Entre Douro e Minho: A nova geografia da Casa Ermelinda Freitas

Leonor Freitas é uma empresária que sonha com os olhos bem abertos. Nada lhe escapa, e parece que nada é capaz de a fazer estremecer ou desistir dos seus sonhos. É o rosto da Casa Ermelinda Freitas e uma figura emblemática no panorama vínico em Portugal, uma mulher de ferro com um coração mole, grande […]
Leonor Freitas é uma empresária que sonha com os olhos bem abertos. Nada lhe escapa, e parece que nada é capaz de a fazer estremecer ou desistir dos seus sonhos. É o rosto da Casa Ermelinda Freitas e uma figura emblemática no panorama vínico em Portugal, uma mulher de ferro com um coração mole, grande empatia e um apurado sentido de responsabilidade social e empresarial. A lealdade às raízes não impede o seu pensamento global.
Jaime Quendera é um enólogo extremamente competente, prático e perspicaz, um grande parceiro e amigo de Leonor, que a acompanhou na empresa desde o início. Juntos formam uma dupla de sucesso, que alia a formação e competência de Jaime à mente aberta e à intuição para o negócio de Leonor.
Península de Setúbal, o berço
Em 1920, era ainda uma casa agrícola tradicional. A partir dos anos 50, já sob a orientação do pai de Leonor, a vinha passou a ser o centro de produção. A primeira adega, construída nessa época, foi transformada num Espaço de Memórias e Afetos – um tributo à história e aos laços da família.
Em 1998, quando Leonor Freitas, a quarta geração da família, assumiu a liderança do negócio, iniciou-se a parceria de sucesso com o enólogo Jaime Quendera. Conheceram-se no ano anterior, na Vinexpo, em Bordéus. Leonor, ainda com pouca experiência no mundo do vinho, visitou a feira movida pela curiosidade. Isso abriu-lhe os horizontes e revelou-lhe que o vinho podia ser um “produto de dignificação”. “Percebi que tinha de começar a engarrafar”, recorda.
Por feliz coincidência encontrou, na Vinexpo, o seu primo, também produtor de vinhos, acompanhado por Jaime Quendera. Durante as visitas aos châteaux, conversou com Jaime, viu o seu entusiasmo e percebeu que tinha encontrado o parceiro certo para o projeto que estava a idealizar: “Acreditei no Jaime desde o primeiro momento. Não tive dúvidas.”
A motivação era grande, mas também o desafio. Leonor teve que se encher de coragem para encaminhar o adegueiro do tempo do seu pai para a reforma – a renovação era inevitável. Naquela altura, tinha encomendado algumas cubas e equipamentos para a adega. Jaime alterou tudo, explicando que em vez de depósitos altos e estreitos, habituais na altura, as cubas largas e baixas eram mais eficazes para maximizar a extração. Leonor seguiu à risca as suas recomendações. “Podia não ter conhecimento, mas sempre tive intuição”.
No ano seguinte engarrafou uma pequena quantidade de vinho (apenas sete mil garrafas) com a marca Terras do Pó. Mas o grosso do negócio continuava assente na venda a granel. Sentia até uma certa responsabilidade em manter a entrega do vinho à empresa parceira. Mas em 2002, com a crise a apertar, recebeu uma notícia inesperada: a empresa já não precisava do vinho. De um momento para o outro ficou com um milhão de litros sem destino. Leonor, no entanto, não é de baixar os braços. Arranja sempre uma solução, e melhor do que a anterior. Assim nasceu o bag-in-box MJFreitas, que não foi apenas uma salvação, mas um verdadeiro sucesso.
“Sempre crescemos em tempos de crise, a reinventar-nos, a fazer investimentos, porque quando a crise passa, temos de estar preparados.”
Crise e oportunidade
“Sempre crescemos em tempos de crise, a reinventar-nos, a fazer investimentos. Porque sabemos – e o Jaime tem aqui um papel muito importante – que, quando a crise passar, temos de estar preparados.” – resume a empresária.
Leonor nunca teve medo de duas coisas: trabalhar e pedir ajuda. Foi assim que aprendeu a operar a linha de enchimento, a manobrar o empilhador e a fazer tudo o que fosse preciso para a empresa. Durante as vindimas ficava na adega até às tantas, a analisar os mostos com Jaime e, às seis da manhã, já ia buscar os trabalhadores para a vindima.
O caminho não foi fácil, mas Leonor nunca parou. Arriscou, inovou, enfrentou as críticas, plantou vinha, comprou vinha, sempre com o apoio de Jaime, e em 25 anos, transformou a Casa Ermelinda Freitas na empresa nº 1 da Península de Setúbal em faturação (42 milhões de euros) e na segunda maior produtora de vinho certificado da região.
Começou com apenas 60 hectares e duas castas – Castelão e Fernão Pires – e hoje conta com 550 hectares e mais de 30 castas. Só no último ano, a produção total (entre vinho certificado e vinho de mesa) atingiu os 25 milhões de litros.
Actualmente planeia replantar 40 hectares de vinha e arrendar mais 60 hectares por 35 anos, o que equivale, na prática, a ter vinha própria. Além disso, compra uvas e vinho feito. Em setembro passado, comprou todas as uvas dos viticultores que não tinham comprador. Apoiar a região é uma verdadeira responsabilidade social para Leonor.
A Casa Ermelinda Freitas emprega 108 pessoas, mais 20 trabalham permanentemente na vinha. Onde é possível, investe em equipamentos de ponta e já têm poda automática e vindima à máquina em cerca de 150 hectares. Mas como nem todas as vinhas estão adaptadas à mecanização, nas alturas específicas chegam a contratar mais 100 trabalhadores temporários.
A estratégia sempre foi clara: produzir o melhor produto e colocá-lo no mercado pelo melhor preço. “Ao longo dos anos, fiz marketing natural, dando a cara. O meu vinho sempre teve um rosto, boa qualidade e história” – afirma Leonor e tem toda a razão.
“Sabíamos da compra da Quinta de Canivães, no Douro, era difícil rentabilizar. Mas achei que tinha direito à realização de um sonho”
“Só temos dinheiro do vinho, não temos outros negócios. Por isto, os nossos sonhos têm que se tornar rentáveis”
Expansão para Minho e Douro
Até 2017, a Casa Ermelinda Freitas cresceu dentro da região. Mas perseguindo o sonho antigo de ter “uma quintinha no Douro”, Leonor acabou por expandir o seu negócio para duas importantes e conhecidas regiões do Norte de Portugal: o Minho e o Douro.
Encontrar uma quinta no Douro que fosse tradicional e tivesse potencial revelou-se uma tarefa difícil. As opções eram poucas e, na maioria dos casos, não eram economicamente viáveis. Estava quase a abandonar a ideia do Douro, quando recebeu uma chamada inesperada com uma proposta de uma propriedade no Minho, perto de Braga. Pensou: “já que não consigo comprar nada no Douro, tenho de ponderar. Não gosto de fechar as portas.” Foram ver a quinta e perceberam que era uma oportunidade – tinha vinha e uma adega funcional. Leonor anda muito pelos mercados externos e sentiu que ter um Vinho Verde no portefólio seria uma mais-valia.
Mas Deus escreve direito por linhas tortas, e no intervalo entre o acordo e a concretização do negócio no Minho, surgiu uma quinta perto de Foz Côa, com os socalcos tradicionais, “um verdadeiro Douro”, exatamente como Leonor tinha sonhado. Com o parecer favorável de Jaime, avançou. “Sabíamos que era difícil rentabilizar. Mas achei que tinha direito à realização de um sonho e pensei para mim: se tiver que vender alguma coisa em Palmela, vendo”, confessa Leonor.
Investiu dois milhões de euros na Quinta do Minho na região dos Vinhos Verdes e 2,5 milhões na Quinta de Canivães no Douro, pois “o rio paga-se”. O sonho no Douro saiu mais caro e ainda precisa de muito investimento, mas valeu a pena.
“Tenho energia e projetos novos, como se fosse eterna”
Quinta com nome de região
A Quinta do Minho fica em Póvoa de Lanhoso, na sub-região de Ave. Embora não esteja muito longe do litoral (cerca de 40–50 km em linha reta do Oceano Atlântico), não é uma zona diretamente costeira e apresenta algumas influências do relevo interior. Está parcialmente protegida pela Serra do Gerês, que fica a nordeste, criando alguma barreira orográfica à precipitação e à temperatura.
A propriedade foi formada em 1990, a partir da fusão de duas quintas antigas: a Quinta do Bárrio e a Quinta da Pedreira. A casa principal brasonada remonta ao século XVIII. A quinta conta com 50 hectares, dos quais 10 são de vinha. A grande vantagem e a principal razão que levou Leonor Freitas a aceitar a proposta, foi a existência de uma adega bem equipada e funcional, com linha de engarrafamento. Isto permitiu uma rentabilização mais rápida do investimento. Ainda assim, o potencial da propriedade está longe de estar totalmente explorado, sobretudo na componente não industrial. A quinta inclui ainda dois palacetes antigos por recuperar, com grande potencial para projetos de enoturismo, mas este passo ainda não foi possível. “Só temos dinheiro do vinho, não temos outros negócios. Por isto, os nossos sonhos têm de se tornar rentáveis”, explica Leonor Freitas a sua grande máxima.
A adaptação à região correu bem, e Leonor partilha a sua experiência e visão desta aventura. “Pretendemos ir crescendo naturalmente. Estamos numa lógica de parceria, a contribuir para o prestígio da região e a ir ao encontro dos mercados. Ao mesmo tempo, percebemos que a antiguidade é um posto na região. Por exemplo, os vinhos com a nossa marca Campos do Minho não podem ser certificados como DO Vinho Verde, simplesmente porque o nome contém palavra “Minho”. Já um vinho de outra casa, chamado Terras do Minho, pode, porque a marca já existia antes de a regulamentação entrar em vigor. Vemos nisto alguma desigualdade de oportunidades, mas cada região tem as suas leis, e temos que aprender a lidar com elas.”
A primeira colheita foi lançada em 2020 e a produção já atinge os dois milhões de garrafas. O portefólio do Minho não concorre com o da Península de Setúbal — antes pelo contrário, criam-se sinergias: o Vinho Verde ajuda a vender os vinhos de Setúbal, e vice-versa.
A estratégia para os Vinhos Verdes mantém-se fiel à da casa-mãe: produzir bom vinho a bom preço. “O vinho tem de ter qualidade e agradar ao consumidor, que, na realidade, é quem paga as contas” – defende Leonor e acrescenta: “fazemos sempre algumas especialidades.” Neste caso, são os monovarietais de Loureiro, e certamente virá também um Alvarinho, casta com a qual já trabalha em Palmela.
Dispõem de várias marcas registadas, herdadas do proprietário anterior. Umas são mais vocacionadas para a exportação, outras para o retalho, como Fugaz e Gábia, e há marcas reservadas à restauração, como Campo da Vinha e Quinta do Minho.
A gama de estilos é abrangente e praticamente transversal às marcas, variando de um vinho ligeiro, um Vinho Verde clássico a monovarietais de Loureiro. O conceito do vinho ligeiro “importaram” da casa-mãe. É um vinho muito leve de corpo, com apenas 8,5% de álcool, ideal para o consumidor que procura vinhos menos alcoólicos. Considerado semi-doce, e os 20 g/l de açúcar estão perfeitamente equilibrados pela acidez, quando servido bem fresco, o seu perfil aromático e descomplicado funciona lindamente. Tem sido um sucesso de vendas. Outro ponto importante, na opinião de Jaime, é que “uma casa grande trabalha com casas grandes e, neste caso, os vinhos com menos álcool significam menos impostos para os importadores, o que, em escala, é muito notável.”
O estilo “clássico” do Vinho Verde corresponde ao imaginário coletivo do consumidor, com uma doçura residual (neste caso, 10 g/l de açúcar por 6 g/l de ácido tartárico) e a sensação de “agulha”, é proveniente da presença de gás carbónico (cerca de dois bar). O monovarietal de Loureiro, seco e sério, está disponível em duas versões: uma feita exclusivamente em inox e outra com uma breve passagem de dois meses pela madeira.
Quinta de Canivães – “um verdadeiro Douro”
O grande valor da Quinta de Canivães está na sua localização privilegiada, na sub-região do Douro Superior, perto de Vila Nova de Foz Côa, na margem esquerda do Douro. A propriedade tem quase um quilómetro de frente de rio, e das vinhas avista-se a confluência do rio Côa com o rio Douro.
Normalmente, quem tem propriedades e vinhas em zonas tão boas, não as vende. No entanto, a empresa que detinha a quinta entrou em insolvência. A propriedade, dada como garantia à Caixa Agrícola de Pinhel, foi colocada à venda. O proprietário anterior, contrariado, arrancou 15 hectares de vinha e retirou todo o equipamento da adega, deixando apenas os lagares de pedra, que não conseguiu levar. Restaram 20 hectares de vinha, dos quais cinco correspondem a vinhas mais velhas, com cerca de 30 anos. Atualmente, existe apenas encepamento tinto, com as três castas principais do Douro: as duas Tourigas e a Tinta Roriz. No futuro, está previsto o plantio de mais vinha, incluindo castas brancas típicas da região.
Os socalcos tradicionais, com 2,60 m de largura e de 2,5 a 3 m de altura são lindos, mas difíceis de trabalhar e não mecanizáveis. Se em Setúbal a apanha e entrega de uvas custa 4-5 cêntimos por kg, no Douro este valor sobe para 16 cêntimos.
Há já dois anos que está a converter a vinha para o modo de viticultura biológica. Falta um ano para obter a certificação, que considera uma mais-valia importante para o futuro. Esta transição “dói” principalmente ao Sr. Carlos, o colaborador que trata da vinha e da propriedade. À pergunta de Jaime se estava tudo bem na sua ausência, Sr. Carlos responde, com um sorrizo triste: “Sim, está tudo bem, o único problema é a relva… tanta relva na vinha…”
Há ainda 4,5 hectares de olival, do qual produzem, já há quatro anos, um azeite de alta qualidade com a marca Quinta de Canivães. As quatro mil garrafas de 500 ml são vendidas em lojas especializadas.
Como ainda não têm adega, Jaime e Leonor produzem o vinho nas instalações de outra empresa duriense (Saven). Neste momento têm duas referências no mercado: Quinta de Canivães 2020 (com estágio em carvalho americano e francês durante 8 meses) e Quinta de Canivães Reserva 2019 (com estágio de 12 meses), lançadas em Setembro do ano passado. Os vinhos são vendidos nas garrafeiras e na restauração. O lançamento de Grande Reserva está previsto no final deste ano. Existe uma segunda marca – Vinha de Canivães – destinada à exportação.
Compraram alguns equipamentos, como o trator, por exemplo, mas a adega ainda precisa de muito investimento. “O mundo não é só de rosas, e mesmo as rosas têm espinhos. Nós tentamos sempre a arredondá-los. Agora temos dois diamantes para lapidar”, resume Leonor Freitas.
“Ao longo dos anos, fiz marketing natural, dando a cara. O meu vinho sempre teve um rosto, boa qualidade e história”
Divulgar os vinhos de Portugal
Os novos projectos no Norte enquadram-se perfeitamente na estratégia da empresa de produzir vinhos de boa relação qualidade/preço, para todas as gamas e mercados, juntando agora uma vertente importante – divulgar os vinhos de Portugal de forma mais abrangente, sobretudo nos mercados externos.
Tendo em conta que a Casa Ermelinda Freitas está intrinsecamente ligada à Península de Setúbal, criaram uma empresa “irmã” – a Ermelinda Vinhos de Portugal – para não confundir o consumidor nacional. Nos mercados externos, como o Brasil, por exemplo, basta-lhes saber que é “o vinho da Ermelinda”. A faturação da Ermelinda Vinhos de Portugal é, por agora, de cerca de três milhões de euros, somando os dois projetos nortenhos.
A filha de Leonor, Joana, que representa a 5ª geração da família, já está na empresa há 20 anos. Ficou também entusiasmada com exploração de novos territórios e reconhece o seu papel em promover a Casa Ermelinda Freitas, a região onde estão e Portugal no seu todo. “Eu dou-lhe espaço, a casa tem que ter continuidade” – diz a empresária.
Embora Leonor tenha orgulho no percurso feito ao longo de mais de 25 anos no sector vitivinícola, considera que a Casa Ermelinda Freitas está ainda a meio do caminho, e tem um enorme potencial por explorar.
“Não quero bloquear a nova geração, mas vão ter que me aturar enquanto eu tiver saúde e cabeça. Tenho a mente rápida e não me sinto velha. Como vejo mal de perto, não vejo rugas – e tenho energia e projetos novos, como se fosse eterna” – confessa Leonor, entre sorrisos. E apetece-me acrescentar que Leonor vê muito bem ao longe, muito longe – no futuro.
Nota: A autora escreve segundo o novo acordo ortográfico.
(Artigo publicado na edição de Maio de 2025)
Entrevista Leonor Freitas: “O vinho não é para quem o faz, é para o consumidor”

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Em 2008, o seu Syrah Reserva 2005 foi eleito o melhor vinho tinto do concurso francês Vinalies Internationales. A partir daí, ninguém a parou. Em 2018 comprou uma quinta nos Verdes com 7,6 hectares de vinha, em Póvoa do Lanhoso, e outra no Douro Superior com 20, junto a Foz Côa.
Em 2020, a Casa Ermelinda Freitas produziu 22 milhões de litros e facturou 29 milhões de euros. De seu nome Leonor, é a “Dona Ermelinda”. Embaixadora de Portugal e do mundo rural, a Senhora do Castelão de Palmela.
TEXTO Mariana Lopes
FOTOS Ricardo Gomez

Um dia, o seu principal cliente deixou de lhe comprar vinho e viu-se com um enorme problema em mãos. Procurou resolvê-lo, e chegou onde chegou. Acha que, como diz o provérbio, há males que vêm por bem?
Não tenho dúvida disso. Costumo dar, precisamente, o meu exemplo aos jovens. Cheguei à Casa Ermelinda Freitas cheia de força, “sabendo que não sabia”, e quando, em 2002, esse grande cliente que nos comprava o vinho, que ajudou a nossa família ao fazê-lo e pelo qual nós tínhamos uma grande admiração, disse que não comprava porque não precisava… até me ficou na memória, até hoje, o sítio e a hora.
Por momentos, achei que era a nossa insolvência. Já tinha criado a marca Terras do Pó, mas apenas com 7 mil garrafas, e era da venda a granel que dependíamos economicamente. Durante dois dias não pensei noutra coisa. Mas, não há dúvida que aquela dificuldade se transformou numa oportunidade, porque resolvi lançar o bag-in-box M.J. Freitas [o nome do pai, Manuel João de Freitas], que na altura as pessoas não identificavam com grande qualidade, apesar de estar, inclusive, apto a Denominação de Origem. Não posso dizer que não tive receio, mas tinha de arranjar uma forma de vender o vinho que tinha.
Chamei o Jaime Quendera, o nosso enólogo, e disse-lhe que íamos fazer um bag-in-box bom, com bom vinho. E, de facto, foi uma aposta certa. Esse “bag” tomou umas proporções em Portugal e lá fora que ultrapassaram tudo o que eu pudesse imaginar. Era o melhor bag-in-box que as pessoas já tinham encontrado. Hoje, continuamos a vendê-lo imenso e nem alterámos a imagem, por causa disso. Isto para dizer que a grande dificuldade que eu senti, o facto de não ter cruzado os braços e ter ido à procura de soluções, tornou-se numa oportunidade, e também porque aí eu cortei os laços, comecei a pensar em marcas e fomos para a frente. Se não tivesse havido este corte, a Casa Ermelinda Freitas não seria hoje o que é. A minha vida tem sido feita destas lutas, e eu tenho a sorte de ser muito lutadora.
Quando se lançou na comercialização de vinho engarrafado, este negócio na Península de Setúbal estava nas mãos de duas grandes empresas. Alguma vez pensou que viria a tornar-se um dos “grandes” de Setúbal?
Não, nunca pensei. Nem a minha família pensou. Ainda hoje tenho dificuldade em interiorizar isso, quando vejo números. Primeiro, eu só queria manter os meus 60 hectares, vender vinho a granel e não vender o que era da família. Depois, quando comecei a engarrafar, só queria fazê-lo com a minha produção. Mais tarde, comecei também a comprar vinhas, a familiares e vizinhos.
Tudo isto começou a ser uma bola e eu vou sendo arrastada e enrolada nela [risos] e, de facto, aconteceram coisas que eu nunca esperaria e que as pessoas me conhecessem em todo lado e me chamassem “Dona Ermelinda”, o que é um fenómeno muito engraçado. Quando vim para ajudar a minha mãe, tornei-me no rosto do projecto e por isso as pessoas me chamam assim. Pedem-me para tirar fotografias e eu acho que os consumidores merecem tudo.
Agradeço todos os dias, houve muito trabalho e muita luta, até com a natureza, num sofrimento que nos liga à terra e nos dá vida. Hoje, percebo a minha família, e tenho a sorte de ter um produto de afecto, com que se festeja tudo, um produto de comunicação, e eu gosto muito de comunicar. Encontrei-me, nesse aspecto, e realizei-me muito. Venho de uma família de pessoas honestas e simples, e tenho muito orgulho em dar continuidade ao que é da família, e de ter também aqui os meus filhos, o João na informática e a Joana a assumir muitas partes da gerência.
Sempre sentiu que o seu desígnio de vida passaria pela vinha e pelo vinho?
Não, embora tenha tido uma infância muito feliz aqui, isto era muito isolado. Estudei com candeeiro a petróleo, só tivemos luz eléctrica em 1979. Só no ensino superior é que fui para Lisboa. Fui muito feliz meio das vinhas, das batatas, do milho, e do feijão, mas sempre pensei que a minha vida seria fora daqui, que queria o Mundo.
Havia uma grande discrepância entre o meio rural e o meio urbano, até do papel da mulher e do homem. O meu pai queria muito que eu estudasse e eu queria muito sair daqui, por isso nunca pensei que a minha vida passaria por isto. Quando saí, tudo o que queria era não voltar. Tive a sorte de, quando o meu pai faleceu, já ter maturidade suficiente, com 40 anos, para querer vir para Fernando Pó.
Senti também que tinha de vir ajudar a minha mãe que, apesar de ser uma mulher de negócio e com grande perspicácia, nunca tinha ido a um banco, porque supostamente lhe ficava mal assumir essas partes. Era o meu pai que ia. Então, faltava-lhe isso e eu vim colmatá-lo. Foi duro para ela, não tinha confiança na menina que tinha vindo da cidade. Eventualmente, reconheceu que eu sabia fazer coisas que ela não sabia.

Os vinhos que produz abarcam diversos segmentos de preço mas são, sobretudo, vinhos “democráticos”, vinhos que estão em todo o lado e de que toda a gente gosta. Esse conceito de fazer bom vinho a bom preço e facilmente disponível é algo em que pensava desde o início ou a empresa acabou naturalmente por seguir esse modelo?
Quem está habituado a vender vinho a granel, está também habituado a mais-valias muito pequenas. Se eu tivesse continuado a fazer vinho a granel, talvez só tivesse criado, por exemplo, um vinho de topo para dar nome à casa. Mas como houve necessidade de expandir o negócio, foi uma opção, desde o início, ir ao encontro do consumidor com bons vinhos a bom preço, colocá-los no máximo de sítios possível. Estar nas feiras todas e ir logo lá para fora vender também foi prioridade. Fui três vezes ao Brasil e não vendi nenhum vinho, por isso é que digo que é muito importante não desistir. No início eu fazia de tudo, e isso também me deu um conhecimento geral do sector.
A Casa Ermelinda Freitas tem também, pelo menos, um vinho de grande ambição, um Castelão de referência posicionado no segmento mais alto, o Leo d’Honor. Curiosamente, não é tão fácil de encontrar no mercado quanto os seus outros vinhos e o 2013 terá sido o último a ser lançado. Ser também conhecida por fazer grandes vinhos não é tão importante para si?
Nós também temos o objectivo de fazer vinhos mais emblemáticos. Temos, neste momento, o Leo d’Honor, que fazemos em pequenas quantidades e que queremos que venha a assumir mais importância. As vinhas têm 70 anos e este é um Castelão diferente. Sem dúvida, temos aspirações e está na calha fazer mais vinhos de um nível superior. Estamos satisfeitos mas não estamos conformados, a sociedade está sempre a evoluir e nós temos de ir ao encontro dessa dinâmica.
O número de medalhas e troféus que os seus vinhos têm ganho no mundo inteiro é incontável, absolutamente impressionante. Qual é o segredo? Uma medalha ajuda a vender?
Já passam dos mil, os prémios que ganhámos desde 1999. Só este ano já passam dos 80. Devo dizer que, antigamente, fazíamos um jantar quando recebíamos um, eu fazia um discurso e lembrava a minha equipa que aquele prémio também era deles. Hoje, sou sincera, pergunto ao Vítor [assessor de administração da Casa] “o que é que ganhámos ontem? Ah, foi isso? Ainda bem, ainda bem”, e pronto.
Não sei qual é o segredo, mas esta é uma grande região, que não é tão reconhecida como deveria ser, e eu tenho uma grande equipa. Nesse aspecto tenho de agradecer especialmente ao Jaime Quendera, que supervisiona os vinhos. Também é o facto de pensarmos que temos de ir ao encontro do consumidor, que não estamos a fazer vinho para o nosso gosto, só para nós bebermos. Acima de tudo, os prémios têm-nos dado a aferição de que estamos no caminho certo. E sim, uma medalha ajuda a vender, cá em Portugal e muito lá fora. Há quem pergunte quais são os vinhos medalhados, e só queira comprar esses. E ajuda também o nosso ego…
“Temos aspirações, e está na calha fazer vinhos de um nível superior.”
Há um “antes” e um “depois” do Syrah 2005?
O Syrah 2005 ajudou-nos muito, porque aconteceu numa altura em que estávamos a começar. Principalmente a divulgar a nossa existência. No ano seguinte, o concurso Vinalies, que lhe deu o prémio, enviou o folheto de inscrição para o mundo inteiro e, no final, dizia algo como “Concorra, queira ser como este”, e era a nossa garrafa do Syrah que lá estava. E isso foi um orgulho enorme, daquelas coisas que pensamos que nunca nos acontece. Eram 3800 vinhos, de 36 países. Ao final, chegar um vinho português e esse vinho ser da Casa Ermelinda Freitas… tem de haver uma estrelinha da sorte. Eles devem ter achado que era um vinho francês, é uma das vantagens da prova cega…
O crescimento da casa tem sido tremendo ao longo das últimas duas décadas, numa média de 8 a 10% ao ano, e isso é visível não apenas no mercado mas até no que está à vista, em termos de vinhas, armazéns, adegas. Não é difícil controlar um crescimento tão rápido?
Têm sido umas dores de crescimento enormes e muitas noites sem dormir. É fazermos uma obra, que eu dizia que era a obra da minha vida, e quando a acabamos ela já estar pequena. É um investir permanente, que não nos dá espaço para parar. E, depois, lutar com tudo, desde não ter licença para alargar instalações e termos de a conseguir, às máquinas que avariam. Mas eu não preciso de dinheiro, preciso de investimento para que o consumidor continue a gostar dos vinhos, porque tudo muda, e para continuar a criar postos de trabalho. Hoje é tudo tão rápido que, se não estivermos atentos, somos ultrapassados. Mas tem sido bom, sobretudo porque tenho quem me acompanhe nisso.
Com a pandemia, muitos produtores de vinho começaram a intervir mais ao nível social. Mas isso é algo que a Leonor faz desde há muito, impulsionando e dinamizando diversas obras sociais na região. O facto de ser uma grande empregadora e de si dependerem muitas famílias, sobretudo na agricultura, tem desenvolvido essa sua consciência social?
Eu compro uva a mais de uma centena de proprietários, tanta quanto a que tenho, e isso também é uma responsabilidade social minha, aqui. É certo que preciso dessas uvas para fazer vinho mas o que é que essas pessoas fariam a este jardim enorme de vinhas se não lhes comprássemos as uvas? Precisamos de ajudar estas pessoas porque há aqui muitos pequenos proprietários. É também o nosso papel, ajudar a região. As empresas têm obrigação de ajudar socialmente. Eu sou privilegiada, porque me tem acontecido muita coisa boa, mas nasci aqui no mundo rural, nem saí para ir para o hospital quando nasci. E os consumidores têm-me ajudado muito ao preferir o meu vinho, por isso tenho a obrigação de devolver à sociedade. É nesse sentido que tenho tido muitos projectos sociais, uns mais organizados e outros menos.
Tenho um que se aproxima mais daquilo que eu acho que deviam ser estas iniciativas. Há um centro em Algeruz que acolhe jovens delinquentes, com vidas muito difíceis, que tinha um hectare de terreno sem nada, onde eu plantei uma vinha de Moscatel, para os motivar para o trabalho e despertá-los. Tratam dela o ano inteiro, vêm cá, vendem as uvas… mas é um trabalho muito difícil, nem todos têm disposição. Não vamos recuperar os 20 que lá estão, mas se conseguirmos um, dois ou três, já é muito bom. Já vamos para a quarta vindima. Mas é o que eu acho que devia ser feito, não dar o peixe, mas ensinar a pescar. Sinto uma grande responsabilidade de valorizar o trabalho do campo, dignificá-lo, porque eu não sou mais do que uma rural. Para estar bem comigo mesma tenho de sentir que estou bem com os outros e que faço o que posso pelos outros. E foi a minha família, que tinha apenas a quarta classe, que me transmitiu isto.
Os projectos assentam em pessoas e Jaime Quendera está consigo desde o início. Que importância tem tido o trabalho e a presença dele no seu negócio?
Tem tido muita importância. Entre nós há quase uma simbiose, entre o que ele pensa e o que eu penso, entre o que gostamos e o que achamos correcto. Tem sido a pessoa fundamental para a Casa e toda a linha que seguimos. Há aqui uma amizade, ele não é um simples enólogo, é um amigo com quem se partilha alegrias e dificuldades. Formou-se entre nós uma grande família. Temos uma grande confiança um no outro. Se me perguntarem qual a minha pessoa de total confiança além dos membros da minha família, é o Jaime Quendera.
Há muitos negócios de vinho que não passam por ter vinha. Mas o seu começou pela vinha, depois pela produção e venda a granel, a seguir pelo engarrafado. Com 550 hectares só na Península de Setúbal, a vinha continua a ser muito importante para o seu projecto de vida…
É muito importante, eu gosto imenso de comprar vinhas. Tenho de fazer adegas e comprar depósitos porque é necessário para a enologia. Mas do que eu gosto mesmo, é da vinha…
Apesar de ser uma referência na produção de Castelão, até pelo terroir especial de Fernando Pó para esta casta, desde o início que apostou em muitas outras variedades, diversificando muito toda a sua gama de vinhos. Está contente com essa aposta?
Quando comecei a ir para o mercado externo, comecei a criar as outras castas porque o Castelão não dizia nada às pessoas lá fora. Elas não provavam o nosso Castelão se nós não tivéssemos um bom Cabernet, um bom Sauvignon Blanc, etc. Aproveitámos isso para entrar nos outros países. Dávamos a provar as castas que eles mais conheciam e depois dizíamos “então agora prove o nosso Castelão, que de certeza que vai gostar”. E gostavam, de forma geral.
Foi também para diversificar e fazer pedagogia com o vinho cá em Portugal. E tem resultado muito bem, tenho tido muito sucesso com os monocasta. Apesar de tudo, continuo a dizer que não quero deixar de ser a Senhora do Castelão de Palmela. No entanto, estou muito contente com essa aposta nas castas, que agora são 31 plantadas nas nossas vinhas. No início, só tinha Castelão e apenas 5% de Fernão Pires…
O Moscatel de Setúbal é relativamente recente no seu portfólio. Mas o mercado do Moscatel é ainda muito regional, com pouca expressão nacional e na exportação. O que poderia ser feito para dar outra dimensão a este vinho emblemático de Setúbal?
Acho que o Moscatel de Setúbal foi, em tempos, mal-tratado. Aparecia em garrafas feias, não havia divulgação. Mesmo hoje, falta comunicação e marketing. Eu estive em Londres, numa feira de clube onde nós vendemos, e havia vinho do Porto mas eu levei, também, Moscatel. Os ingleses chamavam-se uns aos outros e diziam “Vem provar, que é bom, mas não é Porto!”. Eles só conhecem vinho do Porto e não conhecem Moscatel mas, quando provam, gostam muito. Hoje, temos todos bons Moscatéis, com boas imagens, e falta divulgarmos e afirmarmos em conjunto o Moscatel.
É uma responsabilidade de todos nós. Aqui, nas terras de areia, antigamente não se plantava Moscatel porque dizia-se que não se dava. Ele aqui é, de facto, diferente do da Serra da Arrábida, e isso é muito giro, complementam-se. Na edição deste ano do Muscats du Monde, foram várias as adegas daqui que ficaram no Top 10. Nós também lá estamos, mas foi a Venâncio da Costa Lima que ganhou o primeiro lugar, e ainda bem! Porque eu acho que é uma excelente maneira de, pouco a pouco, nos irmos afirmando.
“Uma medalha ajuda a vender. Há quem pergunte quais são os vinhos medalhados, e só queira comprar esses.”
Tem uma excelente quota de mercado em Portugal mas já exporta 40% da sua produção. A tendência é para crescer lá fora?
Essa também é a vontade, mas muita é a de crescer cá. Ainda temos mercado para crescer mais um pouco no mercado nacional. Ainda estamos pouco distribuídos no Norte, por exemplo. E no Algarve também há margem. No entanto, sim, sobretudo crescer lá fora. O nosso director do mercado externo anda a viajar muito nesse sentido.
Em anos recentes, o seu mundo vitivinícola alargou-se, estendendo-se da Península de Setúbal para o Douro e para a região dos Vinhos Verdes. O que é que a atrai nestas regiões? São apenas investimentos estratégicos ou é também apreciadora dos vinhos ali produzidos?
Gosto das regiões e dos vinhos que lá são produzidos. Tudo começou por uma paixão que tenho pelo Douro. Quando o visito, fico sempre apaixonada pela dificuldade que é tratar aquelas vinhas, pelo contraste entre o rio e as vinhas. É um amor enorme. Sempre disse “Como eu gostava de ter uma quinta…”, mas pensei que nunca seria possível. Entretanto, quando andava a pensar muito no Douro, apareceu a hipótese do Minho. Nunca tinha pensado nisso, mas como lá fora perguntam muito por Vinho Verde, achei que seria uma oportunidade, pensando que não conseguiria comprar no Douro.
Adquiri a Quinta do Minho, equipada com adega, para complementar o portfólio. Este processo demorou algum tempo e, quando já estava comprometida com a compra da Quinta do Minho, aparece-nos uma no Douro Superior que correspondia ao meu sonho. Ia até ao rio, com margem de mais de um quilómetro, a vinha muito bonita e uma paisagem maravilhosa. Fiquei num dilema. Mas aquela Quinta de Canivães correspondia nitidamente à imagem do meu sonho. Sabia que seria difícil recuperar dois grandes investimentos juntos, mas disse ao Jaime “acho que já tenho direito a ter um sonho”. E comprámos. Dos Verdes já temos vinhos no mercado. Do Douro já vendemos uvas, sendo a maioria de Letra A, e também já temos vinho mas está a estagiar, numa adega alugada.
Está na calha mais algum investimento noutra região?
Não. Não se pode dizer “nunca”, mas agora temos de sedimentar e consolidar estas regiões. Os vinhos têm de ser conhecidos, temos de os vender… mas estou muito feliz pelas duas regiões. São muito diferentes da Península de Setúbal, e entre si, e complementam o portfólio.
Que importância tem ou pode vir a ter o turismo do vinho na Casa Ermelinda Freitas?
Pode vir a ter muita importância. Já tem. Estamos perto de Lisboa e também das praias, zonas turísticas como Tróia, Comporta, todos esses polos que se vão desenvolvendo. O enoturismo é um complemento aos outros tipos de turismo. Neste momento temos isso em pausa, por causa da pandemia, mas iremos reabrir. Temos ideia de fazer parcerias com Tróia e Comporta, e estávamos a planear um investimento aqui, nesse sentido. A nossa adega está preparada para mostrar tudo, e o enoturismo é também uma maneira de fidelizar o cliente e valorizar o mundo rural.
Tem dois filhos a trabalhar na empresa que foi fundada pela sua bisavó, há precisamente 100 anos. Em que medida uma casa de vinhos assente numa base familiar é diferente das outras?
Não sei se é muito diferente, mas a verdade é que quem vem trabalhar para aqui vindo de multinacionais, por exemplo, nota a diferença. Somos muito próximos, das revoluções e dos problemas. Vivemos todos aqui, sabemos tudo o que se passa, os colaboradores são como nossa família. Conhecemos todos os pormenores, temos muita facilidade em resolver problemas no imediato, ou de facilitar uma resolução, de sentirmos o que se está a passar em todos os sectores.
Trabalhamos lado a lado e isso é diferente de uma empresa em que os funcionários mal conhecem o patrão. A porta dos nossos gabinetes está sempre aberta para todos entrarem. Há muita ajuda e sabemos todos que podemos pedir ajuda. Este afecto faz um conjunto harmonioso e forte.
As mulheres sempre tiveram um papel fundamental na empresa, mesmo em épocas remotas em que isso era pouco habitual. Hoje, a Leonor é, provavelmente, a mulher mais influente no sector do vinho em Portugal e é muitas vezes solicitada a contar a sua experiência de vida. Sente que é um exemplo enquanto mulher/empresária ou preferia que a distinguissem pelo seu valor e pelo seu trabalho e por aquilo que atingiu, independentemente do sexo?
Não há profissões para homens e para mulheres, há as pessoas certas nos sítios certos. É verdade que me pedem muito para falar sobre isso e eu termino sempre a dizer isso. Aqui tenho mulheres e homens a trabalhar, todos escolhidos pelo empenho. Por acaso, tenho grandes mulheres aqui, mas porque se têm mostrado muito lutadoras na hora de tentar entrar num estágio, por exemplo. E como a casa está sempre a crescer e acompanham muito bem esse crescimento, acabam por ficar. Mesmo a nível familiar, é uma pura coincidência.
A minha bisavó ficou viúva muito cedo, conseguindo aguentar uma casa agrícola, a minha avó também e era uma mulher cheia de força, que não queria férias nem descanso, que se impôs pelo seu trabalho. À minha mãe aconteceu o mesmo e eu… foi muito trabalho, muita dedicação e, sobretudo, rodear-me das pessoas certas. Cada vez mais acho que a igualdade no trabalho vai ser afirmada. Antes, as mulheres não faziam mais porque não as deixavam, mas sempre tiveram todas as faculdades.
“Sinto uma grande responsabilidade de valorizar o trabalho do campo, dignificá-lo.”
Que mensagem gostaria de deixar a um jovem produtor ou produtora que agora inicia os seus passos no mundo do vinho?
O vinho, neste momento, está muito na moda, é quase lírico. Mas, atenção. Não é fácil começar, há muita concorrência, muito vinho. A pessoa, se gosta, não pode desistir, e a formação é muito, muito importante. Pensar, sobretudo, que o vinho não é para nós, que o fazemos, é para alguém que vai comprar, o consumidor. É um negócio, uma profissão como as outras.
Vender vinho não é fácil, como muita gente pensa. Para mim, basta mudar de região para sentir dificuldades. Tem de se ter amor pela terra, pelo fruto que ela dá, amor pelo próprio vinho e lutar. Quem nos dera que muitos jovens agricultores, ou viticultores, venham dar continuidade a este sector, que precisa deles, com garra, sabedoria e inovação. Tudo para que possamos continuar a ter este grande produto que é o vinho de Portugal.
( Artigo publicado na edição de Setembro 2020)[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][divider line_type=”Full Width Line” line_thickness=”1″ divider_color=”default”][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/3″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]
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Casa Ermelinda Freitas junta-se ao Vodafone Mexefest 2017

A edição 2017 do Vodafone Mexefest, festival de música que decorre em Lisboa, em várias salas da Avenida da Liberdade, em Lisboa, vai contar com a presença dos vinhos da Casa Ermelinda Freitas. Entre 24 e 25 de Novembro, o festival organizado pela produtora Música no Coração leva aos palcos nomes como Destroyer, Cigarettes After […]
A edição 2017 do Vodafone Mexefest, festival de música que decorre em Lisboa, em várias salas da Avenida da Liberdade, em Lisboa, vai contar com a presença dos vinhos da Casa Ermelinda Freitas. Entre 24 e 25 de Novembro, o festival organizado pela produtora Música no Coração leva aos palcos nomes como Destroyer, Cigarettes After Sex, Julia Holter, Orelha Negra, Manuel Cruz ou Samuel Úria, entre muitos outros.
A Casa Ermelinda Freitas vai estar presente com os seus pontos de venda em quatro locais distintos, entre eles a Sala Ermelinda Freitas, no Palácio da Foz, cenário para alguns dos concertos incluídos no programa. O cineteatro Capitólio, a estação do Rossio e o Coliseu de Lisboa são os outros postos onde serão servidos os vinhos deste produtor da Península de Setúbal – ao todo, estarão disponíveis seis referências: dois brancos, um rosé, três tintos e um Moscatel.