Brancos que falam com o tempo

Brancos falam tempo

Nos anos mais recentes o gosto pelo vinho branco tem sofrido algumas mutações. Hoje há muito mais consumidores interessados em provar coisas diferentes que possam ir além dos aromas e sabores frutados e sem segredos. Recuperou-se assim, agora com mais saber, uma prática que vinha de longe. São os vinhos brancos com longo estágio ou […]

Nos anos mais recentes o gosto pelo vinho branco tem sofrido algumas mutações. Hoje há muito mais consumidores interessados em provar coisas diferentes que possam ir além dos aromas e sabores frutados e sem segredos. Recuperou-se assim, agora com mais saber, uma prática que vinha de longe. São os vinhos brancos com longo estágio ou de lote de várias colheitas.

 

Texto: João Paulo Martins

Fotos: Ricardo Palma Veiga e Adega Mãe         

A ideia para este trabalho nasceu de uma constatação: há cada vez mais produtores a lançarem no mercado, num segmento de gama alta, vinhos brancos que aqui há alguns anos não encontrariam apreciadores. São vinhos que reúnem uma de várias características: têm já muitos anos de garrafa mas só agora foram colocados à disposição do público; são de uma só colheita mas o estágio foi sobretudo feito em barrica durante vários anos e só então engarrafados; correspondem a um lote de vinhos de várias colheitas, em proporções diversas. Têm em comum o facto de serem vinhos fora de moda mas, ao invés de vinhos oxidados e mortos (que tantas vezes encontramos nas provas dos vinhos velhos), aqui temos brancos que, em virtude do muito acompanhados que foram, se mostram em muito boa forma, com invulgar complexidade e personalidade.

Recuar no tempo

A tradição portuguesa do consumo de vinhos brancos nunca os colocou no mesmo patamar dos tintos; sempre se quedaram num nível de menor apreço. Também por esta razão os vinhos brancos foram sempre parentes pobres a que poucos davam atenção. Os vinhos muitas das vezes não evoluíam bem, oxidavam num instante e perdiam interesse e procura por parte dos consumidores. Havia excepções em várias regiões, mas era sobretudo no Dão e na Bairrada que os brancos mais perduravam no tempo. Empresas da Bairrada que negociavam com vinhos do Dão – como é o caso das Caves S. João – tinham no seu portefólio brancos que resistiam muito bem e se mostravam com muita saúde durante muito anos. Também a Vinícola do Vale do Dão, propriedade da Sogrape, engarrafava vinhos brancos que adquiria em adegas cooperativas locais. A marca emblemática era Dão Pipas e são brancos que mostram que a região tinha muitas virtudes e capacidades para gerar vinho longevos. Esse Dão Pipas, marca que se manteve até aos anos 90, serviu um pouco de inspiração para um branco criado na Quinta dos Carvalhais e que, pode dizer-se, foi no Dão o vinho fundador destas novas tendências. Criado pelo enólogo Manuel Vieira, o Colheita Seleccionada ganhou foros de “estrela” pelo apreço que o importador belga mostrou em relação a este branco, tendo sido exportado e esgotado com grande sucesso. As barricas onde fermentava o Encruzado eram depois de novo atestadas para não ficarem em vazio e assim, lembra Manuel Vieira, “íamos juntando 30 a 40 barricas por ano; a certa altura já havia barricas a mais e resolvi fazer um lote e dei a provar à administração. A reacção foi tão entusiástica que logo se decidiu avançar com a produção periódica”. Na reorganização do portefólio dos Carvalhais houve necessidade de criar um branco Reserva – mais fresco e com mais madeira nova – e assim o Colheita Seleccionada deixou de se produzir. Como ainda assim havia muitas barricas nasceu a ideia do Branco Especial, neste caso, lote de várias colheitas.

Também na Quinta da Gaivosa se iniciou na colheita de 2001 produção de um vinho branco com as uvas recolhidas nas vinhas velhas de onde era costume fazer vinho do Porto branco e onde existia maioritariamente a Malvasia Fina. Inicialmente com o apoio enológico de Anselmo Mendes, era um vinho com uma confecção bem diferente dos outros brancos: dois dias de maceração pelicular, fermentação em bica aberta com híper-oxigenação em meias barricas, parcialmente novas. O resultado era um branco inicialmente castanho, quase com cor de café, como nos disse Tiago Alves de Sousa, mas com o tempo de estágio na barrica muitos polifenóis depositam-se e o vinho perde a cor acastanhada. De início o vinho mostrou-se muito austero (mais alcoólico do que nas versões mais recentes) mas exactamente por já ter a questão da oxidação resolvida, são vinhos que ainda hoje dão boa prova. Mas Tiago não tem dúvida que as actuais edições, com menos álcool e mais frescura, irão ainda mais longe, seguramente para lá dos 20 anos após o lançamento. À época foi uma novidade no Douro e depois do 2001 foram feitas edições anualmente até 2006. A partir daí teve edições mais espaçadas: 2008 (ano a partir do qual se vindimou mais cedo e a graduação baixou), 11, 12 e agora, a mais recente, 2015.

Nem sempre vinhos deste perfil que hoje falamos, resultam de uma ideia prévia ou um projecto arquitectado para atingir este fim; não raramente, o acaso tem aqui um papel importante, a lembrar-nos que nem sempre controlamos ou entendemos tudo o que se passa durante a evolução de um vinho. Celso Pereira, enólogo no Douro, conta-nos que o Quanta Terra branco 2012 nasceu torto mas acabou por se revelar uma grande e positiva surpresa. Naquele ano duas barricas de branco foram consideradas não aptas para entrarem no Grande Reserva e só passados alguns anos é que se percebeu que o vinho tinha evoluído muito bem e foi então comercializado. Só a partir de 2015 (que irá ser a próxima colheita comercializada mas pela qual ainda teremos de esperar uns anos) é que se começou a deixar intencionalmente vinho em estágio. O que aconteceu com Celso Pereira acontece com frequência nas adegas quando é preciso seleccionar barricas para um determinado lote. O que fazer ao que fica é a pergunta difícil de responder, mas os brancos actuais estão a sugerir vários caminhos.

Brancos falam tempo
O longo estágio em barrica faz parte da identidade do Quinta de Carvalhais Branco Especial.

Requisitos e exigências

Quando há a intenção de fazer um branco de longa guarda em barrica há que estar a tento às características as uvas. A acidez elevada é um requisito que ajuda muito: castas com acidez moderada ou baixa não podem ser usadas porque originam vinhos que não evoluem bem. Mas só a acidez não basta, é preciso, salienta Manuel Vieira, que os vinhos tenham gordura, volume de boca. Temos então de ter, como primeiro requisito, vinhos estruturados, de boa acidez. Para os vinhos que estagiem na madeira coloca-se sempre a questão da oxidação e por isso o atesto das barricas é fundamental. Há uma ligeira oxidação, controlada, mas essa oxidação é fundamental para que os vinhos resistam depois ao tempo; “os vinhos no futuro ficam inoxidáveis, já oxidaram tudo o que tinham de oxidar”, lembra Manuel Vieira. As meias barricas têm uma capacidade oxidativa maior e são mais manuseáveis e, por isso, funcionam muito bem para estes vinhos, algo que Tiago Alves de Sousa também subscreve. Se estivermos a falar de estágios em barricas já usadas os atestos podem ser mensais porque a barrica usada “bebe” muito menos que a barrica nova. E, para evitar uso excessivo de sulfuroso, é mesmo melhor ter as barricas atestadas.

No caso dos vinhos que juntam colheitas de anos diferentes, a arte do lote ganha toda a importância. É preciso fazer vários ensaios e, como lembra Manuel Vieira, “fazer o teste à mesa; levávamos o vinho para o restaurante e provávamos com a comida; se não funcionava fazíamos novo lote e foi assim que, passo a passo, chegámos ao lote final”. Neste tipo de vinhos pode ter mais peso o gosto pessoal do produtor ou do enólogo. Porquê? Porque é preciso dosear as percentagens de cada ano e, sobretudo, decidir que quantidade de vinho mais novo deverá levar o lote final. Assim, se levar uma percentagem significativa do vinho mais novo poderá não apresentar aquele carácter resinoso e oxidativo que associamos com estes vinhos; ao invés, com pouca percentagem de vinho novo o lote ganha um perfil mais austero e evoluído. São assim possíveis várias nuances. No caso do Branco Especial de Carvalhais, a actual edição no mercado (5000 garrafas), que já é da responsabilidade da enóloga Beatriz Cabral de Almeida, inclui 13 lotes de oito colheitas diferentes, começando em 2004 e acabando em 2018. O trabalho é ainda mais minucioso porque a adega dispõe de cerca de 100 barricas até à colheita de 2015. Além do Encruzado também por lá existe Sémillon e Gouveio. Agora procura-se fazer o Branco Especial com menos graduação, vindimando mais cedo e decidindo à partida o que vai ou não vai para estágio prolongado.

Brancos falam tempo
O Alves de Sousa Pessoal nasceu em 2001.

De Norte a Sul

Este tipo de vinho não é específico de uma região. Pelos exemplares que aqui mostramos até pode parecer que é um privilégio do Douro e Dão, mas de facto o número de amostras é maior nessas regiões do que noutras porque por ali houve mais produtores que se abalançaram nesta aventura. Vendo bem, até foi em Setúbal, com a marca Pasmados, que tudo começou e, como nos disse Domingos Soares Franco, da casa José Maria da Fonseca, “durante muitos anos sempre me criticaram por insistir neste modelo, mas agora dão-me razão, agora há mercado e consumidores para isto. Fermentou metade do mosto – Viosinho, Viognier e Arinto – em barrica e o resto em inox”. Também em Monção e Melgaço estão reunidas as condições para este modelo. Na Quinta do Regueiro juntaram-se vinhos de 2007 até 2010 para este primeiro lote e a próxima edição sairá este ano. A pequena quantidade produzida – 1900 garrafas – não chegou para os pedidos. Na região de Lisboa, a Adega Mãe lançou um branco de idade com Viosinho, Alvarinho e Arinto, castas que Diogo Lopes verificou que mantinham a acidez durante mais tempo, factor tido por fundamental. No Dão, é a casta Encruzado aquela que melhor se adapta a este conceito e os três produtores que aqui apresento foi nela que apostaram. Mas o vinho dos Caminhos Cruzados é o resultado de uma só colheita, neste caso de barricas que não entraram no Teixuga, a marca emblemática da casa. No Douro apresento aqui três vinhos de uma só colheita e outros três de lote de várias colheitas. Pisa a pé das uvas brancas, longas macerações peliculares, oxigenação intensa são algumas das técnicas usadas. Os resultados mostram-se muito bons e, sabemos entretanto, vários outros produtores estão a trabalhar neste modelo. É a vitória dos vinhos brancos!

Brancos falam tempo
Adega Mãe

E à mesa, como é?

Estes vinhos, digamos, difíceis, são muito desafiantes à mesa porque podem ligar muito bem com pratos inesperados, com culinárias diferentes. E o desafio estende-se a vários produtos – peixes, carnes, queijos – e a formas diferentes de confecção. Assim sendo, não adianta muito ter opiniões definitivas sobre os sins e os nãos na ligação com a comida. Por experiência própria já liguei, com um tremendo e inesperado sucesso, o Branco Especial de Carvalhais com uma sopa de peixe picante (tem mesmo a referência caseira de “estupidamente picante…”) mas Tiago Alves de Sousa leva o seu Alves de Sousa Pessoal para zonas menos óbvias como polvo à lagareiro, embora reconheça que “com foie-gras é a ligação preferida”, mas também sugeriu risotto de cogumelos. A ideia é ligar o vinho com pratos de sabores intensos para que assim exista um bom equilíbrio. Cremos que mesmo com cabrito assado ou peixes no forno estes vinhos podem tornar-se um enorme sucesso.

E, regressando às origens, ao tal Colheita Seleccionada da Quinta dos Carvalhais, lembro-me de um jantar num restaurante 3 estrelas Michelin – Oud Sluis – de Sergio Herman, algures na fronteira Holanda/Bélgica em que o vinho do Dão fazia parte do menu degustação e, não por acaso, dizia o importador que desde Janeiro (estávamos em Março) já tinha vendido 200 garrafas daquele vinho.

Estes vinhos têm uma relação inesperada com a música. Aqui os acordes não são Sol e Dó, aquela ligação simples que toda a gente entoa e que é fácil de entrar no ouvido; aqui temos acordes mais ásperos, com quintas diminutas e sétimas aumentadas. Tudo parece estranho até encontrarmos a fórmula de soarem bem. E, quem não gosta de desafios???

(Artigo publicado na edição de Fevereiro de 2021)

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GRANDE PROVA – Late Bottled Vintage

Late Bottled Vintage

Porto de excelência, gastos comedidos  Este é o Porto do nosso contentamento. E tem tudo para nos dar bons momentos: tem complexidade, é polivalente à mesa, tem uma excelente relação preço/prazer e ainda permite a conservação em cave para usufruto futuro. É caso para perguntar: o que querem mais?  Texto: João Paulo Martins Fotos: Ricardo […]

Porto de excelência, gastos comedidos

 Este é o Porto do nosso contentamento. E tem tudo para nos dar bons momentos: tem complexidade, é polivalente à mesa, tem uma excelente relação preço/prazer e ainda permite a conservação em cave para usufruto futuro. É caso para perguntar: o que querem mais?

 Texto: João Paulo Martins

Fotos: Ricardo Palma Veiga

 Esta é sempre uma prova que tem tanto de fácil e agradável como de difícil; fácil porque os vinhos têm uma qualidade muito elevada (como se pode ver pelas classificações), agradável porque estes são vinhos do Porto muito sedutores e atraentes, e difícil porque maioritariamente são vinhos muito parecidos entre si. Esta é também um tipo de prova em que, outro provador, outro nariz e com outra ideia sobre o que é e não é um LBV, originaria porventura algumas avaliações diferentes.

Valerá a pena explicar melhor. A dúvida, se se pode pôr a questão nestes termos, é entre dois perfis de LBV: um que tem muitos pontos de contacto com o “estilo vintage”, profundo, vigoroso e concentrado, e outro onde se sente um Porto mais redondo e amaciado pela madeira, menos complexo e mais pronto para ser bebido de imediato. Qualquer produtor pode fazer dos dois tipos, consoante o perfil da marca, e fazer um ou outro depende muito da matéria-prima e da forma como conservou o vinho durante o estágio. Se a guarda for em grandes cubas ou balseiros há uma menor oxidação e maior preservação da fruta e do vigor; estágios em pipas ou em depósitos de menores dimensões facilitam alguma oxidação e arredondamento do perfil.

A lei que regulamenta as categorias especiais do Vinho do Porto (datada de 1973) é clara: para ter direito à designação de LBV o vinho, de qualidade reconhecida, tem de ser engarrafado entre o 4º e o 6º ano após a vindima. Temos então um vinho que esteve mais tempo em casco do que o vintage – este tem de ser engarrafado entre o 2º e 3º ano – mas que tem com ele muitas similitudes: a concentração da cor, a tonalidade bem escura, quando não opaca, e o mesmo vigor aromático. Cabe então ao produtor “desenhar” o perfil de LBV de acordo com o estilo que se pretende. A verdade é que, cada vez com mais frequência, os produtores estão a fazer os engarrafamentos ao 4º ano, obtendo assim vinhos de grande expressão de fruta e muito robustos que é, dizem os enólogos com quem falámos, o que se pretende neste tipo de vinho.

Enquanto no Porto Vintage os vinhos não são intencionalmente filtrados antes do engarrafamento, nos LBV podem ser ou não, dependendo do estilo de cada marca e de cada casa. Os LBV filtrados – um dos exemplos, nesta prova, é o Graham’s  – são vinhos que já não irão ganhar depósito na garrafa, têm rolha bar-top (com tampa de plástico) e não requerem cuidados no manuseamento. São por excelência os vinhos do Porto do canal HORECA mas que também estão disponíveis no comércio tradicional. Alguns dos outros que não são filtrados trazem essa indicação no rótulo – Unfiltered – sugerindo assim que podem ganhar depósito com o tempo em garrafa. Estes, por norma, são os que melhor enfrentarão a cave. Falo aqui da cave porque estes vinhos ganham com o tempo de guarda.

Há alguns anos promovemos uma prova que procurava exemplificar o que agora afirmo e a conclusão foi bem interessante: só provámos vinhos LBV com idade entre os 10 e 15 anos e mostraram estar ainda com grande saúde. São boas indicações para os leitores.

Temos então perfis de vinhos para todos os gostos. Esta é uma categoria a ganhar cada vez mais adeptos, sobretudo nos mercados externos, para onde é canalizada a grande fatia da produção dos grandes grupos do sector. Repare-se: o grupo que integra a Taylor/Fonseca/Croft tem nos LBV um dos seus principais activos, representando cerca de 20% da facturação; produzem 1 600 000 garrafas/ano, com a Taylor’s a ter aqui uma quota importante; é de resto a marca de LBV mais vendida no mundo. A exportação absorve 95% da produção. Nos outros grandes grupos notamos também que a exportação é o destino da esmagadora maioria dos LBV’s que se produzem. O quantitativo do grupo Taylor é bem significativo porque quer a Sogevinus quer a Sogrape se situam no patamar das 200 000 garrafas/ano nas várias marcas que detêm e o grupo Symington anda pelo milhão de garrafas de LBV.

Os dados do IVDP confirmam que tem havido um crescimento do quantitativo de vinho certificado nesta categoria; é verdade que 2020 foi um ano atípico mas de 2017 a 2019 o crescimento teve algum significado e a quota do mercado interno também tem subido com consistência, situando-se nos 14% dos vinhos do Porto comercializados.

Late Bottled VintageUma história com estórias

A ideia de fazer um vinho que tivesse um estilo próximo do Vintage terá surgido no pós-guerra, quando era difícil vender vinho, o poder de compra era fraco, as exportações diminutas e o clima económico muito retraído. A aposta foi então criar um vinho que pudesse ter edição anual (ou quase) e que fosse mais competitivo em termos de preço. Ora, quando a legislação saiu, como dissemos em 1973, foi possível, dada a conta corrente que o IVDP dispunha de todos os stocks das firmas, autorizar na categoria LBV vinhos que por uma qualquer razão estivessem engarrafados e que cumprissem o requisito do “entre o 4º e o 6º ano”. É por essa razão que a Ramos Pinto tem um LBV dos anos 20, quando na altura a categoria nem sequer existia e a Burmester tem também um LBV de 1964. Aos poucos todas as casas foram percebendo que este era um negócio interessante porque não obrigava a tanto tempo de stock como os tawnies com indicação de idade e por isso havia um retorno mais célere do investimento. Hoje quase todos os produtores, grandes e pequenos, apostam nesta categoria embora, como é normal, as excepções também existam, como é o caso da marca Pintas, que não contempla a categoria LBV.

Em relação ao LBV 1964 da Burmester há uma pequena história curiosa: num curso de iniciação à prova de vinho do Porto, fiz questão de levar este LBV para as provas, um pouco para demonstrar que este não era o tipo de vinho mais aconselhável se queríamos conservar em cave por muitos anos. A minha ideia saiu furada porque, apesar de apresentar uma concentração muito ligeira e na cor ser apenas um “rosé um pouco mais carregado”, o que é certo é que, aromaticamente, estava tão bom que foi o Porto que os alunos mais apreciaram. Temos então como ideia a reter: a guarda é possível e em muitos casos desejável. Tudo com pouco investimento inicial, o que é factor a ter em linha de conta.

Neste momento existem já muitos vinhos da colheita de 2016 (os tais 4 anos a que a lei obriga) mas em prova tivemos igualmente muitos de 2015 (pode especular-se que por diminuição de vendas em 2020 e por isso os 2016 ainda não estão no mercado) e também de 2013. Segundo fonte do IVDP, destas três colheitas e até Dezembro de 2020 estão aprovados 79 rótulos para LBV. Seguramente que no final das contas este número subirá, e muito.

Late Bottled VintageOs destinos e a falta deles

Na resposta a esta pergunta temos um primeiro destinatário óbvio: o Reino Unido e, crescentemente, os Estados Unidos. Os portugueses ficam com uma quota de 14% do que se produz mas canadianos e dinamarqueses são também bons consumidores; são mercados seguros que não têm as mesmas oscilações que os mercados emergentes podem ter, como a Rússia, a China e em geral o Extremo Oriente. Os ingleses sempre tiveram uma atitude cerimoniosa com o Porto Vintage e o LBV procura dessacralizar o consumo e torná-lo mais despreocupado e possível em qualquer momento e não apenas a acompanhar o queijo Stilton.

Por cá não fazemos bem o trabalho que nos competia. A restauração não inclui por norma o Porto nos menus degustação e, mesmo que fosse um “mimo do Chefe”, tudo se teria a ganhar em oferecer um Porto no final da refeição mesmo que não tenha sido pedido e não seja incluído na conta. É uma forma barata de segurar a clientela e fazê-la voltar. Mas as empresas também pouco fazem pelo vinho e as promoções incidem sobre tawnies correntes que podem vender muito mas não acrescentam valor e não são atractivos para camadas mais jovens. Na própria região do Douro é lamentável o que se serve de Porto na restauração e como se serve. As poucas excepções não ajudam a melhorar o panorama geral que é muito desolador. Sabendo-se que um LBV se manterá de boa saúde cerca de um mês após a abertura, não há desculpas para não ser mais usado como complemento da refeição.

Que farei eu com este vinho?

É perante a prova que podemos decidir o que fazer com o vinho. Alguns dos mais vigorosos – como os que classifiquei com notas mais elevadas – podem ter uma dupla forma de consumo. A mais evidente é com o queijo seco no final da refeição. A tradição sugere o Stilton, queijo azul de leite de vaca, e os britânicos do sector do Vinho do Porto também seguem o mesmo padrão, a ver pela sobremesa que habitualmente se serve na Feitoria Inglesa, no Porto. É uma ligação feliz mas que pode ser usada em relação a outros queijos, sempre no registo de queijo seco. E se se quiser manter o queijo inglês, um bom Cheddar (não confundir com as versões baratas de supermercado de bairro) pode também ser perfeito companheiro, tal como será um queijo holandês Gouda Velho de 1000 dias de cura (Corte Inglés, Lisboa) e, claro, os nossos bons queijos secos, desde o Terrincho ao Serra muito curado. Uma proposta mais ousada – já tentada e comprovada – é a ligação destes LBV jovens e taninosos com um steak au poivre; a ligação espúria entre carne e um vinho doce pode ser ultrapassada porque a enorme quantidade de pimenta que o bife leva não facilita a ligação com qualquer outro tipo de vinho.

Num registo de sobremesas doces, a ligação pode ser feita com tartes de frutos vermelhos ou negros, gelados que sejam acompanhados de compotas de ameixas, mirtilos ou outros. E, claro, chocolate. Em qualquer caso o LBV, com a polivalência que apresenta, é sempre uma grande aposta a um preço muito interessante.

(Artigo publicado na edição de Janeiro 2021)

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Guia Monção & Melgaço de João Paulo Martins já nas prateleiras

guia monção Melgaço

Editado pela Oficina do Livro, o Guia Monção & Melgaço — de João Paulo Martins, prestigiado jornalista e crítico de vinhos há 32 anos, colaborador na Grandes Escolhas e no Expresso — está já à venda em várias livrarias do país e nos Solares do Alvarinho de Monção e de Melgaço, com um p.v.p. recomendado […]

Editado pela Oficina do Livro, o Guia Monção & Melgaço — de João Paulo Martins, prestigiado jornalista e crítico de vinhos há 32 anos, colaborador na Grandes Escolhas e no Expresso — está já à venda em várias livrarias do país e nos Solares do Alvarinho de Monção e de Melgaço, com um p.v.p. recomendado de €9,90.

“Monção e Melgaço já mereciam uma obra assim. A originalidade dos vinhos e a fama secular desta sub-região dos Vinhos Verdes justificam plenamente esta edição. Não se trata apenas de um guia de vinhos com notas de prova. Este livro comporta um capítulo sobre a história da região e dos seus vinhos, um capítulo de vinhos velhos e, como é habitual neste tipo de guias, uma selecção dos Melhores do Ano. Além dos vinhos brancos, que actualmente são os mais representativos da região, inclui rosés, espumantes e aguardentes vínicas”, explica João Paulo Martins.

Facilmente manuseável, e com um índice remissivo que torna a navegação pelas páginas mais eficaz, este guia é uma obra indispensável para todos os apreciadores dos vinhos de Monção e Melgaço, e para quem quer aprender mais sobre esta sub-região dos Vinhos Verdes.

Mesa posta. Venham os espumantes!

Espumantes mesa

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(Artigo publicado na Edição de Novembro de 2020)

Texto: João Paulo Martins

Os espumantes têm uma história antiga em Portugal. Aqui como noutros pontos do globo foi a região de Champagne que serviu de inspiração e a fama que a bebida das bolhas vinha adquirindo desde o séc. XVIII acabou por contagiar produtores e técnicos que procuraram não só seguir os passos da técnica clássica de produção, como tentaram, em zonas de clima semelhante e por vezes com as mesmas castas, fazer igual.

A história do espumante português coloca-nos em finais do séc. XIX mas bem antes já duas zonas se notabilizavam pelas boas características que apresentavam. No caso específico da Bairrada, as suas virtudes foram assinaladas logo na segunda metade do século. Foi António Augusto de Aguiar quem, em 1866, fez uma descrição das zonas produtoras da Bairrada, delimitando as melhores que se destinariam aos vinhos de embarque, distinguindo-os dos vinhos de consumo.

Na prática estava a “demarcar” a região e esse mapa durante muitas décadas ilustrou os rótulos de empresas como as Caves São João. Ali se identificava a zona da Mealhada/Anadia como centro onde se produziam os melhores tintos e mais a norte, Óis do Bairro/Mogofores como a zona dos brancos. Mais para norte e mais para sul situavam-se as zonas de vinhos de menor valia. Nesta região, as primeiras tentativas de fazer espumante datam de 1890, tendo sido contratado um enólogo francês, Paulo Palut que chega à Escola Prática de Anadia para ajudar a “preparar vinhos do tipo francês, Borgonha, Bordéus, Sauterne e Champagne”.

Os resultados não foram os esperados e é essa nessa altura que o Engº Tavares da Silva se propõe fazer experiências na busca de vinhos inspirados nos champanhes, tendo começado ainda em 1885, no Douro, a fazer ensaios com a casta Malvasia Fina. Visitas à região francesa e troca de experiências com técnicos de Champagne acabaram por gerar na Bairrada um interesse nesse tipo de vinhos. Estava-se então em 1890 e é o próprio Tavares da Siva que dá conta de experiências semelhantes levadas a cabo no Douro pela Real Companhia Vinícola do Norte.

Em 1891 os primeiros resultados são apresentados a público na Exposição Industrial Portuguesa. Noutras zonas do país a experimentação é a palavra de ordem e mesmo no Alentejo, em Castelo de Vide, a família Le Cocq já produzia, crê-se desde 1850, um espumoso fino e delicado mas que não seguia a regras da zona de Champagne. Em Lamego irá também nascer uma empresa – Valle, Filho & Genros – que, ainda no séc. XIX, começa a produzir espumantes e que está na origem das Caves da Raposeira. Na Bairrada, Tavares da Silva produz os primeiros “vinhos espumosos” por fermentação natural em garrafa. A apresentação oficial tem lugar três anos mais tarde e dos quatro tipos apresentados foram “julgados bons trez d’esses typos a que se concordou dar os nomes de Secco, Supra e Excelsior”. Constitui-se então a Associação Vinícola da Bairrada que visava exactamente a produção de “espumosos do typo champagnes”.

Os vinhos então produzidos já seguiam as práticas básicas da produção: elaboração de um vinho-base, adição de leveduras e açúcar para a segunda fermentação, remuage das borras nas pupitres e dégorgment antes da colocação da rolha final.

Na primeira década do século XX está estabelecida a indústria do espumante na zona bairradina que, a par de Lamego, ganhou foros de grande zona produtora. A história da Bairrada conta-se também através das inúmeras Caves que foram surgindo nas primeiras décadas do séc. XX, empresas que não eram produtoras mas que adquiriam vinho feito a lavradores e que depois espumantizavam.

Da Bairrada, de Lamego e de todo o lado

A produção nacional esteve muitos e muitos anos confinada a duas zonas: a Bairrada e a zona de Lamego onde a Raposeira e a Murganheira ditaram as leis e os modelos do espumante que se consumia no país. Esse consumo foi, durante muitas décadas, sobretudo de vinhos da variedade Meio-Seco, muito usados em momentos de celebração como casamentos, baptizados, passagens de ano, aniversários ou outras festividades.

A grande luta das últimas décadas foi exactamente a mudança deste paradigma, ou seja, tirar o espumante da sobremesa e mudá-lo para aperitivo ou mesmo como acompanhante da refeição, diminuir-lhe o teor de açúcar, impondo o tipo Bruto (até 12 gr/açúcar por litro) como sendo o que melhor expressa as qualidades e o perfil desta ou aquela marca. A partir da década de 90 do século passado começaram também a surgir espumantes noutras zonas do país: renasceu no Douro quer na Real Companhia Velha quer nas Caves Transmontanas, começou a ganhar força na região dos Vinhos Verdes e, aos poucos, foi-se espalhando por todo o país.

Actualmente está presente em todas as regiões, incluindo nas ilhas dos Açores e Madeira. Esta expansão não corresponde, no entanto, a uma produção massiva: há muitos produtores que assumem o seu espumante como complemento de portefólio e as quantidades são residuais. É o caso, por exemplo, dos vinhos Alvarinho de Monção e Melgaço onde proliferam muitas marcas mas que apenas têm circulação regional em consequência da pequena produção. Em termos de volume é na Bairrada e em Lamego (Távora-Varosa) que mais se produz, com quantitativos a chegarem aos 3,5 milhões de garrafas (Raposeira e Murganheira) e a Bairrada – com uma produção disseminada por muitos produtores – a atingir os 10 milhões de garrafas. São estas duas regiões que, a haver, deveriam ter uma Denominação própria para espumantes, coisa que não existe em Portugal. A estes números deverão acrescentar-se 1126 marcas de espumante com o selo IVV-Instituto da Vinha e do Vinho (sem D.O.) que circulam no país, o que poderá corresponder a uma quantidade de garrafas muito significativa, não contabilizada aqui.

Espumantes
Aliança

Os sins e os não dos rótulos, velharias e modernices

As garrafas de espumante trazem algumas informações importantes que convém conhecer. Em primeiro lugar, a informação da cor deixou de ser obrigatória e por isso, nomeadamente em brancos e rosados, poderá não ser muito evidente a identificação da cor olhando através do vidro colorido da garrafa. Alguns vinhos “brancos” são feitos com uvas tintas – prática habitual e com grande tradição em Champagne – e podem apresentar uma muito leve coloração que não corresponde a um branco, mas também não é um rosé. Assim sendo, é mais prático não indicar qualquer cor.

Em segundo lugar, a indicação da data da colheita, só por si, não nos diz tudo sobre o tempo que poderemos guardar o vinho em casa; tudo depende da duração do estágio que o vinho teve em cave antes de lhe ser colocada a rolha de cortiça. Algumas empresas, como a Murganheira, chegam a manter o vinho 10 anos em estágio antes do dégorgement e só sabendo isso é que podemos aquilatar da duração do vinho em casa. Começa, felizmente, a ser frequente vir na garrafa a indicação da data em que o vinho foi degorjado; é essa a data que nos interessa: a partir desse momento poderemos contar 6 a 8 anos para consumir o vinho. Passado esse tempo entramos em período crítico em que o vinho pode já não estar bom.

A rolha, com o tempo, perde a elasticidade e acabará por deixar sair o gás do vinho. Sem gás…não há espumante! Em terceiro lugar, o vinho pode ter, ou não, Denominação de Origem; esse não é necessariamente um factor de diferente qualidade. A fim de poder colocar o vinho mais cedo no mercado ou usar castas não previstas nos regulamentos, os produtores podem optar por não certificar o seu vinho que, por isso, sai para o mercado apenas com um selo IVV não tendo passado pelo crivo de qualquer câmara de provadores. É o consumidor que vai aquilatar da qualidade e da aptidão do espumante para ser consumido à mesa ou fora dela.

Uma outra questão que se pode colocar: ter data da colheita é sinónimo de melhor qualidade? O assunto é muito caro aos franceses porque em Champagne a maior parte da produção assenta em vinhos não datados. A razão é histórica e climática: com as grandes variações que o clima reserva àquela zona de França, a produção é demasiado variável para poderem os vinhos ter sempre a data da colheita. Assim, generalizou-se a prática de deixar vinho guardado de umas colheitas para as outras, o Vin de Réserve, a fim de poder fazer a cuvée anual tão parecida quanto possível com o vinho que melhor representa o “estilo da casa”. Por cá, também por força de um clima mais previsível em termos de variações, as garrafas datadas ganharam mais protagonismo. No entanto, não é por não terem data que serão de menor valia. O consumidor é que deverá informar-se bem, no momento da compra, sobre a idade do vinho que está a comprar, para não ter surpresas no futuro.

Caves Messias

A produção do espumante vai acompanhando os gostos e as manias dos consumidores. Por essa razão, ao fim de décadas e décadas sem alterações significativas, também neste sector se encetaram algumas mudanças. Foi o caso da rolha, que alguns produtores quiseram substituir por uma carica, sendo o vinho vendido com esta tampa metálica. Esta prática, que seguramente não agrada à maioria, poderia resolver de vez a longevidade do espumante em garrafa, seguramente assegurando um bom produto por 30 ou mais anos, mas por enquanto é a rolha que prevalece. A segunda novidade é, em boa verdade, uma velharia. São os chamados PetNat (pétillant naturel), espumantes em que o vinho é engarrafado ainda antes de terminar a fermentação e, assim, ela irá finalizar-se na garrafa, gerando gás carbónico. É o chamado Método Ancestral. Resulta assim um vinho turvo, com menos pressão e, a  meu ver, muitíssimo menos interessante que um espumante/champanhe. É uma moda, como outras que percorrem agora o mundo do vinho. Os adeptos acham que é mais do que uma moda. Deixemos ao tempo essa decisão…

Espumantes
Caves Murganheira (Foto Anabela Trindade)

O espumante à mesa

Diz-se com frequência que o espumante é a única bebida que pode acompanhar uma refeição do princípio ao fim. Tendo a concordar. Muita da luta que alguma imprensa (onde me incluo) tem tido nas últimas décadas assenta na ideia de o espumante poder ser melhor apreciado no início e durante a refeição. Se recuássemos aos anos 70 do século passado assistiríamos ao consumo do whisky com gelo como bebida para receber convidados ou fazer de aperitivo. O espumante era, fora círculos restritos de consumidores avisados, uma bebida de festa, de celebração, mas não necessariamente um parceiro de refeição.

A luta centrou-se então no “puxar” do espumante para aperitivo, deixando de lado o whisky que, diga-se, à época, tinha versões populares muito baratas, com marcas como Benfica, Sporting e Porto e outras do mesmo calibre, com a qualidade/complexidade que se imagina. Ao trazer o espumante para aperitivo, a variedade Bruto começou a ganhar cada vez mais adeptos. Embora não corresponda a um espumante sem açúcar (pode conter até 12 gramas/açúcar por litro, apenas o Bruto Natural não tem açúcar adicionado), passou a ser perfeito companheiro para acepipes e petiscos entradeiros onde os peixes fumados começaram também a ganhar adeptos.

O segundo momento reveste-se de maior complexidade, ou seja, fazer do espumante o acompanhamento de toda a refeição. Aqui não há regras fixas e tem de se ver caso a caso porque é preciso perceber a textura, o volume, a acidez e o balanço do prato para descobrir depois qual o espumante que lhe pode ir mais a jeito. Mesmo os apreciadores de Champanhe têm o mesmo problema e a literatura e os conselhos dos franceses sobre a matéria são muito variados. Na região francesa, o clima e a história (múltiplas ocupações da zona) impediram a criação de uma tradição própria de pairing wine and food, pelo que mesmo em França não há ideias-feitas sobre a ligação com a comida. Segura é a ligação com aperitivos de luxo (como caviar) peixes e mariscos (nomeadamente ostras, lavagante), muito consensual é também a conjugação com queijos cremosos do tipo Brie ou Camembert mas também outros como Chaourse. Já à mesa, são os aromas e sabores exóticos dos pratos de caça que fazem as delícias de muitos apreciadores. Um mundo por descobrir.

Espumantes
Raposeira

As castas e o clima – uma escolha difícil

A produção de espumantes é possível em qualquer zona, independentemente do solo e do clima. Sabe-se que é preciso ter um vinho-base com pouco álcool e para isso é aconselhável colher as uvas cedo para se obter um vinho com acidez elevada e pouco grau. Se tivermos depois uma cave fria e com temperatura constante onde o vinho possa repousar (o que se fez na Bairrada, por exemplo, e também nas Caves da Murganhiera), é possível fazer um espumante de norte a sul. Fica então a pergunta: porque é que há castas/zonas onde os resultados são melhores do que outros?

Antes de mais, as castas a seleccionar deverão ser razoavelmente neutras em termos aromáticos; é por esta razão que, a não ser por curiosidade, quase não se fazem espumantes naturais com Riesling, Moscatel ou Sauvignon Blanc; são castas muito aromáticas e marcam demasiado o vinho final. A ideia é mesmo que esses aromas finais resultem da segunda fermentação e do prolongado estágio em garrafa.

Temos então que variedades mais neutras, como a Chardonnay e Pinot Noir mas também, no caso da Bairrada, a Baga, e no Douro, a Gouveio, a Rabigato e Viosinho são as mais aconselháveis. E, se tiverem origem em climas frios, as castas com pouca maturação fenólica, com pH baixo, ácido málico elevado e acidez também elevada, tendem a gerar melhores espumantes. Nos climas quentes tudo fica mais difícil porque muitos destes factores não existem naturalmente. É essa conjugação de factores, aliada aos solos calcários, que é responsável pela supremacia dos champanhes franceses (passe o pleonasmo…) face aos espumantes, sobretudo depois de longos estágios em cave antes do dégorgement. Como conclusão pode dizer-se: faz-se em todo o lado, mas…não é a mesma coisa!

Espumantes
Quinta das Bágeiras

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João Paulo Martins lança guia Vinhos do Douro

João Paulo Martins lança guia

É já no dia 6 de Abril que João Paulo Martins — jornalista especializado e um dos críticos com mais experiência em Portugal — lança o guia “Vinhos do Douro”, editado pela Oficina do Livro, com provas de mais de mil vinhos desta região. Colunista no Expresso e colaborador permanente na revista Grandes Escolhas, João […]

É já no dia 6 de Abril que João Paulo Martins — jornalista especializado e um dos críticos com mais experiência em Portugal — lança o guia “Vinhos do Douro”, editado pela Oficina do Livro, com provas de mais de mil vinhos desta região.

Colunista no Expresso e colaborador permanente na revista Grandes Escolhas, João Paulo Martins conta, neste novo guia, a história de várias casas de vinho durienses, e organiza as notas de prova por produtor, mas também por preço médio. Só foram contemplados, na obra, os vinhos que obtiveram nota mínima de 14 pontos (numa escala até 20 valores). O autor também indica, em cada vinho, se deve ser guardado ou consumido de imediato.

João Paulo Martins lança guiaNo guia “Vinhos do Douro” são contemplados brancos, rosés, tintos, colheitas tardias e espumantes, mas não Vinhos do Porto: “Com uma área de vinha de cerca de 40 mil hectares, neste momento os dados de 2019 dizem que a região já produz mais vinho Douro do que Vinho do Porto, uma tendência que se poderá acentuar nos próximos anos”, explica João Paulo Martins.

O guia “Vinhos do Douro” tem um p.v.p. de €13,90, e estará disponível em todas as livrarias do país.

Sugestão: Loureiro, a rainha do Lima

São várias as castas de uva que proliferam no Minho. Umas são bem conhecidas de todos, aparecendo em lugar de destaque nos rótulos das garrafas. Outras, um pouco mais obscuras, são hoje apenas curiosidades ampelográficas. Das primeiras, destacamos a variedade Loureiro, para muitos a melhor casta da região dos Vinhos Verdes. TEXTO João Paulo Martins […]

São várias as castas de uva que proliferam no Minho. Umas são bem conhecidas de todos, aparecendo em lugar de destaque nos rótulos das garrafas. Outras, um pouco mais obscuras, são hoje apenas curiosidades ampelográficas. Das primeiras, destacamos a variedade Loureiro, para muitos a melhor casta da região dos Vinhos Verdes.

TEXTO João Paulo Martins

As castas de uva têm por vezes características enigmáticas. Uma delas é a diferente apetência que mostram em querer viajar. Temos em Portugal exemplos para todas as situações, desde variedades que evidenciam muitas virtudes em todos os locais para onde foram levadas, caso da Alvarinho, mas também a Verdelho, Arinto ou Roupeiro, até outras que se quedaram na zona de origem e não deram mostras de querer viajar muito. Recordamos aqui o caso paradigmático da Encruzado e da que hoje tratamos, a Loureiro. No que respeita a esta variedade emblemática dos Vinhos Verdes, foram feitas algumas tentativas de a levar para outras zonas. Recordamos aqui que ela já esteve plantada na Quinta dos Carvalhais, no Dão, onde chegou a integrar, por uma única vez, um branco feito de lote entre Bical e Loureiro, na colheita de 2000. À época enólogo nessa quinta do Dão, Manuel Vieira disse à Grandes Escolhas que a casta produzia muito, mesmo muito, mas que “originava mostos com teor ácido baixo”, o que contraria a ideia que temos dela. A ideia de arrancar a vinha foi decisão empresarial, mas, na verdade, o tal 2000 Bical/Loureiro, ainda em 2019 dava mostras de estar em grande forma. Também na zona de Setúbal se fizeram experiências com a Loureiro. Domingos Sores Franco, enólogo da casa José Maria da Fonseca, confirmou que a casta foi para ali levada, há muitas décadas, pelo seu tio António Soares Franco. Ainda hoje tem cerca de 2ha de Loureiro plantados na zona de Azeitão, destinando-se o mosto para o lote do Quinta de Camarate branco doce, um vinho que nada tem a ver com vinhos doces de colheita tardia, mas que Domingos nos confirma ser um enorme sucesso, do qual se produzem 25.000 litros por ano. “Noto-lhe aromas de grande qualidade que lembram os que se conseguem no Minho, mas aqui tem menos acidez, tem mesmo uma certa gordura e peso na boca que funcionam muito bem no branco doce, onde a juntamos com a casta Alvarinho”, disse.

Unicer.

Uma casta produtiva

O vale do rio Lima, o solar do Loureiro, é bem distinto em configuração dos vales do Minho ou do Douro, importantes rios que atravessam a região dos Vinhos Verdes. O vale do Lima é amplo e largo, deixando entrar a influência atlântica bem dentro de terra.

Como já escreveu João Afonso em reportagem publicada neste revista, “em termos orográficos podemos dividir a sub-região do Lima em três zonas distintas: a zona mais litoral e ventosa de Viana, com vale aberto e pouca montanha; uma zona intermédia de Ponte de Lima (de Geraz do Lima até Jolda e Gondufe) ainda de vale aberto, mais protegido da nortada e já com traços de montanha; e a zona interior de Ponte da Barca e Arcos de Valdevez com vale mais estreito, de perfil montanhoso e com alguma continentalidade a misturar-se com o clima marítimo.”

A casta Loureiro gosta de frio, mas não aprecia vento. Segundo Anselmo Mendes, “prefere zonas mais abrigadas para evitar partir as varas e é exigente na gestão da sebe para que a vinha possa respirar. Produz bem, mas não convém deixar ir muito além das 10 ton/hectare para não perder carácter.” Esta produtividade, que se pode considerar normal na região do Verdes está, no entanto, muito acima do que encontramos noutras zonas do país, nomeadamente na vizinha região do Douro. José Luis Moreira da Siva é enólogo na quinta dos Murças (Douro) e, por via da aquisição por parte do Esporão da Quinta do Ameal, ficou também responsável pela viticultura e enologia desta propriedade minhota. As diferenças não podiam ser maiores, “é que estou a lidar com produções por hectare que são cinco vezes superiores às do Douro, com terrenos muito mais férteis e também muito mais propícios às doenças e pragas da vinha e tudo isso é um grande desafio”. José Luis confirma que apesar dessa pressão das doenças, é no Minho mais fácil assegurar uma produção regular, com solos ricos e água com fartura. A Quinta do Ameal esteve durante algum tempo certificada como bio, mas, foi-nos confirmada, essa certificação foi abandonada. O enólogo foi pragmático: “estamos a seguir tratamentos e práticas bio, mas se houver um ataque a sério avançamos com tratamentos químicos; não faz sentido perder a produção por falta de tratamentos. Estou de resto convencido que enquanto no Douro é mais fácil a certificação bio, aqui nos Verdes tenho muito mais dúvidas”.

Polivalente na adega

Na adega, a Loureiro mostra-se polivalente. Na Quinta do Ameal sempre se usou uma vinificação diferenciada, ora em inox ora em barricas usadas, praticando abundantemente a bâtonnage, mesmo no inox. Essa prática pode ser fundamental sobretudo se se pretende fazer um Loureiro que dure 20 anos na garrafa. No Ameal sempre existiu a preocupação de mostrar a longevidade da casta Loureiro, a única plantada na quinta e inúmeras provas confirmam amplamente que o tempo está muito mais ao lado da casta do que em tempos se pensava. Anselmo Mendes diz-nos que, “com o tempo, os aromas transformam-se e surgem algumas notas terpénicas que, essas sim, fazem lembrar o Riesling do Mosela”. No entanto, salienta ainda, “existem vários clones de interesse desigual, alguns originam vinhos com notas de Moscatel, mas eu prefiro uns clones que fazem vinhos mais discretos, mas que evoluem bem com o tempo”.

Quinta de Gomariz.

Além da fermentação em inox e barrica (mais usada do que nova), no Ameal estão a fazer-se ensaios com ovos e túlipas de cimento. E trabalhar com teores alcoólicos na casa dos 11,5% de “chega perfeitamente, não precisamos de mais”, confirma Moreira da Silva.

Mesmo nas outras sub-regiões dos Verdes onde a Loureiro entra em lote com outras variedades, os resultados são compensadores. É boa a ligação com a casta Arinto e está em desuso o lote com a Trajadura, uma variedade que recolhe cada vez menos adeptos. Como nos diz Anselmo Mendes, “em tempos era usada para fazer baixar a acidez do Alvarinho, mas hoje já se usa menos”. E em Valença, bem perto da zona de Monção e Melgaço, mas fora da sub-região, a casta Loureiro dá resultados muito interessantes.

Tal como acontece noutras sub-regiões dos Vinho Verdes, o Vale do Lima é a pátria da casta Loureiro, é ali sem dúvida que melhor se expressa e também a casta que melhor expressa as virtudes daquele terroir. Já na sub-região do Sousa impera a Arinto, em Baião a Avesso, exemplos que nos mostram que, embora viajantes, as castas encontram por vezes razões de sobra para não saírem de onde estão. 

 

SABIA QUE…
Loureiro, uma variedade das terras frias

A casta Loureiro é, do ponto de vista económico, a variedade mais importante da região dos Vinhos Verdes. É no vale do rio Lima que ela melhor mostra as suas virtudes. Casta produtiva, gosta sobretudo de zonas onde se faça ainda sentir a influência atlântica, contribuindo com elevada acidez para os mostos. Por esta razão é aqui, na sub-região do Lima, que melhores resultados origina. As zonas mais interiores, de Basto até Baião e Amarante já não lhe convêm porque perde rapidamente a acidez, característica marcante desta casta. Gera vinhos de teor alcoólico médio, mas muito aromáticos, razão pela qual é muito procurada pelos viticultores. Também presente nas Rias Baixas tem aí, no entanto, um peso muito residual, uma vez que a região é quase monocultura de Alvarinho. Apesar de gerar boas produções, não se pode deixar produzir demais porque depois perde aromas. Prefere solos férteis e abundância de água, mostrando muitas dificuldades para enfrentar o stress hídrico. Existem vários clones certificados desta casta sendo mais cotado o que gera o cacho com bagos pequenos e coloração dourada. Segundo informação da CVR dos Vinhos Verdes, existem 189 marcas válidas de vinhos varietais de Loureiro, correspondendo a 111 engarrafadores. Até aos anos 80 do século passado não existiam no mercado vinhos varietais de Loureiro e foi então nessa década que surgiram os primeiros varietais de Loureiro, da Adega Cooperativa Ponte de Lima e de alguns produtores engarrafadores, como a Quinta de S. Cláudio, Casa dos Cunhas ou Quinta do Luou.

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João Paulo Martins ministra curso de vinhos no Verride Palácio Santa Catarina

Será para um máximo de 15 participantes, e já nos dias 20 e 21 de Outubro deste ano, no luxuoso hotel Verride Palácio Santa Catarina, em Lisboa. João Paulo Martins, reconhecido crítico de vinhos — e colaborador na Grandes Escolhas, Expresso, entre outros — irá ministrar um curso de vinhos, promovido pelo hotel, que poderá […]

Será para um máximo de 15 participantes, e já nos dias 20 e 21 de Outubro deste ano, no luxuoso hotel Verride Palácio Santa Catarina, em Lisboa. João Paulo Martins, reconhecido crítico de vinhos — e colaborador na Grandes Escolhas, Expresso, entre outros — irá ministrar um curso de vinhos, promovido pelo hotel, que poderá culminar, opcionalmente, num jantar no restaurante SUBA, onde será servido um vinho do Porto da colecção privada de João Paulo Martins. O horário será das 18h00 às 20h30 no dia 20, e das 18h às 20h no dia 21.

“Podemos viajar pelo país através do vinho mas será bem no coração de Lisboa que vou ter a oportunidade de partilhar conceitos, temas e histórias sobre o vinho”, afirma o crítico.

Em comunicado, o Verride Palácio Santa Catarina explica como será orientado o curso: “Numa fase inicial, destinada a todos os apaixonados por este produto que é um dos orgulhos nacionais, e tão apreciado por muitos, será feita uma breve caracterização do país, dos solos e dos diferentes climas e castas. De seguida, um olhar sobre a vinha e todo o percurso até a uva entrar na adega precede a explicação sobre o processo de vinificação do vinho branco. E sendo este o tema principal do primeiro dia, há que aprender a prová-los. Vinhos brancos, novos, velhos, com e sem madeira numa prova realizada com cerca de oito vinhos. No segundo dia, chega a vez dos tintos subirem ao palco. A sua vinificação, as suas partculariedades regionais e as diversas técnicas de prova serão os temas apresentados antes da prova de vinhos de castas de diferentes regiões. Aqui, oito a dez vinhos novos e velhos estarão a prova para alimentar a conversa que promete ser animada”.

Já João Silva, Hotel Manager, refere: “Acreditamos que somos um palco por excelência para o que de melhor existe em Portugal pelo que decidimos apostar nesta formação vínica, ou não fossem os vinhos nacionais um dos produtos de excelência…”.

A participação no curso tem um valor de 100€ por pessoa, com jantar, e de 70€ sem experiência gastronómica. Em ambos os casos será oferecido um certificado de participação. As inscrições podem ser feitas, até cinco dias antes do curso, através dos contactos info@verridesc.pt ou 211 573 055.

O que nós passámos para aqui chegar

A História faz-se de avanços e recuos. A do vinho também e é por isso que não é bom perder a visão de conjunto, ficarmos nos pormenores e deitar fora o essencial. E custou muito chegar até aqui. João Paulo Martins Estamos numa época em que muito se fala dos méritos que tinham os vinhos […]

A História faz-se de avanços e recuos. A do vinho também e é por isso que não é bom perder a visão de conjunto, ficarmos nos pormenores e deitar fora o essencial. E custou muito chegar até aqui.

João Paulo Martins

Estamos numa época em que muito se fala dos méritos que tinham os vinhos de antigamente, dos métodos perfeitos que então se usavam, das virtudes que derivavam da simplicidade dos processos, do perfeito equilíbrio entre o homem e a Natureza. Se seguirmos esta perspectiva, o que se pede então ao produtor de hoje é que seja capaz de fazer como dantes: sem tecnologia, sem ciência, sem equipamentos e, já agora, sem enólogos que não passam de uns empatas que só querem usar químicos.
A história do vinho sempre acompanhou os avanços que a ciência – seja a física, a química ou a microbiologia – trouxeram para o aperfeiçoamento da técnica de produção. Digo técnica de produção porque o vinho não se faz por si, não aparece feito na Natureza, tal como o pão não nasce numa planta. São precisas uvas para fazer vinho e é preciso saber o que fazer com elas. Com o pão passa-se o mesmo: é preciso cereal mas há que saber o que fazer com ele e, imagina-se, há muitas maneiras de chegar ao produto final. Tal e qual como no vinho.
Quando se ouve alguém falar no vinho de outrora, do antigamente e dos velhinhos que, esses sim, é que sabiam o que faziam, fica-se com a sensação que por vezes não se sabe do que se fala. Com a evolução vertiginosa que o mundo teve (em todos os domínios) nos últimos 60 anos, para falar do “antigamente” não é preciso ir muito longe, poderá bastar (e provavelmente sobra…) ir até aos anos 50 do século passado. Pois então repare-se: na época apenas se fazia vinho a lagar e o mosto fermentava posteriormente em tonéis de madeira de grandes dimensões. Simples, não é? Não se usavam leveduras, não se fazia o controle de quase nada, não havia malolácticas, nem estágios nem filtrações. Fazia-se o vinho com o que chegava à adega, quando as uvas sobrevivam às quantidades enormes de químicos que os lavradores usavam. Já ninguém se lembra do DDT e do 605 Forte e dos anúncios que davam na televisão do Senhor Prudêncio? Ninguém ouviu falar dos tempos em que eram às carradas o ácido tartárico que se usava nos vinhos para lhes conferir acidez e assegurar a longevidade? Já todos esquecemos que, se estivermos a falar dos Bordéus dos anos 50 só há um ano considerado muito bom, o 1953? Porquê? Pela simples razão que os outros, apesar de virem de casas famosas, avariaram, estragaram-se, evoluíram mal. Achamos isso normal, mas é bom tentar saber porquê. Nos anos 70 não há quase Bordéus que sejam dignos de nota e Borgonhas também não? Porque será? É bom saber que a responsável pela melhoria generalizada dos vinhos foi a ciência, nas suas múltiplas disciplinas e que os produtores beneficiaram de coisas tão estupidamente simples como seja…haver mais higiene nas adegas, deixar de usar cestos de verga para transportar uvas, eliminar na quase totalidade os tonéis velhos que, à falta de manutenção, mais não são que viveiros de bactérias.

Afinal, o que ganhámos com a técnica?

Fazer vinho hoje é aplicar uma quantidade enorme de conhecimentos e melhoramentos que foram sendo adquiridos ao longo das últimas décadas. Algumas dessas melhorias apenas decorrem do bom-senso – como seja a escolha das uvas à entrada da adega ou a lavagem das instalações para impedir a propagação das bactérias acéticas. Outras são a consequência de muito estudo, ensaio, erro e progresso. E esses avanços foram, nas últimas décadas, responsáveis pela melhoria generalizada dos vinhos no nosso país e no resto do mundo. É difícil dizer onde tudo começou mas a verdade é que o melhor conhecimento da uva e da vinha, da condução e da poda, da gestão da canópia, do equilíbrio entre produção por cepa e qualidade final do vinho, tudo isso contribuiu para que hoje as uvas cheguem à adega mais sãs e mais capazes de dar bom vinho. Fez-se tudo bem? Nem por isso. Os erros que se fizeram com porta-enxertos errados, com selecção clonal desajustada e condução incorrecta da vinha serviram também para se melhorar hoje os disparates cometidos nos anos 80 em Portugal (nomeadamente no Douro) e em França, no caso da selecção clonal.
Do início dos anos 60 até hoje aprendemos quase tudo o que nos permite evitar que se volte a ter uma década negra como tiveram os franceses nos anos 50 em Saint-Émilion. Vejamos: deixámos gradualmente as madeiras velhas para a fermentação dos mostos, descobrimos o método certo para controlar a temperatura da fermentação, preservando assim os aromas e assegurando o respeito pelo local de onde vieram as uvas; aprendemos quase tudo sobre a fermentação maloláctica, a sua monitorização e acompanhamento; conhecemos muito melhor o universo das leveduras e descobrimos que elas não só não são todas boas meninas, como podem não ser capazes de levara a bom proto a tarefa que delas esperamos; conhecê-las e controlá-las foi um enorme avanço. Hoje sabemos muito mais sobre a microbiologia da uva, dos processos químicos associados à transformação do mosto em vinho, sabemos gerir melhor o pH e a acidez das uvas com a consequente redução do uso do ácido tartárico embora ele continue a ser útil nos climas quentes, tal como o mosto concentrado é necessário nos climas frios. Substituímos muitos tonéis velhos por barricas novas e, quer sobre a fermentação em barrica quer sobre o estágio em madeira, temos hoje conhecimentos muito maiores que nos permitem não voltar a fazer o erro dos anos 80 em que os vinhos eram verdadeiros destilados de carvalho. E sobre a utilização de sulfitos estamos muito mais informados, também para saber que não os usar é um passaporte quase certo para a curtíssima longevidade do vinho.
Do passado mantivemos o que valia a pena: as vinhas velhas, (no caso de serem boas), a pisa (ou mesmo a fermentação) em lagar, as ânforas, os depósitos de cimento (agora com novos formatos) e, se se tiver confiança nelas, as barricas velhas mesmo para fermentar vinhos brancos, como hoje ainda fazem algumas das grandes regiões de brancos do Mundo.
A grande diferença em relação ao passado é que, hoje, o conceito de vinho imbebível praticamente desapareceu e mesmo os vinhos ridiculamente baratos são bebíveis. São vinhos Barbie, como alguém disse? Não sei se são Barbie, mas são os vinhos que a esmagadora maioria da população bebe, a tal população para quem vinhos a €5 são coisas para o Natal, e e…! Ao contrário dos tempos de Fernando Nicolau de Almeida, hoje a Casa Ferreirinha poderia fazer Barca Velha quase todos os anos. Tivesse o criador do mítico vinho acesso a todos os avanços técnicos que hoje temos e conhecemos e seria, com certeza, o primeiro a abraçá-los. Temos escolha porque temos mais sabedoria. Sabemos o que queremos fazer e como. E, por isso, sabemos que se quisermos errar não é por sermos mais espertos que os outros ou por sermos nós que respeitamos a Natureza. Creio que será por outras razões.
Passámos muito para aqui chegar e seria um desperdício deitar tudo a perder.

Edição nº 34, Fevereiro 2020

O vintage 2017 e o fim das tradições

Finalmente foram quebradas as antigas regras não escritas que determinavam que “Porto Vintage, só três vezes em cada década”. Espera-se que acabem de vez e que não tenha sido apenas um fogacho. TEXTO OPINIÃO João Paulo Martins As declarações de um ano como Vintage sempre foram acontecimentos importantes para o sector do Vinho do Porto. […]

Finalmente foram quebradas as antigas regras não escritas que determinavam que “Porto Vintage, só três vezes em cada década”. Espera-se que acabem de vez e que não tenha sido apenas um fogacho.

TEXTO OPINIÃO João Paulo Martins

As declarações de um ano como Vintage sempre foram acontecimentos importantes para o sector do Vinho do Porto. O Vintage é o vinho mais prestigiado mas também, entre os “grandes”, aquele que tem menos custos de produção, sobretudo se comparado com os tawnies com indicação de idade. Fazer um bom tawny é uma dor de cabeça que se prolonga por vários anos , qual criança que tem de ser apoiada e educada para vir a ser um adulto à séria. O Vintage, quase inexplicavelmente, já nasce adulto e feito e por isso trata-se é não estragar o que a natureza deu e colocar essa qualidade rapidamente dentro da garrafa para que depois o tempo faça o seu papel, mas já em interferência do produtor. O primeiro deveria ser bem mais caro que o segundo mas a verdade é de sentido inverso: para se vender um tawny ao preço que actualmente se vendem os vintages das empresas mais prestigiadas, temos de apontar para um 30 ou 40 anos de idade. Só de pensar as voltas que tal vinho deu, o que se perdeu para os bebedolas lá de cima (há quem lhes chame anjos…) ficamos com os cabelos em pé. Mas é assim que o sistema funciona, vamos em frente. A tradição, criada sabe-se lá por quem, de apenas declarar como clássico um vintage duas ou três vezes por década não tem dado grandes frutos. Os ingleses, muito ligados a essa tradição, fizeram questão de a cumprir por mais de um século e por isso deixaram algumas potenciais declarações fora do “classicismo” como 1995, 2005 e 2015.
A tese é deles, mas casas como Ramos Pinto, Poças, Sogrape, Porto Cruz, Noval ou Niepoort não querem nem ouvir falar de termos como “clássico” e “não clássico”. Para estes produtores, a declaração acontece quando o ano é bom, independentemente da frequência. Mas o que ninguém nega, mesmo os outsiders, é que em ano “clássico” as vendas são rápidas e os preços bem convenientes. Vantagens para todos à boleia da tradição inglesa.
Foi preciso chegar à segunda década deste século para ver ruir a tradição. Diz-se nos mentideros que não se declarou o 2015 porque se percebeu que o 2016 era de grande qualidade e foi esse o escolhido para ser clássico. Só que, ironia do destino, o 2017 logo à nascença deu mostras de ser um grande Vintage, o que se veio a confirmar. Estavam lançados os dados para se furar a tradição e declarar um Vintage “clássico” dois anos seguidos. Toda a gente declarou e muitos já venderam tudo. Só que…o 2018 está em cave à espera e ninguém é por agora capaz de afiançar se vai declarar ou não. Falta tempo mas não tanto assim, uma vez que a partir de Janeiro se podem começar a enviar amostras para aprovação. Vamos ter um tri-clássico? É cedo mas, como sabemos, depois de pecar a primeira vez os pecados seguintes soam apenas a pecadilhos. E o Porto bem precisa de promoção e que se fale dele por esse mundo fora. Os consumidores portugueses, dizem-nos no comércio, andam um pouco arredados do Vintage e as vendas estão muito longe de serem o que eram há uma ou duas décadas. Mas os actuais vintages têm a enorme vantagem de darem cartas na elegância mesmo em novos, coisa que os antigos não davam. E lá se vai assim, de uma penada, mais uma tradição pelo cano: à ideia antiga de que o vintage ou se bebia muito novo ou tinha de se esperar 15 a 20 anos sucedeu a geração actual, assente em melhor viticultura e em aguardente de qualidade incomparavelmente superior à que se usava antigamente, Dessa forma, permite-se que o vinho seja apreciado novo e mesmo na década a seguir à colocação no mercado. Confesso que continuo a gostar mais dele com 15 ou 20 anos mas tiro o chapéu aos novos vinhos, muito mais assentes na fruta e na elegância e que dão boa prova em qualquer momento. É verdade que as quantidades actualmente declaradas são cautelosas (3 a 5 000 caixas de 12) e a Taylor’s faz figura de “exagerada” por ter declarado, no 2017, 11 500 caixas mas, voltando ao exemplo clássico, em 1927 a Cockburn’s e a Croft terão declarado entre 20 e 30 000 caixas. Isso sim, eram declarações à grande!
Ficamos assim na expectativa sobre o que vai acontecer com o 2018 e quem sabe, dados os bons prenúncios desta vindima, com o 2019… Isto está a complicar-se, disso não tenhamos dúvidas, mas é destas complicações que nós gostamos.

 

Edição Nº30, Outubro 2019

Curso de iniciação à prova de vinhos em Vila Real, dias 3 e a de Julho

O curso vai decorrer a 3 e 4 de julho, entre as 17h00 e as 19h30 e o local será o restaurante Cais da Villa, em Vila Real. A realização cabe à empresa GreenGrape. O curso, de dois dias é orientado pelo jornalista e crítico de vinhos João Paulo Martins. O autor irá abordar várias […]

O curso vai decorrer a 3 e 4 de julho, entre as 17h00 e as 19h30 e o local será o restaurante Cais da Villa, em Vila Real. A realização cabe à empresa GreenGrape. O curso, de dois dias é orientado pelo jornalista e crítico de vinhos João Paulo Martins. O autor irá abordar várias temas, ou, se quiser, responder a perguntas como: Que tem de diferenciador um Arinto de Bucelas, Encruzado do Dão, ou Bical da Bairrada? Que mais-valias têm os típicos vinhos de lote portugueses? Gostamos de um branco feito à antiga, sem leveduras, sem barrica nova, minimalista em termos de enologia? Estes são alguns dos temas a abordar, integrados na apresentação de noções gerais de viticultura e enologia e em provas comentadas de diversos vinhos brancos e tintos de várias regiões do país.
O valor do curso (90 euros) inclui jantar com o grupo de formação no dia 3 de Julho. As inscrições são limitadas à participação de 15 pessoas e podem ser feitas para o Cais da Villa (tel.: 259 351 209), ou Greengrape (tel.: 936 825 649).