Herdade da Mingorra: Nas terras da família Uva

Em pleno Baixo Alentejo, na casa rústica e acolhedora da Herdade da Mingorra, ao crepitar de uma grande lareira, viajámos pela história desta herdade na companhia dos seus quatro principais rostos – Henrique Uva, o patriarca e o fundador, as filhas Maria e Sofia e Pedro Hipólito, o director geral da empresa, que tem acompanhado […]
Em pleno Baixo Alentejo, na casa rústica e acolhedora da Herdade da Mingorra, ao crepitar de uma grande lareira, viajámos pela história desta herdade na companhia dos seus quatro principais rostos – Henrique Uva, o patriarca e o fundador, as filhas Maria e Sofia e Pedro Hipólito, o director geral da empresa, que tem acompanhado o projecto desde o início.
O sucesso da Herdade da Mingorra deve-se às decisões certas tomadas nos momentos cruciais e a uma adaptação constante às condições climáticas e do mercado. O essencial é aposta na uva própria, gestão inteligente de processos desde a vinha à rede comercial e a abertura à inovação a todos os níveis. Resumindo, não compram um quilo de uva e não têm um litro de vinho em excesso no armazém. E estamos a falar de uma produção superior a um milhão de garrafas, com qualidade e criatividade na abordagem.
20 anos de evolução
A aventura começou há 20 anos, quase na véspera de Natal de 2003, quando Henrique Uva apresentou a sua proposta, ambiciosa e desafiante, a Pedro Hipólito, à data responsável de produção na Adega de Redondo.
Naquela altura, Henrique Uva já tinha, na sua posse, uma propriedade, a 20 km de Beja, com 1400 hectares, que construiu adquirindo pequenas herdades quase contíguas, onde, para além de 125 ha de vinha, teve olival, amendoal e áreas florestais.
Nos anos 1990, a venda de uva era extremamente rentávelm com os preços a ultrapassar um euro por quilo. Na viragem do século, o mercado mudou e os preços foram reduzidos a menos da metade. Produzir o seu próprio vinho e construir uma marca foi a decisão que Henrique Uva tomou. Para a sua realização, precisava de uma adega com dimensão considerável e de uma pessoa competente para assegurar o projecto. A pessoa certa foi Pedro Hipólito, enólogo com imensa experiência na definição do layout, dimensionamento e gestão de adegas com esta ordem de grandeza. Talvez o maior desafio para Pedro foram os prazos: Henrique queria ter a adega pronta em agosto de 2004. E assim foi. A vindima decorreu na adega nova, perfeitamente funcional e bem dimensionada para as necessidades do projecto.
Quem está na produção de vinhos sabe perfeitamente que os primeiros anos nunca são fáceis. A Herdade da Mingorra tinha vinha e adega, mas a marca e o mercado ainda estavam por desenvolver. A conjuntura do mercado indicava o caminho mais fácil – foco na produção de vinho a granel que, naquela altura, era escasso. Mas Henrique queria afirmar-se e evoluir pela qualidade. A sensatez de não ir atrás da rentabilidade imediata “permitiu criar condições para perceber o que queremos e dar tempo para que as coisas evoluam” – relata Pedro Hipólito e acrescenta: “não podíamos pensar que iriamos vender cerca de um milhão de garrafas rapidamente”. Por isto foi estabelecido um plano: vender 20% de vinho engarrafado, para ir construindo o mercado e o resto a granel para rentabilizar o esforço, aumentando gradualmente a parte do vinho engarrafado com a marca própria até chegar aos 100%. Só conseguiram este objectivo em 2015.
O sucesso da Herdade da Mingorra deve-se às decisões certas tomadas nos momentos cruciais e a uma adaptação constante às condições climáticas e do mercado.
Aposta na uva própria
Uma das convicções de Henrique Uva, logo desde o início, foi trabalhar só com a uva própria. “Nós somos muito agricultores” – explica, e desta forma conseguem ter o controlo total da produção e manter a consistência ao longo dos anos.
O encepamento foi passo a passo adaptado ao projecto. É preciso lembrar que, no início dos anos 90, as vinhas plantavam-se para se vender uvas às adegas cooperativas e não para produzir vinhos de qualidade. Assim, no espaço de 20 anos reestruturaram quase 80% de vinha, um pouco por tentativa e erro, porque queriam criar a sua própria experiência e nem todas as castas corresponderam às expectativas. Gradualmente foram aumentando a presença de castas brancas. Em 2015 plantaram-se mais 45 hectares de vinha. Actualmente contam com 170 hectares, divididos em 87 parcelas, dos quais 40% são castas brancas e 60% tintas.
Através das castas regionais procuram expressar o carácter regional; as castas nacionais são bandeiras importantes dentro e fora do país; as castas internacionais fazem sentido no contexto de evolução de estilos, mas nem todas funcionam na região. Por exemplo, em 10 anos tiveram um Merlot muito bom e por duas vezes um Cabernet Sauvignon, castas que não vale a pena manter. “Hoje já estamos encaixados nas castas e no perfil com que nos identificamos”, dizem Henrique e Pedro, com satisfação.
Para além dos cuidados nas práticas culturais, estão atentos a práticas biotecnológicas inovadoras e implementam-nas na herdade para avaliar os resultados. O uso de leveduras inactivadas na vinha simula o ataque de fungos e estimula o metabolismo secundário das videiras, favorecendo a produção de compostos fenólicos como taninos e antocianas. É uma prática sustentável, que não só aumenta a resistência natural da planta, como melhora a qualidade do tanino e intensifica a cor do vinho. Experimentam também o ensombramento das vinhas mais expostas. Esta prática resulta em 3˚C de diferença de temperatura na copa da planta e em 10 dias de diferença na vindima.
Preferir funcionalidade à beleza
Na adega desenhada por Pedro Hipólito preferiu-se funcionalidade ao design. Os lagares e as cubas pequenas foram projectados para permitir o processamento separado de algumas parcelas, enquanto as cubas maiores foram dimensionadas como múltiplos das menores, possibilitando a junção de parcelas mais homogéneas.
Em 2022 ampliaram a adega e aumentaram a capacidade de recepção, para poder apanhar a uva na altura certa, mesmo que seja em simultâneo. O resultado é o salto qualitativo na gama de entrada. Para os vinhos de gamas mais altas existem barricas de 300 e 700 litros, com tosta escolhida para para não marcar muito o vinho, por um lado e, por outro, para não introduzir duros taninos elágicos. Têm também oito ânforas de cerâmica italianas de 600 litros.
A adega é autossuficiente em energia através dos paineis solares. O investimento recente, para além da ampliação de espaço, abrangeu a construção de um novo armazém de 1000 m2 para engarrafamento e produto acabado e aquisição de uma solução tecnológica extremamente inovadora, Winegrid, que combina sensores inteligentes e software para monitorizar em tempo real o processo de produção de vinhos. Os sensores são colocados dentro dos tanques, lagares ou barricas e recolhem dados essenciais, como densidade do mosto, temperatura, nível de líquido etc., que são enviados para uma plataforma digital, onde podem ser consultados por computador ou smartphone. O enólogo consegue assim acompanhar todo o processo de vinificação e reagir rapidamente quando necessário. A solução permite reduzir desperdícios, poupar na mão de obra e tornar o processo de vinificação mais preciso e eficiente.
Gamas bem definidas
Com a produção extensa, uma boa definição das gamas perceptível pelo consumidor, é indispensável. À gama de entrada é dado o nome Terras d’Uva, pelo feliz trocadilho do apelido e o fruto da videira. Mingorra engloba os Colheita e Reserva, crescendo agora para o Grande Reserva. Todas estas gamas são consistentes e coerentes. A linha “M” é reservada a criatividade e experiências, nela se enquadram os vinhos “fora da caixa”.
A casta duriense Tinto Cão, de maturação tardia e boa preservação de acidez, foi plantada na Herdade da Mingorra em 2009, na vinha da Horta. Não se enquadrou no perfil dos vinhos tintos, foi considerada um erro de casting e estava prestes a ser reenxertada, até ter sido experimentada no papel principal para um rosé ambicioso. E, nesta vertente, a casta conseguiu mostrar o seu potencial. Aguentou o estágio de seis meses em barricas novas de carvalho francês de 700 litros e beneficiou com ele, resultando num rosé sofisticado e encantador.
Outra novidade nesta gama foi um vinho licoroso, feito de Touriga Nacional e Sousão que estagiou em seis cascos de Cognac. Notavelmente menos doce, não tendo muita concentração, funciona bem com esta doçura reduzida o que o torna numa escolha acertada para quem não é muito guloso.
Mais uma novidade absoluta, já na gama principal, é o Mingorra Grande Reserva 2020, feito a partir de uma única parcela, o Talhão 86. Esta área de dois hectares, com solo de xisto e algum calcário, foi plantada em 2017 com sete castas misturadas, escolhidas entre regionais, nacionais e internacionais: Alicante Bouschet, Castelão, Tinta Miúda, Touriga Franca, Syrah, Petit Verdot e Petite Sirah. Tiveram em conta o ponto de maturação das variedades para conseguir a vindima mais homogénea possível.
O famoso talhão 25 e o Vinhas da Ira
Com a aquisição da Herdade dos Pelados, vieram umas parcelas antigas, plantadas em 1978. As vinhas não se encontravam no melhor estado, “agronomicamente era um desastre”. O talhão 14 acabou por ser abandonado, mas o talhão 25 tinha outrora muita fama. É o resultado da selecção massal de uma vinha mãe da Vidigueira. Chamava-se Talhão de Alfrocheiro e, no início, fez muita confusão, porque quando a uva chegava à adega era óbvio que não se tratava só desta casta. Via-se, pelos mostos, que havia lá muita uva tintureira. Quando, em 2004, fizeram um levantamento genético da vinha, foram identificadas 12 variedades misturadas, onde 54% era o Alicante Bouschet, 30% Aragonez e 7% Alfrocheiro, que eram as mais representativas. Também tem Tinta Grossa, Castelão, Moreto e Trincadeira, entre outras. Este talhão de dois hectares origina, desde 2004, o ex-líbris da casa – o Vinhas da Ira. Produzido apenas em anos de excelência, quando a vinha mostra o seu carácter na plenitude, o vinho pode ser considerado um dos clássicos do Alentejo actual.
Vindima-se tudo junto e o Alicante Bouschet serve de referência para a definição da data de colheita. Dá três lagares de três toneladas. Mas às vezes o último lagar não faz parte do lote final, pois alberga uvas vindimadas um pouco mais tarde, que não mostram o nível pretendido da frescura. A meio de fermentação, vai para uma cuba troncocónica e depois de maceração prolongada, estagia 18 meses em barricas novas de 300 litros, de diferentes tanoarias.
Tivemos oportunidade de fazer uma mini vertical esta referência, com excelentes resultados. Aqui deixo as notas de prova – 2009 – Granada com laivos acastanhados; mostra evolução com compotas, notas de carne, um apontamento de ferrugem, certa secura, tanino muito macio e frescura evidente (17,5). 2011 – Concentrado na cor; cereja preta carnuda, esmagada, alcatrão e notas resinosas, louro, tomilho e especiaria; belíssimo na harmonia de conjunto, poderoso, cheio de vida, polido, harmonioso, tanino maduro e redondo, textura de veludo e novamente frescura (18,5); 2014 – Opaco, uma ligeira redução no nariz que se esvanece à medida que o vinho vai abrindo no copo, azeitona preta, café, muita frescura a destacar-se, menos corpo, tanino polido, louro e notas de carne e especiaria no final persistente (18); 2017 – Aroma harmonioso, com fruta pura a lembrar amora e cereja, nuances de eucalipto e mentol; tanino firme, com garra mas sem ferir, concentração sem peso e com frescura, tanino fino e final bem projectado (18,5); 2018 – Especiaria e fruta madura destacam-se no nariz, como a ameixa; elegante e fino, com imensa frescura, guloso e não demasiado encorpado, com muita vida pela frente (18,5). Chegámos a provar também o futuro Vinhas da Ira 2020 que já se mostrava muito bem, rico na fruta preta e vermelha a destacar amora e framboesa, um toque floral e terroso, sedoso na textura e com óptimo polimento. Só será lançado em meados de 2025 e, até, lá continua a repousar em cave. Aqui, ninguém tem pressa.
(Artigo publicado na edição de Janeiro de 2025)
Herdade da Mingorra lança dupla de tintos 2009 em edição limitada

Trata-se do vinho topo de gama do produtor de Beja, Vinhas da Ira, e de um tinto emblemático da casa, Uvas Castas. A Herdade da Mingorra acaba de editar apenas 150 unidades deste duo de vinhos da colheita 2009, que é descrito pelos próprios como “uma oportunidade única para provar a história da Mingorra”. Vinhas […]
Trata-se do vinho topo de gama do produtor de Beja, Vinhas da Ira, e de um tinto emblemático da casa, Uvas Castas. A Herdade da Mingorra acaba de editar apenas 150 unidades deste duo de vinhos da colheita 2009, que é descrito pelos próprios como “uma oportunidade única para provar a história da Mingorra”.
Vinhas da Ira — tinto produzido apenas nos anos que o produtor considera excepcionais — é um “field blend” (mistura de castas na vinha) de um talhão específico situado na Herdade da Mingorra, o Talhão 25. Com cerca de dois hectares, plantada em 1978, é a mais antiga vinha da região de Beja e inclui doze castas diferentes: predominantemente Alicante Bouschet, Aragonez e Alfrocheiro, mas também Tinta Grossa, Castelão, Moreto, Trincadeira, entre outras. A colheita de 2009, agora relançada, foi engarrafada em Maio de 2011.
Já o Uvas Castas é um vinho original, que marca a fase inicial da actividade do produtor. Produzido pela primeira vez em 2005, trata-se de um blend de duas regiões, Douro e Alentejo, e tem a particularidade de não ter nascido de um lote de dois vinhos. Neste caso, foram as uvas durienses, Tinta Barroca e Tinta Roriz, que viajaram até à adega da Mingorra para serem vinificadas em conjunto com as alentejanas Aragonez e Alfrocheiro. O Uvas Castas 2009 estagiou durante um ano e meio em barricas de carvalho francês, e foi engarrafado em Abril de 2011.
O conjuntos das duas garrafas em caixa de madeira, com um P.V.P. de €200, estará disponível para compra a partir de 15 de Outubro, em garrafeiras seleccionadas e online.
As melhores sombras de Beja

Assim à primeira vista, falar de Beja como terra de vinhos pode parecer estranho. Mas no “forno” de Portugal a cultura da vinha não é um capricho de insensatos nem uma missão impossível: há bons e grandes produtores de vinho. Com um foco muito especial no enoturismo. Talvez seja difícil encontrar em Portugal uma concentração […]
Assim à primeira vista, falar de Beja como terra de vinhos pode parecer estranho. Mas no “forno” de Portugal a cultura da vinha não é um capricho de insensatos nem uma missão impossível: há bons e grandes produtores de vinho. Com um foco muito especial no enoturismo. Talvez seja difícil encontrar em Portugal uma concentração de unidades de grande fôlego como a que descobrimos na cintura sul da capital do Baixo Alentejo.
TEXTO Luís Francisco
FOTOS Ricardo Palma Veiga
Imaginemo-nos em Beja. De preferência à sombra, que o Verão está esquisito, mas não falha. Se apontarmos a sul, não precisamos de ir muito longe para encontrarmos pequenos paraísos onde o vinho marca o ritmo dos acontecimentos. Num raio de duas ou três dezenas de quilómetros, são várias as unidades de enoturismo que se afirmam como referência a nível nacional. É como se quem recebe fizesse questão de recompensar quem ali chega, longe das principais rotas turísticas e debaixo de um sol abrasador.
Nesta surtida por terras de estio, visitámos a Herdade da Mingorra, a Casa de Santa Vitória e a Herdade do Monte Novo e Figueirinha. Não terão, talvez, a notoriedade de alguns dos seus vizinhos, como a Herdade da Malhadinha Nova ou a Herdade dos Grous, mas os padrões de excelência impostos por estes enoturismos de elite estabelecem um padrão a que não se pode fugir, para se ser minimamente competitivo…
Ponto prévio à mesa: quando a equipa de reportagem da Grandes Escolhas se dirigiu a Beja, o Verão estava a dar os seus primeiros sinais de vida. Calorzinho já a rondar a barreira dos 30 graus, os primeiros escaldões do ano a darem sentido a uma paisagem que ganha a sua real dimensão quando o termómetro se anima. Nas terras onde se registou a mais alta temperatura de sempre em território português (47,4ºC na Amareleja, em 2003), o calor não é propriamente notícia, mas este ano de 2018 está a dar cabo de muitas ideias feitas…
Enfrentemos então o que o Verão tem para nos atirar contando com três bons aliados: as sombras que a Natureza e os humanos souberam criar, os planos de água onde podemos reequilibrar o termostato e os bons vinhos da região, pretexto ideal para fazer uma pausa e respirar o silêncio de uma terra imensa. A primeira paragem é na Herdade da Mingorra, onde tudo está preparado para alargar o leque de ofertas turísticas.]Um pequeno desvio do IC2 leva-nos até à Herdade da Mingorra, onde os 170 hectares de vinha acabam por nem ser a marca mais forte de uma paisagem onde encontramos oliveiras, sobreiros e – agora – também amendoeiras. Estamos a entrar numa propriedade com 1.400 hectares, na qual, além da agricultura, também a actividade cinegética (essencialmente, caça à perdiz, mas também javalis) sustenta a aposta turística. Aliás, surpresa, quando esperamos visitar uma unidade com visitas e provas de vinho, eis que encontramos um projecto já com alojamento em fase de afirmação!
A adega, situada num pequeno cabeço, a escassa distância do núcleo habitacional, funciona como pólo central da actividade agrícola e turística, concentrando os escritórios, o laboratório e todas as restantes unidades de apoio num edifício moderno e pensado para receber visitantes. Prova disso mesmo é a galeria metálica que permite dar a volta à adega lá pelo alto, enquanto ficamos a conhecer os processos de vinificação e a história dos vinhos da casa.
O aumento da produção, das actuais 900 mil garrafas/ano para umas expectáveis 1,3 milhões, impõe um alargamento do edifício e, com essa intervenção, ficam prometidas novidades também neste circuito turístico, nomeadamente o alargamento e enriquecimento do espaço da loja, que é também recepção. Já passámos pela cave de barricas e espreitámos a varanda panorâmica onde os visitantes se podem sentar para saborear um copo de vinho. A paragem seguinte fica a escassos 100 ou 200 metros de distância, mas há muito para falar durante o percurso.
Acontece que a Herdade da Mingorra há muito recebe grupos de caça e criou condições para que os visitantes pudessem pernoitar. Agora, a aposta é divulgar esta oferta e alargar o leque de visitantes que podem desfrutar desta funcionalidade. Ao todo, são quatro quartos independentes e mais dois (no espaço comum da casa de família) para quem cumpra o exclusivo programa Wine Experience. Para além dos quartos, mobilados em estilo rústico e com camas em ferro, os turistas têm ao seu dispor vários espaços comuns.
Sim, há uma sala de estar, uma cozinha e até um ginásio (!), mas o que se destaca é mesmo o belo pátio interior, enquadrado por um telheiro onde se fazem as refeições, cadeiras, mesas (cada uma com o seu guarda-sol) e um tanque de água tratada onde cabem todas as tentações de frescura. É por aqui que ficamos, de volta da mesa, dos petiscos e do vinho. As horas passam ao ritmo da conversa. Talvez soe a desculpa, mas está muito calor lá fora…
HERDADE DA MINGORRA
Herdade da Mingorra, 7800-761, Trindade, Beja
Tel: 284 952 004
Fax: 284 952 005
Mail: geral@mingorra.com
Web: www.mingorra.com
Solicita-se marcação com uma semana de antecedência para as visitas à adega com prova de vinhos, cujos preços variam entre os 17 euros por pessoa (três vinhos), os 24 euros (cinco vinhos + queijo) e os 30 euros (sete vinhos + aperitivos). A prova de seis vinhos com almoço, por 60 euros, exige um mínimo de seis participantes. O programa Wine Experience, que possibilita o contacto directo com os proprietários, tem um custo de 160 euros por pessoa (mínimo: seis participantes) e os alojamentos custam 90 (quarto single) ou 95 euros (duplo). O aluguer conjunto dos quatro quartos sai por 350 euros.
Originalidade (máx. 2): 1,5
Atendimento (máx. 2): 2
Disponibilidade (máx. 2): 1,5
Prova de vinhos (máx. 3): 3
Venda directa (máx. 3): 2,5
Arquitectura (máx. 3): 2,5
Ligação à cultura (máx. 3): 2,5
Ambiente/Paisagem (máx. 2): 2
AVALIAÇÃO GLOBAL: 17,5
E, no entanto, é preciso seguir caminho. Não muito longo, mas rumo a uma realidade bastante diferente. Não na exuberância dos números, que agora sobem para um total de 1.620 hectares de propriedade e um milhão de garrafas/ano, mas sim na filosofia do projecto. Da exploração familiar para a unidade mais distintiva de um grande grupo hoteleiro, as diferenças são muitas, mas na Casa Santa Vitória, apesar do “peso” dos 81 quartos da unidade (Vila Galé Clube de Campo) com ela geminada, a actividade agrícola também é nuclear.
Com mais de 16.000 visitantes anuais, este é dos enoturismos alentejanos com maior movimento e se é verdade que a “colagem” a um hotel pode inflacionar os números, a verdade é que a adega e a propriedade têm todos os argumentos necessários para receber bem quem as visita. Esta é uma peça única no universo Vila Galé, grupo com três dezenas de unidades hoteleiras em Portugal e no estrangeiro, mas em breve terá companhia, quando a Quinta da Amendoeira, no Douro, for apresentada. Até lá, os vinhos do grupo são todos originários daqui – e uma parte significativa, mais de 30%, da produção, acaba por ser consumida internamente.
A adega, situada a menos de 50 metros do hotel, é espaçosa e desenhada a pensar nos visitantes (todos os corredores da área visitável são verdadeiras galerias), que podem começar a visita assistindo a um vídeo sobre o vinho – a sala onde é projectado tem janelas panorâmicas sobre a adega. E também se fazem aqui provas de azeite (há 150 hectares de olival e azeites da casa para descobrir). Depois de conhecer a adega e as caves (onde dezenas e dezenas de barricas abrigam a lenta alquimia do envelhecimento dos vinhos), saímos para um átrio mobilado com peças antigas e dirigimo-nos à loja para a prova de vinhos e petiscos.
Do outro lado do parque de estacionamento, há restaurantes, bares, quartos acolhedores, piscina, relvados, fontes, esplanadas, uma quinta pedagógica, courts de ténis, quartos ecológicos em tendas índias, picadeiro. À volta, terras agrícolas, com pomares, vinha e olival. Uma capela espreitando do outro lado do espelho de água da barragem do Roxo, onde se podem fazer passeios de caiaque. Do alto dos seus ninhos, as cegonhas presidem solenemente a esta paisagem que conjuga o melhor de dois mundos: o Alentejo rústico e o cosmopolitismo de um moderno hotel de família.[
CASA SANTA VITÓRIA
Vila Galé Clube de Campo
Herdade da Figueirinha – Santa Vitória, 7800-730 Beja
Tel: 284 970 100 / 284 970 170 (adega)
Fax: 284 970 150 / 284 970 175 (adega)
Mail: campo@vilagale.com / campo.reservas@vilagale.com
Web: www.santavitoria.pt
GPS: N37º 53º ’20’ – W8º 01′ 14′
As provas de vinho custam quatro euros por pessoa (3 vinhos Versátil), 6€ (três vinhos Santa Vitória), 11€ (quatro vinhos Santa Vitória) e 23€ (quatro varietais Santa Vitória). Regularmente, há jantares vínicos (40€), os piqueniques custam 20 ou 35€ e o programa de actividades no hotel é vastíssimo, incluindo passeios de balão, jipe, moto4 ou bicicleta, tiro aos pratos, cavalos, ténis e badmington, canoagem e gaivotas, paintball…
Originalidade (máx. 2): 2
Atendimento (máx. 2): 2
Disponibilidade (máx. 2): 2
Prova de vinhos (máx. 3): 3
Venda directa (máx. 3): 2,5
Arquitectura (máx. 3): 2,5
Ligação à cultura (máx. 3): 2
Ambiente/Paisagem (máx. 2): 2
AVALIAÇÃO GLOBAL: 18
E, por falar nisso, na ligação entre tradição e modernidade, eis chegada a altura de deixar um alerta à Câmara Municipal de Lisboa, proprietária, e à Casa Santos Lima, entidade exploradora: o título de “vinha do aeroporto”, aplicado à exploração situada junto à rotunda do Relógio, na capital, pode muito bem ser contestado pela Herdade do Monte Novo e Figueirinha, cujas vinhas se estendem na planura contígua ao novo (e polémico) Aeroporto Internacional de Beja. Na verdade, entre a saída da aerogare e a entrada da adega, mediam umas meras centenas de metros de estrada…
O volume de produção é aqui semelhante aos dois destinos visitados anteriormente: a Herdade do Monte Novo e Figueirinha (com perto de 80 hectares de vinha, aqui e na zona da Vidigueira), produz um milhão de garrafas por ano. E também se afirma em outros produtos, como o azeite (200ha de olival) ou as amêndoas (30ha). Tudo fica bem visível quando subimos ao alto da torre metálica que integra o complexo do lagar, uma “aventura” não recomendável a quem sofra de vertigens, mas que proporciona uma vista fantástica sobre a herdade.
Não é por causa do aeroporto, cujo reduzido movimento (para sermos simpáticos) não potencia a localização privilegiada da propriedade, mas a ligação especial à Alemanha (entre 1967 e 1987, a Base Aérea nº11 foi ocupada em exclusivo pela Luftwaffe, que a usava para instrução) criou aqui raízes e os alemães são o principal (e esmagador) contingente de visitantes – cerca de 15.000 por ano. À sua espera encontram uma adega com muitas histórias para contar e uma característica muito especial: uma nascente no interior, que ajuda a refrescar as instalações.
Depois de passarmos pela loja e recepção, visitamos a zona de produção do azeite (outra semelhança com os dois projectos visitados neste roteiro é a valorização crescente da vertente turística desta cultura) e entramos depois na adega. Deparamos de imediato com cinco talhas (a mais antiga data de 1843), que em breve servirão para ensaiar o primeiro vinho de talha do produtor. A sala de barricas (há mais de 400 unidades), um salão com varanda capaz de albergar uma centena de pessoas e a sala de provas com janelas panorâmicas para a zona de vinificação são os espaços mais marcantes do complexo.
Provamos alguns vinhos dos depósitos e depois regressamos ao calorzinho de Junho e à luz forte que reinam cá fora. A atmosfera é informal e familiar – bem adequada a um projecto criado por avô e neto, em 1998. Há gente a trabalhar um pouco por todo o lado, os passarinhos cantam e um Airbus está estacionado na placa do aeroporto. Até pode parecer estranho, mas tudo se encaixa.[
HERDADE DO MONTE NOVO E FIGUEIRINHA
Herdade do Monte Novo e Figueirinha, 7800-740, São Brissos, Beja
Tel: 284 311 260
Fax: 284 311 269
Mail: adega@figueirinha.pt
Web: www.figueirinha.pt
GPS: N38º03.032 – W7º55.615
A herdade está aberta a visitas de segunda a sexta-feira entre as 9 e as 13h e das 14 às 18h; ao fim-de-semana, recomenda-se marcação. As visitas ao lagar e adega, com possibilidade de provas de vinhos do depósito, são livres. Caso os clientes queiram provar vinhos específicos, ou acompanhar com petiscos, será acordado um preço.
Originalidade (máx. 2): 1,5
Atendimento (máx. 2): 2
Disponibilidade (máx. 2): 2
Prova de vinhos (máx. 3): 2,5
Venda directa (máx. 3): 3
Arquitectura (máx. 3): 2
Ligação à cultura (máx. 3): 2
Ambiente/Paisagem (máx. 2): 2
AVALIAÇÃO GLOBAL: 17
ESTAÇÃO DE SERVIÇO
Com um roteiro muito curto em termos de quilometragem, concentrando-se na região sul de Beja, e uma cidade com tanto para conhecer, o mais lógico é concentrar os “reabastecimentos” sólidos e líquidos na capital de distrito. Ficam duas sugestões, uma mais típica e tradicional (A Pipa, no centro), a outra moderna e funcional (Espelho d’Água, no parque da cidade). Em comum, a atenção muito especial dedicada aos vinhos da região.
TABERNA A PIPA – Rua da Moeda, 8, Beja; 284 327 043 / 968 115 032
ESPELHO D’ÁGUA – Rua de Lisboa, Restaurante do Parque da Cidade, Beja; 284 325 103 / 966 427 113 / 917 553 487; espelho_dagua@sapo.pt
Edição nº15, Julho 2018