Grande Prova: De norte a sul Os “outros” Alvarinho

Grande Prova Alvarinhos

A casta que hoje nos ocupa é mais uma daquelas que, por norma, dizemos ser casta portuguesa e que em boa verdade é uma variedade ibérica. Nuestros hermanos, que também a apelidam de Cainho Branco, fizeram dela a rainha das Rias Baixas e a fama ultrapassou fronteiras, tendo chegado a outros continentes. Por lá foi […]

A casta que hoje nos ocupa é mais uma daquelas que, por norma, dizemos ser casta portuguesa e que em boa verdade é uma variedade ibérica. Nuestros hermanos, que também a apelidam de Cainho Branco, fizeram dela a rainha das Rias Baixas e a fama ultrapassou fronteiras, tendo chegado a outros continentes. Por lá foi referenciada em 1843 mas A. Girão (tratado Prático da Agricultura das Vinhas) já fala dela em 1822 como casta de Monção. Entre nós esteve muito tempo confinada ao Minho, inicialmente à zona de Monção e Melgaço, onde adquiriu justa fama. Sempre dispersa nas vinhas e misturada com outras castas, a Alvarinho conheceu a primeira vinha contínua em 1964 no Palácio da Brejoeira, orientada por Amândio Galhano. Até há poucos anos era só de Monção e Melgaço que poderiam sair vinhos com Denominação de Origem Vinho Verde, mas a situação actual é bem diferente, uma vez que em qualquer zona da região se pode fazer um Alvarinho com direito a D.O.. A área de vinha deverá atingir actualmente cerca de 1500 ha.

A grande divulgação da casta só começou no final dos anos 80 do século passado, quando muitos produtores resolveram avançar para projectos próprios como engarrafadores. Passámos então de quatro ou cinco marcas – Deu la Deu, Palácio da Brejoeira, Adega de Monção e Cêpa Velha – para as mais de 100 que existem agora, com muitos milhões de garrafas produzidas anualmente. Gradualmente deixou de ser o branco da aristocracia rural minhota, vinho de ricos e de eventos de luxo, para se tornar um branco acessível a todos. Terá sido essa expansão e o sucesso que os vinhos tiveram junto do consumidor que despertou o interesse de produtores de outras zonas do país para as virtudes da Alvarinho. Temos hoje, assim, vinhos varietais em várias regiões, umas mais quentes que outras, umas de interior e outras costeiras.

A casta gosta de estar perto do mar, mas protegida do mar, ainda que tal possa parecer contraditório.

Os registos da prova
Na prova que fizemos, que não permite juízos de valor definitivos, foram, no entanto, perceptíveis algumas tendências. Mas as conclusões poderão ser apressadas porque avaliámos vinhos de idades muito diferentes; recuando no tempo, tivemos amostras desde 2023 até 2019. Por isso havia no painel algum desequilíbrio temporal. É verdade que, em termos abstractos, um branco de 2019 não se considera velho ou demasiado evoluído em nenhuma região do mundo, mas o facto de estarem aqui vinhos precocemente evoluídos pode permitir algumas leituras sobre a adaptação (ou não) da casta a solos e climas muito distintos dos da zona de origem (Minho).

A expansão da casta, cremos, ficou a dever-se às suas virtudes intrínsecas: produz bem, aromaticamente é muito rica e além de um corpo elegante, resulta com uma acidez muito expressiva que alegra o lote final. Pela experiência nas zonas de Monção e Melgaço, percebeu-se também que, uma vez plantada em solos diversos, poderia originar vinhos expressivos e diferenciados de perfil. Ora, tendo o país zonas costeiras e de interior, zonas frias e quentes, de planície e de altitude, era inevitável a “atracção fatal” que a casta exerceu sobre os produtores. É também por isso que estamos em crer que o futuro próximo nos irá trazer mais amostras de outros produtores interessados na casta.
Os resultados da prova têm algo de paradoxal: a vitória de um vinho mais “atlântico” poderá ser considerada normal, mas os dois lugares seguintes com origem em zonas de interior já podem ser mais surpreendentes. Jorge Moreira, que faz no Douro o “seu” Alvarinho Poeira e também o Quinta de Cidrô, reconhece na casta “a capacidade de mostrar bem o local de onde vem, acentuando no Douro o seu carácter mais gordo, mas conservando uma excelente acidez e pH”. Ao seu Poeira há a acrescentar o Pó de Poeira, ambos da sua propriedade mas de vinhas diferentes. Já Anselmo Mendes, com muitos vinhos feitos em Monção, acentua que “a casta gosta de estar perto do mar, mas protegida dele. Ainda que possa parecer contraditório, a verdade é que, se demasiado perto da orla marítima e sem protecção, a casta pode originar uma acidez exagerada”. Na Bairrada, onde dá apoio enológico ao vinho Kompassus, Anselmo assinala que “a casta se mostra muito bem em solos argilo-calcários, resultando num vinho um pouco mais fechado, mais reduzido, mas com mais salinidade na prova de boca; estou convencido que a proximidade do mar pode ser determinante, tal como é a influência do enólogo”, disse.

Nas zonas quentes a produção do Alvarinho pode levantar alguns problemas. Paulo Laureano que também a trabalha no Alentejo, confessa que levou algum tempo a perceber a melhor forma de contrariar a tendência da casta para a sobrematuração que deriva do clima quente. Diz, por isso, que “uma poda adequada e um clima que inclua alguma brisa são fundamentais porque a maturação pode parar por excesso de calor”. Já a Herdade da Ravasqueira começou por plantar a casta ainda em finais dos anos 90 e desde a segunda década deste século que tem feito vinhos varietais, “uma aposta segura”, como nos disse Vasco Rosa Santos, que integra a equipa de enologia da Ravasqueira. Na Herdade da Lisboa a produção tem sido irregular e, por exemplo, a partir de 2020 ainda não é certo quando voltará a haver. Ali a casta é também usada para base de espumante e, para vinho tranquilo, é fermentada em barrica.
Estamos perante uma casta que aceita vinificações variadas, desse o clássico inox, barricas de vários tipos e idades e cimento. A tendência actual, que aponta sobretudo para a vinificação e estágio em barrica usada, encontra nesta variedade uma compincha. E, tal como acontece no Minho, os produtores estão também a descobrir-lhe as virtudes para ser vinificada como base para espumante. Eles já existem abundantemente em Monção e Melgaço e, cremos, irão surgir também noutras zonas do país.
Como se pode verificar pelos vinhos que provámos, os preços podem ter enormes variações mas essa é discussão para ter noutro fórum que não este. Pode-se, de qualquer maneira, concluir que o consumidor pode ter acesso a Alvarinhos de todo o país, com muito boa qualidade e a preço sensato.

(Artigo publicado na edição de Maio de 2024)

vinho da casa #31- Kompassus Reserva branco 2017

Kompassus, a casa das experiências

[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]A marca Kompassus continua a impressionar pela qualidade dos seus vinhos e espumantes. O que não é nenhuma surpresa, considerando quem está por trás. TEXTO António Falcão NOTAS DE PROVA Luís Lopes FOTOGRAFIAS Ricardo Palma Veiga João […]

[vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]A marca Kompassus continua a impressionar pela qualidade dos seus vinhos e espumantes. O que não é nenhuma surpresa, considerando quem está por trás.

TEXTO António Falcão
NOTAS DE PROVA Luís Lopes
FOTOGRAFIAS Ricardo Palma Veiga

João Póvoa, cirurgião oftalmologista em Coimbra, é a alma e coração desta casa bairradina. Não se julgue que é alguém que, tendo dinheiro a rodos, decidiu subitamente investir em vinha e vinho. Não sabemos qual a conta bancária do médico, mas sabemos, isso sim, que desde jovem que João Póvoa está ligado ao vinho.
Juntamente com o pai, fazia vinho a granel para algumas casas da Bairrada. Mais tarde, fez obras de monta na Quinta de Baixo e começou a fazer os seus vinhos com marca própria. Acabou por vender a propriedade por motivo de doença. Felizmente conseguiu superá-la e ficou com um dilema na cabeça: “Achei que não tinha desenvolvido o suficiente o projecto na Quinta de Baixo.” Como se um desígnio cósmico não estivesse completo. E partiu para nova aventura vínica, a que chamou Kompassus. O nome tem a ver com o apertado compasso da sua vinha, com corredores de apenas 1,70m e uma densidade elevada de videiras por hectare, cerca de 6.000. Diz João Póvoa que “é uma prática antiga, desde sempre usada nas vinhas da Kompassus, mas actualmente em vias de extinção”.
As vinhas estão situadas na Cordinhã (Cantanhede), em solos predominantemente argilo-calcários com forte exposição solar a sul. As uvas da casta Baga são oriundas de vinhas velhas com aproximadamente 70 anos de idade. A base do resto do encepamento reside em castas autóctones, tais como Bical, Maria Gomes, Cercial e Baga. Mas a Kompassus possui ainda videiras de Touriga Nacional, Merlot, Pinot Noir, Verdelho e Alvarinho. As vinhas são geridas segundo práticas orgânicas e de viticultura sustentável, num modo de produção biológico. Ou seja, tudo apontando para alta qualidade. Nada de grandes áreas, claro, até porque a empresa faz cerca de 80.000 garrafas/ano.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/2″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]A história da casa não ficaria completa sem uma entrada importante: o enólogo Anselmo Mendes, amigo de João Póvoa há muitos anos. Anselmo diz que pouco ou nada acrescenta nos espumantes, mas o resto “são experiências a quatro mãos”. E ensaios não faltam aqui. Dir-se-ia mesmo que, como diz o povo, se ‘juntou a fome à vontade de comer’. Ensaios na vinha, por exemplo. O Alvarinho foi um desafio de Anselmo: “Queria ver como é que a casta se portava em solos argilo-calcários”, confessa o técnico. Mas também ensaios na adega, como o Bical fermentado em madeira, afinado com as décadas de experiência nesta área por parte de Anselmo. ”Acho a casta fabulosa”, diz o ‘senhor Alvarinho’. Ao que João Póvoa replica: “O Anselmo anda agora apaixonado pelo Cercial.” Anselmo diz que sim, e que fica espantado com a limpeza de aroma e a mineralidade da casta. A gama de varietais inclui um surpreendente Verdelho.
As mais recentes novidades foram apresentadas no restaurante Faz Figura, em Lisboa. Constou de dois espumantes e dois tintos, que provamos em baixo. Destaque para os vinhos com a casta tinta rainha da Bairrada, a Baga. Anselmo Mendes revelou-nos que o mais difícil é acertar no ponto óptimo de maturação, antes da colheita. E depois, na adega, não macerar nem extrair demasiado, tendo sempre cuidado com a temperatura de fermentação. Estes cuidados têm assegurado vinhos mais suaves e menos taninosos do que o normal na Bairrada. Anselmo não está preocupado: “Os taninos não asseguram longevidade.”[/vc_column_text][/vc_column][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/2″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][divider line_type=”No Line” custom_height=”40″][image_with_animation image_url=”27386″ alignment=”” animation=”Fade In” border_radius=”none” box_shadow=”none” max_width=”100%”][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]Destaque ainda para um vinho dado a provar, mas que só sairá para o final do ano. Trata-se do tinto Gene, da colheita de 2007, feito com as uvas da Quinta de Baixo, mesmo antes da venda. Eram as uvas mais caprichadas, que esperavam o ponto óptimo de maturação. O vinho foi engarrafado em 2009 e João Póvoa “esqueceu-se dele” porque o achou “muito difícil”. Uma prova recente com Anselmo mostrou que estava agora muito melhor e ambos decidiram que era altura de ir para o mercado. O nome – Gene – é uma homenagem ao avô e pai de João Póvoa.

Em prova:[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]

[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”in_container” full_screen_row_position=”middle” scene_position=”center” text_color=”dark” text_align=”left” overlay_strength=”0.3″ shape_divider_position=”bottom”][vc_column column_padding=”no-extra-padding” column_padding_position=”all” background_color_opacity=”1″ background_hover_color_opacity=”1″ column_shadow=”none” column_border_radius=”none” width=”1/1″ tablet_text_alignment=”default” phone_text_alignment=”default” column_border_width=”none” column_border_style=”solid”][vc_column_text]

Edição Nº13, Maio 2018

[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row]