DONA DORINDA: Pixie, Qué Será, Será…

“Qué será, será Whatever will be, will be The future’s not ours to see Qué será, será What will be, will be” O leitor mais atento, que seja igualmente fã de música, não pode ter deixado de trautear o famoso refrão “Qué será, será” celebrizado pela cantora norte-americana Doris Day em 1956, e reinterpretado, […]
“Qué será, será
Whatever will be, will be
The future’s not ours to see
Qué será, será
What will be, will be”
O leitor mais atento, que seja igualmente fã de música, não pode ter deixado de trautear o famoso refrão “Qué será, será” celebrizado pela cantora norte-americana Doris Day em 1956, e reinterpretado, décadas mais tarde, pela não menos famosa banda Pixies, tal como eu, fã assumido do quarteto de Boston, Massachussets, fundado em 1986. Na verdade, foi mesmo a primeira coisa em que pensei quando me atribuíram esta cobertura jornalística do vinho Pixie.
Com uma combinação única de energia, melodias pop com estruturas musicais imprevisíveis, letras surrealistas e a famosa dinâmica quiet-loud-quiet, onde as canções alternam entre versos calmos e refrões explosivos, os Pixies deixaram uma marca indelével na história da música, estabelecendo-se como uma das bandas mais icónicas e influentes do rock alternativo, servindo, inclusive, de assumida inspiração a bandas não menos icónicas como Nirvana ou Radiohead. Mas e o que é que os Pixies poderão ter em comum com o vinho Pixie, para além da evidente semelhança do nome?
A propriedade totaliza 60 hectares, sendo apenas 8,5 hectares dedicados à vinha
ESTILO INOVADOR
Na verdade, tal como os Pixies, com o seu estilo inovador e dinâmicas contrastantes, ajudaram a moldar o som do rock alternativo dos anos 1990, influenciando toda uma geração de bandas que seguiram o seu exemplo, há 25 anos atrás, na Quinta Nossa Senhora da Conceição, uma pequena propriedade no coração do Alentejo, Évora, de onde os recém-lançados vinhos Pixie são oriundos, foi tomada a decisão de abandonar completamente o uso de pesticidas e herbicidas, bem como de implementar práticas biodinâmicas e biológicas.
Convenhamos que, no Portugal vínico de 1999, os termos agricultura biológica e orgânica, produção biodinâmica, substituição de herbicidas, fungicidas e pesticidas sintéticos por preparados naturais, se calhar soava tão disruptivo como o som dos Pixies.
Chegando de Lisboa, um pouco antes de entrar em Évora, viramos à esquerda e tomamos a estrada para Arraiolos, para passado pouco tempo encontrar a Quinta Nossa Senhora da Conceição, numa localidade chamada Valbom do Rouxinol, ladeada pelo Aqueduto romano e confinando adiante com a Cartuxa.
Mark e Dorinda Winkelman são os proprietários. Um casal norte-americano residente nos Estados Unidos, que adquiririu a propriedade há um quarto de século e vêm ao Alentejo mais para usufruir e sentir as boas energias do sítio, do que propriamente para gerir alguma coisa. Essa parte está (bem) assegurada pelo seu braço direito Vítor Conceição, administrador, e Eduardo Cardeal, enólogo.
Victor Conceição está à frente do projecto desde 2006. Nascido e criado na cidade de Évora, conhece a região e o valor daquela terra como ninguém: “Esta zona de Valbom, também conhecida por Valverde, onde estamos, juntamente com o Convento da Cartuxa e a Fundação Eugénio de Almeida, possuía as hortas e vinhas que abasteciam a cidade romana de Évora e outras cidades do Império”, ou seja, conta com dois mil anos de tradição, pelo menos.
A propriedade totaliza 60 hectares, sendo apenas 8,5 hectares dedicados à vinha, onde se inclui a famosa Vinha Meia-Lua, com 2,5 hectares, plantada em 2005 numa pequena elevação, aproveitando todo o declive orográfico (280 a 295 metros altitude); solos de argila vermelha com algum xisto, grande espaçamento entre as plantas, cordão duplo a boa altura em relação ao solo, de forma a maximizar a ventilação, exposição e minimizar o risco de doenças fúngicas, coberto vegetal de ervas locais, contribuindo para a diversidade de vida nos solos, bem como evitando a erosão nas filas de vinhas que se encontram no cimo da elevação.
Os restantes seis hectares de vinha, mais recente, inserem-se dentro da mesma filosofia de viticultura, isto é, de acordo com os princípios do cultivo biológico e biodinâmico, uma vez que, é bom lembrar, a Dona Dorinda Organic Wines possui certificação quer na Europa, quer nos Estados Unidos.
Infusões, misturas e sprays biodinâmicos são utilizados na vinha desde 2007, numa fase preventiva, e todos os trabalhos são realizados segundo o calendário lunar; a monda de cachos, efectuada anualmente, é realizada com o objetivo claro de criar vinhos concentrados e com grande capacidade de guarda; vindimas nocturnas são regra da casa, para aproveitar a excelente amplitude térmica do terroir Dona Dorinda, sob clara influência da Serra d’Ossa, a pouco mais de 30 km em linha recta.
O resto da propriedade “é um pequeno paraíso” referem Vítor e Eduardo, mais de duas mil árvores plantadas a pensar nas futuras gerações, e toda a quinta é um ecossistema vivo e vibrante, composto por montado típico alentejano, que serve de alimento aos porcos pretos, onde vacas pastam pacificamente e o estrume produzido alimenta as vinhas. Cães Rafeiro Alentejano descansam pelas sombras durante o dia e guardam a propriedade durante a noite, mas existe também toda uma grande diversidade de pequenos animais, aves autóctones, insectos, etc.
SYRAH E VIOGNIER
Quanto à escolha das castas a plantar, foi a decisão mais fácil de tomar, ou não fosse Mark, para além de um grande conhecedor e colecionador de vinhos do mundo, um apaixonado pelo Rhône e, como tal, não podiam ser outras que não fossem Syrah e Viognier. Podemos questionar-nos se serão, ou não, as castas indicadas para o Alentejo de Évora, especialmente a Viognier, casta com uma acidez natural baixa e que rapidamente dispara os açúcares se não for vindimada no momento exacto, sendo até preferível uma vindima ligeiramente precoce, para não correr o risco de obter um vinho chato, mole e sem vida. Mas a minha opinião é que devemos respeitar sempre a decisão do produtor. Ainda para mais quando é tomada com uma forte componente emocional e de paixão, como foi o caso.
A Dona Dorinda Organic Wines apresentou Pixie, a nova gama de entrada da marca: um branco, um rosé e um tinto criados com o propósito de tornar o universo encantado da Dona Dorinda acessível a mais pessoas, sem perder a autenticidade que distingue cada garrafa da casa. Este lançamento só foi possível graças à recente expansão da área de vinha, que passou de 2,5 hectares para 8,5 hectares, permitindo aumentar a produção e dar origem a novos vinhos que reflectem a mesma paixão, mas agora com uma abordagem mais leve, descontraída e inclusiva.
E afinal de contas quem é a Pixie?! A resposta é clara – Dorinda Winkelman, a proprietária da Quinta Nossa Senhora da Conceição e da Dona Dorinda Organic Wines. Com o seu espírito livre, sensibilidade estética e ligação profunda à natureza, sempre foi apelidada carinhosamente entre amigos e família como “Pixie” – palavra inglesa para “fada”, símbolo de encanto, leveza e magia. E é, precisamente, essa energia que a nova gama pretende engarrafar! Por mim, está mais que conseguido!
(Artigo publicado na edição de Julho de 2025)
ADEGA DE BORBA: Havendo tempo serão mais 70

A Adega de Borba tem sabido, desde que foi fundada, e ao longo dos últimos 70 anos, investir na melhoria do seu sistema produtivo e comercial e da sua oferta, para sustentar, com sucesso, o seu negócio e prepará-lo para os desafios do futuro. Segundo nos contou Óscar Gato, o enólogo desta adega, um dos […]
A Adega de Borba tem sabido, desde que foi fundada, e ao longo dos últimos 70 anos, investir na melhoria do seu sistema produtivo e comercial e da sua oferta, para sustentar, com sucesso, o seu negócio e prepará-lo para os desafios do futuro. Segundo nos contou Óscar Gato, o enólogo desta adega, um dos factores que contribuiu para que os vitivinicultores da região se associassem, em 1955, foi a dificuldade que tinham para a comercialização dos seus vinhos. O outro foi incentivo estatal dado, na época, pela Junta Nacional do Vinho, ao associativismo no sector, que contribuiu para a constituição desta e de outras adegas no Alentejo. Também foi um empurrão fundamental para o seu desenvolvimento e a base do protagonismo que o sector tem hoje na região, dado que sustentou a organização e equipamento das suas unidades industriais e a implementação dos seus sistemas de comercialização.
Os primeiros vinhos da Adega de Borba foram lançados no final da década de 50.
Os primeiros vinhos
Os primeiros vinhos da Adega de Borba foram lançados no final da década de 50. A partir daí, a área de vinha e o número de sócios da Adega de Borba foi sempre crescendo, à medida que iam decorrendo diversas mudanças na sua estrutura produtiva, até ao modelo actual.
Com o tempo as vinhas deixaram de estar consociadas com o olival, algumas árvores de fruto e outras, e passaram a ser estremes. A chegada dos primeiros fundos europeus, na década de 1980, contribuiu para que todas passassem a estar alinhadas e aramadas. Veio também a separação das variedades tintas e brancas no terreno, a plantação por casta, tal como se vê hoje, e a opção por vender o vinho embalado. Era preciso responder a consumidores cada vez mais informados e exigentes, num mercado global que procurava, cada vez mais, produtos de qualidade.
Em paralelo continuou o crescimento da área de vinha, que se estabilizou nos cerca de 2200 hectares actuais há cerca de 20 anos. Desenvolve-se nos concelhos de Borba e Estremoz, mas também se insinua nos de Vila Viçosa, Elvas, Monforte e Sousel, que os limitam. São sobretudo terras de planalto, solos calcários que ficam sobre o Complexo Vulcano Sedimentar Carbonatado de Estremoz, aquele que origina o mármore distinto de Estremoz, que é Pedra Património Mundial pela Unesco. Mas também se desenvolvem num vale de solos xistosos em direção à Serra de Ossa, que ali fica bem perto, a cerca de cinco quilómetros para sudoeste. É sobre estas duas zonas que ficam as cerca de 1600 parcelas de vinha dos associados da Adega de Borba.
Saber acumulado
No ano em que celebra sete décadas desde a sua fundação, a Adega de Borba lançou o vinho comemorativo Havendo Tempo. “Este vinho nasce do tempo que se respeita e do tempo que se guarda”, disse Óscar Gato, enólogo da Adega de Borba, durante o evento de lançamento, acrescentando que “cada garrafa encerra o saber acumulado de décadas e a atenção que dedicamos a cada detalhe, da vinha até à cave”, para criar “um vinho pensado para quem sabe esperar”. Havendo Tempo presta homenagem à filosofia de vida das gentes alentejanas e ao tempo investido em cada garrafa, ao longo de sete décadas de história.
Disponível nas versões tinto 2021 e branco 2023, esta edição especial reflecte o espírito da região e o saber acumulado ao longo de gerações, dado que é um tributo à forma como se vive e trabalha no Alentejo, com calma, atenção ao detalhe e respeito pelo ritmo da natureza. Produzidas a partir de castas tradicionais da região e sujeitas a estágios prolongados em barrica e garrafa, as colheitas desta gama foram pensadas para serem apreciadas com calma, tempo e em boa companhia. Em paralelo também foram apresentadas as edições especiais tintas e brancas do Adega Cooperativa de Borba, rotuladas com imagem antiga destes vinhos.
(Artigo publicado na edição de Julho de 2025)
Quinta do Noval: Para além do Porto Vintage…

A Quinta do Noval é uma das mais icónicas e respeitadas propriedades vitivinícolas da região do Douro, com uma história que remonta ao século XVIII. Localizada em Vale de Mendiz, no coração da região demarcada do Douro, beneficia de um terroir único, caracterizado por solos de xisto e uma exposição solar privilegiada, que conferem, aos […]
A Quinta do Noval é uma das mais icónicas e respeitadas propriedades vitivinícolas da região do Douro, com uma história que remonta ao século XVIII. Localizada em Vale de Mendiz, no coração da região demarcada do Douro, beneficia de um terroir único, caracterizado por solos de xisto e uma exposição solar privilegiada, que conferem, aos seus vinhos, uma identidade distinta. No ano de 1993 entrou numa nova fase da sua história, quando foi adquirida pelo grupo francês AXA Millésimes. Esta integração, liderada por Christian Seely, marcou o início de um período de forte investimento, renovação e reafirmação da identidade da Quinta do Noval como referência de qualidade e inovação no setor vitivinícola.
A casa tornou-se particularmente célebre pelo seu lendário Porto Vintage Nacional, um vinho raro produzido a partir de uma pequena parcela de vinhas velhas não enxertadas. “Desde 2011 que declaramos todos os anos um Porto Vintage Quinta de Noval, apenas e só porque tivemos a oportunidade de, em cada ano, fazer pelo menos uma pequena quantidade de vinho que teve a qualidade necessária para ser declarada como tal. Estamos perfeitamente sensíveis e muito conscientes do privilégio e responsabilidade de gestão da Quinta do Noval. Já no caso do Vintage Quinta do Noval Nacional só sai mesmo nos anos em que o consideramos monumental, como é o caso do 2023 que vamos provar hoje”, contou Christian Seely no dia do lançamento. Para além dos vinhos do Porto e da aposta crescente nos vinhos Douro, a Quinta do Noval também produz azeite de elevada qualidade, proveniente de seis hectares de olival cultivados com as variedades tradicionais portuguesas: Cordovil, Verdeal e Madural.
O azeite é produzido a partir de azeitonas colhidas manualmente e prensadas a frio, garantindo a preservação dos aromas e sabores naturais da fruta e um produto de excelência. Em 2019, a Quinta do Noval deu um passo estratégico importante ao adquirir a Quinta do Passadouro, propriedade vizinha situada também em Vale de Mendiz. A aquisição da Quinta do Passadouro permitiu à Quinta do Noval expandir a sua área de vinha de 145 para 181 hectares, consolidando-se como uma das maiores propriedades da região.
A aposta forte nos Douro
Num dia fresco de primavera fomos recebidos na lindíssima propriedade da Quinta do Noval pelo enólogo Carlos Agrellos, o CEO Christian Seeley e a Brand Embassador Ana Carvalho. A ocasião revelava-se de festa por dois momentos muito especiais. Por um lado, a apresentação dos novos Portos Vintage 2023, incluindo o lendário Noval Nacional. Por outro e não menos importante, o lançamento e prova de vários vinhos brancos e tintos, fruto de uma estratégia recente de forte aposta na produção de vinhos Douro, com a construção de uma adega com capacidade para umas impressionantes 1100 barricas que tivemos o privilégio de visitar. “Estávamos muito focados nos vinhos do Porto e o mercado, maioritariamente o premium onde nos posicionamos, pedia-nos vinhos de mesa, sobretudo brancos, dos quais tem aumentado significativamente a procura nos últimos anos. Com a construção deste armazém para armazenamento e envelhecimento de vinhos de mesa, contamos chegar às 400 mil garrafas produzidas”, refere Carlos Agrellos.
A diversidade e quantidade de barricas e a vinificação por castas, na sua maioria, permite criar o perfil desejado em cada vinho. Nota-se também, nos novos vinhos provados que daremos destaque nesta peça, uma menor extração, sem perder o caráter único do terroir e a capacidade inegável de evolução que os vinhos possuem em garrafa. Após a visita e antes de um almoço que foi acompanhado por diversas preciosidades da garrafeira particular de Christian Seely, as entradas foram servidas sob a sombra do majestoso Cedro da Quinta do Noval. Com sua imponente estatura, esta árvore centenária domina a paisagem da propriedade, guardião silencioso da história da quinta, testemunha de muitas gerações que trabalharam ali e cuidaram da terra com dedicação. E foi neste cenário que provámos alguns dos brancos de colheitas anteriores, para atestarmos a sua evolução positiva. E que bem que estavam!
Nota: O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico
(Artigo publicado na edição de Julho de 2025)
Um Menin muito especial

Foi preciso pouco tempo para o produtor Menin Wine Company se tornar um nome de peso no que ao Douro diz respeito. A empresa tornou-se realidade em 2018, quando o empresário brasileiro Rubens Menin decidiu investir seriamente na região no Douro. Como começámos por escrever, em pouco tempo passou a ser nome conhecido, quer pelas […]
Foi preciso pouco tempo para o produtor Menin Wine Company se tornar um nome de peso no que ao Douro diz respeito. A empresa tornou-se realidade em 2018, quando o empresário brasileiro Rubens Menin decidiu investir seriamente na região no Douro. Como começámos por escrever, em pouco tempo passou a ser nome conhecido, quer pelas aquisições de vinhas quer pela adega imponente que decidiu construir, inaugurada recentemente. Em 2021, a Menin Wine Company adquire a Horta Osório Wines, conjugando atualmente essa tradicional casa de Santa Marta de Penaguião (Baixo Corgo) com a Quinta da Costa de Cima, Quinta do Sol e Quinta do Caleiro, todas em redor de Gouvinhas (Cima Corgo), onde também fica a referida adega. No total, só destas últimas três propriedades falamos em praticamente 65 hectares. O destaque vai para a magnífica Quinta da Costa de Cima, com os seus 11 hectares de vinhas plantadas há mais de 100 anos, com mais de 50 castas identificadas, sendo considerada a maior área contígua de vinhas velhas na região.
Trabalho de detalhe
Se os investimentos falam por si, a ambição é também expressa nas palavras da diretora geral da empresa, Fásia Braga. O objetivo, segundo Fásia, é produzir vinhos de gama alta, que reflitam o terroir duriense, privilegiando a qualidade em vez da quantidade. A equipa de enologia é formada por Tiago Alves de Sousa e Manuel Saldanha (este o enólogo residente) e ainda por João Rosa Alves, diretor de produção. Em conversa recente com Tiago e Manuel, estes não disfarçaram a alegria da prorrogativa de puderem trabalhar com vinhas centenárias e destacaram a versatilidade e modernidade da adega que lhes permite fazer um trabalho tanto de absoluto detalhe, como experimental e ensaísta. Segundo Tiago, “a enorme responsabilidade que nos foi depositada em fazer vinho nestas vinhas e nesta adega apenas se equipara ao privilégio que é trabalhar nessas vinhas e adega”.
O objetivo desta empresa é produzir vinhos de gama alta, que reflitam o terroir duriense, privilegiando a qualidade em vez da quantidade
Essa conversa teve lugar no restaurante Nunes Marisqueira (Lisboa), aquando do lançamento do vinho Maria Fernanda, um néctar dedicado por Rubens Menin à sua filha, um tinto assente, precisamente, nas vinhas velhas das encostas ingremes da Quinta da Costa. As uvas para este tinto foram selecionadas a partir de duas micro-parcelas voltadas a Nascente, onde a luz da manhã, e a sombra da tarde, permitiram um perfil mais em frescura e elegância, comparativamente com outros tintos do mesmo produtor. Aqui, no Maria Fernanda, encontramos essencialmente precisão e um perfil de concentração moderado, o que muito nos agradou. Segundo os enólogos, este perfil do vinho é marcado essencialmente pelo field blend que o compõe e pela altitude da vinha, mas acreditamos que a recente inclinação do mercado para vinhos menos concentrados também possa ter alguma influência. Seja como for, as vinhas velhas de onde provém as uvas para este vinho têm uma média de idade de 130 anos e contam com mais de 50 castas, que se harmonizam num field blend único onde, a par da Touriga Nacional e da Tinta Amarela, se encontra muita Tinta Barroca. Casta que, curiosamente, neste terroir contribui para uma fruta bonita e definida, longe do perfil de sobrematuração e doçura que aporta na maioria dos terroirs durienses, sobretudo à beira-rio.
Como se imagina, para um vinho desta qualidade e exigência, estão guardados todos os cuidados, seja na apanha à mão, no transporte das uvas em pequenas caixas, seja ainda no armazenamento da fruta em arcas refrigeradas de forma a que todo o processo de entrada na adega se inicie apenas quando a uva está a uma temperatura de 7ºC. Por fim, a qualidade do ano vitícola – climatericamente mais moderado do que 2019, 2020 e 2022 – contribuiu ainda mais para que tenhamos no copo um tinto de grande precisão, de tal forma que poucas dúvidas me restam de que foi o melhor tinto que já provei deste produtor.
* O autor deste texto escreve segundo o novo acordo ortográfico.
(Artigo publicado na edição de Junho de 2025)
BARCOS WINES: Um Loureiro muito especial

Presentes no nosso País desde o século XIX, as acácias foram trazidas para Portugal como espécies ornamentais pela beleza da sua floração, destacando-se pelas suas flores amarelas de tom vivo, assim como pelo valor da madeira e dos taninos da casca, tradicionalmente usados no curtimento de peles. A sua madeira é muito resistente, durável e […]
Presentes no nosso País desde o século XIX, as acácias foram trazidas para Portugal como espécies ornamentais pela beleza da sua floração, destacando-se pelas suas flores amarelas de tom vivo, assim como pelo valor da madeira e dos taninos da casca, tradicionalmente usados no curtimento de peles. A sua madeira é muito resistente, durável e possui elevada quantidade de resina, tendo sido usada por diferentes culturas para produzir vários produto e sendo hoje amplamente utilizada para variadíssimos tipos de propósitos, incluindo mobiliário, utensílios de cozinha, construção de canoas e outros barcos, instrumentos musicais e, claro está, barricas para vinho.
No terroir único da sub-região do Lima, no Alto Minho, região dos Vinhos Verdes, o vale do Rio Lima é o território de excelência para a produção de vinhos brancos da casta Loureiro, situando-se entre os concelhos de Arcos de Valdevez e Ponte da Barca. É uma zona com enorme influência dos ventos marítimos do Atlântico, devido à sua proximidade do mar (cerca de 40 km), com elevados níveis de precipitação durante o período de crescimento e solos graníticos e férteis. As temperaturas elevadas e índices significativos de humidade favorecem a maturação da uva, proporcionando vinhos frutados, de moderada graduação alcoólica, aroma delicado, mineralidade e frescura.
Desde 1963 que a Adega Cooperativa de Ponte da Barca e Arcos de Valdevez cuida de um património único em todo o mundo, localizado no coração da região dos Vinhos Verdes, um território com mais de 2000 anos de história de viticultura. Da junção de dois dos seus nomes resultou “Barcos Wines”, empresa que continua a produzir os seus vinhos num modelo de cooperativa, com forte compromisso com a comunidade e mantendo vivas as raízes e tradições das terras a que pertence. Num território dominado pelo minifúndio, a Adega possui cerca de 800 associados, que representam 900 hectares de vinha em produção de uva, sendo que a média por agricultor não ultrapassa o hectare e meio.
José Antas Oliveira é o enólogo e director geral da Barcos Wines que, nos dias de hoje, representa 6,5 milhões de unidades vendidas, entre vinho engarrafado e Vinho Verde certificado em lata, agora que a região dos Vinhos Verdes entendeu a importância destes novos formatos e criou uma regulamentação específica para os acomodar, numa demonstração de pioneirismo e visão.
No terroir único da sub-região do Lima, no Alto Minho, região dos Vinhos Verdes, o vale do Rio Lima é o território de excelência para a produção de vinhos brancos da casta Loureiro
O Loureiro e a acácia
A Loureiro é uma das castas portuguesas com maior carácter floral. Elegante e aromática, produz vinhos de cor citrina e lembra, muitas vezes, flor de laranjeira, rosas e frésias, fruta citrina, limão principalmente, sempre com excelente acidez. E porquê a madeira de acácia? Neste caso a proveniente de florestas do Norte de França realça a fruta nos vinhos brancos, conferindo-lhes maior cremosidade e redondez, sem os taninos mais marcantes ou as nuances fumadas do carvalho, referiram Bruno Almeida e Patrícia Pereira, director de Marketing e directora de Qualidade da Barcos Wines. Um Loureiro que estagia em carvalho adopta “um perfil elegante, mineral e repleto de sabor, onde as leves notas de carvalho abraçam os aromas cítricos e florais da casta”, e, neste vinho, aporta “delicados aromas de especiarias e eleva a pureza dos aromas florais e cítricos da casta Loureiro, respeitando a sua essência e enriquecendo-a com maior complexidade e elegância”, acentuam. E foi assim que, em Lisboa, no espaço multicultural, charmosamente decadente, da antiga Fábrica de Pólvora do Braço de Prata, nos foi apresentado o vinho Acácia, da Barcos Wines.
Mas as coisas começam-se pelo princípio, ou pelo menos assim deve ser, e, nesse dia, começaram com o espumante Loureiro, feito pelo método Charmat (a segunda fermentação é feita em grandes tanques de aço inox em vez de ser em garrafa, como no método tradicional), um espumante jovial e frutado, de perfil cítrico, bolha fina e mousse suave, com acidez viva, seco e bem saboroso. É de salientar que a categoria espumante representa entre 20 a 30 mil garrafas de venda anual. Um número bastante considerável, portanto.
De seguida percorremos os varietais de Loureiro do universo Barcos Wines, desde o Loureiro Premium 2023, um vinho fresco, tenso e seco, onde a doçura não tem lugar, o Reserva dos Sócios 2018, vívido e envolvente, com elegantes notas da barrica de carvalho, o “vinho do Zé” (Zé Inconformado 25 anos, de 2021), sempre um destaque, um vinho bem estruturado com aromas de fruta de caroço, mel e baunilha, boa mineralidade e acidez, e o Inusitado 2021, um branco de curtimenta fermentado com as películas, seguido de um estágio em madeira de castanho, pleno de identidade, rico, sério e suculento. E eis-nos chegados à nova coqueluche da Adega, o Acácia Loureiro 2022, aquele que “(…) pode muito bem ser o nosso melhor Loureiro de sempre…”!, nas entusiásticas palavras dos seus responsáveis.
Estágio sobre “lias”
O estágio antes do engarrafamento, ou a ausência dele, é sobremaneira decisivo para moldar o perfil final de um vinho. Mais até do que a sua duração, é o material escolhido – madeira, cimento ou inox –, e o formato do recipiente – barrica, ânfora, ovo ou cuba –, assim como o seu tamanho, que, aliados ao terroir de origem, mais impactam e conferem ao vinho a sua identidade única.
Acresce que se o vinho estagiar sobre borras finas, ou, à francesa, sur lies, aumenta a sua complexidade aromática e, sobretudo, a sua estrutura e untuosidade em boca.
As borras finas, para o leitor menos familiarizado com estas terminologias, são agentes naturais do vinho, leveduras que se depositam no fundo da barrica durante o estágio, mas que são regularmente trazidas à suspensão através de diferentes técnicas como revolver o vinho com um bastão, por exemplo, para que as ditas borras finas aumentem o seu contacto com o vinho e, assim, lhe confiram maior complexidade, produzindo um importante melhoramento sensorial através de um aumento de gordura, suavidade e volume.
Já cantava a saudosa Amália Rodrigues para nos deixarmos de francesismos em “Lisboa, não sejas francesa…”, e, desta feita, com a língua de Camões a não ajudar lá muito com a expressão “borras” (finas), optou-se pela inscrição no rótulo do Acácia “Sobre Lias”, afinal a Galiza é logo ali, e é praticamente uma extensão natural de Portugal, e da região do Minho em especial.
E ficou muito bem assim, diga-se.
No Acácia Loureiro, as uvas sofreram maceração pelicular e o vinho acabou de fermentar e depois estagiou 12 meses sobre lias, em barricas novas de madeira de acácia (uma barrica de 225 l de acácia e um barrica de 400 l de carvalho francês com tampos de acácia). Foram engarrafadas 795 garrafas numeradas, que repousaram durante 18 meses antes de serem lançadas para o mercado. Belos tempos, dinâmicos e ousados vive a casta Loureiro lá para as bandas do Minho nestes dias. Brindemos, pois!
(Artigo publicado na edição de Maio de 2025)
Quinta de Castelares lança vinho branco exclusivo

A Quinta de Castelares, empresa produtora de vinhos do Douro, vai lançar, no mercado, o seu vinho Quinta dos Castelares Summer, criado em parceria com a empresa Eugenia Lopes e Filhos, distribuidora sedeada em Neiva. O evento vai-se realizar no dia 23 de Junho de 2025 entre as 16 e as 19 horas no Dolce […]
A Quinta de Castelares, empresa produtora de vinhos do Douro, vai lançar, no mercado, o seu vinho Quinta dos Castelares Summer, criado em parceria com a empresa Eugenia Lopes e Filhos, distribuidora sedeada em Neiva.
O evento vai-se realizar no dia 23 de Junho de 2025 entre as 16 e as 19 horas no Dolce Sapore, em Esposende.
“Trata-se de um branco criado em exclusivo para este distribuidor, que nos solicitou a produção de um vinho para a época quente, que será comercializado numa garrafa serigrafada, com uma imagem distinta e atractiva, que apela aos sentidos”, revela Pedro Martins, director da Quinta de Castelares.
Explica, também, que é um “vinho apelativo no nariz, com muitos aromas florais e frutados, como abacaxi, que tem, na boca, boa acidez crocante, frescura, num vinho de final seco, sendo um vinho para beber com peixe, uma salada, mesmo uma tapas de fim de tarde”.
VINEVINU: Cerdeira com muita Alma

O que distingue um vinho da bebida que resulta da fermentação do mosto é a sua alma. A alma de um vinho faz-se, não só das suas características organoléticas, da harmonia dos seus sabores, da interação com os aromas, da forma e momento como é consumido, mas também dos princípios que o norteiam, que estão […]
O que distingue um vinho da bebida que resulta da fermentação do mosto é a sua alma. A alma de um vinho faz-se, não só das suas características organoléticas, da harmonia dos seus sabores, da interação com os aromas, da forma e momento como é consumido, mas também dos princípios que o norteiam, que estão na sua Génese. Vinho que tem alma, que tem uma alma cheia, também tem, por detrás, uma missão, uma visão, e um conjunto de valores.
A Vinevinu assenta sobre dualidades e conjuntos de dualidades. É vinha e vinho. É filho e pai Cerdeira. É Terroir Marítimo e de Montanha. É Alvarinho, é Loureiro, é Arinto e é Maria Gomes
Os atores
Uma equação com o Manuel e o Luís como numeradores e o apelido Cerdeira como denominador. Luís Cerdeira dispensa grandes apresentações. Uma referência incontornável da região dos Vinhos Verdes, com uma experiência consolidada em mais de 30 vindimas, tendo trabalhado na Comissão Vitivinícola da região e sido uma das figuras de proa da marca Soalheiro. O Luís é, indiscutivelmente, um dos expoentes máximos do Alvarinho.
Manuel é o filho primogénito do Luís. Não alheio ao percurso do pai e ao êxito da empresa da família, Manuel decidiu procurar conhecimento académico numa paragem “pouco clássica”. Foi no Reino Unido que se licenciou em Viticultura e Enologia e consolidou o que foi aprendendo ao longo das muitas vindimas efetuadas em Melgaço e noutras regiões aquém e além-fronteiras. Durante o seu percurso académico, foi cofundador de uma iniciativa fora da caixa, “Not Yet Named Wine Co”, que envolvia os amantes de vinhos aos processos de vinificação. Escutando-o é fácil depreender “Not Yet”, mas muito possivelmente num horizonte não muito distante que, de simples numerador, passará também a potência na região.
A Vinevinu surge no seio deste elenco com o propósito de idealizar e produzir vinhos que expressem a vinha de onde nascem e potenciem, ao máximo, os diferentes terroirs, adequando, para isso, o devido trabalho enológico que reforce essa diferenciação e mais-valia. Para o Luís, certamente que esta experiência o fará reviver o que sentiu, quando saído da universidade, foi acolhido pelo pai no projeto Soalheiro que, então, ainda estava distante do que é hoje. É pois uma partilha de testemunho, mas agora no lugar oposto.
Os palcos
A história desenrola-se na vasta região dos Vinhos Verdes, onde é possível encontrar e potenciar uma imensidão de terroirs. A Vinevinu pretende explorar dois distintos: por um lado, a proximidade do mar, a influência atlântica e, por outro, as vinhas de montanha, abrigadas da influência atlântica pelo relevo e a altitude.
A Vinevinu assentou praça em Requião, perto de Famalicão, o seu Terroir Marítimo. Aí encontrou, simultaneamente, as condições ideais para produzir de imediato e poder crescer. Mais concretamente, procedeu a um arrendamento a 20 anos das vinhas, de terra e da adega da Casa de Compostela para produzir com base numa boa adega e nos 17 ha de vinha existente, com o objetivo de potenciar, conservar e renovar. E crescer com base em 21ha de vinha que serão plantados já em 2025. Requião está somente a cerca de 20 km do mar e tem um relevo suave que não corta a influência atlântica. Os solos são de origem granítica, com alguma argila, contando ainda com nível bastante considerável de matéria orgânica. Destas premissas resultam solos de fertilidade relativamente elevada.
Monção e Melgaço ficam mais no interior da região dos Vinhos Verdes. Fisicamente, o relevo corta a influência atlântica. O Terroir de Montanha da Vinevinu tem solos graníticos, sem argila e mais pobres. As vinhas eleitas foram cultivadas em altitude e de proprietários com quem a família Cerdeira nunca teve parceria de produção de uvas. Em 2025, Luís e Manuel pretendem iniciar o projeto de construção da adega em Melgaço.
Do pouco que vimos, não tardará muito para que a Vinevinu seja reconhecida pela excelência, empenho e inovação na produção de vinhos com Alvarinho.
A meta
Da conversa que tive com o Manuel e o Luís depreende-se, com facilidade, que a Vinevinu sabe onde quer chegar e o caminho que quer trilhar. Conhecendo bem a versatilidade da casta Alvarinho, tanto vitícola, como enológica, pretendem produzir vinhos que se distingam na região dos Vinhos Verdes. Do pouco que vimos na adega e da visão partilhada da viticultura da região, não tardará muito para que a Vinevinu seja reconhecida pela excelência, empenho e inovação na produção de vinhos com Alvarinho.
Como referido, o propósito inicial da visita foi conhecer o projeto. Não tinha a ideia de escrever um artigo. Na realidade, integrei-me num grupo que foi com o mesmo objetivo: saber o que Luís Cerdeira andava a fazer. Visitámos a adega, conversámos com vista e sobre a vinha, atual e futura. E conhecemo-nos uns aos outros.
Tudo o que via e ouvia dava a sensação de que alguma lógica, algum fio condutor unia os conceitos, os detalhes do projeto. E não tardou a ficar evidente que a Vinevinu assenta sobre uma dualidade ou conjuntos de dualidades.
Vinevinu é vinha e vinho. É filho e é pai. É Terroir Marítimo e Terroir de Montanha. É Alvarinho, é Loureiro, é Arinto e é Maria Gomes. Perspetiva-se que venha a ser também Espadeiro e Padeiro. Fermenta em inox e em foudres de madeira. Estagia em Ovos de Cimento e em Barricas Mixtus. Mixtus é o nome dado a barricas exclusivas da Vinevinu, especialmente projetadas para incorporar um conceito único de mistura de madeiras. Cada barrica é construída combinando aduelas (as tábuas de madeira que formam o corpo da barrica) de diferentes tipos de madeira e origens. Por exemplo, pode-se alternar entre aduelas de carvalho português e carvalho francês, ou combinar carvalho português com castanheiro português, entre outras possibilidades. Essa abordagem permite criar barricas personalizadas que conferem características únicas e complexas aos vinhos.
Depois de me ver neste emaranhado de dualidades, lembrei-me de Agatha Christie e de Arthur Conan Doyle. Mas vou quebrar este ciclo. Prometo escrever um e um só artigo.
O autor deste artigo escreve segundo o novo acordo ortográfico
(Artigo publicado na edição de Maio de 2025)
Casa da Tapada: Novidades de um lugar com história

A apresentação dos novos vinhos da Quinta Casa da Tapada decorreu no restaurante Santa Joana, que ocupa o espaço de uma antiga igreja da rua de Santa Marta, em Lisboa. Para além dos quatro vinhos brancos, um deles um espumante da vindima de 2019 com 48 meses de estágio sobre borras, foi apresentada a nova […]
A apresentação dos novos vinhos da Quinta Casa da Tapada decorreu no restaurante Santa Joana, que ocupa o espaço de uma antiga igreja da rua de Santa Marta, em Lisboa. Para além dos quatro vinhos brancos, um deles um espumante da vindima de 2019 com 48 meses de estágio sobre borras, foi apresentada a nova imagem da marca, mais adaptada aos objectivos da empresa e ao mercado.
Propriedade de charme
Há muito que Luís Serrano Mira, proprietário da Serrano Mira, grupo que detém a Herdade das Servas, no Alentejo, e a Casa da Tapada, nos Vinhos Verdes, ambicionava fazer vinho fora do Alentejo. O objectivo concretizou-se em 2018, com a aquisição da última, uma propriedade de charme no concelho de Amares, Região dos Vinhos Verdes, compra feita em parte com base emocional, já que um dos grandes amigos do seu avô produzia lá vinhos. “Esta amizade especial da família com um produtor de Vinho Verde contribuía para que houvesse sempre vinho da região à mesa, que eu aprendi a gostar desde cedo”, explica Luís Mira.
Situada em Fiscal, Amares, a Casa da Tapada inclui um solar imponente, uma mata centenária com 10 hectares e um património botânico diversificado. A propriedade tem 24 hectares, dos quais 12 são de vinha.
O edifício foi mandado erguer pelo poeta e conhecido humanista Francisco de Sá de Miranda, responsável pela introdução do movimento literário renascentista no nosso país, que ali se instalou, com quase 50 anos, em 1530 e começou a produzir vinho depois de alguns anos de vida em Lisboa. Com onze quartos, o solar da Casa da Tapada foi erguido em 1540 e ampliado por duas vezes, a primeira no século 17 e a segunda no século 19.
Lugar com história
Luis Mira contou, durante a apresentação, que a maior parte da obra do poeta foi escrita na Casa da Tapada e que ainda hoje existem os lagares usados no século 16. Essa foi outra das razões que o levou a aproveitar a oportunidade de compra da quinta, “porque é ainda melhor produzir vinho num lugar com história”. O solar, classificado como Imóvel de Interesse Público em 1977, tem um valor histórico-cultural que pesou no investimento feito pela família Serrano Mira. Ali existem, ainda, as Casas da Eira e da Confraria, a Capela de Nossa Senhora da Guia, para além da adega e da loja de vinhos.
Quando a propriedade foi adquirida, a vinha estava praticamente abandonada e as suas plantas estavam espalhadas em pequenos patamares, difíceis de reconverter e de trabalhar. Por isso foi feita a sua reconversão, e alargados os patamares para dimensões exequíveis para o maneio adequado da vinha, tendo em conta a sua rentabilidade. Também foi adicionada a casta Alvarinho, que na região de Amares se chama Pedernã, às que já existiam ali, o Alvarinho e o Loureiro. Dão origem a duas marcas de vinho: Capela da Tapada, produzida também com uvas de parceiros, e Quinta Casa da Tapada.
(Artigo publicado na edição de Abril de 2024)