Em 1834, Joseph Krug recebeu e aceitou uma proposta de trabalho endereçada pelo representante alemão de uma das mais prestigiadas casas de champanhe da altura, a Jacquesson & Fils. A oportunidade de integrar o borbulhante setor era demasiado atraente e aliciante para declinar. Ao longo dos nove anos seguintes, Joseph Krug ficou a conhecer bem […]
Em 1834, Joseph Krug recebeu e aceitou uma proposta de trabalho endereçada pelo representante alemão de uma das mais prestigiadas casas de champanhe da altura, a Jacquesson & Fils. A oportunidade de integrar o borbulhante setor era demasiado atraente e aliciante para declinar.
Ao longo dos nove anos seguintes, Joseph Krug ficou a conhecer bem de perto os interstícios do negócio que, na altura, se desenvolveu muito rapidamente, dentro e fora das fronteiras francesas. Aparentemente, desempenhou tão diligentemente as suas funções que acabou por integrar a sociedade da empresa. No entanto, na cabeça de Krug fermentava uma ideia que viria a mudar radicalmente a sua vida profissional.
A Krug et Cie foi criada em 1843 com o objectivo de lançar anualmente no mercado os melhores champanhes que pudesse produzir, independentemente das variações climáticas.
Minúcia apurada
Em 1843, ele e um associado criaram a empresa Krug et Cie, tendo por base uma ideia forte destinada ao sucesso: lançar anualmente no mercado os melhores champanhes que pudessem produzir, independentemente das variações climáticas. No entanto, para consubstanciar esta ideia, teve de implementar uma organização relativamente diferente do habitual.
As empresas que operam em Champanhe obtêm a maior parte de suas uvas de produtores externos. Normalmente, as casas contratam um fornecedor para uma determinada quantidade de uvas, especificando a casta e o local de origem. No entanto, a Krug opera de uma forma um pouco diferente das restantes. Com base na experiência acumulada, percebeu que a especificidade parcelar de proveniência das uvas aportava uma melhoria significativa de qualidade. Assim, para garantir que recebia as uvas das parcelas que pretendia, celebrou contratos isolados com os proprietários de cada parcela individual, especificando a superfície exata e a quantidade de uvas fornecidas, o que obrigou a um trabalho infinitamente superior e de minúcia apurada. Para além deste lavor de extremo pormenor na compra da matéria prima, Joseph Krug implementou um curioso sistema de duplo cuvée, com o mesmo nível de importância e qualidade, um leve cuvée légère e outro encorpado cuvée corsée, com a composição de ambos a ajustar-se ao ano agrícola, e o licor de expedição a ser adaptado às preferências do cliente.
O primeiro dos dois cuvées recebeu o nome de Private Cuvée, em 1861, que foi alterado para Grande Cuvée em 1978. A casa Krug fez seu primeiro Champagne Vintage em 1904. Este duplo sistema, idealizado por Joseph Krug, foi transmitido de geração em geração e continua a ser, até aos dias de hoje, a impressão digital da empresa.
Mais tarde, em 1983, foi adicionado ao portefólio um Champagne rosé. Só depois foram lançados os famosíssimos e muito ambicionados néctares provenientes de um único vinhedo, o Clos du Mesnil, em 1986 e o Clos d’Ambonnay, em 2007.
A Krug no Gaveto
Nos últimos anos, a Krug iniciou uma nova tradição mundial que consiste em convidar a comunidade global de chefes de cozinha a interpretar um único ingrediente, elaborando receitas inesperadas para acompanhar o Krug Grande Cuvée ou o Krug Rosé. Em 2024, a empresa celebrou a elegância delicada, a diversidade requintada e o potencial incomparável da flor.
Curiosamente, o evento no nosso país ocorreu no restaurante o Gaveto, de Matosinhos, que este ano comemorou o quadragésimo aniversário e se apresentou como o maior vendedor nacional deste produto. Para João Silva, membro da família proprietária do restaurante, “este é o ponto alto das comemorações dos nossos quarenta anos de existência”.
O jantar comemorativo deu o mote para a apresentação de duas novas referências da Krug, a 172ª edição do Grande Cuvée e a 28ª edição do Rosé. No final da refeição, os participantes ainda foram brindados com uma surpresa, um Krug Vintage do ano 2000.
Para André Alves, o embaixador da marca no nosso país, “estes são os vinhos que representam a visão do nosso fundador, de olhar para cada uma das parcelas da região individualmente e escolher apenas as melhores”.
Curiosamente, também o restaurante Gaveto aplica a mesma filosofia, não nas vinhas, mas na escolha da matéria prima com que elabora os diversos pratos. Assim, apenas adquirem os produtos aos fornecedores que apresentam as melhores e mais exclusivas mercadorias, o que leva a uma aturada procura e longa escolha.
Foi uma noite que ficará na memória, como confirmação da qualidade dos produtos e da força das ideias.
Mário Sérgio é um homem instintivo e sonhador. A família, desde sempre, foi a argamassa que o moldou e transformou naquilo que o define hoje, um agricultor criador de vinhos enormes. A notoriedade jamais lhe toldou o raciocínio. É na família que encontra a segurança e daí nunca ter adquirido uma propriedade sem antes ter […]
Mário Sérgio é um homem instintivo e sonhador. A família, desde sempre, foi a argamassa que o moldou e transformou naquilo que o define hoje, um agricultor criador de vinhos enormes. A notoriedade jamais lhe toldou o raciocínio. É na família que encontra a segurança e daí nunca ter adquirido uma propriedade sem antes ter a bênção de Abel, seu pai.
Bernardo, dandie errante que passou pela Bairrada, tinha uma estima profunda pela Quinta das Bágeiras. Encontrado por Mário Sérgio a trabalhar no Mugasa, na aldeia da Fogueira, em boa hora o leva para junto de si, assumindo quase uma função de seu cuidador. Versado no inglês falado e escrito, foi um importante impulso aos primeiros tempos, permanecendo nas Bágeiras até ao seu fim terreno.
Nos últimos tempos de vida, Bernardo insistia com veemência para que Mário Sérgio comprasse uma determinada vinha em Mogofores. Uma insistência que, no entanto, não lhe aguçou a curiosidade. O assunto foi esmorecendo e acabou esquecido. Num frio dia de Dezembro, Bernardo entrega-se ao Criador e vai a enterrar, com a família das Bágeiras a acompanhá-lo até à sua derradeira casa. Nesse mesmo dia, alguém se aproxima de Mário e diz-lhe: “Sr. Mário, tenho uma vinha para vender, mas a minha família só aceita vendê-la se for a si”. Mário estranhou a abordagem, hesitou, mas disse que, no dia seguinte iria vê-la com o seu pai. Dito e feito, logo pela manhã puseram-se a caminho e, lá, encontraram a vinha que Bernardo lhe havia confidenciado desejar que adquirisse, situada num local mágico que tantas vezes Mário via de longe e dizia para o seu pai, “ainda vamos ali comprar uma vinha!”. E o que a torna ainda mais especial? As suas características de composição de solos, exposição solar e orientação são absolutamente siamesas à sua vinha de Ancas, donde nasce… o Pai Abel tinto.
Mário e Frederico Nuno. De pai para filho, a Quinta das Bágeiras recria-se, refina-se, mantendo inamovível toda a solidez e princípios que definem uma casa familiar.
Mário Sérgio nunca comprou uma vinha sem a bênção de Abel, o seu pai.
Transição geracional
A apresentação comemorativa dos 35 anos da Quinta das Bágeiras, ocorrida por estes dias, marca o início de uma transição geracional. Desde 1989 e até ao seu falecimento, Rui Moura Alves foi o enólogo assumido das Bágeiras. O “Sr. Rui”, não sendo enólogo de formação, praticou-a, desde os anos 60 nas mais prestigiadas casas da Bairrada, algumas entretanto desaparecidas. Com ele nasciam vinhos austeros, fermentados com engaço, duros e bem protegidos da oxidação. Se, nos primeiros anos, eram difíceis e exigentes, volvidos muitos e muitos anos, como que renasciam para mostrar todo o encanto longevo da Bairrada. E, nas últimas três décadas, foi esse o perfil intransigente que transmitiu aos vinhos e espumantes. Somente nos últimos anos se tornou mais permissivo, passando a ouvir Mário Sérgio e a interpretar nos vinhos os seus desejos. Provavelmente, sentia-o, somente agora, preparado para seguir o seu caminho.
Entretanto, Frederico Nuno, o filho de Mário, licencia-se em enologia e passa a acompanhar mais de perto, não apenas a feitura dos vinhos, mas todos os trabalhos de vinha, ainda monitorizados de perto pelo seu avô Abel. Pouco a pouco, é a sua formação e conhecimento técnico que vão deixando marca e, nos vinhos ora apresentados – Quinta das Bágeiras Grande Reserva 2019, Pai Abel branco 2022 e Pai Abel tinto 2017 – ela já é notória.
A transição ainda não é plena, mas a verdade é que já se sente uma outra mão que ajuda a embalar cada um deles. Não será uma mudança de estilo de uma casa que ostenta orgulhosamente a virtude de apenas produzir vinhos de uvas próprias, mas há um refinamento absoluto, transformando aquilo que anteriormente revelava algumas arestas, austeridade e cariz rústico, em vinhos quase imaculados e tocados pelo Divino.
o edifício e adega da Quinta das Bágeiras em Sangalhos.
Pai Abel 2017, na sua versão tinto, é uma edição limitada (1600 garrafas) de um vinho de apenas uma parcela. Num futuro próximo, este número reduzido de garrafas irá crescer, se a vinha siamesa da original de Ancas conferir à uva a qualidade que se lhe exige para aumentar a produção deste vinho de topo da casa. 2017 permitiu acuidade plena na escolha do dia perfeito para vindima. As chuvas chegaram tardiamente, já a tocar Novembro, fator que, na Baga se mostra fundamental para ajuizar um grande ano. Já a Touriga Nacional, que tempera levemente o vinho, não é dada a tais humores. Maior rigor, estágio longo em barricas avinhadas de 225 litros e um descanso de alguns anos em garrafa trouxeram-lhe a fineza e elegância que só o tempo e a região ajudam a transformar em vinhos de culto.
É no Pai Abel branco 2022 que se revela, de modo mais notório, a transição na enologia. Para Frederico Nuno, é no controlo de temperatura que se definem os pequenos detalhes daquilo que faltava fazer na Quinta das Bágeiras. Um refinamento que atinge o seu ponto alto num sublimado Quinta das Bágeiras Grande Reserva, um Bruto Natural da colheita de 2019, elaborado com as locais Maria Gomes e Bical, resultando naquele que, muito provavelmente, será o mais perfeito espumante alguma vez criado naquela aldeia da Fogueira.
De pai para filho, a Quinta das Bágeiras recria-se, refina-se, mantendo inamovível toda a solidez e princípios que definem a casa familiar que, nunca descurando as origens, vai definindo com segurança o futuro.
Nota: O autor deste texto escreve segundo o novo acordo ortográfico
O Tejo, todos sabemos, tem paisagem variada e sempre, de uma forma ou outra, moldada pelo rio que lhe dá, não só o nome mas também a originalidade e o carácter. E para os que estão menos recordados do facto, a apresentação da Falua, empresa sediada em Almeirim, não podia ter tido o seu início […]
O Tejo, todos sabemos, tem paisagem variada e sempre, de uma forma ou outra, moldada pelo rio que lhe dá, não só o nome mas também a originalidade e o carácter. E para os que estão menos recordados do facto, a apresentação da Falua, empresa sediada em Almeirim, não podia ter tido o seu início em melhor local – a vinha do Convento -, uma parcela assente em solo de calhau rolado que nos lembra que há 400.000 anos estas terras faziam parte do leito do rio. E quem olhar desprevenido para esta vinha em que, no solo, só se vêem calhaus rolados, quase não acredita que seja possível aqui nascer alguma planta. Esta paisagem existe noutros locais do mundo, mas, em Portugal, só no Tejo se encontra uma área desta dimensão. A vinha do Convento começou por ter 15 há. Após a compra pelo Grupo Roullier, em 2017, plantaram-se mais 30 ha em 2019 e, como nos disse Antonina Barbosa, enóloga e gestora de todos os projectos relacionados com o vinho que o grupo tem em Portugal, a área de vinha irá ser alargada com mais 30 ha. Como reserva, a empresa ainda dispõe de mais 85 ha de terra em zona contígua.
O calhau rolado em terrenos muito pobres, e de fraca retenção de água (como é o caso), funciona como regulador de temperatura e obriga a planta a um sistema radicular mais longo, com evidentes benefícios em termos de complexidade. E, segundo nos confirmou, “esta originalidade é válida não só para tintos como também para brancos. Já o Fernão Pires que daqui sai é bem diferente dos que têm origem noutras zonas do Tejo”.
Desta forma, o mais natural é as celebrações terem começado na vinha onde, ao som do fado e dos petiscos preparados no local pelo Chefe Rodrigo Castelo, do Taberna ao Balcão (1 estrela Michelin, em Santarém), o grupo se inteirou das outras novidades, também apresentadas.
Um dos vinhos icónicos da Falua sempre foi o Conde Vimioso Reserva que, desde a colheita de 2000, é tributário da vinha do Convento. A estrela da noite comemorativa e o vinho mais aguardado era, sem dúvida, o tinto Conde Vimioso, edição que comemora os 30 anos da Falua. O vinho teve origem na colheita de 2005 e, após dois anos de barrica, estagiou 17 anos em garrafa. Foi elaborado com todas as castas da vinha do Convento: Touriga Nacional, Cabernet Sauvignon, Aragonês e Trincadeira Preta, fermentadas e estagiadas em separado. O lote foi feito antes do engarrafamento e produziram-se 1877 garrafas magnum. Ainda segundo Antonina Barbosa, “este é um vinho que se confunde com a história da empresa, é um pedaço da história daquela vinha. Tirámos partido da enorme qualidade do vinho da colheita de 2005 e mantivemos estas garrafas guardadas à espera do momento certo. É agora!”
O grupo Roullier tem presença em inúmeros países e o departamento de vinhos em Portugal iniciou-se com a compra da Falua, a que se seguiu a aquisição da Quinta do Hospital em Monção, as quintas de Mourão e S. José, no Douro. Rui Rosa, administrador em Portugal, recordou que o Grupo Roullier está em Portugal desde 1994, por coincidência o mesmo ano da criação da Falua e que, além dos investimentos acima descritos, a empresa irá dar ao início do plantio de 36 ha de vinha em Vila Verde (região dos Vinhos Verdes). Ao todo, a Falua gere 300 ha de vinhas com mercados dispersos por 30 países.
É impossível ficar indiferente à paixão com que Thomas Meier se refere a tudo o que acontece no projeto Herdade da Cardeira, localizado em Borba, que fundou em 2010 com a sua mulher, Erika. Fala-nos dos 100 hectares de terra, e detalha todos os respetivos cantos, descreve-nos com rigor a adega e pormenoriza os 21ha […]
É impossível ficar indiferente à paixão com que Thomas Meier se refere a tudo o que acontece no projeto Herdade da Cardeira, localizado em Borba, que fundou em 2010 com a sua mulher, Erika. Fala-nos dos 100 hectares de terra, e detalha todos os respetivos cantos, descreve-nos com rigor a adega e pormenoriza os 21ha de vinha. Individualiza cada casta, as nacionais e as estrangeiras, e lembra-nos que esteve quase para arrancar a Tinta Caiada, mas, agora, entende que pode vir a ser essencial na produção de vinhos com frescura e, sobretudo, carácter alentejano. É, em suma, o atual projeto de vida de um advogado suíço que já dedicou, no passado, a sua vida à tributação internacional. Agora, mais do que reestruturações financeiras e planeamento fiscal, pretende confecionar tudo o que a terra pode materializar. Coisas palpáveis, diz-nos, é o que mais pretende retirar da sua propriedade.
A conversa com Thomas é cordial, mas feita com precisão helvética. Relembra-nos que a produção com a marca da casa iniciou-se em 2016, já com Filipe Ladeiras como enólogo residente e Paulo Laureano como consultor e diretor. Diz-nos que, atualmente, são um pouco mais de 50 mil garrafas por ano, vendidas para os países cujos mercados melhor Thomas e Erika conhecem, como é o caso da Suíça e Luxemburgo. Mais recente, é a distribuição em Portugal que é, todavia, assumida como uma das prioridades para os próximos anos.
O objetivo de Thomas e Erika é só um: fazer mais e melhor a partir da sua terra.
Retorno emotivo
Mas voltemos à propriedade que fica situada em Borba, mais concretamente na freguesia de Orada. Para quem conhece a zona, falamos de uma extensão de terra a 400 metros de altitude, virada a norte, defronte da Serra de São Mamede, com a Serra de Ossa a sul. A sua localização e altitude explicam o vento e nevoeiro matinais, e os solos argilosos com muita influência calcária garantem vinhos com boa acidez.
A produção está em velocidade de cruzeiro, e a crítica tem sido uma grande surpresa. Vencedor, ex-aequo, do Prémio Revelação em 2023, viu, recentemente, o seu Verdelho da colheita de 2022 ganhar o destaque de melhor branco no prémio Escolha da Imprensa. O objetivo de Thomas e Erika é só um: fazer mais e melhor a partir da sua terra. Independentemente dos resultados financeiros, ambicionam um retorno emotivo, dizem-nos com convicção. Pois bem, provados os seus mais recentes vinhos tintos, e um espumante, e a julgar pela emoção que todos são capazes de provocar, temos a certeza de Thomas e Erika estão no caminho certo.
Nota: O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico
Quantos apreciadores de vinhos, mais ou menos exigentes com as suas escolhas, é que nunca pararam para pensar, nem que fosse apenas por um breve momento, na produção e comercialização do próprio vinho? Em boa verdade, quase todos já devem ter sonhados com uma vida mais próxima da natureza, desenvolvida a um ritmo mais lento, […]
Quantos apreciadores de vinhos, mais ou menos exigentes com as suas escolhas, é que nunca pararam para pensar, nem que fosse apenas por um breve momento, na produção e comercialização do próprio vinho? Em boa verdade, quase todos já devem ter sonhados com uma vida mais próxima da natureza, desenvolvida a um ritmo mais lento, capaz de nos fazer apreciar os prazeres verdadeiramente simples da observação da floração ou do processo de coloração dos bagos das uvas, já para não mencionar o momento de autêntica celebração familiar proporcionado pela vindima.
Estas reflexões, verdadeiramente romanceadas do mundo do vinho, esbarram na fria e inquieta realidade dos compromissos diários e dos objetivos anuais que nos fazem esquecer ou adiar para um amanhã, que tarde ou nunca chegará. Resta respirar fundo, suster a respiração e mergulhar na férrea agenda da vida real.
Ainda assim, de vez em quando, há quem persiga o sonho e comute uma existência bem estabelecida e melhor remunerada pela devoradora incerteza do lançamento de um projeto vínico de raiz, capaz de revitalizar uma antiga vontade familiar. Foi exatamente o que aconteceu a Ana Castro, que desenvolvia uma sólida carreira na área da advocacia em Vila Nova de Gaia e ao marido Francisco Narciso, coronel do exército português.
Assim, no ano de 1999, Ana e Francisco embarcaram num sonho comum e compraram a Quinta da Cascalheira, no vale do Rio Torto, com cerca de oito hectares. “Foi o primeiro passo do culminar da vontade familiar de estarmos juntos: marido, mulher e filhos”, referiu Ana Castro no evento de apresentação dos seus vinhos.
A propriedade tinha a particularidade de integrar uma vinha pré-filoxérica denominada Tiroliro, a que se juntou, mais tarde, uma outra designada Ferradura. Eram pouco produtivas e careciam de um acompanhamento especial e continuado. Assim, dois anos depois, Ana Castro e a filha, com cinco anos, mudaram-se de armas e bagagens para a Quinta, para melhor acompanhar os trabalhos aí desenvolvidos.
A criação das Chaquedas
Pouco tempo depois, em 2003, fortaleceram o sonho ao comprarem uma nova propriedade em Santa Marta de Penaguião, renomeada Quinta das Chaquedas “em honra ao meu avô, que detinha uma propriedade homónima na histórica praia da Madalena, em Vila Nova de Gaia”, contou Ana Castro.
No decurso dos três anos seguintes o casal reuniu finalmente os cinco elementos familiares e, com ânimo renovado, reconstruiram a casa principal e edificaram uma adega e um espaço para desenvolver enoturismo.
Tal como centenas de famílias na multicentenária região do Douro, as primeiras produções foram vendidas a outras marcas mais sonantes. Neste caso particular foi celebrado um contrato com a Taylor’s “prevendo o acompanhamento na viticultura por um trio de luxo constituído por António Magalhães, David Guimarães e Carlos Rodrigues, que ainda hoje nos acompanham”, disse Ana Castro.Com passar dos anos, o projeto familiar sonhou dar mais um passo, “o lançamento de vinhos de nicho com uma marca própria e imagem distinta”. Assim, o projeto vínico familiar cunhou a marca Chaquedas, em 2010, e lançou no mercado o primeiro vinho tinto, ao qual se juntaram outras referências nos anos subsequentes.
No entanto, como salientou Ana Castro, “o mercado não acolhia facilmente o nome Chaquedas e tivemos de criar, em 2016, uma nova marca capaz de reunir os valores e imagem da família. E assim surgiu o nome Lote 5, que significa a união de uma família de cinco elementos”.
Nesta nova fase do projeto, a família realizou uma aposta ainda mais forte. Manteve o trio de viticultura e juntou o trabalho de Miguel Freitas que, nas palavras de Ana Castro “desenvolveu um trabalho de imagem muito criativo e identificador da família”. Contratou ainda a consultoria do enólogo Jorge Alves, com vasta experiência em projetos durienses.
Nos anos subsequentes, a família ampliou a área de plantação com a compra de 24 hectares dispersos pelo Vale do Rio Torto e outras localizações na sub-região do Cima Corgo, o que permitiu o alargamento do portefólio, com o aparecimento de novas referências, incluindo vinhos tintos, brancos e um rosé. No entanto, como referiu Ana Castro “esta expansão teve sempre a ideia de fazer vinhos de nicho bem feitos e muito acima da média”.
Este projeto familiar, desenvolvido na região do Douro, mostra bem que ainda há lugar para concretizar o velho sonho de produtor de vinhos de qualidade, desde que este esteja num local autêntico, com vinhas únicas e intervenientes relevantes.
É difícil não gostar deste espaço diferente, bem longe do litoral, das grandes cidades. Fica no meio do campo, naquele Alentejo onde a vista quase não tem horizonte, a paisagem acalma e estar lá sabe bem. É isso que se sente quando olhamos lá de cima, após a subida à Torre de Palma, lugar central […]
É difícil não gostar deste espaço diferente, bem longe do litoral, das grandes cidades. Fica no meio do campo, naquele Alentejo onde a vista quase não tem horizonte, a paisagem acalma e estar lá sabe bem. É isso que se sente quando olhamos lá de cima, após a subida à Torre de Palma, lugar central do casario que constitui aquele lugar histórico, um antigo monte recuperado das ruínas por Paulo e Isabel Rebelo. Encantados pelo lugar, foi há 16 anos que ali decidiram investir e fazer, dos 15 hectares que a Tapada da Torre de Palma ocupa, um espaço de turismo que produz vinho e procura oferecer, a quem a visita, aquilo que de melhor aquela zona do Alto Alentejo tem para oferecer.
Presença romana
Tudo começou quando as saudades da região, resultantes talvez das histórias contadas pela sua mãe alentejana, levavam Paulo a ir, uma e outra vez, ao Alentejo com a família, em busca de um espaço, um monte onde pudessem investir como lugar de férias. Foi isso que os levou à Tapada de Torre de Palma pela primeira vez e a apaixonar-se pelo local, logo depois da subida ao seu topo. A aquisição ficou decidida, mas também a necessidade de investir na recuperação das suas ruínas. Não seria um trabalho fácil, porque os edifícios e a propriedade estavam muito deteriorados e, por isso, a compra da tapada, em 2008, deu início a um processo de estudo, que durou quatro anos, até à decisão final sobre o destino a lhe dar.
Farmacêuticos de formação e profissão, estabelecidos em Coimbra, Paulo e Isabel possuem uma farmácia e uma óptica no centro da cidade. Uma oportunidade de negócio e uma vontade e capacidade inatas para empreender, levaram Paulo Rebelo a iniciar, também, uma indústria de produção de medicamentos genéricos, a Bluepharma, há mais de 20 anos. É hoje um grupo farmacêutico com 800 colaboradores, que exporta 89% da sua produção para 40 países.
À medida que foram estudando Torre de Palma, os seus proprietários descobriram que tinha tido, entre outros, presença romana, ainda hoje visível num espaço arqueológico bem perto. Segundo Isabel Rebelo, “a família proprietária, os Basílios, eram produtores de vinho e azeite, criadores de cavalos, tinham termas, como era comum nas famílias abastadas e uma hospedaria”, algo lógico numa região que ficava no trajecto entre Lisboa e Mérida, duas grandes cidades romanas da Península Ibérica.
Depois de quatro anos de muitas visitas, de estudos sobre todas as hipóteses de investimento naquele local, foi decidido produzir vinho e construir um hotel de charme.
Como em qualquer negócio o conhecimento é essencial, e o de Isabel e Paulo Rebelo estava centrado na área de Saúde, a primeira decidiu tirar uma pós-graduação em Gestão Turística e Hoteleira, para aprofundar o seu. E após se terem apercebido da riqueza do sítio, criou “facilmente o conceito de um projecto focado na sustentabilidade”, conta, acrescentando que “o objectivo era não fazer nada igual a algo que já existisse, que respeitasse, ao máximo, a autenticidade da região, para quem visitar o espaço ficar com um conhecimento real do que é aquela zona do Alto Alentejo”.
Edições limitadas e de terroir
Desde o início do projecto, Torre de Palma tem vindo a construir, a partir dos seus sete hectares de vinha, um portefólio com edições limitadas e vinhos de terroir, entre os quais se destaca a gama Reserva da Família. Segundo Paulo Barradas Rebelo, o tinto da colheita de 2017, lançado recentemente durante um jantar no Torre de Palma Wine Hotel, perto de Monforte, “representa a concretização daquilo que foi sempre o nosso sonho, de fazer um grande vinho do Alentejo e de Portugal”. O topo de gama da empresa resultou de uma seleção de uvas de microparcelas da vinha, implantada sobre solos de origem granítica, argilo-calcária e xistosa, a 310 metros de altitude. Feito com base em uvas das castas Alicante Bouschet, Aragonez, Touriga Nacional e Tinta Miúda, vindimadas em separado e pisadas em lagares de mármore após o desengace, estagiou 24 meses em tonel de carvalho francês e ficou cinco anos em garrafa até ser lançado ao mercado. “Edição exclusiva, limitada a 3273 garrafas numeradas, é um vinho que nos enche de orgulho, pois reflecte a nossa interpretação das castas, da vinha e da região onde nos inserimos.”, refere o enólogo responsável, Duarte de Deus. A prova e apresentação deste e de outros vinhos decorreu na recém inaugurada Enoteca, a sala de provas exclusiva desta adega.
A Adega do Cartaxo lançou recentemente dois vinhos monocasta com a marca Tejo. Inspirada no grande rio da Península Ibérica que atravessa a região onde foram produzidos, a nova referência irá incluir os vinhos mais experimentais desta adega do Tejo, criados sob a batuta de Pedro Gil, o seu enólogo. “Sempre fui adepto da inovação […]
A Adega do Cartaxo lançou recentemente dois vinhos monocasta com a marca Tejo. Inspirada no grande rio da Península Ibérica que atravessa a região onde foram produzidos, a nova referência irá incluir os vinhos mais experimentais desta adega do Tejo, criados sob a batuta de Pedro Gil, o seu enólogo. “Sempre fui adepto da inovação e da procura de produtos diferenciados, algo que é agora possível devido à tecnologia que possuímos”, disse, durante o evento de lançamento, que decorreu no Centro Cultural de Belém.
A nova marca, que procura salientar a importância que o rio Tejo teve, e ainda tem, para a região, inclui, desde já, dois vinhos de nicho. Trata-se de um branco da casta Fernão Pires, produzido com bastante extracção, e um tinto de Castelão, outra das castas mais representativas da região, com pouca extracção. Segundo Pedro Gil, foram produzidos a partir de uvas colhidas na zona do Bairro, da região do Tejo. As que deram origem ao primeiro foram vindimadas à máquina e ficaram a macerar durante três dias, antes de serem fermentadas em barricas de carvalho francês e de o vinho estagiar durante quatro meses sobre borras finas com battonnâge. “É um branco que vai de encontro às tendências do mercado, que os quer mais intensos e com mais extracção”, explicou, o enólogo, durante o evento de apresentação da marca. “A fim de se obter um tinto frutado e fresco, para beber com prazer e sem preocupação, o Castelão foi colhido mais cedo. Seguiu-se uma vinificação menos extrativa, após maceração a frio também durante três dias”, acrescentou.
Pedro Gil, enólogo da Adega do cartaxo
Vinhos de nicho
Com a nova marca, passará a ser possível ter um Tejo (região e marca) à mesa, referência que inclui vinhos de nicho que resultam do trabalho experimental que está a ser realizado, na Adega do Cartaxo, por Pedro Gil. “É mais um passo do compromisso com a região e uma homenagem ao seu terroir e ao rio que a atravessa”, disse, por seu turno, Fausto Silva, o director comercial da Adega, acrescentando que “o design dos rótulos mostra uma imagem limpa mas marcante, desprovida de elementos gráficos, que destaca o Tejo e o gradientes de cores com que nos brinda ao longo do dia.”.
Tal como aconteceu no Douro, o Tejo teve um papel importante para os vinhos da região que atravessa, e para os da adega do Cartaxo em particular, que eram encaminhados, depois de produzidos, para o grande curso de água para serem transportados, em barcos varinos, até Lisboa e de lá para as ex-colónias. Durante muito tempo, a capital foi alimentada, deste forma com vinhos e outros produtos ribatejanos. É isso que a Adega do Cartaxo procura continuar a fazer, com vinhos mais experimentais e inovadores.
A presença humana nestes territórios perde-se na memória dos tempos, remontando ao neolítico o cultivo agrícola e a pastorícia. A terra convidava a “assentar”, a criar laços comunitários. Afinal, são os solos mais produtivos da Beira, dotados de condições excecionais para o plantio da vinha, dada a qualidade dos solos e abundância de água. Hoje, […]
A presença humana nestes territórios perde-se na memória dos tempos, remontando ao neolítico o cultivo agrícola e a pastorícia. A terra convidava a “assentar”, a criar laços comunitários. Afinal, são os solos mais produtivos da Beira, dotados de condições excecionais para o plantio da vinha, dada a qualidade dos solos e abundância de água.
Hoje, é a maior mancha contínua de vinha da região do Dão que nos surge defronte dos olhos na nobre e histórica Vila de Santar. São mais de 110 hectares de vinhedos que se estendem por um vale encimado pela Vinha dos Amores e Alto dos Amores. É nesta parcela da Vinha dos Amores que nascem os mais exclusivos vinhos da Global Wines, proprietária também da Quinta de Cabriz e Paço dos Cunhas de Santar, no Dão, da Quinta do Encontro, na Bairrada, e da Herdade do Monte da Cal, no Alentejo.
Com recentes mudanças na direção de enologia, agora liderada por Paulo Prior, bairradino oriundo do Centro de Vinificação da Sogrape, em São Mateus, Anadia, e, na direção comercial, com Nuno Abreu, que deixou a Sogevinus para se juntar ao grupo sedeado em Carregal do Sal, sopram novos ventos em Santar, ainda que refreados pelo cariz clássico a que a marca se impõe, tendo, nessa conceção, a principal forma de afirmação no mercado nos últimos anos.
Paulo Prior, director de enologia da Global Wines, empresa proprietária da Casa de Santar.
A VINHA DOS AMORES COMO CHANCELA
A Vinha dos Amores surge no promontório Norte de uma propriedade que se estende por mais de 100 hectares. Do alto, a uma cota de 400 metros, a vinha estende-se por 13,5 hectares, num ligeiro declive com exposição a Norte, o que a torna a mais valiosa parcela da Casa de Santar.
O seu crescimento foi progressivo, como foi progressivo o seu plantio, iniciado em 1997 e apenas terminando em 2017. Ali, as parcelas vão sendo divididas por setores, priorizando as características dos solos à escolha das castas com maior potencial para cada um dos talhões. Estamos no coração do Dão e, vai daí, o encepamento destaca as duas grandes castas atuais da região: a Touriga Nacional, nas tintas, e a Encruzado, nas brancas, sendo estas as mais relevantes nos vinhos de exceção de Santar.
A Alfrocheiro começa a surgir timidamente nas contas da Casa de Santar. É nas cotas mais elevadas, sobretudo no Alto dos Amores, que ela melhor se expressa, beneficiando da altitude e da maior exposição à influência da Serra da Estrela, que se ergue frondosa a Sul de Santar.
Apesar de se ter expandido para Sul, estendendo-se às regiões do Alentejo, Tejo e Palmela, é no Dão que encontra o seu território natural. Não obstante ser uma uva vigorosa e muito produtiva, carece de cuidados frequentes e atentos, dada a sua propensão natural ao oídio e podridão cinzenta. Nesta região, é-lhe reconhecida a elegância, cor bastante acentuada e um notável equilíbrio entre álcool, taninos e acidez, conferindo, aos vinhos, uma frescura que tantas vezes está ausente nos vinhos mais estruturados e densos do Dão. Aromaticamente, funde-se no território e na envolvência, fazendo sobressair os aromas a bagas silvestres e nuances de mato rasteiro.
São essas características que Paulo Prior pretende que se tornem mais evidentes nos vinhos nascidos no Alto dos Amores, encontrando-se em curso um trabalho de estudo dos stocks de vinhos da casta existentes na Casa, de modo a encontrar algo que se diferencie e possa vir a aumentar, com uma dotação qualitativa, a família das referências especiais Vinha dos Amores, podendo mesmo ir além de mais que uma vertente. Aguardemos pelo que o futuro nos reserva…
Afinal, não tem sido despicienda a influência da casta nos vinhos das terras de granito nos últimos mais de 150 anos, crendo-se que a sua disseminação com êxito tenha ocorrido nas replantações pós-filoxera. Nos anos 90 do século passado, a casta ganha um evidente estrelato, e inicia um caminho ascendente de popularidade junto de um conjunto de produtores regionais, entre os quais a Casa de Santar.
“…a Alfrocheiro pode aportar maior complexidade cosmopolita aos vinhos, em detrimento da concentração clássica.”
O novel enólogo de Santar está consciente de que não haverá nenhum movimento disruptivo no classicismo dos vinhos, hoje reconhecidos e com uma marca forte nos mercados nacional e internacional. Contudo, o mundo continua a girar e os movimentos que buscam perfis de maior leveza, elegância, profunda frescura e menor presença de álcool não podem ser descurados. E, aí, há uma forte crença que, a par da Touriga Nacional, a Alfrocheiro pode aportar maior complexidade cosmopolita aos vinhos, em detrimento da concentração que se impôs nas últimas décadas.
“Hoje, é a maior mancha contínua de vinha da região do Dão que nos surge defronte dos olhos na nobre e histórica Vila de Santar.”
O TERRITÓRIO E A SUSTENTABILIDADE
O dito terroir da Vinha dos Amores, crê Paulo Prior, é, por si próprio, um fator de diferenciação que, por isso mesmo, deve ser potenciado de modo diferente dos restantes vinhos da chancela Casa de Santar.
A exposição, a barreira elevada e o declive protegem a Vinha dos Amores das geadas de inverno sob forte influência da Serra, do mesmo modo que também a preservam da inclemência das elevadas temperaturas do Verão, uma vez que beneficia de menos horas de exposição direta ao sol. São condições que lhe beneficiam o equilíbrio da maturação, dando origem a mostos mais ricos, profundos e complexos.
As cotas mais elevadas são definitivamente relevantes, do mesmo modo que o é toda a envolvência e proteção das três serras que circundam Santar: Estrela, Caramulo e Bussaco. A composição de solos – arenosos com pouca retenção de água, algum xisto e maioritariamente granito – não valida a retenção de água, forçando as raízes a penetrarem os solos a maior profundidade, buscando a matéria orgânica e nutrientes que escasseiam. A mecanização e a rega monitorizada colmatam a pobreza dos solos.
A sustentabilidade, aqui, é muito mais que um chavão de retórica. Hoje, uma exigente auditoria, realizada de modo independente por cinco empresas, confere à Global Wines, Sociedade Agrícola de Santar, que detém a Casa de Santar e Paço de Santar, sediadas no Dão, Quinta do Encontro, na Bairrada, e Herdade Monte da Cal, no Alentejo, o referencial nacional de sustentabilidade. Esta certificação nacional vem demonstrar que todas cumprem os requisitos legais relacionados com os domínios da sustentabilidade, designadamente, gestão e melhoria contínua, e contribuem ativamente para o bem-estar social, económico e ambiental das comunidades envolventes e das diferentes regiões onde atuam.
“…o encepamento destaca as duas grandes castas atuais da região: a Touriga Nacional,nas tintas, e a Encruzado, nas brancas,…”
Este Referencial Nacional, criado pelo Instituto da Vinha e do Vinho (IVV) e promovido pela ViniPortugal, abrange, neste caso, a produção total de 235 hectares (165ha no Dão, 67ha no Alentejo e 3ha na Bairrada). Um novo selo de sustentabilidade irá ser brevemente adotado nas rotulagens das marcas Casa de Santar, Paço dos Cunhas de Santar, Cabriz, Quinta do Encontro e Herdade Monte da Cal, o que, para o consumidor, representa uma garantia de que estão implementadas práticas sustentáveis em todas estas organizações e marcas do universo Global Wines.
Hoje já é comum observarem-se, pelos vinhedos de Santar, enormes rebanhos de ovelhas que, no âmbito da produção integrada, fazem o corte da erva das entrelinhas de um modo rudimentar, nivelam as leguminosas ali semeadas, com a vantagem de ainda contribuírem para a nutrição dos solos.
Com o encepamento das tintas a representar 65% das vinhas e as brancas 35%, a realidade da Casa de Santar estende-se hoje muito para além da Touriga Nacional e Encruzado. O passado está bem presente nas 20 castas existentes, em produção ou ensaios que visando reabilitar variedades quase extintas e recuperar aquelas que já tiveram grande preponderância na região, como é o caso da Baga. Santar vinca a altitude e atitude de continuar, na mudança, a criar os vinhos mais nobres do Dão.
Nota: o autor escreve segundo o novo acordo ortográfico.