesa os pratos preferidos do Sr. Horácio, seja a “torradinha com azeite”, […]
Foi sem dúvida um dia de emoções fortes, uma cerimónia preparada pela família, com a presença dos amigos de sempre e todos os colaboradores da empresa que o “Pai Horácio” criou, impulsionou e que o filho Jorge fez crescer. E não faltaram à mesa os pratos preferidos do Sr. Horácio, seja a “torradinha com azeite”, o bacalhau “que ele tanto apreciava de qualquer forma” ou o fabuloso “cabritinho assado no forno com um não menos delicioso arroz de miúdos”, “tudo pratos que o meu pai gostava” disse, com emoção, Jorge Lourenço. Almoço excecional, acompanhado por alguns dos grandes vinhos da casa e, claro está, pela estrela maior, o Pai Horácio 1945, lançado no dia em que faria 80 anos – um tinto de contemplação.
Regresso às origens
O lançamento ocorreu na sede da Vinilourenço, em Poço do Canto, Meda, onde se localiza também a adega, a loja e casa da família. Atualmente, a Vinilourenço possui uma área própria de 50 hectares de vinha, repartidos pelos concelhos da Meda e Vila Nova de Foz Côa, cujas altitudes variam entre os 130m e os 700m. Ficam sobre solos de xisto e granito, têm orientações solares e declives muito variáveis e uma diversidade de micro terroirs que permite explorar o melhor de cada casta e apresentar vinhos de perfis diversos. O portfolio é bastante extenso, onde talvez as marcas D. Graça e Fraga da Galhofa sejam as de maior notoriedade no mercado.
Destaque igualmente para a coleção castas, onde os monovarietais Samarrinho, Donzelinho, Casculho, Gouveio, diferentes abordagens ao Viosinho, entre outras, representam o regresso às origens, resultando em vinhos com perfil singular, evidenciando o carácter da casta versus terroir. Toda a produção é acompanhada e gerida pelo produtor, Jorge Lourenço, de 43 anos, que desempenha a função de enólogo principal. Embora o forte contributo do professor Virgílio Loureiro, sobretudo nos primeiros anos da Vinilourenço tenha sido evidente, hoje é Jorge que se encarrega da enologia.

A Dona Graça e o apego à Terra
Horácio Lourenço, desde muito jovem mudou-se para Cascais, em busca de melhores condições e, com apenas 15 anos, já trabalhava na Câmara Municipal. Outros tempos, é claro… Aos 18 anos e finda a recruta militar foi para Angola, onde conheceu a algarvia Dona Graça, que viria a ser sua esposa e empresta o nome à talvez mais emblemática marca do extenso portfolio da Vinilourenço. Com a vida totalmente estabelecida em África, tal como muitos outros portugueses, foi forçado a regressar a Poço de Canto com muito pouco na bagagem, mas o suficiente para se iniciar na construção civil. Contudo, a sua grande paixão sempre foi a terra e, não tardou muito, começou a plantar vinhas.
Foi no final dos anos 70, princípio dos anos 80. “Estou aqui hoje para homenagear o grande patrono deste projeto, um homem fascinante, com uma enorme paixão pela terra. Eu também tinha essa paixão, mas a começar na adega. Com o Sr. Horácio era o contrário, ele queria estar nas vinhas e a adega era para os outros. Aprendi muito com ele”, refere o professor Virgílio Loureiro. No início as uvas eram vendidas para a adega cooperativa. Mas na viragem para o século XXI, Jorge Lourenço, que herdou a paixão pelas terras e pelas vinhas do seu Pai, tornou-se num trabalhador ávido por aprender e começou a demonstrar um grande espírito de liderança. Não surpreende, pois, que após concluir o ensino secundário tenha pretendido aperfeiçoar as suas características, fazendo um curso de jovem agricultor e, mais tarde, uma pós-graduação em Enoturismo.
Foi assim que Jorge Lourenço deu continuidade ao sonho do pai, criando a empresa ViniLourenço, à qual se dedica integralmente há mais de duas décadas. “Felizmente, hoje temos já uma equipa de 18 pessoas, a quem eu também muito agradeço, e o lançamento deste vinho muito especial é também para dignificar aquilo que é o nosso trabalho conjunto, honrando a memória e o legado do meu pai”, remata Jorge. O legado está assim perpetuado no vinho de homenagem Pai Horácio 2021 tinto Grande Reserva Edição Especial. Trata-se de uma produção limitada de 1945 (ano de nascimento de Horácio Lourenço) garrafas, em caixa individual. Resultou de um blend da seleção de parcelas, plantadas pelo próprio Horácio Lourenço, com base no estudo dos terroirs, ao longo das últimas décadas e da interpretação dos mesmos por Jorge Lourenço.
Cada detalhe foi pensado meticulosamente, com destaque para o rótulo duplo com dedicatória do filho para o pai, ou a tira de couro que envolve a garrafa, simbolizando o compromisso entre pai e filho, a família e a amizade. Um package realmente bonito e singular! Como Jorge Lourenço referiu, um vinho à imagem de seu pai, “forte, com muita estrutura e muita alma”.
Nota: O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico
Quinta da Boavista: Expressões de um terroir duriense

O local onde decorreu o evento não poderia ser mais aprazível, o 1638 Restaurant & Wine Bar By Nacho Manzano, o bar de vinhos e restaurante de cozinha de autor do novo hotel Tivoli Kopke, em Gaia, que abre oficialmente em Maio. A vista sobre o rio Douro e a zona velha do Porto, enquadrada […]
O local onde decorreu o evento não poderia ser mais aprazível, o 1638 Restaurant & Wine Bar By Nacho Manzano, o bar de vinhos e restaurante de cozinha de autor do novo hotel Tivoli Kopke, em Gaia, que abre oficialmente em Maio. A vista sobre o rio Douro e a zona velha do Porto, enquadrada pelas paredes dos antigos armazéns de vinhos do Porto agora transformados para albergar os quartos deste cinco estrelas, é imperdível, e acrescentou um pouco de sedução ao evento de apresentação das novas colheitas da Quinta da Boavista, da Sogevinus. Decorreu na companhia de uma refeição criada por Nacho Manzano, consultor gastronómico do hotel e chefe de cozinha asturiano que recebeu, no ano passado, a sua terceira estrela Michelin na Casa Marcial, o restaurante que fundou na casa da sua família em 1993.
Texturas, aromas e sabores
Durante o repasto, feito de pratos compostos por dois a quatro elementos cozinhados na perfeição, sentiu-se que tudo o que o que criou, e apresentou na mesa, foi certamente desenhado para a companhia dos vinhos da Quinta da Boavista servidos, pela forma como as suas texturas, aromas e sabores se foram equilibrando ao longo do repasto, o que nem sempre tem acontecido em apresentações similares onde vou.
Gostei sobretudo da aparente simplicidade e da qualidade dos ingredientes e temperos dos pratos, tudo muito bem conjugado para potenciar os seus aromas e sabores e a ligação aos vinhos. Evidência, em particular, para o Lagostim com beurre blanc e pinhões, a que o suco das cabeças acrescentou uma ligação praticamente perfeita com o Quinta da Boavista Vinho do Levante 2022, o branco lançado nesse dia. Também para o Polvo braseado com puré de abóbora e molho de amêijoas, na só pela textura e sabor do polvo, que estava inexcedível, mas também pela forma como o conjunto de um prato aparentemente simples, se harmonizou com o vinho selecionado, o Boavista Reserva 2021, um tinto com estrutura, fruta e um toque de madeira. A estes juntaram-se um monovarietal de Alicante Bouschet, um vinho cheio de personalidade acrescentado à linha de monovarietais desta casa, para além dos dois ícones, o Vinha do Oratório e o Vinha do Ujo, todos da colheita de 2021, ou seja, de um ano de verão seco. Segundo Ricardo Macedo, o enólogo dos vinhos Douro da casa, a vindima da primeira, uma vinha velha cujas castas principais, entre 56 variedades, são a Touriga Franca, a Tinta Pinheira e o Rufete, é feita patamar a patamar, o que implica que sejam “feitas 14 fermentações desta vinha, para se identificar os melhores vinhos que ela produz” em cada ano.
Plantada em patamares horizontais pré-filoxéricos, suportados por pequenos muros de xisto, a Vinha do Ujo fica entre os 180-210 metros de altitude, um pouco mais longe do rio que a do Oratório, e inclui 26 castas. A sua vindima é manual, e a fermentação das uvas decorre em barricas de madeira francesa de 500 e 600 litros. Após um período de maceração, o vinho resultante continua o seu estágio durante pelo menos 16 meses em barricas de 225 litros de carvalho francês antes de ser engarrafado.
Vinha muito velha
Jean-Claude Berrouet, um grande defensor da expressão dos terroirs e enólogo do Château Pétrus durante mais de 40 anos, é o consultor da Quinta da Boavista desde 2013, e está sempre presente nas principais decisões enológicas. A propriedade tem actualmente 80 hectares, dos quais 36 ha de vinha, uma parte significativa da qual de vinha velha dos períodos de antes e do pós-filoxera. Reconhecida desde a primeira demarcação da região vinícola do Douro, datada de 1756, a propriedade está também assinalada nas plantas de Joseph James Forrester, o Barão de Forrester, do século XIX. Depois da sua morte foi comprada pelo Barão de Viamonte, seu herdeiro. No século seguinte, esteve nas mãos de vários proprietários, até ser adquirida, em 2020, pelo Grupo Sogevinus.
(Artigo publicado na edição de Abril de 2025)
Menin Wine Company compra Quinta Bulas

A Menin Wine Company comprou a Quinta Bulas, localizada na região do Cima Corgo, do Douro, uma acção que representa um investimento de 6,5 milhões de euros e visa reforçar o posicionamento da empresa na região, onde passa a ter um total de 200 hectares. “A aquisição da Quinta Bulas junta mais um terroir de […]
A Menin Wine Company comprou a Quinta Bulas, localizada na região do Cima Corgo, do Douro, uma acção que representa um investimento de 6,5 milhões de euros e visa reforçar o posicionamento da empresa na região, onde passa a ter um total de 200 hectares.
“A aquisição da Quinta Bulas junta mais um terroir de excelência ao nosso portefólio”, explica Fásia Braga, directora geral da empresa, a propósito do novo investimento, acrescentando que se trata de “uma propriedade com um enorme potencial enológico e turístico, situada de frente para o rio Douro e foz do rio Ceira, o que abre um leque vasto de possibilidades de oferta de experiências únicas de enoturismo”.
Com 53 hectares, dos quais nove hectares de vinhas velhas, a Quinta Bulas não só contribui significativamente para o crescimento do portefólio vitícola da Menin Wine Company, que agora ultrapassa 29 hectares de vinhas velhas, como também contribui para o enriquecimento da diversidade potencial de vinhos da empresa, com a introdução de castas como a rara variedade Rabigato Moreno, até agora ausente nas propriedades do grupo.
Desde 2018 em Portugal, a Menin Wine Company, que integra a Menin Douro Estates (Quinta da Costa do Sol) e a H.O (Horta Osório Wines), tem vindo a crescer de forma sustentada, assumindo a missão de produzir vinhos de qualidade respeitando a terra e as tradições. A aquisição propriedade permitirá um aumento de mais de 30% na capacidade de produção actual da empresa.
QUINTA DOS CASTELARES: O sonho concretizado de Manuel Caldeira

Freixo de Espada à Cinta fica no distrito de Bragança. Mas em termos do mapa vínico nacional, pertence à sub-região do Douro Superior. Possui uma área aproximada de 245 km2, sendo limitada, a Norte, pelo concelho de Mogadouro, a Sul pelo concelho de Figueira de Castelo Rodrigo, a Oeste pelo concelho de Torre de Moncorvo […]
Freixo de Espada à Cinta fica no distrito de Bragança. Mas em termos do mapa vínico nacional, pertence à sub-região do Douro Superior. Possui uma área aproximada de 245 km2, sendo limitada, a Norte, pelo concelho de Mogadouro, a Sul pelo concelho de Figueira de Castelo Rodrigo, a Oeste pelo concelho de Torre de Moncorvo e a Este pela vizinha Espanha (Província de Salamanca). O rio Douro passa a cerca de 4 km da vila, demarcando, neste concelho, a fronteira entre Portugal e Espanha.
Há diversas explicações para o curioso nome desta vila. Uns dizem que teve origem no nome de um fidalgo godo “Espadacinta”, outros no brasão de um fidalgo leonês que tinha um freixo e uma espada ou, ainda, na lenda que diz que D. Dinis, rei de Portugal, quando fundou a localidade no séc. XIV, amarrou a sua espada a um freixo, antes de se encostar à árvore a descansar. Essa árvore, de grande porte, está há mais 500 anos no largo principal da vila e merece observação atenta.
Para além das amendoeiras em flor que levam muitos visitantes à vila, sobretudo na Primavera, para assistir a tal beleza da terra, há que explorar os diversos miradouros que atestam uma paisagem natural avassaladora. Freixo é também uma vila Manuelina, pintada de monumentos e casas com traços arquitetónicos desse tempo. Na vila pode ainda visitar a Casa Natal de Guerra Junqueiro, onde nasceu o poeta, político e jornalista português, situada na Rua das Flores e onde está a coleção de livros e as pautas da sua Marcha do Ódio. Pode ainda ser visitada a casa da sua família, onde está uma mostra de objetos agrícolas, roupa, utensílios de cozinha, de modo a exemplificar como vivia uma família abastada no século XIX.
O patriarca Manuel Caldeira
É neste contexto histórico, envolvido no Douro Superior, que se materializa o sonho de Manuel Caldeira. Homem da terra, nascido e criado em Freixo, desde muito cedo iniciou a sua vida na agricultura, tendo mais tarde enveredado pela construção civil. Em 2010 lança o desafio ao seu genro, Pedro Martins, de criar uma marca de vinhos própria.
“O Sr. Caldeira começou na agricultura com o pai, que era feitor de algumas quintas aqui. Criou a empresa dele, a sua atividade principal, mantendo sempre o foco na agricultura, e foi adquirindo mais terras, plantando vinhas e diversificando. Em 2010, nós tínhamos cerca de 600 ovelhas, éramos o maior produtor de leite da região e somos dos maiores produtores de amêndoa e azeitona de Freixo de Espada-à-Cinta. Ao todo, neste momento as propriedades com floresta e tudo, rondarão os 600 hectares de terra”, salienta, com entusiasmo, Pedro. Aceite o desafio feito pelo sogro, começa a desenhar as bases de um projeto que avança hoje para os 15 anos de idade, com crescimento sustentado e qualidade reconhecida no mercado. Assim nascia o projeto Quinta dos Castelares.
“Freixo de Espada à Cinta é conhecida pela arquitetura manuelina e tem uma igreja com uma porta fabulosa, que foi a inspiração do rótulo da Quinta dos Castelares. O rio Douro, na região demarcada, começa em Freixo, pelo que também tem destaque no rótulo, bem como a faixa castanha de terra como alusão a Espanha. Esfera Armilar porquê? Não somos família brasonada, mas ela é um símbolo dos Descobrimentos, em que nós portugueses conquistámos o mundo e eu usei esse símbolo, porque também quero conquistar o mundo através dos vinhos”, explica Pedro.
Atualmente, este projeto familiar explora cerca de 145 hectares de vinha, distribuídos por três quintas
Um projeto familiar
Atualmente, este projeto familiar explora cerca de 145 hectares de vinha, distribuídos por três quintas: A dos Castelares, com cerca de 100 hectares; a da Congida, que fica junto à praia do rio fluvial, na parte de cima da barragem de Saucelle, com 10 hectares; enquanto que na parte de baixo da barragem se situa a Quinta da Fronteira, com cerca de 42 hectares, que estava na posse da Companhia das Quintas e foi adquirida em 2017. Lá são produzidos tintos e Vinho do Porto.
“Com a estratégia que implementamos quando, em 2011, começámos com cerca de 70 hectares, números redondos, fomos crescendo ao ponto que chegámos, hoje, aos cerca de 145 ha, porque havia solicitações de mercado para mais vinho e mais segmentos”, conta Pedro Martins. “Em vez de entrarmos na aquisição de uvas, que não sabemos a qualidade que têm, decidimos optar por expandir e ter a certeza de controlar a qualidade da matéria-prima”, explica. E com a aquisição em particular da Quinta da Fronteira foi possível a empresa crescer na produção de vinho do Porto. Hoje tem cerca de 300 pipas de benefício, das quais vende parte a granel.
Se Manuel Caldeira é o eterno visionário, Pedro Martins é o homem que atualmente dirige todas as fases da empresa, incluindo a enologia. A admiração do primeiro pelo genro é inegável e a sua paixão pela terra, pelas vinhas e pelos vinhos que ajudou a construir e o projeto que viu crescer sob a sua alçada, transparece no brilho dos seus olhos e deve ser justamente destacada.
São cerca de 500 mil garrafas produzidas anualmente a partir de vinhas que se situam entre os 700 metros de altitude, na Quinta dos Castelares, e os 450 metros de altitude, na Quinta da Fronteira, permitindo assim criar vinhos de perfis distintos. O mercado nacional representa cerca de 60% das vendas, sendo os restantes 40% para exportação. A adega é moderna, ampla e contempla barricas de carvalho francês, húngaro e americano, utilizadas no loteamento dos vinhos. Toda a produção é certificada em modo biológico, o que também diferencia este projeto. Em termos de encepamentos, destacam-se, nas castas tintas, a Touriga Nacional (30% do total plantado), Tinta Roriz, Bastardo, Tinta Francisca, Touriga Franca, Alicante Bouschet e Pinot Noir, enquanto nas castas brancas podemos encontrar Códega de Larinho, Gouveio, Viosinho, Alvarinho, Rabigato, Moscatel e Chardonnay.
O caráter do Douro Superior
O portfolio é bastante alargado, com diversas referências distribuídas pelas marcas Quinta dos Castelares e Fronteira, havendo também espaço para vinhos especiais como o espumante 100% de Códega de Larinho (provavelmente o único no mercado desta casta) e outras referências que são já icónicas como o Quinta dos Castelares Sublime, expressão muito particular de um 100% Touriga Nacional, ou o Bicho da Seda, o topo de gama da casa, que apenas sai em anos excecionais e resulta do melhor das vinhas velhas da propriedade.
“A diversidade de barricas permite-nos engarrafar uma nova referência se identificarmos algo especial, mas o segredo está na vinha e nas uvas que possuímos”, diz Pedro Martins. O vinho Bicho da Seda, por exemplo, provém da Vinha do Almirante, um field blend com mais de 60 anos, localizado em altitude.
O objetivo é manter a qualidade e continuar o legado de Manuel Caldeira. É inegável a sua importância e presença mesmo quando está longe, bem como o carinho que todos nutrem por ele, em particular Pedro. “Em 2017 decidi fazer um grande branco ao estilo Borgonha em sua homenagem, um branco gordo mas muito prazeroso”, conta. Mais tarde fez o tinto, que teve origem nas uvas que Manuel Caldeira considera as melhores dos talhões. “Sem ele saber, peguei nessas uvas e criei o Manuel Caldeira tinto”, revela o genro. Ambos, que foram um sucesso comercial, representam muito para a marca e perpetuam para sempre a memória do sogro.
Após a visita às vinhas, às quintas e à adega foi tempo de provar várias referências do extenso portfolio da casa, das quais daremos respetiva nota de prova. A sala de provas é lindíssima, com uma vista fabulosa para as vinhas da Quinta dos Castelares protegidas pela Serra de Poiares. Para fim de festa, fomos testar alguns dos topos da casa à mesa no restaurante Cinta D’Ouro. São vinhos concentrados, eminentemente gastronómicos, expressão do Douro Superior, que brilharam à mesa com o menu preparado pelo Chef Diego Ledesma, com destaque para a salada de perdiz, o bacalhau e uma maravilhosa e suculenta costeleta de carne maturada de comer e chorar por mais. De visita obrigatória!
Nota: O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico
(Artigo publicado na edição de Março de 2025)
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Quinta dos Castelares Bicho da Seda
Tinto - 2021 -
Quinta dos Castelares Sublime
Tinto - 2021 -
Quinta dos Castelares Manuel Caldeira
Tinto - 2021 -
Quinta dos Castelares Manuel Caldeira
Branco - 2022 -
Quinta dos Castelares
Tinto - 2020 -
Quinta dos Castelares
Tinto - 2021 -
Quinta dos Castelares
Branco - 2023 -
Quinta dos Castelares
Rosé - 2023
QUINTA DO INFANTADO: Espírito inconformista com raízes na tradição

A energia e determinação parecem estar no sangue da família Roseira. Com origem em Covas do Douro, cada geração partilha destas qualidades. Isto sente-se em conversas com João Roseira, que representa a quinta geração e é absolutamente indissociável da Quinta do Infantado, onde fez a sua primeira vindima com apenas 6 anos de idade. Não […]
A energia e determinação parecem estar no sangue da família Roseira. Com origem em Covas do Douro, cada geração partilha destas qualidades. Isto sente-se em conversas com João Roseira, que representa a quinta geração e é absolutamente indissociável da Quinta do Infantado, onde fez a sua primeira vindima com apenas 6 anos de idade.
Não procura o mediatismo, mas não esconde as suas convicções. Impulsivo, irónico e directo, João Roseira por vezes passa, no meio vínico, por uma pessoa demasiado irreverente o que pode levar a pensar que os vinhos também assim sejam. Depois de provar mais de duas dezenas de vinhos Douro e Porto da Quinta do Infantado, incluindo colheitas mais antigas, não me restam dúvidas da seriedade e personalidade dos vinhos. Não apresentam defeitos e não são “freak”. Mais ainda: envelhecem bem. Provavelmente por isto, os DOC Douro, quer tintos quer brancos, não são lançados com pressa comercial, tendo o tempo de estágio necessário para mostrar o seu potencial e proporcionar uma prova consistente.
As duas primeiras gerações da família Roseira, nos séculos XVIII e XIX, eram lavradores e vendiam uvas. Em 1904, a história da família deu um passo significativo com a aquisição da propriedade que, desde 1816, pertencia ao infante D. Pedro e ficou conhecida como Quinta do Infantado. A partir desse momento, iniciou-se a produção de vinhos generosos, que eram vendidos a grandes casas do vinho do Porto. Mas a marca própria foi criada mais tarde e o grande impulsionador desta mudança revolucionária no Douro foi Luís Roseira que tanto lutou pelo direito de pequenos produtores poderem engarrafar e exportar os seus vinhos do Porto. João Roseira lembra-se perfeitamente do primeiro engarrafamento na quinta em 1979, dos três primeiros Porto – Ruby, Tawny e Tawny 20 anos. Isto abriu o caminho a outros pequenos produtores que lhes seguiram o exemplo nas décadas seguintes. Às vezes é necessário desafiar uma tradição para criar uma nova, ainda melhor.
Em 1996 iniciou-se a parceria com o enólogo duriense Luís Soares Duarte, que ainda continua a fazer parte do projecto como consultor. Vários ensaios marcam a viragem do século, sendo o primeiro tinto Douro produzido em 2001. A gama cresceu, mas os vinhos são vinificados da mesma forma: em lagar com pisa a pé, leveduras indígenas e estágio em barricas de carvalho francês, variando o tempo de estágio em função do vinho. Em 2015, à equipa de enologia juntou-se Álvaro Roseira, da 6ª geração da família.
Em torno de Covas do Douro
Os 46 hectares de vinha estão localizados na freguesia de Covas do Douro, dos quais 12 ha são cultivados em viticultura biológica certificada e 34 ha em produção integrada, privilegiando uma viticultura sustentável. Todas as vinhas são classificadas com letra A.
A vinha do Pousado, a mais nova da quinta, tem mais de 25 anos. Foi plantada em 1998 em modo de produção biológica, com castas brancas e tintas. Com exposição norte, em combinação com solos mais profundos, reflecte naturalmente numa maior acidez e, por consequência, frescura. As vinhas mais velhas são praticamente centenárias, como a vinha Serra de Baixo. O facto de as vinhas estarem plantadas em todas as exposições e altitudes que variam entre 150m e 350m permite uma maior precisão na construção de perfis dos vinhos. Os vinhos do Porto da Quinta do Infantado têm uma particularidade – parecem mais “secos” por conter menos açúcar residual – característica que ganha bastantes adeptos últimamente.
Em 2024 foi lançado um Porto muito especial, o tawny de 50 anos. É uma homenagem a Luís Roseira, um incansável defensor de causas que vivia o Douro profundamente. Neste contexto, o número 50 diz muito à família: Luís Roseira tinha 50 Anos no 25 de Abril de 1974 e teria 100 anos na comemoração de 50 anos de liberdade. Na realidade o vinho é muito mais velho, o que se percebe nitidamente na prova. Já na altura do primeiro tawny 20 anos, engarrafado em 1979, havia vinhos dos anos 50, 60 e anteriores, guardados em pipas. Não manipulado, não refrescado, nem retocado de alguma forma, o Quinta do Infantado Luís Roseira 50 anos tem o carácter intenso e avassalador, de uma concentração espantosa, com imensa personalidade. São apenas 200 garrafas numeradas, engarrafadas em outubro de 2024. Vendido exclusivamente em caixa de madeira integralmente produzida em Covas do Douro por Tiago Barros e Gustavo Roseira, sob design do arquitecto Miguel Figueira.
(Artigo publicado na edição de Fevereiro de 2025)